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ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

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AT 1
Atividade Física e Saúde
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 - Introdução
8 UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais
8 2.1 Saúde
9 2.2 Qualidade de vida
11 2.3 Atividade física
11 2.4 Aptidão física
13 UNIDADE 3 - Epidemiologia
13 3.1 Noções gerais sobre epidemiologia
17 3.2 Paciente crônico: características biopsicossociais
18 3.3 Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)
19 3.4 Fatores de risco para as doenças
21 UNIDADE 4 - Promoção da saúde, prevenção primária, secundária e terciária
23 4.1 Aspectos preventivos e terapêuticos do exercício físico
27	 4.2	O	profissional	de	educação	física	e	a	equipe	multiprofissional	de	saúde
29 4.3 Academia da Saúde
31 4.4 NASF
32 UNIDADE 5 - Benefícios da Atividade Física em Situações Especiais
32 5.1 Atividade física na promoção da saúde do idoso
35 5.2 Atividade física e diabetes
38 5.3 Atividade física e hipertensão arterial
40 5.4 Atividade física e controle de peso
42 UNIDADE 6 - Saúde x Doença: Transtornos Alimentares e da Imagem Corporal
44 6.1 Anorexia
44 6.2 Bulimia
46	 6.3	Dismorfia	muscular	ou	vigorexia
46 6.4 Abuso de substâncias nos esportes
48 REFERÊNCIAS
2 33
UNIDADE 1 - Introdução
Se eu dissesse que possuo uma fór-
mula que vai auxiliá-lo a viver mais 
tempo, evitar – e mesmo curar – al-
gumas doenças, aliviar o estresse e 
torná-lo mais forte com praticamen-
te nenhum efeito colateral perni-
cioso, provavelmente você pagaria 
uma boa quantia por ela. Mas, se eu 
lhe dissesse que ela é gratuita? Pro-
vavelmente você demonstraria um 
certo ceticismo e diria a si mesmo: 
“É bom demais para ser verdade”, 
“Ninguém consegue algo por nada” 
ou “Se é tão bom assim, por que nem 
todos a possuem?”. A verdade é que 
eu possuo uma fórmula como essa, 
e ela não custa nada. Mas você não 
pode tê-la por nada. Você deve fazer 
um investimento. A fórmula é ativi-
dade física – simples física – simples 
exercícios. E se você investir pelo 
menos trinta minutos, três vezes por 
semana, numa atividade moderada-
mente vigorosa, você pode obter os 
benefícios por mim descritos (NIE-
MAN, 1999, p.3).
Antes de você começar a leitura des-
ta seção da apostila, pedimos desculpas 
caso o texto apareça fragmentado, cheio 
de idas e voltas. Sabemos que um bom 
texto científico deve ser contínuo, de for-
ma a não deixar o leitor confuso; nas de-
mais seções tentamos seguir esse princí-
pio à risca. Porém na introdução, o texto 
fragmentado faz parte do estilo adotado: 
tentamos, a partir de uma “fórmula” apre-
sentada na epígrafe, levantar uma série 
de questionamentos (alguns dos quais se-
rão concluídos nessa seção, outros serão 
deixados em abertos, para aguçar o senso 
crítico, e apenas serão fechados em se-
ções posteriores). Desta forma, isso justi-
fica os constantes ires e vires do tema. 
Da mesma forma, inicialmente já justifi-
camos o uso de algumas citações de cita-
ções (apuds), o que não é recomendado do 
ponto de vista da metodologia da pesqui-
sa, porém, se fez necessário em algumas 
situações devido à dificuldade em se loca-
lizar algumas obras originais. Sugerimos 
que, na introdução, anotem as questões 
que mais despertaram sua curiosidade ou 
dúvidas e após o estudo da apostila reve-
jam se as mesmas ficaram realmente cla-
ras. Bons estudos!
Não é novidade lermos, vermos por aí e 
ouvirmos falar sobre os benefícios da ati-
vidade física para a nossa estética, para a 
nossa mente e para o bem-estar do nosso 
corpo, ou seja, a atividade física é benéfi-
ca para a nossa saúde. 
Figura 1: O remédio
Fonte: Facebook (2014). 
4 5
Esta apostila sobre “Atividade física e 
saúde” tentará expor algumas ideias rela-
tivas a esta realidade – que, além de não 
ser tão atual, não é apenas tema de de-
bates de meios científicos, mas, principal-
mente, de meios de conversas informais. 
Isto é de suma importância, pois quando 
um assunto relacionado à saúde, em es-
pecial, à prevenção de doenças, chega ao 
senso comum, cabe também à população 
a responsabilidade por também promo-
ver sua própria saúde e prevenir doenças. 
Essa preocupação com a saúde e, mais do 
que isso, a conscientização de que um dos 
meios de se prevenir doenças e contro-
lar aquelas já instaladas se dá através da 
adoção de um estilo de vida saudável, tem 
sido amplamente disseminada por vários 
canais de comunicação. Grandes exem-
plos disso são a citação de Nieman (1999), 
retirada de um livro científico da área e a 
figura 1 (s.d.), retirada das redes sociais. 
Independente dos meios de circulação e 
do público-alvo aos quais cada tipo de ma-
terial está direcionado, ambos carregam, 
como essência, o mesmo tipo de conteú-
do: a benéfica relação entre atividade fí-
sica e saúde.
Ressaltamos a importância de que esse 
debate saia dos meios acadêmicos, atinja 
os meios “saudáveis”, já preocupados em 
manter um padrão de vida satisfatório, 
mas, principalmente os sedentários, que 
devem estar dispostos a mudar seu estilo 
de vida em busca de saúde. Podemos ver 
a preocupação expressa na relação entre 
atividade física e saúde também na cita-
ção a seguir:
Para alguns estudiosos, os indiví-
duos sedentários procuram fazer 
exercícios para que estes lhe pro-
porcionem bem-estar físico, social e 
mental, ou seja, aumentar o limiar da 
saúde e evitar doenças físicas e psi-
cossomáticas (LEITE, 2000, p.4).
Mais do que isso, para a equipe multi-
profissional de saúde – todos os profis-
sionais da área de saúde que trabalham 
juntos em busca de cuidar melhor do pa-
ciente – aqui, em especial, para o profis-
sional da educação física, sua responsa-
bilidade é ainda maior. Um profissional 
de grande importância para a sociedade, 
mas que, durante muito tempo de sua tra-
jetória profissional foi visto apenas como 
um educador (não desmerecendo esta 
função, a qual é de vital importância), po-
rém ele pode ir além, ele é um profissio-
nal da educação e da saúde e, com isso, 
sua atuação deixa de ser voltada apenas à 
prática (o que normalmente esses profis-
sionais mais gostam de fazer), mas cabe 
a ele também o compromisso de ter uma 
formação teórica continuada, em busca 
de atualizações que lhe permitam ser um 
multiplicador de conhecimentos, além de 
poder exercer sua prática com conheci-
mentos mais atuais. Mais adiante iremos 
expor brevemente essa trajetória da Edu-
cação Física de forma a contextualizar a 
nossa área de interesse: o profissional da 
educação física enquanto profissional da 
área da saúde.
Em relação a reiterar a necessidade de 
mantermos sempre o conhecimento atu-
alizado, vamos voltar à nossa epígrafe. 
Pode parecer contraditório essa citação 
ser de 1999, assim como muitas obras 
nesta apostila serem um pouco mais anti-
gas. Deixamos aqui a explicação para esse 
fato: o conhecimento científico precisa 
ser atualizado, porém, algumas obras são 
4 5
referência e merecem ser reforçadas, por 
trazerem bons argumentos de autorida-
de, os quais continuam sendo utilizados 
até os dias de hoje. A mensagem geral 
que pretendemos passar através desta 
apostila, a qual ficou evidente na nossa 
epígrafe, é que a atividade física é um im-
portante meio através do qual é possí-
vel alcançar saúde. Aqui sempre iremos 
reforçar a ideia de que a atividade física 
pode auxiliar na prevenção de doenças e 
na melhora da qualidade de vida das pes-
soas.
Ao longo desta apostila, muitas defi-
nições serão feitas para que o conteú-
do possa ser bem compreendido. Alguns 
desses termos, tais como atividade físi-
ca, saúde, qualidade de vida, prevenção, 
promoção da saúde, equipe multidiscipli-
nar, já foram citados e talvez você esteja 
se perguntando o que serão essas pala-
vras. Não se preocupe, o nosso objetivo 
aqui é falar bastante sobre elas, portan-
to, as mesmas serão muito bem definidasnas próximas seções. Para o momento, é 
suficiente que vocês compreendam ati-
vidade física como qualquer movimento 
corporal cujo gasto energético seja maior 
que durante o repouso. Também precisam 
entender saúde enquanto um estado de 
bem-estar biopsicossocial e espiritual, ou 
seja, saúde não se limita à ausência de do-
enças. A partir dessas definições, podere-
mos avançar um pouco mais num estudo 
teórico generalizado, ainda superficial, in-
trodutório, que é o objetivo dessa seção.
Na epígrafe, Niemam (1999) apresen-
tou a atividade física como uma espécie 
de fórmula milagrosa para se viver mais, 
prevenir e curar doenças do corpo e da 
mente. Porém, outros autores também 
deixam a relação entre atividade física e 
saúde bastante clara, como veremos ao 
longo da apostila. Observa-se que, se-
gundo Taylor (apud LEITE, 2000, p.4), o 
indivíduo busca na prática dos exercícios 
físicos: 
lazer; estabilidade emocional; de-
senvolvimento intelectual; consci-
ência estética; competência social; 
desenvolvimento moral; autorrea-
lização; desenvolvimento das capa-
cidades motoras; desenvolvimento 
físico-orgânico.
Destacamos que, ao contrário da epí-
grafe, não fica explícita a busca do espor-
te como forma de prevenção ou promoção 
da saúde. É notório que a partir de nossa 
visão de saúde como um completo estado 
de bem-estar físico mental e social, a par-
tir desses nove motivos consegue-se ter 
subentendido que através do esporte, o 
indivíduo está buscando a saúde como um 
todo.
Atualmente, as pessoas sabem que 
precisam se manter ativas fisicamente 
para serem saudáveis; e, para que a ativi-
dade física seja desempenhada correta-
mente, é indispensável a atuação do pro-
fissional de educação física que, como já 
foi falado, além de ser um profissional da 
área da educação é também um membro 
da equipe multiprofissional de saúde (as-
sim como o médico, o enfermeiro, o fisio-
terapeuta, o psicólogo, dentre outros pro-
fissionais que visam o cuidado do cliente). 
Mas, será que sempre ocorreu assim? 
Como não é o foco desse material definir o 
percurso histórico da Educação Física en-
quanto profissão no Brasil, iremos apenas 
discorrer sobre alguns detalhes que nos 
ajudam a compreender como aspectos só-
6 7
cio-histórico-culturais influenciaram esse 
percurso para que, com todo o embasa-
mento teórico e prático adquirido, o pro-
fissional da área viesse a compor a equipe 
multiprofissional de saúde.
Segundo Leite (2000), a partir da déca-
da de 70, observa-se a massificação do es-
porte, do cuidado do corpo, da corrida, da 
ginástica. No decorrer do percurso históri-
co, muitas mudanças foram acontecendo 
para que a educação física chegasse ao 
estágio que está hoje em dia. Até que, de 
acordo com o CREF/6 (s.d), uma importan-
te conquista para a Profissão ocorreu em 
1988, com a criação da Lei Federal 9.696, 
que regulamentou a Profissão de Educa-
ção Física, surgindo assim o Conselho Fe-
deral e os Conselhos Regionais de Educa-
ção Física. Este foi um importante avanço 
para a área, pois a partir desta data, so-
mente os profissionais regularmente re-
gistrados no Conselho poderiam exercer 
sua profissão no Brasil. Entende-se esse 
momento como um avanço para os pro-
fissionais, que passam a ter seu campo de 
trabalho definido apenas para os profis-
sionais devidamente graduados e regu-
lamentados e, principalmente, para a po-
pulação, confiante de que irá contar com 
a atenção de profissionais devidamente 
preparados academicamente para o de-
sempenho de suas funções.
Tendo em vista tudo o que foi acon-
tecendo no contexto histórico durante 
esse período, consegue-se compreender 
brevemente de onde surgiu e para onde 
caminha a Educação Física, sim, pois não 
acreditamos que tudo irá parar por aqui. 
Focando apenas o contexto brasileiro, 
desde o início foram muitas mudanças, o 
profissional tem se destacado cada vez 
mais, é um profissional da educação e da 
saúde. Como reforçamos desde o início, 
como aqui o nosso foco é atividade física e 
saúde, iremos deixar a educação um pou-
co de lado.
Recapitulando o conceito de saúde 
como algo subjetivo e complexo, não é 
de se esperar que para se ter saúde, não 
seria necessário apenas a atuação de um 
único profissional, mas de toda uma equi-
pe. Desta forma, o profissional da edu-
cação física merece destaque através de 
medidas que visam à prevenção em seus 
diferentes níveis ou mesmo a reabilitação, 
pois estudos como os de Guedes; Guedes 
(2005), Araújo; Araújo (2000), Pitanga 
(2002), Bagrichevschi; Estevão (2005), 
Benedetti; Petroski; Gonçalves (2003), 
Gualanno; Tinucci (2011), Coelho; Burini 
(2009), dentre outros citados ao longo da 
apostila mostram que há relação entre a 
atividade física e a saúde (seja física ou 
psicossocial).
Como membro da equipe multidisci-
plinar/interdisciplinar, o profissional da 
educação física poderá atuar em diversos 
espaços, tais como academias de ginás-
tica, estúdios fitness, nas ruas, escolas, 
instituições de longa permanência para 
idosos, hospitais, centros de reabilitação 
diversos, clínicas, centros de prevenção, 
instituições de saúde pública, dentre ou-
tros espaços. Sua atuação será sempre em 
equipe com outros profissionais de saúde, 
porém no momento, ele poderá trabalhar 
sozinho, mas sempre se lembrando de 
que sua prática sempre deverá ser feita 
em conjunto com o trabalho dos outros 
colegas da equipe de saúde. Ou seja, mes-
mo que o médico, o fisioterapeuta, o nu-
tricionista, o farmacêutico e o psicólogo 
6 7
não dividam o mesmo espaço com ele, ao 
atuar com um indivíduo hipertenso, todos 
os profissionais deverão considerar seu 
trabalho em conjunto, visando o bem-es-
tar do indivíduo, já que todos visam o seu 
cuidado e sua saúde como um todo biopsi-
cossocial e espiritual.
Em síntese, é papel do profissional da 
educação física, orientar a promoção da 
saúde e a prevenção das doenças através 
da adoção de um estilo de vida saudável 
e ativo, atuar na reabilitação de doenças 
que já se instalaram pela prática da ativi-
dade física. Destacam-se, dentre as prin-
cipais obras citadas, Leite (2000), Nieman 
(1999), Araújo; Araújo (2000), Powers; 
Howley (2000), Pitanga (2002), Lacerda; 
Guzzo (2005), Buss (2000); SBD (2014), 
SBH (2014), Weinberg; Gould (2006).
O objetivo geral desta apostila é re-
lacionar a prática de atividade física à 
promoção, à melhoria e à reabilitação da 
saúde. Os principais objetivos específicos 
são definir os conceitos de atividade físi-
ca, aptidão física e saúde; compreender 
a atuação do profissional de educação fí-
sica na equipe interdisciplinar de saúde; 
apresentar os três níveis de prevenção e 
a promoção da saúde; conhecer a relação 
entre epidemiologia e atividade física; in-
vestigar aspectos relacionados à saúde, à 
doença, ao corpo, à mídia e à contempora-
neidade; apresentar relatos da prática da 
atividade física como agente de promoção 
de saúde em algumas situações.
 
8 98
Não apenas os meios científicos, mas 
também a mídia e o senso comum em ge-
ral bombardeiam informações sobre como 
a prática regular da atividade física pode 
contribuir para a melhoria da qualidade 
de vida de pessoas de diferentes idades, 
etnias, condições de saúde, socioeconô-
micas, sejam elas homens ou mulheres. 
Porém, esta é uma consideração bastante 
informal, que não serve de embasamento 
teórico a nível de uma pós-graduação. 
Durante sua formação, o acadêmico 
de educação física aprende mais do que 
isso. Ele entende que, segundo Guedes e 
Guedes (1995), a prática de atividade físi-
ca influencia nos níveis de aptidão física, 
os quais interferem nos níveis de prática 
de atividade física. Disso pode-se concluir 
que o participante regular de atividade 
física apresenta melhores níveis de apti-
dão física, tornando-se,provavelmente, 
mais ativo. Como os níveis de aptidão fí-
sica também se relacionam ao estado de 
saúde, este sofre influência dos índices 
de aptidão física (mas também influen-
ciam este índice). O diagrama a seguir ilus-
tra bem o que foi apresentado, ou seja, as 
variáveis de aptidão e saúde (bem-estar, 
morbidade e mortalidade) são interde-
pendentes, porém lazer e trabalho tam-
bém podem ser compreendidos como for-
mas de atividades físicas:
Apesar de sua aparente simplicida-
de, é forçoso admitir que aspectos 
voltados à hereditariedade, ao estilo 
de vida, às condições ambientais e 
aos atributos pessoais podem afetar 
a inter-relação atividade física, apti-
dão física e saúde, tornando o mode-
lo bem mais complexo e dependente 
de outros fatores. Ademais, o mo-
delo apresenta algumas implicações 
importantes que podem comprome-
ter de maneira decisiva a promoção 
da saúde mediante a prática da ativi-
dade física (GUEDES; GUEDES, 1995, 
p. 10).
2.1 Saúde
Inicialmente, com a chamada noção 
dicotômica, entendia-se saúde apenas 
como ausência de doenças. A Organização 
Mundial de Saúde (OMS) tornou este con-
ceito mais abrangente, ao preconizar saú-
de como o estado de mais completo bem-
-estar físico, mental e social e espiritual, 
UNIDADE 2 - Definição de conceitos principais
Figura 2: Relação entre atividade física habitual, aptidão física e saúde.
Fonte: Bouchard et al. (apud ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.197).
8 99
e não apenas a ausência de enfermidade.
Esta definição marca um avanço na área 
da saúde, já que engloba aspectos físicos, 
psíquicos e sociais. A partir daí passa-se a 
pensar não apenas na cura de patologias, 
mas nas práticas de prevenção e promo-
ção da saúde (prioridade da Saúde, em es-
pecial, da Saúde Pública na atualidade).
Nessa perspectiva, fica evidente que 
o estado de ser saudável não é algo 
estático; pelo contrário, é necessário 
adquiri-lo e reconstruí-lo de forma 
individualizada e constantemente 
ao longo de toda a vida, oferecendo 
indícios de que a saúde é também 
domínio educacional e, por sua vez, 
deva ser tratada não apenas com 
base em referências de natureza 
biológica e higienista, mas, sobretu-
do, num contexto didático-pedagó-
gico (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11).
Como consequência dessa definição, 
tem-se a necessidade do cliente ser abor-
dado por uma equipe multidisciplinar que 
dê atenção para o mesmo a partir de um 
pressuposto biopsicossocial.
Outra definição, mais recente, aborda 
com mais detalhes o conceito, também de 
maneira holística. Define saúde como:
 [...] resultante das condições de ali-
mentação, habitação, educação, ren-
da, meio ambiente, trabalho, transpor-
te, emprego, lazer, liberdade, acesso e 
posse da terra e acesso aos serviços 
de saúde. É assim, antes de tudo, o re-
sultado das formas de organização so-
cial da produção, as quais podem ge-
rar desigualdades nos níveis de vida. 
(FLEURY, 1992, p.170 apud BAGRICHE-
VSCHI; ESTEVÃO, 2005, p.71)
Torna-se importante ressaltar que a 
educação física ainda carrega uma linha 
de pensamento de privilegiar os proces-
sos biológicos em detrimento dos socio-
culturais quando se leva em conta o pro-
cesso saúde-doença. Dessa forma, ao se 
relacionar “educação física e saúde” acaba 
se criando uma relação de causa e efeito 
entre exercício e saúde, ou seja, a saúde 
parece ficar, a priori, como consequência 
da prática regular de exercícios físicos. 
Parecem não se levar em conta fatores 
importantes como condições econômicas, 
saneamento básico, condições educacio-
nais, condições nutricionais, condições de 
moradia e lazer, dentre outros que tam-
bém influenciam na saúde do indivíduo 
(BAGRICHEVSCHI; ESTEVÃO, 2005).
2.2 Qualidade de vida
Assim como mencionamos a respeito da 
divulgação em massa sobre a relação en-
tre atividade física e saúde, “qualidade de 
vida” é um termo amplamente abordado 
dos meios científicos ao cotidiano. A OMS 
(2005) define qualidade de vida como:
[...] a percepção que o indivíduo tem 
de sua posição na vida dentro do con-
texto de sua cultura e do sistema de 
valores de onde vive, e em relação a 
seus objetivos, expectativas, padrões 
e preocupações. É um conceito muito 
amplo que incorpora de uma maneira 
complexa a saúde física de uma pes-
soa, seu estado psicológico, seu nível 
de dependência, suas relações sociais, 
suas crenças e sua relação com carac-
terísticas proeminentes no ambiente 
(OMS, 1994 apud OMS, 2005).
10 11
A avaliação da qualidade de vida de de-
terminado indivíduo varia em função das 
três dimensões nas quais o sujeito encon-
tra-se inserido: física, psicológica e social. 
Desta forma, a qualidade de vida em saú-
de relaciona-se à capacidade de viver sem 
doenças ou mantê-las sob controle. A par-
tir deste pressupossto, pode-se inferir o 
quanto que a atividade física ocupa o seu 
espaço na promoção de uma melhor quali-
dade de vida, como pode ser verificado na 
citação a seguir.
Quando vista de forma mais focaliza-
da, qualidade de vida em saúde coloca 
sua centralidade na capacidade de vi-
ver sem doenças ou de superar as di-
ficuldades dos estados ou condições 
de morbidade. Isso porque, em geral, 
os profissionais atuam no âmbito em 
que podem influenciar diretamente, 
isto é, aliviando a dor, o mal-estar e as 
doenças, intervindo sobre os agravos 
que podem gerar dependências e des-
confortos, seja para evitá-los, seja mi-
norando consequências dos mesmos 
ou das intervenções realizadas para 
diagnosticá-los ou tratá-los (MINAYO; 
HARTZ; BUSS, 2000, p.16).
É um conceito subjetivo, relacionado a 
padrões históricos, culturais, sociais e até 
mesmo individuais, pois depende da auto-
avaliação por parte do indivíduo, ou seja, 
eu não posso avaliar a qualidade de vida 
de outra pessoa como boa ou ruim, apenas 
ele (ou ela) tem condições de fazer esse 
julgamento a partir de sua própria percep-
ção. Como é possível observar na citação a 
seguir, parece ser automático relacionar-
mos sempre a atividade física a uma boa 
qualidade de vida, porém o profissional da 
educação física precisa compreender que 
cada caso é um caso, há exceções, já que 
essa avaliação depende do próprio indiví-
duo.
Quando falamos na relação entre a 
atividade física e a qualidade de vida, 
precisamos estar conscientes de que 
essa relação pode ser negativa, seja 
pela ausência de resultados positivos 
para a saúde, seja pela ausência de 
atividade física ou também por efeitos 
deletérios que a atividade física pode 
causar à saúde e consequentemente 
à qualidade de vida do cidadão. Quan-
do ampliamos os efeitos de uma vida 
ativa fisicamente para além da saúde 
e colocamos os efeitos do exercício, 
adequadamente realizado, como fator 
indispensável para a melhoria na qua-
lidade de vida de um dado indivíduo, 
aí estamos partindo da premissa de 
que alguém inativo e sedentário não 
tem boa qualidade de vida. Contudo, a 
classificação de uma qualidade de vida 
boa ou ruim está diretamente relacio-
nada à maneira do indivíduo entender 
o sentido da vida. Talvez um indivíduo 
de 30 anos, intelectual, artista plás-
tico, fumante moderado, com nível 
normal de estresse inerente à profis-
são e sedentário, seja um candidato 
em potencial para contrair doenças 
crônico-degenerativas, mas que, se 
arguido sobre o seu nível de qualida-
de de vida, responda que o considera 
bom e que esse o satisfaz. A questão 
da qualidade de vida passa até mesmo 
pelas expectativas (baixas ou altas) 
das pessoas em relação à sua vida e 
à sua saúde (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, 
p.195-196).
10 11
2.3 Atividade física
“A atividade física é definida como 
qualquer movimento corporal, produzido 
pelos músculos esqueléticos, que resulta 
em gasto energético maior do que os ní-
veis de repouso” (CARPESEN et al., 1995, 
apud GUEDES; GUEDES,1995, p. 11). Nie-
man (1999) complementa que o objetivo 
final da promoção da atividade física é a 
promoção da saúde.
2.4 Aptidão física
Segundo Nieman (1999), define-se ap-
tidão física como uma condição na qual a 
pessoa tem energia suficiente para reali-
zar suas atividades de vida diária, recrea-
tivas e exercícios, em geral, sem apresen-
tar fadiga. Segundo Guedes e Guedes: 
Em síntese, os índices de aptidão fí-
sica seriam moduladores dos atribu-
tos voltados à capacidade de realizar 
esforços físicos que possam garantir 
a sobrevivência das pessoas em boas 
condições orgânicas no meio ambien-
te em que vivem (1995, p. 16). 
A aptidão física, atividade física e saú-
de são atributos inter-relacionados (como 
foi possível observar no diagrama da pá-
gina 10),
Fazem parte da aptidão física relacio-
nada à saúde aqueles componentes 
que apresentam relação diretamen-
te proporcional ao melhor estado de 
saúde e, adicionalmente, demonstram 
adaptação positiva à realização regu-
lar de atividade física e programas de 
exercícios físicos (GUEDES; GUEDES, 
1995, p. 19).
Araújo e Araújo (2000), na figura a se-
guir, propuseram uma adaptação do es-
quema de Bouchard et al., o qual busca de-
monstrar que a atividade física habitual, 
como lazer e trabalho, pode influenciar a 
aptidão física, a qual é correlacionada com 
o nível habitual de atividade física. Tam-
bém é possível inferir que a aptidão física 
é influenciada pela saúde (compreendem-
-se aqui os conceitos de bem-estar, mor-
bidade e mortalidade), a qual influencia 
tanto o nível de atividade física habitual, 
quanto o nível de aptidão física. Porém, 
como se pode observar nesse modelo, há 
outras variáveis que também constituem 
o estilo de vida e influenciam na saúde: as 
condições ambientais, as características 
pessoais e genéticas. 
Figura 03: Modelo descrevendo um 
esquema complexo na relação en-
tre atividade física habitual, aptidão 
física e saúde
Fonte: ARAÚJO; ARAÚJO (2000, p. 198).
12 1312
Atividade física e aptidão física são 
diferentes, porém inter-relacionadas 
formas de medida. A primeira é uma 
opção comportamental, enquanto que 
a segunda é parcialmente determina-
da por fatores genéticos, sendo que 
atividade física regular pode melhorar 
a aptidão física. (PITANGA, 2002, p.51)
 Nieman (1999) postula que a aptidão 
relacionada à saúde é inversamente pro-
porcional ao risco de doenças crônicas. 
Dentre os componentes da aptidão re-
lacionada à saúde que podem ser men-
surados, o autor destaca a resistência 
cardiorrespiratória, a aptidão musculo-
esquelética e uma composição corpórea 
ideal.
[...] os programas direcionados a aten-
der aos componentes da aptidão física 
relacionada à saúde, seguramente se 
constituem em mecanismos impres-
cindíveis na medida em que contri-
buem para que se possa inibir o apa-
recimento dos fatores de risco que 
mais tarde venham a contribuir para o 
surgimento de sintomas relacionados 
às disfunções de caracteres crônico-
-degenerativos, mediante maior pro-
teção contra problemas e distúrbios 
associados às doenças hipocinéticas, 
isto é, aquelas relacionadas ou causa-
das pela falta de atividade física (GUE-
DES; GUEDES, 1995, p. 18).
 
12 1313
3.1 Noções gerais sobre epi-
demiologia
Como esta apostila tem como tema 
“atividade física e saúde”, aqui iremos en-
focar a importância da epidemiologia nos 
estudos sobre a distribuição e os deter-
minantes das condições de saúde, assim 
como do uso dessas informações para a 
prevenção e o controle das doenças, no 
nosso caso, através da atividade física.
Define-se epidemiologia como: o “es-
tudo da distribuição e as determinantes 
das condições ou eventos relacionados à 
saúde em populações específicas e a apli-
cação deste estudo no controle dos pro-
blemas de saúde” (CHOW; WILMORE, 1984 
apud POWERS; HOWLEY, 2000, p.256).
Assim, a epidemiologia é utilizada para 
estabelecer a causa da doença (e assim 
adotar-se estratégias de prevenção); para 
se traçar a história natural de uma doen-
ça; para descrever o estado de saúde de 
determinadas populações e para reali-
zar uma intervenção (POWERS; HOWLEY, 
2000).
Fletcher e Fletcher (2006) elucidam a 
importância da epidemiologia clínica por 
ser esta a ciência que objetiva desenvol-
ver e aplicar métodos de observação clí-
nica que conduzam a conclusões válidas, 
evitando-se, assim, a ocorrência de erros. 
A epidemiologia clínica é de grande impor-
tância, pois, a partir dela, os especialistas 
podem obter as informações mais rele-
vantes sobre o paciente para, com elas, 
tomarem as melhores decisões no que diz 
respeito ao seu cuidado.
Segundo Powers e Howley (2000), nos 
EUA, nos últimos 100 anos, a principal 
causa de morte deixou de ser as doenças 
infecciosas, como a tuberculose e a pneu-
monia, passando a ser as doenças dege-
nerativas, como o câncer e as doenças 
cardiovasculares. Essas últimas são multi-
causais, podendo-se destacar fatores ge-
néticos (não podem ser modificados, são 
inatos), ambientais e comportamentais 
(esses dois últimos podem ser modifica-
dos pelo indivíduo). Os autores costumam 
falar em uma rede de causas, já que os 
denominados fatores de risco interagem 
entre si, além disso, vale a pena destacar 
que é de extrema importância o desen-
volvimento de programas de prevenção 
voltados à saúde pública para que a po-
pulação se eduque e se torne responsável 
pela sua própria saúde. Importante desta-
car que algumas dessas doenças degene-
rativas podem ter seu início retardado ou 
impedido se alguns fatores ambientais ou 
comportamentais forem modificados. 
UNIDADE 3 - Epidemiologia
14 15
Figura 04: Modelo epidemiológico 
que mostra a interação complexa en-
tre os fatores de risco associados ao 
desenvolvimento das DCNT (exemplo: 
doenças cardiovasculares)
Pitanga (2002) aponta que o sedenta-
rismo se destaca, nesse paradigma, como 
um dos fatores de risco para os agravos à 
saúde, daí a íntima relação entre epide-
miologia, saúde e atividade física.
Já definimos os conceitos de epidemio-
logia, saúde e atividade física, agora fa-
lamos de risco, palavra que ouvimos em 
nosso cotidiano. Mas, na epidemiologia, 
o que é risco? Fletcher e Fletcher (2006) 
mostram que risco, de maneira geral, re-
laciona-se com a probabilidade da ocor-
rência de um evento adverso. Porém, na 
epidemiologia, os autores ilustram que 
o termo está relacionado mais especifi-
camente à probabilidade de que pessoas 
expostas a determinados fatores de ris-
co tenham mais probabilidade de contrair 
determinadas doenças do que as pessoas 
que não foram expostas a esses fatores. 
Ainda a esse respeito, ao se estudar a 
epidemiologia do envelhecimento, faz-se 
um aprofundamento em alguns aspectos 
epidemiológicos que irão ser de interesse 
do profissional da educação física. Me-
didas atualmente consideradas simples 
como a adoção de medidas de saneamen-
to básico, o surgimento dos antibióticos 
e das vacinas foram responsáveis pelo 
aumento da expectativa de vida e pela 
mudança no padrão epidemiológico apre-
sentado anteriormente: a diminuição das 
mortes por doenças infectocontagiosas 
(RAMOS, 2002). A partir dessa transição 
epidemiológica, temos uma nova realida-
de.
A Transição Epidemiológica é o resul-
tado das variações comportamentais 
dos padrões de morbimortalidade e 
fecundidade, que determinam mudan-
ças na estrutura populacional, ao se 
processarem as alterações na manei-
ra de adoecer e morrer. Laurenti de-
fine a Transição Epidemiológica como 
‘uma evolução gradual dos problemas 
de saúde caracterizados por alta mor-
bidade e mortalidade por doenças in-
fecciosas que passa a se caracterizar 
predominantemente por doenças crô-
nicas não-transmissíveis’ (PINHEIRO; 
FREITAS, CORSO, 2004, p.525).
Podemos inferirque a prevenção e a 
cura das doenças que anteriormente di-
zimava a população não dependiam muito 
dos próprios indivíduos (apesar de que an-
tes da descoberta dos antibióticos e das 
vacinas, por exemplo, algumas matavam 
Fonte: POWERS; HOWLEY (2000, p.257).
14 15
em um curto intervalo de tempo). Atual-
mente, a situação é diferente. Como já foi 
abordado, as doenças que dizimam gran-
de parte da população são as doenças 
degenerativas (ou doenças crônicas não 
transmissíveis – DCNT – tema que será 
abordado a seguir). Para essas doenças 
não há vacina, as medidas de saneamen-
to não trazem o controle das mesmas, há 
necessidade de grande participação do in-
divíduo em seu tratamento: mudança de 
hábitos alimentares, adoção de atividade 
física regular, remédios de uso contínuo, 
visitas regulares a uma equipe multipro-
fissional de saúde. Em síntese, o pacien-
te passa a ser responsável pelo sucesso 
de seu tratamento, a doença não leva ao 
óbito num curto prazo de tempo, mas suas 
complicações oneram todo o sistema de 
saúde. O grande desafio da saúde pública 
frente a essas doenças é ainda maior se 
levarmos em conta o contingente nume-
roso de idosos no Brasil e no mundo (RA-
MOS, 2002). 
O profissional da educação física pode 
compor a equipe multiprofissional de for-
ma a atuar na prevenção e na promoção 
da saúde em meio a essa realidade epi-
demiológica. A citação a seguir relaciona 
melhor os benefícios da atividade física 
para a saúde a partir das três variáveis já 
abordadas anteriormente: genéticas, am-
bientais e comportamentais:
Desta forma, a atividade física rela-
cionada à saúde, no contexto das re-
des multicausais, aparece como um 
dos fatores que poderia modificar o 
risco dos indivíduos para adoecerem. 
Em primeiro lugar, existem evidên-
cias bastante significativas da influ-
ência da atividade física na melhoria 
da eficiência do sistema imunológico, 
fato que pode reduzir a incidência de 
alguns tipos de câncer e melhorar a re-
sistência de pacientes com AIDS. Por 
outro lado, a adoção de estilo de vida 
ativo fisicamente, irá proporcionar 
mudança de comportamento dos in-
divíduos. Além disto, poderíamos pro-
porcionar modificações no meio am-
biente, mediante a criação de espaços 
adequados para prática de atividade 
física. Finalmente, as constatações da 
influência dos fatores genéticos, não 
apenas nos níveis de aptidão física das 
pessoas, como também no nível de 
atividade física habitual e participação 
em exercícios, nos levam a acreditar 
que os atuais estudos sobre o genoma 
humano podem, também, contribuir 
para sedimentar a relação atividade fí-
sica e saúde. Desta forma, as políticas 
públicas de promoção de atividades fí-
sicas devem privilegiar os aspectos ci-
tados anteriormente, assim entende-
mos que os determinantes de ordem 
biopsicossocial, comportamentais e 
ambientais estariam contemplados, 
contribuindo como um dos meios para 
que as pessoas ficassem mais próxi-
mas ao polo positivo da saúde. (PITAN-
GA, 2002, p. 51)
Sabe-se que os programas de atividade 
física corretamente prescritos e adequa-
dos são benéficos para a saúde do pon-
to de vista da prevenção, manutenção e 
aprimoramento da capacidade funcional. 
Por outro lado, a falta de atividade físi-
ca regular contribui para o surgimento 
das doenças crônico-degenerativas, tais 
como a hipertenção arterial, as cardio-
patias coronarianas, o diabetes melitus e 
a obesidade. Essas doenças atualmente 
16 17
são a principal causa de mortalidade entre 
os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995).
A partir da era epidemiológica das do-
enças crônico-degenerativas surgem 
diversos estudos epidemiológicos re-
lacionando atividade física como meio 
de promoção da saúde, sendo que 
nas últimas três décadas, numero-
sos trabalhos têm consistentemente 
demonstrado que altos níveis de ati-
vidade física ou aptidão física estão 
associados à diminuição no risco de 
doença arterial coronariana, diabetes, 
hipertensão, osteoporose. (PITANGA, 
2002, p.51)
A crescente modernização traz melho-
ra geral na qualidade de vida das pesso-
as, porém, como consequência negativa, 
acaba por resultar o sedentarismo que, 
consequentemente, pode ocasionar as 
patologias supracitadas e impactar nega-
tivamente nessa qualidade de vida. (GUE-
DES; GUEDES, 1995). Nesse contexto, a 
atividade física pode ser uma alternativa 
viável para romper esse ciclo vicioso bus-
cando a promoção da saúde por meio dos 
aspectos preventivos e terapêuticos. 
Segundo os autores supracitados, é 
possível dividir os indivíduos em três clas-
ses em relação à prática de exercícios fí-
sicos: os aparentemente sadios; aqueles 
que apresentam fatores de risco para as 
doenças crônico-degenerativas e os por-
tadores de doenças crônico-degenerati-
vas clinicamente manifestadas. Para es-
ses três grupos, é possível inferir que nos 
primeiros, a atividade física terá caráter 
preventivo, enquanto que nos demais já 
se deve visar uma ação terapêutica.
Nos aspectos preventivos, os exercí-
cios físicos são prescritos e orientados 
com a finalidade de promover adapta-
ções fisiológicas que venham a dimi-
nuir a probabilidade de ocorrerem dis-
funções orgânicas que possam levar 
ao aparecimento de doenças crôni-
co-degenerativas. (GUEDES; GUEDES, 
1995, p. 58).
Em outro momento, nesta mesma 
apostila, os níveis de prevenção serão 
mais detalhadamente abordados, porém 
aqui iremos apenas mencionar esses dife-
rentes tipos de indivíduos, em relação às 
suas patologias e ao tipo de atividade fí-
sica indicada para cada um desses grupos. 
Em relação àqueles que possuem fatores 
de risco para o surgimento de doenças 
crônico-degenerativas ou que já possuem 
essas doenças instaladas, observa-se 
que:
No aspecto terapêutico, porém, os 
exercícios físicos apresentam dois ob-
jetivos básicos: atenuar eventuais dis-
túrbios e incapacidades orgânicas que 
possam contribuir para o aparecimen-
to das doenças crônico-degenerativas 
e promover melhorias das funções 
afetadas e dificultar o surgimento de 
novas complicações em indivíduos 
portadores de doenças crônico-dege-
nerativas já clinicamente manifesta-
das, na tentativa de reverter o quadro 
patológico (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 
58).
Sintetizando, a partir de tudo o que foi 
visto sobre a epidemiologia, compreende-
-se que alguns fatores de risco para as do-
enças crônicas não transmissíveis (DCNT) 
são genéticos e não podem ser modifica-
dos, porém outros podem ser modifica-
16 17
dos e dependem não apenas da atuação 
da equipe multidisciplinar – incluindo-se 
o profissional da educação física – mas, 
principalmente do próprio indivíduo. Cabe 
a ele, a partir de seu próprio engajamento 
na mudança de seu estilo de vida, preve-
nir as doenças e atuar para o controle das 
mesmas.
 [...] Semelhantemente a outros com-
portamentos de promoção da saúde, 
como hábitos alimentares saudáveis, 
abstinência ao fumo, controle da in-
gestão ao álcool e níveis satisfatórios 
da prática de exercícios físicos deve-
rão ser cultivados desde as idades 
mais precoces e persistir, necessaria-
mente, ao longo de toda a vida (GUE-
DES; GUEDES, 1995, p. 68).
Importante agora compreender um 
pouco mais sobre os aspectos psicológi-
cos do funcionamento do paciente crôni-
co, em especial aquele portador das do-
enças crônicas não transmissíveis, grande 
escopo dessa seção sobre epidemiologia, 
para darmos prosseguimento a este ma-
terial.
3.2 Paciente crônico: carac-
terísticas biopsicossociais
Uma Doença crônica é uma doença que 
não é resolvida num tempo curto, definido 
usualmente em seis meses. As doenças 
crônicas são doenças que não necessa-
riamente põem em risco a vida da pessoa 
num prazo curto (como a alergia), mas po-
dem ser sérias ou fatais (como a AIDS). Po-
dem ou não manifestarsintomas. 
É denominado paciente crônico aquele 
que é portador de uma doença incurável. 
Muitos pacientes com histórico de lon-
gas e frequentes internações costumam 
manter a doença crônica, pois com isso re-
cebem cuidados que não receberiam fora 
do ambiente hospitalar. Outros demons-
tram uma necessidade psicológica de vi-
ver todo o drama da doença crônica. O 
paciente luta constantemente no sentido 
de compreender e aceitar a doença para 
assim conseguir viver esta nova condição. 
Isto não é fácil.
A personalidade do paciente crônico é 
marcada por quatro características mar-
cantes, as quais veremos a seguir (ANGE-
RAMI-CAMON, 2011):
 Regressão: mesmo que de manei-
ra inconsciente, os profissionais de saúde 
e os familiares desejam que o paciente se 
torne passivo e regredido, de forma que 
facilite a realização dos cuidados e a acei-
tação de sua condição de doente. Isso, 
por outro lado, acaba por contribuir para a 
cronicidade do paciente.
 Passividade: o paciente deixa de 
ser agente de seu tratamento, passan-
do a responsabilidade à equipe de saúde 
e aos familiares, o que também contribui 
para a cronicidade emocional.
 Dependência: a regressão pode 
levar o paciente a ficar mais dependente 
que o necessário.
 Sensibilidade às frustrações: os 
pacientes tornam-se mais vulneráveis a 
ameaças ao seu corpo e à sua autoestima.
Em relação a essas quatro característi-
cas, torna-se essencial para o profissional 
da educação física conhecê-las e assim 
agir de forma a compreender determina-
18 19
das reações comuns à personalidade do 
paciente crônico e também não reforçar 
algumas características que não são be-
néficas a ele, as quais acabam sendo re-
forçadas por todos à sua volta. É muito im-
portante, no caso das DCNT, não reforçar 
no indivíduo a passividade, a regressão e 
a dependência, já que ele deve ser agen-
te de seu tratamento, adotando uma mu-
dança radical em seu estilo de vida, o que 
não pode, em hipótese alguma, ficar a cri-
tério dos outros. A sensibilidade às frus-
trações também precisa ser muito bem 
trabalhada, pois o indivíduo com as DCNT 
precisa aprender a lidar com as adversida-
des do dia a dia, as quais podem aconte-
cer até mesmo no meio dos esportes, seja 
através de um desempenho aquém do 
esperado, um comentário desagradável, 
dentre outros fatores negativos que po-
dem afetar negativamente a autoestima.
Parece que o doente crônico entrega 
sua vida para um outro – a equipe de saú-
de – delegando a eles a tarefa de restituir 
seu bem-estar biopsicossocial. O profis-
sional sabe que isto não será possível, 
mas lidar com essa fantasia por parte do 
paciente não é fácil: muitas expectativas 
são depositadas e ele sabe que isto será 
em vão, o paciente pode tornar-se agres-
sivo com o profissional, que pode reagir 
com frustração e impaciência (ANGERA-
MI-CAMON, 2011). 
O paciente crônico, desde seu diagnós-
tico e durante todo o curso de seu trata-
mento merece receber, de toda a equipe 
de saúde, respeito, consideração e ajuda.
3.3 Doenças crônicas não 
transmissíveis (DCNT)
São doenças de longo curso de dura-
ção, que não são transmitidas pelo con-
tato direto ou indireto com o paciente 
contaminado. Não existem vacinas para 
se erradicar ou prevenir essas doenças; 
as medidas preventivas existentes são 
menos eficientes em pessoas de baixo ní-
vel socioeconômico e educacional. Poucas 
opções de tratamento eficaz, incuráveis, 
muitas delas associadas ao avanço da ida-
de. Exemplos: diabetes, câncer, hiperten-
são arterial, lúpus, insuficiência renal crô-
nica, Alzheimer, entre outras.
As DCNT podem ser caracterizadas 
por doenças com história natural pro-
longada, múltiplos fatores de risco 
complexos, interação de fatores etio-
lógicos desconhecidos, causa neces-
sária desconhecida, especificidade 
de causa desconhecida, ausência de 
participação ou participação polêmica 
de micro-organismos entre os deter-
minantes, longo período de latência, 
longo curso assintomático, curso clí-
nico em geral lento, prolongado e per-
manente, manifestações clínicas com 
períodos de remissão e de exacerba-
ção, lesões celulares irreversíveis e 
evolução para diferentes graus de in-
capacidade ou para a morte (LESSA, 
1998 apud PINHEIRO, FREITAS, COR-
SO, 2004, p. 524)
As DCNT são doenças que mais deman-
dam ações, procedimentos e serviços de 
saúde. Podem ser compreendidas como 
consequências da urbanização, de mudan-
ças no estilo de vida e da globalização. Ao 
mesmo tempo que os custos dos serviços 
18 19
de saúde para o controle e o tratamento 
das mesmas são altos (principalmente de-
vido ao longo curso das mesmas), a pre-
venção dessas doenças normalmente im-
plica em baixos custos, além de mudanças 
no estilo de vida (MALTA et al., 2006).
O doente deseja ser do jeito que era an-
tes do aparecimento de sua doença crô-
nica, já que esta tira sua liberdade e seu 
autocontrole. Porém, para estas doenças 
que não há possibilidade de recuperação, 
cabe ao paciente o esforço para se adap-
tar com a doença, ou seja, se reestruturar 
para poder viver, na medida do possível, 
com qualidade, apesar das perdas e limi-
tações impostas pela doença. Isso inclui, 
por exemplo, uma dieta regrada, o uso de 
medicações, inclusão de exercícios físicos 
em sua rotina, abster-se de álcool e fumo, 
limitar sua ingestão de água, dentre ou-
tras mudanças drásticas.
Essas mudanças no estilo de vida geram 
insatisfação, revolta, mas é importante 
que o profissional consiga prestar infor-
mações adequadas, dar o apoio necessá-
rio, desejando que o paciente consiga o 
equilíbrio: levar uma vida relativamente 
normal, mesmo na condição de doente 
crônico.
É muito mais fácil se adaptar a uma do-
ença aguda que só exige uma aceitação 
temporária de suas limitações que aceitar 
o fato de que nunca se curará, que depen-
derá dos outros e que sua condição de 
doente irá piorar à medida que a doença 
progrida.
3.4 Fatores de risco para as 
doenças
Sabe-se que existe um número muito 
grande de doenças, dentre as quais é pos-
sível apontar diferentes meios de con-
traí-las e formas de evitá-las. Como já foi 
elucidado anteriormente, quando esses 
fatores de risco dizem respeito a fatores 
genéticos, não há o que fazer para modi-
ficar essa bagagem inata que o indivíduo 
carrega, mas, em muitos casos, como nas 
DCNT, há incidência de fatores multicau-
sais e o indivíduo pode modificar as variá-
veis ambientais e comportamentais. 
A importância relativa de cada um 
desses componentes pode variar de-
pendendo do genótipo, da idade e dos 
hábitos de vida das pessoas; no en-
tanto, todos demonstram relação bas-
tante estreita com o melhor estado de 
saúde (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 19).
O esquema ilustrado na figura a seguir 
mostra de maneira sintética, os principais 
fatores de risco para as doenças, divididos 
em três grupos: genéticos/biológicos, am-
bientais e comportamentais. A atuação do 
profissional de educação física, conforme 
vem sendo destacado, ocorre nas duas úl-
timas categorias, aquelas que podem ser 
modificadas pelo indivíduo.
20 2120
Frente à variabilidade de doenças e 
fatores de risco ao longo deste material, 
estamos voltando nossos olhares para as 
DCNT – foco dessa seção. A ANS (2009) 
aponta como fatores de risco relevantes 
a obesidade, o sobrepeso, a inatividade 
física, o tabagismo e o consumo do álcool.
Outros fatores são menos importan-
tes, como sexo, idade, história fa-
miliar, estresse emocional, também 
contribuem para o aparecimento de 
acidentes crônico-degenerativos, 
identificados como fatores secundá-
rios [...] O sexo, a idade e a história fa-
miliar são os fatores de risco não mo-
dificáveis. Os demais fatores de risco 
são considerados modificáveis, de-
monstrando forte associação com os 
hábitosde vida. Na maioria das vezes, 
os fatores de risco não agem isolada-
mente, mas sim em conjunto, fazendo 
com que a possibilidade de ocorrência 
das disfunções crônico-degenerativas 
aumente em proporção exponencial. 
[...] Entretanto, resultados de pesqui-
sas mais recentes têm sugerido que 
os programas regulares de exercícios 
físicos devem ser considerados de ex-
trema importância, não apenas pela 
sua ação direta na redução dos riscos 
prospectivos das doenças crônico-de-
generativas, mas, sobretudo, pela in-
terferência na magnitude dos outros 
fatores de risco modificáveis (GUE-
DES; GUEDES, 1995, p. 63).
 
Figura 05: Principais categorias de fatores de risco
Fonte: U.S., (1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258).
20 2121
Segundo Buss (2000), verificam-se 
progressos mensuráveis nas condições 
de vida e saúde das populações, na maio-
ria dos países, nos últimos séculos. Essas 
melhorias se dão, principalmente, devido 
aos avanços políticos, sociais, econômi-
cos e ambientais na saúde pública e na 
medicina. Entretanto, as desigualdades 
também continuam marcantes em muitos 
países. Observa-se, em algumas regiões, 
a permanência de problemas já resolvi-
dos em outras, assim como o surgimento 
de alguns novos e o crescimento de ou-
tros já existentes. Para solucionar tais 
problemas (como, por exemplo, a AIDS, as 
doenças crônicas não transmissíveis, ou o 
estresse) têm sido investidos muitos re-
cursos em assistência médica curativa e 
individual, porém, sabe-se que esse não 
é o caminho mais eficaz. A solução para 
esses problemas consiste em medidas 
preventivas e a promoção da saúde, além 
da melhoria das condições de vida da po-
pulação em geral, ou seja, retirar o foco do 
individual e voltar para o grupo, prevenir 
ao invés de remediar.
Fala-se muito, atualmente, em promo-
ção da saúde, porém esse é um conceito 
que traz consigo uma série de conceitos, 
provenientes de diversos autores das 
áreas da saúde pública e da saúde cole-
tiva. Numa tentativa de discutir o tema, 
Buss (2000) abordou, em seu artigo de 
revisão, vários autores e documentos que 
trataram do assunto nas últimas décadas. 
Assim, para fins didáticos, iremos compre-
ender a promoção da saúde como:
[...] uma estratégia promissora para 
enfrentar os múltiplos problemas de 
saúde que afetam as populações hu-
manas e seus entornos neste final de 
século. Partindo de uma concepção 
ampla do processo saúde-doença e de 
seus determinantes, propõe a articu-
lação de saberes técnicos e populares, 
e a mobilização de recursos institucio-
nais e comunitários, públicos e priva-
dos, para seu enfrentamento e reso-
lução (p.165).
A partir dessa definição, acrescenta-
mos que o conceito de promoção de saúde 
reforça também a importância do prota-
gonismo do indivíduo como agente ativo 
de seu estado de saúde (ao contrário de 
ocupar uma posição passiva, onde apenas 
a equipe de saúde tomava as decisões e 
ações e o paciente, passivo, acatava as 
mesmas) (BUSS, 2000). 
Em relação ao controle do indivíduo, 
essa outra citação traz mais detalhes 
acerca de uma definição sobre a promo-
ção da saúde, a qual pode ser de interesse 
para o profissional da educação física por 
abordar aspectos passíveis de mudanças, 
tais como estilo de vida e dieta, que impli-
cam em saúde:
[...] os programas ou atividades de 
promoção da saúde tendem a con-
centrar-se em componentes educati-
vos, primariamente relacionados com 
riscos comportamentais passíveis de 
mudanças, que estariam, pelo menos 
em parte, sob o controle dos próprios 
indivíduos. Por exemplo, o hábito de 
fumar, a dieta, as atividades físicas, 
UNIDADE 4 - Promoção da saúde, preven-
ção primária, secundária e terciária
22 23
a direção perigosa no trânsito (BUSS, 
2000, p.166). 
Além da promoção da saúde, a preven-
ção é outra estratégia que se faz muito 
importante. Assim como o que foi aborda-
do na promoção da saúde, o foco é o gru-
po, não o indivíduo.
O conceito PP é proveniente da saúde 
pública e refere-se à ação que bus-
ca evitar a incidência de doenças. As 
ações neste campo sempre têm como 
alvo grupos e não indivíduos (LACER-
DA JR; GUZZO, 2005, p.241).
A partir dos estudos de alguns auto-
res, como Goldston (1980 apud LACERDA 
JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976 
apud BUSS, 2000), as estratégias de pre-
venção podem ser divididas em três ní-
veis, os quais serão elucidados a seguir.
O primeiro desses níveis é denominado 
prevenção primária e se caracteriza por 
ações dirigidas a grupos amplos, antes do 
estabelecimento de uma doença, ou seja, 
busca-se atingir uma saúde geral melhor 
pela proteção do homem contra os agen-
tes nocivos do meio. A educação em saú-
de aparece como um grande diferencial 
(GOLDSTON, 1980 apud LACERDA JR; GU-
ZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 apud 
BUSS, 2000). Entendemos que o profis-
sional da educação física tem um grande 
diferencial na prevenção primária como 
agente da educação em saúde, especial-
mente por poder atuar com o ser humano 
em diferentes estágios de seu desenvol-
vimento. A citação a seguir ilustra isso de 
maneira detalhada, explicativa e direta:
A prevenção primária começa nos pri-
meiros anos escolares e deve continu-
ar ao longo da vida do indivíduo. O há-
bito de exercitar-se deve ser mantido 
e estimulado pela escola e pela famí-
lia. As escolas devem oferecer progra-
mas com atividades aeróbicas para as 
crianças incluindo a natação, as dan-
ças, a corrida, a recreação, o esporte 
e, como fator de prevenção da oste-
oporose, algum trabalho com peso. A 
intensidade, duração e a frequência 
das atividades devem ser individuais e 
progressivas, serem do conhecimen-
to do participante e considerados nos 
programas escolares. Como normal-
mente na vida adulta, o exercício físico 
é afastado do estilo de vida das pes-
soas, idealmente, a escola deve pre-
parar o adulto para ser independente 
no futuro. O exercício físico deve ser 
praticado na maioria dos dias da se-
mana, senão em todos os dias, por 
pelo menos 30 minutos, de uma vez 
ou dividindo a sua realização em di-
ferentes momentos. O indivíduo sau-
dável deve ser capaz de planejar um 
programa individual de exercício físico 
que contemple atividades planejadas 
para as férias e para viagens de traba-
lho, momentos que contribuem para a 
falta de continuidade e de aderência 
das pessoas aos programas. (ARAÚJO; 
ARAÚJO, 2000, p. 198-199)
Já o segundo nível, denominado pre-
venção secundária, ocorre após a identifi-
cação de fatores de risco. Objetiva evitar 
que o problema se torne crônico através 
do diagnóstico e intervenção precoces 
(LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar 
como exemplo um filho de pai diabético, 
sem nenhuma doença diagnosticada no 
momento, que procura a atenção de uma 
equipe multidisciplinar em saúde em bus-
ca de mudança de estilo de vida visando à 
22 23
prevenção da doença no futuro devido ao 
seu histórico familiar.
Podemos ver na citação a seguir um 
exemplo da atuação do profissional da 
educação física num nível de prevenção 
secundária, ou seja, em indivíduos cujos 
fatores de risco para doenças cardiovas-
culares identificados. Vê-se a importância 
da atuação da equipe multidisciplinar, res-
saltando-se o trabalho do profissional da 
educação física na prevenção de maiores 
riscos à saúde do indivíduo.
Em relação à prevenção secundária, 
indivíduos com doenças cardiovascu-
lares crônicas precisam de atividades 
rotineiras, com supervisão apropria-
da e incremento progressivo; aqueles 
que não possuem supervisão devem 
iniciar caminhadas de forma gradati-
va. Naturalmente, qualquer programa 
deve ser iniciado o mais precocemente 
possível, logo que os sinais vitais es-
tejam estáveis, e sob controle médico. 
(ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p. 199)
Finalmente, o último nível, denominadoprevenção terciária, é o mais específico de 
todos os níveis. Seu foco é a reabilitação 
ou diminuir os efeitos de uma doença já 
instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). 
Nesse caso, como exemplo, citamos o pro-
fissional de educação física que atua com 
um grupo de idosas portadoras de oste-
oporose. Na citação a seguir, observa-se 
que, mesmo como a tendência atual é 
priorizar a prevenção primária e a promo-
ção à saúde, nós, profissionais, acabamos 
ainda encontrando mais frentes de traba-
lho nos setores voltados à prevenção se-
cundária ou terciária: 
O papel da reinserção do exercício fí-
sico na reversão – parcial ou total – da 
condição patológica induzida pelo se-
dentarismo também se faz premente. 
Além disso, o profissional de Educação 
Física responsável pelo tratamen-
to secundário e terciário de doenças 
crônicas deve também se aprofundar 
em conceitos de fisiopatologia, sinto-
mas e quadro clínico de determinada 
doença, assim como nos benefícios e 
riscos inerentes à prática de ativida-
de física para tal condição específica. 
Tais medidas tornam-se essenciais 
àquele profissional de Educação Físi-
ca que visa compor com competência 
uma equipe transdisciplinar de saúde 
(GUALANO; TINUCCI, 2011, p.41).
4.1 Aspectos preventivos e te-
rapêuticos do exercício físico
Após a compreensão de conceitos rela-
tivos à epidemiologia, promoção da saú-
de, prevenção primária, secundária e ter-
ciária, torna-se mais fácil compreender os 
aspectos preventivos e terapêuticos do 
exercício físico, assim como associá-los 
aos fatores de risco para as doenças, à pro-
moção da saúde e aos diferentes níveis de 
prevenção. Importante não se esquecer 
da abordagem de saúde incluir aspectos 
biopsicossociais. Assim, a importância da 
atividade física como estratégia preventi-
va e terapêutica também irá compreender 
todos esses níveis no qual o ser humano 
está inserido, não apenas o corpo biológi-
co, no qual o profissional da educação físi-
ca costuma naturalmente intervir através 
de sua prática rotineira.
A Agência Nacional de Saúde Suple-
24 25
mentar (ANS, 2009) elucida uma série de 
fatores de proteção para as doenças, den-
tre eles podem-se destacar a atividade fí-
sica e a alimentação saudável. Em linhas 
gerais, esse manual técnico elucida que a 
atividade física pode trazer uma série de 
benefícios para praticantes de diversas 
idades, tais como:
 consciência corporal;
 aumento da capacidade intelectu-
al;
 melhoria da capacidade cardiovas-
cular e respiratória;
 redução dos fatores de risco para 
as DCNT;
 diminuição dos níveis de massa 
gorda e aumento da massa magra;
 prevenção de osteoporose e doen-
ças nos ossos e articulações;
 aumento da força muscular;
 aumento da resistência dos ten-
dões e ligamentos;
 melhoria do sistema imunológico;
 diminuição da depressão, ansieda-
de e alívio do estresse;
 aumento da autoestima.
Além desses, os em relação à infância, 
a atividade física auxilia a criança a adotar 
um estilo de vida ativo na vida adulta; aju-
da no tratamento da asma (natação). Para 
o idoso, destacam-se a redução de que-
das e possíveis lesões; auxilia no trata-
mento de dores; auxilia no tratamento de 
DPOC; melhora a qualidade do sono; auxi-
lia no tratamento das demências; auxilia 
no tratamento da constipação intestinal; 
preserva a independência (ANS, 2009).
Leite (2000) faz algumas ponderações 
muito pertinentes no que diz respeito ao 
esporte recreativo. Segundo ele, para que 
campanhas publicitárias motivacionais do 
tipo “Mexa-se” sejam válidas, faz-se ne-
cessário que a atividade física seja devi-
damente orientada por profissionais com-
petentes e atentos. Não basta ter local 
disponível (como clubes, praças públicas) 
ou partir para a educação à saúde e espe-
rar que cada indivíduo faça a sua parte por 
si só.
Programas de reabilitação do cardiopa-
ta com a prática de exercícios físicos pro-
porcionam benefícios psicossociais, tais 
como diminuição da ansiedade e depres-
são ocasionadas pela doença, melhora da 
autoestima e consequente reinserção so-
cial e profissional. A partir de todas essas 
mudanças, o cardiopata pode encontrar 
o incentivo para modificar os hábitos não 
saudáveis e então atingir a necessária 
mudança em seu estilo de vida. (GUEDES; 
GUEDES, 1995).
Os indivíduos portadores de doenças 
orgânicas, metabólicas e psicossomá-
ticas (pacientes cardíacos, obesos, 
portadores de depressão e ansieda-
de) procuram fazer exercícios fiscos 
para recuperarem parte de suas capa-
cidades funcionais que foram debilita-
das pela doença, reintegração social 
e preenchimento de “vazios existen-
ciais” que acompanham as doenças 
crônicas e/ou psicossomáticas. (LEITE, 
2000, p.4-5).
Doenças crônicas já foram definidas 
anteriormente. Já as doenças psicossomá-
ticas não levam ao óbito, porém também 
24 25
impactam negativamente a qualidade de 
vida do indivíduo que sofre com elas. A 
psicossomática é o “estudo das relações 
entre as emoções e os males do corpo” 
(HOWARD; LEWIS, 1999, p. 6), ou seja, 
como temos reforçado na apostila, o ser 
humano não é apenas corpo, é biopsicos-
social. Corpo e mente não podem ser se-
parados, como costumamos acreditar. Fa-
lar em doença psicossomática é o mesmo 
que entender que o ser humano consegue 
somatizar situações e/ou ideias desagra-
dáveis.
Ao se estudar a relação entre a ativida-
de física e a prevenção ou tratamento de 
doenças do adulto e do idoso ou melhoria 
da capacidade funcional do idoso, estudos 
apontam como resultados redução dos ní-
veis de gordura corporal, diminuição da 
pressão arterial, a melhora do perfil lipídi-
co e da sensibilidade à insulina, o aumen-
to do gasto energético, da massa e força 
muscular, da capacidade cardiorrespirató-
ria, da flexibilidade e do equilíbrio. (COE-
LHO; BURINI, 2009)
A vida sedentária tem sido considera-
da como um dos fatores de risco co-
ronariano (infarto do miocárdio, mor-
te súbita, angina prectoris). A prática 
regular de exercícios físicos tem sido 
considerada “fator de proteção” con-
tra processos degenerativos no orga-
nismo, principalmente doenças como 
arteroclerose sistêmica, obesidade, 
hipertensão arterial e distúrbios psi-
cossomáticos leves e moderados (LEI-
TE, 2000, p.5).
A tabela a seguir é uma compilação re-
alizada por Coelho e Burini (2009) a partir 
de dados coletados sobre prevenção e tra-
tamento de algumas DCNT e incapacidade 
funcional em consensos e diretrizes sobre 
o assunto, publicados pelas sociedades 
nacionais, como a Sociedade Brasileira 
de Cardiologia, Hipertensão e Diabetes, 
dentre outros, como se pode observar a 
seguir:
26 27
Tabela 01: Prevenção e tratamento de DCNT e incapacidade funcional
Fonte: COELHO; BURINI (2009, p.941).
26 27
Os autores supracitados enfatizam que 
há uma visível diferença entre atividade 
física para prevenção de doenças crôni-
cas e para alcançar objetivos fitness, ou 
seja, a quantidade e a qualidade de exer-
cícios necessárias para se atingir efeitos 
benéficos à saúde pode ser diferente da-
quela necessária para se alcançar um bom 
condicionamento físico. Além disso, não 
se pode deixar de levar em conta que as 
recomendações de atividades físicas ex-
postas nesse quadro não podem ser tão 
generalizadas. O professor de educação 
física sempre deve levar em conta as dife-
renças individuais, além de fatores como 
sexo, idade, estado de saúde e preferên-
cias.
Os mecanismos que ligam a ativi-
dade física à prevenção e ao trata-
mento de doenças e à incapacidade 
funcional envolvem principalmente 
a redução da adiposidade corporal, a 
queda da pressão arterial, a melhora 
do perfil lipídico e da sensibilidade à 
insulina, o aumento do gasto ener-
gético, da massa e da força muscular, 
da capacidade cardiorrespiratória,da flexibilidade e do equilíbrio. 
No entanto, existe importante distin-
ção entre atividade física para prevenção 
de doenças crônicas, para o bom condi-
cionamento físico e para o tratamento de 
doenças, associada tanto ao tipo quanto à 
frequência, à intensidade e à duração das 
atividades realizadas. (COELHO; BURINI, 
2009, p.945)
4.2 O profissional de educa-
ção física e a equipe multi-
profissional de saúde
Com o constante avanço científico nas 
disciplinas relacionadas à saúde, surgem 
cada vez mais profissionais devidamente 
capacitados e regulamentados para tra-
balhar, dentro de sua área de atuação, vi-
sando o bem-estar de seu cliente. Assim, 
vemos que, se antigamente um agravo 
relacionado à área da saúde era encami-
nhado como de responsabilidade exclusi-
va do médico, hoje se entende que deve-
mos considerar o ser humano como um ser 
holístico, ou seja, um ser biopsicossocial 
e espiritual. Desta forma, pode parecer 
reducionista atribuir a responsabilidade 
pela prevenção ou reabilitação da saúde 
a apenas um profissional, por isso passa-
mos a falar na equipe interdisciplinar em 
saúde. A partir daí alguns pontos mere-
cem ser abordados:
 Quem é essa equipe interdiscipli-
nar? 
 Onde o profissional da educação fí-
sica entra nessa história? 
 Venho abordando “profissional da 
educação física”, mas normalmente ve-
mos falar do “professor de educação físi-
ca”. Professor é um profissional da educa-
ção ou da saúde?
Vamos responder a essas e mais algu-
mas questões.
Começamos pela questão da equipe in-
terdisciplinar. É uma equipe formada por 
diversos profissionais, de saberes dife-
rentes, oriundos de formações acadêmi-
cas diferentes, o que lhes proporcionam 
28 29
diferentes perspectivas de atuação, uma 
espécie de troca de saberes que se com-
plementarão, visando o bem-estar do 
cliente, que é abordado de maneira holís-
tica.
Oliveira e colaboradores bem comple-
mentam essa definição ao afirmarem que: 
Interdisciplinaridade pode ser con-
siderada como uma troca intensa de 
saberes profissionais em diversos 
campos, exercendo, dentro de um 
mesmo cenário, uma ação de reci-
procidade, mutualidade, que pressu-
põe uma atitude diferenciada diante 
de um determinado problema (2011, 
p.28).
Conceitualmente, caso quisermos 
aprofundar mais o estudo, encontraremos 
uma diferença entre os termos multidisci-
plinar e interdisciplinar, porém como en-
contramos obras que se referem à “equi-
pe interdisciplinar em saúde” e outras que 
se referem à “equipe multidisciplinar em 
saúde”, aqui estamos abordando os dois 
termos como se ambos tivessem o mesmo 
significado. 
Assim, entendemos a importância do 
trabalho em equipe multiprofissional, já 
que, em primeiro lugar, o cliente (ou aluno, 
caso prefiram), foco do nosso trabalho, 
sairá ganhando com a atenção de todos 
os profissionais, cada um a partir do ponto 
de vista de sua especialidade profissional. 
Não podemos também deixar de lado que 
o profissional – independente de qual seja 
a sua área de atuação – também sai ga-
nhando, já que na equipe interdisciplinar 
todos precisam trabalhar com total auto-
nomia (em sua área de saber, sem invadir 
a área de conhecimento do outro e sem se 
sentir cerceado pelos colegas de outras 
profissões). Dividem-se conhecimentos, 
somam-se experiências, todos saem ga-
nhando.
Mas e o profissional da educação físi-
ca? Ele faz parte da equipe de saúde? Ele 
não é um profissional de educação? Agora 
iremos aprofundar um pouco mais nossa 
discussão para chegarmos à nossa área 
de interesse.
Temos, atualmente, 14 profissões 
de nível superior, reconhecidas pelo 
Conselho Nacional de Saúde como 
da área de saúde: Biomedicina, Bio-
logia, Educação Física, Enfermagem, 
Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiolo-
gia, Medicina, Medicina Veterinária, 
Nutrição, Odontologia, Psicologia, 
Serviço Social e Terapia Ocupacional. 
Temos, ainda, inúmeras profissões 
formais de nível médio que partici-
pam ativamente da atenção à saúde. 
(VELLOSO, s.d., p.25)
O profissional da educação física, a 
exemplo de outros profissionais que inte-
gram a equipe multiprofissional de saúde, 
é tanto da área da saúde (bacharelado) 
como da educação (licenciatura). Nesta 
apostila, como estamos enfatizando des-
de a introdução, reforçaremos a importân-
cia do seu enfoque como um profissional 
da saúde, já que nosso foco é falar sobre 
“atividade física e saúde”. A Resolução 
218/97 (BRASIL, 1997) reconhece o Pro-
fissional da Educação Física, assim como 
outros 12 outros profissionais, como inte-
grantes da equipe interdisciplinar de saú-
de. Isso realmente foi bastante recente.
Entendemos que para poder se re-
conhecer, efetivamente, como área 
28 29
‘promotora da saúde, a Educação Fí-
sica precisa incorporar a mudança do 
próprio conceito de saúde, ressaltan-
do antes de tudo, as inter-relações 
com a equidade social, postura que, 
de forma alguma, a fará perder sua 
especificidade e legitimidade frente 
às questões do movimento huma-
no. Parece sensato que para ocorrer 
tal avanço, a área precise expugnar 
todo o arsenal de discursos e ações 
pragmáticas moralizantes utilizadas 
para combater o sedentarismo, ideia 
que se tornou tão cara à área nas úl-
timas décadas. (BAGRICHEVSCHI; ES-
TEVÃO, 2005, p.72)
Como veremos mais à frente, pensa-
mos na importância desse profissional, 
por exemplo, na prevenção da hiperten-
são arterial, atuando junto à comunidade 
em programas que visam minimizar o se-
dentarismo. Além do profissional da edu-
cação física, um programa interdisciplinar 
de impacto poderia incluir o médico, o en-
fermeiro, o nutricionista, o psicólogo, o 
farmacêutico, dentre outros profissionais 
da saúde que pudessem atuar em conjun-
to de maneira a prevenir a hipertensão 
ou minimizar os danos já instalados pela 
patologia num grupo de indivíduos. A ci-
tação a seguir mostra a importância do 
profissional da educação física na equipe 
de saúde:
Na classe médica em geral, a ativi-
dade física permanece desconheci-
da e, como tal, ignorada. De maneira 
similar, nutricionistas, enfermeiros, 
fisioterapeutas e psicólogos não re-
cebem formação que lhes capacitam 
adequadamente para a prescrição 
de exercício. Cabe, pois, aos profis-
sionais e pesquisadores da área de 
Educação Física – especialistas de 
formação no uso dessa ferramenta 
– a obrigação de alavancar sua pro-
moção, seja na condução de estudos 
clínicos e mecanísticos de qualidade, 
seja na prescrição de exercícios efe-
tiva e segura a uma população. [...] 
O exercício físico é uma ferramenta 
barata, segura, não patenteável e, 
quando prescrita de maneira cor-
reta, põe fim à necessidade de uma 
vasta gama de medicamentos (GUA-
LANO; TINUCCI, 2011, p.40). 
Como parte integrante da equipe mul-
tiprofissional em saúde, o profissional da 
educação física atualmente já encontra 
espaço em programas do Sistema Único 
de Saúde – SUS. A seguir veremos exem-
plos disso.
4.3 Academia da Saúde
O ato de exercitar-se precisa estar 
incorporado não somente ao cotidia-
no das pessoas, mas também à cul-
tura popular, aos tratamentos médi-
cos, ao planejamento da família e à 
educação infantil. Essa necessidade 
se dá por diferentes fatores: do fa-
tor social, quando se proporciona ao 
homem o direito de estar ativo fisica-
mente em grupo, ao fator econômi-
co, quando se constata que os custos 
com saúde individual e coletiva caem 
em populações fisicamente ativas. 
(ARAÚJO; ARAÚJO, 2000, p.194)
Esse assunto é tão relevante que ire-
mos citar um exemplo que relata uma rea-
lidade do Brasil. O SUS – Sistema Único de 
30 31
Saúde – visa ao cuidado da população ini-
cialmente no ambiente onde cada ser hu-
mano vive. Para que o cuidado às pessoas 
seja garantido foi criada a Atenção Básica, 
dentre outrasações em saúde, inclusive 
as Academias da Saúde (DAB, s.d.). Mesmo 
sendo de suma importância, não iremos 
detalhar o funcionamento da Atenção Bá-
sica aqui para não fugir ao escopo deste 
material, apenas tentamos contextualizar 
para mostrar que mesmo dentro das equi-
pes do SUS, o profissional da educação fí-
sica tem o seu local de destaque.
As Academias da Saúde foram criadas 
em 2011 pelo Ministério da Saúde como 
uma estratégia voltada à comunidade 
para a promoção da saúde e a adoção de 
hábitos de vida mais saudáveis, algo rele-
vante frente à grande incidência de doen-
ças crônicas não transmissíveis, como, por 
exemplo, diabetes e hipertensão, as quais 
necessitam, por parte do paciente, a ado-
ção de um estilo de vida mais saudável. 
(DAB, 2014)
Seu objetivo é promover práticas 
corporais e atividade física, promo-
ção da alimentação saudável, educa-
ção em saúde, entre outros, além de 
contribuir para produção do cuidado 
e de modos de vida saudáveis e sus-
tentáveis da população. Para tanto, 
o Programa promove a implantação 
de polos do Academia da Saúde, que 
são espaços públicos dotados de in-
fraestrutura, equipamentos e pro-
fissionais qualificados. (DAB, 2014, 
s.p.)
Observa-se na Portaria que instituiu a 
publicação das academias que os municí-
pios podem contratar profissionais além 
da equipe básica de saúde (médico, enfer-
meiro, técnico de enfermagem e agente 
comunitário de saúde) para desenvolve-
rem atividades nos espaços e nos equipa-
mentos pertencentes ao programa supra-
citado (BRASIL, 2013). 
Importante destacar que o documen-
to não deixa claro que essas atividades 
deverão ser desenvolvidas por um profis-
sional de educação física, porém apenas 
colocar os equipamentos nas praças pú-
blicas, segundo Dominguez (2011), não se 
caracteriza como Academia da Saúde.
Segundo Steinhilber (apud DOMIN-
GUEZ, 2011), a entrada do profissional da 
educação física no SUS ocorreu antes do 
Academia da Saúde, em 2008, com a pro-
mulgação da Portaria 154, a qual permitiu 
a atuação desse profissional nos Núcle-
os de Apoio à Saúde da Família (NASF), 
juntamente com as equipes de Saúde da 
Família. O profissional da educação física 
possui todo um diferencial, pois a forma-
ção deste permite atuar no sentido de 
promover a saúde, prevenir doenças e re-
abilitar os pacientes. “A Academia da Saú-
de é também oportunidade de fortalecer 
o papel dos profissionais de Educação 
Física como parte da equipe do Sistema 
Único de Saúde, cuja entrada é recente” 
(DOMINGUEZ, 2011, p.108).
Em outros locais onde funciona progra-
ma semelhante, como em Recife, há con-
curso para o profissional da educação físi-
ca que pode atuar nas praças ou em CAPS.
O programa enfatiza a importância de 
se cuidar não apenas do corpo, mas dos 
aspectos biopsicossociais, por isso o pro-
grama Academia da Saúde não enfatiza 
apenas a prática de exercícios físicos vi-
sando à modificação do esquema corporal 
30 31
ou a alimentação saudável. 
O programa nacional marca a ocu-
pação pela saúde pública de um uni-
verso quase inteiramente dominado 
pelo comércio. Os principais benefí-
cios da atividade física ficam enco-
bertos diante do apelo ao cuidado 
estético com o corpo, num círculo em 
que se estimulam exercícios exage-
rados em academias privadas, con-
sumo de suplementos vitamínicos 
e dietas restritivas. (DOMINGUEZ, 
2011, p.108)
Os equipamentos instalados em praças 
públicas acabam por proporcionar expe-
riência ao ar livre (tão rara em pessoas 
que vivem trancadas em casas e em es-
critórios), convívio com outras pessoas, 
momentos de relaxamento, o que tam-
bém traz benefícios. Segundo Dominguez 
(2011), há alunos do programa Academia 
da Cidade de Recife que relatam perda 
significativa de peso após o ingresso no 
programa, como também diminuição dos 
sintomas de depressão, maior motivação, 
maior interação entre o grupo (em pacien-
tes psiquiátricos), socialização (em de-
pendentes químicos), dentre outros. 
Nesse sentido, a Portaria nº 2.681 
estabelece oito eixos em torno dos 
quais as atividades do polo devem 
ser desenvolvidas: práticas corpo-
rais e atividades físicas, promoção 
da alimentação saudável, mobiliza-
ção da comunidade, educação em 
saúde, práticas artísticas e culturais, 
produção do cuidado e de modos de 
vida saudável, práticas integrativas 
e complementares, e planejamento 
e gestão. (DAB, 2014, s.p.)
4.4 NASF
O NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Fa-
mília) é uma equipe interprofissional que 
atua no sentido de apoiar os profissionais 
da Equipe Saúde da Família, Equipes de 
Atenção Básica, compartilhando práticas 
e saberes nos territórios assistidos por 
essas equipes. O SUS criou essas equipes 
visando ampliar a abrangência das ações 
da atenção básica, visando à integralida-
de do cuidado. Dentre os profissionais que 
compõem a equipe, destaca-se o Profes-
sor/ Profissional da educação física. (DAB, 
2014).
O NASF não precisa ter uma estrutura 
própria, pode funcionar, por exemplo, em 
parques, na própria Academia da Saúde, 
escolas, dentre outros espaços, visando 
prevenção, promoção da saúde, educação 
permanente, discussão de casos, cons-
trução conjunta de projetos terapêuticos 
com as equipes, dentre outras estratégias 
(DAB, 2014).
 
32 3332
Após realizarmos uma quebra propo-
sital na linha de raciocínio anterior para 
contextualizarmos sobre a importân-
cia do profissional da educação física na 
equipe multiprofissional de saúde iremos 
expor algumas situações especiais onde 
é visível a relação entre atividade física e 
saúde (seja prevenção, promoção ou rea-
bilitação).
Pelo que foi possível observar até aqui 
através de pesquisas bibliográficas reali-
zadas em diferentes materiais, tais como 
Leite (2000), Nieman (1999), Powers, 
Howey (2000), ANS (2009), a atividade 
física aparece como fator de proteção 
(junto com alguns outros) para algumas 
doenças, em especial as DCNT, ao mesmo 
tempo em que o fato de não fazer ativi-
dade física regularmente aparece como 
fator de risco (dentre outros fatores) 
para esse mesmo tipo de doenças.
Como devido às limitações de espaço 
para desenvolver a apostila fica impossí-
vel abordar, em particular, todas as situa-
ções que envolvam os benefícios da ati-
vidade física, selecionamos aqui alguns 
casos – em especial os fatores de risco 
relacionados às DCNT (como o avanço da 
idade) – os quais serão abordados a se-
guir. Vale a pena ressaltar que, para um 
maior aprofundamento sobre o tema, ao 
final da apostila, nas referências, é possí-
vel recorrer às obras completas consulta-
das para a confecção deste material.
5.1 Atividade física na pro-
moção da saúde do idoso
É um desafio fazer com que os ido-
sos durante sua existência aprovei-
tem melhor o tempo que lhes resta 
de maneira saudável, independente, 
com autonomia, sentindo-se bem e, 
dentro do possível, com melhor quali-
dade de vida. [...] Os exercícios físicos 
são fatores de restauração da saúde 
que proporcionam maior equilíbrio 
nesta etapa da vida (BENEDETTI; PE-
TROSKI; GONÇALVES, 2003, p.70).
Compreende-se como senescência o 
processo fisiológico de envelhecimento 
que compreende alterações nas funções 
orgânicas e mentais. Essas alterações se 
dão exclusivamente em decorrência do 
processo natural de envelhecimento no 
organismo. Esse processo sofre varia-
ções em decorrência de fatores ligados 
ao estilo de vida que o indivíduo assume 
desde a infância e adolescência, como, 
por exemplo, prática regular de exercício 
físico ou sedentarismo, hábitos nutricio-
nais, tipo de atividade nutricional, vícios, 
dentre outros (LEITE, 2000).
Segundo Nóbrega et al. (1999), o en-
velhecimento é um ciclo vicioso marcado 
por eventos biopsicossociais, ilustrados 
na figura a seguir. Porém, nos indivíduos 
que têm

Outros materiais