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Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Antropologia Biológica Ana Teresa Gonçalves Joana Freitas Sandra Ferreira 1 A Pigmentação do Homem A pele A pele tem dois tipos principais de células: os queratinócitos e os melanócitos. Os queratinócitos existem em toda a epiderme e os melanócitos encontram-se na camada basal (ver esquema 1B), constituindo cerca de 10% desta última. Estas células produzem um organelo, melanossoma, que contém melanina Os melanócitos (ver esquema 2) transferem os melanossomas para células com as quais têm ligações citoplasmáticas – queratinócitos. Esquema 1: A – As duas camadas principais da pele: derme e epiderme. B - Os estratos da epiderme. Os melanócitos encontram-se na camada basal, são células com estruturas dendríticas. As restantes células são os queratinócitos. Nos olhos, a região visível do pigmento é a íris. A íris dá a cor aos olhos do indivíduo e esta cor depende da concentração de melanina nas várias camadas da íris. Podemos ainda encontrar melanina em membranas mucosas (boca), no ouvido interior e no cérebro – neuromelanina. Melanossomas (ver esquema 2) Os melanossomas são os organelos que contêm a melanina. Estes têm quatro estágios de desenvolvimento. 1. O organelo começa por ter uma forma esférica limitada por uma membrana. Não tem melanina e é constituído por uma matriz de proteínas estruturais e pela enzima tirosinase. 2. Começa a alongar e a estrutura interna começa a criar um padrão. 3. Continua numa forma oval. Há deposição de melanina. 4. Já não se consegue distinguir a estrutura interna. Esquema 2: Melanócito. A Pigmentação do Homem 2 Tipos de melanina Existem dois tipos de melanina na biologia humana: eumelanina que tem cor acastanhada ou preta e é encontrada na pele e cabelo; e a feomelanina, vermelha ou amarelada que pode ser encontrada em cabelos ruivos. Os grânulos de melanina envolvem o núcleo dos queratinócitos para impedir lesões pelos raios UV. A eumelanina é muito mais eficaz nesta protecção, por isso os cancros de pele são mais comuns em pessoas de pele clara, com baixo nível de eumelanina. Alterações na pigmentação Bronzeado Existem dois tipos de bronzeado. O primeiro é imediato, sendo causado pela exposição à radiação UV-A e à luz visível. Este começa no momento após a exposição, atinge o seu máximo rapidamente, e desaparece em pouco tempo. O segundo é causado, principalmente, pela exposição repetida aos raios UV-B. No entanto os raios UV-A e a luz visível também contribuam para este tipo de bronzeado. Neste caso, o escurecimento da pele é demorado, sendo que só se inicia após algumas horas, atingindo o máximo passado uns dias e desaparecendo por completo ao fim de alguns meses. Em casos de exposição inicial prolongada os dois tipos de bronzeado sobrepõem-se. Os seus mecanismos diferem, mas o tamanho e o número de melanossomas não variam. Para além disso, não existem diferenças estruturais entre os queratinócitos e os melanócitos da pele apresentando bronzeado imediato e a pele que não foi exposta a radiação. Por este motivo é provável que a reacção que provoca o escurecimento da pele imediatamente após a exposição à reacção se trate apenas de uma activação da melanina e precursores já existentes na pele, ao invés da formação de mais melanina. Pelo contrário, o bronzeado mais retardado deve-se ao aumento do número de melanócitos e da melanogénese. Esquema 3: Melanossomas dirigindo-se para a periferia do núcleo de um queratinócito. Desta forma a pele ganha uma boa protecção contra os raios UV (bronzeado). Sem esta protecção os núcleos celulares estariam expostos aos raios solares, podendo sofrer mutações. Estas mutações podem levar ao aparecimento do cancro da pele. Para além disto, a melanina absorve a radiação evitando as queimaduras solares. Após exposição à radiação, a pele de caucasianos apresenta um número crescente de melanossomas do estágio 4, e a pele dos negróides apresenta um aumento dos melanossomas dos estágios 2 e 3. Hiperpigmentação e Hipopigmentação A pigmentação pode ser controlada por hormonas, por exemplo a MSH (melanocyte stimulating hormone) que estimula a produção de melanina. Um caso estudado é o das rãs (Xenopus laevis) que ao serem colocadas em ambientes escuros torna, a sua pigmentação também mais escura, por acção desta hormona, sendo assim mais dificilmente detectáveis por predadores. Nos humanos a MSH também pode causar um escurecimento da pigmentação. Durante a gravidez, por exemplo, existe um aumento desta hormona que juntamente com os estrogénios e progesteronas (hormonas sexuais femininas) vai causar hiperpigmentação. A Pigmentação do Homem 3 Outros casos que provocam hiperpigmentação são: - Doença de Addison - Síndrome de Cushing - Porfiria (ver figura 1) - etc… Figura 1: Mão de um paciente com porfíria. Note-se escurecimento da pele. O contrário da hiperpigmentação é a hipopigmentação. O caso mais conhecido desta situação é o albinismo (ver figura 2). O albinismo é uma alteração genética que ocorre em seres vivos (plantas e animais) que afecta a pigmentação da pele, olhos e pêlos. Esta doença é hereditária podendo estar nos genes recessivos ou dominantes. Existem vários tipos de albinismo: Oculocutâneo: todo o corpo é afectado; Ocular: só os olhos são afectados; e Parcial: só algumas partes do corpo são afectadas, por ex.: membros superiores. Outras doenças que podem causar hipopigmentação são: - Fenilquetonuria - Vitiligo - Síndrome de Waardenberg - etc… Figura 2: Paciente com albinismo. Note-se aclaramento da pele, cabelo e olhos. As pessoas que sofrem desta doença não possuem protecção natural contra os raios UV sendo obrigadas a aumentar os seus cuidados com o sol. A Pigmentação do Homem 4 A cor da pele e a sociedade: lendas, simbolismo e aspectos filosóficos A cor da pele, olhos e cabelo sempre foi um motivo de interesse e curiosidade entre as pessoas. Os antigos gregos explicavam como o insensato e desrespeitador Phaeton, o filho do deus Hélios, um dia roubou ao pai a carruagem onde este transportava o sol e se chegou demasiado perto da Terra numa zona (Etiópia), queimando as pessoas que lá viviam, e passou demasiado longe noutras zonas onde as pessoas ficaram pálidas. O negro tem vindo, então, a simbolizar desde sempre morte e desgraça enquanto o branco é associado ao bem, à pureza e inocência. Assim a cor clara foi ao longo dos tempos ganhando uma conotação muito positiva chegando a significar beleza e o negro passou a ser discriminado. As vantagens de ter uma pele de cor clara eram tantas que a indústria dos cremes que aclaram a pele se tornou num sucesso comercial. No entanto estes cremes são perigosos porque contém produtos que podem causar doenças na pele assim como doenças nos órgãos internos. Infelizmente os mitos e lendas acerca da cor da pele estão longe de serem inofensivos e em algumas sociedades criaram-se ideias fixas em que uma determinada raça é sobreposta a outra. Temos como exemplo o tempo da escravatura negra na América e mais recentemente o Holocausto na Europa. Lineu, em 1758, também classificou através da cor da pele os vários tipos de humanos: - Homo europaeus (branco), inventivo, sociável e vivia pelas regras; - Homo americanus (vermelho), colérico, persistente e vivia pelo hábito; - Homo asiaticus (amarelo), severo, avarento e vivia pelas opiniões; - Homo afer (negro), lento, descuidado e vivia pelo capricho. A evolução da pigmentação A principal variação na pigmentação da população humana não é a temperatura, nem o clima em si, mas na verdade, a latitude. A variação da cor da pele deve-se à exposição à radiação ultravioleta.Quanto mais perto do equador, maior a pigmentação das populações. As populações mais escuras encontram-se no continente africano junto ao equador, e as mais claras no norte do continente europeu. Existem várias teorias que tentam explicar este padrão na variação da pigmentação consoante a latitude. Em relação à dominância de povos negróides nas zonas próximas do equador, a grande exposição à radiação ultravioleta terá tido a maior influência sobre a pigmentação. Assim os povos terão evoluído por selecção natural, sobrevivendo aqueles que tinham uma maior protecção contra as queimaduras solares e contra o cancro. A maior evolução na pigmentação terá ocorrido antes do sedentarismo, ou seja, quando os povos dependiam da caça e recolecção. Assim o desconforto causado pelas queimaduras solares teria diminuído a capacidade de passar horas ao sol e, portanto, de recolher alimentos o que diminuiria as possibilidades de reprodução. Nos humanos observa-se uma maior pigmentação na cara e nos genitais, mesmo nos recém-nascidos. Pensa-se que se trata de um meio de protecção dos órgãos reprodutores. Na cara o objectivo desta hiperpigmentação é que os bebés consigam mamar, para além disto, durante a gravidez os mamilos das mulheres desenvolvem uma maior pigmentação para evitar as queimaduras nessa zona para que os filhos consigam mamar. O norte da Ásia, ao contrário do norte da Europa tem povos mais escuros, isto porque o clima asiático é muito mais seco oferecendo menos protecção contra a radiação ultravioleta. Quanto à predominância de povos caucasianos no norte da Europa existe a grande possibilidade de que a maior influência seja a produção de vitamina D. Estas hipóteses explicativas não são completamente aceites. Não existem respostas certas em relação à evolução da pigmentação e à selecção preferencial do tipo de pigmentação consoante a latitude. A Pigmentação do Homem Referências ROBINS, A.H. (1991). Biological Perspectives on Human Pigmentation. Cambridge University Press, Cambridge. www.adeliamendonca.com.br/dicas/dica2.html http://cienciahoje.uol.com.br/64147 http://training.seer.cancer.gov/ss_module14_melanoma/unit02_sec02_anatomy.html www.deffner.org/main.php?id=14&pic=3&tex=1&lis=1 http://www.campusred.net/campusalud/info/info_noticias.asp?idn=1568 C o m e n t á r i o s d o s c o l e g a s : O trabalho está bom. As imagens são adequadas ao tema, estão bem legendadas e em número suficiente. As referências estão correctas e bem relacionadas com o tema. O trabalho está bem estruturado, claro e adequado ao tema. Existem pequenas falhas de pontuação. (4/4) Ana Isabel Carvalho, Renata Santos e Susana Ribeiro As ilustrações eram adequadas, bem referenciadas no texto e continham legendas explicativas. Os links estavam correctos. Como aspectos positivos temos os esquemas desenhados e legendados pelo grupo, a abordagem de assuntos relevantes relacionados com o tema do trabalho, os esquemas e imagens que eram bastante adequados aos diversos assuntos falados no trabalho e a excelente organização. Não foram encontrados aspectos negativos. (4/4). Ana Rute Martins Reis de Brito Boa apresentação, alguma falta de imagens relacionadas com o tema, e legendas pouco específicas. Tem boas referências e estão de acordo com o tema. Boa diversidade de referências. Informação interessante, texto bem organizado e simples. O trabalho está paginado. Algumas imagens deveriam ter uma legenda mais clara e deveriam ser referidas ao longo do texto, bem como a sua referência no separador “referências”. As diferentes ideias do texto deveriam conter a respectiva referência. (3/4.) Ana Filipa Carvalho e Pedro Neves O trabalho está bem escrito e explicado mas deveria ser mais aprofundado em alguns temas. Os links estão correctos. Tem boa apresentação e o texto está bem estruturado. As imagens estão boas e bem legendadas. São referidos ao longo do trabalho aspectos importante mas que deveriam estar mais pormenorizados. Achamos que o sub-tema A cor da pele e a sociedade: lendas, simbolismo e aspectos filosóficos não se enquadra bem no tipo de trabalho e é pouco científico. (3/3). Indyra Gonçalves, Mónica Medina e Patrícia Silva.
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