Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AT 1 Atividade Física e Saúde 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 8 UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais 8 2.1 Saúde 9 2.2 Qualidade de vida 11 2.3 Atividade física 11 2.4 Aptidão física 13 UNIDADE 3 - Epidemiologia 13 3.1 Noções gerais sobre epidemiologia 17 3.2 Paciente crônico: características biopsicossociais 18 3.3 Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) 19 3.4 Fatores de risco para as doenças 21 UNIDADE 4 - Promoção da saúde, prevenção primária, secundária e terciária 23 4.1 Aspectos preventivos e terapêuticos do exercício físico 27 4.2 O profissional de educação física e a equipe multiprofissional de saúde 29 4.3 Academia da Saúde 31 4.4 NASF 32 UNIDADE 5 - Benefícios da Atividade Física em Situações Especiais 32 5.1 Atividade física na promoção da saúde do idoso 35 5.2 Atividade física e diabetes 38 5.3 Atividade física e hipertensão arterial 40 5.4 Atividade física e controle de peso 42 UNIDADE 6 - Saúde x Doença: Transtornos Alimentares e da Imagem Corporal 44 6.1 Anorexia 44 6.2 Bulimia 46 6.3 Dismorfia muscular ou vigorexia 46 6.4 Abuso de substâncias nos esportes 48 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Se eu dissesse que possuo uma fór- mula que vai auxiliá-lo a viver mais tempo, evitar – e mesmo curar – al- gumas doenças, aliviar o estresse e torná-lo mais forte com praticamen- te nenhum efeito colateral perni- cioso, provavelmente você pagaria uma boa quantia por ela. Mas, se eu lhe dissesse que ela é gratuita? Pro- vavelmente você demonstraria um certo ceticismo e diria a si mesmo: “É bom demais para ser verdade”, “Ninguém consegue algo por nada” ou “Se é tão bom assim, por que nem todos a possuem?”. A verdade é que eu possuo uma fórmula como essa, e ela não custa nada. Mas você não pode tê-la por nada. Você deve fazer um investimento. A fórmula é ativi- dade física – simples física – simples exercícios. E se você investir pelo menos trinta minutos, três vezes por semana, numa atividade moderada- mente vigorosa, você pode obter os benefícios por mim descritos (NIE- MAN, 1999, p.3). Antes de você começar a leitura des- ta seção da apostila, pedimos desculpas caso o texto apareça fragmentado, cheio de idas e voltas. Sabemos que um bom texto científico deve ser contínuo, de for- ma a não deixar o leitor confuso; nas de- mais seções tentamos seguir esse princí- pio à risca. Porém na introdução, o texto fragmentado faz parte do estilo adotado: tentamos, a partir de uma “fórmula” apre- sentada na epígrafe, levantar uma série de questionamentos (alguns dos quais se- rão concluídos nessa seção, outros serão deixados em abertos, para aguçar o senso crítico, e apenas serão fechados em se- ções posteriores). Desta forma, isso justi- fica os constantes ires e vires do tema. Da mesma forma, inicialmente já justifi- camos o uso de algumas citações de cita- ções (apuds), o que não é recomendado do ponto de vista da metodologia da pesqui- sa, porém, se fez necessário em algumas situações devido à dificuldade em se loca- lizar algumas obras originais. Sugerimos que, na introdução, anotem as questões que mais despertaram sua curiosidade ou dúvidas e após o estudo da apostila reve- jam se as mesmas ficaram realmente cla- ras. Bons estudos! Não é novidade lermos, vermos por aí e ouvirmos falar sobre os benefícios da ati- vidade física para a nossa estética, para a nossa mente e para o bem-estar do nosso corpo, ou seja, a atividade física é benéfi- ca para a nossa saúde. Figura 1: O remédio Fonte: Facebook (2014). 4 5 Esta apostila sobre “Atividade física e saúde” tentará expor algumas ideias rela- tivas a esta realidade – que, além de não ser tão atual, não é apenas tema de de- bates de meios científicos, mas, principal- mente, de meios de conversas informais. Isto é de suma importância, pois quando um assunto relacionado à saúde, em es- pecial, à prevenção de doenças, chega ao senso comum, cabe também à população a responsabilidade por também promo- ver sua própria saúde e prevenir doenças. Essa preocupação com a saúde e, mais do que isso, a conscientização de que um dos meios de se prevenir doenças e contro- lar aquelas já instaladas se dá através da adoção de um estilo de vida saudável, tem sido amplamente disseminada por vários canais de comunicação. Grandes exem- plos disso são a citação de Nieman (1999), retirada de um livro científico da área e a figura 1 (s.d.), retirada das redes sociais. Independente dos meios de circulação e do público-alvo aos quais cada tipo de ma- terial está direcionado, ambos carregam, como essência, o mesmo tipo de conteú- do: a benéfica relação entre atividade fí- sica e saúde. Ressaltamos a importância de que esse debate saia dos meios acadêmicos, atinja os meios “saudáveis”, já preocupados em manter um padrão de vida satisfatório, mas, principalmente os sedentários, que devem estar dispostos a mudar seu estilo de vida em busca de saúde. Podemos ver a preocupação expressa na relação entre atividade física e saúde também na cita- ção a seguir: Para alguns estudiosos, os indiví- duos sedentários procuram fazer exercícios para que estes lhe pro- porcionem bem-estar físico, social e mental, ou seja, aumentar o limiar da saúde e evitar doenças físicas e psi- cossomáticas (LEITE, 2000, p.4). Mais do que isso, para a equipe multi- profissional de saúde – todos os profis- sionais da área de saúde que trabalham juntos em busca de cuidar melhor do pa- ciente – aqui, em especial, para o profis- sional da educação física, sua responsa- bilidade é ainda maior. Um profissional de grande importância para a sociedade, mas que, durante muito tempo de sua tra- jetória profissional foi visto apenas como um educador (não desmerecendo esta função, a qual é de vital importância), po- rém ele pode ir além, ele é um profissio- nal da educação e da saúde e, com isso, sua atuação deixa de ser voltada apenas à prática (o que normalmente esses profis- sionais mais gostam de fazer), mas cabe a ele também o compromisso de ter uma formação teórica continuada, em busca de atualizações que lhe permitam ser um multiplicador de conhecimentos, além de poder exercer sua prática com conheci- mentos mais atuais. Mais adiante iremos expor brevemente essa trajetória da Edu- cação Física de forma a contextualizar a nossa área de interesse: o profissional da educação física enquanto profissional da área da saúde. Em relação a reiterar a necessidade de mantermos sempre o conhecimento atu- alizado, vamos voltar à nossa epígrafe. Pode parecer contraditório essa citação ser de 1999, assim como muitas obras nesta apostila serem um pouco mais anti- gas. Deixamos aqui a explicação para esse fato: o conhecimento científico precisa ser atualizado, porém, algumas obras são 4 5 referência e merecem ser reforçadas, por trazerem bons argumentos de autorida- de, os quais continuam sendo utilizados até os dias de hoje. A mensagem geral que pretendemos passar através desta apostila, a qual ficou evidente na nossa epígrafe, é que a atividade física é um im- portante meio através do qual é possí- vel alcançar saúde. Aqui sempre iremos reforçar a ideia de que a atividade física pode auxiliar na prevenção de doenças e na melhora da qualidade de vida das pes- soas. Ao longo desta apostila, muitas defi- nições serão feitas para que o conteú- do possa ser bem compreendido. Alguns desses termos, tais como atividade físi- ca, saúde, qualidade de vida, prevenção, promoção da saúde, equipe multidiscipli- nar, já foram citados e talvez você esteja se perguntando o que serão essas pala- vras. Não se preocupe, o nosso objetivo aqui é falar bastante sobre elas, portan- to, as mesmas serão muito bem definidasnas próximas seções. Para o momento, é suficiente que vocês compreendam ati- vidade física como qualquer movimento corporal cujo gasto energético seja maior que durante o repouso. Também precisam entender saúde enquanto um estado de bem-estar biopsicossocial e espiritual, ou seja, saúde não se limita à ausência de do- enças. A partir dessas definições, podere- mos avançar um pouco mais num estudo teórico generalizado, ainda superficial, in- trodutório, que é o objetivo dessa seção. Na epígrafe, Niemam (1999) apresen- tou a atividade física como uma espécie de fórmula milagrosa para se viver mais, prevenir e curar doenças do corpo e da mente. Porém, outros autores também deixam a relação entre atividade física e saúde bastante clara, como veremos ao longo da apostila. Observa-se que, se- gundo Taylor (apud LEITE, 2000, p.4), o indivíduo busca na prática dos exercícios físicos: lazer; estabilidade emocional; de- senvolvimento intelectual; consci- ência estética; competência social; desenvolvimento moral; autorrea- lização; desenvolvimento das capa- cidades motoras; desenvolvimento físico-orgânico. Destacamos que, ao contrário da epí- grafe, não fica explícita a busca do espor- te como forma de prevenção ou promoção da saúde. É notório que a partir de nossa visão de saúde como um completo estado de bem-estar físico mental e social, a par- tir desses nove motivos consegue-se ter subentendido que através do esporte, o indivíduo está buscando a saúde como um todo. Atualmente, as pessoas sabem que precisam se manter ativas fisicamente para serem saudáveis; e, para que a ativi- dade física seja desempenhada correta- mente, é indispensável a atuação do pro- fissional de educação física que, como já foi falado, além de ser um profissional da área da educação é também um membro da equipe multiprofissional de saúde (as- sim como o médico, o enfermeiro, o fisio- terapeuta, o psicólogo, dentre outros pro- fissionais que visam o cuidado do cliente). Mas, será que sempre ocorreu assim? Como não é o foco desse material definir o percurso histórico da Educação Física en- quanto profissão no Brasil, iremos apenas discorrer sobre alguns detalhes que nos ajudam a compreender como aspectos só- 6 7 cio-histórico-culturais influenciaram esse percurso para que, com todo o embasa- mento teórico e prático adquirido, o pro- fissional da área viesse a compor a equipe multiprofissional de saúde. Segundo Leite (2000), a partir da déca- da de 70, observa-se a massificação do es- porte, do cuidado do corpo, da corrida, da ginástica. No decorrer do percurso históri- co, muitas mudanças foram acontecendo para que a educação física chegasse ao estágio que está hoje em dia. Até que, de acordo com o CREF/6 (s.d), uma importan- te conquista para a Profissão ocorreu em 1988, com a criação da Lei Federal 9.696, que regulamentou a Profissão de Educa- ção Física, surgindo assim o Conselho Fe- deral e os Conselhos Regionais de Educa- ção Física. Este foi um importante avanço para a área, pois a partir desta data, so- mente os profissionais regularmente re- gistrados no Conselho poderiam exercer sua profissão no Brasil. Entende-se esse momento como um avanço para os pro- fissionais, que passam a ter seu campo de trabalho definido apenas para os profis- sionais devidamente graduados e regu- lamentados e, principalmente, para a po- pulação, confiante de que irá contar com a atenção de profissionais devidamente preparados academicamente para o de- sempenho de suas funções. Tendo em vista tudo o que foi acon- tecendo no contexto histórico durante esse período, consegue-se compreender brevemente de onde surgiu e para onde caminha a Educação Física, sim, pois não acreditamos que tudo irá parar por aqui. Focando apenas o contexto brasileiro, desde o início foram muitas mudanças, o profissional tem se destacado cada vez mais, é um profissional da educação e da saúde. Como reforçamos desde o início, como aqui o nosso foco é atividade física e saúde, iremos deixar a educação um pou- co de lado. Recapitulando o conceito de saúde como algo subjetivo e complexo, não é de se esperar que para se ter saúde, não seria necessário apenas a atuação de um único profissional, mas de toda uma equi- pe. Desta forma, o profissional da edu- cação física merece destaque através de medidas que visam à prevenção em seus diferentes níveis ou mesmo a reabilitação, pois estudos como os de Guedes; Guedes (2005), Araújo; Araújo (2000), Pitanga (2002), Bagrichevschi; Estevão (2005), Benedetti; Petroski; Gonçalves (2003), Gualanno; Tinucci (2011), Coelho; Burini (2009), dentre outros citados ao longo da apostila mostram que há relação entre a atividade física e a saúde (seja física ou psicossocial). Como membro da equipe multidisci- plinar/interdisciplinar, o profissional da educação física poderá atuar em diversos espaços, tais como academias de ginás- tica, estúdios fitness, nas ruas, escolas, instituições de longa permanência para idosos, hospitais, centros de reabilitação diversos, clínicas, centros de prevenção, instituições de saúde pública, dentre ou- tros espaços. Sua atuação será sempre em equipe com outros profissionais de saúde, porém no momento, ele poderá trabalhar sozinho, mas sempre se lembrando de que sua prática sempre deverá ser feita em conjunto com o trabalho dos outros colegas da equipe de saúde. Ou seja, mes- mo que o médico, o fisioterapeuta, o nu- tricionista, o farmacêutico e o psicólogo 6 7 não dividam o mesmo espaço com ele, ao atuar com um indivíduo hipertenso, todos os profissionais deverão considerar seu trabalho em conjunto, visando o bem-es- tar do indivíduo, já que todos visam o seu cuidado e sua saúde como um todo biopsi- cossocial e espiritual. Em síntese, é papel do profissional da educação física, orientar a promoção da saúde e a prevenção das doenças através da adoção de um estilo de vida saudável e ativo, atuar na reabilitação de doenças que já se instalaram pela prática da ativi- dade física. Destacam-se, dentre as prin- cipais obras citadas, Leite (2000), Nieman (1999), Araújo; Araújo (2000), Powers; Howley (2000), Pitanga (2002), Lacerda; Guzzo (2005), Buss (2000); SBD (2014), SBH (2014), Weinberg; Gould (2006). O objetivo geral desta apostila é re- lacionar a prática de atividade física à promoção, à melhoria e à reabilitação da saúde. Os principais objetivos específicos são definir os conceitos de atividade físi- ca, aptidão física e saúde; compreender a atuação do profissional de educação fí- sica na equipe interdisciplinar de saúde; apresentar os três níveis de prevenção e a promoção da saúde; conhecer a relação entre epidemiologia e atividade física; in- vestigar aspectos relacionados à saúde, à doença, ao corpo, à mídia e à contempora- neidade; apresentar relatos da prática da atividade física como agente de promoção de saúde em algumas situações. 8 98 Não apenas os meios científicos, mas também a mídia e o senso comum em ge- ral bombardeiam informações sobre como a prática regular da atividade física pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida de pessoas de diferentes idades, etnias, condições de saúde, socioeconô- micas, sejam elas homens ou mulheres. Porém, esta é uma consideração bastante informal, que não serve de embasamento teórico a nível de uma pós-graduação. Durante sua formação, o acadêmico de educação física aprende mais do que isso. Ele entende que, segundo Guedes e Guedes (1995), a prática de atividade físi- ca influencia nos níveis de aptidão física, os quais interferem nos níveis de prática de atividade física. Disso pode-se concluir que o participante regular de atividade física apresenta melhores níveis de apti- dão física, tornando-se,provavelmente, mais ativo. Como os níveis de aptidão fí- sica também se relacionam ao estado de saúde, este sofre influência dos índices de aptidão física (mas também influen- ciam este índice). O diagrama a seguir ilus- tra bem o que foi apresentado, ou seja, as variáveis de aptidão e saúde (bem-estar, morbidade e mortalidade) são interde- pendentes, porém lazer e trabalho tam- bém podem ser compreendidos como for- mas de atividades físicas: Apesar de sua aparente simplicida- de, é forçoso admitir que aspectos voltados à hereditariedade, ao estilo de vida, às condições ambientais e aos atributos pessoais podem afetar a inter-relação atividade física, apti- dão física e saúde, tornando o mode- lo bem mais complexo e dependente de outros fatores. Ademais, o mo- delo apresenta algumas implicações importantes que podem comprome- ter de maneira decisiva a promoção da saúde mediante a prática da ativi- dade física (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 10). 2.1 Saúde Inicialmente, com a chamada noção dicotômica, entendia-se saúde apenas como ausência de doenças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tornou este con- ceito mais abrangente, ao preconizar saú- de como o estado de mais completo bem- -estar físico, mental e social e espiritual, UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais Figura 2: Relação entre atividade física habitual, aptidão física e saúde. Fonte: Bouchard et al. (apud ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.197). 8 99 e não apenas a ausência de enfermidade. Esta definição marca um avanço na área da saúde, já que engloba aspectos físicos, psíquicos e sociais. A partir daí passa-se a pensar não apenas na cura de patologias, mas nas práticas de prevenção e promo- ção da saúde (prioridade da Saúde, em es- pecial, da Saúde Pública na atualidade). Nessa perspectiva, fica evidente que o estado de ser saudável não é algo estático; pelo contrário, é necessário adquiri-lo e reconstruí-lo de forma individualizada e constantemente ao longo de toda a vida, oferecendo indícios de que a saúde é também domínio educacional e, por sua vez, deva ser tratada não apenas com base em referências de natureza biológica e higienista, mas, sobretu- do, num contexto didático-pedagó- gico (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11). Como consequência dessa definição, tem-se a necessidade do cliente ser abor- dado por uma equipe multidisciplinar que dê atenção para o mesmo a partir de um pressuposto biopsicossocial. Outra definição, mais recente, aborda com mais detalhes o conceito, também de maneira holística. Define saúde como: [...] resultante das condições de ali- mentação, habitação, educação, ren- da, meio ambiente, trabalho, transpor- te, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o re- sultado das formas de organização so- cial da produção, as quais podem ge- rar desigualdades nos níveis de vida. (FLEURY, 1992, p.170 apud BAGRICHE- VSCHI; ESTEVÃO, 2005, p.71) Torna-se importante ressaltar que a educação física ainda carrega uma linha de pensamento de privilegiar os proces- sos biológicos em detrimento dos socio- culturais quando se leva em conta o pro- cesso saúde-doença. Dessa forma, ao se relacionar “educação física e saúde” acaba se criando uma relação de causa e efeito entre exercício e saúde, ou seja, a saúde parece ficar, a priori, como consequência da prática regular de exercícios físicos. Parecem não se levar em conta fatores importantes como condições econômicas, saneamento básico, condições educacio- nais, condições nutricionais, condições de moradia e lazer, dentre outros que tam- bém influenciam na saúde do indivíduo (BAGRICHEVSCHI; ESTEVÃO, 2005). 2.2 Qualidade de vida Assim como mencionamos a respeito da divulgação em massa sobre a relação en- tre atividade física e saúde, “qualidade de vida” é um termo amplamente abordado dos meios científicos ao cotidiano. A OMS (2005) define qualidade de vida como: [...] a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do con- texto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pes- soa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com carac- terísticas proeminentes no ambiente (OMS, 1994 apud OMS, 2005). 10 11 A avaliação da qualidade de vida de de- terminado indivíduo varia em função das três dimensões nas quais o sujeito encon- tra-se inserido: física, psicológica e social. Desta forma, a qualidade de vida em saú- de relaciona-se à capacidade de viver sem doenças ou mantê-las sob controle. A par- tir deste pressupossto, pode-se inferir o quanto que a atividade física ocupa o seu espaço na promoção de uma melhor quali- dade de vida, como pode ser verificado na citação a seguir. Quando vista de forma mais focaliza- da, qualidade de vida em saúde coloca sua centralidade na capacidade de vi- ver sem doenças ou de superar as di- ficuldades dos estados ou condições de morbidade. Isso porque, em geral, os profissionais atuam no âmbito em que podem influenciar diretamente, isto é, aliviando a dor, o mal-estar e as doenças, intervindo sobre os agravos que podem gerar dependências e des- confortos, seja para evitá-los, seja mi- norando consequências dos mesmos ou das intervenções realizadas para diagnosticá-los ou tratá-los (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, p.16). É um conceito subjetivo, relacionado a padrões históricos, culturais, sociais e até mesmo individuais, pois depende da auto- avaliação por parte do indivíduo, ou seja, eu não posso avaliar a qualidade de vida de outra pessoa como boa ou ruim, apenas ele (ou ela) tem condições de fazer esse julgamento a partir de sua própria percep- ção. Como é possível observar na citação a seguir, parece ser automático relacionar- mos sempre a atividade física a uma boa qualidade de vida, porém o profissional da educação física precisa compreender que cada caso é um caso, há exceções, já que essa avaliação depende do próprio indiví- duo. Quando falamos na relação entre a atividade física e a qualidade de vida, precisamos estar conscientes de que essa relação pode ser negativa, seja pela ausência de resultados positivos para a saúde, seja pela ausência de atividade física ou também por efeitos deletérios que a atividade física pode causar à saúde e consequentemente à qualidade de vida do cidadão. Quan- do ampliamos os efeitos de uma vida ativa fisicamente para além da saúde e colocamos os efeitos do exercício, adequadamente realizado, como fator indispensável para a melhoria na qua- lidade de vida de um dado indivíduo, aí estamos partindo da premissa de que alguém inativo e sedentário não tem boa qualidade de vida. Contudo, a classificação de uma qualidade de vida boa ou ruim está diretamente relacio- nada à maneira do indivíduo entender o sentido da vida. Talvez um indivíduo de 30 anos, intelectual, artista plás- tico, fumante moderado, com nível normal de estresse inerente à profis- são e sedentário, seja um candidato em potencial para contrair doenças crônico-degenerativas, mas que, se arguido sobre o seu nível de qualida- de de vida, responda que o considera bom e que esse o satisfaz. A questão da qualidade de vida passa até mesmo pelas expectativas (baixas ou altas) das pessoas em relação à sua vida e à sua saúde (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.195-196). 10 11 2.3 Atividade física “A atividade física é definida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior do que os ní- veis de repouso” (CARPESEN et al., 1995, apud GUEDES; GUEDES,1995, p. 11). Nie- man (1999) complementa que o objetivo final da promoção da atividade física é a promoção da saúde. 2.4 Aptidão física Segundo Nieman (1999), define-se ap- tidão física como uma condição na qual a pessoa tem energia suficiente para reali- zar suas atividades de vida diária, recrea- tivas e exercícios, em geral, sem apresen- tar fadiga. Segundo Guedes e Guedes: Em síntese, os índices de aptidão fí- sica seriam moduladores dos atribu- tos voltados à capacidade de realizar esforços físicos que possam garantir a sobrevivência das pessoas em boas condições orgânicas no meio ambien- te em que vivem (1995, p. 16). A aptidão física, atividade física e saú- de são atributos inter-relacionados (como foi possível observar no diagrama da pá- gina 10), Fazem parte da aptidão física relacio- nada à saúde aqueles componentes que apresentam relação diretamen- te proporcional ao melhor estado de saúde e, adicionalmente, demonstram adaptação positiva à realização regu- lar de atividade física e programas de exercícios físicos (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 19). Araújo e Araújo (2000), na figura a se- guir, propuseram uma adaptação do es- quema de Bouchard et al., o qual busca de- monstrar que a atividade física habitual, como lazer e trabalho, pode influenciar a aptidão física, a qual é correlacionada com o nível habitual de atividade física. Tam- bém é possível inferir que a aptidão física é influenciada pela saúde (compreendem- -se aqui os conceitos de bem-estar, mor- bidade e mortalidade), a qual influencia tanto o nível de atividade física habitual, quanto o nível de aptidão física. Porém, como se pode observar nesse modelo, há outras variáveis que também constituem o estilo de vida e influenciam na saúde: as condições ambientais, as características pessoais e genéticas. Figura 03: Modelo descrevendo um esquema complexo na relação en- tre atividade física habitual, aptidão física e saúde Fonte: ARAÚJO; ARAÚJO (2000, p. 198). 12 1312 Atividade física e aptidão física são diferentes, porém inter-relacionadas formas de medida. A primeira é uma opção comportamental, enquanto que a segunda é parcialmente determina- da por fatores genéticos, sendo que atividade física regular pode melhorar a aptidão física. (PITANGA, 2002, p.51) Nieman (1999) postula que a aptidão relacionada à saúde é inversamente pro- porcional ao risco de doenças crônicas. Dentre os componentes da aptidão re- lacionada à saúde que podem ser men- surados, o autor destaca a resistência cardiorrespiratória, a aptidão musculo- esquelética e uma composição corpórea ideal. [...] os programas direcionados a aten- der aos componentes da aptidão física relacionada à saúde, seguramente se constituem em mecanismos impres- cindíveis na medida em que contri- buem para que se possa inibir o apa- recimento dos fatores de risco que mais tarde venham a contribuir para o surgimento de sintomas relacionados às disfunções de caracteres crônico- -degenerativos, mediante maior pro- teção contra problemas e distúrbios associados às doenças hipocinéticas, isto é, aquelas relacionadas ou causa- das pela falta de atividade física (GUE- DES; GUEDES, 1995, p. 18). 12 1313 3.1 Noções gerais sobre epi- demiologia Como esta apostila tem como tema “atividade física e saúde”, aqui iremos en- focar a importância da epidemiologia nos estudos sobre a distribuição e os deter- minantes das condições de saúde, assim como do uso dessas informações para a prevenção e o controle das doenças, no nosso caso, através da atividade física. Define-se epidemiologia como: o “es- tudo da distribuição e as determinantes das condições ou eventos relacionados à saúde em populações específicas e a apli- cação deste estudo no controle dos pro- blemas de saúde” (CHOW; WILMORE, 1984 apud POWERS; HOWLEY, 2000, p.256). Assim, a epidemiologia é utilizada para estabelecer a causa da doença (e assim adotar-se estratégias de prevenção); para se traçar a história natural de uma doen- ça; para descrever o estado de saúde de determinadas populações e para reali- zar uma intervenção (POWERS; HOWLEY, 2000). Fletcher e Fletcher (2006) elucidam a importância da epidemiologia clínica por ser esta a ciência que objetiva desenvol- ver e aplicar métodos de observação clí- nica que conduzam a conclusões válidas, evitando-se, assim, a ocorrência de erros. A epidemiologia clínica é de grande impor- tância, pois, a partir dela, os especialistas podem obter as informações mais rele- vantes sobre o paciente para, com elas, tomarem as melhores decisões no que diz respeito ao seu cuidado. Segundo Powers e Howley (2000), nos EUA, nos últimos 100 anos, a principal causa de morte deixou de ser as doenças infecciosas, como a tuberculose e a pneu- monia, passando a ser as doenças dege- nerativas, como o câncer e as doenças cardiovasculares. Essas últimas são multi- causais, podendo-se destacar fatores ge- néticos (não podem ser modificados, são inatos), ambientais e comportamentais (esses dois últimos podem ser modifica- dos pelo indivíduo). Os autores costumam falar em uma rede de causas, já que os denominados fatores de risco interagem entre si, além disso, vale a pena destacar que é de extrema importância o desen- volvimento de programas de prevenção voltados à saúde pública para que a po- pulação se eduque e se torne responsável pela sua própria saúde. Importante desta- car que algumas dessas doenças degene- rativas podem ter seu início retardado ou impedido se alguns fatores ambientais ou comportamentais forem modificados. UNIDADE 3 - Epidemiologia 14 15 Figura 04: Modelo epidemiológico que mostra a interação complexa en- tre os fatores de risco associados ao desenvolvimento das DCNT (exemplo: doenças cardiovasculares) Pitanga (2002) aponta que o sedenta- rismo se destaca, nesse paradigma, como um dos fatores de risco para os agravos à saúde, daí a íntima relação entre epide- miologia, saúde e atividade física. Já definimos os conceitos de epidemio- logia, saúde e atividade física, agora fa- lamos de risco, palavra que ouvimos em nosso cotidiano. Mas, na epidemiologia, o que é risco? Fletcher e Fletcher (2006) mostram que risco, de maneira geral, re- laciona-se com a probabilidade da ocor- rência de um evento adverso. Porém, na epidemiologia, os autores ilustram que o termo está relacionado mais especifi- camente à probabilidade de que pessoas expostas a determinados fatores de ris- co tenham mais probabilidade de contrair determinadas doenças do que as pessoas que não foram expostas a esses fatores. Ainda a esse respeito, ao se estudar a epidemiologia do envelhecimento, faz-se um aprofundamento em alguns aspectos epidemiológicos que irão ser de interesse do profissional da educação física. Me- didas atualmente consideradas simples como a adoção de medidas de saneamen- to básico, o surgimento dos antibióticos e das vacinas foram responsáveis pelo aumento da expectativa de vida e pela mudança no padrão epidemiológico apre- sentado anteriormente: a diminuição das mortes por doenças infectocontagiosas (RAMOS, 2002). A partir dessa transição epidemiológica, temos uma nova realida- de. A Transição Epidemiológica é o resul- tado das variações comportamentais dos padrões de morbimortalidade e fecundidade, que determinam mudan- ças na estrutura populacional, ao se processarem as alterações na manei- ra de adoecer e morrer. Laurenti de- fine a Transição Epidemiológica como ‘uma evolução gradual dos problemas de saúde caracterizados por alta mor- bidade e mortalidade por doenças in- fecciosas que passa a se caracterizar predominantemente por doenças crô- nicas não-transmissíveis’ (PINHEIRO; FREITAS, CORSO, 2004, p.525). Podemos inferirque a prevenção e a cura das doenças que anteriormente di- zimava a população não dependiam muito dos próprios indivíduos (apesar de que an- tes da descoberta dos antibióticos e das vacinas, por exemplo, algumas matavam Fonte: POWERS; HOWLEY (2000, p.257). 14 15 em um curto intervalo de tempo). Atual- mente, a situação é diferente. Como já foi abordado, as doenças que dizimam gran- de parte da população são as doenças degenerativas (ou doenças crônicas não transmissíveis – DCNT – tema que será abordado a seguir). Para essas doenças não há vacina, as medidas de saneamen- to não trazem o controle das mesmas, há necessidade de grande participação do in- divíduo em seu tratamento: mudança de hábitos alimentares, adoção de atividade física regular, remédios de uso contínuo, visitas regulares a uma equipe multipro- fissional de saúde. Em síntese, o pacien- te passa a ser responsável pelo sucesso de seu tratamento, a doença não leva ao óbito num curto prazo de tempo, mas suas complicações oneram todo o sistema de saúde. O grande desafio da saúde pública frente a essas doenças é ainda maior se levarmos em conta o contingente nume- roso de idosos no Brasil e no mundo (RA- MOS, 2002). O profissional da educação física pode compor a equipe multiprofissional de for- ma a atuar na prevenção e na promoção da saúde em meio a essa realidade epi- demiológica. A citação a seguir relaciona melhor os benefícios da atividade física para a saúde a partir das três variáveis já abordadas anteriormente: genéticas, am- bientais e comportamentais: Desta forma, a atividade física rela- cionada à saúde, no contexto das re- des multicausais, aparece como um dos fatores que poderia modificar o risco dos indivíduos para adoecerem. Em primeiro lugar, existem evidên- cias bastante significativas da influ- ência da atividade física na melhoria da eficiência do sistema imunológico, fato que pode reduzir a incidência de alguns tipos de câncer e melhorar a re- sistência de pacientes com AIDS. Por outro lado, a adoção de estilo de vida ativo fisicamente, irá proporcionar mudança de comportamento dos in- divíduos. Além disto, poderíamos pro- porcionar modificações no meio am- biente, mediante a criação de espaços adequados para prática de atividade física. Finalmente, as constatações da influência dos fatores genéticos, não apenas nos níveis de aptidão física das pessoas, como também no nível de atividade física habitual e participação em exercícios, nos levam a acreditar que os atuais estudos sobre o genoma humano podem, também, contribuir para sedimentar a relação atividade fí- sica e saúde. Desta forma, as políticas públicas de promoção de atividades fí- sicas devem privilegiar os aspectos ci- tados anteriormente, assim entende- mos que os determinantes de ordem biopsicossocial, comportamentais e ambientais estariam contemplados, contribuindo como um dos meios para que as pessoas ficassem mais próxi- mas ao polo positivo da saúde. (PITAN- GA, 2002, p. 51) Sabe-se que os programas de atividade física corretamente prescritos e adequa- dos são benéficos para a saúde do pon- to de vista da prevenção, manutenção e aprimoramento da capacidade funcional. Por outro lado, a falta de atividade físi- ca regular contribui para o surgimento das doenças crônico-degenerativas, tais como a hipertenção arterial, as cardio- patias coronarianas, o diabetes melitus e a obesidade. Essas doenças atualmente 16 17 são a principal causa de mortalidade entre os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995). A partir da era epidemiológica das do- enças crônico-degenerativas surgem diversos estudos epidemiológicos re- lacionando atividade física como meio de promoção da saúde, sendo que nas últimas três décadas, numero- sos trabalhos têm consistentemente demonstrado que altos níveis de ati- vidade física ou aptidão física estão associados à diminuição no risco de doença arterial coronariana, diabetes, hipertensão, osteoporose. (PITANGA, 2002, p.51) A crescente modernização traz melho- ra geral na qualidade de vida das pesso- as, porém, como consequência negativa, acaba por resultar o sedentarismo que, consequentemente, pode ocasionar as patologias supracitadas e impactar nega- tivamente nessa qualidade de vida. (GUE- DES; GUEDES, 1995). Nesse contexto, a atividade física pode ser uma alternativa viável para romper esse ciclo vicioso bus- cando a promoção da saúde por meio dos aspectos preventivos e terapêuticos. Segundo os autores supracitados, é possível dividir os indivíduos em três clas- ses em relação à prática de exercícios fí- sicos: os aparentemente sadios; aqueles que apresentam fatores de risco para as doenças crônico-degenerativas e os por- tadores de doenças crônico-degenerati- vas clinicamente manifestadas. Para es- ses três grupos, é possível inferir que nos primeiros, a atividade física terá caráter preventivo, enquanto que nos demais já se deve visar uma ação terapêutica. Nos aspectos preventivos, os exercí- cios físicos são prescritos e orientados com a finalidade de promover adapta- ções fisiológicas que venham a dimi- nuir a probabilidade de ocorrerem dis- funções orgânicas que possam levar ao aparecimento de doenças crôni- co-degenerativas. (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 58). Em outro momento, nesta mesma apostila, os níveis de prevenção serão mais detalhadamente abordados, porém aqui iremos apenas mencionar esses dife- rentes tipos de indivíduos, em relação às suas patologias e ao tipo de atividade fí- sica indicada para cada um desses grupos. Em relação àqueles que possuem fatores de risco para o surgimento de doenças crônico-degenerativas ou que já possuem essas doenças instaladas, observa-se que: No aspecto terapêutico, porém, os exercícios físicos apresentam dois ob- jetivos básicos: atenuar eventuais dis- túrbios e incapacidades orgânicas que possam contribuir para o aparecimen- to das doenças crônico-degenerativas e promover melhorias das funções afetadas e dificultar o surgimento de novas complicações em indivíduos portadores de doenças crônico-dege- nerativas já clinicamente manifesta- das, na tentativa de reverter o quadro patológico (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 58). Sintetizando, a partir de tudo o que foi visto sobre a epidemiologia, compreende- -se que alguns fatores de risco para as do- enças crônicas não transmissíveis (DCNT) são genéticos e não podem ser modifica- dos, porém outros podem ser modifica- 16 17 dos e dependem não apenas da atuação da equipe multidisciplinar – incluindo-se o profissional da educação física – mas, principalmente do próprio indivíduo. Cabe a ele, a partir de seu próprio engajamento na mudança de seu estilo de vida, preve- nir as doenças e atuar para o controle das mesmas. [...] Semelhantemente a outros com- portamentos de promoção da saúde, como hábitos alimentares saudáveis, abstinência ao fumo, controle da in- gestão ao álcool e níveis satisfatórios da prática de exercícios físicos deve- rão ser cultivados desde as idades mais precoces e persistir, necessaria- mente, ao longo de toda a vida (GUE- DES; GUEDES, 1995, p. 68). Importante agora compreender um pouco mais sobre os aspectos psicológi- cos do funcionamento do paciente crôni- co, em especial aquele portador das do- enças crônicas não transmissíveis, grande escopo dessa seção sobre epidemiologia, para darmos prosseguimento a este ma- terial. 3.2 Paciente crônico: carac- terísticas biopsicossociais Uma Doença crônica é uma doença que não é resolvida num tempo curto, definido usualmente em seis meses. As doenças crônicas são doenças que não necessa- riamente põem em risco a vida da pessoa num prazo curto (como a alergia), mas po- dem ser sérias ou fatais (como a AIDS). Po- dem ou não manifestarsintomas. É denominado paciente crônico aquele que é portador de uma doença incurável. Muitos pacientes com histórico de lon- gas e frequentes internações costumam manter a doença crônica, pois com isso re- cebem cuidados que não receberiam fora do ambiente hospitalar. Outros demons- tram uma necessidade psicológica de vi- ver todo o drama da doença crônica. O paciente luta constantemente no sentido de compreender e aceitar a doença para assim conseguir viver esta nova condição. Isto não é fácil. A personalidade do paciente crônico é marcada por quatro características mar- cantes, as quais veremos a seguir (ANGE- RAMI-CAMON, 2011): Regressão: mesmo que de manei- ra inconsciente, os profissionais de saúde e os familiares desejam que o paciente se torne passivo e regredido, de forma que facilite a realização dos cuidados e a acei- tação de sua condição de doente. Isso, por outro lado, acaba por contribuir para a cronicidade do paciente. Passividade: o paciente deixa de ser agente de seu tratamento, passan- do a responsabilidade à equipe de saúde e aos familiares, o que também contribui para a cronicidade emocional. Dependência: a regressão pode levar o paciente a ficar mais dependente que o necessário. Sensibilidade às frustrações: os pacientes tornam-se mais vulneráveis a ameaças ao seu corpo e à sua autoestima. Em relação a essas quatro característi- cas, torna-se essencial para o profissional da educação física conhecê-las e assim agir de forma a compreender determina- 18 19 das reações comuns à personalidade do paciente crônico e também não reforçar algumas características que não são be- néficas a ele, as quais acabam sendo re- forçadas por todos à sua volta. É muito im- portante, no caso das DCNT, não reforçar no indivíduo a passividade, a regressão e a dependência, já que ele deve ser agen- te de seu tratamento, adotando uma mu- dança radical em seu estilo de vida, o que não pode, em hipótese alguma, ficar a cri- tério dos outros. A sensibilidade às frus- trações também precisa ser muito bem trabalhada, pois o indivíduo com as DCNT precisa aprender a lidar com as adversida- des do dia a dia, as quais podem aconte- cer até mesmo no meio dos esportes, seja através de um desempenho aquém do esperado, um comentário desagradável, dentre outros fatores negativos que po- dem afetar negativamente a autoestima. Parece que o doente crônico entrega sua vida para um outro – a equipe de saú- de – delegando a eles a tarefa de restituir seu bem-estar biopsicossocial. O profis- sional sabe que isto não será possível, mas lidar com essa fantasia por parte do paciente não é fácil: muitas expectativas são depositadas e ele sabe que isto será em vão, o paciente pode tornar-se agres- sivo com o profissional, que pode reagir com frustração e impaciência (ANGERA- MI-CAMON, 2011). O paciente crônico, desde seu diagnós- tico e durante todo o curso de seu trata- mento merece receber, de toda a equipe de saúde, respeito, consideração e ajuda. 3.3 Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) São doenças de longo curso de dura- ção, que não são transmitidas pelo con- tato direto ou indireto com o paciente contaminado. Não existem vacinas para se erradicar ou prevenir essas doenças; as medidas preventivas existentes são menos eficientes em pessoas de baixo ní- vel socioeconômico e educacional. Poucas opções de tratamento eficaz, incuráveis, muitas delas associadas ao avanço da ida- de. Exemplos: diabetes, câncer, hiperten- são arterial, lúpus, insuficiência renal crô- nica, Alzheimer, entre outras. As DCNT podem ser caracterizadas por doenças com história natural pro- longada, múltiplos fatores de risco complexos, interação de fatores etio- lógicos desconhecidos, causa neces- sária desconhecida, especificidade de causa desconhecida, ausência de participação ou participação polêmica de micro-organismos entre os deter- minantes, longo período de latência, longo curso assintomático, curso clí- nico em geral lento, prolongado e per- manente, manifestações clínicas com períodos de remissão e de exacerba- ção, lesões celulares irreversíveis e evolução para diferentes graus de in- capacidade ou para a morte (LESSA, 1998 apud PINHEIRO, FREITAS, COR- SO, 2004, p. 524) As DCNT são doenças que mais deman- dam ações, procedimentos e serviços de saúde. Podem ser compreendidas como consequências da urbanização, de mudan- ças no estilo de vida e da globalização. Ao mesmo tempo que os custos dos serviços 18 19 de saúde para o controle e o tratamento das mesmas são altos (principalmente de- vido ao longo curso das mesmas), a pre- venção dessas doenças normalmente im- plica em baixos custos, além de mudanças no estilo de vida (MALTA et al., 2006). O doente deseja ser do jeito que era an- tes do aparecimento de sua doença crô- nica, já que esta tira sua liberdade e seu autocontrole. Porém, para estas doenças que não há possibilidade de recuperação, cabe ao paciente o esforço para se adap- tar com a doença, ou seja, se reestruturar para poder viver, na medida do possível, com qualidade, apesar das perdas e limi- tações impostas pela doença. Isso inclui, por exemplo, uma dieta regrada, o uso de medicações, inclusão de exercícios físicos em sua rotina, abster-se de álcool e fumo, limitar sua ingestão de água, dentre ou- tras mudanças drásticas. Essas mudanças no estilo de vida geram insatisfação, revolta, mas é importante que o profissional consiga prestar infor- mações adequadas, dar o apoio necessá- rio, desejando que o paciente consiga o equilíbrio: levar uma vida relativamente normal, mesmo na condição de doente crônico. É muito mais fácil se adaptar a uma do- ença aguda que só exige uma aceitação temporária de suas limitações que aceitar o fato de que nunca se curará, que depen- derá dos outros e que sua condição de doente irá piorar à medida que a doença progrida. 3.4 Fatores de risco para as doenças Sabe-se que existe um número muito grande de doenças, dentre as quais é pos- sível apontar diferentes meios de con- traí-las e formas de evitá-las. Como já foi elucidado anteriormente, quando esses fatores de risco dizem respeito a fatores genéticos, não há o que fazer para modi- ficar essa bagagem inata que o indivíduo carrega, mas, em muitos casos, como nas DCNT, há incidência de fatores multicau- sais e o indivíduo pode modificar as variá- veis ambientais e comportamentais. A importância relativa de cada um desses componentes pode variar de- pendendo do genótipo, da idade e dos hábitos de vida das pessoas; no en- tanto, todos demonstram relação bas- tante estreita com o melhor estado de saúde (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 19). O esquema ilustrado na figura a seguir mostra de maneira sintética, os principais fatores de risco para as doenças, divididos em três grupos: genéticos/biológicos, am- bientais e comportamentais. A atuação do profissional de educação física, conforme vem sendo destacado, ocorre nas duas úl- timas categorias, aquelas que podem ser modificadas pelo indivíduo. 20 2120 Frente à variabilidade de doenças e fatores de risco ao longo deste material, estamos voltando nossos olhares para as DCNT – foco dessa seção. A ANS (2009) aponta como fatores de risco relevantes a obesidade, o sobrepeso, a inatividade física, o tabagismo e o consumo do álcool. Outros fatores são menos importan- tes, como sexo, idade, história fa- miliar, estresse emocional, também contribuem para o aparecimento de acidentes crônico-degenerativos, identificados como fatores secundá- rios [...] O sexo, a idade e a história fa- miliar são os fatores de risco não mo- dificáveis. Os demais fatores de risco são considerados modificáveis, de- monstrando forte associação com os hábitosde vida. Na maioria das vezes, os fatores de risco não agem isolada- mente, mas sim em conjunto, fazendo com que a possibilidade de ocorrência das disfunções crônico-degenerativas aumente em proporção exponencial. [...] Entretanto, resultados de pesqui- sas mais recentes têm sugerido que os programas regulares de exercícios físicos devem ser considerados de ex- trema importância, não apenas pela sua ação direta na redução dos riscos prospectivos das doenças crônico-de- generativas, mas, sobretudo, pela in- terferência na magnitude dos outros fatores de risco modificáveis (GUE- DES; GUEDES, 1995, p. 63). Figura 05: Principais categorias de fatores de risco Fonte: U.S., (1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258). 20 2121 Segundo Buss (2000), verificam-se progressos mensuráveis nas condições de vida e saúde das populações, na maio- ria dos países, nos últimos séculos. Essas melhorias se dão, principalmente, devido aos avanços políticos, sociais, econômi- cos e ambientais na saúde pública e na medicina. Entretanto, as desigualdades também continuam marcantes em muitos países. Observa-se, em algumas regiões, a permanência de problemas já resolvi- dos em outras, assim como o surgimento de alguns novos e o crescimento de ou- tros já existentes. Para solucionar tais problemas (como, por exemplo, a AIDS, as doenças crônicas não transmissíveis, ou o estresse) têm sido investidos muitos re- cursos em assistência médica curativa e individual, porém, sabe-se que esse não é o caminho mais eficaz. A solução para esses problemas consiste em medidas preventivas e a promoção da saúde, além da melhoria das condições de vida da po- pulação em geral, ou seja, retirar o foco do individual e voltar para o grupo, prevenir ao invés de remediar. Fala-se muito, atualmente, em promo- ção da saúde, porém esse é um conceito que traz consigo uma série de conceitos, provenientes de diversos autores das áreas da saúde pública e da saúde cole- tiva. Numa tentativa de discutir o tema, Buss (2000) abordou, em seu artigo de revisão, vários autores e documentos que trataram do assunto nas últimas décadas. Assim, para fins didáticos, iremos compre- ender a promoção da saúde como: [...] uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações hu- manas e seus entornos neste final de século. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, propõe a articu- lação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucio- nais e comunitários, públicos e priva- dos, para seu enfrentamento e reso- lução (p.165). A partir dessa definição, acrescenta- mos que o conceito de promoção de saúde reforça também a importância do prota- gonismo do indivíduo como agente ativo de seu estado de saúde (ao contrário de ocupar uma posição passiva, onde apenas a equipe de saúde tomava as decisões e ações e o paciente, passivo, acatava as mesmas) (BUSS, 2000). Em relação ao controle do indivíduo, essa outra citação traz mais detalhes acerca de uma definição sobre a promo- ção da saúde, a qual pode ser de interesse para o profissional da educação física por abordar aspectos passíveis de mudanças, tais como estilo de vida e dieta, que impli- cam em saúde: [...] os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a con- centrar-se em componentes educati- vos, primariamente relacionados com riscos comportamentais passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos. Por exemplo, o hábito de fumar, a dieta, as atividades físicas, UNIDADE 4 - Promoção da saúde, preven- ção primária, secundária e terciária 22 23 a direção perigosa no trânsito (BUSS, 2000, p.166). Além da promoção da saúde, a preven- ção é outra estratégia que se faz muito importante. Assim como o que foi aborda- do na promoção da saúde, o foco é o gru- po, não o indivíduo. O conceito PP é proveniente da saúde pública e refere-se à ação que bus- ca evitar a incidência de doenças. As ações neste campo sempre têm como alvo grupos e não indivíduos (LACER- DA JR; GUZZO, 2005, p.241). A partir dos estudos de alguns auto- res, como Goldston (1980 apud LACERDA JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976 apud BUSS, 2000), as estratégias de pre- venção podem ser divididas em três ní- veis, os quais serão elucidados a seguir. O primeiro desses níveis é denominado prevenção primária e se caracteriza por ações dirigidas a grupos amplos, antes do estabelecimento de uma doença, ou seja, busca-se atingir uma saúde geral melhor pela proteção do homem contra os agen- tes nocivos do meio. A educação em saú- de aparece como um grande diferencial (GOLDSTON, 1980 apud LACERDA JR; GU- ZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 apud BUSS, 2000). Entendemos que o profis- sional da educação física tem um grande diferencial na prevenção primária como agente da educação em saúde, especial- mente por poder atuar com o ser humano em diferentes estágios de seu desenvol- vimento. A citação a seguir ilustra isso de maneira detalhada, explicativa e direta: A prevenção primária começa nos pri- meiros anos escolares e deve continu- ar ao longo da vida do indivíduo. O há- bito de exercitar-se deve ser mantido e estimulado pela escola e pela famí- lia. As escolas devem oferecer progra- mas com atividades aeróbicas para as crianças incluindo a natação, as dan- ças, a corrida, a recreação, o esporte e, como fator de prevenção da oste- oporose, algum trabalho com peso. A intensidade, duração e a frequência das atividades devem ser individuais e progressivas, serem do conhecimen- to do participante e considerados nos programas escolares. Como normal- mente na vida adulta, o exercício físico é afastado do estilo de vida das pes- soas, idealmente, a escola deve pre- parar o adulto para ser independente no futuro. O exercício físico deve ser praticado na maioria dos dias da se- mana, senão em todos os dias, por pelo menos 30 minutos, de uma vez ou dividindo a sua realização em di- ferentes momentos. O indivíduo sau- dável deve ser capaz de planejar um programa individual de exercício físico que contemple atividades planejadas para as férias e para viagens de traba- lho, momentos que contribuem para a falta de continuidade e de aderência das pessoas aos programas. (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p. 198-199) Já o segundo nível, denominado pre- venção secundária, ocorre após a identifi- cação de fatores de risco. Objetiva evitar que o problema se torne crônico através do diagnóstico e intervenção precoces (LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar como exemplo um filho de pai diabético, sem nenhuma doença diagnosticada no momento, que procura a atenção de uma equipe multidisciplinar em saúde em bus- ca de mudança de estilo de vida visando à 22 23 prevenção da doença no futuro devido ao seu histórico familiar. Podemos ver na citação a seguir um exemplo da atuação do profissional da educação física num nível de prevenção secundária, ou seja, em indivíduos cujos fatores de risco para doenças cardiovas- culares identificados. Vê-se a importância da atuação da equipe multidisciplinar, res- saltando-se o trabalho do profissional da educação física na prevenção de maiores riscos à saúde do indivíduo. Em relação à prevenção secundária, indivíduos com doenças cardiovascu- lares crônicas precisam de atividades rotineiras, com supervisão apropria- da e incremento progressivo; aqueles que não possuem supervisão devem iniciar caminhadas de forma gradati- va. Naturalmente, qualquer programa deve ser iniciado o mais precocemente possível, logo que os sinais vitais es- tejam estáveis, e sob controle médico. (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p. 199) Finalmente, o último nível, denominadoprevenção terciária, é o mais específico de todos os níveis. Seu foco é a reabilitação ou diminuir os efeitos de uma doença já instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). Nesse caso, como exemplo, citamos o pro- fissional de educação física que atua com um grupo de idosas portadoras de oste- oporose. Na citação a seguir, observa-se que, mesmo como a tendência atual é priorizar a prevenção primária e a promo- ção à saúde, nós, profissionais, acabamos ainda encontrando mais frentes de traba- lho nos setores voltados à prevenção se- cundária ou terciária: O papel da reinserção do exercício fí- sico na reversão – parcial ou total – da condição patológica induzida pelo se- dentarismo também se faz premente. Além disso, o profissional de Educação Física responsável pelo tratamen- to secundário e terciário de doenças crônicas deve também se aprofundar em conceitos de fisiopatologia, sinto- mas e quadro clínico de determinada doença, assim como nos benefícios e riscos inerentes à prática de ativida- de física para tal condição específica. Tais medidas tornam-se essenciais àquele profissional de Educação Físi- ca que visa compor com competência uma equipe transdisciplinar de saúde (GUALANO; TINUCCI, 2011, p.41). 4.1 Aspectos preventivos e te- rapêuticos do exercício físico Após a compreensão de conceitos rela- tivos à epidemiologia, promoção da saú- de, prevenção primária, secundária e ter- ciária, torna-se mais fácil compreender os aspectos preventivos e terapêuticos do exercício físico, assim como associá-los aos fatores de risco para as doenças, à pro- moção da saúde e aos diferentes níveis de prevenção. Importante não se esquecer da abordagem de saúde incluir aspectos biopsicossociais. Assim, a importância da atividade física como estratégia preventi- va e terapêutica também irá compreender todos esses níveis no qual o ser humano está inserido, não apenas o corpo biológi- co, no qual o profissional da educação físi- ca costuma naturalmente intervir através de sua prática rotineira. A Agência Nacional de Saúde Suple- 24 25 mentar (ANS, 2009) elucida uma série de fatores de proteção para as doenças, den- tre eles podem-se destacar a atividade fí- sica e a alimentação saudável. Em linhas gerais, esse manual técnico elucida que a atividade física pode trazer uma série de benefícios para praticantes de diversas idades, tais como: consciência corporal; aumento da capacidade intelectu- al; melhoria da capacidade cardiovas- cular e respiratória; redução dos fatores de risco para as DCNT; diminuição dos níveis de massa gorda e aumento da massa magra; prevenção de osteoporose e doen- ças nos ossos e articulações; aumento da força muscular; aumento da resistência dos ten- dões e ligamentos; melhoria do sistema imunológico; diminuição da depressão, ansieda- de e alívio do estresse; aumento da autoestima. Além desses, os em relação à infância, a atividade física auxilia a criança a adotar um estilo de vida ativo na vida adulta; aju- da no tratamento da asma (natação). Para o idoso, destacam-se a redução de que- das e possíveis lesões; auxilia no trata- mento de dores; auxilia no tratamento de DPOC; melhora a qualidade do sono; auxi- lia no tratamento das demências; auxilia no tratamento da constipação intestinal; preserva a independência (ANS, 2009). Leite (2000) faz algumas ponderações muito pertinentes no que diz respeito ao esporte recreativo. Segundo ele, para que campanhas publicitárias motivacionais do tipo “Mexa-se” sejam válidas, faz-se ne- cessário que a atividade física seja devi- damente orientada por profissionais com- petentes e atentos. Não basta ter local disponível (como clubes, praças públicas) ou partir para a educação à saúde e espe- rar que cada indivíduo faça a sua parte por si só. Programas de reabilitação do cardiopa- ta com a prática de exercícios físicos pro- porcionam benefícios psicossociais, tais como diminuição da ansiedade e depres- são ocasionadas pela doença, melhora da autoestima e consequente reinserção so- cial e profissional. A partir de todas essas mudanças, o cardiopata pode encontrar o incentivo para modificar os hábitos não saudáveis e então atingir a necessária mudança em seu estilo de vida. (GUEDES; GUEDES, 1995). Os indivíduos portadores de doenças orgânicas, metabólicas e psicossomá- ticas (pacientes cardíacos, obesos, portadores de depressão e ansieda- de) procuram fazer exercícios fiscos para recuperarem parte de suas capa- cidades funcionais que foram debilita- das pela doença, reintegração social e preenchimento de “vazios existen- ciais” que acompanham as doenças crônicas e/ou psicossomáticas. (LEITE, 2000, p.4-5). Doenças crônicas já foram definidas anteriormente. Já as doenças psicossomá- ticas não levam ao óbito, porém também 24 25 impactam negativamente a qualidade de vida do indivíduo que sofre com elas. A psicossomática é o “estudo das relações entre as emoções e os males do corpo” (HOWARD; LEWIS, 1999, p. 6), ou seja, como temos reforçado na apostila, o ser humano não é apenas corpo, é biopsicos- social. Corpo e mente não podem ser se- parados, como costumamos acreditar. Fa- lar em doença psicossomática é o mesmo que entender que o ser humano consegue somatizar situações e/ou ideias desagra- dáveis. Ao se estudar a relação entre a ativida- de física e a prevenção ou tratamento de doenças do adulto e do idoso ou melhoria da capacidade funcional do idoso, estudos apontam como resultados redução dos ní- veis de gordura corporal, diminuição da pressão arterial, a melhora do perfil lipídi- co e da sensibilidade à insulina, o aumen- to do gasto energético, da massa e força muscular, da capacidade cardiorrespirató- ria, da flexibilidade e do equilíbrio. (COE- LHO; BURINI, 2009) A vida sedentária tem sido considera- da como um dos fatores de risco co- ronariano (infarto do miocárdio, mor- te súbita, angina prectoris). A prática regular de exercícios físicos tem sido considerada “fator de proteção” con- tra processos degenerativos no orga- nismo, principalmente doenças como arteroclerose sistêmica, obesidade, hipertensão arterial e distúrbios psi- cossomáticos leves e moderados (LEI- TE, 2000, p.5). A tabela a seguir é uma compilação re- alizada por Coelho e Burini (2009) a partir de dados coletados sobre prevenção e tra- tamento de algumas DCNT e incapacidade funcional em consensos e diretrizes sobre o assunto, publicados pelas sociedades nacionais, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia, Hipertensão e Diabetes, dentre outros, como se pode observar a seguir: 26 27 Tabela 01: Prevenção e tratamento de DCNT e incapacidade funcional Fonte: COELHO; BURINI (2009, p.941). 26 27 Os autores supracitados enfatizam que há uma visível diferença entre atividade física para prevenção de doenças crôni- cas e para alcançar objetivos fitness, ou seja, a quantidade e a qualidade de exer- cícios necessárias para se atingir efeitos benéficos à saúde pode ser diferente da- quela necessária para se alcançar um bom condicionamento físico. Além disso, não se pode deixar de levar em conta que as recomendações de atividades físicas ex- postas nesse quadro não podem ser tão generalizadas. O professor de educação física sempre deve levar em conta as dife- renças individuais, além de fatores como sexo, idade, estado de saúde e preferên- cias. Os mecanismos que ligam a ativi- dade física à prevenção e ao trata- mento de doenças e à incapacidade funcional envolvem principalmente a redução da adiposidade corporal, a queda da pressão arterial, a melhora do perfil lipídico e da sensibilidade à insulina, o aumento do gasto ener- gético, da massa e da força muscular, da capacidade cardiorrespiratória,da flexibilidade e do equilíbrio. No entanto, existe importante distin- ção entre atividade física para prevenção de doenças crônicas, para o bom condi- cionamento físico e para o tratamento de doenças, associada tanto ao tipo quanto à frequência, à intensidade e à duração das atividades realizadas. (COELHO; BURINI, 2009, p.945) 4.2 O profissional de educa- ção física e a equipe multi- profissional de saúde Com o constante avanço científico nas disciplinas relacionadas à saúde, surgem cada vez mais profissionais devidamente capacitados e regulamentados para tra- balhar, dentro de sua área de atuação, vi- sando o bem-estar de seu cliente. Assim, vemos que, se antigamente um agravo relacionado à área da saúde era encami- nhado como de responsabilidade exclusi- va do médico, hoje se entende que deve- mos considerar o ser humano como um ser holístico, ou seja, um ser biopsicossocial e espiritual. Desta forma, pode parecer reducionista atribuir a responsabilidade pela prevenção ou reabilitação da saúde a apenas um profissional, por isso passa- mos a falar na equipe interdisciplinar em saúde. A partir daí alguns pontos mere- cem ser abordados: Quem é essa equipe interdiscipli- nar? Onde o profissional da educação fí- sica entra nessa história? Venho abordando “profissional da educação física”, mas normalmente ve- mos falar do “professor de educação físi- ca”. Professor é um profissional da educa- ção ou da saúde? Vamos responder a essas e mais algu- mas questões. Começamos pela questão da equipe in- terdisciplinar. É uma equipe formada por diversos profissionais, de saberes dife- rentes, oriundos de formações acadêmi- cas diferentes, o que lhes proporcionam 28 29 diferentes perspectivas de atuação, uma espécie de troca de saberes que se com- plementarão, visando o bem-estar do cliente, que é abordado de maneira holís- tica. Oliveira e colaboradores bem comple- mentam essa definição ao afirmarem que: Interdisciplinaridade pode ser con- siderada como uma troca intensa de saberes profissionais em diversos campos, exercendo, dentro de um mesmo cenário, uma ação de reci- procidade, mutualidade, que pressu- põe uma atitude diferenciada diante de um determinado problema (2011, p.28). Conceitualmente, caso quisermos aprofundar mais o estudo, encontraremos uma diferença entre os termos multidisci- plinar e interdisciplinar, porém como en- contramos obras que se referem à “equi- pe interdisciplinar em saúde” e outras que se referem à “equipe multidisciplinar em saúde”, aqui estamos abordando os dois termos como se ambos tivessem o mesmo significado. Assim, entendemos a importância do trabalho em equipe multiprofissional, já que, em primeiro lugar, o cliente (ou aluno, caso prefiram), foco do nosso trabalho, sairá ganhando com a atenção de todos os profissionais, cada um a partir do ponto de vista de sua especialidade profissional. Não podemos também deixar de lado que o profissional – independente de qual seja a sua área de atuação – também sai ga- nhando, já que na equipe interdisciplinar todos precisam trabalhar com total auto- nomia (em sua área de saber, sem invadir a área de conhecimento do outro e sem se sentir cerceado pelos colegas de outras profissões). Dividem-se conhecimentos, somam-se experiências, todos saem ga- nhando. Mas e o profissional da educação físi- ca? Ele faz parte da equipe de saúde? Ele não é um profissional de educação? Agora iremos aprofundar um pouco mais nossa discussão para chegarmos à nossa área de interesse. Temos, atualmente, 14 profissões de nível superior, reconhecidas pelo Conselho Nacional de Saúde como da área de saúde: Biomedicina, Bio- logia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiolo- gia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Temos, ainda, inúmeras profissões formais de nível médio que partici- pam ativamente da atenção à saúde. (VELLOSO, s.d., p.25) O profissional da educação física, a exemplo de outros profissionais que inte- gram a equipe multiprofissional de saúde, é tanto da área da saúde (bacharelado) como da educação (licenciatura). Nesta apostila, como estamos enfatizando des- de a introdução, reforçaremos a importân- cia do seu enfoque como um profissional da saúde, já que nosso foco é falar sobre “atividade física e saúde”. A Resolução 218/97 (BRASIL, 1997) reconhece o Pro- fissional da Educação Física, assim como outros 12 outros profissionais, como inte- grantes da equipe interdisciplinar de saú- de. Isso realmente foi bastante recente. Entendemos que para poder se re- conhecer, efetivamente, como área 28 29 ‘promotora da saúde, a Educação Fí- sica precisa incorporar a mudança do próprio conceito de saúde, ressaltan- do antes de tudo, as inter-relações com a equidade social, postura que, de forma alguma, a fará perder sua especificidade e legitimidade frente às questões do movimento huma- no. Parece sensato que para ocorrer tal avanço, a área precise expugnar todo o arsenal de discursos e ações pragmáticas moralizantes utilizadas para combater o sedentarismo, ideia que se tornou tão cara à área nas úl- timas décadas. (BAGRICHEVSCHI; ES- TEVÃO, 2005, p.72) Como veremos mais à frente, pensa- mos na importância desse profissional, por exemplo, na prevenção da hiperten- são arterial, atuando junto à comunidade em programas que visam minimizar o se- dentarismo. Além do profissional da edu- cação física, um programa interdisciplinar de impacto poderia incluir o médico, o en- fermeiro, o nutricionista, o psicólogo, o farmacêutico, dentre outros profissionais da saúde que pudessem atuar em conjun- to de maneira a prevenir a hipertensão ou minimizar os danos já instalados pela patologia num grupo de indivíduos. A ci- tação a seguir mostra a importância do profissional da educação física na equipe de saúde: Na classe médica em geral, a ativi- dade física permanece desconheci- da e, como tal, ignorada. De maneira similar, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos não re- cebem formação que lhes capacitam adequadamente para a prescrição de exercício. Cabe, pois, aos profis- sionais e pesquisadores da área de Educação Física – especialistas de formação no uso dessa ferramenta – a obrigação de alavancar sua pro- moção, seja na condução de estudos clínicos e mecanísticos de qualidade, seja na prescrição de exercícios efe- tiva e segura a uma população. [...] O exercício físico é uma ferramenta barata, segura, não patenteável e, quando prescrita de maneira cor- reta, põe fim à necessidade de uma vasta gama de medicamentos (GUA- LANO; TINUCCI, 2011, p.40). Como parte integrante da equipe mul- tiprofissional em saúde, o profissional da educação física atualmente já encontra espaço em programas do Sistema Único de Saúde – SUS. A seguir veremos exem- plos disso. 4.3 Academia da Saúde O ato de exercitar-se precisa estar incorporado não somente ao cotidia- no das pessoas, mas também à cul- tura popular, aos tratamentos médi- cos, ao planejamento da família e à educação infantil. Essa necessidade se dá por diferentes fatores: do fa- tor social, quando se proporciona ao homem o direito de estar ativo fisica- mente em grupo, ao fator econômi- co, quando se constata que os custos com saúde individual e coletiva caem em populações fisicamente ativas. (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.194) Esse assunto é tão relevante que ire- mos citar um exemplo que relata uma rea- lidade do Brasil. O SUS – Sistema Único de 30 31 Saúde – visa ao cuidado da população ini- cialmente no ambiente onde cada ser hu- mano vive. Para que o cuidado às pessoas seja garantido foi criada a Atenção Básica, dentre outrasações em saúde, inclusive as Academias da Saúde (DAB, s.d.). Mesmo sendo de suma importância, não iremos detalhar o funcionamento da Atenção Bá- sica aqui para não fugir ao escopo deste material, apenas tentamos contextualizar para mostrar que mesmo dentro das equi- pes do SUS, o profissional da educação fí- sica tem o seu local de destaque. As Academias da Saúde foram criadas em 2011 pelo Ministério da Saúde como uma estratégia voltada à comunidade para a promoção da saúde e a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, algo rele- vante frente à grande incidência de doen- ças crônicas não transmissíveis, como, por exemplo, diabetes e hipertensão, as quais necessitam, por parte do paciente, a ado- ção de um estilo de vida mais saudável. (DAB, 2014) Seu objetivo é promover práticas corporais e atividade física, promo- ção da alimentação saudável, educa- ção em saúde, entre outros, além de contribuir para produção do cuidado e de modos de vida saudáveis e sus- tentáveis da população. Para tanto, o Programa promove a implantação de polos do Academia da Saúde, que são espaços públicos dotados de in- fraestrutura, equipamentos e pro- fissionais qualificados. (DAB, 2014, s.p.) Observa-se na Portaria que instituiu a publicação das academias que os municí- pios podem contratar profissionais além da equipe básica de saúde (médico, enfer- meiro, técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde) para desenvolve- rem atividades nos espaços e nos equipa- mentos pertencentes ao programa supra- citado (BRASIL, 2013). Importante destacar que o documen- to não deixa claro que essas atividades deverão ser desenvolvidas por um profis- sional de educação física, porém apenas colocar os equipamentos nas praças pú- blicas, segundo Dominguez (2011), não se caracteriza como Academia da Saúde. Segundo Steinhilber (apud DOMIN- GUEZ, 2011), a entrada do profissional da educação física no SUS ocorreu antes do Academia da Saúde, em 2008, com a pro- mulgação da Portaria 154, a qual permitiu a atuação desse profissional nos Núcle- os de Apoio à Saúde da Família (NASF), juntamente com as equipes de Saúde da Família. O profissional da educação física possui todo um diferencial, pois a forma- ção deste permite atuar no sentido de promover a saúde, prevenir doenças e re- abilitar os pacientes. “A Academia da Saú- de é também oportunidade de fortalecer o papel dos profissionais de Educação Física como parte da equipe do Sistema Único de Saúde, cuja entrada é recente” (DOMINGUEZ, 2011, p.108). Em outros locais onde funciona progra- ma semelhante, como em Recife, há con- curso para o profissional da educação físi- ca que pode atuar nas praças ou em CAPS. O programa enfatiza a importância de se cuidar não apenas do corpo, mas dos aspectos biopsicossociais, por isso o pro- grama Academia da Saúde não enfatiza apenas a prática de exercícios físicos vi- sando à modificação do esquema corporal 30 31 ou a alimentação saudável. O programa nacional marca a ocu- pação pela saúde pública de um uni- verso quase inteiramente dominado pelo comércio. Os principais benefí- cios da atividade física ficam enco- bertos diante do apelo ao cuidado estético com o corpo, num círculo em que se estimulam exercícios exage- rados em academias privadas, con- sumo de suplementos vitamínicos e dietas restritivas. (DOMINGUEZ, 2011, p.108) Os equipamentos instalados em praças públicas acabam por proporcionar expe- riência ao ar livre (tão rara em pessoas que vivem trancadas em casas e em es- critórios), convívio com outras pessoas, momentos de relaxamento, o que tam- bém traz benefícios. Segundo Dominguez (2011), há alunos do programa Academia da Cidade de Recife que relatam perda significativa de peso após o ingresso no programa, como também diminuição dos sintomas de depressão, maior motivação, maior interação entre o grupo (em pacien- tes psiquiátricos), socialização (em de- pendentes químicos), dentre outros. Nesse sentido, a Portaria nº 2.681 estabelece oito eixos em torno dos quais as atividades do polo devem ser desenvolvidas: práticas corpo- rais e atividades físicas, promoção da alimentação saudável, mobiliza- ção da comunidade, educação em saúde, práticas artísticas e culturais, produção do cuidado e de modos de vida saudável, práticas integrativas e complementares, e planejamento e gestão. (DAB, 2014, s.p.) 4.4 NASF O NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Fa- mília) é uma equipe interprofissional que atua no sentido de apoiar os profissionais da Equipe Saúde da Família, Equipes de Atenção Básica, compartilhando práticas e saberes nos territórios assistidos por essas equipes. O SUS criou essas equipes visando ampliar a abrangência das ações da atenção básica, visando à integralida- de do cuidado. Dentre os profissionais que compõem a equipe, destaca-se o Profes- sor/ Profissional da educação física. (DAB, 2014). O NASF não precisa ter uma estrutura própria, pode funcionar, por exemplo, em parques, na própria Academia da Saúde, escolas, dentre outros espaços, visando prevenção, promoção da saúde, educação permanente, discussão de casos, cons- trução conjunta de projetos terapêuticos com as equipes, dentre outras estratégias (DAB, 2014). 32 3332 Após realizarmos uma quebra propo- sital na linha de raciocínio anterior para contextualizarmos sobre a importân- cia do profissional da educação física na equipe multiprofissional de saúde iremos expor algumas situações especiais onde é visível a relação entre atividade física e saúde (seja prevenção, promoção ou rea- bilitação). Pelo que foi possível observar até aqui através de pesquisas bibliográficas reali- zadas em diferentes materiais, tais como Leite (2000), Nieman (1999), Powers, Howey (2000), ANS (2009), a atividade física aparece como fator de proteção (junto com alguns outros) para algumas doenças, em especial as DCNT, ao mesmo tempo em que o fato de não fazer ativi- dade física regularmente aparece como fator de risco (dentre outros fatores) para esse mesmo tipo de doenças. Como devido às limitações de espaço para desenvolver a apostila fica impossí- vel abordar, em particular, todas as situa- ções que envolvam os benefícios da ati- vidade física, selecionamos aqui alguns casos – em especial os fatores de risco relacionados às DCNT (como o avanço da idade) – os quais serão abordados a se- guir. Vale a pena ressaltar que, para um maior aprofundamento sobre o tema, ao final da apostila, nas referências, é possí- vel recorrer às obras completas consulta- das para a confecção deste material. 5.1 Atividade física na pro- moção da saúde do idoso É um desafio fazer com que os ido- sos durante sua existência aprovei- tem melhor o tempo que lhes resta de maneira saudável, independente, com autonomia, sentindo-se bem e, dentro do possível, com melhor quali- dade de vida. [...] Os exercícios físicos são fatores de restauração da saúde que proporcionam maior equilíbrio nesta etapa da vida (BENEDETTI; PE- TROSKI; GONÇALVES, 2003, p.70). Compreende-se como senescência o processo fisiológico de envelhecimento que compreende alterações nas funções orgânicas e mentais. Essas alterações se dão exclusivamente em decorrência do processo natural de envelhecimento no organismo. Esse processo sofre varia- ções em decorrência de fatores ligados ao estilo de vida que o indivíduo assume desde a infância e adolescência, como, por exemplo, prática regular de exercício físico ou sedentarismo, hábitos nutricio- nais, tipo de atividade nutricional, vícios, dentre outros (LEITE, 2000). Segundo Nóbrega et al. (1999), o en- velhecimento é um ciclo vicioso marcado por eventos biopsicossociais, ilustrados na figura a seguir. Porém, nos indivíduos que têm
Compartilhar