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432 O escoamento da soja para o mercado europeu fazia-se por ferrovia brasileira até a costa atlântica a um custo que, se bem elevado, era suportável tendo por base o preço da mercadoria. A queda do preço da soja e o aumento considerável do custo do transporte por via terrestre fez com que os bolivianos, por intermédio das Câmaras de Comércio, impulsionassem com maior vigor o rompimento de sua mediterraneidade, mediante a utilização da via fluvial, com saída ao Rio da Prata. Malins, op. cit., p. 311. 193APRESENTAÇÃO DO PROJETO HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ de Bolivia al río Paraguay, y a través del sistema del Río Paraguay y Paraná, la salida al Atlántico433. O acesso da região ao rio Paraguai, na fronteira com o Brasil, é viabilizado pelo sistema Tamengo, hidrologicamente dependente desse rio e pertencente quase integralmente ao Brasil434. As autoridades bolivianas têm manifestado preocupação com problemas apresentados principalmente em decorrência da redução do fluxo de água do Canal Tuiuiú que deságua na Lagoa Cáceres, supostamente causada por obstáculos de cimento no lado brasileiro. Alegam que estudos hidrológicos indicam a possibilidade de a Lagoa de Cáceres vir a secar e ameaçar sua única saída de acesso ao mar435. O tratamento do assunto passou a ser recorrente nas reuniões do CIH e, em setembro de 2003, por ocasião da III Reunião de Comandos Navais Fronteiriços Brasil-Bolívia, decidiu-se pela realização de estudos para o levantamento das causas do assoreamento do Sistema Tamengo e possíveis soluções para a questão. Em maio de 433 Sanguinetti, op. cit., p. 80. 434 Para os territórios do Norte boliviano (zona de Beni), o acesso ao Oceano Atlântico, por meio da Bacia do Amazonas é alternativo, já que não contam com acessos rodoviários e ferroviários até La Paz ou Santa Cruz de la Sierra. A rede rodoviária brasileira oferece opção para a saída dos produtos dessa região próxima ao porto de Manaus, onde atracam embarcações de ultramar, com saída ao Atlântico. Bloch, op. cit., p. 162. 435 Assim como o sistema Tamengo inunda os campos por meio das enchentes do rio Paraguai e de precipitações extraordinárias, também pode chegar a secar em épocas de estiagem severa. Há evidência de que esteve completamente seco no período de 1960- 1969, ainda que o rio Paraguai tenha mantido os níveis críticos de água. ANGULO CABRERA, Gildo. La Navegabilidad en el Río Paraguay: Proyectos Portuarios Bolivianos. In: Boletín del Centro Naval: La Hidrovía Paraguay-Paraná, Factor de Integración, Buenos Aires, año 110, v. 109, suplemento n 763-G-11, p. 157, invierno 1991. Comenta ainda Angulo Cabrera que possíveis alternativas de saída ao Atlântico seriam Puerto Busch ou a canalização do Bermejo que uniria grande parte do território boliviano com um porto no curso das águas do rio Paraguai, proporcionando acesso mais próximo ao Atlântico do que Puerto Busch ou o canal Tamengo, distância que seria reduzida em 1300 km. Outras opções de a Bolívia ligar-se à Hidrovia seriam as Lagoas de Uberaba, Gaiba e Mandiore, que se comunicam com o Paraguai por pequenos canais brasileiros navegáveis temporariamente. Ver também em BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Circular Telegráfica n. 42864/154, de 01/03/2002. ELIANA ZUGAIB194 2004, por sugestão do chefe da delegação brasileira, acordou-se aprofundar os mencionados estudos, para o que foi criada Comissão Mista Técnica Brasil-Bolívia, com a missão de realizar trabalhos de investigação e apresentar propostas de solução para o problema, no que diz respeito a aspectos hidrológicos e ambientais436. Outra reivindicação do governo boliviano diz respeito à flexibilização das limitações da dimensão de comboios que transitam pelo Canal Tamengo, impostas pela Marinha do Brasil e justificadas por questões de segurança de navegação e da possibilidade de que a tomada de água da cidade de Corumbá possa afetar seriamente a vida de cerca de 125 mil habitantes437. Embora essas regras sejam condicionadas por questões de segurança438 e não impliquem discriminação de bandeira, representam custos excessivamente onerosos para os exportadores bolivianos. Nesse sentido, o governo boliviano formulou pedido para que as Normas e Procedimentos da Capitania Fluvial do Pantanal fossem revistas para permitir o tráfego de comboios maiores no trecho compreendido entre o Farolete Balduíno e o sistema de captação de água de Corumbá, com vistas a evitar que a obrigatoriedade de seu desmembramento prejudique a economia do país. Em atenção ao pleito do governo boliviano, o Brasil dispôs-se a diminuir o prazo de conclusão dos estudos iniciados pelos dois países, destinados a avaliar a possibilidade de mudança da configuração de comboios e de atribuir 436 MELO, Renato Batista de. Considerações sobre a Hidrovia Paraguai-Paraná. BRASIL. Marinha do Brasil. Divisão de Assuntos Marítimos e Ambientais. Brasília, 1 set. 2004. pp.9 e 10. Texto mimeografado. 437 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Circular Telegráfica nr. 46065/321, de 19/05/2003. 438 As restrições aplicam-se não apenas à passagem na tomada de água da cidade de Corumbá, mas a todo o trecho que se estende até o Farolete Balduíno, em função das características do fundo rochoso do rio no espaço entre o Farolete e sua margem. Ver em BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Despacho telegráfico n. 415 para a Embaixada em La Paz, de 06/10/2003, que relata as conversações mantidas entre os chefes das delegações brasileira e boliviana à margem da XXXIII Reunião do CIH, realizada em Santa Cruz de la Sierra, de 22 a 25 de setembro de 2003. 195APRESENTAÇÃO DO PROJETO HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ tratamento diferenciado às embarcações de acordo com o tipo de carga transportada e do risco que representa para o meio ambiente439. Embora as regras de tráfego de comboios tenham sido alteradas, em reunião bilateral realizada em maio de 2004, não atendem plenamente a reivindicação boliviana. A existência de obstáculos na área – as reduzidas larguras e profundidades em determinados trechos e épocas do ano, bem como a presença de algumas construções, como o sistema de captação de água da cidade de Corumbá e o Farolete Balduíno – constituem o principal impedimento à passagem de comboios com 4 barcaças (2x2+1) em tempo integral, como quer a Bolívia440. O espírito de cooperação no atendimento das reivindicações bolivianas foi consignado no Comunicado Conjunto dos Presidentes Lula e Mesa: (...) os presidentes coincidiram que a Hidrovia Paraguai-Paraná constitui um eixo de desenvolvimento sócio-econômico binacional e regional. Nesse sentido, determinaram o exame de medidas que, preservando o meio ambiente, facilitem a navegação e as operações fluviais nas águas jurisdicionais da Bolívia e do Brasil e a busca de uma solução para a questão da tomada de água no Canal Tamengo441. O Comunicado, associado às iniciativas mencionadas, corrobora a postura de colaboração do governo brasileiro na solução dos problemas apresentados no Canal Tamengo. 439 Ver em BRASIL. Ministério das Relações Exteirores. Despacho telegráfico n. 415 para a Embaixada em La Paz, de 06/10/2003. 440 MELO, Renato Batista de. op. cit., p.8. 441 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Comunicado Conjunto dos Presidentes da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da República da Bolívia, Carlos D. Mesa. Brasília. 18 nov. 2003. Disponível em <www.mre.gov.br/portugues/ imprensa/nota_detalhe.asp?ID_RELEASE=2014>. Acesso em: 13 mar. 2004. ELIANA ZUGAIB196 2.5.3. BRASIL O Brasil é o país da região que menos depende da Bacia do Prata para seu desenvolvimento. Dispõe da maior e mais importante parte da Bacia Amazônica, com 4,5 milhões de km²; extenso litoral de 8,5 mil km, bem posicionado em relação aos EUA, à Europa e à África, além de possuir potencial hidrelétrico que pode alcançar