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as físicas. (UNESCO, 1981 p. 19-20) Orientação semelhante é reafirmada na Recomendação 3 da comissão constituída para examinar as questões relativas ao sistema de financiamento do PIDC. Nela se lê que nenhuma fonte de financiamento deve ser excluída, recomendação aprovada pela plenária, evidentemente, com ressalvas afirmativas da natureza mul- tilateral do PIDC, acrescidas da observação de que o orçamento do 138 programa não deveria ser inchado artificialmente com projetos sub- metidos a contratos bilaterais. (UNESCO 1982c, p. 1 e 3) Desde as primeiras sessões do PIDC reivindica-se a ampliação dos recursos da conta especial. Essa conta, entretanto, vinha sendo preterida pelos Estados-membros mais ricos, cujos recursos são preferencialmente dirigidos para os fundos em depósito, ligados a projetos nominais, para os quais são exigidos contratos bilaterais. É interessante considerar ainda que, ao longo das sessões do PIDC, nas divergências, às vezes aparentes, ocultam-se, de um lado, os diferentes modelos de comunicação, ora vista como bem social, portanto como serviço público, ora como mercadoria, portanto como um serviço privado de interesse público. E, de outro lado, a resistência em ceder qualquer parcela de poder conferido pela capacidade de comunicar, o que transforma qualquer reivindicação em grande risco, em ameaça inaceitável. Está em questão, assim, a democratização da informação e da comunicação, o exercício efetivo da liberdade de expressão. Dessa forma, na 2a sessão do PIDC, realizada em janeiro de 1982, considera-se um risco o financiamento, por esse programa, de projetos passíveis de introduzir processos desfavoráveis à liberdade da informação. Trata-se então de uma referência diretamente voltada à recomendação de aprovação dos projetos apresentados, respecti- vamente, pela Argentina e pelo México: um de formação teórica e prática de técnicos de comunicação popular e o outro de desenvolvi- mento da imprensa sindical. (UNESCO, 1982 c, p. 6-7) Essa observação está em sintonia perfeita com as críticas e ataques da imprensa ocidental naquele momento à UNESCO. Exem- plo dessa sintonia encontra-se em reunião de maio de 1981. Nela, lideranças da imprensa ocidental, ao afirmarem, na Declaração de Talloires, sua disposição de apoiar a liberdade de imprensa como um direito básico dos homens, resolvem instar a UNESCO a abando- nar as tentativas de regular a informação internacional e a lutar por soluções práticas para o progresso dos meios de comunicação no Terceiro Mundo. As soluções práticas aí referidas dizem respeito ao livre fluxo de informação, cuja expansão é objetivo e promessa do grupo aí reunido, declaradamente disposto a apoiar, como já o fizera antes, os esforços de organismos internacionais, governos e agênci- as particulares que resolvam cooperar para o progresso dos meios 139 de comunicação do Terceiro Mundo e para o treinamento de pessoal para trabalhar nestes meios. (Citado por Roncagliolo, 1982, p. 192) Onze anos após, as reformas empreendidas contabilizam um saldo positivo para a UNESCO na avaliação do General Accounting Office, cujo relatório de junho de 1992, cerca de três meses após as mudanças no PIDC, aponta os seguintes pontos positivos: umamaior clareza na apresentação do orçamento; um avanço na eficácia dos métodos de gestão, mediante a descentralização, a delegação de poderes e o reforço da responsabilização das unidades fora da sede; uma fiscalização muito mais estreita do Secretariado exercida desde 1987 pelos órgãos diretores. (UNESCO, 1996a) Além das mudanças que desde então permitem ao PIDC aceitar projetos do setor privado, seu programa, num terreno em que qualquer semelhança não se trata de mera coincidência, parece ter- se voltado com maior clareza ao objetivo regulamentado pelas resoluções aprovadas na 20a CG-1978: promover políticas, infra- estruturas e formação em matéria de comunicação e estimular uma melhor utilização dos meios de comunicação com fins sociais, aí compreendidos a formação pós-graduada de especialistas da comunicação, a adaptação dos sistemas de comunicação social às necessidades e aspirações das populações, o progresso da educação, da ciência e da cultura. (UNESCO, 1978, p. 109) Encontra-se aí reafirmada a articulação dos campos de traba- lho da UNESCO pela comunicação, que parece ser sua área central de atuação. Nas novas condições técnicas e políticas da década de 1990 essa articulação ganha nova dimensão pelas possibilidadesmuito maiores de combinação múltipla das novas tecnologias. Telecomu- nicação, redes de computadores, sistemas de meios de comunica- ção de massas, abrindo novas oportunidades para a criação de re- des de inovação pedagógica, viabilizando sistemas de educação aberta e a distância, constituem,mais do que antes, omeio tecnológico propício ao conceito de educação permanente.66 Desde o início da 66 Aprendizagem sem fronteiras será o novo conceito de realização da educação permanente. Sua formulação se faz na comissão ad hoc constituída em 1993 pelo ConselhoExecutivo, que nesse ano tambémé alvo demudança em sua composição. Desde então ele se compõe dos Estados-membros. 140 década de 1990 e da aprovação da nova estratégia, trabalha-se nes- sa direção, mediante o papel catalisador da UNESCO, e sem as resis- tências observadas nas décadas de 1960 e 1970, na realização de seus programas: educação básica para todos; educação para o séculoXXI,67 e fomento à educação, para os quais concorrem: a Oficina Internacio- nal de Educação (OIE), o Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE), o Instituto de Educação da UNESCO (IUE), o Fun- do das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa das Na- ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Banco Mundial, as- sim como associações e organizações diversas incluídas no diversifi- cado sistema de parceria da UNESCO, anteriormente referido. Assim, é possível compreender o retorno da UNESCO à es- sência do seu Ato Constitutivo construir a paz no espírito dos homens como uma retomada da ação operacional da organização ao sentido dado aos meios de comunicação, como resposta do Se- gundo Decênio das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no al- vorecer da era espacial. Sentido do qual, segundo interpretações di- versas, a UNESCO teria se desviado. 67 A respeito desses dois programas ver, respectivamente:UNESCO/PNUD/UNICEF/ BM. Rapport final. Conférence mondiale sur léducation pour tous: répondre aux besoins éducatifs fondamentaux. 5-9 mar. 1990, Jomtien, Thaïlande. Nessa conferência, os nove países demaior população e elevado índice de analfabetismo Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia,México, Nigéria e Paquistão firmam compromisso de, num esforço coletivo e valendo-se da cooperação internacional, promover o atendimento universal das necessidades básicas de aprendizagem de crianças, jovens e adultos. Ver, também,VISSER, Jan. Learning without frontiers. UNESCO, 1994 (mimeo) relatório apresentado ao diretor- geral da UNESCO, após missão do autor no Egito, contendo considerações sobre o planejamento do programaAprendizagem sem Fronteiras (LWF) e sua relação com o programa Educação para Todos, também conhecido pela sigla DE9. Ver, ainda, BRASIL/MEC. Plano Decenal de Educação para Todos. Brasília: MEC, 1993. Esta é uma das fontes em que oMEC apresenta a DeclaraçãoMundial sobre Educação para Todos. Nessa declaração são estabelecidos os compromissos assumidos pelos países signatários, compromissos reiteradamente afirmados em reuniões internacionais ao longo de toda a década de 1990, prosseguindo na década atual. Os princípios, assim como as pistas e recomendações para a educação para o século XXI encontram-se em: DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. Lisboa: UNESCO/Edições Asa, 1996. 141