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1 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre FUNÇÃO E DISFUNÇÃO I – PATOLOGIA 1. Alterações Circulatórias As alterações circulatórias estão relacionadas com distúrbios que acometem a irrigação sanguínea e o equilíbrio hídrico. Compreendem alterações hídricas intersticiais (edema), alterações no volume sanguíneo (hiperemia, hemorragia e choque) e alterações por obstrução intravascular (embolia, trombose, isquemia e infarto). a) Hiperemia Ativa ou Arterial Aumento do volume sanguíneo localizado em um órgão ou parte dele, com consequente dilatação vascular. Aumento do fluxo sanguíneo arterial por aumento da pressão arterial e/ou diminuição da resistência pré-capilar. Aumento na quantidade de sangue no vaso (porção arterial) causando vasodilatação. A hiperemia é um processo ativo resultante do fluxo sanguíneo aumentado devido à dilatação arteriolar. O tecido afetado apresenta-se mais avermelhado do que o normal por causa do aumento do fluxo de sangue oxigenado. Divide-se em: • Hiperemia Ativa Fisiológica • Hiperemia Ativa Patológica Hiperemia Ativa Fisiológica: Aumento do suprimento de O₂ e nutrientes, paralelamente há demanda de maior trabalho. Ocorre expansão do leito vascular, com os vasos de reserva se tornando funcionais. • Tubo gastrointestinal durante a digestão; • Musculatura esquelética durante exercícios físicos; • Cérebro durante estudo; • Glândula mamária durante lactação; • Rubor facial após hiperestimulação psíquica. Hiperemia Ativa Patológica: Aumento do fluxo sanguíneo devido à liberação local de mediadores inflamatórios (devido à agressão ao tecido), com relaxamento de esfíncteres pré-capilares e diminuição da resistência pré-capilar. Do mesmo modo que na hiperemia fisiológica, ocorre expansão do leito vascular, com os vasos de reserva se tornando funcionais. • Injúria térmica (queimaduras ou congelamento); • Irradiações intensas; • Traumatismos; 2 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre • Infecções; • Inflamação aguda. Na hiperemia Ativa Patológica ocorre a liberação de mediadores inflamatórios ou químicos, que vão fazer com que o vaso se dilate. Esses mediadores químicos são liberados quando o tecido é lesionado, como por exemplo, por bactérias. Na inflamação, esses mediadores químicos fazem com que as válvulas do vaso fiquem relaxadas, e o sangue irá fluir completamente enchendo o leito capilar onde ocorreu a inflamação. Exemplos de mediadores químicos são: histamina, heparina, TNF- α (Fator de Necrose Tumoral), IL (Interleucinas), etc. Essa liberação de mediadores químicos, que irá resultar em todo esse processo descrito anteriormente, ocorre para chegar mais células de defesa ao local. � Características da Hiperemia Patológica Características Macroscópicas "In vivo" = Aumento de volume, avermelhamento, aumento da temperatura local (quando em superfícies corporais) e às vezes pulsação. Características Microscópicas Hiperemia Ativa Fisiológica: Ingurgitamento vascular, com hemácias em posição periférica no fluxo laminar. Imagem 01. - Hemácias em posição periférica no fluxo laminar (Hiperemia Ativa Fisiológica). Hiperemia Ativa Patológica: Ingurgitamento vascular, com leucócitos em posição periférica no fluxo laminar. "Marginação, pavimentação e diapedese leucocitária". Na Hiperemia Ativa Patológica os leucócitos estão na periferia para passar para o local da inflamação, eles passam através de um processo chamado diapedese. 3 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Imagem 02. - Leucócitos em posição periférica no fluxo laminar (Hiperemia Ativa Patológica). Como ocorre o processo de diapedese: As células da parede do vaso passam a emitir moléculas químicas, o que promove o ancoramento de leucócito, e através disso ele consegue passar entre as células da parede do vaso, chegando ao local da inflamação, ou seja, no tecido. b) Hiperemia Passiva (Congestão) Diminuição da drenagem venosa por aumento da resistência Pós Capilar. Está relacionado com a parada, ou seja, com estrangulação venosa. É quando a válvula do capilar se fecha e o sangue não sai do capilar, consequentemente não indo para veia. Aumento da quantidade de sangue na porção venosa. Os capilares impedem a passagem do sangue venoso. A congestão é um processo passivo, resultante de um retorno venoso insuficiente. Esse processo pode ser sistêmico, como na insuficiência cardíaca, ou local, resultando da obstrução venosa isolada. O tecido apresenta uma coloração vermelho azulada (cianose), sobretudo à medida que o agravamento da congestão leva ao acúmulo de hemoglobina desoxigenada nos tecidos afetados. Divide-se em: • Hiperemia Passiva Local • Hiperemia Sistêmica Hiperemia Passiva local: Pode ocorrer devido: • Obstrução ou compressão vascular; • Torção de vísceras (Hiperemia Passiva aguda) - um exemplo é a torção gástrica, que não é incomum no cão. Isso ocorre quando o cão come um excesso de ração de uma única vez (principalmente rações comerciais secas) e depois ele faz algum exercício. • Trombos venosos: A veia dilatada perde a capacidade de levar o sangue ao coração. O sangue acumulado é a congestão. O sangue pode formar um coágulo aumentando muito a pressão no vaso, começa a sair líquidos causando edema (trombose). • Compressão vascular por neoplasias, abscessos, granulomas. 4 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Hiperemia Passiva sistêmica: Pode ocorrer devido: • Insuficiência Cardíaca Congestiva • Trombose e embolia pulmonar • Lesões pulmonares extensas (enfisemas graves em equinos, neoplasias pulmonares, etc.). No caso de trombose e embolia pulmonar, vai ocorrer uma obstrução do sangue no pulmão, consequentemente não voltando sangue para o coração. Devido essa obstrução o plasma passa para os alvéolos e o animal passa a desenvolver edema pulmonar, o que culmina com a sua morte. Mesmo que essa obstrução não seja total, o sangue vai passar, só que em pequenas quantidades, e não vai ser suficiente para oxigenar as células, que vão sofrer degeneração e consequentemente necrose. ICC (insuficiência cardíaca congestiva): pode ser ICC Direita ou ICC Esquerda. • ICC Direita: pode ocorrer devido um problema na valva Tricúspide (mais comum) ou na valva pulmonar. Se o caso for um problema na valva Tricúspide, por exemplo, o que irá ocorrer é que, essa valva após a sístole ventricular direita não se feche completamente (valva pode estar degenerada - endocardiose), e parte do sangue irá se acumular no átrio direito, e isso ocorre frequentemente até o momento em que esse sangue retorna pela veia cava caudal, onde então o sangue passa para o fígado levando ao que nós chamamos de "fígado em noz moscada". • ICC Esquerda: o sangue irá voltar pela veia pulmonar, ocorrendo o acumulo de sangue no pulmão, onde o plasma acaba passando para os alvéolos, levando ao edema pulmonar. 5 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre � Consequências da Hiperemia • Edema (ativa e passiva): O aumento da Pressão Hidrostática eleva a filtração e reduz a reabsorção capilar. • Hemorragias (ativa e passiva): Por diapedese ou por ruptura de capilares e pequenas vênulas. • Degenerações, Necrose e Fibrose ("Induração de estase") (passiva): Por redução do afluxo de O₂ e nutrientes. • Trombose (passiva): Por diminuição da velocidade do fluxo. c) Hemorragia Extravasamento de sangue dos vasos para o espaço extravascular.� Classificação das Hemorragias Quanto à origem: • Venosa • Arterial • Capilar • Cardíaca 6 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Quanto à visibilidade e relação com o organismo: • Externas ou superficiais. • Internas com fluxo externo (prefixo + rragia). • Ocultas (sem fluxo externo), Viscerais, Cavitárias (Hemo + sufixo). Quanto à morfologia: Qualquer acúmulo de sangue é chamado de Hematoma, os hematomas podem ser relativamente insignificantes ou envolver um sangramento de grande monta que pode levar à morte. • Petéquias: 1 a 2mm – hemorragias diminutas na pele, mucosas ou superfícies serosas, estão tipicamente associadas a aumentos localizados de pressão intravascular, reduzido número de plaquetas (trombocitopenia), função plaquetária defeituosa ou deficiência de fatores da coagulação. • Púrpuras: ~1 cm – hemorragias um pouco maiores, podendo estar associadas a várias desordens que causam as petéquias, além disso, a púrpura também pode ocorrer com trauma, inflamação vascular (vasculite) ou maior fragilidade vascular. • Equimoses: 2 a 3 cm – hematomas subcutâneos maiores, nessas hemorragias localizadas, os eritrócitos são fagocitados e degradados pelos macrófagos; a hemoglobina (de coloração vermelho azulada) é enzimaticamente convertida em bilirrubina (de coloração azul esverdeada) e depois em hemossiderina (marrom dourado), sendo responsável pela mudança de cor característica dos hematomas. • Sufusões: manchas irregulares. Quanto ao mecanismo de formação: • Por rexe (ruptura) • Por erosão dos vasos • Por diapedese (diátese) � Etiologia das Hemorragias De acordo com as causas, as hemorragias podem ser classificadas em: • Hemorragia por diapedese: são as chamadas hemorragias intersticiais, ocorrem por aumento da permeabilidade vascular, permitindo que o sangue escape para o interior dos tecidos, podendo acumular-se sob a forma de um espaço cheio de sangue (hematoma), ou pontos avermelhados milimétricos (hemorragias petequiais), ou manchas irregulares (sufusão), e finalmente as manchas bem definidas e demarcadas (equimoses). Estas hemorragias são rapidamente reabsorvidas. As etiologias desse tipo de hemorragia são vários fatores: - Físico: aumento de pressão sanguínea, nos casos de hiperemia passiva; - Tóxico: toxinas de várias origens, com destaque para aquelas produzidas por bactérias; - Nutricional: insuficiência de vitaminas C, K. • Hemorragia por dierese: são classificadas segundo as causas que as provocam: - Hemorragias por Rexe: são causadas por traumatismos (corte, perfurações); 7 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre - Hemorragias por Diabrose: são causadas por erosões e ulcerações (aneurismas, varizes, inflamações, degenerações) nos casos de tuberculose, mormo, gastrite e neoplasia. � Consequências das Hemorragias O significado clínico da hemorragia depende do volume e velocidade da perda sanguínea. A perda rápida de até 20% do volume de sangue ou perda lenta de quantidades maiores pode apresentar pouco impacto nos indivíduos saudáveis, entretanto, perda maior pode causar choque hipovolêmico. O local da hemorragia também é importante, um sangramento que seria trivial no tecido subcutâneo pode levar à morte se ocorrer no cérebro. Finalmente, a perda crônica ou recorrente de sangue causa uma perda de ferro que frequentemente leva à anemia ferropriva. Em contraste, quando os eritrócitos são retidos (por exemplo, em hemorragias nas cavidades corporais ou tecidos), o ferro pode ser reutilizado na síntese de hemoglobina. � Resolução das Hemorragias Quando a hemorragia não é fatal, após a hemostasia, pode ocorrer absorção do coágulo (nas hemorragias menores) ou organização e fibrose (nas hemorragias mais amplas). Pode ocorrer também formação de aderências, encistamento, calcificação, ossificação, colonização bacterianas e supuração. d) Edema Edema é o acúmulo de liquido nos espaços intersticiais ou nas cavidades naturais do corpo. A água representa cerca de 60% do peso corporal magro, sendo dois terços localizados no espaço intracelular e o restante no compartimento extracelular, sobretudo na forma de fluido intersticial, apenas 5% da água total do corpo está no plasma. Essa distribuição dos líquidos intersticial e vascular é mantida às custas da existência de uma hidrodinâmica entre esses dois meios, que mantêm uma troca equilibrada desses líquidos. O movimento do líquido do sistema intravascular para o interstício ocorre, em grande parte, devido à ação da pressão hidrostática do sangue. Essa saída do líquido do vaso se localiza na extremidade arterial da rede vascular. O seu retorno do interstício para o vaso se dá, principalmente, às custas da pressão oncótica sanguínea, aumentada na porção venosa. Durante essa dinâmica, fica uma certa quantidade de líquido residual nos interstícios. Esse líquido é drenado pelos vasos linfáticos, retornando depois para o sistema vascular. O desequilíbrio entre os fatores que regem essa hidrodinâmica entre interstício e meio intravascular é que origina o edema. 8 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre � Tipos de Edema Didaticamente o edema é classificado em dois tipos principais: inflamatório e não inflamatório. • Edema Inflamatório O edema inflamatório acompanha o processo inflamatório, sendo que a resposta inflamatória leva ao aumento da permeabilidade capilar, provocando uma intensa exsudação, resultando em aumento de volume da área agredida, caracterizando a tumefação: importante sinal clínico da inflamação. • Edema Não Inflamatório No edema não inflamatório, os líquidos se movem para os espaços teciduais devido a mecanismos patológicos primários e secundários. Os mecanismos primários são: − Aumento da permeabilidade das paredes capilares; − Aumento da pressão sanguínea intracapilar; − Diminuição da pressão osmótica coloidal das proteínas do plasma; − Obstrução linfática. Toda e qualquer manifestação edematosa rigorosamente terá de se enquadrar em um destes mecanismos. Os mecanismos secundários são: − Pressão osmótica nos tecidos; − Retenção de cloretos. Estes mecanismos por si só não provocam o edema, mas podem agravar o caso. Quanto à localização, os edemas podem ser classificados em edema local e edema geral. • Edema local: quase sempre é devido ao bloqueio linfático ou à drenagem venosa alterada. O fluxo normal do liquido intersticial para os vasos linfáticos fica obstruído e o fluido edematoso acumula-se no local. • Edema geral: ocorre com frequência devido ao acumulo da pressão hidrostática ou diminuição da pressão oncótica das proteínas do plasma. � Etiopatogênese do Edema I. Aumento da pressão hidrostática intravascular Aumentos localizados na pressão intravascular podem ser causados por uma redução no retorno venoso; Por exemplo, a Trombose Venosa Profunda dos membros inferiores pode causar edema restrito à porção distal do membro afetado. Aumentos generalizados na pressão venosa, resultante em edema sistêmico, ocorrem com mais frequência na insuficiência cardíaca congestiva que afeta a função do ventrículo direito (ICC direita). Apesar da contribuição do aumento da pressão hidrostática venosa, a patogenia do edema cardíaco é mais complexa. Na ICC a redução do débito cardíaco causa diminuição da perfusão renal, por sua vez, a redução da perfusão renal estimula o eixo Renina Angiotensina Aldosterona, levando à retenção de água pelos 9 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestrerins (aldosteronismo secundário). Esse mecanismo costuma elevar o volume intravascular, aumentando o débito cardíaco e restaurando a função renal. Entretanto, se o coração não puder elevar o débito cardíaco, o aumento da volemia leva a uma elevação da pressão venosa, o que, por sua vez, ocasiona a formação de edema. II. Redução da pressão oncótica do plasma A albumina é a principal proteína no soro, responsável pela manutenção da pressão oncótica intravascular, a pressão oncótica diminui quando ocorre uma síntese inadequada de albumina ou ela é perdida da circulação. A síndrome nefrótica é uma importante causa de perda de albumina, nessa desordem, a parede dos capilares glomerulares se torna muito permeável, tipicamente, os pacientes apresentam edema generalizado. A redução na síntese de albumina ocorre na presença de doenças hepáticas difusas ou de desnutrição proteica. Exemplo: Cirrose que gera a redução de hepatócitos com consequente redução na produção de albumina. Pressão oncótica: é a pressão osmótica gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo. No plasma sanguíneo, os componentes dissolvidos possuem uma pressão osmótica. A diferença entre a pressão osmótica exercida pelas proteínas plasmáticas (pressão osmótica coloidal) no plasma sanguíneo e a pressão exercida pelas proteínas fluidas no tecido é chamada de pressão oncótica. III. Aumento da permeabilidade capilar Normalmente, existe um balanço entre a quantidade de plasma que entra nos tecidos a partir dos capilares e a que volta ao sistema circulatório dos tecidos. Quando o tecido é danificado por resultado de uma infecção ou ferimento, o revestimento dos pequenos vasos começa a vazar, aumentando a permeabilidade. O balanço muda, permitindo que mais fluido entre nos tecidos. As células endoteliais e o pericito podem sofrer retração com aumento do espaço entre elas, deixando o capilar mais permeável. As causas dessa retração podem ser diversas, por exemplo: • Toxinas bacterianas (Gram -): agem na célula endotelial promovendo retração aumentando o espaço entre elas, deixando o capilar mais permeável, as células também podem morrer deixando mais espaço. • Aminas vasogênicas (histamina): produzida pelo mastócito, atua sobre a célula endotelial promovendo retração temporária. • Alterações metabólicas: A hipóxia, redução de oxigênio nos tecidos, causa a retração do endotélio, podendo levar a necrose. A uremia (ureia – metabólito tóxico) também leva à retração do endotélio. 10 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre IV. Obstrução linfática A redução da drenagem linfática e o linfedema que se segue, em geral, são localizados. Eles podem resultar de obstrução inflamatória ou neoplásica. Exemplos: abscesso, neoplasia, elefantíase. V. Retenção de água e sódio A retenção de sal também pode ser uma causa primária de edema. O aumento na quantidade de sal – que é acompanhado pela água – causa tanto aumento da pressão hidrostática (em virtude da expansão do volume intravascular) quanto redução da pressão oncótica vascular. A retenção de sal pode ocorrer em qualquer comprometimento da função renal, como a que ocorre na glomerulonefrite pósestreptocócica e insuficiência renal aguda. � Nomenclatura dos Edemas • Anasarca: quando o edema é grave e generalizado e causa tumefação difusa de todos os tecidos. • Hidrotórax, Hidropericárdio e Hidroperitôneo: é o acumulo de líquido nas diversas cavidades corporais. • Ascite: é o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. É o termo usado para designar hidroperitôneo, muito comum nos casos de cirrose hepática, verminose e cardiopatias. • Edema pulmonar: representado pelo acúmulo de fluido edematoso nos alvéolos, e a presença de líquido espumoso brancacento ou avermelhado na traqueia, brônquios e bronquíolos, apresenta o seguinte alerta: o edema pulmonar associado à insuficiência cardíaca é inevitavelmente crônico. Nestes casos o colágeno é depositado nos septos alveolares, diminuindo a elasticidade dos lóbulos pulmonares. • Edema cerebral: representa o início de uma encefalomalácia e vai estar presente em todo o processo até o desfecho final. 11 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Transudato: O líquido do edema não inflamatório é denominado transudato, tem a densidade em torno de 1.010, difícil coagulação, baixo teor de proteínas, reação alcalina, teste de Rivalta negativo e ausência de germes contaminantes. Exsudato: O líquido do edema inflamatório é denominado exsudato, tem a densidade superior a 1.020, coagulação fácil, rico em proteínas, reação ácida, teste de Rivalta positivo, presença de germes contaminantes e outros elementos. Os efeitos do edema podem variar de inconfortáveis a rapidamente fatais. O edema do tecido subcutâneo na insuficiência cardíaca ou renal é importante, sobretudo, porque é indicação de uma doença de base. Entretanto, quando é significativo, ele também pode dificultar a cicatrização de feridas ou o combate a infecções. O edema pulmonar pode causar morte por interferir na função normal de ventilação, o líquido se acumula nos septos alveolares em torno dos capilares e impede a difusão do oxigênio, a presença de líquido nos alvéolos também cria um ambiente favorável para as infecções bacterianas. O edema cerebral é um quadro grave, podendo ser rapidamente fatal. e) Hemostasia e Trombose Hemostasia: A perda de sangue, seja em qualquer circunstância, é encarada pelo organismo como uma ameaça, sendo assim, ele usa de vários mecanismos para conter um sangramento, o que recebe o nome de hemostasia. As plaquetas são os elementos do sangue responsáveis pela hemostasia, pois atuam no processo de coagulação sanguínea. O mecanismo de coagulação do sangue é bastante complexo e sofre ação, não só das plaquetas, mas também de diversas substâncias existentes no plasma e nos tecidos. O complexo processo de hemostasia é dividido em três estágios: 1. Hemostasia Primária: ocorre a vasoconstrição, o que torna menor o fluxo sanguíneo; as plaquetas se agregam no local em que há o sangramento, formando um tampão inicial. 2. Hemostasia Secundária: maior fase do processo. Envolve uma série de reações enzimáticas, que começa com a formação da tromboplastina pela ação dos fatores do plasma, das plaquetas ou do tecido. A tromboplastina, em presença do íon Ca⁺⁺ e de outros fatores plasmáticos, converte a protrombina do plasma na enzima trombina. A trombina transforma o fibrinogênio em fibrina, e esta, por ser uma proteína insolúvel, precipita-se, formando uma rede de filamentos. O depósito da rede de fibrina na extremidade lesada no vaso retém células sanguíneas, formando-se assim, um tampão denominado trombo, capaz de obstruir o vaso lesado e estancar o sangramento. A protrombina é formada no fígado, e para que sua síntese ocorra, é necessária a presença da vitamina K. Essa vitamina é sintetizada no intestino dos mamíferos por bactérias. 3. Hemostasia Terciária: ocorre a fibrinólise, ou seja, a dissolução de fibrina, reativando o fluxo sanguíneo. A fibrina é degradada pela plasmina, proveniente do plasminogênio. Trombose: é a formação de uma massa sólida na parede dos vasos, constituída dos elementos do sangue. Qualquer agente que lese extensivamente a superfície endotelial de um vaso sanguíneo pode causar trombose. A obstrução do vaso pode ser parcial ou total. 12 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Os fenômenos que envolvem a hemostasia em condições normais tornam-se patológicos quando, por razões adversas, ocorre coagulação do sangue dentro do sistema vascular em um ser vivo. Os trombospodem se formar em qualquer local dentro do sistema vascular e dentro da câmara cardíaca (endotélio). Três influências primárias estão envolvidas na formação do trombo, denominadas Tríade de Virchow: 1) Lesão endotelial O endotélio, revestimento interno do vaso, é capaz de produzir uma substância chamada prostaciclina que é um antiagregador plaquetário (substância antitrombótica ou antitrombogênica). O endotélio lesionado para de produzir a prostaciclina e vai produzir outra substância chamada de Tromboxano, que é um potente agregador de plaquetas. Embaixo do endotélio está a lâmina basal (componente de tecido conjuntivo), quando o endotélio está lesionado ele permite a exposição da lâmina basal que começa a entrar em contato com o sangue causando a exposição do colágeno subendotelial, o colágeno que está na lâmina basal, em contato com o sangue, também estimula a agregação de plaquetas. A lesão do endotélio e a exposição do colágeno subendotelial ativam uma substância do sangue chamada Trombina. A trombina fica inativa no sangue e quando estimulada faz a conversão do fibrinogênio (proteína) em fibrina (polímero de fibrinogênio). As fibrinas se unem formando uma rede / malha solúvel, a essa malha de fibrinas se juntam plaquetas, hemácias e leucócitos formando o Trombo. � Fatores que podem levar à lesão endotelial: • Trauma interno: por exemplo, animais que estão sempre tendo algum tipo de infusão na veia (cateter). • Ação de toxinas bacterianas: as bactérias gram- produzem toxinas que, em contato com o endotélio, podem causar a retração endotelial ou morte celular expondo o colágeno da lâmina basal. • Migração parasitária: existem parasitas que migram pela parede vascular. Ex: Espirocercose canina – Spirocerca lupi, é um parasito que se aloja no esôfago do animal, é adquirido pela ingestão de besouros coprófagos. A larva infectante é liberada no estômago e chega ao esôfago via parede arterial, geralmente utilizam as camadas íntima e média para migração, por onde passa, a larva induz inflamação no local, essa camada intima danificada pela inflamação pode ser a geradora de trombose local. 2) Alterações do fluxo sanguíneo (Estase) Alterações do fluxo sanguíneo ocorrem com diminuição da velocidade da corrente ou com formação de redemoinhos em torno de um obstáculo parcial. Estase sanguínea = velocidade sanguínea reduzida. 13 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre O fluxo sanguíneo normal é laminar, de forma que as plaquetas fluem no meio da luz do vaso sanguíneo, separadas do endotélio por uma zona mais clara e lenta de plasma. A turbulência contribui para a trombose arterial e cardíaca causando lesão ou disfunção endotelial, assim como pela formação de contracorrentes e bolsões locais de estase, a estase é um importante contribuinte para o desenvolvimento de trombos venosos. A estase e a turbulência provocam: • Alteração do fluxo laminar permitindo que as plaquetas entrem em contato com o endotélio; • Evitam a diluição dos fatores da coagulação ativados pelo fluxo de sangue fresco; • Retardam a chegada de inibidores da coagulação, permitindo a formação dos trombos; • Promovem a ativação das células endoteliais resultando em trombose local, adesão leucocitária, etc. 3) Viscosidade do sangue O aumento da viscosidade sanguínea pode ser causado pelo aumento da quantidade de proteínas. Existem doenças que são proliferativas – aumentam a quantidade de células linfoides, por exemplo, o Tumor Plasmocitoma, que tem origem a partir de plasmócitos. O plasmocitoma tem forma benigna e maligna, a benigna pode ser encontrada na pele, e a maligna acomete o tecido ósseo, geralmente de ossos longos, ele substitui tecido ósseo por tumor e o animal apresenta fraturas espontâneas. Esse tumor é capaz de produzir anticorpos (proteínas) anormais em grande quantidade, o aumento de proteínas no sangue, leva ao aumento da viscosidade sanguínea. Queimaduras e desidratação severa também podem aumentar a viscosidade do sangue devido a grande perda de água, aumenta a hemoconcentração. � Morfologia Morfologicamente os trombos podem ser brancos (leucócitos) ou vermelhos (venosos) ou ainda mistos. Todos apresentam as seguintes características: seco, duro, inelástico, friável, rugoso, áspero e aderente. O tamanho e o formato de um trombo dependem do local de origem e da causa, tipicamente trombos arteriais ou cardíacos têm início nos locais de lesão endotelial ou turbulência, é característico o surgimento de trombos venosos em locais de estase. Às vezes, coágulos post-mortem podem ser confundidos, durante a necropsia, com trombos venosos. Entretanto, os coágulos post-mortem são gelatinosos, com uma porção dependente vermelha, onde os eritrócitos se depositaram pela ação da força da gravidade, um sobrenadante amarelo, semelhante à gordura de galinha, e em geral não estão ligados à parede do vaso. Por outro lado, os trombos vermelhos são mais firmes, ligados à parede do vaso e o corte transversal revela a presença de faixas cinza de fibrina. � Tipos de trombos quanto à obstrução: • Trombos ocludentes: obstrução total da luz vascular • Trombos semi ocludentes: obstrução parcial da luz vascular 14 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre • Trombo canalizado: é aquele no qual ocorre a formação de pequenos vasos dentro do trombo. Esses vasos vão reestabelecer parcialmente o fluxo sanguíneo. • Trombos murais: trombos que se formam nas câmaras cardíacas ou na luz da aorta. • Trombos parietais: trombos que se formam na parede dos vasos. � Destino do trombo Se o paciente sobrevive à trombose inicial, nos dias ou semanas que se seguem os trombos sofrem uma combinação dos quatro eventos a seguir: • Propagação: Os trombos acumulam mais plaquetas e fibrinas, até causar obstrução do vaso. Os trombos arteriais tendem a apresentar um crescimento retrógrado, a partir do ponto de ligação com a superfície vascular, enquanto os trombos venosos se estendem na direção do fluxo sanguíneo, portanto, ambos tendem a se propagar na direção do coração. • Embolização: Os trombos se soltam ou se fragmentam, sendo transportados para qualquer vaso sanguíneo. A porção em propagação de um trombo tende a apresentar uma ligação fraca com o restante do trombo e, portanto, com uma tendência a se fragmentar gerando um êmbolo. • Dissolução: Os trombos são removidos pela atividade fibrinolítica. A dissolução resulta da ativação fibrinolítica que causa um encolhimento rápido e até mesmo a lise total dos trombos recentes. Com os trombos mais velhos, a extensa polimerização da fibrina os torna muito mais resistentes à proteólise e a lise é ineficaz. • Organização e recanalização: Os trombos induzem inflamação e fibrose (organização). Por fim, são recanalizados restabelecendo algum grau de fluxo, ou podem ser incorporados como uma parede espessa do vaso. Trombos mais velhos se organizam através do crescimento de células endoteliais, células musculares lisas e fibroblastos no coágulo rico em fibrina. Por fim, canais capilares são formados e podem, até certo ponto, criar condutos ao longo da extensão do trombo e, em consequência, restabelecer a continuidade da luz original. Apesar de esses canais não conseguirem restaurar um fluxo significativo em muitos vasos obstruídos, a recanalização pode, potencialmente, converter um trombo em uma massa vascularizada de tecido conjuntivo, que por fim, é incorporada à parede do vaso, permanecendo como um inchaço subendotelial. As principais consequências do aparecimento de uma trombose é a alteração parcial ou totalde um vaso, levando à isquemia, que por sua vez leva à necrose e finalmente ao infarto. f) Embolia Um êmbolo é uma massa intravascular livre sólida, líquida ou gasosa, que é carregada pelo sangue até um local distante de seu ponto de origem levando à oclusão parcial ou completa da luz do vaso em algum ponto do sistema circulatório. • Sólida: compreendem trombos (nesse caso, o processo é chamado de tromboembolia), segmentos de placa de ateroma, parasitas e bactérias, corpos estranhos (por exemplo, 15 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre projétil de arma de fogo), restos de tecidos (por exemplo, de placenta durante a gestação), células neoplásicas etc. O êmbolo se distingue do trombo por não estar aderido à parede do vaso e por não assumir a anatomia da luz vascular, como acontece com o trombo. Os êmbolos sólidos podem levar a morte súbita, infarto ou hemorragia. • Líquidas: os êmbolos líquidos estão principalmente sob a forma de gorduras; pacientes com extensas queimaduras corpóreas ou fraturas generalizadas, principalmente dos ossos longos, podem promover a circulação de glóbulos gordurosos, os quais se deslocam da medula óssea e do tecido adiposo. A embolia gordurosa pode causar morte rápida, devido à sua alta capacidade de penetração em arteríolas e capilares, obstruindo a microcirculação. Um outro tipo de embolia líquida, agora bem mais raro, é a infusão de líquido amniótico na circulação durante ou pós-parto. • Gasosa: o êmbolo gasoso pode ser de origem venosa (por exemplo, entrada de ar nas veias durante ato cirúrgico ou exames angiográficos) ou arterial (por exemplo, durante o parto ou aborto, em que há grande contração do útero e rompimento de vasos). � Tipos de êmbolos As embolias são classificadas conforme a natureza dos êmbolos: • Tromboembolismo: É o resultado da fragmentação de um trombo, localizado em qualquer parte do sistema cardiovascular, cujos fragmentos se lançam na corrente sanguínea como êmbolo e acaba por obliterar um vaso. O tromboembolismo é comum no pulmão (é a forma mais comum de embolia pulmonar) e no coração, no qual os êmbolos se originam dos trombos das paredes das cavidades (infarto do miocárdio e endocardites). • Embolia bacteriana: Se dá nos casos de bacteremia e septicemia, onde colônias de bactérias podem se alojar nos capilares e reproduzir a distancia uma infecção. • Embolia celular: é constituída por êmbolos cujas células podem ser um oncócito, oriundo de uma neoplasia maligna qualquer, disseminando para vários órgãos. A este mecanismo chamamos metástase. • Embolia gasosa: ocorre pela introdução de ar no sangue, observado em várias circunstâncias em que produzem soluções de continuidade na parede dos vasos, principalmente veias, tais como no aborto, traumatismo ou cirurgias. As pequenas bolhas de ar podem coalescer e formar bolhas maiores, suficientes para ocluir os vasos no cérebro e no pulmão. Um tipo especial de embolia gasosa é observado na descompressão rápida da pressão atmosférica em mergulhadores e escafandristas. • Embolia gordurosa: A Embolia Gordurosa é uma síndrome tipicamente associada com trauma ortopédico que pode desenvolver-se quando gotículas de gordura impactam na microvasculatura pulmonar e em outros leitos microvasculares, ou seja, presença de gotículas de lipídeos na circulação sanguínea. Suas causas podem ser: Fratura óssea - fêmur, tíbia, pelve. Traumatismo, queimadura em tecido adiposo e lipoaspiração. • Embolia de medula óssea: Fragmentos de medula óssea caracterizados pela presença de gordura e células hematopoética são por vezes encontrados na circulação sanguínea em casos de traumatismo ósseo. É frequente o achado de êmbolos pulmonares na medula óssea de pacientes que sofreram fratura de costela no decurso de ressuscitação cardiopulmonar. Esse tipo de embolia não tem expressão clínica. 16 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre • Embolia parasitária: larvas de certos helmintos são encontradas no sangue circulante atuando como êmbolo. Ex: Dirofilariose. � Consequências da Embolia Dependem de: • Natureza do embolo (Séptico/ abscessos; neoplásicos/ metástases) e volume do mesmo; • Local atingido (essencialidade, tipo de rede vascular, presença e eficiência de circulação colateral, vulnerabilidade à hipóxia, etc.); Em geral podemos ter: • À jusante: Isquemia, levando a degenerações e hipotrofia ou ao infarto isquêmico, quando intensa; • À montante: Hiperemia passiva, levando ao edema, a degenerações e a hipotrofia, ou ao infarto hemorrágico. O êmbolo séptico chegando ao fígado vai disseminar as bactérias causando hepatite. O êmbolo neoplásico vai gerar um novo tumor aonde as células se alojarem. O êmbolo no ramo arterial leva à isquemia que, por sua vez, leva à hipóxia, à anóxia e por fim à necrose. O êmbolo no ramo venoso leva à congestão e dilatação do vaso que, por sua vez, leva ao aumento da pressão hidrostática, ao escape de líquido plasmático, ao edema e por fim à necrose. Em órgãos como o fígado a tendência é que ocorra uma congestão de sangue pobre em O₂, levando à hipóxia e causando degeneração hidrópica ou esteatose. g) Isquemia É a redução ou a cessação do fluxo sanguíneo para um órgão ou território do organismo. Esta redução pode ocorrer rápida ou lentamente. � Causas Na grande maioria das vezes, a isquemia é causada por obstrução total ou parcial de artérias ou capilares. As causas da obstrução podem estar na luz do vaso ou fora dela, como ocorre quando há compressão extrínseca na parede vascular. • Obstrução arterial: é a principal causa de isquemia, podendo ser provocada por obstáculos intravasculares, por compressão extrínseca ou por espasmos da parede arterial. Obstrução intravascular (parcial ou total) resulta na grande maioria dos casos de aterosclerose, embolia, trombose arterial e arterites. Compressão extrínseca pode acontecer por tumores. • Obstrução da microcirculação: obstrução de capilares com isquemia localizada pode ser causada por aumento da viscosidade sanguínea, coagulação intravascular disseminada, compressão extrínseca, embolia gasosa e gordurosa, parasitismo de células endoteliais. 17 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre � Consequências As consequências da isquemia dependem do órgão onde ela ocorre, do tamanho do vaso afetado e da extensão da circulação colateral. A principal consequência da isquemia é a redução no fornecimento de oxigênio (hipóxia) até ausência do seu suprimento (anóxia), capazes de provocar necrose. Quando a isquemia ocorre em uma área de circulação terminal (cérebro, coração, rim), a consequência será necrose do tecido irrigado pelo vaso afetado. Se a obstrução ocorre de forma lenta e gradual, pode levar a hipotrofia do órgão ou parte dele. h) Infarto É uma área de necrose isquêmica delimitada. De acordo com o aspecto morfológico, o infarto pode ser branco ou vermelho. � Infarto branco É o infarto em que a região afetada fica mais clara (branca ou amarelada) do que a cor normal do órgão. É causado tipicamente por obstrução arterial em territórios sem ou com escassa circulação colateral. Em órgãos com circulação terminal ou com poucos ramos colaterais, obstrução arterial, especialmente em situações de aumento da demanda de oxigênio, queda abrupta da pressão arterial, choque ou anemia, resulta em infarto branco. É o que acontece tipicamente no coração, no encéfalo, nos rins e no baço. � Infarto vermelho É assim chamado porque a região comprometida adquire coloração vermelha em razão da hemorragia que seforma na área infartada. Infarto vermelho, que pode ser causado por obstrução tanto arterial como venosa, ocorre caracteristicamente em órgãos com estroma frouxo (ex. pulmões) e/ou com circulação dupla ou com rica rede de vasos colaterais. Nos intestinos, o infarto também é hemorrágico, tanto por obstrução arterial como venosa. � Consequências As consequências e a gravidade dos infartos dependem da sua extensão e do órgão comprometido. Muitos infartos podem ser fatais, como os infartos do miocárdio, do encéfalo e dos intestinos; podem também passar despercebidos, como acontece em infartos renais ou esplênicos ou até mesmo em pequenos infartos do miocárdio. Os infartos evoluem para cura com cicatrização (ou gliose, no sistema nervoso central), que pode ser completa, resultando em cicatriz retrátil, ou incompleta, com formação de cistos (mais raro). Sendo áreas desvitalizadas, os infartos podem complicar-se com colonização e proliferação de bactérias anaeróbias, originando abscessos ou gangrena. i) Choque Choque é o distúrbio hemodinâmico agudo e sistêmico caracterizado por incapacidade do sistema circulatório de manter a pressão arterial em nível suficiente para garantir a perfusão sanguínea de órgãos vitais, o que resulta em hipóxia generalizada. 18 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre A manutenção da pressão arterial e da pressão de perfusão tecidual depende de três componentes básicos: • Bomba cardíaca, que impulsiona o sangue nos vasos; • Volume de sangue circulante; • Compartimento vascular, em condições normais, a quantidade de sangue ejetado na circulação ocupa o compartimento vascular de modo a exercer tensão na parede dos vasos suficiente para manter a pressão arterial e a perfusão dos tecidos. Hipoperfusão sanguínea: redução da quantidade de sangue que chega aos tecidos. As consequências são: • Hipóxia; • Redução da quantidade de glicose; • Redução do metabolismo tecidual; • Redução da retirada de catabólitos (produtos do metabolismo, secreção celular) � Tipos de Choque Todos os tipos de choque apontam para quatro fenômenos comuns: 1) Todos vão gerar alteração no funcionamento cardíaco (na contratividade); 2) Todos vão gerar uma grave vasodilatação; 3) Aumento grave da permeabilidade vascular – a consequência é uma grave redução da volemia causada pelo excesso de liquido que o vaso perde; 4) Hipoperfusão dos tecidos. • Choque endotóxico ou séptico Aparece mais em casos de infecções ocasionadas por bactérias, principalmente as gram negativas, que são capazes de estimular o sistema de defesa a responder de forma exagerada a um componente da parede bacteriana, o LPS. Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica: resposta inflamatória generalizada envolvendo células de defesa, principalmente macrófagos e linfócitos, que vão liberar grande quantidade de mediadores químicos da inflamação na circulação sistêmica. Esses mediadores químicos que provocam a vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular. Mediadores químicos da inflamação: • TNF: Fator de Necrose Tumoral, é produzido, principalmente, pelos macrófagos, é um potente vasodilatador e também aumenta muito a permeabilidade dos vasos. • ILS: Interleucina, é produzida por macrófagos e linfócitos. A vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular levam à queda na volemia, podendo levar à falência múltipla dos órgãos. 19 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre O aumento da quantidade de TNF na circulação causa redução da contração cardíaca, reduzindo o volume ejetado do coração. No sistema vascular, muito TNF leva à fragilidade do vaso causando rompimento, principalmente nos capilares, que são os vasos da microcirculação. Se o vaso não se rompe, começam a aparecer microtrombos que vão causar o rompimento. • Choque cardiogênico O dano principal se inicia no coração, prejudicando a circulação sanguínea. As principais causas são: − Infarto no miocárdio (principalmente no ser humano); − Alterações na capacidade de contrair; − Miocardite linfocitária (atinge filhotes de mães infectadas com parvovírus); − Tamponamento cardíaco: acumulo de líquido no saco pericárdico impedindo a contração e o relaxamento da musculatura cardíaca. Pode ser líquido seroso rico em plasma (Hidropericárdio), pode ser formado de sangue (Hemopericárdio) que coagula e pode ser purulento (pus). • Choque anafilático Trata-se sempre de indivíduos que tem hipersensibilidade, é uma reação clássica que envolve mastócitos, IgE e antígenos. O choque anafilático costuma ser mais localizado, mas também pode ser sistêmico. Essa resposta exagerada envolve a liberação de grande quantidade de histamina que é um potente vasodilatador e também aumenta a permeabilidade vascular. • Choque neurogênico Acidentes com anestésicos ou lesões traumáticas na medula espinal podem desencadear vasodilatações periféricas generalizadas, levando ao choque. • Choque hipovolêmico É causado por redução aguda e intensa do volume circulante, por perda de líquidos para o meio externo, devido a: − Hemorragia grave, vômitos e diarreia; − Perda cutânea (ex: queimaduras); − Passagem rápida de liquido do meio intravascular para a MEC, devido à perda de fluidos na microcirculação; − Causas menos frequentes, como retenção de grande quantidade de líquido na luz intestinal devido a íleo paralítico. � Estágios do choque O choque é uma desordem progressiva que, se não corrigida, leva à morte. A menos que o insulto seja maciço e rapidamente letal, o choque tende a evoluir em três estágios gerais: 1) Estágio inicial – não progressivo: durante o qual mecanismos reflexos compensatórios são ativados e a perfusão dos órgãos vitais é mantida; 20 Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre 2) Estágio progressivo: caracterizado pela hipoperfusão tecidual e inicio dos desequilíbrios circulatório e metabólico; 3) Estágio Irreversível: tem inicio depois que o corpo sofreu lesões celulares e tissulares tão graves que, mesmo que os defeitos hemodinâmicos sejam corrigidos, a sobrevivência não é possível. Na fase não progressiva inicial do choque, diversos mecanismos neuro-humorais ajudam a manter o débito cardíaco e a pressão sanguínea. Eles incluem os reflexos dos Barorreceptores, liberação de catecolaminas, ativação do eixo renina-angiotensina, liberação do hormônio antidiurético e estimulação simpática generalizada. O efeito final consiste em taquicardia, vasoconstrição periférica, e retenção renal de líquidos. A vasoconstrição cutânea, por exemplo, é responsável pela redução da temperatura e palidez da pele (apesar de o choque séptico causar, de início, vasodilatação cutânea, e por consequência, pele morna e eritematosa). Os vasos coronários e cerebrais são menos sensíveis à resposta simpática, mantendo calibre, fluxo sanguíneo e oferta de oxigênio relativamente normal aos seus respectivos órgãos vitais. Se as causas do choque não forem corrigidas, o choque passa para a fase progressiva, durante a qual ocorre hipóxia disseminada dos tecidos. Na presença de um déficit persistente de oxigênio, a respiração celular aeróbia é substituída pela glicólise anaeróbia com produção excessiva de ácido lático. A acidose metabólica lática resultante diminui o pH do tecido e reduz a resposta vasomotora; ocorre dilatação das arteríolas e o sangue começa a se acumular na microcirculação. O acumulo de sangue na circulação periférica, além de piorar o débito cardíaco também põem em risco as células endoteliais, que podem sofrer lesão anóxica e subsequente CID.A hipóxia tissular disseminada afeta órgãos vitais que começam a apresentar insuficiência. A não ser que haja uma intervenção, o processo atinge o estágio irreversível.
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