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da água de acordo com as especifi cidades regionais da bacia hidrográfi ca em estudo, levando em conta a existência/concentração de fontes poluidoras. A classifi cação da qualidade da água deve ser efetuada dentro de um contexto em que represente um conjunto de opções preferenciais em relação às outras, estabelecendo melhores ou piores graus. Assim sendo, gera-se uma gradação de estados que ilustram distintas situações biológicas de qualidade socioambiental. Propõe-se que as classes permitam diferenciar as subáreas em três níveis: Classe A – sistemas não comprometidos quanto às suas características ecológicas, sem a presença de poluição. Classe B – sistemas com algum grau de comprometimento de suas características ecológicas, refl etindo a interferência de fontes poluidoras. Classe C – sistemas com alto comprometimento de suas características ecológicas pela intensidade das atividades poluidoras. Esta classifi cação deve, quando existente, ser comparada à classifi cação do CONAMA para os recursos hídricos. Adicionalmente, caso necessário, a identifi cação do nível de comprometimento do local em estudo po- derá considerar aspectos referentes à relação de dominância entre espécies indicadoras e a acumulação de metais por espécies integrantes de diferentes níveis da cadeia trófi ca. Fisiografi a Fluvial As variáveis físicas consideradas importantes para a caracterização dos ecossistemas aquáticos, por fun- cionarem como indicadores de variabilidade de ambientes e de capacidade de suporte dos sistemas, são: a hierarquia fl uvial, a densidade de drenagem, a diversidade física do ambiente fl uvial e a presença de lagoas marginais. Hierarquia Fluvial: A relação existente entre a ordem fl uvial e a riqueza das comunidades ictiofaunís- ticas implica que se encontrem, em rios com ordem elevada, comunidades aquáticas dotadas de maior biodiversidade do que a daquelas presentes em rios de baixa ordem. Assim sendo, para a obtenção dos atributos determinantes da diversidade biológica deverá ser conhecida a ordem de cada sub-bacia e da bacia principal. A classifi cação hierárquica dos sistemas fl uviais apresenta diversas alternativas; entretanto, estudos que a utilizam como elemento para a compreensão da ecologia da fauna aquática têm adotado, em sua maioria, a classifi cação de Strahler (1952)5, tendo sido esta a recomendada neste Manual. De acordo com Strahler, os menores canais fl uviais, sem tributários, são considerados como de primei- ra ordem; os canais de segunda ordem surgem da confl uência de dois canais de primeira ordem e só recebem afl uentes de primeira ordem. Os canais de terceira ordem surgem da confl uência de dois ca- nais de segunda ordem, podendo receber afl uentes de segunda e de primeira ordem; os canais de quarta 5 STRAHLER (1952). Dynamic Basis of Geomorphology. Geological Society American Bulletin, USA. ■ ■ ■ ■ ■ ■ MME | Ministério de Minas e Energia 105 CAPÍTULO 4 | ESTUDOS PRELIMINARES ordem se originam a partir da união de dois sistemas de terceira ordem e assim subseqüentemente. A representação deste procedimento é apresentada na Figura 4.3.2.01. 1 1 2 1 1 3 2 1 1 1 2 1 1 1 2 3 4 Figura 4.3.2.01 – Representação do método para a classifi cação hierárquica de bacias hidrográfi cas. Assim sendo, cada sub-bacia deve ser classifi cada quanto à sua ordem e à sua situação dentro do con- junto de sub-bacias em análise. Densidade de Drenagem: É obtida pela relação entre o número de confl uências e a área de drenagem de cada sub-bacia. Diversidade Física do Canal Fluvial Principal: A correlação existente entre a diversidade ambiental e a riqueza de espécies leva a que se espere que canais fl uviais principais que apresentem alta diversifi ca- ção de ambientes ao longo de seu curso mantenham comunidades ícticas compostas por um número de espécies superior àquele encontrado em rios homogêneos, sob o ponto de vista da diversidade de ambientes. O reconhecimento de ambientes ao longo do canal fl uvial de cada subárea é iniciado no âmbito dos estudos dos processos e atributos físicos, empregando como variáveis altitude, declivida- de, forma do canal, forma do talvegue, presença de rápidos e corredeiras, presença de ilhas etc. Estas variáveis estão estreitamente relacionadas com aspectos hidrodinâmicos e com os diferentes tipos de processos que ocorrem nos canais fl uviais, e conseqüentemente com a ecologia da fauna aquática, determinando mecanismos de dispersão e ocupação espacial por parte das espécies e infl uenciando a estruturação das taxocenoses. Objetivando gerar um valor que expresse a relação entre a diversidade de ambientes nas subáreas, su- gere-se a aplicação do índice de Shannon (S),6 descrito como: (4.3.2.01) sendo: Pi Percentual da superfície da subárea ocupada por cada ambiente identifi cado n Número de ambientes na subárea Heterogeneidade dos Ambientes Fluviais: Uma vez identifi cados os diversos ambientes que compõem o canal principal, é importante observar a heterogeneidade existente na rede de drenagem associada a cada um deles, por se constituir em mais um aspecto relevante no que diz respeito à capacidade do local manter alta riqueza de espécies. A análise deste aspecto pode ser feita pela interpretação de cartas 1:50.000 ou 1:100.000, considerando para cada ambiente analisado todos os aspectos físicos men- cionados anteriormente (hierarquia fl uvial, densidade de drenagem, diversidade física do canal fl uvial etc.), de modo a identifi car diferentes cenários de heterogeneidade. Ambientes Ecologicamente Estratégicos: Em muitas situações a diversidade biológica de determinada região é aumentada pela presença de condições ambientais únicas que atuam no tamponamento de 6 Shannon (1949). Th e Mathematical Th eory of Communication. Urbana, University of Illinois Press, 117 p. ■ ■ ■ ■ 106 MME | Ministério de Minas e Energia CAPÍTULO 4 | ESTUDOS PRELIMINARES impactos e na manutenção de fases juvenis de diversos táxons, além de viabilizar a presença de grupos endêmicos e o sucesso reprodutivo de inúmeras espécies. Tais ambientes (denominados ecologicamente estratégicos) compreendem as lagoas marginais, praias fl uviais, rios com fi siografi a única, dentre outros. Sua análise tem início com a confi rmação do uso efetivo para esses fi ns de tais ambientes na região estudada. Após esta confi rmação, deve ser obtida a extensão ou a área ocupada por tais sistemas em cada subárea e avaliada sua representatividade para o manejo da biodiversidade local. Dados Biológicos Escolheu-se como objeto de análise a fauna vertebrada, com ênfase à fauna íctica, através da identifi ca- ção das principais espécies. Além da indubitável importância ecológica da ictiofauna nas bacias hidro- gráfi cas, as características sistêmicas que esse grupo faunístico apresenta o tornam excelente indicador da diversidade biológica. Tendo em vista as difi culdades existentes para a obtenção, de uma amostragem biologicamente signi- fi cativa da riqueza ictiofaunística de bacias fl uviais, sugere-se que a análise da diversidade biológica da fauna íctica seja feita mediante dados secundários passíveis de serem complementados com serviços de campo, tendo em vista obter informações relativas aos atributos listados no Quadro 4.3.2.01. Quadro 4.3.2.01 Classifi cação Distribuição Geográfi ca Distribuição Mesoespacial Distribuição Ambiental Porte Hábitos Migratórios Espécie/Gênero Endêmica Cabeceira Remansos Grande Ausentes Não endêmica Baixada Corredeiras Médio Facultativos Trechos intermediários Pequeno Obrigatórios Embora a fauna íctica dulciaqüícola seja signifi cativamente composta por espécies que necessitam realizar migrações rio acima para completarem seus ciclos reprodutivos (reofílicas), esta etapa não com- portaria um estudo detalhado de rotas