Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Professor Dr. Tiago Valenciano Professor Me. Gilson Costa de Aguiar GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; VALENCIANO, Tiago; AGUIAR, Gilson Costa de. Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação. Tiago Valenciano; Gilson Costa de Aguiar. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 176 p. “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos. 2. Sociológicos. 3. Antropológicos. 4. EaD. I. Tí- tulo. ISBN 978-85-8084-545-7 CDD - 22 ed. 306 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Executiva de Ensino Janes Fidelis Tomelin Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Minco� Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Supervisão do Núcleo de Prod. de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Designer Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Iconografia Isabela Soares Silva Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa André Morais de Freitas Editoração Kleber Ribeiro da Silva Qualidade Textual Juliana Basichetti Martins Cintia Prezoto Ferreira Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO RE S Professor Dr. Tiago Valenciano Doutorado em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (2016). Mestrado em Ciências Sociais pela mesma instituição (2011). Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (2008). Atua como professor universitário e é empresário. Possui livros publicados sobre política local e nacional. Link: <http://lattes.cnpq.br/1936893341910908>. Professor Me. Gilson Costa de Aguiar Mestrado em História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999). Graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá (1991). Atualmente é professor titular do Centro Universitário de Maringá e do Ensino a Distância da UniCesumar. Atua nas áreas de Teoria das Ciências Sociais, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação e História da Educação. Possui livros publicados nas Áreas de Sociologia, Antropologia, Filosofia e História da Educação. Atua como jornalista na rede CBN de rádio. É âncora e colunista na CBN Maringá e Gazeta Maringá. Link: <http://lattes.cnpq.br/3020130108890878>. SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), este livro didático da disciplina “Fundamentos Sociológicos e Antropo- lógicos da Educação” tem por objetivo geral fornecer subsídios para responder à seguin- te questão: qual é o papel e a importância de estudarmos a Sociologia e Antropologia em um curso de licenciatura. Tal pergunta surge como uma espécie de guia que irá balizar os temas e conteúdos aqui apresentados. Mais do que fazer uma defesa da relevância desses conhecimentos, o li- vro pretende aguçar a sua consciência crítica, dialogando com questões fundamentais para a compreensão do convívio do homem em sociedade e na sociedade, além das interfaces assumidas pelo sujeito em relação à cultura e ao comportamento em nosso meio social. Imagine que em uma rua, ao ser visualizada pela televisão, existem várias pessoas cami- nhando. Ao observarmos atentamente, cada uma tem uma expressão facial diferente: algumas estão serenas, outras preocupadas, outras sorrindo. Os pensamentos também são os mais diversos: o retorno do trabalho para casa, a ida até a universidade, o cuidado com os filhos quando chegar em casa e o encontro marcado com seu amor.Observe que os indivíduos possuem suas particularidades e peculiaridades. Quando essas características individuais são confrontadas com ideias distintas (que não são as nossas), normalmente há um embate de argumentos. É assim que começa a disputa pelas posições sociais existentes em nossa sociedade. Neste exercício de visualização das disputas em sociedade, é possível refletir como cada indivíduo possui um papel diferente, uma importância distinta em nossa sociedade. De- ve-se atentar também para o fato de que esse universo social exige que esses papéis sejam cumpridos. Dessa forma, na falta daquele que exerce determinada função social, esta ficará desprovida. Além das disputas individuais em sociedade, os embates pela aceitação da sociedade de cada indivíduo também é intensa. A partir dessa “disputa” entre a visão do homem e seu comportamento em sociedade é que surgiram duas áreas de conhecimento que serão exploradas neste livro: a Sociologia e a Antropologia. Como pano de fundo — e com importância relevante —, a educação é o primeiro ce- nário em que aprimoramos nosso convívio social, aprendendo cotidianamente como dividir os espaços, respeitar os direitos e constituir nosso papel de cidadania. Na escola, desde os anos iniciais, compreendemos a importância e os entraves da vida em socieda- de, conhecendo, às vezes a duras penas, que nossas vontades nem sempre serão aceitas. Por outro lado, a gratificante construção de um trabalho em grupo nos faz crer que a vida em/na sociedade ainda é a melhor saída para somar nossos esforços, subtrair as dificuldades, dividir os problemas e multiplicar o sucesso do trabalho em grupo. Neste panorama, a Unidade I abordará o processo histórico de formação da Sociologia enquanto disciplina, sendo as revoluções Industrial e Francesa as principais alterações so- ciais que contribuíram para a reflexão sobre a necessidade dessa área de conhecimento. APRESENTAÇÃO FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Faremos, ainda, um exercício similar com a Antropologia, demonstrando como a análise do homem e da sua relação cultural constitui os aspectos de nossa socieda- de. Por fim, faremos uma breve defesa desses saberes na formação docente. As Unidades II e III contemplarão uma viagem pela Sociologia e sua história. Os cha- mados “autores clássicos” terão suas ideias apresentadas e analisadas, como Augus- te Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. O balanço dessa miscelânea de propostas é a viagem pela Sociologia, passando pela barreira da modernidade e atingindo a pós-modernidade. Na Unidade IV, vamos discutir se os clássicos da Sociologia ainda têm peso na atu- alidade, além de abordar um interessante autor, que é quase uma unanimidade na pauta dos assuntos da Sociologia e da Educação: Pierre Bourdieu. Ainda nesta uni- dade, articularemos os conhecimentos apresentados até então, com o objetivo de responder à seguinte questão: qual é a relação, afinal, entre a Sociologia, a Antropo- logia e a Educação? Nossa ênfase partirá do diálogo entre o homem, a sociedade, a ciência e a educação, analisando como essas áreas conversam e compartilham o conhecimento. Por fim, a Unidade V tratará da importância da crítica no universo do conhecimento, que perpassa, sob nosso olhar, a intervenção causada pela globalização e pela mo- dernidade no novo estilo de “fazer educação”, isto é, das novas formas de transmitir o conhecimento e formar o senso crítico do cidadão. Essa crítica é papel fundamen- tal da Sociologia e da Antropologia, que auxiliam no conhecimento de nossa socie- dade e das interações sociais estabelecidas, o que poderá determinar a presença do homem em/na sociedade da maneira que visualizamos na atualidade. Essa viagem tem como o objetivo abrir as portas para a inserção da Sociologia e da Antropologia aplicadas à Educação em sua vida acadêmica. Que este livro traga uma contribuição para sua formação e que desperte o interesse pelos temas relacio- nados. Ele foi feito para ser o início de uma jornada de pesquisa da análise da vida social (e não uma resposta definitiva). Esperamos que ele fomente a capacidade de aprimorar a crítica social, que está carente de novas perspectivas. Boa leitura! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE 15 Introdução 16 O Estudo das Ciências Sociais Enquanto Forma de Conhecimento Científico 24 O Ambiente para a Formação da Sociologia 31 O Espaço de Surgimento da Antropologia: O Que É Esta Ciência? 38 Considerações Finais 45 Referências 46 Gabarito UNIDADE II SOCIOLOGIA CLÁSSICA I 49 Introdução 50 A Sociedade, um “Objeto Estranho” 54 Auguste Comte 62 A Herança Positiva no Estruturalismo de Émilie Durkheim 74 Considerações Finais 80 Referências 81 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III SOCIOLOGIA CLÁSSICA II 85 Introdução 86 Karl Marx, O Materialismo Histórico Dialético 94 Weber e a Racionalidade Impura: Os Modelos Ideais de Ação 108 Considerações Finais 114 Referências 115 Gabarito UNIDADE IV DOS CLÁSSICOS EM DIANTE: COMO PENSAR A SOCIOLOGIA? 119 Introdução 120 Os Clássicos Ainda Importam? 125 A Sociologia de Pierre Bourdieu 133 Fundamentos Sociológicos da Educação 138 Considerações Finais 145 Referências 146 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA NA MODERNIDADE 149 Introdução 150 Sociedade na Contemporaneidade 157 A Educação na Atualidade 160 Um Breve Passeio Sociológico 163 Os Fundamentos Antropológicos da Educação 168 Considerações Finais 174 Referências 175 Gabarito 176 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Dr. Tiago Valenciano Professor Me. Gilson Costa de Aguiar SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer o processo de formação da sociedade atual e as condições nas quais ela se desenvolveu. ■ Estudar e analisar o processo histórico de constituição da Sociologia e da Antropologia enquanto saberes científicos. ■ Sinalizar a importância da Sociologia e da Antropologia na formação docente. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O estudo das ciências sociais enquanto forma de conhecimento científico ■ O ambiente para a formação da Sociologia ■ O espaço de surgimento da Antropologia: o que é essa ciência? INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar sobre a quantidade de pessoas que vivem em sua cidade? Já refletiu, ainda, sobre a diferença de ideias, estilo de vida e preferências que cada uma tem? Já analisou que essas pessoas estão permanen- temente pensando em algum assunto? Essas e outras perguntas serão debatidas nesta unidade, que tem como objetivo demonstrar e analisar o processo de for- mação de nossa sociedade atual a partir de uma visão muito particular: a das Ciências Sociais. O enfoque partirá da importância de estudarmos a Sociologia e a Antropologia enquanto saberes científicos, isto é, enquanto áreas de conhecimento relevan- tes para o processo de formação e aprimoramento de cada carreira acadêmica. Veja: não pretendemos fazer uma simples defesa do conteúdo dessas áreas, mas dialogar com os demais campos do conhecimento, ressaltando a necessidade de nos conhecer primeiramente para, posteriormente, analisar a realidade do outro. Nosso itinerário inicia na constituição das Ciências Sociais enquanto forma de conhecimento científico, ou seja, como essa área é subdividida e o que ela pretende estudar. Em seguida, vamos demonstrar o ambiente que propiciou o surgimento da Sociologia, a partir das transformações sociais que ocorreram na Europa no Século XIX. Por fim, o terceiro aspecto analisa o nascimentoe a rele- vância da Antropologia no universo acadêmico, sobretudo em uma disciplina em que o(a) futuro(a) docente irá lidar diariamente com a humanidade. Assim, nosso caminho inicia na Sociologia e na Antropologia, demonstrando o papel de cada uma na abordagem acadêmica. Portanto, pretende-se, nesta unidade, apresentar um panorama das Ciências Sociais e da formação da atual civilização ocidental, apontando soluções para a resposta da “grande” questão que envolve esses conhecimentos: afinal, o que foi, o que é e o que poderia ser nossa sociedade? Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 O ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ENQUANTO FORMA DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO Se utilizarmos a tática de separar o nome “Ciências Sociais”, teremos um paradoxo na construção desse conceito. A ciência é uma forma de organizar sistemati- camente o conhecimento adquirido, ou seja, de dispor algo que aprendemos ordenadamente para que esse “novo” conhecimento possa ser facilmente enten- dido. É também uma forma de pensar e agir, isto é, algo que pensamos e fazemos de determinada maneira. Essa forma de analisar o que é a ciência também nos faz compreender o que ela aponta. Em geral, a palavra “ciência” tem relação com a pesquisa e com a descoberta de novos conhecimentos, que serão posteriormente utilizados em O Estudo das Ciências Sociais Enquanto Forma de Conhecimento Científico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 nosso cotidiano. Qual é, porém, a necessidade de haver uma Ciência Social, um conhecimento da sociedade e sobre ela? É justamente neste ponto que o para- doxo citado acontece. A sociedade é um grande corpo em movimento. Tal qual uma máquina em que cada peça é responsável por efetuar determinada função, ela possui seus vícios e virtudes, suas vantagens e desvantagens, que estão presentes invariavelmente em qualquer uma das áreas. Se, por um lado, uma área pode ser muito especia- lizada em fabricar produtos de madeira, a outra pode ser primaz na elaboração de material em plástico. Observe que as especialidades fazem com que a socie- dade seja formada e moldada de acordo com o interesse de cada ser que a integra. Nota-se, ainda, que a sociedade é dinâmica, que se inventa e reinventa a cada novo produto, nova moda, nova forma de aprendizado e de trabalho ou, ainda, a cada novo século. Por esse caráter — de permanente mudança social constru- ída diariamente — é que o paradoxo se estabelece: ao passo que a ciência é fixa, com sua metodologia bem delimitada e que busca um “padrão” de comporta- mento e atitude para que se obtenha um resultado, a sociedade se move, sendo construída diariamente por todos nós. Portanto, fica o questionamento: como se podem tirar leis gerais a partir do conhecimento científico para a compreen- são da sociedade? Esse é o desafio das Ciências Sociais desde sua gênese: explicar, a partir de mecanismos científicos, o comportamento da sociedade, que se move constan- temente em busca de uma realidade diferente daquela que nós vivenciamos. Talvez por esse estilo peculiar é que o conteúdo aprendido seja tão abstrato e tão difícil de ser medido e tocado. Nosso esforço está em demonstrar como as ciên- cias sociais se tornaram um importante e necessário instrumento para a análise deste “mundo de maluco” em que vivemos, que clama a cada nova descoberta por uma análise apurada de nossa realidade social. Costumamos argumentar que as Ciências Sociais anseiam pelo conflito e pelo debate. De fato: sem os problemas entre as relações humanas seria muito difícil imaginar como o cientista social teria seu objeto de estudo, isto é, a socie- dade, caracterizada pelas disputas sociais existentes. Desta forma, reafirmamos o ponto de largada da trajetória de formação dessa área: o conflito entre os seres humanos. Não tratamos aqui das brigas entre vizinhos e familiares ou as que SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 acontecem em um jogo de futebol, mas sim as disputas quase invisíveis na socie- dade, que o cientista social tornará objeto de seu estudo. Isto é, os espaços de disputa política em que um grupo debate contra outro(s); a afirmação de prá- ticas culturais e os conflitos ocasionados por essas políticas afirmativas com as demais culturas existentes; a dinâmica competitiva do mercado de trabalho e, por fim, as próprias relações sociais, palco de todos os primeiros conflitos. Observe que “conflito” é a palavra-chave para compreender as Ciências Sociais. Quais são, porém, as origens dessa área de conhecimento? Qual a rele- vância de estudarmos esse tipo de conteúdo no Ensino Superior? Além disso, será que as Ciências Sociais irão colaborar com a formação acadêmica? São essas as perguntas que pretendemos responder neste tópico. Nossa jornada inicia na Grécia Antiga em 500 a.C., quando a sociedade se diferenciava das demais por um motivo: foi a primeira vez que se tentou orga- nizar uma corrente de pensamento sobre a vida humana em sociedade. Pelo desenvolvimento típico da Democracia e do contato com diferentes culturas, os gregos puderam não depender necessariamente da Igreja e do Estado — deten- tores do poder político, econômico e ideológico daquele período — para pensar sobre a natureza dos homens e da sociedade. Prova desse argumento são as ideias de Platão e Aristóteles sobre a melhor forma de organizar a política em sociedade, que ganharam força e vigor na Grécia Antiga e até hoje balizam discussões sobre a política. Cada qual à sua maneira, ambos proporcionaram o pioneirismo da Grécia, que recebeu o título distintivo de “berço da civilização ocidental”, pela forma “evoluída” que sua população se comportava. Apesar dos avanços proporcionados pelos gregos, a primeira universidade só surgiu no século XII, com a consolidação dos intelectuais no mundo acadêmico após a ruptura do comando da Igreja sobre a educação. Neste hiato, as produ- ções isoladas refletiam o comando da Igreja sobre a condição individual e social de pesquisa, o que não contribuiu para o progresso das Ciências Humanas. A instituição das universidades delimitou, de alguma forma, uma separação entre o mundo “exterior” (a sociedade em si) e o mundo “interior” (as instituições de ensino), o que levava novamente à reflexão sobre a importância da discussão da vida em sociedade. O Estudo das Ciências Sociais Enquanto Forma de Conhecimento Científico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Collins (2009) ratifica a relevância do surgimento das universidades para as pesquisas sobre as humanidades: Com o surgimento das universidades e especialmente em virtude da criatividade da faculdade filosófica, os intelectuais ganharam seu pró- prio “lar” e conquistaram maior clareza acerca de seus próprios propó- sitos. A história do pensamento humano a partir de então oscilou entre uma interação entre a comunidade intelectual e o mundo exterior e um isolamento das universidades em relação a questões práticas e ortodo- xias ideológicas, bem como entre as formas como essas questões pene- travam nesse ambiente, oferecendo aosintelectuais novas demandas e novos problemas (COLLINS, 2009, p. 19). Observamos que, apesar das universidades terem surgido como espaço para a transmissão do conhecimento, precisavam dialogar mais com a comunidade, uma crítica que permanece até os dias de hoje. O papel, portanto, das Ciências Sociais neste contexto é estabelecer a conexão entre o acadêmico e o popular, entre a erudição do conhecimento e a praticidade das pessoas, entre a teoria e a prática. Somente após o Renascimento é que as Ciências Sociais começaram a assu- mir seu espaço de atuação. Contudo, convém ressaltar que o período conhecido como Renascença (que ocorreu entre o fim do século XIV e início do XVII) teve grande relevância para compreender o campo de trabalho de um cientista social. Tal argumento se baseia nas transformações econômicas, políticas e sociais do período, com fenômenos que alteraram as estruturas da sociedade desde então. Além da valorização de elementos da Antiguidade Clássica (por isso o nome “Renascimento”), citamos a transição do modo de produção feudal para o capi- talista como chave para o entendimento das cisões ocasionadas pelo turbilhão de transformações sociais. A ruptura cultural ocasionada a partir do Renascimento e do fim da sociedade medieval na Europa oportunizou que o homem (pautado pelo antropocentrismo) passasse a figurar como centro das preocupações de pesquisas acadêmicas, dis- cussões filosóficas e da sociedade em si. O foco direcionado para o homem enquanto “centro do universo” abriu espaço para o protagonismo das Ciências Sociais, que são basicamente um produto das transformações ocorridas no perí- odo entre e a Revolução Industrial e a Revolução Francesa (principalmente após esses períodos), conforme trataremos a seguir. SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 É nesse cenário que as Ciências Sociais começaram a ganhar forma no campo de conhecimento das humanidades. A primeira a ganhar autonomia de atuação para a reprodução e produção do saber foi a Antropologia. A partir das desco- bertas de sociedades tribais na América, na África e no Pacífico com as grandes expedições marítimas, o homem europeu passou a conhecer realidades muito distintas das que já estava acostumado no velho continente. Com tais descobertas, a explicação medieval de que a sociedade europeia era uma “operação divina” deixou de imperar, surgindo, assim, diversas teorias para explicar a evolução da sociedade e do seu relacionamento com o outro. Um processo de estranhamento, isto é, de olhar o outro de forma diferente para conhecer melhor a si mesmo, obteve sucesso na relação da Antropologia com as demais ciências. Paralelo a isso, a Antropologia dialogou com a Medicina, bus- cando explicações biológicas para a existência de um outro não europeu. Outra vertente de atuação da Antropologia é a chamada Antropologia Cultural ou Histórica, que tem por objetivo estudar os padrões de cultura de determi- nados grupos sociais ou de sociedades específicas, a fim de compreender como essas comunidades estão organizadas, quais são seus costumes, sua organiza- ção interna, seu relacionamento com outras sociedades, entre outros aspectos. Após essa divisão de áreas de atuação entre o antropólogo de campo (que trabalhava em conjunto com pesquisas na seara da Biologia e da Medicina) e o antropólogo histórico-cultural, a Antropologia passou a ter de forma evidente seu objeto de pesquisa, consolidado na segunda metade do século XIX: o homem e seu duplo relacionamento, com seu eu interior e com o mundo exterior, ou seja, a sociedade propriamente dita. Em segundo lugar, destacamos a Sociologia como ciência que se estabeleceu no campo das Ciências Sociais. Por seu caráter mais generalista, as raízes para seu estabelecimento são as mais diversas: inspirou-se na História, na Filosofia, na Política, na Economia, na Antropologia, na Psicologia, entre outras. Abrangente em relação aos objetos de pesquisa, a Sociologia pode ser considerada como a mãe de todas as Ciências Sociais. Produto indireto das Revoluções Burguesas, a Sociologia tem como foco o estudo da sociedade e das diversas implicações que essa relação pode estabele- cer. Ela nasce “da constatação de que a ordem social moderna desorganizou as O Estudo das Ciências Sociais Enquanto Forma de Conhecimento Científico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 formas de convívio social, gerando problemas novos que reclamavam interpre- tações e soluções inovadoras” (SELL, 2012, p. 18). Em suma: a Sociologia está destinada a analisar as relações sociais e tentar fixar leis gerais do comporta- mento da sociedade. Como exposto, essa paradoxal tarefa motiva os sociólogos a continuar atuando na área, tentando decifrar uma encantadora personalidade: o homem atuando em sociedade, seja ativa ou passivamente. A preocupação em estabelecer a Sociologia como ciência foi um dos objeti- vos de Auguste Comte, considerado por alguns como o “pai da Sociologia”. Ele foi responsável por popularizar a expressão “Física Social”, que posteriormente seria conhecida como a Sociologia propriamente dita. A Física Social de Comte reflete, assim, dois conceitos distintos em união para um mesmo ambiente: a sociedade. Ao passo que a Física estuda o movimento dos corpos em sociedade, a Física Social nada mais é do que o estudo da dinâmica da ação das pessoas socialmente, as quais são influenciadas pela sociedade, ditando suas normas, as normas do trabalho e do seu campo próprio de atuação. Foi neste contexto que a Sociologia passou a intervir nas discussões políticas da sociedade. Daí nasce a terceira e mais recente das Ciências Sociais: a Ciência Política. Dialogando com a política permanentemente — e, por que não, prati- cando a política desde seu nascimento —, a Sociologia estabeleceu uma relação de proximidade com a política, até mesmo conversando com a Filosofia, que em sua origem se destinou a estudar os comportamentos políticos. A Ciência Política teve origem no final do Século XIX nos Estados Unidos e buscava se estabelecer, desde então, como uma ciência “autônoma”, isto é, uma área de atuação própria, sem ser confundida com a Filosofia, a Sociologia ou encarada como uma subárea do Direito, por exemplo. Por esse caráter recente e multifacetado, tem quebrado barreiras quanto ao pensamento político, na busca de estabelecer o seu principal objeto de pesquisa: as relações de poder. Além de estudar as relações de poder, a Ciência Política tem o desafio de explicar como o Estado é constituído, seja enquanto ente governamental ou como espaço em que os políticos irão expor suas ideias, conduzir os rumos de uma determinada população, enfim, fazer política. A última vertente de estudo da Ciência Política são os Sistemas Políticos, que têm por finalidade estruturar um Estado específico, além de incorporar as regras de disputas eleitorais, por SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 exemplo. Observamos, assim, que há um ingrediente específico para que haja um cientista político analisando algum fenômeno em geral: o poder e o local onde esse poder é aplicado, normalmente um Estado, um partido político ou um conjunto de forças políticas. As três áreas das Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política) tentam explicar, ora em conjunto, ora separado, a complexa sociedade em que vivemos. Cultura, relações sociais e relações de poder são as palavras-chaves que estruturam ogrande leque do aprendizado que essas áreas podem nos propor- cionar, variando de acordo com o interesse de cada pesquisador. Você se lembra de que, no início deste tópico, foi visto que a ciência busca um padrão de comportamento que a sociedade, às vezes, não pode oferecer por seu dinamismo próprio? Após nossos últimos apontamentos, esse paradoxo ficou mais fácil de ser enxergado. Isso porque as Ciências Sociais não são exatas, mas são múltiplas e dependem de diversos ingredientes para que haja um produto final, uma conclusão de determinado fenômeno social. É assim, caro(a) aluno(a), que as Ciências Sociais justificam sua presença neste livro sobre os fundamentos sociológicos e antropológicos da Educação: não é possível educar sem conhecer a diversidade de aspectos que formam a sociedade em que vivemos. É muito difícil educar e transmitir o conhecimento somente a partir da sua própria realidade, sem considerar que o processo de formação educacional está em constante movimento e em constante mudança. Quer uma prova desse argumento? Basta olharmos para a trajetória da edu- cação brasileira nos últimos anos. Saímos de uma educação rígida, em que as carteiras da sala de aula eram enfileiradas; em que os alunos, na maioria das vezes, não tinham a palavra durante as aulas; em que o professor era a auto- ridade absoluta e em que o giz e o apagador faziam sucesso. Hoje, a educação mudou. Os alunos aprendem, muitas vezes, em grupos, nos quais o diálogo e a troca de conhecimento vale muito mais do que diversas aulas. O professor, ao mesmo tempo que transmite o conhecimento, recebe-o dos alunos. Além disso, o ensino a distância se tornou uma realidade possível e praticável para quem não pode estar fisicamente presente em uma carteira escolar. O Estudo das Ciências Sociais Enquanto Forma de Conhecimento Científico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Note que a educação se transforma a partir das mudanças que a sociedade impõe. Da mesma forma, a sociedade impõe novos desafios à educação e está também em processo diário de aprimoramento, devendo aderir aos anseios das pessoas. Essa via firmada entre a sociedade e a educação jamais pode ser inter- rompida, uma vez que elas estão interligadas e são interdependentes entre si, o que justifica a necessidade das Ciências Sociais durante a formação educacio- nal no Ensino Superior. A trajetória percorrida até aqui procurou oportunizar a você, aluno(a), a possibilidade de conhecer e avaliar a importância das Ciências Sociais diante dos fundamentos da educação, analisando como e porque a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política são sua base principal. Dessas três áreas, vamos nos concentrar, neste livro, somente em duas: a Antropologia e a Sociologia, analisando a relevância de ambas para a educa- ção. Obviamente, as duas dialogam entre si quando o assunto é educação e suas bases, contribuindo para a formação do cidadão atuante, que irá compreender e transmitir os ensinamentos aqui adquiridos durante sua atuação profissional. Nosso próximo objetivo é avaliar, de forma pontual, o panorama em que a Antropologia e a Sociologia foram constituídas. A apresentação deste cenário é importante para verificarmos como e porque essas duas áreas importam para fundamentar as bases da educação. Vamos lá! SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 O AMBIENTE PARA A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA Em um curto período de tempo, a produção no modo de vida rural da Europa terminou, e as pessoas passaram a conviver na sociedade urbana. Nesse cenário, a tendência para o “caos” é grande, concorda? Se uma localidade tem capacidade de receber certo número de moradores, com a expansão sem planejamento ela tende a entrar em colapso. Foi isso que ocorreu com as transformações sociais derivadas do modo de produção capitalista na Europa. Com o desenvolvimento da indústria e a capacidade produtiva integrada a uma cadeia mundial de produção, há uma mudança nas condições de vida dos seres humanos. Essa mudança se fez sentir, primeiramente, na Europa, após a Revolução Industrial, e depois se propagou para diversas regiões do Planeta. A indústria sediada na Europa necessitou cada vez mais de matéria-prima vinda de diversas partes do mundo, assim como o mundo passou a consumir, em uma escala crescente, os produtos industriais. Nesta cadeia produtiva nas áreas industriais e nos centros econômicos, nesta fase do capitalismo, ocorre um O Ambiente para a Formação da Sociologia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 crescimento da população urbana. Uma realidade que trará impasses e incertezas no decorrer dos séculos XIX e XX. Isso levará um número crescente de pensa- dores sociais a buscar entender qual será o futuro da sociedade diante de uma concentração populacional nunca vista na história humana. A cidade se tornou um ambiente de tensão, que exigiu preocupação por parte dos cientistas europeus. Se a ciência foi um instrumento de dominação para a conquista de novos ter- ritórios, para a expansão do capitalismo ocidental fundado na empresa mercantil e, posteriormente, industrial, agora deveria atender à ordem social instituída na própria Europa. Entender as relações sociais constituídas no Ocidente se tornou uma prioridade. Buscar uma ação para sua transformação será o objeto de pre- ocupação das forças políticas e também dos cientistas. O crescimento urbano desse período pode ser medido pela vida em Londres, a primeira grande cidade industrial do mundo, no centro de uma economia que já foi por quatro séculos a maior do mundo, a inglesa. Londres praticamente tri- plicou a sua população entre os séculos XVIII e XIX. A massa populacional que passou a migrar para a cidade, com o chamado êxodo rural, fez crescer uma cidade desconexa e desordenada. Os operários se concentraram em torno das fábricas ou em cortiços. Sem vias planejadas, as cidades estavam com problemas de ocupação. As moradias eram mal ventiladas, muitas delas tinham apenas um cômodo, onde ficava toda família, faltava saneamento e todos estavam expostos a um ambiente úmido e insalubre que provocava doenças, como tifo, cólera, varíola e escarlatina. Essas epidemias passaram a preocupar o Estado. A busca de um saneamento básico levará, entre outras atitudes, a promover o zoneamento urbano e as políticas de saúde pública. A desigualdade de condições ficou expressa também na vida das classes mais abastadas, que tinham acesso aos benefícios dos produtos que a economia mun- dial permitia. A elite londrina, por exemplo, consumia produtos de luxo vindos das mais diversas partes e, também, aqueles que eram produzidos na indústria do seu país. As classes populares, em sua grande maioria formada de operários, não tinham acesso a esses bens. Outros problemas também surgiram com a formação dos núcleos urba- nos industriais, com a concentração populacional. O alcoolismo, o crescimento dos homicídios, os latrocínios e a prostituição são alguns deles. Até mesmo os SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 manicômios começaram a se propagar como uma alternativa para o tratamento de pessoas que demonstravam desequilíbrio de comportamento. Essas situações se justificam diante da condição de vida do operariado, que trabalhava em torno de 15 horaspor dia, sem descanso. Até mesmo crianças de 10 anos eram encon- tradas nas fábricas sujeitas às mesmas jornadas dos adultos. A massa humana que veio do campo, onde trabalhava subordinada ao regime feudal fundado na subsistência, agora se via em uma condição oposta. Inserido em um regime frenético de trabalho, que nada lembrava as relações no mundo rural, o operariado viu se desfazerem os vínculos sociais que foram a base de sua identificação. A economia capitalista fez emergir as relações centradas na racio- nalidade e na busca de orientar a convivência social pela produtividade. A vida passou a valer na proporção em que gerava a riqueza e na lógica de mercado. Dentro dessa lógica do mercado de trabalho, a quantidade de seres huma- nos disponíveis para trabalhar nas fábricas apresentava uma qualificação básica. A empresa capitalista estava, ainda, dando os seus primeiros passos nos sécu- los XVIII e XIX, estando longe de uma complexa rede de produção com setores específicos em um alto grau de qualificação como temos hoje. A sobrevivência passa a custar a sujeição a uma condição desumana de trabalho. As condições de trabalho da classe operária durante a Revolução Industrial e sua propagação pela Europa foi tema de análise de Eric Hobsbawm em sua obra Era das Revoluções. O historiador inglês estabelece uma relação direta entre a quantidade de mão de obra ofertada para a produção, o nível de qualificação e as condições de trabalho: Conseguir um número suficiente de trabalhadores era uma coisa; outra coisa era conseguir um número suficiente de trabalhadores com as ne- cessárias qualificações e habilidades. A experiência do século XX tem demonstrado que este problema é tão crucial e mais difícil de resolver do que o outro. Em primeiro lugar, todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, num ritmo regular de trabalho diário ininterrupto, o que é inteiramente diferen- te dos altos e baixos provocados pelas diferentes estações no trabalho agrícola ou da intermitência autocontrolada do artesão independente. A mão de obra tinha que aprender a responder aos incentivos monetá- rios. Os empregadores britânicos daquela época, como os sul-africanos de hoje em dia, constantemente reclamavam da “preguiça” do operário ou de sua tendência para trabalhar até que tivesse ganhado um salá- O Ambiente para a Formação da Sociologia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 rio tradicional de subsistência semanal, e então parar. A resposta foi encontrada numa draconiana disciplina da mão de obra (multas, um código de “senhor e escravo” que mobilizava as leis em favor do empre- gador etc.), mas acima de tudo, na prática, sempre que possível, de se pagar tão pouco ao operário que ele tivesse que trabalhar incansavel- mente durante toda a semana para obter uma renda mínima [...]. Nas fábricas onde a disciplina do operário era mais urgente, descobriu-se que era mais conveniente empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças: de todos os trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834-47, cerca de um quarto eram homens adultos, mais da metade eram mulheres e meninas, e o restante de rapazes abaixo dos 18 anos. Outra maneira comum de assegurar a disciplina da mão de obra, que refletia o processo fragmentário e em pequena escala da industrializa- ção nesta fase inicial, era o subcontrato ou a prática de fazer dos traba- lhadores qualificados os verdadeiros empregadores de auxiliares sem experiência (HOBSBAWM, 1982, p. 66-7). Em certa maneira, até nossos dias, a qualificação de mão de obra é um elemento determinante para a forma como se estabelece a relação de trabalho e sua remu- neração. Como Hobsbawm aponta, nos primeiros momentos da Revolução Industrial, essa condição já se apresentava. Ela se agravou com a massa de pes- soas disponíveis para serem utilizadas pela produção capitalista, mas o grau de qualificação se ampliou e se aprofundou. Com isso, a maioria dos seres huma- nos disponíveis hoje para o trabalho não não utilizados. Nos primeiros tempos da Revolução Industrial, os trabalhadores eram recém- -chegados da zona rural, tinham uma padronização de qualificação, mas eram utilizados em funções que exigiam um grau baixo de especialidade. As opera- ções de trabalho poderiam ser ensinadas sem dificuldade pelos empregadores, partindo de capacidades que os trabalhadores já tinham adquirido em sua vida rural. Como afirma Hobsbawm, os menos qualificados eram, muitas vezes, entre- gue ao comando de um trabalhador mais qualificado, por meio da terceirização das relações de produção. As relações de trabalho são marcadas pela violência sem nenhuma garan- tia. Não há, nos primeiros tempos da indústria, uma legislação favorável aos operários. A violência das relações no ambiente industrial se estende pela vida urbana e se expressa no cotidiano das cidades europeias durante o nascimento da indústria. Uma violência que terá formas distintas de ser compreendida e de gerar reação. SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Para o poder público, buscando atender ao interesse da empresa nascente, foi fundamental estabelecer mecanismos de controle social para garantir a ordem nos espaços urbanos. Policiamento ostensivo nas ruas e instituições para o aprisiona- mento e tratamento daqueles que não se adaptavam à vida urbana era um exemplo. As escolas voltadas às classes populares e mantidas pelo poder público teriam como característica retirar os ociosos do mundo urbano e preparar os cidadãos para o trabalho. A educação, que sempre existiu como forma de organização da vida social e preparação das futuras gerações para a necessidade coletiva, agora deveria exercer essa função visando ao mundo da empresa capitalista, que se generalizava. Entre os movimentos operários que surgiram na Europa, alfabe- tizar os filhos era uma garantia de não reproduzir a relação que os pais estavam sujeitos para os filhos. Para enfrentar a violência que o mundo urbano apresentava, a classe ope- rária se organizou em associações e sindicatos. Assim, enfrentou o ambiente de trabalho imposto pelas empresas e os empresários capitalistas, dando início aos confrontos em forma de “quebra de máquinas” e paralisação de trabalhadores. Aconteceram greves ocasionadas pela luta por melhores condições de trabalho, como o Movimento Cartista na Inglaterra do século XIX. Os problemas sociais urbanos chegaram a um determinado grau em que até mesmo as forças sociais e políticas opostas de trabalhadores e patrões passa- ram a lutar contra problemas comuns e se associar em campanhas para romper comportamentos que se mostravam nocivos à sociedade. Um desses “inimigos comuns” foi o consumo de bebidas alcoólicas. Como afirma Hobsbawm: Por outro lado, havia muito mais pobres que, diante da catástrofe social que não conseguiam compreender, empobrecidos, explorados, jogados em cortiços onde se misturavam o frio e a imundice, ou nos extensos complexos de aldeias industriais de pequena escola, mergulhavam em total desmoralização. Destituídos das tradicionais instituições e pa- drões de comportamento, como poderiam muitos deles deixar de cair no abismo dos recursos de sobrevivência, em que as famílias penhora- vam a cada semana seus cobertores até o dia do pagamento, e em que o álcool era “a maneira mais rápida para se sair de Manchester” (ou de Lille ou de Borinage). O alcoolismo em massa, companheiro quase in- variável de uma industrialização e de uma urbanização brusca e incon- troláveis, disseminou “uma peste de embriaguez” emtoda a Europa. Talvez os inúmeros contemporâneos que deploravam o crescimento da O Ambiente para a Formação da Sociologia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 embriaguez, como da prostituição e de outras formas de promiscui- dade sexual, estivessem exagerando. Contudo, repentina aparição, até 1840, de sistemáticas campanhas de agitação em prol da moderação, entre as classes médias e trabalhadoras, na Inglaterra, Irlanda e Ale- manha, mostra que a preocupação com a desmoralização não era nem acadêmica nem tampouco limitada a uma única classe. Seu sucesso imediato teve pouca duração, mas durante o restante do século a hosti- lidade à embriaguez permaneceu como algo que tanto patrões quanto movimentos trabalhistas tinham em comum (HOBSBAWM, 1982, p. 223-4). Podemos considerar que diante desse ambiente, que trazia condições de degrada- ção para parte considerável dos trabalhadores (às vezes até para a classe média e para o patronato), a ação pública deveria ser pontual e estar dentro de uma polí- tica geral de governabilidade da vida social urbana. Isto é, era preciso uma ação dos governos municipais das cidades industrializadas. Eles necessitavam ter a capacidade de colocar, diante dos conflitos que se intensificam e de práticas que denegriam as forças sociais, mecanismos eficientes de ação. Se a necessidade de racionalizar a vida social era uma emergência para o poder público, ela estaria na pauta de discussão do mundo científico. As cor- rentes de pensadores que se debruçaram sobre os problemas da vida urbana e das condições humanas na sociedade industrial são sensíveis a partir do século XVIII. Contudo, foi no século seguinte que essa preocupação se intensificou. Das correntes liberais ao Socialismo, as teses políticas emergiram à procura de dar resposta ao contexto tenso que o mundo industrial urbano apresentava. Os valores que orientavam o homem europeu tinham se alterado e seriam um modelo para as demais formas de compreensão que surgiram em diversas partes do mundo. Se o movimento liberal e socialista surgiu na Europa, sua propagação pela América, Ásia e África foi corrente. A influência da intelectualidade euro- peia se demonstrou com o surgimento dos Estados nacionais em áreas antes colonizadas pelos europeus. Paralelo a essas correntes, e muitas vezes sendo um contraponto a elas, os movimentos herdados das correntes naturais também emergiram. É o caso do Positivismo inaugurado por Comte na França. As teses do pensador francês viriam a inspirar aqueles que consideravam que a análise da vida social deveria estar fundada nos mesmos critérios dos fenômenos biológicos. SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Os pensadores que denominamos clássicos das ciências sociais irão produzir seus argumentos neste ambiente de confronto direto entre a massa de trabalhadores, as empresas, os empresários capitalistas e o poder público. Os problemas emer- gentes da vida urbana alimentaram as análises de pensadores, como Durkheim, Marx e Weber. Eles darão as diretrizes para a compreensão da vida social, dos meios para a organização das instituições e do seu papel na construção da ordem coletiva. O que podemos destacar a princípio, e que será amplamente discutido na próxima unidade, é a importância do trabalho como condição para a orien- tação do homem em sociedade. Esse foi o ambiente que propiciou a formação da Sociologia, uma ciência da sociedade, que procura compreender a relação do homem com seu espaço e seu tempo. Para isso, faz uso do passado histórico, para o entendimento de determinados contextos; do presente, para explicação de fenômenos “atuais”; e, por fim, da correlação de fatos para possíveis cenários futuros. Resta-nos, então, responder: qual é a relação do homem consigo e quais são suas ações que estão presentes na sociedade? É isso que vamos debater agora, diante do ambiente de formação da Antropologia. Virgindade Sociológica Quem passou pelo lento processo de formação acadêmica nas Ciências So- ciais – ou ainda o cumpre — vai saber muito bem daquilo que falo. Quem um dia se arriscará nessa seara das humanidades poderá perceber aquilo que digo. Quem já vivencia isso sabe muito bem o que escrevo. Talvez uma dessas profecias um dia se tornará realidade. Talvez são meros pensamen- tos, lançados à luz de uma tela de notebook, que nada remetem aqueles grandes sociólogos em quem nos inspiramos. A profissão do sociólogo é algo que se vivencia. Não dá pra separar seu dia a dia do seu exercício profissional. Afinal, a todo momento estamos em conta- to com as pessoas, com a sociedade e, no fim das contas, só se faz Sociologia com a sociedade, relacionando-se com ela. Se vamos à uma festa, pronto! Logo queremos compreender porque aquelas pessoas estão ali, o que se passa na cabeça delas e qual é a noção de festa que elas possuem. Se lecio- namos em sala de aula, a pergunta é sempre a mesma: o que será que eles farão com as informações e o conteúdo aqui ministrados? Fonte: os autores. O Espaço de Surgimento da Antropologia: O Que É Esta Ciência? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 O ESPAÇO DE SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA: O QUE É ESTA CIÊNCIA? Quando falamos sobre o surgimento de uma nova ciência, logo vem à mente algo inédito, fascinante e voltado para um “conhecimento superior”. Porém, a inserção de novos conhecimentos nas humanidades é um fato que ocorre “natu- ralmente”, com a necessidade de especificar as subáreas do pensamento humano. Demonstramos que a Sociologia é produto das ideias de sua época, um período de grande transformação social baseado nas mudanças sociais da Europa dos sécu- los XIX e XX. O itinerário de formação da Antropologia não foi diferente, já que também é fruto da busca por conhecer o “novo”, por descobrir algo que encantava: o contato com novos povos e novas culturas por intermédio das grandes navegações. Antes de falarmos de uma metodologia para explicar o que é e como estu- dar a Antropologia, podemos afirmar que já existia uma espécie de “pensamento antropológico”, isto é, já havia um número considerável de pensadores refletindo Seja bem-vindo(a) à nossa sociedade. Se perguntas sem respostas sobre ela já passaram por seu pensamento, você, caro(a) aluno(a), deve estar pensan- do: afinal, qual é o seu destino? SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 sobre os desdobramentos do estudo do homem e de sua relação consigo e com a sociedade. A questão fundamental da Antropologia é, portanto, entender como nós, seres humanos, tão parecidos em aspectos biológicos, podemos ser tão dife- rentes em aspectos culturais. Essa questão começou a ser respondida a partir da cultura europeia, domi- nante nos primórdios da Antropologia. Diante do expansionismo europeu com as grandes navegações - iniciadas em Portugal e na Espanha e, posteriormente, na Inglaterra, na França e nos demais países -, podemos verificar que a relação entre dominante e dominado passou a pautar as principais questões voltadas à Antropologia. Afinal, a força do homem branco europeu era suficiente para dominar culturalmente um “novo homem descoberto”? Quem detinha, então, o domínio das relações culturais: o dominante (aqui visto como o Europeu) ou o dominado de qualquer localidade outrora “descoberta”?Estabeleceu-se, assim, um paradoxo para a Antropologia: como agir diante dessa situação? Em Aprender Antropologia, François Laplantine faz um resgate histórico dessa ciência, trazendo à luz uma importante contribuição acerca da fundamentação deste “novo” conhecimento. O projeto de fundar uma ciência do homem — uma antropologia — é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente cien- tífico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utili- zados na área física ou da biologia (LAPLANTINE, 1987, p. 7). Nota-se que a Antropologia é uma ciência racional, direcionada ao conhe- cimento do homem por meio de seu contato com a sociedade, analisando as influências que um tem sobre o outro. Diante dessa face de troca do saber entre o individual e o social, ela se constitui, formando a cultura, um dos seus prin- cipais objetos de análise. Como a Antropologia está dividida? Quais são suas áreas e o que ela pes- quisa, afinal? Mais que isso: qual a função de conhecermos a Antropologia para os fundamentos da educação? É esse o caminho que pretendemos demonstrar a você, caro(a) acadêmico(a), a fim de articular o conhecimento da Antropologia com as ações de sua vida cotidiana enquanto estudante das humanidades. O Espaço de Surgimento da Antropologia: O Que É Esta Ciência? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Segundo Marconi e Presotto (2007), existem dois grandes grupos que estru- turam a Antropologia: a Antropologia Física ou Biológica e a Antropologia Cultural, que, com suas peculiaridades, auxiliam no entendimento do seu campo de atuação. A Antropologia Física ou Biológica é destinada a estudar a posição do homem enquanto “herdeiro biológico”, ou seja, o homem e a evolução dele desde o surgimento da espécie até a atualidade. Surge, então, o primeiro trabalho do antropólogo físico, que é estudar a Paleontologia, destinada a buscar o entendi- mento do homem a partir da interface com a Biologia, a Genética, a Arqueologia e outras áreas. A Paleontologia é um subcampo do conhecimento antropológico, uma vez que se articula com as demais áreas relacionadas a conhecer os fósseis humanos, realizar escavações em sítios arqueológicos, entre outros. Por meio do estudo do aspecto biológico humano, a Paleontologia articula as ciências naturais com a História, compreendo como o homem estava situado na terra dos primórdios até a atualidade. Por outro lado, a Antropologia Cultural tem como missão o estudo dos aspectos que irão formar a sociedade a partir daquilo que nós, humanos, consi- deramos como cultura, ou seja, algo que será perpetuado de geração em geração, constituindo o conjunto de várias áreas do conhecimento. A palavra “cultura” expressa o cultivo de elementos, como o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e as aptidões adquiridos pelo ser humano. Neste sentido, a Antropologia Cultural tem por objetivo o estudo das dife- rentes culturas para cada sociedade, por meio de alguns questionamentos: existe um padrão de cultura? É possível mensurar semelhanças e diferenças entre dife- rentes culturas? O que faz com que a cultura de um povo seja formada? Ela é sempre imutável ou ela pode ser transformada de acordo com a evolução da socie- dade? São essas as questões que permeiam há anos a Antropologia Cultural, um campo dessa ciência que estuda o homem e, sobretudo, recentemente, os possí- veis “padrões de cultura” identificados na sociedade. Laplantine (1987) salienta que a Antropologia Social e Cultural (ou Etnologia) é, hoje, o principal campo de atuação da Antropologia, uma vez que corresponde a praticamente tudo o que há na sociedade: “seus modos de produção econômica, SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas” (LAPLANTINE, 1987, p. 19). Portanto, a Etnologia é a área destinada a compreender a sociedade a partir do ponto de vista do homem. Conforme você, aluno(a), viu durante a formação das ciências sociais, a Antropologia pretende estudar a relação do homem em/ na sociedade, enquanto o sociólogo estuda o funcionamento da sociedade, seja a partir das suas instituições ou a partir dos mecanismos desenvolvidos pelos humanos para que a sociedade progrida. Será que a Antropologia sempre estudou os aspectos culturais para entender a ação do homem? Um dos pioneiros da área é Bronislaw Malinowski (1884- 1942), que atribuiu a ela um caráter científico. Com a utilização da Etnografia, o autor ia até o campo de estudo para compreender melhor o dia a dia das comu- nidades do pacífico ocidental. A ideia de Malinowski para o trabalho do antropólogo é simples: nada como se tornar um deles para conhecê-los melhor. Seguindo essa máxima, o autor se mudou para as Ilhas Trobriand, defendendo, durante sua pesquisa, aquilo que acre- ditava: é preciso fazer Antropologia no momento onde observamos determinado acontecimento. Com isso, afastava-se a possibilidade de atuar antropologicamente a partir de informações alheias, isto é, sem ter a fidelidade dos conhecimentos adquiridos no campo (na área de pesquisa) pelo próprio antropólogo. Seu método conhecido como “observação participante” até hoje pauta os tra- balhos na Antropologia. Portanto, segundo Malinowski, não há melhor maneira de se fazer Antropologia senão participar cotidiana e rotineiramente com o nativo, ou seja, com o estranho que se tentará entender, para posteriormente estabe- lecer um padrão de cultura delimitado acerca de seu comportamento. Em Os Argonautas do Pacífico Ocidental, o autor se depara com essa realidade, traduzindo em seus diários as ações cotidianas do “nativo estranho” com o qual se deparou. O nascimento da Antropologia, como exposto, teve como objeto de estudo o homem não europeu. Ela se debruçou sobre o comportamento de civilizações encontradas pela expansão europeia e sua dominação nas mais diferentes partes do mundo. Considerou, dessa forma, comparações, classificações e escalona- mento mediante valores que o homem ocidental impunha aos demais povos. Essa escala serviu para estabelecer a “linha evolutiva” que tinha a “Europa O Espaço de Surgimento da Antropologia: O Que É Esta Ciência? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 civilizada”, como afirma Augusto Comte, no topo. O pensador francês, funda- dor das teses positivistas, estabelecia, no princípio da evolução civilizadora, as sociedades que tinham comportamentos próximos ao dos primatas. Mais tarde, Morgan e mesmo Hegel seguiram por caminhos diferentes o mesmo critério de colocar os ocidentais na cadeia evolutiva. Charles Darwin é o autor de maior lembrança quando falamos de evolução, por mais que suas colocações sejam interpretadas de forma equivocada como uma justificativa de superioridade natural do homem europeu. O antropólogo francês considera que a lei do melhor adaptado reside mais na capacidade de assimilação do ser vivo ao meio do que de sua competência mental para garantir a permanência. Isto é, formas mais complexas de espécies podem ser elimina- das se não assimilarem determinadas mudanças nomeio. A literatura também foi uma expressão da superioridade ocidental. Romances e aventuras fortaleceram o ideal do vitorioso homem branco. Nas páginas dos livros que se transformaram em clássicos durante os séculos XIX e XX, os per- sonagens vitoriosos eram os exemplares fiéis do corpo social do ocidente. Talvez, nenhum romance de aventura expressou com maior intensidade esta ideia do que a Lenda de Tarzan. O homem branco está fadado, segundo a produção científica e literária pro- duzida pelo ocidente, à conquista, à superioridade e à responsabilidade de civilizar o mundo e, como um deus, recriá-lo a sua imagem e semelhança. Na conquista estabelecida sobre diversos povos, o homem ocidental julgou, absolveu e conde- nou. Sua sentença sempre está calcada na busca por si mesmo, segundo François Laplantine. Por isso, os que lhe pareciam conhecidos eram absolvidos e os que lhe causavam estranheza e o negavam deviam ser exterminados. Esse panorama da Antropologia, conforme anunciamos anteriormente, mudou: o que está em voga na modernidade é a busca pelo conhecimento dos padrões de cultura e comportamento de cada sociedade, além da valorização da peculiaridade das culturas. Antes vistas como estranhas e desvalorizadas, as culturas não europeias passaram a ter a devida importância na discussão antropológica. O que vale hoje para a Antropologia é a igualdade de análise das culturas, reforçando as particularidades e não a supremacia cultural de um em relação a outrem. SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 Entretanto, para compreendermos essa abordagem, Laplantine esclarece ser neces- sário conhecer os conceitos de “social” e de “cultura”, uma vez que tanto a Antropologia quanto a Sociologia têm como finalidade o homem como objeto de estudo: O social é a totalidade das relações (relações de produção, de explo- ração, de dominação…) que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo conjunto (etnia, região, nação…) e para com outros conjuntos, também hierarquizados. A cultura por sua vez não é nada mais que o próprio social, mas considerado dessa vez sob o ângulo dos carac- teres distintivos que apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções originais (artesanais, artísticas, religiosas) (LAPLANTINE, 1987, p. 120). Nota-se, dessa forma, que a cultura reflete em sociedade os comportamentos individuais de cada grupo, que posteriormente irá formar a sociedade. A cul- tura, como já adiantamos, é a transmissão e o cultivo dos saberes e costumes de um grupo humano de forma coletiva, ou seja, com o convívio em/na socie- dade. Logo, a cultura passa a integrar um objeto antropológico de conhecimento, na tentativa de responder quais são os padrões de cultura assumidos por cada grupo na humanidade. Observe que no itinerário que propusemos, da formação da Antropologia até a investigação da cultura para essa ciência, tentamos demonstrar a pecu- liaridade e a multiplicidade de culturas que você irá lidar ao longo da carreira docente. Veja que o processo de considerar as diferentes culturas (cada qual com sua importância) é algo próprio da Antropologia. Roberto DaMatta define esse conceito como a “relativização” das culturas: O “relativizando” que nomeia este livro, portanto, nada tem a ver com uma ideologia substantiva do universo social humano, segundo a qual tudo é variável e tudo é válido. Muito ao contrário, trata-se de uma atitu- de positiva e valorativa, expressa no meu “relativizando”, a cobrir o abra- ço destemido que damos quando pretendemos entender honestamente o exótico, o distante e o diferente, o “outro” (DAMATTA, 1981, p. 10). Relativizar, segundo DaMatta, é valorizar as diferenças culturais existentes, sabendo tolerá-las e, sobretudo, integrá-las na vida social. Portanto, a Antropologia aplicada à educação demonstra que, durante a carreira docente, é preciso saber relativizar as culturas, os modos de comportamento e o estilo de vida de cada aluno(a), na tentativa de facilitar o relacionamento estabelecido no ambiente escolar. O Espaço de Surgimento da Antropologia: O Que É Esta Ciência? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Diante desse cenário, demonstramos que a Antropologia cumpre seu papel quanto aos fundamentos da educação: ela auxilia na compreensão e compara- ção entre os dois objetos fundamentais e em constante mudança no processo de formação educacional, ou seja, a sociedade e a cultura. Ainda que ambas tenham boa linearidade de pensamento, são peças em aperfeiçoamento permanente, em uma engrenagem complexa que é a história e a evolução do pensamento humano. O educador, nesta seara, deve estar preparado para utilizar o que a Antropologia melhor oferece, que é a “relativização” das culturas, além de se colocar no lugar do outro para melhor compreendê-lo, em um processo interminável de obser- vação participante, conforme Malinowski, que poderá facilitar o entendimento das mudanças que a sociedade sofre. Assim, esperamos que a Antropologia possa fundamentar as bases do conhecimento das humanidades e, em conjunto com a Sociologia, ser parte da produção do saber. SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: COMPREENDENDO NOSSA SOCIEDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, pudemos trabalhar com a formação das Ciências Sociais ao longo dos anos, isto é, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), como e porque existem três ciências que se dedicam a estudar a sociedade sob três pontos de vista: a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política. Quanto à Sociologia, que tem a sociedade como grande laboratório, pudemos constatar seu ambiente de formação, tendo como plano de fundo a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, dois marcos importantes para a compreen- são de que a vida citadina possui maior complexidade do que a campesina, o que reflete nas novas relações sociais, trabalhistas, políticas e comportamentais. Tal alteração do modo de vida do homem fez com que ele passasse a explo- rar novos espaços, ainda não descobertos (ou não explorados), o que demonstra a necessidade de compreendermos a cultura do outro para melhor nos enten- dermos. Surgia aí a Antropologia, destinada a estudar o homem e sua trajetória em/na sociedade. A jornada até aqui estabelecida conduz para iniciar o propósito deste livro, indicado nesta Unidade I: aguçar o senso crítico da vida que estabelecemos socialmente. Isto é, olhar para além do já fixado, do que é dado pela sociedade para nós e do que ofertamos em troca para a sociedade. Em suma: a proposta é melhor compreender o meio em que vivemos, dialogando, criticando e deba- tendo os caminhos para melhorar o convívio social. Dessa forma, ainda fica a questão motriz do livro, porém já pautada de ante- mão: quais são os fundamentos sociológicos e antropológicos e a respectiva contribuição de ambos para a educação? É o que pretendemos demonstrar nesta trajetória, iniciando pelos chamados autores clássicos da sociologia, que expu- seram com propostas centrais um a um os estilos de vida na sociedade urbana em seus primórdios. 39 1. O conflito, típico das Ciências Sociais, é um dos destaques da problematização de conceitos existentes nessa área. A respeito dessa predisposição, é correto afirmar que: a) Os conflitos, típicos das Ciências Sociais, são direcionados na tentativa de não contrapor, mas igualar os problemas. b) O conflito é necessário, uma vez que a partir dele se pode compreender como as relevantes questõessociais afetam os debates acerca das Ciências Sociais. c) A problematização, típica das Ciências Sociais, deixa de existir nas sociedades urbanizadas. d) A urbanização e seu estudo só existem para as Ciências Sociais a partir do século XXI. e) O conflito, típico das Ciências Sociais, deveria ser estudado exclusivamente por essa ciência. 2. Acerca das áreas de conhecimento das Ciências Sociais, é correto afirmar que o estudo das relações sociais e da dinâmica da sociedade corresponde a qual especificação? a) À Sociologia, que compreende a movimentação dos corpos em/na sociedade. b) À Antropologia, que se destinou ao estudo da cultura dos povos contempo- râneos. c) À Ciência Política, destinada a compreender o Estado e as relações de poder. d) À Sociologia, destinada a entender como a política, sobretudo, influencia o dia a dia dos indivíduos. e) À Antropologia, voltada para o estudo dos primórdios da sociedade. 3. A aglomeração das pessoas em grandes centros urbanos e a maior concentra- ção populacional fizeram com que as cidades recém-urbanizadas enfrentassem problemas estruturais. Considerando essas informações, leia as assertivas que seguem e assinale a alternativa correta. I. O alcoolismo é uma das questões sociais enfrentadas no início da urbanização. II. A crescente urbanização levou a população às grandes jornadas de trabalho, que tinham em torno de 15 horas diárias. III. A alternativa criada para o tratamento de uma “sociedade doente” foram os manicômios, que surgiram como espaços para cuidar daqueles que não apre- sentavam um satisfatório comportamento social. IV. As classes populares, formadas em sua maioria por grandes empresários, fize- ram com que o ritmo da Revolução Industrial fosse acelerado. 40 a) Estão corretas apenas I e II. b) Estão corretas apenas II e III c) Estão corretas apenas I e III. d) Estão corretas apenas I, II e III. e) Está correta apenas II. 4. A classe operária é uma das formas existentes para o enfrentamento da violência do mundo urbano. Até hoje, os sindicatos - típicas organizações da classe traba- lhadora - influenciam as decisões da legislação trabalhista, buscam as conquistas dos trabalhadores e intermediam as relações entre empregador e empregado. Diante do papel da classe operária nas origens do mundo urbano, podemos afirmar que: a) A organização sindical foi uma das formas em que a classe operária se consti- tuiu (e se constitui) em sociedade. Paralisações e quebra de máquinas foram as ações tomadas, por exemplo. b) Os sindicatos pouco representavam as classes operárias da época, pois mais atrapalhavam do que ajudavam na intermediação de crises entre os empre- sários e os trabalhadores. c) A ausência de greves na Inglaterra do século XIX demonstra a fragilidade sin- dical. d) A classe operária sempre aceitou com tranquilidade as medidas tomadas pe- los proprietários das indústrias nas origens da sociedade urbana. e) Os sindicatos, exemplos de resistência do empresariado, ainda não resulta- ram em medidas positivas para a classe trabalhadora. 5. Na formação da sociedade urbana, diversos problemas surgiram na consolida- ção dos núcleos habitacionais. Cite e comente quais foram esses problemas, analisando quais seus impactos na origem da sociedade urbana. 41 A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA — WRIGHT MILLS A imaginação sociológica capacita seu pos- suidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para a carreira exte- rior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agi- tação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agi- tação, busca-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansie- dade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença pelo público se transforma em participação nas questões públicas. O primeiro fruto dessa imaginação — e a primeira lição da ciência social que a incor- pora — é a ideia de que o indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pes- soas, nas mesmas circunstâncias em que ele. Sob muitos aspectos, é uma lição terrível; sob muitos outros, magnífica. Não conhe- cemos os limites da capacidade que tem o homem de realizar esforços supremos ou degradar-se voluntariamente, de agonia ou exultação, de brutalidade que traz pra- zer ou de deleite da razão. Mas em nossa época chegamos a saber que os limites da “natureza humana” são assustadoramente amplos. Chegamos a saber que todo indi- víduo vive, de uma geração até a seguinte, numa determinada sociedade; que vive uma biografia, e que vive dentro de uma sequência histórica. E pelo fato de viver, contribui, por menos que seja, para o condi- cionamento dessa sociedade e para o curso de sua história, ao mesmo tempo em que é condicionado pela sociedade e pelo seu processo histórico. A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da socie- dade. Essa é a sua tarefa e a sua promessa. A marca da análise social clássica é o reco- nhecimento delas [...]. É a marca do que há de melhor nos estudos contemporâneos do homem e da sociedade. Nenhum estudo social que não volte ao problema da biografia, da história e de suas interligações dentro de uma socie- dade completou a sua jornada intelectual. Quaisquer que sejam os problemas espe- cíficos dos analistas sociais clássicos, por mais limitadas ou amplas as característi- cas da realidade social que examinaram, os que tiveram consciência imaginativa das possibilidades de seu trabalho formula- ram repetida e coerentemente três séries de perguntas: 1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus componentes essen- ciais e como se correlacionam? Como difere de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de qualquer característica particular para a sua conti- nuação e para a sua transformação? 2) Qual a posição dessa sociedade na his- tória humana? Qual a mecânica que a faz modificar-se? Qual é seu lugar no desen- 42 volvimento da humanidade como um todo e que sentido tem para esse desenvolvi- mento? [...] 3) Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse período? E que variedades irão predominar? De que for- mas são selecionadas, formadas, liberadas e reprimidas, tornadas sensíveis ou imper- meáveis? Que tipos de “natureza humana”, se revelam na conduta e caráter que obser- vamos nessa sociedade, nesse período? [...] Fonte: Mills (1965, p. 11-8). Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Teoria social Ana Christina Vanali (Organizadora) Editora: Núcleo de Estudos Paranaenses Sinopse: o presente trabalho articula em coletânea um resumo dos principais teóricos da Sociologia, possibilitando que o(a) acadêmico(a) possa “viajar” pela matriz de conhecimento dessa área. Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Polanyi, Karl Mannheim, Norbert Elias, Howard Becker e Pierre Bourdieu são retratados nesta obra, de fácil leitura e de conteúdo didático. Sociologia Clássica — Marx, Durkheim e Weber Carlos Eduardo Sell Editora: Vozes Sinopse: a partir da importância de Marx, Durkheim e Weber para a matriz sociológica, Carlos Eduardo Sell retoma a teoria sociológica demonstrando os modelos básicos de pensamento dos autores, as características de cada um e os desa� os propostos para a análise da modernidade. Aprender
Compartilhar