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APOSTILA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 5S

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Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
1 
 
WEB AULA 1 
Unidade 1 – Alfabetização e Letramento: 
Contribuições Teóricas 
A PALAVRA MÁGICA 
 
Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 
Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 
Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
lá! 
Estamos aqui para aprender um pouco mais a respeito da 
Alfabetização e Letramento. Tenho plena convicção de que vocês 
estão se dedicando ao máximo para aperfeiçoarem teórica e 
metodologicamente esses dois processos. 
Você deve estar curioso para saber sobre as temáticas que 
trataremos nestes encontros sobre Ensino e Alfabetização, não é 
mesmo? Imagino que já tenha pensado muitas vezes sobre o papel 
da linguagem escrita: “Não é papel da escola ensinar a ler e a 
escrever?” Pelo menos é isso que os pais, em especial aqueles das 
crianças um pouco maiores da Educação Infantil, vivem cobrando! 
Eles dizem que não vão trazer as crianças só para ficar brincando na 
escola. Bem, é natural essa sua ansiedade, principalmente diante da 
reivindicação dos pais. E essa exigência deles não é à toa, não é 
mesmo? Na verdade, eles estão preocupados com que seus filhos 
apropriem esse conhecimento que tem um valor tão grande na nossa 
cultura! Algumas vezes eles próprios não dominam essa linguagem e 
sentem, “na pele”, como isso lhes torna a vida mais difícil. São tantos 
os momentos em que saber ler e escrever é importante! 
Pois bem, com certeza somos capazes de compreender essa cobrança 
dos pais, mas “cada coisa no seu tempo e no seu lugar”, não é assim 
que diz a sabedoria popular? Então vamos nestes encontros buscar 
compreender melhor qual é o tempo e o lugar da linguagem escrita 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
2 
 
na Educação Infantil. Esperamos que, a partir das nossas discussões, 
você consiga se sentir seguro para, enquanto profissional dessa área, 
conversar com os pais sobre a forma como você está atendendo às 
reivindicações deles, por meio de um trabalho consciente, 
fundamentado em estudos e pesquisas, que leva em conta as 
necessidades e os interesses das crianças. Então, vamos em frente? 
Antes de caminharmos em nossa leitura, gostaria de propor alguns 
questionamentos 
<< Como você imagina o seu mundo se não existisse a escrita? 
Haveria vantagens? Haveria desvantagens? Do que você sentiria falta? 
O que significa ser alfabetizado? E letrado? Ser alfabetizado é sinônimo de saber 
Escrever o nome? >> 
Com certeza, a partir dessa atividade, você se deu conta de uma série de momentos em que precisa 
utilizar a linguagem escrita. E, muitas vezes, você faz isso de forma tão automática que nem percebe 
como a escrita faz parte de sua vida. Mas, mesmo que não tenhamos consciência clara sobre isso, 
sempre temos um “para quê” ao ler ou escrever, ou melhor, temos um objetivo, que nos leva a fazer 
uso da linguagem escrita nas nossas práticas sociais. A linguagem escrita exerce diferentes funções 
sociais, como: 
• Perpetuação e auxílio à memória; 
• Comunicação à distância 
• Expressão de sentimentos, idéias e pensamentos; 
• Orientação, diversão e fruição; 
• Organização de idéias, dentre outras. 
 Se perguntássemos a diferentes pessoas teríamos diferentes respostas para essas 
perguntas. Especialmente acerca do que significa ser alfabetizado. O termo “alfabetização” é muito mais 
familiar que o termo “letramento”. Apesar de ambos relacionarem-se constituem processos distintos e 
complementares. Iremos concentrar nosso estudo no processo de alfabetização. Quando pensamos em 
alfabetização, temos que pressupor que vivemos numa sociedade grafocêntrica, isto é, uma sociedade 
centrada na cultura escrita. Partindo disso, ser alfabetizado, além de ser uma necessidade individual do 
sujeito, é, também, condição indispensável de cidadania. Historicamente, a alfabetização enquanto 
processo pedagógico constituiu demandas específicas. Hoje, ser alfabetizado, ou seja, saber ler e 
escrever, tem se mostrado como condição insuficiente às demandas contemporâneas. O sujeito precisa 
ir além do codificar e decodificar o sistema de escrita. É preciso que ele faça o uso da leitura e da escrita 
no cotidiano e aproprie-se da função social que reveste essas duas práticas. Dizemos, então, que é 
preciso letrar-se. 
Vamos entender uma parte do processo de inserção do sujeito nessa sociedade grafocêntrica: o 
processo de alfabetização. De um modo muito amplo, podemos dizer que alfabetização é a ação de 
ensinar/aprender a ler e escrever. Envolve, pois, habilidades muito específicas. Muitos autores colocam 
que a alfabetização envolve a tecnologia da escrita. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar 
"alfabeto". Causa estranheza o uso do termo "alfabeto", na expressão "tornar alfabeto", não é mesmo? É 
que dispomos da palavra analfabeto, mas não temos o contrário dela: temos a palavra negativa, mas 
não temos a palavra positiva. Vamos analisar a etimologia do termo “alfabetização”: 
ALFABE + IZA(R) + ÇÃO 
-ÇÃO sufixo que forma os substantivos, indica ação 
Alfabetizar indica a ação de alfabetizar 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
3 
 
Do ponto de vista linguístico, ler e escrever é aprender a codificar e 
decodificar o código alfabético. Em outras palavras mais simples: 
alfabetizar é a apropriar-se do código escrito. Essa apropriação indica 
que para aprender a ler e escrever a criança precisa relacionar sons 
com letras, para codificar ou para decodificar. Concretamente, na sala 
de aula, alfabetizar significa, didaticamente, ensinar o aluno a ler e 
escrever para apropriar e compreender o código alfabético. Assim, 
convido-os a ler algumas contribuições teóricas acerca da 
alfabetização. É importante destacar que ler e escrever são 
processos autônomos, porém complementares. Ler constitui um 
conjunto de habilidades e comportamentos que envolvem a 
decodificação de sílabas, palavras, textos e livros. Além disso, esse 
processo de alfabetização envolve muitos outros conhecimentos 
inter-relacionados, entre os quais podemos destacar como alguns 
exemplos: imagem corporal, aspectos neurológicos, autoestima e 
afetividade. Podemos afirmar que envolve também aprender a 
segurar num lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da 
esquerda para direita (linearidade ocidental da escrita), conhecimento 
dos aspectos topológicos das letras. Em outras palavras, envolve uma 
série de aspectos técnicos como “[...] parte específica do processo de 
aprender a ler e a escrever” (SOARES, 2004, p. 15-7). 
“Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, 
aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa 
manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que 
vincula linguagem e realidade (FREIRE, 2001, p. 34)”. 
 
“Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o 
indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é 
não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa 
socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, 
responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita 
(SOARES, 1998, p. 22)”. 
 
"Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso 
reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como 
sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem 
empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, 
um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar 
e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito 
cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age 
sobre o real para fazê-loseu. Um novo método não resolve os 
problemas. É preciso reanalisar as práticas de introdução da língua 
escrita, tratando de ver os pressupostos subjacentes a elas, e até que 
ponto funcionam como filtros de transformação seletiva e deformante 
de qualquer proposta inovadora. Os testes de prontidão também não 
são neutros. (...) É suficiente apontar que a 'prontidão' que tais 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
4 
 
testes dizem avaliar é uma noção tão pouco científica como a 
'inteligência' que outros pretendem medir (FERREIRO, 1999, p. 87)”. 
Contudo, alfabetizar não é só o domínio do código escrito. O 
professor Artur Morais (2004) nos indica que a apropriação do código 
não é simplesmente codificar e decodificar, já que a criança 
precisa compreender como funciona o código, ou seja, o sistema de 
escrita alfabético. Nesse processo, a criança ativamente “decifra” o 
“segredo do código”. Com isso, queremos ressaltar que alfabetizar 
não é um processo passivo de apenas apropriar-se, mas, ao 
contrário, existe toda a construção de hipóteses que o sujeito elabora 
acerca da compreensão do sistema de escrita. Para descobrir esse 
“segredo” a criança desvenda dois desafios básicos: a análise 
fonológica e a análise estrutural das palavras. 
Contudo, alfabetizar não é só o domínio do código escrito. O professor Artur Morais (2004) nos indica 
que a apropriação do código não é simplesmente codificar e decodificar, já que a criança 
precisa compreender como funciona o código, ou seja, o sistema de escrita alfabético. Nesse processo, a 
criança ativamente “decifra” o “segredo do código”. Com isso, queremos ressaltar que alfabetizar não é 
um processo passivo de apenas apropriar-se, mas, ao contrário, existe toda a construção de hipóteses 
que o sujeito elabora acerca da compreensão do sistema de escrita. Para descobrir esse “segredo” a 
criança desvenda dois desafios básicos: a análise fonológica e a análise estrutural das palavras. 
 
Vamos agora concentrar nossa atenção no conceito de letramento. 
Para Magda Soares, letramento é: 
O resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O 
estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como 
consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais (SOARES, 
1998, p. 39). 
Podemos pensar o letramento como o uso efetivo da leitura e da 
escrita no nosso cotidiano. É, portanto, participar ativamente das 
práticas sociais de leitura e escrita, colaborando com a construção de 
um projeto de sociedade democrática. Diante dessa colocação, o 
desafio contemporâneo para a escola é “alfabetizar letrando”. 
Alfabetizar, na perspectiva do letramento, ou “alfabetizar-letrando” é 
instrumentalizar e proporcionar às crianças os alunos com o código 
alfabético para que estejam aptos ao seu uso. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
5 
 
 
Mas, o que devemos fazer: alfabetizar ou letrar? Importante saber é 
que os processos de alfabetização e letramento são complementares 
e indissociáveis. Embora sejam complementares, cada um possui sua 
especificidade. Assim, esclarece a professora Magda Soares: 
Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais 
concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a 
entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre 
simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional 
de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse 
sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a 
língua escrita (SOARES, 2004, p. 14). 
Para saber mais: Poema Letramento Kate M. Chong endereço: 
YOUTUBE. 
https://www.youtube.com/watch?v=K8RHXK0eTQQ 
https://www.youtube.com/watch?v=0ub-GbVRZAo 
Aprendemos que a alfabetização é a aquisição da tecnologia da 
escrita, ou seja, é o domínio da leitura e da escrita e da compreensão 
do sistema de escrita. Mas... o que caracteriza o letramento em 
relação à alfabetização? Pode alguém ser letrado sem ser 
alfabetizado? Que tal um exemplo para ilustrar essa questão: a 
pessoa que não sabe ler pode saber fazer uma leitura do nome do 
ônibus que tem que tomar, do nome do hospital onde tem consulta 
ou dos nomes dos produtos que vai comprar no mercado. Pensemos 
ainda naquele sujeito que, apesar de não saber escrever uma 
mensagem, sabe assinar seu nome ou copiar o nome de um remédio 
que tenha que usar. Ou alguém que procura outra pessoa que leia ou 
escreva para ele o que lhe interessa. 
A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi 
introduzida muito recentemente na Língua Portuguesa, tanto que 
quase podemos datar com precisão sua entrada na nossa língua, 
identificar quando e onde essa palavra foi usada pela primeira vez. 
Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro 
de Mary Kato “No mundo da escrita: uma perspectiva 
psicolingüística” de 1986. Na verdade, a palavra letramento é uma 
tradução para o Português da palavra inglesa literacy; os dicionários 
definem assim essa palavra: 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
6 
 
 
Traduzindo a definição acima, literacy é “a condição de ser letrado” - 
dando à palavra “letrado" sentido diferente daquele que vem tendo 
em português. Em inglês, o sentido deliterate é: educated; 
especiallyabletoreadandwrite (educado; especificamente, que tem a 
habilidade de ler e escrever). Literate é, pois, o adjetivo que 
caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita, 
e literacy designa o estado ou condição daquele que é literate, 
daquele que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso 
competente e frequente da leitura e da escrita. Há, assim, uma 
diferença entre saber ler e escrever, portanto, ser alfabetizado, e 
viver na condição ou estado de quem sabe ler e escrever, isto é, ser 
letrado. 
 
Assim, letramento é o resultado da ação de "letrar-se", "tornar-se 
letrado". Letramento, no contexto escolar, é o resultado da ação de 
ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O estado 
ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como 
consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas 
sociais. Esse estado ou condição torna a pessoa diferente, pois ela 
adquire um outro estado, uma outra condição. Isso indica que o 
sujeito letrado passa a ter uma outra condição social e cultural, 
transformando o seu modo de viver na sociedade, sua inserção na 
cultura, sua relação com os outros, com o contexto e com os bens 
culturais. 
Na perspectiva de Magda Soares, o que mais especifica o letramento 
na escola é a imersão das crianças na cultura escrita a partir da 
participação em experiências variadas com a leitura e a escrita, 
conhecimento e interação com diferentes tipos de gêneros de 
material escrito (SOARES, 2004, p. 13). Para Leda Verdiani Tfouni, 
enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um 
indivíduo, ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos 
sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma 
sociedade (TFOUNI, 1995, p. 20). Outros autores, como Emília 
Ferreiro, por exemplo, não usam os dois termos. Para ela, os 
conceitos de alfabetização e letramento significam a mesma coisa, ou 
seja, um conceito está inserido no outro. O processo de letramento 
ou cultura letrada não acontece de modo espontâneo, exige mediação 
da professora e/ou da família, proporcionando aos alunos, de forma 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
7 
 
constante e significativa, a interação com as práticas sociais de 
leitura e escrita, isto é, com a cultura escrita em especial a literatura 
Infantil. 
Alfabetização e o seu conceito: 
• envolve o caráter de elaboraçãoda criança sobre si mesma: a 
criança é um sujeito ativo e constrói hipóteses sobre a 
linguagem oral e escrita. 
• constitui uma forma de compreender o mundo que a cerca; 
• é uma sintonia com este mundo, o que constituirá fundamentos 
para aquisições futuras dos Anos Iniciais; 
• alfabetização e letramento são processos que não se iniciam 
somente na instituição escolar; 
• é a integração com o meio e a percepção do que rodeia a 
criança; 
• significação: busca de sentido e relação com palavras, 
enunciados, textos; 
• o aprendizado da língua materna é uma ação anterior à entrada 
da criança na escola; 
• a sistematização de sua comunicação usando da modalidade 
escrita e leitura do pensamento do outro por meio de símbolos 
ideográficos. 
Acerca do Letramento 
A ação de aprender e ensinar o código alfabético (as relações entre 
letras e sons) deve ser anterior ao contato com o material escrito. 
Esse contato pode e deve ser proporcionado na Educação Infantil: 
folheando, manuseando, olhando ilustrações, um conhecimento e 
reconhecimento que se faz pelos sentidos, pela afetividade e pelo 
aspecto cognitivo. 
Na Educação Infantil, a transição da oralidade para a escrita deve 
pressupor: 
• o contato coletivo; 
• a habilidade de leitura, posteriormente, será individual; 
• o processo de discussão e descoberta; 
• reconhecer letras e palavras, trocar informações com os 
colegas; 
• ganhar confiança para entrar no mundo da escrita. 
• os conhecimentos que as crianças possuem quando entram 
para a escola dependem de vários fatores. 
Você recorda de como era a sua sala de aula? Como era a 
organização das mesas, dos materiais, dos livros... da mesa da 
professora? Com certeza, você deve ter muitas lembranças. Por essa 
razão, nossa discussão nesta aula será sobre o ambiente 
alfabetizador. Algumas imagens podem nos motivar para este estudo. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
8 
 
Convido a voltar no tempo e pensar como uma criança: em qual 
destas salas você gostaria de estudar? 
Você já ouviu falar que na escola 
é preciso criar um ambiente alfabetizador? Pois é. O seu 
planejamento, do ponto de vista metodológico, consiste em criar um 
ambiente no qual as crianças em fase de alfabetização 
pudessem usar a língua escrita, mesmo antes de dominar “a 
primeiras letras”. A organização do ambiente alfabetizador 
proporciona à criança o contato com a língua, sua utilização nas 
práticas sociais. Esse contato oportuniza significação e função à 
alfabetização e favorece a exploração, por parte da criança, do 
funcionamento da língua escrita. 
Se pudéssemos resumir em algumas 
palavras, o ambiente alfabetizador é aquele que favorece o contato 
com a língua escrita e os seus usos sociais. Portanto, ele cria um 
contexto de cultura escrita com o objetivo de disponibilizar a 
familiarização com a escrita e a interação com diferentes tipos, 
gêneros, portadores e suportes textuais. 
Para ver e rever... 
https://www.youtube.com/watch?v=vSTLf2EEIqw 
 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
9 
 
 
O ambiente onde se dá a prática educativa de alfabetização e 
letramento interfere favoravelmente ou não nos resultados desses 
processos. Assim sendo, do ponto de vista pedagógico, a sala de aula 
não pode ser concebida somente como um lugar destinado a abrigar 
alunos e professores durante o trabalho de alfabetização e 
letramento. Ela é, antes de tudo, um meio educativo, isto é, há a 
intencionalidade do trabalho pedagógico alfabetizador. Diante dessa 
colocação, esse ambiente deve ser construído, planejado, organizado 
a partir das necessidades dos sujeitos que o ocupam a partir da 
participação conjunta dos alunos e do professor. 
Porém, não podemos confundir ambiente alfabetizador com salas e 
paredes repletas de informações, alfabetos e trabalhos realizados 
pelas crianças. Esse ambiente é muito mais do que isso, pois 
contempla comportamentos, atitudes, usos e reflexão sobre a língua 
nas suas mais variadas manifestações. As paredes da sala de aula 
servem como murais para exposições das atividades desenvolvidas 
pelos alunos e também de cartazes elaborados pelos professores. Nas 
salas de alfabetização, expor o alfabeto é fundamental. 
Todas as situações de comunicação nas quais há a necessidade do 
uso da escrita compõem a criação desse ambiente. Entre os 
exemplos, podemos destacar: leitura e interpretação da regra de um 
jogo, escrita de uma carta ou bilhete, de um convite ou de uma 
receita. Essas são tarefas que tradicionalmente as crianças e os 
professores realizam fora da sala de aula, mas que podem ser 
partilhadas com as crianças em atividades de exploração dos 
diferentes usos da escrita e da leitura. Entre as estratégias para o 
planejamento e a organização de ambientes alfabetizadores está a 
proposta de criação dos cantos temáticos como espaços preparados 
com materiais livros, revistas, maquetes etc. com a finalidade de 
proporcionar momentos de pesquisa, investigação e descobertas. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
10 
 
Mudar a posição das carteiras é uma forma de adequar a sala de 
acordo com o tema da aula e proporcionar um aproveitamento 
melhor. Se você vai contar uma história ou fazer um debate, a 
melhor posição é fazer um círculo, pois os alunos poderão participar e 
dar opiniões, permitindo que todos se vejam. Enfim, a criança 
aprende a ler lendo, a escrever escrevendo num ambiente 
alfabetizador “vivo” que permita ler o mundo com sentido, função, 
sentimento, criação, tendo uma professora que ensina de verdade, 
compreende a indissociabilidade e a especificidade da alfabetização e 
do letramento e conduz o processo com atividades didáticas que 
promovem de fato a aprendizagem. 
1. A QUESTÃO DOS MÉTODOS NOS PROCESSOS DE 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
Ao nos referirmos aos processos de ensino e aprendizagem da leitura 
e da escrita, é imprescindível estudar as questões metodológicas 
pelas quais os educadores organizam o seu trabalho pedagógico. Essa 
discussão é necessária, pois muito se fala que a alfabetização e o 
letramento dependem do emprego de bons métodos de ensino. A 
questão metodológica na organização desses processos é 
fundamental, mas é preciso ressignificar o próprio conceito de 
método no contexto específico da aprendizagem da leitura e da 
escrita. O conceito de método será aprofundado em nossa teleaula. 
Gostaria de apresentar para você um breve resumo dos métodos de 
alfabetização que foram utilizados na história da alfabetização no 
Brasil. Os teóricos classificam os métodos de ensino em dois grandes 
grupos, baseados nos princípios psicológicos neles envolvidos: os 
sintéticos e os analíticos. Outros admitem ainda um terceiro grupo, o 
dos analíticos-sintéticos ou mistos, resultantes da combinação 
dosdois processos. 
Métodos sintéticos 
Os métodos sintéticos subdividem-se em: 
a) alfabético: o aluno aprende as letras isoladamente, liga as 
consoantes às vogais, formando sílabas; reúne as sílabas para formar 
as palavras e chega ao todo (texto); 
b) fonético ou fônico: o aluno parte do som da letras, une o som da 
consoante ao som da vogal, pronunciando a sílaba formada; 
c) silábico: o aluno parte das sílabas para formar palavras. 
Métodos Analíticos 
Os métodos analíticos subdividem-se em: 
a) palavração: este método parte da palavra. Existe aqui a 
preocupação de que vocábulos apresentados tenham sequência tal, 
que englobam todos os sons da língua e as dificuldades sejam 
sistematizadas gradativamente. Depois da aquisição de determinado 
número de palavras, formam-se as frases; 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
11 
 
b) sentenciação: esse método parte da frase para depois dividi-la em 
palavras, de onde são extraídas os elementos maissimples: as 
sílabas; 
c) conto, estória (global): esse método é composto de várias 
unidades de leitura que apresentam começo, meio e fim. Em cada 
unidade, as frases estão ligadas pelo sentido para formar um enredo, 
havendo uma preocupação quanto ao conteúdo que deverá ser do 
interesse da criança. 
Métodos Mistos ou Ecléticos 
O método eclético seria o analítico-sintético, ou sintético-analítico. 
Tem como característica as atividades simultâneas de análise e 
síntese, compor e decompor (ou vice-versa) no âmbito de uma lição, 
a partir da qual os alunos são levados a analisar, comparar e 
sintetizar, simultaneamente, até se familiarizarem com os elementos 
da linguagem e dominar o mecanismo da leitura.63 
Quando pensamos num ambiente alfabetizador, imaginamos, para a 
criança, um ambiente alegre, repleto de letreiros, embalagens, 
jornais, revistas, livros para que ela tenha acesso ao mundo da 
escrita. É inegável que a criança brinca, independente do apoio ou a 
promoção do adulto. Além disso, a criança não precisa de nenhum 
incentivo para iniciar uma brincadeira. O educador no planejamento e 
construção do ambiente alfabetizador pode criar ambientes lúdicos 
com materiais escritos significativos ao universo infantil para que as 
crianças vivenciem o letramento de maneira intencional. 
Vale a pena ver... 
A importância de brincar com nossos filhos. 
 
<https://www.youtube.com/watch?v=CUQNK0_0zD8>. 
Brincar no processo de alfabetização e letramento integra as 
atividades e deve fazer parte do trabalho pedagógico. Para a criança, 
ela está apenas brincando, mas o educador, profissional teoricamente 
sofisticado, esse brincar é dotado de muitos significados e promove o 
desenvolvimento e a aprendizagem da criança. De acordo, com 
Piaget, os jogos fazem parte do ato de educar, num compromisso 
consciente, intencional e modificador da sociedade; educar 
ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando 
consumir passivamente. Antes disso é um ato consciente e planejado, 
é tornar o indivíduo consciente, engajado e feliz no mundo 
(WAJSKOP, 1995, p. 63). 
Vale a pena relembrar: brincadeiras de criança: 
 
<https://www.youtube.com/watch?v=QoIIToKC1v4>. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
12 
 
Várias são as formas de brincar e, em todas elas, existe o processo 
de criatividade e construção. O brinquedo proporciona o aprender-
fazendo e brincando. Por meio de jogos e brincadeiras, a criança pode 
aprender novos conceitos, adquirir informações e até mesmo superar 
dificuldades de aprendizagem. 
 
A criança frente a situações lúdicas desenvolve o funcionamento do 
pensar e alcança níveis de desempenho que só por meio da 
estimulação e do brincar são atingidos. É essencial que a criança 
brinque. Brincando, cantando, se expressando, contando, brincando 
com as histórias ou simplesmente ouvindo-as, ela estará se 
desenvolvendo como um ser integral. Brincar em sala de aula 
proporciona momentos ricos em interação e aprendizagem, 
auxiliando tanto os professores como as crianças no processo de 
ensino e aprendizagem. Por meio do brincar há criação, imaginação, 
antecipação e inquietação. Assim, ela transforma, levanta hipóteses e 
traça estratégias para a busca de soluções. 
Entendemos que utilizar uma proposta que privilegie o brincar 
(brincadeiras, jogos, histórias, dramatização e manifestações 
artísticas) atraia, motive e, acima de tudo, convoque a criança a 
participar. Esta participação espontânea faz com que ela se torne 
uma “pesquisadora” consciente do objeto de ensino, objeto que nós 
professores colocamos ao seu alcance. Desta forma, gerenciamos o 
aprendizado à medida que escolhemos o que colocamos à disposição 
desta pesquisa, o conteúdo que julgamos ser importante e estar no 
momento adequado para a criança aprender. Consideramos que o 
brincar deva ocupar um espaço central na educação das crianças e, 
entendemos que o professor é figura fundamental para que isso 
aconteça, criando os espaços, oferecendo material e partilhando das 
brincadeiras. 
Se, para criança, a escrita é uma atividade complexa, o jogo, ao 
contrário, é um comportamento ativo cuja estrutura ajuda na 
apropriação motora necessária para a escrita. Ao lado das atividades 
de integração da criança à escola, deve-se promover a leitura e a 
escrita juntamente, utilizando-se para isto a dramatização, 
conversas, recreação, desenho, música, histórias lidas e contadas, 
gravuras, contos e versos. O jogo, se convenientemente planejado, é 
um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento 
sistemático. Três aspectos, por si só, justificam a incorporação do 
jogo nas aulas: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas 
intelectuais e a formação de relações sociais. 
Os jogos fornecem um suporte metodológico importante pois, por 
meio deles, os alunos podem criar, pesquisar, brincar e aprender. 
Quando a criança brinca, ela o faz de modo bastante compenetrado, 
nesse momento, ela não está preocupada com a aquisição do 
conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
13 
 
física, mas, é nesse momento que ocorre a aprendizagem. Conforme 
Silveira Barone (1998, p. 2): 
[...] os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do 
contexto de aprendizado. Um dos usos básicos e muito importantes é a 
possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro é o incremento da motivação. 
[...] um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está 
sendo aprendido. Até mesmo o mais simplório dos jogos pode ser empregado para 
proporcionar informações factuais e praticar habilidades, conferindo destreza e 
competência. 
Porém essa perspectiva não é tão fácil de ser adotada na prática. 
Podemos nos perguntar: como? O bom uso de jogos em aula requer 
que tenhamos uma noção clara do que queremos explorar ali e de 
como fazê-lo. Questões práticas quanto à implantação dos jogos e 
quanto à regularidade com que o jogamos também precisam ser 
discutidas para que possamos tirar pleno proveito do jogo como 
recurso pedagógico e instrumento de trabalho. Os enfoques são 
variados em relação ao jogo, mas todos concordam em que o jogo é 
um fenômeno da mente, sendo visto como uma atividade que pode 
ser expressiva ou geradora de habilidades cognitivas gerais e 
específicas. A competitividade na hora do jogo também tem uma 
finalidade didática específica, trabalham ainda o saber perder e o 
querer ganhar: 
• Saber perder, porque não se ganha sempre e é preciso fazer a 
aprendizagem da perda e do luto que a envolve, o reconhecimento da 
superioridade dos lances do ganhador, de que não sou o dono da verdade o 
tempo todo e que paradoxalmente, até perdendo, aprendo tanto jogando 
que mesmo perdendo o jogo ainda posso sair ganhando. 
• Querer ganhar, porque neste mundo competitivo em que vivemos é preciso 
aprender com as perdas ou fracassos. Que lições posso tirar daí? O que meu 
adversário fez que lhe valeu a vitória? O que deveria ter feito para ter tido 
performance melhor? Aprender a ganhar eticamente! 
A partir da construção e da vivência em ambientes lúdicos com 
materiais escritos, a criança poderá ter a oportunidade de apresentar 
um comportamento de letramento. A grande contribuição da 
construção desse ambiente é a possibilidade de proporcionar o 
contato com a leitura e a escrita de maneira contextualizada, 
divertida e, acima de tudo, com possibilidade de transformação. 
2. O PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO EM RELAÇÃO À LEITURA E 
ESCRITA 
É fundamental planejar na Educação Infantil. Planejar permite tornar 
consciente a intencionalidade que preside a intervenção; permite 
prever as condições mais adequadas para alcançar os objetivos 
propostos; e permite dispor de critérios para regular todo o processo.Se admitirmos que as finalidades da educação – favorecer o 
desenvolvimento da criança em todas as suas capacidades – 
alcançam-se mediante o trabalho que se realiza em torno dos 
conteúdos que fazem parte do currículo, é inegável que a análise e a 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
14 
 
tomada de decisões sobre o planejamento constituem um elemento 
indispensável para assegurar a coerência entre o que se pretende e o 
que se sucede na sala de aula. Planejar é refletir sobre o que se 
pretende, reflexão como se faz e como se avalia. Trata-se de uma 
reflexão que permita fundamentar as decisões que são tomadas e 
observadas pela coerência e pela continuidade. 
Deixo abaixo uma contribuição a você: uma sugestão de uma rotina 
possível para crianças de 5 anos de idade na Educação Infantil. Trata-
se de uma sugestão. É necessário adaptá-las ao seu contexto 
regional e institucional, tendo em vista as crianças concretas da sua 
escola. 
 
Que busquemos planejar cuidadosamente nossos momentos de 
escrita e de leitura. Fica então o convite de ensinar a ler e a escrever 
com inteligência! 
Abraço afetuoso da Profa. Kel! 
 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
15 
 
PEDAGOGIA 
WEB AULA 1 
Unidade 2 – Alfabetização e Letramento: 
Contribuições da Neurociência Sobre o Pensamento e 
a Linguagem 
A leitura é uma aventura que nos fascina e convida a um mundo de 
possibilidades. A leitura sempre deve ser vista como um processo 
meio para realizar projetos que nos ultrapassa. Há na leitura um 
poder: o de aproximar pessoas, experimentar o ingresso em mundos 
diferentes e envolver-se em acontecimentos importantes. Do ponto 
de vista do cérebro humano, a leitura não demanda comandos 
específicos. Em palavras mais claras, a leitura e a escrita, assim 
como fala e escrita, não solicitam qualquer capacidade especial ou 
um desenvolvimento específico do cérebro humano. 
Ler não é apenas decodificar um código e escrever não é apenas 
codificar a oralidade (fala). Ao contrário, o ato da leitura e da escrita 
é, do ponto de vista do cérebro humano, atividades significativas que 
em nada corresponde a uma atividade mecânica e passiva. Ler e 
escrever são atos repletos de sentidos. De acordo com Smith (2003, 
p. 17, grifos do autor), a leitura é uma “[...] atividade construtiva e 
criativa, tendo quatro características distintivas e fundamentais – 
é objetiva, seletiva, antecipatória, e baseada na compreensão, temas 
sobre os quais o leitor deve, claramente, exercer o controle”. 
Figura ilustrativa 1 – Características distintivas da leitura e escrita. 
 
Fonte: Smith (2003). 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
16 
 
A leitura e a escrita são atos pelos quais o cérebro humano atribui 
uma finalidade. Assim, esses atos são objetivos porque sempre 
representa uma intencionalidade do leitor/escritor, sem a qual 
poderiam se constituir em um ato inútil. É seletiva, pois direcionamos 
nossos atos para aquilo que desperta o nosso interesse, ou seja, para 
aquilo que desperta a nossa atenção. Por isso é que 
vemos/lemos/escrevemos aquilo que afetivamente desperta o nosso 
interesse. É também antecipatória, pois ao ler/escrever sempre 
temos um objetivo a ser alcançado, ou seja, define nossos objetivos e 
expectativas. Assim, concordamos com Smith que a compreensão 
“[...] é a base, não a consequência da leitura”. O nosso cérebro 
enfrenta inúmeras dificuldades na compreensão da linguagem oral e 
escrita. Diante das inúmeras possibilidades, muitas vezes ambíguas, 
o cérebro pode ficar confuso na compreensão. Isso significa dizer que 
compreender é a consequência do processamento da informação no 
cérebro para lidar com as múltiplas possibilidades que a linguagem 
representa. Por isso, compreender a leitura ou a escrita não é em si 
um resultado, mas uma forma pela qual o cérebro tenta ordenar, 
organizar e dar sentido à linguagem nas suas diferentes modalidades. 
Figura ilustrativa 2 – Dica de estudo para ampliação do estudo 
acerca da modalidade da linguagem oral e escrita. 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=4dh5wWJHhBQ 
SEÇÃO 1 DE APRENDIZAGEM – AS RELAÇÕES ENTRE 
PENSAMENTO E LINGUAGEM 
O pensamento humano não é expresso de forma simples pelas 
palavras. Mas, ao contrário, é por meio das palavras que o 
pensamento se concretiza e passa a existir. Utilizando uma metáfora, 
as palavras constituem a vestimenta do pensamento. Porém, como já 
estudamos no início dessa unidade, as palavras expressam 
corretamente o que o ser humano está querendo dar sentido. Por 
isso, afirmamos que as relações entre pensamento e linguagem 
possuem duas fontes pelas quais se constituem: uma fonte genética 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
17 
 
situada na própria estrutura no cérebro humano; e outra fonte social 
que sempre resulta de mediações sociais e culturais. O pensamento é 
como uma linguagem silenciosa situada no cérebro humano. Essa 
linguagem silenciosa, chamada por Vygotsky (1987), é expressa pelo 
pensamento discursivo (união entre o pensamento e a palavra). 
Como afirma o mesmo autor, o ato do pensamento não se expressa 
na palavra em si, mas é por meio da palavra que se realiza o próprio 
pensamento. Observe que na visão desse autor há uma relação 
íntima e dialética entre pensamento e linguagem como um processo 
contínuo. 
[...] a leitura não pode ser separada do pensamento. A leitura é uma atividade 
carregada de pensamentos. Não existe diferença entre ler e qualquer outro tipo de 
pensamento, exceto que, com a leitura, o pensamento focaliza-se em um texto 
escrito. A leitura pode ser definida como um pensamento que é estimulado e 
dirigido pela linguagem (SMITH, 2003, p. 37). 
O pensamento não pode ser concebido em nosso olhar como uma 
especialização ou um conjunto específico de processos especializados, 
ou seja, o pensamento não é uma capacidade distinta. Assim, “[...] o 
pensamento é a operação normal da teoria de mundo à medida que o 
cérebro realiza sua própria tarefa de criar e testar, seletivamente, 
possíveis mundos, mesmo quando padrões de comportamento 
estabelecidos tornam-se fixados em hábitos [...] (SMITH, 2003, p. 
37)”. Isso quer dizer que o pensamento não é estático e passivo, mas 
sim criativo e construtivo. Muitas vezes, temos uma apropriação 
incorreta ao afirmar que as palavras são o resultado do pensamento: 
primeiro pensamos e depois expressamos o pensamento por meio 
das palavras. Muito ao contrário, o pensamento não é simplesmente 
expresso em palavras, mas sim é por meio dessas palavras é que se 
constitui o ato do pensamento. Assim, as palavras: 
• São construções dialéticas entre pensamento e a própria palavra em 
si; 
• E os seus sentidos não são sempre constantes e imutáveis; 
• Modificam-se no processo do seu desenvolvimento. 
Por isso, é correto afirmar que, se a palavra se modifica à medida 
que as aprendemos e desenvolvemos os sentidos autênticos, 
modifica-se, em consequência, a sua relação com o pensamento. 
No cérebro humano há íntima relação entre a função superior 
chamada memória. Além disso, há áreas especializadas responsáveis 
por essa linguagem silenciosa que resultam de processos eletro-
bioquímicos das redes neuronais que se entrelaçam por meio dos 
prolongamentos dos axônios. Os axônios conectam-se entre si por 
meio das sinapses. São milhões de conexões que se especializam na 
produção dessas funções superiores: memória, linguagem e 
pensamento. Isso quer dizer que a especialização do cérebro humano 
para produzir linguagem e pensamento é em parte herdada 
geneticamente pelo ser humano. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
18 
 
Aproximadamente após os 6 anos de idade é que as relações entre 
pensamento e linguagem refinam-se e são expressados por meiode 
um discurso coerente. Esse discurso coerente é refinado pela 
capacidade de abstração. É nesse momento que a união entre 
linguagem interior (linguagem para si) e linguagem exterior 
(linguagem para os outros) se constitui como planos da palavra. Em 
palavras mais claras, o aspecto sonoro (fala) e aspecto semântico 
(significado) constituem uma unidade autêntica, cada qual com leis 
próprias de desenvolvimento. 
Isso nos leva a concluir que: 
• A linguagem não serve como expressão de um pensamento pronto; 
• Os planos da palavra (sonoro e semântico) representam a transição 
do plano interior para o exterior (fala) e do plano exterior para 
interior (construção de sentido); 
• A palavra conscientizada é a transformação do pensamento em 
palavra; 
• A linguagem interior não antecede a linguagem exterior, nem mesmo 
a linguagem exterior antecede a linguagem interior. 
O que denominamos por pensamento discursivo é a plena união entre 
o ato do pensamento e da linguagem que possui uma raiz genética e 
outra sociocultural. Há uma predisposição genética que nos foi 
transmitida para aprender qualquer língua. A linguagem depende do 
processamento de informações que dependem do reconhecimento do 
cérebro, além da sua íntima relação com o sistema límbico que 
empresta à linguagem uma função emotiva ponderada pela parte 
frontal que confere à linguagem a ponderação racional, ágil e 
motivada segundo o contexto cultural no qual o sujeito se insere. 
Figura ilustrativa 3 – Dica para ampliação do estudo acerca da 
funcionamento do cérebro humano. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
19 
 
 
 
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=sk0rPAGoJcs&list=PLAE8C34C8A0130128 
 
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=jN-aNKfnMBA 
 
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=u9Kjn-XHqM4 
É importante considerar que a língua é um elemento importante na 
constituição da linguagem e se expressa por meio do ato da fala. A 
língua influi diretamente no processamento da informação no cérebro 
humano. Por essa razão é que afirmamos que o pensamento é 
linguagem e produto cultural de um grupo social que emprega os 
usos sociais dessa língua nas suas relações. A língua praticada por 
um grupo de falantes influencia, consequentemente, as maneiras 
pelas quais o cérebro humano armazena uma informação antiga e 
internaliza uma nova. A língua pode ser usada como um instrumento 
do pensamento, bem como um instrumento de comunicação, 
interação e produção de discursos, ou seja, entre os sujeitos da 
linguagem. Os usos e as práticas sociais que envolvem o uso da 
linguagem dependem intimamente das formas pelas quais a 
linguagem foi aprendida/desenvolvida pelo sujeito. 
Smith (2003) aponta três condições para o pensamento. A ilustração 
abaixo indica cada uma delas. 
Figura ilustrativa 4 – Condições do pensamento. 
 
Fonte: Smith (2003). 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
20 
 
O conhecimento prévio refere-se ao fato de que a linguagem e o 
pensamento sempre têm um tema, ou seja, o sujeito traz 
informações prévias que possibilitam a linguagem e o pensamento. A 
disposição refere-se às propensões do sujeito. A autoridade é o 
engajamento do sujeito em ato de pensamentos de natureza 
significativa. 
SEÇÃO 2 DE APRENDIZAGEM – O PROCESSAMENTO DA 
LEITURA E DA ESCRITA 
O que acontece no cérebro humano quando lemos? A essa questão 
iremos agora analisar o que ocorre por trás do cérebro. A primeira 
consideração é a de que os olhos somente observam e que o cérebro 
é que determina aquilo que vemos e como o vemos. Isso implica 
afirmar que “[...] as decisões perceptivas do cérebro estão baseadas 
apenas em parte na informação colhida pelos olhos, imensamente 
aumentadas pelo conhecimento que o cérebro já possui (SMITH, 
2003, p. 84)”. Segundo Smith (2003, p. 88), “[...] o fato de os olhos 
estarem abertos não é indicação de que a informação visual do 
mundo a nossa volta está sendo recebida e interpretada pelo 
cérebro”. 
Assim, na fisiologia visual há três grandes considerações importantes 
para serem consideradas no processamento da leitura. São elas: 
Figura Ilustrativa 5 – Condições do funcionamento olhos-cérebro 
para processamento da leitura. 
 
Fonte: Smith (2003). 
Como você já sabe de tudo o que estudamos aqui, a leitura e a 
escrita constituem aspectos importantes para a construção da 
personalidade do sujeito, já que constituem atos especificamente 
humanos. Aprender a falar e a escrever constituem passos 
importantes na vida social e cultural do sujeito. A linguagem na sua 
inter-relação com o pensamento modifica os comportamentos do 
sujeito com o mundo, bem como também o mundo em relação ao 
sujeito. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
21 
 
Toda criança neurotípica pode aprender a ler/escrever sem nenhuma 
dificuldade. As dificuldades em aprender a ler/escrever ocorrem pois 
pode ocorrer que a forma pela qual se ensina algo não se assemelha 
com formas preponderantes pelas quais o sujeito aprende. 
Interessante notar a questão tão discutida atualmente sobre o 
momento mais adequado sobre a idade ideal para alfabetizar e letrar. 
O que verificamos do ponto de vista da Neurociência é a de que a 
idade psicológica não corresponde à idade cronológica. Além disso, 
não há nenhum estudo recente que indica que haja prejuízos ao 
desenvolvimento e aprendizagem da criança à aprendizagem da 
leitura e escrita ao final da idade pré-escolar. O que é indicado é que 
são necessárias neoformações básicas, tais como: a imaginação, a 
capacidade de reflexão, capacidade de atenção sustentada. 
Ao organizar a leitura, o cérebro humano aciona diversas áreas e 
mecanismos cerebrais (nível psicofisiológico) formados a partir da 
própria atividade da leitura e da escrita. 
Conforme explicita Menegassi (1995), os aspectos neuropsicológicos 
envolvidos no ato da leitura e escrita são: 
• O ouvido fonemático; 
• Análises e sínteses cinestésicos-táteis; 
• Organização sequencial motora; 
• Regulação e o controle da atividade voluntária; 
• Análise e síntese espacial; 
• Retenção audioverbal; 
• Retenção visualverbal. 
Todos esses aspectos situam-se nas áreas secundárias e terciárias do 
córtex cerebral e não em uma única área especializada. 
A leitura se dá a partir da coordenação de 
informações visual e não visual. Segundo Smith (2003), a informação 
visual é uma parte do processo de leitura, mas não é a única. É 
preciso também a informação não-visual, que constitui o 
conhecimento sobre o assunto, ou seja, aquilo que discutimos sobre o 
conhecimento prévio. Por exemplo, o conhecimento sobre como ler é 
uma informação não visual que faz parte da leitura. Desse exemplo, 
podemos perceber as razões de algumas crianças sentirem muitas 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
22 
 
dificuldades em ler e escrever, ou seja, possuem poucas informações 
não-visuais que tornam esses atos muito complexos. Em outras 
palavras, a leitura é o pensamento que está direcionado sobre uma 
informação visual impressa. Por isso, podemos dizer que é quase 
impossível ler sem pensar. Isso somente é possível quando se lê 
algum texto no qual não há nenhum sentido. 
SEÇÃO 3 DE APRENDIZAGEM – IDENTIFICAÇÃO DE LETRAS E 
PALAVRAS NO CÉREBRO HUMANO 
O aspecto relacionado às letras revela uma das discussões acerca do 
processo de alfabetização e letramento. Identificar letras ou palavras 
individuais é um dos aspectos envolvidos na leitura e na escrita. 
Porém, já de início expomos que a leitura fluente não se relaciona, do 
ponto de vista do cérebro humano, com a leitura isolada de letras e 
palavras. Além disso, é diferente conceitualmente e do ponto de vista 
do processamento da informação os processos cognitivos de 
identificar e reconhecer letras.Identificar letras significa decidir se 
esta ou aquela letra com o qual se confronta deve ser colocada em 
uma determinada categoria. Reconhecer envolve a ideia de que o 
objeto com o qual nos confrontamos já foi visto anteriormente, 
mesmo que ele não tenha sido identificado anteriormente. 
Assim: 
 
A letra é composta de duas categorizações: uma categorização 
gráfica (design ou desenho da letra) e a categorização funcional 
(função da letra no contexto da palavra). Representamos essa 
informação por meio de um esquema. Letra é sempre uma 
construção simbólica do cérebro. As letras e sua identificação 
envolvem a discriminação visual, bem como a categorização visual. 
Acompanhe comigo! 
 
Nos planos da linguagem acima exposto sempre é bom destacar que 
há uma unidade autêntica entre o aspecto semântico (construção do 
sentido/significado) e o aspecto sonoro exterior (construção da 
consciência fonológica, por exemplo). O aspecto semântico é guiado 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
23 
 
por um processo de análise e o aspecto sonoro é construído pelo 
processo de síntese. 
A conclusão específica a ser extraída (...) é a de que as letras são, na verdade, 
compostas de um número relativamente pequeno de características. As letras que 
são facilmente confundidas, como ae e, ou t e f, devem ter um número de 
características em comum, e aquelas que raramente são confundidas, 
como o e w ou d e y, devem ter poucas características, ou nenhuma em comum. A 
conclusão geral a ser extraída é a de que o sistema visual é realmente analítico de 
características. A identificação de letras é conseguida pelo exame do olho do 
ambiente visual para as informações sobre as características que eliminarão todas 
as alternativas, exceto uma, assim permitindo que uma identificação seja feita 
(SMITH, 2003, p. 141). 
Identificar as letras é muito diferente de reconhecer as letras. 
Identificar é uma decisão do sujeito em determinar se um 
determinado objeto com o qual o cérebro se confronta deve ser 
colocado em uma categoria ou não. De acordo com isso, na 
identificação das letras não há necessidade de ter visto a letra 
anteriormente. Já o reconhecimento implica em já ter visto o objeto 
(letra) antes. Por isso, dizemos no nosso cotidiano que reconhecemos 
uma pessoa sem identificar o seu nome. Lembramos também que o 
cérebro humano constitui redes neuronais específicas para o 
processamento das letras. 
Além da identificação e reconhecimento das letras, outro ponto 
necessário para nosso estudo é o processo de como o nosso cérebro 
reconhece as palavras. Primeiramente, podemos entender que as 
palavras e sua compreensão sempre se modificam conforme ocorre o 
desenvolvimento do cérebro. Além disso, isso nos leva a considerar 
que se a palavra modifica-se, modifica-se também o pensamento. Já 
assinalamos anteriormente que, segundo Vygotsky (1987, p. 409), 
“[...] o pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza”. 
Disso decorrem alguns pontos necessários para nossa reflexão: 
• O significado/sentido da palavra sempre é algo mutável, ou 
seja, inconstante. Por essa razão é que Smith (2003, p. 190) 
afirma que “[...] o significado está além das palavras, não se 
pode dizer o que é significado em geral, não mais do que se 
pode dizer qual é o sentido particular de determinada palavra 
ou grupo de palavras [...]”. 
• A palavra sempre contém uma generalização, pois é uma 
tentativa de controlar o aspecto inconstante do seu significado. 
A causa disso está no fato de que o nosso cérebro não deixa de 
ficar perplexo diante das inúmeras possibilidades de 
entendimento da palavra. A sintaxe, a gramática, a ortografia 
são tentativas de “congelar” esses sentidos para que sejam 
acessados e compreendidos pelos sujeitos praticantes de um 
idioma. Em palavras mais simples: nós estabelecemos acordos, 
convenções para lidar com esses sentidos inconstantes que as 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
24 
 
palavras podem ter no contexto do pensamento e da 
linguagem. 
 
A linguagem falada e escrita exerce uma função muito significativa no 
processo de leitura. Assim, há dois aspectos presentes na linguagem: 
a linguagem aparente e a linguagem profunda. A linguagem aparente 
é aquela observável diretamente, por exemplo, por meio da 
oralidade. A linguagem profunda é denominada como linguagem 
interior. A linguagem interior se dá no interior da criança, isto é, esta 
pensa e imagina a palavra em vez de (ou antes) de pronunciá-la. 
Outro aspecto importante é a de que as frases não são entendidas e 
compreendidas por palavras isoladas. 
 
Um dos mecanismos que o cérebro humano dispõe para compreender 
é o da previsão. A previsão como forma de compreender 
palavras/frases constitui-se como um processamento de informação 
direcionado a eliminar previamente alternativas que sejam 
improváveis no contexto no qual está a palavra e a frase. 
 
O mecanismo da previsão não é aprendido e desenvolvido pelo 
sujeito de forma espontânea. Ao contrário, é algo que deve ser 
ensinado e trabalho no espaço institucional da escola. A previsão 
possibilita ao leitor, diante da incerteza que tem frente ao sentido de 
uma palavra/frase, que ele possa limitar o verdadeiro sentido a 
apenas alguns aspectos. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
25 
 
 
Pelo fato de que o cérebro humano realiza a leitura por meio de um 
mecanismo chamado de previsão, nos leva a considerar que a leitura 
não é somente um mero processo de decodificação. Pelo fato de que 
o cérebro humano fica sempre à frente das palavras, ler é um 
processo criativo, ativo de compreensão. Aquele que lê e escreve não 
prestam atenção direta e única da palavra como um processo 
mecânico de tradução como se suas mentes estivessem vazias, sem 
um objetivo anterior ou uma determinada expectativa. Muito ao 
contrário, a leitura e a escrita pressupõem conhecimento prévio, um 
objetivo e certa dose de expectativa. Portanto, dizemos que ler e 
escrever são atividades-meio que se direcionam à constituição de um 
projeto pessoal do leitor. 
Ler e escrever sempre envolve as emoções do sujeito. Segundo 
Smith (2003, p. 49), “[...] a linguagem é compreendida mantendo-se 
à frente dos detalhes recebidos, com os quais o cérebro humano luta 
para relacionar-se”. Ou seja, o cérebro luta para evitar ambiguidades. 
Assim, do ponto de vista do cérebro humano, as palavras: 
• São organizadas; 
• São selecionadas; 
• Escolhidas e expressas em um veículo (oral ou escrito); 
• Dependentes da situação na qual ela é utilizada; 
• Dependentes do contexto no qual ela é utilizada. 
A especialização da linguagem escrita e 
falada (oralidade) possui convenções (acordos) diferentes cada qual 
com suas regras específicas. Isso indica que não falamos da forma 
que escrevemos e nem escrevemos tal qual o modo pelo qual 
falamos. Com base em Smith (2003), a palavra, quando é 
pronunciada (oralidade), ela “morre”, pois está associada à memória 
de curto prazo. A palavra escrita, ao contrário, depende estritamente 
daquilo que podemos lembrar e daquilo que efetivamente lembramos, 
isto é, das estruturas da memória de longo prazo. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
26 
 
 
Como já afirmamos anteriormente, a linguagem falada ou escrita 
sempre depende de convenções, pois estas permitem a previsão. 
Sempre é importante lembrar que esses acordos/convenções são 
eminentemente sociais, ou seja, expressam um contrato ou uma 
identificação social que pertence ao grupo praticante de um idioma. 
Por isso, o aspecto cultural que sustenta a linguagem é muito 
importante. E é claro, isso já nos remete ao conceito já estruturado 
na unidade anterior sobre o processo de letramento que sempre se 
refere aos usos e prática sociais que envolvem a leiturae a escrita. 
 
Ler é uma atividade-meio de interação entre o escritor e o leitor 
mediatizado pela cultura. Portanto, ler depende diretamente da 
informação visual e da informação não-visual que captamos do meio 
por meio dos nossos olhos. Os olhos são os dispositivos pelos quais 
observamos, mas é o cérebro humano que realiza a leitura que 
constitui uma atividade de processamento das informações captadas 
do meio. Ver é uma decisão perceptiva do cérebro humano. Podemos 
dizer que quanto maior for a informação visual sobre o que se lê, 
menor a necessidade de informação não visual. O contrário também é 
verdadeiro: quanto maior for a informação não visual, menor será a 
necessidade de informação visual. Tanto isso é verdade que nesta 
unidade de estudo conciliamos informações visuais (texto escrito, 
desenhos, gráficos) e não visuais (conceitos). 
 
Além da identificação das letras e das palavras, o cérebro, no 
processamento das informações, também se dedica a identificar os 
sentidos. Os sentidos/significados do texto não são imediatamente 
atribuídos ao texto. Assim é que os sentidos são sempre mediados 
pelo texto. O significado nos auxilia na compreensão das palavras. 
Por isso, a dedicação constante que os professores realizam em sala 
de aula para que os alunos possam acessar os sentidos do texto 
(interpretação textual)! Compreender é um processo ativo do cérebro 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
27 
 
que se relaciona com aquilo que o leitor/escritor já sabem e àquilo 
que desejam saber. A construção dos sentidos é um processo 
primário, fundamental. As palavras escritas constituem um processo 
secundário à compreensão. Por exemplo: o fato de ficarmos 
repetindo para nós mesmos a palavra “casa” de forma contínua não 
garante a compreensão do significado dessa palavra. O mesmo 
acontece com palavras de outros idiomas. Se eu não sou um sujeito 
da linguagem do idioma em inglês, o fato de eu ficar repetindo a 
palavra “table” de forma contínua não garantirá que eu entenda o seu 
significado. Por isso é que Smith (2003) expõe que a palavra em si é 
uma estrutura de superfície e que o significado desta não pode ser 
captado por meio de uma rede de palavras. 
A diferença, acerca da compreensão, é que os leitores trazem ao texto questões 
implícitas sobre o significado, em vez de sobre as letras ou palavras. O termo 
identificação do sentido também ajuda a enfatizar que a compreensão é um 
processo ativo. O significado não reside na estrutura da superfície. O significado 
que os leitores compreendem a partir do texto é sempre relativo àquilo que já 
sabem e àquilo que desejam saber. Colocado de outra maneira, a compreensão 
envolve a redução da incerteza do leitor, que faz perguntas e obtém respostas, um 
ponto de vista já empregado na discussão sobre a identificação de letras e 
palavras. Os leitores devem ter especificações sobre o significado (SMITH, 2003, p. 
186). 
Os fatores de compreensão da leitura são os aspectos compartilhados 
entre o leitor e o escritor, as informações que estes têm dos 
elementos linguísticos, dos esquemas mentais, da formação cultural e 
do contexto no qual se produz a fala e a escrita. 
As estratégias de leitura constituem um fator importante para a 
leitura fluente. As estratégias de leitura envolvem processamento de 
informações no cérebro humano que o leitor utiliza para lidar com as 
informações visuais e não visuais. As estratégias de leitura são de 
natureza cognitiva e complexa de serem observadas e controladas. 
 
Por isso é que dizemos que: 
A leitura nunca é uma atividade abstrata, sem finalidade, embora seja 
frequentemente estudada deste modo por pesquisadores e teóricos e, infelizmente, 
ainda seja ensinada deste modo para muitos aprendizes. Os leitores sempre lêem 
algo, lêem com uma finalidade; a leitura e sua rememoração sempre envolve 
emoções, bem como conhecimento e experiência (SMITH, 2003, p. 198). 
A aprendizagem e o desenvolvimento das estratégias de leitura e de 
escrita se aperfeiçoam no exercício dessas práticas. Tudo vem com o 
tempo e com a prática. A automatização dessas atividades no cérebro 
humano é refinada a partir da experiência. 
Pedagogia – pólo de Cidade Ocidental-GO 5º SEMESTRE 
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Além das estratégias cognitivas que são de difícil observação e 
controle, há as estratégias metacognitivas, que são mais controladas 
e observáveis. Por isso, podem ser controladas pelo leitor e escritor. 
Segundo Goodman (2003), as estratégias metacognitivas são: 
• Predição: que é a estratégia pela qual o leitor antecipa-se ao próprio 
texto e vai construindo sua compreensão. É, de certa forma, uma 
competência de prever o que o texto tratará. 
• Correção: competência pela qual o sujeito leitor retrocede em sua 
interpretação. Ao prever o significado do texto por meio da previsão, 
a hipótese levantada pode não se verificar ou estar incorreta. Assim, 
o mecanismo que o leitor utiliza é a correção para “redirecionar” ao 
verdadeiro sentido do texto. 
• Seleção: competência pela qual o leitor seleciona (escolhe) diante das 
informações do texto as que sejam efetivamente relevantes para 
compreender o que o texto propõe e a sua finalidade. 
• Inferência: competência por meio da qual o leitor complementa as 
informações do texto que está lendo tendo como referência 
conhecimentos e sua bagagem cultural. 
• Confirmação: competência pela qual o leitor verifica se as predições e 
as inferências realizadas sobre o texto se confirmam ou não diante 
dos objetivos e propósitos do texto. 
SEÇÃO 4 DE APRENDIZAGEM – PARA NÃO CONCLUIR... 
Querido aluno e aluna. 
Até aqui, tentamos construir uma caminhada que se pretendeu ser 
lógica e pontual sobre o universo da leitura e da escrita. Meu maior 
desejo é que você não se contente ou se sinta e satisfeito com este 
texto tecido a partir da organização das ideias que se construíram a 
partir de minha visão. Meu desafio a você é que vá mais longe, 
pesquise mais. Supere essas páginas. 
Lindo isso, não? 
Para tal, coloco abaixo um conjunto de textos de aprofundamento 
que podem ser acessados por você. Vamos lá? 
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da Alfabetização. 
São Paulo: Editora Unesp, 2000. 
Disponível em: 
<http://books.google.com.br/books?id=TLF9nN7XyEkC&printsec=fro
ntcover&dq 
=os+sentidos+da+alfabetiza%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-
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BR&sa=X&ei=M7wdT5azHOLnsQLu07TLC 
w&ved=0CDUQ6AEwAA#v=onepage&q=os%20sentidos%20da%20alf
abetiza%C3%A7%C3%A3o&f=false>. 
 
Centro de estudos da Linguagem (CEEL). Livros para download 
Disponível em: <http://www.ufpe.br/ceel/ceel-livros-para-
download.html>.

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