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1 Patologia - Lesões Reversíveis

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Ana Paula Ramos – Medicina Veterinária - 3° semestre Página 1 
 
FUNÇÃO E DISFUNÇÃO I – PATOLOGIA 
 
 
Patologia: É o estudo da doença, abordando principalmente a causa das doenças, os mecanismos 
que a produzem, os locais em que ocorrem e suas alterações morfológicas e funcionais. 
 
Etiologia: refere-se à causa(s) da doença. 
• Intrínsecos ou genéticos: Alterações genômicas; erros metabólicos inatos; alterações 
imunológicas, circulatórias, endócrinas, psíquicas e nervosas; envelhecimento. 
• Extrínsecos: Físicos, químicos e biológicos. 
 
Patogenia: estudo do desenvolvimento da doença, isto é, a reação celular e tecidual frente ao agente 
etiológico, contemplando do estímulo inicial até à manifestação final da doença. Estudo do 
mecanismo da doença. 
 
Lesão ou Processo patológico: conjunto de alterações morfológicas, moleculares e/ou funcionais que 
surgem de células e tecidos afetados após a agressão; Sucessão de eventos, variação da morfologia 
da lesão de acordo com o momento da análise; 
 
Classificação das lesões: 
• Lesão celular (letal ou não letal / reversível ou irreversível); 
• Lesão no interstício (matriz extracelular); 
• Lesão na circulação; 
• Lesão na inervação. 
 
 
 
1. Alterações celulares passíveis de reversão 
 
a) Lesão e Morte Celular 
A lesão celular é decorrente de um intenso processo de estresse com o qual a célula não é capaz de 
lidar ou quando elas são expostas a agentes perniciosos. A lesão pode cursar por um estágio 
reversível até culminar na morte celular, caracterizada pela completa inativação da célula. 
 
Lesão celular reversível: é caracterizada, inicialmente, por alterações funcionais e morfológicas que 
podem ser reversíveis caso a fonte nociva seja retirada. A lesão reversível pode ser caracterizada por 
redução na quantidade de ATP e edema celular causado por alterações na concentração de íons e 
influxo de água. 
 
 
b) Causas das lesões celulares 
As causas das lesões celulares variam de causas como violento fator físico externo (como o que 
ocorre em acidentes automobilísticos) a causas endógenas (como mutações sutis que possam alterar 
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alguma enzima vital, que altera toda uma função metabólica). Os principais estímulos nocivos podem 
ser listados a seguir: 
 
• Hipóxia (ausência de oxigênio): a carência de O₂, molécula que funciona como ultimo 
aceptor de elétrons da cadeia respiratória causa lesão celular justamente pela redução da 
respiração aeróbica oxidativa. Uma causa de hipóxia é a oxigenação inadequada do sangue 
devido à insuficiência cardiorrespiratória. Outra menos frequente é a perda da capacidade 
carreadora de oxigênio pelo sangue como o que ocorre na anemia (na qual ocorre anóxia 
sem isquemia) ou na intoxicação por monóxido de carbono. 
• Isquemia: é a perda do suprimento sanguíneo adequado devido à obstrução do fluxo arterial 
ou redução da drenagem venosa de um tecido. A isquemia compromete não apenas o 
suprimento de oxigênio, mas também de substratos metabólicos como a glicose. O 
mecanismo da lesão isquêmica está relacionado com eventos moleculares intracelulares que 
desencadeiam na lesão celular irreversível (morte celular). Ao se formar um foco isquêmico, 
todo o grupo celular irrigado por este vaso sofre com a carência de O₂, além disso, há uma 
carência de glicogênio e uma consequente diminuição do pH, o que acarreta na condensação 
da cromatina nuclear. Com o desenvolver deste processo, a célula chega a um ponto 
irreversível, em que ocorre a ruptura da membrana celular ou falência mitocondrial, gerando 
a morte celular. 
• Agentes físicos: estão inclusos traumas mecânicos, temperaturas extremas (queimaduras ou 
frio intenso), mudanças bruscas na pressão atmosférica, radiação, choque elétrico, etc. 
• Agentes químicos e drogas: substancia químicas como a glicose ou o sal em concentrações 
hipertônicas podem causar lesão celular diretamente ou pela alteração da homeostasia 
eletrolítica das células. Até mesmo o oxigênio em altas concentrações, pode ser altamente 
toxico. Quantidades mínimas de agentes conhecidos como venenos podem destruir um 
grande número de células em poucos minutos ou horas e causar morte. 
• Reações imunológicas: apesar de o sistema imunológico desempenhar uma função essencial 
de defesa contra agentes infecciosos, as reações imunológicas causam como consequências 
algumas lesões celulares. 
• Distúrbios genéticos: a lesão genética resulta em um defeito tão grave como numa 
malformação congênita associada a síndromes (como a Síndrome de Down), relacionada a 
distúrbios cromossômicos, ou tão sutil a ponto de reduzir a vida dos eritrócitos devido à 
substituição de um único aminoácido na cadeia da hemoglobina (como ocorre na anemia 
falciforme). 
• Desequilíbrios nutricionais: deficiências proteico-calóricas causam um número 
impressionante de mortes. Problemas nutricionais podem ser causados pelas próprias 
pessoas, como no caso da anorexia nervosa ou da desnutrição auto induzida. Ironicamente, 
excessos nutricionais também se tornam causas importantes de lesão celular. 
 
 
 
 
 
 
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c) Mecanismos de adaptação celular 
 
 
 
 
 
• Metaplasia: em algumas situações, as células mudam de um tipo para outro diferente. 
A metaplasia é uma alteração reversível na qual um tipo de célula adulta é substituída por outro tipo 
de célula adulta. A metaplasia mais comum é a do epitélio colunar para escamoso que pode ocorrer 
no trato respiratório em resposta a irritação crônica (como a causada pelo cigarro). Se as influencias 
que predispõem à metaplasia persistem, elas podem induzir transformações malignas no epitélio 
metaplásico. 
 
 
 
A metaplasia não resulta de uma alteração do fenótipo de uma célula diferenciada; ao contrário, é o 
resultado de uma reprogramação de células tronco que sabemos existir nos tecidos normais ou de 
células mesenquimatosas indiferenciadas presentes no tecido conjuntivo. Em uma alteração 
metaplásica, esses precursores celulares seguem uma nova via de diferenciação. A diferenciação de 
células-tronco em uma linhagem particular ocorre por meio de sinais gerados por citocinas, fatores 
de crescimento e componentes da matriz extracelular no ambiente que cerca a célula. No caso das 
metaplasias, há uma desordem na sinalização feita por esses estímulos externos, desencadeando a 
origem de vias metaplásicas para as células tronco do tecido acometido por um fator irritante. 
 
 
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• Hipertrofia: aumento do volume celular, resposta das células ao aumento da demanda e ao 
estímulo externo. 
A hipertrofia se refere a um aumento no tamanho das células, resultando em um aumento no 
tamanho geral do órgão ou tecido. É importante saber que o aumento celular não é causado por 
algum tipo de edema, e sim pela síntese de mais componentes estruturais. 
As células capazes de se dividirem podem responder ao estresse, sofrendo tanto hiperplasia quanto 
hipertrofia, enquanto as células que não se dividem (como as do miocárdio) sofrem hipertrofia. A 
hipertrofia pode ser fisiológica ou patológica, sendo causada pelo aumento da demanda funcional ou 
por estímulos hormonais específicos. 
Os mecanismos da hipertrofia (como a cardíaca) envolvem muitas vias de transdução de sinais, 
levando à indução de vários genes que, por sua vez, estimulam a síntese de numerosas proteínas 
celulares. 
 
• Hiperplasia: aumento de número de células, resposta das células ao aumento da demanda e 
ao estímulo externo. 
A hiperplasia
significa um aumento no número de células de um órgão ou tecido, geralmente 
resultando em um aumento do seu volume. Apesar de a hiperplasia e a hipertrofia serem dois 
processos distintos, frequentemente ocorrem juntas e podem ser desencadeadas pelos mesmos 
estímulos externos. 
A hiperplasia ocorre se a população celular for capaz de sintetizar DNA, permitindo, assim, que 
ocorra mitose. A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica. 
− Hiperplasia fisiológica: pode ser dividida ainda em dois tipos: 
1) Hiperplasia hormonal: a qual aumenta a capacidade funcional de um tecido quando é 
necessário (ex: proliferação do epitélio glandular da mama feminina na puberdade e 
durante a gravidez). 
2) Hiperplasia compensatória: na qual ocorre aumento da massa tecidual após dano ou 
ressecção parcial (ex: a regeneração das células hepáticas após lesão). 
A hiperplasia é geralmente causada pela produção local de fatores de crescimento, aumento dos 
receptores de fatores de crescimento nas células envolvidas no processo ou a ativação de 
determinadas vias intracelulares. 
− Hiperplasia patológica: geralmente é causada pela estimulação excessiva das células alvo por 
hormônios ou por fatores de crescimento. É importante saber, porém, que a hiperplasia 
patológica representa um solo fértil onde a proliferação cancerosa pode se instalar. 
 
• Atrofia: redução do volume celular, resposta das células à redução de nutrientes e de fatores 
de crescimento. 
A atrofia consiste na redução no tamanho da célula devido à perda de substancia celular, 
representando uma forma de resposta de adaptação celular que pode culminar em morte. A atrofia 
pode ser fisiológica (comum durante as fases iniciais do desenvolvimento) ou patológica (depende da 
causa e pode ser localizada ou generalizada). 
 As causas mais comuns de atrofia são: 
� Diminuição da carga (atrofia por desuso); 
� Perda da inervação (perda da ação trófica exercida por algum nervo); 
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� Diminuição do suprimento sanguíneo (isquemia, como o que ocorre com o cérebro na 
velhice); 
� Nutrição inadequada; 
� Perda da estimulação endócrina; 
� Envelhecimento (atrofia senil); 
� Pressão (compressão de um tecido por um longo período de tempo). 
 
Admite-se que os mecanismos bioquímicos responsáveis pela atrofia afetem o equilíbrio entre a 
síntese e a degradação de proteínas. O aumento na degradação de proteínas provavelmente 
desempenha um papel importante na atrofia. 
 
 
d) Processos degenerativos celulares reversíveis 
 
DEGENERAÇÃO: São alterações celulares, geralmente reversíveis quando o estímulo cessa, e que 
podem ou não evoluir para a morte celular. O citoplasma apresenta-se lesionado, com acúmulo de 
substâncias exógenas ou pré-existentes, o que reduz ou cessa a função celular. 
 
“A DEGENERAÇÃO é um processo regressivo reversível, resultante de lesões não-letais, em que são 
manifestadas alterações morfológicas e funcionais da célula”. 
 
• Degeneração hidrópica / edema celular: Acúmulo de água no interior da célula devido à 
lesão química ou tóxica, alterando, assim, o funcionamento da bomba de Na⁺ e K⁺, fazendo 
com que haja um influxo de H₂O para dentro da célula na tentativa do equilíbrio eletrolítico. 
 
Mecanismo de ação: O mau funcionamento da bomba de Na⁺/K⁺ fará com que haja uma 
desregulação hidroeletrolítica. O Na⁺ ficará reBdo intracelularmente e o K⁺ extracelularmente. 
O Na⁺ em excesso na célula promoverá a rápida entrada de água, causando assim, o chamado 
EDEMA CELULAR. 
A ausência de K⁺ na célula contribui para uma disfunção da mitocôndria, agravando o caso de 
degeneração hidrópica. 
 
Características macroscópicas: 
• Aumento de volume tecidual; 
• Tonalidade pálida; 
• Perda da elasticidade do tecido; 
• Brilho característico. 
 
Características microscópicas: 
• Células aumentadas de volume; 
•Núcleo deslocado para a periferia, resultado do acúmulo de água; 
•Presença de grânulos eosinofílicos. 
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• Aumento do volume celular, com alteração da proporção citoplasma/núcleo e vacuolização 
citoplasmática que aumenta de volume, frequência e intensidade de acordo com o estágio da lesão. 
 
- Degeneração Vacuolar: Estágio mais avançado de edema celular em que se observam maiores 
quantidades de água nas organelas e formação de vacúolos no citoplasma. 
 
 
• Esteatose ou Metamorfose gordurosa: Esteatose é uma alteração degenerativa reversível 
que se refere à deposição de gorduras neutras (mono, di e triglicerídeos) no citoplasma de 
células parenquimatosas, também chamada de degeneração, infiltração, metamorfose 
gordurosa e ainda esteatose de gorduras neutras. É observado com maior frequência no 
fígado, principal órgão envolvido no metabolismo lipídico, mas também pode ocorrer no 
epitélio tubular renal, miocárdio, músculo esquelético e pâncreas. Os fatores que podem 
causar esteatose são: desnutrição proteica, diabetes mellitus, anemia, difteria, etilismol, 
intoxicação por tetracloreto de carbono, entre outros. O acúmulo de gordura ocorre no 
interior de vacúolos na célula, sendo que em estágios mais avançados há o deslocamento 
do núcleo para periferia. Macroscopicamente, o fígado aumenta em volume e peso. Para 
análise microscópica dos vacúolos com gordura recorre-se a corantes especiais como: sudan 
IV ou Oil Red-O, os quais coram os lipídios em vermelho-alaranjado. Na coloração com HE 
(hematoxilina e eosina) os lipídios são perdidos durante o processamento histológico e os 
vacúolos são identificados por um espaço em branco no interior da célula (imagem negativa). 
 
• Infiltração glicogênica: Acúmulo anormal intracelular de glicogênio, reversível, consequência 
de desequilíbrios na síntese ou catabolismo do mesmo. O glicogênio é normalmente 
encontrado nos músculos e no fígado. O glicogênio em excesso também pode se acumular 
no núcleo – aspecto de vidro de relógio. 
 
Principal causa: hiperglicemias 
− Alimentares 
− Insulina/Glucagon 
− Diabete melito 
− Cães com hiperadrenocorticismo ou medicados com corticosteróides 
 
 
Quando há acúmulo anormal de água, gordura ou glicogênio formam-se vacúolos. Os vacúolos se 
coalescem (se juntam). 
 
Vacúolos: organelas distendidas ou rompidas. 
 
Todos os vacúolos são claros, utilizam-se métodos de coloração para diferenciá-los: 
 
Gordura: 
- Sudan Black: histoquímica para gordura. Os vacúolos ficam pretos. 
- Metil Orange: deixa os vacúolos laranjas. 
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- Oil red O: deixa vermelho. 
 
Quando se pretende ver gordura, não se utiliza solventes orgânicos (álcool e xilol). Utiliza-se um 
equipamento especifico que congela e corta o tecido. 
 
Glicogênio: 
- P.A.S: ácido periódico de schiff, fica na cor magenta. 
 
Água: não tem como colorir, então se o exame der negativo para gordura e glicogênio, significa que o 
vacúolo é de água.

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