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Beck, ST Imunologia Clínica 3 26 SISTEMA COMPLEMENTO DEFINIÇÃO E FUNÇÕES FISIOLÓGICAS: O complemento (C) é parte integrante de todo o plasma normal. Constitui um sistema ativável de 11 proteínas plasmáticas que, em forma de nove componentes (C1 a C9) reagem entre si em seqüência determinada e podem causar a destruição de células revestidas de anticorpos. Sua função biológica pode ser expressa sinteticamente com os termos mediação de inflamação, defesa contra agentes, ou participação na elaboração de antígenos. Atua como fator não específico humoral na resposta imunitária. O complemento ativado atua principalmente na membrana das células que se alteram em suas funções e propriedades ao se revestirem de complemento, podendo: Mediar a inflamação através da liberação de histamina dos mastócitos (C3a e C5a). Isto acarreta contração de fibras musculares lisas e células endoteliais que ao se contraírem, perdem sua função de revestimento nos capilares afetados, aumentando a permeabilidade vascular, causando extravasamento de componentes do plasma, levando a formação de edema local. - O C3a e C5a podem estimular a migração de granulócitos neutrófilos, assim como dos monócitos. Este processo é denominado quimiotaxia, sendo responsável pela infiltração de leucócitos no tecido alterado pela inflamação. - O C3b, tanto em associação com anticorpos como isoladamente, pode intervir na defesa contra os agentes através da via alternativa de ativação. Fundamentalmente o C3b reveste estruturas estranhas como membranas celulares de bactérias, sendo reconhecido por receptores para C3b existente em diversos tipos de célula (principalmente fagocitária). As bactérias encapsuladas, por exemplo, os pneumococos, apenas são fagocitados pelos polimorfonucleares depois da opsonização. (Ao acumulo de partículas sobre uma determinada proteína estranha, facilitando a fagocitose, chama-se de opsonização). A fixação do complemento a um complexo antigeno-anticorpo, chama-se imunofixação. - A citólise por complemento é realizada mediante C9 que, em associação com outros componentes (complexo C5b-C9) acarreta a morte celular por destruição da membrana. Muitas cepas bacterianas, alguns vírus e também células tumorais são susceptíveis de lise por complemento. No entanto, a citólise é menor que os mecanismos descritos de defesa contra os agentes, pois há cepas bacterianas que podem ser opsonizadas, mas, não lisadas. C3a C3b Opsonização Localização do antígeno C5a C5b,C6;C7;C8;C9 = LISE - Anafilatoxina - Aumento de permeabilidade vascular - mediador de inflamação - Quimiotaxia C3 C5 Beck, ST Imunologia Clínica 3 27 DIAGNÓSTICO E ASPECTOS CLÍNICOS Os componentes do complemento são proteínas com parâmetros físico-químicos conhecidos e concentrações plasmáticas determinadas, que dependem substancialmente da quantia sintetizada. A renovação metabólica diária é de aproximadamente 50% , portanto muito mais rápida, por exemplo, que IgG ou IgM. O complemento pode ser medido por sua função hemolítica ou em forma de proteínas. A imuno-hemólise permite determinar a atividade lítica total, abrangendo todos os noves componentes. Para medir a concentração de um componente individual no soro empregam-se anti-soros monoespecíficos, que precipitam em cada caso o componente desejado (imunodifusão radial simples ou turbidimetria). As funções biológicas do sistema complemento podem determinar possíveis manifestações clínicas. Em caso de ativação exagerada ou ausência de contra regulação surgem freqüentes lesões inflamatórias dos tecidos ou dos órgãos. Os complexos imunitários (ag + ac) recebem sua atividade patogênica somente com a ativação do complemento. Deste modo, é possível que um órgão totalmente alheio seja lesado, como por exemplo, o rim. Pode-se considerar comprovada a participação secundária do complemento nas seguintes enfermidades: - Doença do soro, lupos eritematoso sistêmico, imunovasculite, anemia imuno-hemolíticas, glomerulonefrite crônica, hemoglobinuria noturna paroxistica,poliartrite crônica. Podemos ter também defeitos fixados geneticamente como, deficiências no sistema inibidor( C1 ina) ou síntese diminuída dos componentes da cascata. Nestes casos as deficiências de C3 são as mais graves, fazendo com que estes pacientes sofram infecções bacterianas graves, com freqüentes recidivas. Assim como temos diminuição da síntese de C4 no LES, agravando a diminuição por ação secundária. Normalmente procede-se a dosagem no soro dos componentes C3 e C4. O nível aumentado, não tem grande significado, pois pode apenas indicar um processo inflamatório e infeccioso agudo, pois são consideradas proteínas de fase aguda. Níveis diminuídos tem importância, por indicar um maior consumo (ativação da cascata do C pelas vias clássica, alternativa, ou ambas) ou diminuição da síntese. Níveis baixos de C4, indicam provável ativação pela via clássica (ag-ac), onde os níveis de C3 também estarão alterados. Já valores normais de C4 em presença de níveis significativamente baixos de C3, indicam uma ativação pela via alternativa. VIA CLÁSSICA MBL (lecitina ligadora de Manose) VIA ALTERNATIVA Ig G 1 LIPOPOLISSACARIDES Ig G 2 - + Ag C1 C4 C2 IgA, IgE, IgG4 humanas agregadas Ig G 3 Ig M C4b2a C3 C5 VIA EFETORA C6 , C7,C8, C9 L I S E Beck, ST Imunologia Clínica 3 28 DOSAGEM DE C2: A dosagem de C2 tem grande importância, pois a deficiência de C2 é o defeito hereditário mais comum dos componentes do complemento humano. Associada a esta deficiência está descrita uma maior incidência de varias doenças do tecido conjuntivo, especialmente de LES. Em casos de pacientes com dosagem de complemento total baixo ou níveis indetectáveis, sem consumo de C3 e C4, deve-se suspeitar da deficiência de C2. Como a concentração serica de C2 é muito pequena, quando um paciente lúpico começa a reativar a doença, os seus níveis são os primeiros a mostrar uma queda, quando comparados aos outros componentes do complemento, podendo ser útil para o diagnóstico precoce de reativação da doença. DOSAGEM DE C3: A dosagem do C3 é utilizada para avaliação de pacientes portadores de doenças que evoluem com a presença de imuno complexos, que ativam a via clássica do complemento. Entre as principais patologias deste grupo de doenças podemos destacar o LES, as glomerulonefrites e as crioglobulinemias. Consumo predominante ou seletivo do C3 pode ser encontrado na glomerulonefrite aguda pós-estreptocócia, na gomerulonefrite mesângio-capilar tipo II (ou de depósito intra-membranoso), e em outras nefrites pós-infecciosas. Níveis do C3 baixo, ou excessivamente baixo podem ser decorrentes da ativação da via alternativa, ou de deficiência congênita do C3. DOSAGEM DE C4: A quantificação de C4 é útil no diagnóstico de deficiência congênita deste fator ou de patologias onde há consumo de complemento e ativação da via clássica do sistema: LES, doença do soro, glomerulonefrite mesangiocapilar tipo I (depósitos subendoteliais). DOSAGEM DE C5: A deficiência de C5 é considerada uma entidade clínica bastante rara. Está associada a predisposição para infecções recorrentes, principalmente as provocadas por Neisseria sp.
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