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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS MÓDULO I DISCIPLINA: ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA PROF. DR MARCELO COHEM– DGL/CG-UFPA Junho - 2006 Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Hídrica e Ambiental Universidade Federal do Pará Módulo I Disciplina: Elementos de Climatologia Prof. Dr. Marcelo Cohen, CG/UFPA Prezado(a) aluno(a) Você está iniciando a disciplina Elementos de Climatologia que está distribuída em quatro unidades. Unidade 1 – O Tempo e o Clima Apresenta as definições básicas do clima e os principais fatores e elementos que determinam o tempo e o clima de uma região. Unidade 2 – Movimentos da Atmosfera Aborda o transporte de energia na atmosfera através das correntes de massas de ar, além de explicar o equilíbrio de radiação no planeta, integrado ao ciclo hidrológico e à biosfera. No âmbito dos oceanos é apresentado as interações termais entre o oceano e a atmosfera que promove a circulação de massas de água. Unidade 3 – Mudanças climáticas e seus efeitos Trata da descrição das mudanças climáticas ocorridas no passado geológico com suas conseqüências geológicas, biológicas, físicas e sociais. Unidade 4 – As causas das mudanças climáticas Nessa unidade são discutidas as possíveis causas das mudanças climáticas ocorridas ao longo da história da Terra, na qual, dependendo da escala de tempo, as origens podem ser atribuídas às interações oceano atmosfera que geram mudanças nas correntes oceânicas e consequentemente no transporte de calor ao redor do globo; ou ainda ter causas geológicas através da atividade vulcânica, além das causas astronômicas com mudanças na órbita da Terra e na inclinação de seu eixo. A disciplina termina com uma análise da situação climática do século XX e das conseqüências do aquecimento global. Sumário 1 – O Tempo e o Clima...............................................................................................3 1.2- Fatores do Clima.....................................................................................................5 1.2.1-Latitude......................................................................................................5 1.2.2-Altitude......................................................................................................6 1.2.3-Massas de ar..............................................................................................7 1.2.4-Maritimidade / Continentalidade...............................................................8 1.2.5- Correntes marítimas.................................................................................8 1.2.6-Vegetação..................................................................................................9 1.2.7- Relevo.......................................................................................................9 1.3-Elementos do Clima...............................................................................................10 1.3.1- Temperatura...........................................................................................10 1.3.2-Umidade..................................................................................................10 1.3.3-Pressão atmosférica.................................................................................11 1.3.4-Vento.......................................................................................................11 1.3.5-Chuvas.....................................................................................................14 Exercícios.....................................................................................................................14 2– Movimentos da Atmosfera..................................................................................15 2.1- As correntes de massas de ar.....................................................................15 2.2- Equilíbrio de radiação...............................................................................16 2.3-O Ciclo Hidrológico...................................................................................19 2.4- A Biosfera.................................................................................................22 2.5- Interações Oceano-Atmosfera...................................................................24 2.6- A Circulação Termohalina........................................................................28 Exercícios.....................................................................................................................31 3- Mudanças climáticas e seus efeitos.................................................................31 3.1 – Conseqüências Geológicas..................................................................................32 3.2– Flora e Fauna........................................................................................................33 3.3– Extinção em Massa...............................................................................................34 3.4– Temperatura, Geleiras e o Nível do Mar..............................................................35 3.5– O Impacto Histórico das Variações Climáticas....................................................40 3.6– Agricultura............................................................................................................41 3.7-Catástrofes Humanas.............................................................................................42 3.8 - O impacto Econômico de Eventos Climáticos Extremos....................................44 4- As Causas das Mudanças Climáticas..............................................................45 4.1– Interações Oceano-Atmosfera..............................................................................45 4.2– Correntes Oceânicas.............................................................................................45 4.3– Vulcões.................................................................................................................46 4.4– Variações Orbitais................................................................................................47 4.4.1-Excentricidade orbital.............................................................................48 4.4.2-Obliqüidade.............................................................................................49 4.4.3-Precessão dos Equinócios........................................................................50 4.5- O Efeito Estufa......................................................................................................50 4.6– Atividade Humana e as previsões de mudanças climáticas..................................53 4.7- Conseqüências do Aquecimento Global...............................................................54 Exercícios.....................................................................................................................56 3 1 – O Tempo e o Clima Ao final de um longo dia quente de trabalho nada melhor do que ligar o ar-condicionado da sala, abrir uma cerveja estupidamente gelada, tirar os sapatos, estender as pernas sobre uma confortável poltrona reclinável e ligar a tv. Provavelmente, o televisor estará sintonizado em um canal exibindo um telejornal. Depois de algumas notícias sobre a economia e política do nosso país sempre tem aquele agradável momento em que uma jornalista atraente e com um largo sorriso apresenta a previsão do tempo para o dia seguinte. Elafala sobre uma queda na temperatura, massas de ar polar, frente fria que avança pelo Atlântico e etc.. Diante de tanto bla-bla-bla, para muitos de nós, o que interessa é se vamos precisar usar no dia seguinte uma blusa fina e bermuda ou um suéter com calça comprida, ou ainda se precisaremos de um guarda chuva antes de sair de casa. Ao lado das informações veiculadas é exibida uma reportagem sobre o clima no planeta Terra. Geralmente o efeito estufa é o tema central. Atrelado a esse assunto vem também o Protocolo de Kioto, dióxido de carbono, derretimento de calotas polares, aumento no nível do mar, El Niño e por ai vai. No final da reportagem algum climatologista de cabelos grisalhos, rosto sério e cheio de rugas e ainda se expressando em um idioma, que não é o português, nos fala sobre a sua preocupação quanto ao clima do nosso planeta. Ele diz que a atmosfera do planeta está aquecendo e que ficará pelo menos 3oC mais quente nos próximos cem anos. Reportagem encerrada, os apresentadores do telejornal dão boa noite e tem início a novela. Vamos pegar mais uma cerveja? Ao abrirmos a porta da geladeira sentimos o ar gelado do freezer descendo para o chão e esfriando os nossos pés. Ainda refletindo sobre a última reportagem do telejornal, abrimos a janela para contemplarmos a vista da cidade e percebemos o ar quente da noite invadindo o nosso ambiente: hiii que calor, é melhor fechar a porta!!! De volta a sala, decidimos desligar a TV e pensar um pouco sobre o que andam falando sobre mudanças no clima. Apesar da maioria da população estar mais ligada na trama da telenovela das oito, alguns se perguntam se um pequeno aumento de poucos graus na temperatura média do planeta merece tanta preocupação e atenção da mídia. Afinal, momentos antes, a moça do tempo já revelava que a temperatura no dia seguinte iria cair, mas ela garantia que no final de semana iria esquentar, e assim tem sido, semanalmente, experimentamos mudanças térmicas, às vezes de mais de 10oC de um dia para outro. Além disso, dentro de 100 anos, provavelmente, nenhum de nós estará vivo para saber se as mudanças climáticas profetizadas pelos cientistas serão reais. Entretanto, para aquele cidadão que está preocupado com as futuras gerações e disposto a se dar a chance de compreender o que está acontecendo com a atmosfera do nosso planeta, eu o convido a viajar na mente dos cientistas que estudam o clima para descobrirmos se suas preocupações fazem sentido. Para isso, precisaremos esclarecer conceitos, estudar fenômenos e resgatar antigas informações climáticas. ������������� �� ��� ��Estu dar no primeiro dia da semana. 4 Porém, antes de embarcarmos nessa jornada, necessitamos de fato começar separando dois conceitos básicos no nosso estudo: Tempo e Clima. Climatologia: área da geografia que estuda o clima Sucessão habitual de tempos Ação momentânea da troposfera em um determinado lugar e período. . Figura 1 - A atmosfera é dividida em camadas, isto se deve porque existe uma variação de temperatura do ar atmosférico conforme a altitude. A camada onde vivemos, é a mais baixa de todas, portanto a mais quente e mais densa, é nela onde estão concentrados 90% de todo o ar da atmosfera. Logo acima da troposfera está uma camada limítrofe, chamada de tropopausa, e sobre esta a estratosfera que vai do topo da tropopausa até 50 km de altura (http://pt.wikipedia.org/wiki/Troposfera) Camada atmosférica que se estende da superfície da Terra até a base da estratosfera (0 - 7/17 km).Ver figura 1 5 Sites para visita: http://www.trabalhoescolar.hpg.ig.com.br/ar.htm http://www.hcanc.org.br/ozon1.html 1.2- Fatores do Clima Podemos dizer de forma muito simplificada que a moça do telejornal faz previsões do tempo, enquanto que o cientista faz previsões climáticas. Assim, o clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo num determinado local da superfície terrestre. (http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&con teudo=./natural/clima.html). Após essas informações, podemos nos deter aos fatores que afetam o clima de uma determinada região da superfície do planeta Terra: • LATITUDE; • ALTITUDE; • MASSA DE AR; • CONTINENTALIDADE / MARITIMIDADE; • CORRENTES MARÍTIMAS; • VEGETAÇÃO; • RELEVO. 1.2.1-Latitude Quanto maior a latitude, isto é, nos afastarmos do Equador, menor a incidência solar. Assim, menores serão as temperaturas médias locais. Esse é o critério usado para dividirmos o planeta em zonas climáticas (figura 3). Isto ocorre em função dos raios solares não conseguirem atingir de forma perpendicular as regiões distantes dos trópicos. Portanto, encontraremos as mais baixas temperaturas na medida em que nos afastamos do equador (ver figura 2 e tabela 1). Tabela 1 - Influência das latitudes na temperatura Cidade latitude média térmica anual (oC) Belém 1o 28’ S 26 Fortaleza 3o 40’ S 26 Vitória 20o18’ S 24 Rio de Janeiro 22o54’ S 24 Florianópolis 27o35’ S 20 Fonte: http://www.inmet.gov.br Obs: todas as cidades da tabela estão próximas no nível do mar. ������������� �� ��� ��Estu dar no segundo dia da semana. 6 Figura 2 – Esquema exibindo as variações do ângulo de incidência dos raios solares sobre a superfície do planeta de acordo com a latitude. Quanto maior a latitude, menor a incidência solar e por conseguinte menor a temperatura. Figura 3- Zonas climáticas http://www.cgrove417.org/fry/Science/Climate/climatezones.html 1.2.2-Altitude Quanto maior a altitude menor a temperatura. Assim, mesmo estando duas cidades na mesma latitude, uma posicionada 1100 m de altitude terá 6oC a menos que outra no nível do mar (ver tabela 2). Geralmente a temperatura diminui 1ºC a cada 180m de altitude. Esse comportamento da atmosfera pode ser facilmente compreendido: A troposfera é aquecida através da irradiação de calor da superfície do planeta Terra, ou seja, a liberação gradual do calor absorvido pelo contato contínuo da superfície terrestre RAIOS SOLARES 7 com os raios solares. Portanto, à medida que ganhamos altitude menos intensa é essa irradiação e por conseguinte menor a temperatura. Tabela 2 – Influência da altitude na temperatura Cidade altitude (m) latitude média térmica anual (oC) Belém 2 1o 2 S 26 Belo Horizonte 850 19º56’S 21 São Paulo 731 23º32’S 20 1.2.3-Massas de ar Trata-se de uma porção gasosa em movimento com determinada temperatura, pressão e umidade que circula na troposfera. Atualmente, as massas de ar são consideradas como o principal fator no controle climático. Seguindo essa corrente, o clima se organiza segundo o movimento das massas de ar. Por isso, o tempo pode mudar de um dia para o outro. E, com ele, altera também o jeito de você se vestir. Um dia, dá para sair de bermuda e camiseta. No outro, é preciso colocar uma blusa de lã. O território brasileiro sofre a influência de cinco massas de ar (ver tabela 4). A formação delas ocorre em lugares diferentes. São duas continentais (Equatorial Continental e Tropical Continental) e três marítimas (Polar Atlântica, Tropical Atlântica e Equatorial Atlântica). O nome da massa indica o lugar em que ela se forma. Assim, também é possível saber se elas serão quentes ou frias, úmidas ou secas. Por exemplo, uma massa de ar polar tem origem em um dos pólos e será, necessariamente, fria.Se ela se formou sobre o continente (massa continental), terá mais chances de ser seca do que uma que se formou sobre o oceano (tabela 3). Tabela 3-Tipos de massa de ar Massa polar: forma-se nos dois pólos e causa queda de temperatura Massa tropical: origina-se próxima aos dois trópicos (Câncer e Capricórnio) e pode se formar sobre o continente (em geral, é seca) ou sobre o oceano (carregada de umidade). Massa equatorial: forma-se na região da Linha do Equador e é muito quente e úmida Fonte: http://www.cptec.inpe.br/well_come/noticias/noticias00/klick_educacao/200008c.h tml http://www.cptec.inpe.br/ 8 Tabela 4 – As massas de ar que atuam no Brasil Nome Característica Principal local de atuação Massa Tropical Atlântica Quente e úmida Litoral nordeste e sudeste Massa Tropical Continental Quente e seca Região centro oeste Massa Equatorial Continental Quente e úmida Região Norte Massa Equatorial Atlântica Quente e úmida Litoral da região Norte Massa Polar Atlântica Fria e úmida Atinge o território brasileiro no inverno Fonte: http://www.cptec.inpe.br/well_come/noticias/noticias00/klick_educacao/200008c.h tml http://www.wmo.ch/index-en.html A Massa Polar Atlântica é a que mais influência na organização climática do Brasil. No inverno ela ganha força e se desloca para o continente. Na região sul irá provocar as geadas; enquanto que na região sudeste, provocará chuvas orográficas (serra do mar), no litoral nordestino provocará chuvas frontais, no sul da região norte, essa massa chega já enfraquecida, porém consegue provocar, queda brusca de temperatura, as friagens, e na região Centro Oeste as ondas de frio. 1.2.4- Maritimidade / Continentalidade A maior ou menor proximidade de grandes massas de água (oceano, rios, lagos, etc..) exerce forte influência não apenas na umidade mais também na temperatura. A água por possuir alta capacidade calorífica (habilidade que um corpo tem de armazenar calor, http://www.escolavesper.com.br/calorimetria.HTM) absorve o calor mais lentamente, entretanto também libera, irradia, essa energia de forma lenta. No caso dos continentes, a massa sólida absorve e irradia calor rapidamente. As regiões próximas de grande manancial aqüífero possuem uma menor amplitude térmica diária. A amplitude térmica diária em Belém é pequena, enquanto que em áreas de escassez de água, como o sertão nordestino, as amplitudes térmicas diárias são expressivas, com dias quentes e noites frias. 1.2.5- Correntes marítimas: As correntes oceânicas são importantes fatores de influência climática. O movimento de rotação da Terra e o sopro dos ventos fazem as águas dos oceanos se moverem, formando as correntes oceânicas, que deslocam imensas massas de água a grandes distâncias, seguindo um percurso bem determinado. A corrente do Atlântico Norte desloca 55 milhões de metros cúbicos de água por segundo, atravessando o Atlântico em direção à Europa. Isso representa uma quantidade de água 50 vezes maior do que a que flui em todos os rios do mundo. Sem essa corrente, o clima do noroeste europeu seria subártico e muito mais seco. Londres, por exemplo, está na mesma latitude que a foz do Rio São Lourenço, no Canadá, onde o mar congela no inverno (http://preserveomundo.conhecimentosgerais.com.br/preserve-os-oceanos/correntes-oceanicas.html). 9 Tabela 5- Principais Correntes oceânicas e suas influências no clima Corrente Área de Influência Efeitos Humboldt Pacífico Sul Formação do Deserto do Atacama Benguela Sudoeste Africano Formação do deserto de Kalarari Gulf stream Norte da Europa Evita o congelamento do Mar do Norte Califórnia América do Norte (Pacifico) Formação do Deserto da Califórnia A corrente de Humboldt (ver figura 4), que circula do sul para o norte no Pacífico ao longo da costa oeste sul americana transporta águas frias provocando resfriamento e condensação do ar no próprio oceano. Assim, as massas de ar desse local chegam secas ao continente criando condições para a formação do Deserto de Atacama no Chile. No caso do Mar do Norte, a corrente do Golfo, que é quente, pois tem origem na América Central, atenua o frio proveniente da região próxima do Pólo. Figura 4 – Correntes oceânicas de superfície . http://www.ac-rouen.fr/hist-geo/sat/elnino/ventsjul2.htm 1.2.6-Vegetação A cobertura de flora auxilia no aumento da umidade do ar, pois o vegetal retira umidade do solo, por meio das raízes e mandam para a troposfera, pela evapotranspiração. Esse mecanismo promove o aumento na umidade do ar e consequentemente o aumento na quantidade de chuvas na região (ver filme Chuvamazonia.mov, página 21). 1.2.7- Relevo Além de associado à altitude, que já é um fator climático, o relevo influencia na organização climática, pois, ele, interfere na circulação das massas de ar http://www.portalbrasil.net/cerrado_climaerelevo.htm 10 1.3- Elementos do Clima Os elementos climáticos, abaixo relacionados, estão inseridos no contexto de ação dos fatores do clima. • TEMPERATURA; • UMIDADE; • PRESSÃO ATMOSFÉRICA; • VENTOS; • CHUVAS. 1.3.1- Temperatura Corresponde a quantidade de energia absorvida pela troposfera após a difusão do calor absorvido pelo planeta nas porções sólidas e líquidas (figura 5). É importante destacar que a atmosfera não é aquecida pelos raios solares quando emitidos diretamente pelo sol e, sim, após reagirem com as superfícies sólidas e líquidas do planeta, ou seja a troposfera é aquecida pela irradiação vinda as superfície do planeta Terra. � ���������� � � �� � Figura 5 – Aquecimento da troposfera através da transformação dos raios solares em calor na superfície do planeta Terra. (maiores detalhes: http://nonio.fc.ul.pt/oceano/estufa.htm) 1.3.2- Umidade Corresponde a quantidade de vapor de água encontrada na troposfera em um determinado instante. Pode ser expressa em valor absoluto (g/m3) ou relativo (%). A Umidade é relativa ao ponto de saturação de vapor de água na atmosfera (4%). Chegando a esse número, certamente, teremos precipitação, ou seja, chuva. Assim, ������������� �� ��� ��Estu dar no terceiro dia da semana. 11 80% de umidade relativa, significa que a retenção de vapor na atmosfera é de 3.2% em termos absolutos. 1.3.3- Pressão atmosférica Força provocada pelo peso do ar. Varia com a altitude e latitude. Quanto maior a altitude menor a pressão atmosférica. Assim, quanto mais próximo estivermos do nível do mar maior será a pressão atmosférica. Quanto à influência da latitude na pressão atmosférica, ela ocorre devido à mudança ângulo de incidência dos raios solares que atingem diretamente a região equatorial provocando maior irradiação de calor e dissipação de gases que se deslocam em direção aos trópicos. Portanto, a região equatorial tem sua temperatura elevada e sua pressão atmosférica diminuída. As regiões com menor ângulo de incidência de raios solares têm sua temperatura diminuída tornando-se uma zona atrativa para as massas de ar gerando uma zona de maior pressão atmosférica. http://www.uenf.br/uenf/centros/cct/qambiental/ga_pressaoatmosferica.html) 1.3.4- Vento O vento é o ar atmosférico em movimento (figura 6). A força principal para o deslocamento do ar atmosférico é o movimento de rotação da Terra, enquanto que as diferenças de pressão atmosférica na superfície do globo controlam a direção dos ventos. Figura 6 – Os principais deslocamentos de massas de ar (vento) na troposfera http://rst.gsfc.nasa.gov/Sect14/Sect14_1a.html Na região equatorial ocorre o encontrodos ventos Alísios (massas de ar que fluem dos trópicos para o equador) oriundos do hemisfério norte (chamados Alísios de 12 Nordeste) com os originados do hemisfério sul (chamados Alísios de Sudeste). Formando a (ZCIT) Zona de Convergência Intertropical (figura 7). Existem ainda os ventos continentais, que sopram periodicamente para o mar ou vice-versa. Podemos citar o exemplo das brisas que mudam de direção entre o dia e a noite. Durante o dia a brisa sopra do mar para o continente, pois as rochas continentais aquecem mais rapidamente que as massas de água oceânicas. Assim, sobre o continente temos a ascensão de ar quente e por isso menos denso. Esse espaço é ocupado por massas de ar frio que se deslocam horizontalmente do mar para o continente. Durante a noite esse comportamento se inverte. O oceano aquecido transfere calor para as massas de ar imediatamente acima dele, produzindo a subida do ar. Assim, ocorre a migração das massas de ar já esfriadas do continente para o oceano. Figura 7 – Zona de convergência intertropical http://www.meteored.com/ram/numero6/itczdoble.asp Ainda considerando os ventos periódicos, podemos citar as monções que ocorrem no sudeste asiático em decorrência da maritimidade e continentalidade comum na região. Durante o verão a porção continental da Ásia meridional absorve muito calor, principalmente a Índia, tornando-se uma área de baixa pressão, pois ocorre aquecimento do ar e sua conseqüente ascensão. Por outro lado, o Oceano Índico se torna uma área de alta pressão devido às massas de água estarem ainda frias, e consequentemente, o ar acima está relativamente frio. Em função disso, os ventos 13 sopram do mar para o continente, trazendo umidade e provocando chuvas, resultando em verões quentes e chuvosos. Entretanto, durante o inverso, o processo se inverte. Os oceanos permanecem ainda aquecidos transformando-se em zonas de baixa pressão e o continente agora frio em uma zona de alta pressão, por conseguinte os ventos sopram do continente para o oceano produzindo invernos frios e secos (figura 8). Uma conseqüência positiva das monções é que ela favorece o cultivo de arroz, principal produto alimentício da região meridional da Ásia. Por outro lado, ela favorece as enchentes urbanas, em função da má estrutura de saneamento básico, comum na região. Quando a chuva é excessiva alaga as plantações de arroz gerando perdas agrícolas e consequentemente aumentando o problema da fome na região. Outro ponto negativo das monções está relacionado às taxas de natalidade. Durante as monções ocorre um aumento na população, pois em função da religião predominante, o hinduísmo, as mulheres indianas não fazem uso de métodos anti-conceptivos e no período das chuvas, verão, os homens permanecem mais tempo em casa, por conseguinte, os índices de gravidez aumentam consideravelmente. http://www.kjc.gov.my/htdocs3/english/education/weather/monsoon01.html Figura 8 – Movimento das massas de ar sobre a Ásia durante o inverno (a). Como o continente se esfria mais rápido que o oceano, ocorre um centro de alta pressão sobre a Ásia (d) com ventos do continente para o oceano (ainda aquecido). Durante o verão (b) o continente, já aquecido, produz ascensão de massas de ar (e) resultando em um centro de baixa pressão (c) com deslocamento da ZCIT para o norte, e fluxo de massas de ar úmido vindo do oceano para o continente (http:/geography.sierra.cc.ca.us/booth/Physical/chp5_atm_pressure/monsoon_winds.jpg). 14 1.3.5-Chuvas É resultado da saturação do vapor d água que se condensa passando do estado gasoso para o líquido. Podem ser do tipo frontal, orográfica e convectiva. As chuvas frontais ocorrem quando duas massas com temperatura e pressão opostas se encontram formando condensação de vapor e a precipitação da água em forma de chuva. Elas são comuns no litoral nordestino. A chuva orográfica acontece quando uma massa de ar encontra uma barreira natural (montanha/serras) e é deslocada para cima. Ganhando altitude essa nuvem tem uma diminuição na sua temperatura gerando condensação de vapor. Elas são comuns no nordeste continental (Chapada Diamantina) e no sudeste (Serra do Mar). As chuvas convectivas ocorrem em função da subida do ar contendo muito vapor d água e que ao ganhar altitude entra em contato com as camadas frias e sofre condensação e posterior precipitação. O ar quente e úmido sobe e desce frio e seco. Exercícios 1) Belém encontra-se próximo da Linha do Equador e apresenta um tempo muito uniforme com estreita amplitude térmica e temperatura média anual girando em torno de 26oC. Outra cidade também próxima do equador possui temperatura média anual de 10oC com queda de neve durante o inverno. Com base no texto apresentado e informações adicionais obtidas na internet, qual fator climático está determinando este contraste climático entre as duas cidades? A resposta exige uma explicação detalhada e abrangente, porem, restrita à meia página no formato A4, Times New Roman, letra 12 e espaçamento simples. 2) Muitos fenômenos climáticos, tais como o El Niño, são desencadeados por mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical. Com base no texto e literatura adicional como você descreveria essa zona? A resposta deve estar confinada entre 15 e 20 linhas em página do formato A4, Times New Roman, letra 12. 3) Por favor, entre no site http://www.inmet.gov.br/climatologia/combo_climatologia_I.html e procure os maiores contraste de temperatura, precipitação, evaporação e insolação entre as capitais brasileiras. Depois justifique tais diferenças. A resposta necessita de gráficos, tabelas e esclarecimentos que não devem superar 2 páginas A4, Times New Roman, espaçamento simples, letra 12. 4) Durante uma manhã de muito sol na praia, todos apreciam se deitar em uma esteira e “pegar um bronze” (de preferência com protetor solar). O vento soprando do mar para o continente ajudar a aliviar o calor. Ao final de um dia na praia, todos já estão com a pele queimada, e o Sol já está se pondo no Horizonte, e os ventos já começam a soprar do continente para o Mar. Com base no texto e exemplos apresentados, explique por que os ventos mudam de sentido do dia para a noite. Faça uso de meia página no formato padrão A4, Times, Letra 12, espaço simples. ������������� �� ��� ��Tar efa para o quarto e quinto dia da semana. 15 2–Movimento da Atmosfera Esclarecido os principais fatores e os elementos do clima podemos prosseguir no nosso estudo para investigar os movimentos da atmosfera e dos oceanos que venham determinar o tempo e o clima de uma região. Nesse capítulo estudaremos o mecanismo que conduz a subida e descida das massas de ar, que vem a definir se uma região será úmida ou seca, ou seja, se chove muito ou pouco. Também trataremos do equilíbrio de calor existente sobre as cidades e florestas que vem a ser uma componente do ciclo hidrológico. Falando em ciclo hidrológico, não podemos esquecer da biosfera que muito contribui para a absorção e emissão de gases para a atmosfera. Por fim, terminaremos com a interação oceano- atmosfera onde conversaremos sobre os processos que geram o El-Niño e mudanças nas correntes oceânicas que podem afetar o clima do nosso planeta. 2.1- As correntes de massas de ar Como já foi visto, a ascensão de massas de ar nas regiões equatoriais gera a Zona de Convergência Intertropical. Quando essas massas atingem altitudes em torno de 12 a 15 km, toda sua umidade já foi perdida através das chuvas que caíram sobre essa região. Agora, as massas de ar passam a se deslocar horizontalmente até descenderem no hemisfério norte ou sul, assim, mantendo regiões quentes e secas que vem a determinar as condições climáticasfavoráveis aos desertos. Existem ainda as correntes de ar que fluem de volta ao equador próximo à superfície do planeta chamadas de Alísios. Hoje esse padrão de circulação é conhecido como Célula de Hadley (Figura 1 e 2, para maiores detalhes ver http://www.ocean.washington.edu/courses/envir202/Water_lecture_1.html). Em médias latitudes também ocorrem subida de massas de ar que se deslocam para os pólos. Essas massas de ar descendem sobre as regiões polares e criam desertos frios. Quando nos afastamos do planeta Terra podemos perceber várias dessas células atuando na atmosfera (ver figura 10). Figura 9- Esquema da célula de Hadley. Fonte: http://www.ocea n.washington.edu /courses/envir20 2/Water_lecture_ 1.html ������������� �� ��� ��Estu dar no primeiro dia da segunda semana. 16 2.2- Equilíbrio de radiação A nossa querida Belém é uma das cidades mais quentes e ensolaradas do Brasil. Assim, em um dia comum de forte sol sempre damos preferência às roupas de cor clara, pois aquecem menos ao contato com os raios solares do que as roupas de tecido escuro. Portanto, devemos nos questionar qual fenômeno físico está por trás dessa diferença de aquecimento entre os tecidos de diferentes cores expostos à mesma quantidade de energia solar. Uma explicação simples gira em torno do grau de reflexão dos corpos, pois superfícies de cores claras tendem a refletir melhor os raios solares e assim, absorver menos energia, que por sua vez vai gerar menos calor na superfície desse corpo. Entretanto, superfícies de cor escura refletem menos os raios solares, absorvendo mais energia e consequentemente gerando mais calor. Em paises que experimentam invernos rigorosos é muito comum as pessoas usarem roupas escuras para melhor aproveitarem o calor gerado na superfície dos tecidos escuros pelos poucos raios solares dessa época do ano. As naves espaciais também têm sua cor escolhida em função do calor gerado pelos raios solares. Todos já devem ter visto em filmes que a superfície dos módulos lunares era revestida de um material semelhante a um espelho. Esse material visa evitar um super aquecimento da superfície da fuselagem em contato com os raios solares. A tripulação dos módulos lunares, bem protegida do calor excessivo gerado pelos raios solares, ao observar o nosso planeta do espaço percebiam que os oceanos são as regiões mais escuras e os pólos com a sua cobertura de gelo são as mais claras. Portanto, os oceanos devem estar também absorvendo mais calor que os pólos. O grau de reflexão dos corpos pode ser chamado de ALBEDO que é o nível de reflexão da luz incidindo sobre a superfície de um corpo. Os oceanos têm albedo entre 6 e 10% em baixas latitudes e entre 15 e 20% próximo aos pólos. Isso significa que em baixas latitudes entre 6 e 10% da luz que incide sobre os oceanos é refletida. O albedo dos oceanos aumenta com a latitude devido ao baixo ângulo de incidência dos raios solares sobre a superfície da água (ver figura 2) que reflete mais efetivamente esses raios (ver tabela 1). As partes mais brilhantes do globo são as áreas do Ártico e da Antártida cobertas de neve que podem refletir acima de 80% dos raios solares incidentes. Em seguida, a segunda área mais brilhante são os desertos. O deserto do Saara e da Arábia Saudita reflete em torno de 40% dos raios incidentes sobre sua superfície. Em contrate, as florestas tropicais da América do Sul e África Central são as superfícies terrestres mais escuras com albedo entre 10 e 15%. Isso reflete na temperatura da superfície e da atmosfera que diminui relativamente uniforme do equador aos pólos. A quantidade média de energia Figura 10 – Modelo esquemático da circulação geral das massas de ar. Fonte: http://www.ocean.washington.edu/cour ses/envir202/water-lec-1/Slide19.JPG 17 irradiada para o espaço diminui de um máximo de 330 W m-2 nas regiões polares para algo em torno de 150 W m-2 nos trópicos (Figura 11). As áreas que mais refletem energia são também as com maiores variações climáticas. Por exemplo, o aumento na cobertura de neve e gelo do inverno nas regiões polares terá um maior efeito na quantidade de raios solares refletidos para o espaço. Assim, ocorrerá um efeito de esfriamento, que resultará em um prolongamento do inverno e consequentemente, maior será o impacto na quantidade de raios refletidos para o espaço. As florestas possuem um albedo substancialmente menor do que as áreas de campo. Assim, a remoção das florestas em altas latitudes aumentaria o albedo no inverno e primavera e teria um apreciável efeito de esfriamento. Um efeito similar, mas surpreendente, ocorre com a expansão dos desertos. Novamente, o aumento na área dos desertos produziria um aumento no albedo (ver tabela 1) e assim, mais radiação solar seria refletida para o espaço. Portanto, enquanto os desertos são considerados como locais quentes, a sua expansão poderia conduzir a um esfriamento. Isso significa que se a variabilidade climática natural ou atividade humana conduzisse a um aumento nos desertos do mundo ele teria provavelmente um efeito de esfriamento! Desta forma, se o aquecimento global conduz à expansão dos desertos, algum conseqüente esfriamento desencadeará uma tendência a impedir o aquecimento. Figura 11 – Balanço de energia absorvida e irradiada pela Terra.Fonte: http://www.geog.ucsb.e du/~joel/g110_w05/lect ure_notes/general_circu lation/agburt03_15.jpg 18 Tabela 6 – Proporção de luz solar refletida por diferentes superfícies. Fonte: Burroughs (2001). Tipo de superfície Albedo Floresta tropical 0,1 – 0,15 Pastagens-Campos Naturais 0,16 – 0,26 Solo estéril 0,05 – 0,40 Semi-desertos, desertos rochosos 0,2 – 0,3 Desertos arenosos 0,3 – 0,45 Tundra 0,18 – 0,25 Água (0-60o) < 0,08 Água (60-90o) 0,1 – 1,0 Neve fresca 0,8 – 0,95 Gelo marinho 0,25 – 0,6 Vegetação coberta de neve 0,2 – 0,8 Gelo coberto de neve 0,75 – 0,85 Nuvem baixa 0,6 – 0,7 Nuvem média 0,4 – 0,6 Nuvem alta 0,18 – 0,24 Em geral, por volta de 60% da Terra é coberta por nuvens. Nuvens são quase sempre mais refletivas do que a superfície dos oceanos e continentes. Portanto, quando as nuvens estão presentes elas refletem mais energia para o espaço do que em áreas com céu aberto. Em geral, sua presença dobra o albedo do planeta Terra. Em uma cidade quente como Belém percebe-se claramente a diminuição na temperatura do ar durante dias com o céu encoberto por nuvens. Isso ocorre em função do aumento do albedo da região com a presença de nuvens sobre a cidade. Assim, mais calor é irradiado para o espaço ao invés de ser absorvido pelo solo, concreto dos prédios, árvores, asfalto, etc.. Entretanto, as nuvens podem também funcionar como um cobertor térmico impedindo a fuga de calor da superfície do planeta (figura 12). 19 Figura 12 – Efeito das nuvens na reflexão dos raios solares. Portanto, precisamos avaliar o efeito das nuvens no clima do planeta. A diferença entre a quantidade de calor irradiado pelas nuvens de volta ao espaço e aquele calor refletido pela base das nuvens de volta a superfície da Terra estabelecerá se a presença das nuvens esfria ou aquece o nosso planeta. Basicamente, como foi visto, as nuvens podem funcionar como um cobertor aquecendo a superfície do planeta. Esse aquecimento depende da espessura da nuvem e da temperatura no seu topo (Figura 13). As nuvens altas irradiam de volta a superfície do planeta menos calor do que as nuvens baixas, e as nuvens espessas são mais eficientes na irradiação do que as nuvens finas. Globalmente, em média, as nuvens reduzem a quantidade de radiação solar absorvidapela superfície da Terra de 48 W m-2 e impedem a fuga de calor para o espaço em 31 W m-2. Portanto, os modernos satélites confirmam que as nuvens de fato têm um efeito de esfriamento no clima global. Assim, para aqueles cidadãos que preferem as temperaturas em torno de 20o, mas vivem em cidades com um clima semelhante ao de Belém, precisam contar com uma boa cobertura de nuvens e de preferência que estejam bem altas. 2.3-O Ciclo Hidrológico Caso toda a água da atmosfera fosse concentrada na superfície do nosso planeta seria possível formar uma cobertura uniforme de 25 mm de precipitação sobre o globo. Isso é o equivalente a dez dias de precipitação. Portanto, existe uma contínua reciclagem da água entre os oceanos, continente e a atmosfera, conhecido como o Ciclo Hidrológico. O total de água no sistema atmosfera-terra é estimado em 1.384 x106 km3, desses 97,2% estão nos oceanos, 0,6% nas águas subterrâneas, 0,02% nos rios e lagos, 2,1% congelada nas geleiras e capas de gelo (criosphera) e apenas 0,001% está na atmosfera. Figura 13 – Gradiente térmico vertical de uma nuvem. Fonte: http://www.geog.ucsb.e du/~joel/g110_w05/lect ure_notes/precip_proce sses/agburt07_05b.jpg ������������� �� ��� ��Estu dar no segundo dia da segunda semana. 20 Para um observador desatento, pode parecer que o Ciclo Hidrológico diz respeito somente ao transporte de água da atmosfera para os oceanos, rios e lagos, etc.. Entretanto, junto com as massas de água é transportado também calor. Antes de iniciarmos mais uma explicação física com grande efeito no clima do nosso planeta, precisaremos deixar bem claro os dois tipos de calor que serão considerados ao longo da nossa explicação: o calor sensível e o latente. Em um domingo de sol, todos se deliciam com uma bebida estupidamente gelada. Vamos até a geladeira pegar alguns cubos de gelo? Apesar de a nossa sede estar castigando a nossa garganta, antes de mergulharmos o nosso gelo na bebida, a curiosidade nos faz refletir sobre o pequeno cubo de gelo. Consideremos que esse cubo de gelo que acabamos de retirar do refrigerador pese 1 grama e que sua temperatura seja de -6o C. Para que esta quantidade de água sofra um aumento de temperatura de 2o C será necessário fornecer 1 caloria. Nesse caso, o calor fornecido ao nosso cubo de gelo para que ele sofra um aumento de 2oC é chamado de calor sensível. Entretanto, o nosso gelo de 1 g ao atingir a temperatura de 0oC permanecerá nessa temperatura até que 80 calorias sejam consumidas e o gelo seja totalmente derretido. O calor absorvido pelo gelo durante o seu derretimento com a temperatura estável em torno de 0oC é chamado de calor latente. Com o nosso bloco de gelo já todo derretido e não podendo mais ser usado para refrigerar a nossa bebida, continuaremos a experiência com o nosso 1 g de água líquida fruto do derretimento do nosso antigo gelo. Essa água continuará a sofrer um aumento de temperatura, sendo que ela absorverá 1 caloria para cada 1o C acrescido na sua temperatura. Esse calor absorvido pela água na faixa de temperatura entre 1 e 100oC é chamado de calor sensível. Quando água líquida alcançar a temperatura de 100o C serão necessárias 540 calorias na passagem da água do estado líquido para o gasoso. Novamente, o calor absorvido pelo nosso 1 g de água durante a passagem de estado físico é chamado de calor latente. Quando todo o nosso 1 g de água líquida tiver sido convertida em vapor d’água, ela poderá continuar sofrendo aumento de temperatura segundo a razão 1 caloria/2o C (calor sensível, ver Figura 5). Portanto, nesse caso, o calor latente é o calor consumido na modificação da estrutura interna das moléculas de água nas mudanças de estado físico (http://www.ux1.eiu.edu/~cfadd/1360/20Heat/Latent.html). 21 Figure 14 – Esquema com a quantidade de calorias liberado ou absorvido por 1 g de água no processo de evaporação/precipitação e fusão/solidificação. Fonte: http://www.ux1.eiu.edu/~cfadd/1360/20Heat/20Images/Fig20.02.jpg Diante das informações apresentadas podemos finalmente nos deliciar com a nossa bebida gelada enquanto transpiramos de calor durante uma manhã ensolarada. Mas um momento!!!! Alguém se perguntou quanto calor foi absorvido pelo nosso bloco de gelo de 1 g desde o momento em que ele saiu do refrigerador até a sua conversão em vapor d’água quando a sua temperatura superou os 100oC? O nosso cubo de gelo retirou do ambiente cerca de 720 calorias, sendo que 85% dessas calorias foram absorvidas na forma de calor latente e o restante como calor sensível. Sem dúvida alguma é muita energia para apenas 1 g de água. Vale lembrar que essa energia será devolvida ao ambiente quando o nosso 1 g de vapor d’água precipitar na forma de chuva ou neve. Portanto, o processo de evaporar grande quantidade de água na atmosfera, e sua subseqüentemente precipitação na forma de chuva ou neve, é o maior fator de transporte de energia dentro do sistema climático. Vale lembrar que do volume total de água que evapora dos oceanos, 90% retorna às bacias oceânicas na forma de chuva, e o restante é precipitado sobre os continentes. A descarga dos rios devolve esses 10% para o oceano (Figura 15). O tempo necessário para uma molécula de água fazer a completa viagem oceano-continente-oceano gira em torno de 38.000 anos (Libes, 1992). De fato, a variação do ciclo hidrológico está relacionada principalmente a três fatores: 1) quanto de água atravessa a atmosfera, 2) a natureza e forma das nuvens que Figura 15-O ciclo hidrológico http://www.unc.edu/courses/2004spring/geog/062/001/weather/AA_Climate_NC .htm 22 ela forma e 3) quão rapidamente ela é precipitada. Sobre os oceanos, o mais importante fator é a temperatura da superfície do mar. Sobre os continentes, o nível de umidade do solo é o mais importante, mas a presença de matéria orgânica pode também se tornar um importante fator. A quantidade de vapor d’água circulando pela atmosfera é uma combinação de evaporação do solo e transpiração das plantas (essa combinação é definida como evapotranspiração), e depende da umidade do solo, temperatura do ar, temperatura do solo que está relacionada com a quantidade de energia solar absorvida pelo solo, e a velocidade do vento (ver filme Chuva Amazônia, página 22). O nível de vapor d’água na atmosfera afeta suas propriedades radioativas, enquanto sua condensação para a formação de nuvens é um fator crítico na definição do clima de uma região. (ver http://www.ocean.washington.edu/courses/envir202/Water_lecture_1.html). Além disso, devido à água ter um alto calor latente de fusão e evaporação, a fase de transição entre gelo e líquido; e líquido e vapor envolve grande quantidade de energia. É importante deixar claro que o vapor d’água é a mais importante variável constituinte da atmosfera, com uma distribuição que varia no espaço e tempo. Outro ponto importante, e que será melhor abordado mais adiante, é a quantidade de água aprisionada na criosphera que pode mudar significativamente com sérias conseqüências para o clima da Terra (Burroughs, 2001). 2.4- A Biosfera Se morássemos em um país temperado, provavelmente teríamos preferência por uma estação do ano. Alguns gostariam mais da primavera com as árvores ganhando flores coloridas, folhas e muitos frutos. Outros prefeririam a “atmosfera” do outono com folhas pelo chão e as árvores com seus galhos já expostos perdendo suas folhas. Ao vermos essas paisagens, poucos se dão conta que por de trás dessas estações, existem importantes trocas gasosas entre a vegetação e a atmosfera. Importantes não são apenas essas trocas através dos vegetais, pois compondo a biosfera existe também a atividade animal através principalmente de sua respiração. Diariamente,todos nós liberamos e absorvermos gases da atmosfera. Por exemplo, respiramos oxigênio e liberamos dióxido de carbono. Desprendemos também metano juntamente com nossas fezes. Todos os organismos liberam muitos gases. Atualmente, o mais discutido e investigado efeito da biosfera no clima do nosso planeta tem sido a interação entre os gases estufa (dióxido de carbono, metano, vapor d’água, entre outros) e o aumento na temperatura da atmosfera. Em particular, através da fotossíntese a biosfera atua como controladora fundamental sobre os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Da mesma forma, a produção de metano (CH4) pela decomposição da matéria orgânica vegetal e animal mantém os níveis naturais deste importante gás estufa. Durante a primavera, quando a atividade dos vegetais aumenta produzindo flores e frutos, a biosfera absorve em maior quantidade o CO2 da atmosfera para liberá-lo durante o inverno quando as folhas, flores e frutos das árvores caem e se desintegram no solo liberando o dióxido de carbono. Como todos nós já sabemos os vegetais na presença de luz solar possuem a capacidade de absorver dióxido de carbono da atmosfera e liberar oxigênio através da fotossíntese. Assim, o potencial da biosfera em absorver o excesso de CO2 liberado para a atmosfera pelos automóveis e indústrias é um importante fator quando se considera as mudanças climáticas. Portanto, a biosfera é um armazenador temporário para uma fração do CO2 emitido para a atmosfera pelas atividades humana (Figura 7). 23 Figura 16- Trocas gasosas entre a atmosfera e biosfera. http://www-das.uwyo.edu/~geerts/cwx/notes/chap01/co2_cycle.html http://www.escolavesper.com.br/ciclo_do_carbono.htm Com já foi visto anteriormente, a biosfera pode também influenciar no clima alterando o albedo da superfície do planeta Terra. Recentemente, muitas reportagens têm sido feitas para mostrar o impacto das queimadas no clima da Amazônia. A remoção da vegetação conduz a formação de desertos, e as areias do deserto refletem mais energia solar do que as florestas (ver tabela 6). Assim, uma das conseqüências do desflorestamento da Amazônia está no desequilíbrio de radiação das áreas afetadas pela perda de cobertura vegetal. Ao mesmo tempo, a remoção da vegetação conduzirá à redução no transporte de vapor d’água ao longo da floresta, pois em regiões afetadas pelo desmatamento não mais ocorrerá a transferência de água da vegetação para a atmosfera através da evapotranspiração. Isso levará a um impacto adicional na alteração das propriedades radioativas (aumento do albedo) da superfície e reduzirá a possibilidade de formação de nuvens. Dessa forma, as nuvens carregadas de água não conseguirão migrar para a floresta e consequentemente diminuirão as chuvas em determinados setores da floresta amazônica. Isso conduzirá a morte da floresta tropical adaptada às condições historicamente úmidas da Amazônia (ver filme 1 e 2). Obs: CTRL + Click sobre a palavra filme para exibi-lo. Para visualizar o filme instalar preferencialmente o programa Quicktime, http://www.apple.com/quicktime/win.html Filme 1 -Filme com a dinâmica da água entre a atmosfera e a floresta. Obs: para visualizar o filme instalar preferencialmente o programa Quicktime (http://www.apple.com/quicktime/win.html) Filme 2- Filme da dinâmica da água entre a atmosfera e uma parte da floresta desmatada. 24 2.5- Interações Oceano-Atmosfera Como já vimos a água consegue armazenar grande quantidade de energia na forma de calor latente e sensível. Portanto, os oceanos têm uma grande capacidade calorífica (habilidade que um corpo tem de armazenar calor, http://www.escolavesper.com.br/calorimetria.HTM). Como esse calor é absorvido, estocado e liberado tem um grande impacto nas mudanças climáticas. O processo que controla a temperatura da superfície dos oceanos é fundamental para muitos aspectos das mudanças climáticas na escala de poucos anos a séculos. Já sabemos também que as variações de longa duração na quantidade de nuvem afetam a forma que a energia é absorvida pelos oceanos, pois as nuvens refletem os raios solares de volta ao espaço, e assim produzem um esfriamento da superfície da Terra, especialmente nos trópicos. Contínuas mudanças na precipitação e nas taxas de evaporação podem afetar a formação de nuvens. O mais conhecido desses mecanismos de interação ocorre no Oceano Pacífico. Quando a pressão atmosférica é alta no Oceano Pacífico, ela tende a ser baixa no Oceano Índico da África à Austrália (Figura 17). Essas diferenças de pressão atmosférica foram estudadas por Gilbert Walker, que as descreveu e chamou de Oscilações do Sul (OS) “Southern Oscillations” (SO) em 1920s. Ele definiu o SO em termos de diferenças na pressão registradas em Santiago, Honolulu e Manila, e aquelas em Jakarta, Darwin e Cairo. Subsequentemente, em 1950, o meteorologista holandês Berlage melhorou esse índice. Usando Jacarta como sua estação de referência, ele produziu um mapa de correlação de anomalias (uma situação fora da normalidade) de pressão anual. Essa análise mostra que as Oscilações do Sul (SO) são registros das pressões atmosféricas (ver item 1.3.2) resultado das trocas de massas de ar (ver item 1.2.3) ao longo da completa circunferência do globo em latitudes tropicais. Hoje, esse fenômeno é definido em termos de diferença nas anomalias de pressão de superfície entre o Taiti e Darwin - Índice de Oscilação do Sul- ou “Southern Oscillation Index”-SOI. O nome El-Niño vem do fato das correntes oceânicas aquecidas ocorrerem ao longo da costa do Equador e Peru em janeiro, fevereiro e março. Essas correntes significam o fim da estação de pesca local, e devido a esse fenômeno acontecer próximo ao Natal, ele foi tradicionalmente associado ao Nascimento (El Nino em espanhol pode significar Menino Jesus). Em alguns anos, as temperaturas são excepcionalmente altas e persistem por muito tempo. Isso provoca uma diminuição na produção biológica nessas águas fruto da interrupção no fluxo das águas que migram do fundo do oceano para a superfície do mar trazendo consigo nutrientes. Essas zonas são chamadas de ressurgência (veja: http://www.io.usp.br/brasil/projetos/deproas.html). As águas frias de ressurgênica são ricas em nutrientes, e sua interrupção é um desastre para a indústria de pesca local e para a população de aves marinhas. O termo El Nino tem sido associado com o extenso aquecimento da superfície tropical leste do Oceano Pacífico durante três ou mais estações. Devido a esses episódios de aquecimento estarem intimamente associados às oscilações de pressão atmosféricas do Sul (Southern Oscillations), o comportamento global é geralmente descrito como El Nino Southern Oscillation (ENSO) ou El Niño Oscilações do Sul (ENOS). ������������� �� ��� ��Estu dar no terceiro dia da segunda semana. 25 Filme 3 - filme exibindo as correntes do Oceano Pacífico em uma situação normal. Obs: para visualizar o filme instalar preferencialmente o programa Quicktime, http://www.apple.com/quicktime/win.html. Filme 4 - filme mostrando o enfraquecimento dos ventos e posterior calmaria nas correntes marinhas no Pacífico resultando no aquecimento anormal das águas na costa do Peru. A natureza oscilatória do El Nino Oscilação do Sul (ENOS) indica que entre os episódios de aquecimento, existem momentos em que a temperatura da água de superfície no setor tropical leste do Pacífico cai abaixo do normal. Embora esses episódios frios tendam a envolver anomalias de temperaturas menos extremas, eles são uma parte importante do processo do ENOS como um todo. Como ele é um complemento natural do episódio de aquecimento do El Nino, ele tem sido conhecido como La Nina. O El Niño é marcado pelas temperaturasde superfície acima da média da costa da América do Sul de março a maio. Esta área de águas anormalmente quente se espalha para oeste através do Pacífico (ver Filme 3 e 4 e Figura 18). No final do verão ela cobre uma grande e estreita língua da América do Sul à Nova Guiné. Seis meses mais tarde as águas aquecidas já estão dissipadas e no leste do Pacífico ela já está abaixo dos valores meteorológicos normais. Figura 17- Células de pressão atmosférica para janeiro (a) e julho (b). Modificado de Christopherson, Geosystems, An Introduction to Physical Geography, Third Edition, 1997, Prentice Hall, Inc., Upper Saddle River, NJ. 26 Paralelamente a essas mudanças na temperatura da superfície da água, extensas mudanças atmosféricas estão em curso durante um evento de El Niño. Os registros de pressão de superfície, ventos e chuva revelam que, começando em outubro e novembro antes do El Nino, a pressão sobre Darwin, Austrália, aumenta e a corrente de ventos para oeste enfraquece. Ao mesmo tempo, a precipitação sobre a Indonésia começa a diminuir. Além disso, a estreita faixa de ascensão de ar, nebulosidades e altas taxas de precipitação conhecida como Zona de Convergência Intertropical, que circula o globo, muda de posição. Normalmente, essa faixa migra sazonalmente entre 10o N em agosto e setembro para 3o N em fevereiro e março. Como um precursor dos episódios de aquecimento essa faixa muda para mais adiante ao sul no leste do Pacífico, para estar próximo, ou até mesmo, ao sul do equador durante o início dos meses do ano de El Nino (Ver filme Pacífico Normal.mov e El Niño4.mov). Como a área de anomalias na temperatura das águas de superfície do oceano se espalha para oeste, uma região de excepcional altas taxas de precipitação, associada com a mudança na posição da Zona de Convergência Intertropical, se desloca com essas massas de água aquecidas (figura 19). Durante a fase madura de um episódio de aquecimento, grande parte do Pacífico Tropical não está apenas coberto com águas anormalmente aquecidas, mas também tem excepcionalmente um enfraquecimento dos ventos associado ao deslocamento da Zona de Convergência Intertropical para o sul. Além disso, a transferência de calor do oceano significa que toda a troposfera tropical (http://pt.wikipedia.org/wiki/Troposfera) na região está excepcionalmente aquecida. Isso mantém as anormais precipitações até que as águas de superfície se esfriem para valores normais. Com o retorno à normalidade, os padrões atmosféricos retornam à sua tradicional configuração. Figura 18 – Mapa de relevo tridimensional exibindo aumento no nível do mar ao longo do equador no leste do Oceano Pacífico. A cor vermelha indica um aumento na temperature da superfície do mar da ordem de 5oC durante um evento do El Nino. Fonte: http://www.pmel.noaa.gov /tao/elnino/nino- home.html. 27 Figura 19 – Deslocamento da zona de elevada precipitação ao longo do Pacífico equatorial durante um evento de El Niño e afundamento da termoclina na costa oeste da América do Sul (IPCC, 1995). Durante os eventos da La Nina, o padrão geral é efetivamente invertido. Mais frio do que o intervalo normal de temperatura da superfície do mar através de grande parte do Pacífico leste e central, resultando em aumento na pressão atmosférica. Ao mesmo tempo a pressão sobre a Indonésia e norte da Austrália diminui, e a diferença de pressão entre o Taiti e Darwin passa a ser positiva. A mesma inversão ocorre nos oceanos. Assim, o impacto geral do ENOS no Pacífico tropical apresenta uma forte relação oceano-atmosfera com grandes implicações para o clima (Houghton, 2001; Burroughs, 2001). Enquanto a natureza do ENOS pode ser descrita principalmente em termos de mudanças no Pacífico tropical, seu impacto se estende para muito distante. Os efeitos são mais notados nos trópicos, como pode ser visto no padrão de precipitação (figura 20). A distribuição das chuvas muda completamente ao redor do globo. Durante episódios de El Niño, quando a região de forte precipitação sobre a Indonésia se move para leste em direção ao Pacífico central, ocorre uma menor, mas significante movimento da zona de fortes chuvas sobre a Amazônia para o oeste dos Andes. Mais importante é que a região de ascensão de massas de ar sobre a África é substituída por movimentos descendentes. Isso parcialmente explica como as prolongadas secas no sub-Saara da África desde o final da década de 60 tem sido relacionadas aos mais freqüentes eventos de El Nino no Pacífico. 28 �� � ������� ��� ��� � ��� ��� 2.6- A Circulação Termohalina Como podemos ver, o aquecimento anormal da águas na costa do Peru é apenas um sintoma de um ciclo de transformações iniciado com o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical para o Sul. Essas modificações não estão restritas às águas de superfície. Muitas mudanças na temperatura da água ocorrem também em grandes profundidades nos oceanos. Imaginem que a coluna de água (profundidade) média nos oceanos está em torno de 4000 metros. Todo esse volume de água tem a capacidade de absorver ou liberar energia térmica para a atmosfera dependendo da situação. Em locais com elevada temperatura atmosférica (zonas equatoriais), as massas de água oceânica absorvem o calor do ar, enquanto que em zonas com baixa temperatura do ar (regiões polares), os oceanos liberam energia térmica para o ambiente. Portanto, os oceanos servem como um amortecedor térmico equilibrando as temperaturas globais e transportando energia de baixas para altas latitudes. Essas correntes de massa de água oceânica responsáveis pelo transporte de calor de um hemisfério ao outro é chamada em inglês de Great Ocean Conveyor, ou algo como o Grande Transportador Oceânico. Para entendermos esse transporte de calor através das correntes oceânicas precisaremos antes conversar sobre algumas definições. É muito comum se falar na oceanografia em águas de superfície e águas de profundidade. Mas esses termos a primeira vista podem parecer muito subjetivos, pois dizer que uma camada de água é superficial depende muito do ponto de vista e da experiência de vida do observador. Considerando que as águas próximas da costa Figura 20 – Impacto climático do El-Niño. http://www.usda.gov/oce/waob/jawf/enso/elnopcp.gif ������������� �� ��� ��Estu dar no quarto dia da segunda semana. 29 possuem uma profundidade média de 100 metros, para um pescador, água de superfície pode ser os primeiros 10 metros. Mas para um turista acostumado com as praias de águas rasas, os primeiros 10 metros já parecem ser bastante profundos. Como nas ciências exatas não podemos trabalhar com conceitos relativos, precisaremos definir muito bem onde começa e termina as chamadas águas de superfície por onde fluem as nossas conhecidas correntes marinhas de superfície. A propriedade física usada para separar essas águas é a densidade. Como sabemos as águas mais quentes possuem menor densidade e tendem a flutuar, enquanto que as águas mais frias são mais densas e tendem a afundar. Analisando a temperatura da coluna d’água oceânica (figura 21) nos primeiros metros percebemos que existem poucas variações dessa propriedade física a medida de afundamos. Entretanto, próximo dos 200 metros de profundidade a temperatura diminui rapidamente de ~25oC para 10oC em um intervalo de 400 metros. Essa zona de rápida queda na temperatura é chamada de termoclina. A temperatura volta a estabilizar abaixo de 600 metros, e assim permanece até o fundo oceânico. Deste modo, a camada de água acima dos 200 metros de profundidade é chamada de águas de superfície, enquanto que as águas abaixo de 600 metros são as águas de profundidade. Entreessas duas camadas nós temos a termoclina que funciona como uma barreira física impedindo a mistura entre essas duas massas de água. As águas de superfície podem ser chamadas também de camada de mistura das águas, pois do topo até a base dessa zona ocorre intensa mistura de águas. A espessura da camada de mistura, e assim, a profundidade da termoclina, depende da velocidade dos ventos na superfície, misturas termais onde as águas superficiais são aquecidas pelo sol ou alteradas pela passagem de massas de ar frias ou quentes, e pela convecção de águas quentes ou frias ou ainda a ressurgência de águas frias. Entretanto, essas trocas térmicas envolvem apenas uma pequena parte do oceano. Abaixo dessa camada superficial existe uma mais gradual e igualmente importante conjunto de movimentos. As águas de grande profundidade (> 600 m) possuem também a sua corrente. O processo conduzindo essas águas profundas do oceano é chamado de Circulação Termohalina. Essa circulação resulta das diferenças de densidade que surgem das variações na salinidade e temperatura da água. Em regiões onde as águas se tornam mais densas, resultado de uma diminuição na sua temperatura e/ou aumento na sua Figura 21 – Esquema apresentando a estratificação térmica, salina e de densidade ao longo da coluna d’água 30 salinidade, ela pode afundar para grandes profundidades. A temperatura depende de onde as águas de superfície vêm (dos trópicos vem quente e dos pólos vem frias) e de quanto calor o oceano absorve e libera para a atmosfera na forma de calor latente e sensível (ver figura 14). A salinidade de um dado corpo de água depende do equilíbrio entre as perdas através da evaporação e ganhos através das chuvas ou da água doce que escoa dos continentes através dos rios ou do derretimento do gelo na Antártida e Groenlândia e mais os pacotes de gelo dos oceanos polares. Na prática existem poucas regiões de afundamento de massas de água que tenham grande impacto. Águas profundas definidas como águas que afundam para níveis intermediários dos grandes oceanos são formadas apenas norte do Atlântico (figura 22). Águas do fundo, que constituem uma camada densa e fria abaixo das águas profundas, são formadas apenas em limitadas regiões próximas da costa da Antártida no Mar de Weddell e no Mar Ross (Figura 22). A circulação termohalina conduz um padrão mundial conhecido como O Grande Transportador Oceânico (Great Ocean Conveyor-GOC, ver filme Conveyor e figura 22). Esse modelo, que foi desenvolvido por Wallace Broecker no Laboratório de Lamont Doherty, tem tido um imenso impacto nas recentes discussões sobre a natureza das mudanças climáticas. Embora isso possa parecer uma representação muito simplificada, e que o mundo real é mais complicado, ela fornece um excelente ponto de partida para as considerações das implicações da circulação termohalina. Em particular, ela está envolvida com as correntes oceânicas de superfície (< 200 m) que transportam grande quantidade de energia para os pólos. Assim, alguma mudança na escala desse processo terá grandes conseqüências para o clima. Filme 5 - Filme exibindo o transporte de água e energia térmica nos oceanos Mar de Weddell Mar de Ross Figura 22 – Diagrama esquemático das trajetórias de circulação oceânica global (depois de W. Broecker, modificado por E.Maier-Reimer). 31 Existem evidências de que o GOC pode existir em um grande número de diferentes estados e que ele possa ser um fator fundamental no controle das mudanças climáticas, e de particular relevância para o Atlântico Norte, onde a circulação das correntes transporta a maior parte do calor para o Ártico (ver filme 5). Essas águas quentes cedem seu calor para o ar do ártico através da evaporação (calor latente). Então, sua baixa temperatura e alta salinidade permitem que ela afunde e forme águas profundas que fluem todas para a Antártida. Águas frias descendendo ao redor da Antártida fluem para dentro dos Oceanos Pacífico e Índico onde não existem massas de água frias descendendo (Houghton, 2001). Segundo Burroughs (2001), O GOC traz três importantes aspectos que influenciam nas mudanças climáticas: 1) Os oceanos transportam grande quantidade de energia para os pólos, 2) em altas latitudes no hemisfério norte o Atlântico representa 60% da transferência de energia oceânica e 3) algumas mudanças na quantidade de energia transportada pelos oceanos, especialmente no Atlântico Norte, pode ter um grande impacto no clima do Hemisfério Norte. Exercício (obs: todas as respostas devem ser limitadas à meia página em formato A4, Times New Roman, tamanho de letra 12 e espaçamento simples). 1) Baseado na circulação atmosférica global apresentada no texto e informações da literatura adicional, explique o que determina a presença dos desertos e das Florestas Tropicais? 2) Quais mecanismos poderiam estar afetando a quantidade de chuvas sobre a Amazônia. Por favor, mencione e explique cada um deles. 3) Com o crescimento das grandes cidades através de novos prédios em concreto, pontes, viadutos e estradas, elas se tornaram núcleos de calor, pois os materiais usados nas obras absorvem muita energia térmica. Todos sabemos que é inviável deter o crescimento das cidades, no entanto, quais medidas paisagísticas você julga necessário para baixar a temperatura dos centros urbanos? Explique! 4) Explique o mecanismo que desencadeia o El Niño. Na seqüência comente os seus efeitos sobre o clima do nosso planeta. 3- Mudanças climáticas e seus efeitos Ao redor do planeta Terra é possível observar várias mudanças na vegetação, no comportamento dos animais (aves migratórias, ursos, peixes, etc..) e na paisagem dependendo da época do ano. Em regiões temperadas, durante o inverno, há um predomínio de árvores sem folhas. Muitos animais entram em hibernação ou migram para regiões mais quentes para sobreviver ao frio do inverno e/ou a falta de alimento. Geralmente, o chão fica coberto de neve e o solo congela formando rachaduras. Em ������������� �� ��� ��Ativ idade para o quinto dia da segunda semana. �������������� �� ��� ��Es tudar no primeiro dia da terceira semana. 32 zonas de montanhas o acúmulo de neve pode provocar avalanches com sérias conseqüências para cidades próximas a sua base. Por outro lado, durante a primavera e verão as árvores estão cheias de folhas, flores e frutos, e os animais estão em plena atividade em busca de alimento e se reproduzindo. A neve é derretida e os rios aumentam a sua vazão. Essas situações já estão dentro de um ciclo anual previsto com alguns anos apresentando um inverno mais rigoroso ou mais extenso que o outro, ou um verão mais quente, mas, como sabemos, essas estações ocorrem sempre dentro de um intervalo de tempo que se repete há “séculos”! Todos os animais já estão adaptados a essas mudanças na temperatura. No caso dos seres humanos, durante o inverno usamos roupas mais grossas para não perdermos o calor corporal e os aquecedores estão funcionando para manter uma temperatura agradável no interior das residências. Durante o verão as roupas são leves para liberar o calor corporal com mais facilidade para o ar atmosférico, e os aparelhos de ar-condicionados estão retirando calor do interior das residências. Será que ao longo de toda a história da Terra o clima sempre foi assim? Caso ele tenha sido diferente, poderiam os animais e vegetações serem os mesmo que encontramos hoje? O Homem seria capaz de sobreviver e evoluir em outro clima? Dentro de uma perspectiva temporal mais longa, as paisagens seriam as mesmas ou elas teriam se modificado em resposta a uma possível mudança na temperatura da atmosfera que resultaria em modificações na quantidade de neve e geloacumulado nos pólos, e assim, alteraria a quantidade de água nos oceanos gerando uma flutuação no nível do mar? A maior de todas as perguntas sempre foi: Quem somos e para onde estamos indo? Para começarmos a tentar responder a essas e outras perguntas é necessário conhecer o passado da humanidade e do nosso planeta. Neste capítulo iremos brevemente considerar os registros climáticos e suas mudanças. 3.1 – Conseqüências Geológicas A primeira impressão é a de que o clima não tem meios de afetar a geologia do nosso planeta, pois, do lado do clima, tratam-se apenas de ar, temperatura, vento, chuva, neve e etc..., enquanto que do lado da geologia estamos falando principalmente de rocha. Entretanto, eventos climáticos como prolongadas secas no interior continental, diminuição das calotas polares ou a diminuição no nível do mar e até mesmo a secagem (retirada de água) de bacias oceânicas tem grande impacto na geologia do nosso planeta modificando a paisagem tanto do litoral quanto do interior continental, além de alterar o relevo da superfície. Entretanto, a pergunta principal é se as mudanças geológicas são conseqüência ou causa? Se as mudanças no clima foram resultados de processos geológicos da Terra ligados principalmente à tectônica de placas (http://www.unb.br/ig/glossario/verbete/tectonica_de_placas.htm) e mudanças no nível de vulcanismo, nos deparamos diante de duas perguntas. 1) as mudanças no clima exercem um significante impacto na atividade tectônica (p.ex. vulcanismo) através da mudança na carga de peso sobre a crosta da Terra devido ao aumento ou diminuição na espessura das camadas de gelo sobre o continente ou a quantidade de água sobre o fundo oceânico? Mais impressionante seria ainda, 2) se o clima pode exercer influência na atividade tectônica, estaria ele sendo afetado por efeitos extraterrestres (p.ex. parâmetros orbitais da Terra, flutuações na emissão de raios solares, ou mesmo o movimento do Sistema Solar através da Galáxia)? Segundo Burroughs (2001) ainda não existe consenso se as mudanças climáticas exercem um significativo efeito na atividade tectônica. Entretanto, existem 33 suficientes evidências para sugerir que o clima pode modificar o peso sobre a crosta terrestre através do acúmulo de água nos oceanos e de gelo sobre os continentes. Por exemplo, durante a última era glacial, a erupção de vulcões na região do Mediterrâneo parece ter ocorrido com mais freqüência durante momentos de rápidas mudanças no nível do mar. Esse fato apóia a proposta de que mudanças na carga da crosta da Terra através do aumento ou diminuição no volume de gelo sobre o norte da Europa influenciaram o nível da atividade vulcânica na região. Um mais sutil efeito global das mudanças climáticas ocorre na forma de mudanças no comprimento dos dias. Se a atmosfera circula mais rapidamente, o princípio de conservação do momento angular requer que a Terra diminua sua velocidade de rotação. Medidas recentes mostraram que quando o clima se aquece como resultado de eventos ENOS, a Terra diminui sua velocidade de rotação. No caso do El Nino de 1997-98 a duração do dia aumentou em cerca de 0.4 ms. Isso sugere que durante súbitas mudanças climáticas, a Terra poderia aumentar ou diminuir significativamente sua velocidade de rotação, que por sua vez poderia gerar stress e tensões na crosta que poderiam conduzir a um aumento na atividade vulcânica, e assim, aumentar as perturbações climáticas. Como influência extraterrestre no clima, existem muitas especulações. O mais famoso exemplo dessas influências está na variação de parâmetros orbitais da Terra que é visto como o maior fator na dinâmica das eras glaciais (ver http://www.siderum.com/cambio%20climatico.htm). 3.2- Flora e Fauna Quando viajamos por longas distâncias percebemos uma gradual mudança na vegetação e no tipo de animais que freqüentam a área. Quando estamos no norte do Brasil é notória a presença de animais de grande porte e aves com plumas muito coloridas, além da exuberância da floresta tropical. Entretanto, ao chegarmos ao nordeste brasileiro, os animais de pequeno porte e as árvores de baixa estatura bem espaçadas e com poucas folhas tomam lugar na paisagem. Como todos nós sabemos isso é resultado, entre outras coisas, da diferença de umidade no ar dessas regiões. Como o clima tem mudado significativamente dentro de uma escala de tempo geológica, é natural que ocorram mudanças nos tipos de animais e vegetação. Portanto, apresentaremos algumas das conseqüências das flutuações climáticas na flora e fauna. Em particular na região Amazônica, estudos foram concentrados na dinâmica da floresta tropical e dos pântanos costeiros (Hammen & Absy, 1994; Absy, 1985; Behling & Costa 2001; Behling et al., 2001; 2004; Cohen & Lara, 2003; Cohen et al., 2005a; 2005b). Há 18.000 anos atrás na região Amazônica, a quantidade de chuva era de 25 a 40% menor do que é hoje e a temperatura média estava entre 2 e 6 oC mais baixa. Diante desse clima, a paisagem nessa região era bem diferente da atual. Existia o predomínio da vegetação de savana com a floresta tropical isolada em pequenos pontos. Com o nível do mar 100 metros abaixo do atual, toda a enorme faixa de manguezal do litoral brasileiro estava a dezenas de quilômetros distante da nossa costa. Para detalhes sobre o clima na Amazônia visitar o site: http://tucupi.cptec.inpe.br/products/climanalise/cliesp10a/fish.html No que se refere à relação clima/evolução humana, a emergência dos humanos modernos (Homo sapiens sapiens) durante a última idade do gelo, e o desaparecimento do Neanderthals (Homo neanderthalensis), em torno de 35.000 anos atrás, pode também ser conseqüência de dramáticas flutuações climáticas que 34 ocorreram entre 50.000 e 15.000 anos atrás (http://www.ucmp.berkeley.edu/quaternary/ple.html). Nessa área existem mais teorias do que evidências, mas já é consenso que os humanos surgiram na África, aparecendo no oriente médio por volta de 100.000 anos atrás e viveram temporalmente paralelamente com o Neanderthal por muitas dezenas de milhares de anos, embora evidências de DNA sugiram que não houve cruzamento. Entretanto, durante o máximo da glaciação pleistocênica (~18.000 anos atrás, ver filme 6 e figura 23) o Neanderthal desapareceu, e os humanos modernos, com sua mais avançada habilidade para fazer ferramentas, estavam mais bem preparados para explorar o início das condições pós-glaciais (Burroughs, 2001). Filme 6 - filme com a regressão do gelo sobre a Terra desde 20.000 anos atrás. http://theo.thg.goe.ni.schule.de/~wwallert/animationen.htm 3.3- Extinção em Massa Apesar do ouvirmos falar apenas da extinção dos dinossauros, mudanças na fauna na escala de tempo geológica têm sido muito comuns. A mudança climática tem sido apenas uma parte da história das extinções em massa. Em particular, seu papel na extinção em massa é uma área fértil do debate científico e da imaginação de cineastas. Os argumentos estão concentrados não apenas na parte desenvolvida pelo clima, mas também o que aconteceu durante esses eventos, quão rapidamente eles se desenvolveram, e mesmo quantos eles foram. Nos últimos 600 milhões de anos os registros mostram que a diversidade de todo tipo de vida continental e marinha aumentou muito. (http://www.ucmp.berkeley.edu/precambrian/precambrian.html). Essa diversificação foi interrompida pelas extinções em massa que ocorreram há 440, 365, 255, 210 e 65 milhões de anos. Há 255 milhões de anos, 60% de todas as famílias de espécies foram Figura 23 – A extensão máxima de gelo sobre a Terra atingida durante a Glaciação Pleistocênica (18,000 anos atrás). http://www.scotese.com/lastice.htm 35 extintas, com a possibilidade de que 96% de todas as espécies desapareceram, com mortalidade
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