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Direito Romano

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Roma e Direito Romano
República – Magistrados 
Cônsules – dois – comandavam o exército, presidiam o senado e os Comícios, representavam a cidade em cerimônias religiosas e em questões administrativas, eram os superintendentes dos funcionários.
Repartiam entre si os poderes, cada qual reservando para si uma esfera de ação ou exercendo as esferas alternadamente. 
Ex.: comando na batalha, eles alternavam-se a cada dia na chefia suprema do exército e, se houvesse mais de um palco de operações, eles se distribuíam por acordo ou sorteio. 
Pretores - sua atuação era relativa à Justiça. 
Eram dois tipos: o Pretor Urbano - cuidava de questões envolvendo apenas romanos na cidade, e o Pretor Peregrino, que cuidava de questões de justiça no campo e aquelas envolvendo estrangeiros.
Este cuidava da administração da Justiça, mas não era juiz. Tratava da primeira fase do processo entre particulares, verificando as alegações das partes e fixando os limites da disputa judicial. Feito isso, o Pretor remetia o caso a um Juiz particular para que este julgasse o caso. 
A partir da Lei Aebutia (séc. II a.C.), os pretores tiveram aumentado mais ainda seus poderes discricionários, visto que, a partir de então, eles podiam fixar os limites da contenda e dar instruções ao juiz particular em como este deveria proceder. 
Edis - tinham função de cuidar fisicamente da cidade, ou seja, cuidavam das provisões da cidade, velavam pela segurança pública e pelo tráfego urbano, vigiavam aumentos abusivos de preços e a exatidão dos pesos e medidas do mercado, cuidavam da conservação de edifícios e monumentos públicos, da pavimentação da cidade, organizavam e promoviam os famosos jogos públicos.
Questores - durante a República, esses magistrados cuidavam, principalmente, das questões da fazenda. Custodiavam o tesouro público, cobravam os devedores e os denunciavam à justiça, seguiam generais e governadores como tesoureiros.
Censores - embora não fizesse parte do Cursus Honorum, era um cargo cobiçado como um dos mais respeitados da República e, geralmente, só era ocupado por cidadãos respeitadíssimos e que já tivessem ocupado o cargo de Cônsul.
Eram eleitos de cinco em cinco anos, em número de dois.
Eram responsáveis pelo Censo (recenseamento) que era realizado de cinco em cinco anos.
“Por turno de tribos, os cidadãos se apresentavam, com seus bens móveis diante da repartição dos censores (villa publica), instalada no Campo de Marte, para fazerem a declaração (fassio) do estado civil, relações de serviço e riqueza, perante os censores, os notáveis das tribos e outras pessoas de confiança. As mulheres, os filhos e clientes eram representados pelo chefe da família. Comissários do censo eram enviados aos exércitos que se encontravam em campanha.”
Principalmente, eles eram responsáveis pelo Regimen Morum, o policiamento dos costumes. Eles podiam devassar a vida de um indivíduo, e maus exemplos, luxos, filosofias não condizentes como que era considerado romano, eram denunciados por eles nas Assembleias Públicas. Caso um acusado pelo censor tivesse sua culpa comprovada, poderia inclusive perder por algum tempo seus direitos políticos.
Direito Romano
Definição:
O Direito Romano é uma criação típica deste povo, o que eles criaram nos deu a possibilidade de hoje estarmos habitando países que se intitulam “Estados de Direito”. 
Para os romanos, a definição de Direito passava por seus mandamentos, que são: “viver honestamente, não lesar ninguém e dar a cada um o que é seu”.
“Espírito” do Direito Romano: proteção do indivíduo; autonomia da família, prestígio e poder do pater familias, valorização da palavra empenhada”.
	Periodização:
Arcaico (VIII a.C. – II a.C.): formalismo/ rigidez;
Função do Estado – Guerra, punição dos delitos mais graves, observância das regras religiosas;
Família: centro de tudo! Cidadãos romanos eram considerados primeiro a partir do seu grupo familiar e em segundo a partir de sua individualidade;
Revolta da plebe romana – Lei das XII Tábuas (451-450 a.C.) – codificação de regras costumeiras/ fonte do direito romano.
	Clássico (II a.C. – III d.C.)
Auge do Direito Romano;
Poder do Estado – pretores e jurisconsultos (modificar as regras existentes, revolucionar o Direito);
	Pós-clássico (III d.C. – VI d.C.)
Sem grandes invenções;
Necessidade de se fixar as regras por meio de uma codificação;
 	Fontes do Direito Romano
1) Costume
A forma mais espontânea e mais antiga de constituição do direito é o Costume (consuetudo, mores) - adjetivos obrigatórios ao bom romano.
Muitos pontos do Mos Maiorum podem ser vistos na História do Direito Romano até mesmo como itens de degradação ou exaltação de um indivíduo em julgamento.
Fides: cumprimento de um juramento, compromete ambas as partes na observância de um pacto (qualidade imprescindível do bom romano);
Pietas (item do Mores Maiorum que justificava o poder do pater familias): sentimento de obrigação para aqueles a quem o homem está ligado pelo sangue, pela política, através do dever para com os deuses, a pátria e família;
Gravitas (uma das qualidades mais importantes na defesa de um indivíduo perante o tribunal): homem sério, compenetrado;
Dignitas – dignidade e exercício de cargos públicos;
Honor – reconhecimento público de mérito; 
Glória – só é possível aos homens de bem.
 2) Leis e plebiscitos
Lex: sentido mais amplo que o moderno;
Lex Rogatae: propostas pelos magistrados, votadas pelos cidadãos romanos (populus romanus) reunidos em Comícios, entravam em vigor após a aprovação do senado – caso a aprovação fosse feita por plebeus nos Plebiscitos as leis eram válidas, a princípio, somente para eles (após 286 a.C. passou a valer para a sociedade como um todo).
Lex Data: proveniente do senado ou de algum magistrado;
	3) Editos e magistrados
Pretores: cargo na República diretamente responsável pela justiça. 
Estes, ao iniciar seu mandato, publicavam os Edicta para tornar pública a maneira pela qual administrariam a justiça durante seu ano.
Edito: transcrito a tinta em tábuas pintadas de branco, com letras pretas e cabeçalhos vermelhos e afixado no fórum, onde pudesse facilmente ser lido;
Com os Editos, os Pretores acabavam criando novas normas e estas acabavam por estratificar-se, visto que os Pretores que entravam utilizavam-se largamente das experiências bem-sucedidas dos Editos dos Pretores anteriores. 
Edictum Tralacium – normas estratificadas;
Edictum Repentinum – continham inovações propostas pelo Pretor;
Resultado dessas experiências: um corpo estratificado de regras, aceitas e copiadas pelos pretores que se sucediam, e que, finalmente, por volta de 130 a.C., foram codificadas pelo Jurista Sálvio Juliano, por ordem do Imperador Adriano.
4) Jurisconsultos: 
Princípio da História romana – somente sacerdotes conheciam as normas jurídicas e as interpretavam;
Fim do século IV a.C. surgem peritos leigos: jurisconsultos;
Principalmente no período clássico do Direito Romano, foram personagens da mais profunda importância para o desenvolvimento do Direito. 
Principal característica e qualidade: o estudo profundo e sistemático e, consequentemente, o respeito advindo dessa sabedoria – “aristocracia intelectual”/ conhecimentos técnicos.
Atividade dos jurisconsultos (Prudentes):
Agere: indicar as formas dos atos processuais aos magistrados e às partes (eles não atuavam em juízo);
Cavere: auxiliavam na elaboração e escrita de instrumentos jurídicos, que, em vista do formalismo exigido, necessitava de particular competência;
Respondere: consistia em emitir pareceres jurídicos sobre questões a pedido de particulares e magistrados;
Até o fim da República: a atividade dos Jurisconsultos não era utilizada como fonte do direito, tinha apenas valor para o caso específico apresentado a ele;
A partir do século I a.C., com Augusto, seus pareceres passaram a ter força de lei - os Jurisconsultos passaram a responder ex autoritate principis, ou seja,com a mesma autoridade do Príncipe.“Jurisprudência é o conhecimento das instituições divinas e humanas, a ciência do justo e do injusto.” 
Este não era um meio objetivo de enriquecimento, pois a atividade de Jurisconsulto era exercida gratuitamente, em nome da fama, da vaidade e do destaque social.
5) Senatus – Consultos 
Durante a República o senado não legislava, influenciava o direito apenas indiretamente e aconselhava os magistrados para seguir prescrições na administração da justiça;
Deliberações do senado mediante propostas dos magistrados – estas passam a ser fonte de lei após o principado (séc. I a.C.);
Império: centralização do poder nas mãos do Imperador – senatus-consultos são um formalismo desejado pelo Imperador para o caso deste desejar fazer valer uma decisão impopular e livrar-se do ônus político.
6) Constituições imperiais
A partir do séc. II d.C. as decisões dos Imperadores passam a ser fontes de Direito;
Maior poder centralizado na mão do Imperador – passa a substituir as outras fontes de Direito – única fonte;
Providências legislativas do Imperador: constituitiones.
Edicta: deliberações de ordem geral. Tem duração indefinida;
Mandata: instruções dadas pelo imperador aos funcionários imperiais e governantes das províncias. Caráter administrativo;
Decreta: decisões do Imperador proferidas em um processo no exercício do supremo poder jurisdicional que este possuía (jurisdicto). O princeps decidia em primeira instância ou em grau de apelação. Os decretos eram aplicados e estendidos pelos juristas em casos semelhantes;
Rescripta: respostas solicitadas ao Imperador a respeito de casos jurídicos a ele submetidos pelos magistrados ou por particulares.
	“O que agrada ao príncipe tem a força da lei”.
 	Divisão do Direito Romano
Ius Civile: direito próprio do cidadão romano, exclusivo deste;
Ius Gentium: direito universal, todos os homens livres – estrangeiros/ “Direito Natural”;
 1) Divisão baseada na origem
Ius Civile: Direito tradicional – costumes/leis/plebiscitos/senatus consultos/Constituições Imperiais;
Ius Honorarium: direito elaborado pelos pretores;
Ius Extraordinarium: derivado da atividade jurisdicional do Imperador. Tomando consciência de controvérsias elaboram um conjunto de normas.
2) Divisão baseada na aplicabilidade
Ius Cogens: Regra absoluta. Não depende das partes interessadas;
Ius Dispositivum: admitia a expressão da vontade dos particulares, regras poderiam ser modificadas, deixadas de lado de acordo com o desejo das partes;
3) Divisão baseada no sujeito
Ius Commune: regras aplicadas a casos normais;
Ius Singulare: regras que valem somente para uma categoria de pessoas/grupos/situações. Ex.: usucapião de coisas furtadas.
	Capacidade Jurídica de Gozo
Aptidão do indivíduo para ser sujeito de direitos e obrigações;
Precondições para que o homem tivesse capacidade jurídica de gozo: Liberdade (status libertatis); cidadania romana (status civitatis); independência do pátrio poder de alguém (status familiae);
 1) Status Libertatis
Escravos não tinham liberdade!
Poderiam nascer ou tornar-se (guerra, disposições penais, não-pagamento de uma dívida) escravos. Ex. de crime: Fugir da obrigação do censo;
Nascia escravo o filho da escrava.
Direito clássico: mãe fosse escrava na ocasião do parto;
Pós-clássico: filho livre caso a mãe houvesse sido livre em qualquer momento da gestação;
Escravos eram coisa (res), estando sujeitos ao poder do seu senhor (dominica protestas);
Não poderia contrair matrimônio legítimo, todos os seus bens pertenciam ao senhor. Costume entre os romanos: permitir que os escravos possuíssem alguns bens (desenvolver comércio, serviço);
Libertação de escravos:
Três formas jurídicas: censu (era inscrito no registro censitário do censor); vindicta (processo judicial no qual se discutia a liberdade); testamento (libertado em testamento);
Pretor: Manumissio inter amicos (feita perante testemunhas); Per mesa (fazendo-se sentar o escravo à mesa); Per epistulam (por escrito); Per Pileum (colocando o chapéu na cabeça do escravo);
Escravo liberto: não tinha os mesmos direitos das pessoas que nunca haviam sido escravizadas (ingênuos); Direitos políticos limitados, dependência no campo privado do ex-dono;
2) Status Civitatis
Cidadania romana – condição para a capacidade jurídica plena;
Não-cidadãos e estrangeiros poderiam ter propriedade/testamento de acordo com sua cidade de origem; 
Cidadãos: que nascia de casamento válido pelo ius civile/ mãe de família cidadã;
Se tornar cidadãos: povos/ indivíduos que recebessem a cidadania por lei ou por vontade do imperador;
Cidadania perdida: Capitis Deminutio (diminuição da perda de direitos de cidadão).
	3) Status Familiae
Em Roma era de suma importância a situação do sujeito perante a família, pois esta posição definia sua capacidade de direito;
Completa capacidade jurídica de gozo: independência do pátrio poder. 
Sui iuris: totalmente independentes;
Alieni iuris: sujeitos ao poder de um pater familias.
Independência: Um recém-nascido sem ascendente masculino era independente do pátrio poder. Um ancião, com o pai ainda vivo e que nunca tivesse sido emancipado, era alien iuris.
Alien iuris: não eram totalmente incapazes juridicamente. Direitos públicos: plena capacidade. Votar e ser votado para magistraturas, participar do exército. Direitos privados: casamento (ius conubii) com o consentimento do pater familias.
Patrimônio: tudo o que o alien iuris adquiria era para o pater familias. 
Obrigações: o pater familias respondia apenas por alguns casos excepcionais.
Sair da condição alien iuris: perder o ascendente masculino direto ou emancipação. 
Um indivíduo sui iuris poderia se tornar alien iuris por adoção.
	Causas restritivas da capacidade jurídica de gozo:
Capitis Deminutio Maxima: perda total da cidadania e de todos os direitos. Ex.: escravidão;
Capitis Deminutio Media: sujeito era desterrado/sem-pátria/ peregrinus.
Capitis Deminutio Minima: mudança de status familiar por adoção ou ad-rogação.
Mulheres: não possuíam plena capacidade. Não tinham direitos públicos. Direitos privados limitados.
	Direito de Família
Família - dois sentidos:
Agnatio – parentesco estritamente jurídico. Civil.
Cognatio – ascendência comum.
	Pátrio poder
Poder absoluto. De vida e de morte sobre todos sob sua chefia.
Patria protestas – sobre os filhos;
Manus – sobre a esposa;
Dominica protestas – escravos;
Mancipium – pessoas livres alien iuris que passaram de um pater famílias para outro – venda.
Principal fonte do pátrio poder: nascimento de um filho legítimo. Reconhecimento da criança dependia do pai. Adoção. Filhos fora do casamento e não-reconhecidos não estavam sob o pátrio poder;
Extinção do pátrio poder: morte do pater familias; morte alien iuris; perda da cidadania ou liberdade do pater familias; adoção por outro do alien iuris; emancipação do filho alien iuris; casamento cum manu da filha.
	Casamento
Iustae Nuptiae ou Iustum Matrimonium eram termos usados para definir o casamento legítimo, juridicamente reconhecido pelo ius civile. Para que o casamento fosse legítimo, era necessário o conúbio:
	
	“Conúbio é a faculdade de casar-se legalmente. Os cidadãos romanos têm conúbio com os cidadãos romanos, com os latinos e os estrangeiros, quando lhes foi permitido. Não há conúbio entre escravos”
Duas espécies de casamento:
	1) Cum manu: a mulher saía da dependência do seu próprio pater familias para entrar na dependência do marido e do pater familias da família do marido.
3 formas de a manus ser estabelecida: a confarreatio (formalidade de cunho religioso); coemptio (venda formal da noiva ao noivo pelo pater familias desta) e o usus (baseado no princípio de poder absoluto por posse prolongada/mais de um ano).
 Sine manu: Não oferecia a possibilidade de sujeição da mulher ao marido e esta podia continuar sob o poder de seu próprio pater familias. Lex Canuleia (445 a.C.) – casamento entre patrícios e plebeus.
O matrimônio era, antes de tudo, um ato “consensual”de contínua convivência.
	“Não é a cópula em si, mas o afeto marital que constitui o matrimônio”
	“Não se contrai matrimônio entre quem não deu consenso”
Noção de consentimento era bastante limitado para a mulher/moça:
	“A moça que não se opõe explicitamente à vontade do pai é considerada concorde. Só se permite que uma jovem tenha opinião diferente daquela que de seu pai quando este escolhe para seu noivo um homem indigno ou portador de alguma tara.
Idade: 
Rapazes a partir dos quatorze anos;
Moças a partir dos doze, mas o noivado poderia ocorrer antes dessa idade e não raramente, no caso das meninas, havia a consumação pela coabitação com o noivo, mesmo antes do casamento.
Justificativa: louvável autorizar os romanos a esposarem meninas de doze anos ou até menos, porque, assim a “noiva traz a maior pureza possível no corpo e no caráter” e, dessa maneira, as mulheres ficariam moldadas aos seus esposos.
Impedimentos:
Loucura, a consanguinidade, parentesco adotivo, diferença de “camadas sociais” (libertos e ingênuos ou qualquer um com uma mulher “infame”, por exemplo), condição de soldado em campanha, ser tutor e pupila, o fato de já ser casado(a).
Monogamia: relativa não era rara a presença de concubinas dentro de casa, e o adultério era somente mal visto e criminoso para a esposa.
	Divórcio:
Casamento nunca foi indissolúvel;
Início da História romana: divórcio somente podia ocorrer por vontade do marido, mesmo assim se ele convocasse o Tribunal Familiare, portanto, tivesse algo contra a esposa. Esta, por sua vez, somente descasava-se no caso de perda da cidadania do esposo; é importante notar que não era, nesse caso, divórcio, mas, sim, dissolução do casamento.
Justificativas dadas ao Tribunal Familiar eram cada vez mais tolas, e passou a ser possível o divórcio sem qualquer motivo. Casamento sine manu deu às mulheres a mesma possibilidade.
Sine manu- mais fácil. Podia ocorrer através do divortium comuni consensu (acordo entre as partes) ou por repudium, no (vontade unilateral).
	Dote
Conjunto de bens que a noiva traz para o marido para sustentar o ônus do matrimônio. Esses bens são dados ao marido para que este os administre e,conforme o Direito Romano evoluiu, quando da dissolução do casamento, este deveria ser devolvido.
Modos de constituição do dote:
Dotis datio (efetiva entrega de bens ao marido);
Dotis dictio (promessa de entrega);
Dotis promissio (consta de uma stipulatio, em virtude da qual o constituinte do dote se obriga a transferir os bens posteriormente, substituiu a dotis dictio). 
	Adoção
Corriqueira e bastante aceita pela sociedade; 
Considerada uma forma de imitar a natureza no tocante à procriação; 
“A adoção é um ato legal, que imita a natureza, com o qual podemos adotar filhos como seus”.
Duas formas: 
Adrogatio: adoção de um pater familias por outro (levando todos os seus dependentes e seu patrimônio)
Adoptio: adoção de um indivíduo sui iuris. 
Não havia limite de idade, mas exigia-se que o adotante fosse mais velho que o adotado. A adoção imita a natureza: seria monstruoso que o filho fosse mais velho que o pai.
Às mulheres era proibido adotar a não ser quando perdiam seus próprios filhos e obtinham permissão especial para isso.
	Tutela e Curatela
Finalidade: dar meios para que uma pessoa sem condições de fazê-lo sozinha possa ter os seus bens cuidados. 
Tutela existia pela incapacidade por idade ou sexo e visava proteger os interesses da família. 
Curatela visava cuidar de interesses patrimoniais em casos excepcionais de incapacidade como loucura, prodigalidade etc.
	Tutela
Podiam ficar sob tutela os impúberes e as mulheres sui iuris. O tutor podia ser um parente agnatício próximo (tutela legitima), ou ser nomeado por testamento (tutela testamentária) ou ainda ser nomeado pelo pretor (tutor dativus).
 Uma mulher não poderia ser tutora, a não ser em casos excepcionais:
	“As mulheres não podem se tornar tutoras porque essa é uma prerrogativa dos varões, a não ser que solicitem especialmente ao príncipe a tutela dos filhos”.
Exceto o tutor nomeado por testamento, os outros eram obrigados a aceitar o cargo a não ser que provassem idade avançada, ter vários filhos, exercer cargos públicos. Seu dever é explicitado de for ma simples e direta: O primeiro dever do tutor é não deixar o pupilo indefeso.
Incumbência do tutor: administrar o patrimônio do pupilo, de maneira correta, sempre visando ao interesse da pessoa sob tutela. 
Prejuízo ocasionado por ações do tutor: qualquer pessoa poderia denunciá-lo e, se condenado, seria penalizado.
Mulheres: administravam seus próprios bens. Tutor – assistente.
Impúberes: tutor administrava tudo.
	Curatela
Objetivo: proteção do patrimônio do indivíduo, cuja capacidade está deteriorada e não é impúbere ou mulher.
Cura furiosi: a curatela do indivíduo mentalmente prejudicado.
Cura prodigi: curatela dada ao indivíduo que, comprovadamente, esbanjava seus bens; dessa forma, o pródigo ficaria com sua capacidade de ação limitada, e seu patrimônio estaria defendido. 
Cura minorum: curatela solicitada por menores de 25 anos para abrandar as dúvidas daqueles que receavam contratar com eles por causa da pouca idade.
	Sucessão
Intimamente ligada a todas as questões que envolvem a família, sua perpetuação e seu patrimônio está a sucessão. 
A princípio, somente o sucessor do pater familias tinha direito, porém, com as mudanças estruturais na família/sociedade romana, essa questão tornou-se mais complexa.
Succedere in ius: transmissão de todos os direitos e obrigações do defunto a uma outra pessoa, seu sucessor;
Hereditas: processo dessa passagem e seu objeto (geralmente o patrimônio);
Heredis: herdeiro. 
Filhos: sucessores naturais. “Quase donos”.
Não se considerava que os filhos herdassem os bens, mas a plena administração dos mesmos. 
Eram filhos os nascidos em justas bodas e após a morte do pai, a título sucessório: o nascido dez meses após a morte não é admitido à legitima herança.
Eram herdeiros os filhos biológicos e adotados: quem é adotado se torna herdeiro dos mesmos de quem foi seu pai e terá a herança legítima deles (ou eles a dele).
	 Herança
O usufruto, a posse, o uso, algumas relações obrigacionais (como mandato, por exemplo) não eram considerados transmissíveis, bem como obrigações delituais, já que “o herdeiro não herda a pena”.
Os demais direitos e obrigações constituíam o patrimônio transmissível. Através de um balanço entre o que o defunto devia e o que tinha determinava-se a herança, que, obviamente, poderia ser somente dívida (damnosa hereditas). 
	Testamento
Documento no qual o testador indica seu sucessor ou seus sucessores. Até a morte do testador, este era revogável, “com o testamento posterior, que se faz legalmente, se anula o anterior”.
Para fazer um testamento era necessária a testamenti factio activa- capacidade jurídica para testar.
 Não tinham capacidade:
Alien iuris (por não terem patrimônio próprio);
Latini juniani (que morriam como escravos e seu patrimônio era automaticamente do patrono);
Intestabiles (que tiveram essa punição por negarem-se a depor como testemunhas);
Incapazes (como os loucos,os impúberes, os pródigos). 
Mulheres: início da História Romana não podiam testar, essa limitação desapareceu no Direito Clássico. 
Ser herdeiro. Principal condição: era ser cidadão romano livre e não ser intestabiles.
Dois tipos de testamento:
 Testamentum publicum: feito publicamente ou perante o comício – reunido para esse fim duas vezes por ano;
Testamentum privatum: o testador passava seu patrimônio a uma pessoa de sua confiança para que esta o transferisse à pessoa designada pelo testador; essa fórmula transformou-se e a pessoa de confiança passou a ser testemunha apenas (junto com outras seis, já que sete testemunhas era o número exigido para a validade de um testamento).
Testamento nulo: feito por um testador sem capacidade para tal ou aquele feito sem alguma formalidade exigidaou ainda quando o testador desrespeitava os direitos de seus descendentes.
Testamento ineficaz: quando o testador, após a feitura do testamento, perdia sua capacidade de testar, quando os herdeiros não aceitavam a herança ou quando o testamento fosse revogado. Para ser revogado, o testamento deveria estar danificado, perdido, destruído voluntariamente (pelo testador) ou quando o testador fizesse posteriormente outro.
	Posse e Propriedade
Posse: a coisa está sob o poder da pessoa, mas esta não tem poder jurídico total sobre ela.
Propriedade: o indivíduo tem poder jurídico (inclusive de compra, venda, aluguel).
Poderia se gerar propriedade de várias formas, inclusive através da posse. A tomada de posse de uma coisa que não estivesse sob o domínio de ninguém (animais selvagens, coisas abandonadas, bens de inimigos de Roma) geraria a propriedade; isso era chamado occupatio. Poderia se adquirir também a propriedade por transferência da mesma, por usucapião, por compra, por herança.
	Delitos
Início da História de Roma: não havia limites para a represália quando um indivíduo cometia um crime. 
Era de livre vontade do ofendido a vingança.
O crime era definido em uma só palavra: ‘noxae’. 
Noxa (todo tipo de delito) = prejuízo, dano, delito,crime.
Um indivíduo não poderia pagar pelo crime de outro.
Consideravam que o fato de uma pessoa calar não significava necessariamente uma confissão de culpa: Quem cala nem sempre confessa. Contudo, certo é que não nega.
Legítima defesa: “O que cada um fez para proteger o próprio corpo julga-se que haja feito com todo direito”.
Noção acentuada de justiça dos romanos: “Mais vale deixar impune o culpado que condenar o inocente”.
Com o fortalecimento do Estado foram estabelecidas condições para o exercício da vingança. Esta somente poderia ser efetuada se o criminoso fosse pego em flagrante. Foram instituídos limites da represália: baseadas no Princípio da Pena de Talião ou a uma compensação pecuniária.
	Causalidade
É o nexo subjetivo que liga o delito ao seu autor e manifesta-se de duas formas: dolo ou culpa. 
Essa graduação do delito, baseado na intenção, pode ser vista no Digesto, que indica:
	“O divino Adriano decidiu em um rescriptum que aquele que matou um homem, se não o fez com intenção de matar, pode ser absolvido. E aquele que não matou um homem, mas feriu, com intenção de matar, deve ser condenado como homicida; e segundo os casos deve ser determinado isto: se tomou a espada na mão e nele golpeou, incontestavelmente o fez com intenção de matar; mas se em uma rixa feriu com uma chave ou marmita, embora tenha golpeado com instrumento de ferro, não o fez, contudo, com a intenção de matar. Deduz-se que deve ser mitigada a pena daquele que, numa rixa, cometeu um homicídio mais por causalidade que por vontade”.
	Imputabilidade
É a aptidão do indivíduo para praticar atos com discernimento.
Impúberes: eram considerados, dependendo do caso, como sendo semi-imputáveis, porque, embora não lhes fossem atribuídas as penas mais severas, o ressarcimento era sempre exigido. No Digesto lemos: “Os impúberes não sejam torturados: costumam somente ser assustados e ser batidos com uma correia ou vara.” De qualquer maneira, a pena de morte nunca era aplicada a uma criança.
Mentalmente incapacitados: 2 categorias.
Furiosis: doentes agitados, mas com intervalos de lucidez. Imputabilidade (diferenciada) em casos de crimes violentos ou de roubo. Estes não eram, segundo acreditavam os romanos, capazes de crimes de inteligência como falsificações, por exemplo. Os furiosis, quando cometiam um delito, ou tinham a possibilidade de fazê-lo, eram acorrentados.
Demens: aqueles constantemente em privação do uso total de sua capacidade mental, totalmente débil e, portanto, sem exercer qualquer tipo de possibilidade de perigo para a sociedade. Não lhes era atribuída imputabilidade no caso de crime.
A ignorância da lei não gerava imputabilidade, mas a ignorância do fato, sim. 
Exemplo: uma mulher que se casasse novamente crendo que o marido anterior estivesse morto, e este não estivesse não poderia ser acusada de adultério.
	Extinção da Punibilidade
A pena era extinta se o culpado cumprisse a pena;
Se obtivesse o perdão;
Se recebesse a abotio que consistia em extinguir temporariamente a ação penal em curso por ocasião de alguma solenidade (a ação poderia ser retomada após findo o prazo);
Se o crime prescrevesse (para o homicídio não havia prescrição);
Por morte do que cometeu o delito.
	Codelinquência
Os romanos previam a colaboração para cometer crimes e a punia da mesma forma que era punido o que cometeu o delito.
	Retroatividade da Lei Penal
O que hoje é inconcebível, para os romanos não o era. Era comum que crimes pudessem receber pena, mesmo que a lei fosse posterior ao ato.
	Alguns Delitos
Havia distinção entre delitos públicos – como traição (perduellio), homicídio (parricidium) e incêndio – e delitos privados que eram o furto, o roubo, o dano injustamente causado, a injúria, o dolo, a coação, o quase delictus.
Furto: entendido como apropriação da coisa alheia sem uso de violência. No início do Direito Romano, tinha como pena a possibilidade de o ladrão, pego em flagrante, ser punido fisicamente (ser morto ou reduzido à condição de escravo). Mais tarde, o furto passou a gerar direito de o ofendido exigir uma multa pecuniária que poderia ser o dobro, o triplo ou o quádruplo do valor da coisa furtada.
Roubo: definição do jurisconsulto Paulo “Ladrão é aquele que se apropria dolosamente da coisa alheia”. Para a pena seguia-se a mesma tendência de cobrar do ladrão, a título de pena, uma multa cujo montante poderia ser até o quádruplo do valor da coisa roubada.
Dano: quando causado injustamente, era cobrado do indivíduo que cometeu o delito que esse reparasse o que causou. No cálculo do valor do dano, no período clássico, ao invés de um valor objetivo, calculava-se o dano efetivo material (damnum emergens) e a perda do lucro advinda do dano (lucrus cessans).
Injúria: “Consideramos injúria o prejuízo causado por culpa, ainda que não houvesse intenção de prejudicar”. No período clássico, por meio de uma ação chamada actio iniuriarum, o ofendido poderia pedir indenização pela ofensa sofrida.
Dolo: o pretor Aquilio Galo introduziu essa inovação no Direito Romano. Todo comportamento desonesto com a finalidade de induzir um indivíduo ao erro. A parte lesada poderia entrar com uma actio dolo contra o ofensor para obter ressarcimento do dano sofrido. O dolo era considerado um delito bastante grave.
Coação: ato de um indivíduo compelir outro a práticas de atos jurídicos mediante violência. Pode ser física ou moral. O ofendido teria, como ação penal, uma actio quod metus causa contra o autor da violência.
Quase – Delictus: quase delito, ou como um delito que foi ocasionado de forma culposa, ou seja, sem intenção, mas que poderia ter sido evitado. Eram agrupados emeffusum et deiectum (atirar objetos de um edifício sobre a via pública), positum et suspensum (colocar objeto pendurado em um edifício com a possibilidade de cair e causar dano), exercitor navisaut caupónae et stabuli (responsabilidade de proprietários de navios, hospedarias e estábulos em relação às coisas dos clientes) e si iudex litem suam fecerit (se o juiz julgou mal o processo).
	O Estudo do Direito e os Advogados em Roma
Educação em Roma: antes das influências dos povos conquistados, todo o ensino era basicamente per exemplo, ou seja, o indivíduo era educado seguindo o exemplo de seu pai, ou de um tutor por ele indicado. 
Método do ensino do Direito: a princípio era essencialmente prático. Respondere audire: os jovens assistiam às consultas que o mestre dava a seus clientes e às minuciosas explicações que este lhes administravam sobre cada caso.
Com o passar do tempo (I a.C.)o ensino prático do Direito passou a ser complementado por um ensino sistematizado. Segundo Marrou
	“[Utilizando] todos os recursos da lógica grega, o Direito Romanose esforça, desde então, por se apresentar aos iniciantes sob a forma de um corpo de doutrina, de um sistema constituído por um conjunto de princípios, de divisões e classificações apoiadas sobre uma terminologia e em definições precisas.”
Jurisconsultos: quanto mais cresceram a influência e o poder destes, mais o estudo do Direito adquiriu maior importância e maior atenção da sociedade e do Estado.
Os escritórios dos Jurisconsultos eram lugares de consultas jurídicas e escolas públicas de Direito. 
Não se pode confundir o iurisconsultus e o orator. Ambos eram advogados, mas um era especialista no Direito e a ele cabia estudar o aspecto jurídico das controvérsias, e o outro era o que estava em juízo lutando pelo seu cliente. Ser advogado em Roma era quase uma tendência natural - imenso apreço pela oratória, que consideravam como arte e como algo a ser cultivado e admirado.
Esse casamento entre a advocacia, seu exercício e a política eram bastante intensos na Roma Republicana, visto que a Lex Cincia de 304 a.C. proibia o recebimento de honorários (ao menos oficialmente); o apoio eleitoral advindo através de uma boa carreira no fórum era uma excelente recompensa. 
Com o Império, a carreira política perdeu sua importância e logo em seu início o Imperador Cláudio (séc. I d.C.) permitiu os honorários advocatícios, mas dentro de limites pecuniários. Somente após Cláudio, podemos considerar a advocacia em Roma como uma profissão.

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