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CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Aula 04 Olá, Pessoal! Já estamos na segunda metade do nosso curso de Administração Pública para AFRFB e AFT. Vamos ver nessa Aula 04 os seguintes itens: Aula 04 - 24/08: 6. Governabilidade, governança e accountability. 7. Governo eletrônico e transparência. 8. Qualidade na Administração Pública. Boa Aula! Sumário 1 GOVERNABILIDADE E GOVERNANÇA 2 1.1 CONFUSÕES ENTRE OS CONCEITOS 5 2 ACCOUNTABILITY 10 2.1 TEORIA DA AGÊNCIA 10 2 .2 CONCEITO 12 2 .3 CLASSIFICAÇÃO 14 3 GOVERNO ELETRÔNICO 16 3.1 GOVERNO ELETRÔNICO NO BRASIL: 17 3 .2 PAPEIS DO GOVERNO 18 3 .3 PRINCÍPIOS 20 4 QUALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 24 4.1 GESPÚBLICA 28 5 PONTOS IMPORTANTES DA AULA 37 6 QUESTÕES COMENTADAS 38 6.1 GABARITO 57 6 .2 LISTA DAS QUESTÕES 57 7 LEITURA SUGERIDA 65 Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 1 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS 1 Governabilidade e governança O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado fala em "Reforma do Aparelho do Estado" ao invés de "Reforma do Estado" não sem motivo. A maior parte dos autores associa a reforma do Estado à busca de maior governabilidade e a reforma do aparelho do Estado à busca de maior governança. Segundo o próprio PDRAE: O governo brasileiro não carece de "governabilidade", ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governança, na medida em que sua capacidade de implementar as políticas públicas é limitada pela rigidez e ineficiência da máquina administrativa. Portanto, não havia um problema de governabilidade, mas sim de governança. A principal diferença entre os dois conceitos reside na dimensão que eles abordam: a governabilidade se refere a uma dimensão política; a governança a uma dimensão de gestão. A capacidade política de governar ou governabilidade deriva da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança é a capacidade financeira e administrativa em sentido amplo de uma organização de implementar suas políticas. Podemos dizer que a governabilidade está associada às condições de exercício do poder e de legitimidade do Estado e do seu governo derivadas da sua postura diante da sociedade civil e do mercado. Já a governança pode ser entendida capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas, capacidade esta que pode ser dividida em financeira, gerencial e técnica. O termo legitimidade é muito importante no conceito de governabilidade. Um governo só consegue governar caso as pessoas aceitem sua ordens, aceitem suas leis, somente se ele tiver legitimidade. vamos ver um pouco melhor esse Um atributo do Estado, que consiste na presença, em uma parcela significativa da população, de um grau de consenso capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. Para entender melhor o conceito de legitimidade, vamos diferenciá-la de legalidade. Para Paulo Bonavides: A legitimidade é a legalidade acrescida de sua valoração. O princípio da legalidade exprime basicamente a observância das leis, isto é, o procedimento da autoridade em consonância estrita com o direito estabelecido. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 2 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Em outras palavras, significa que o poder estatal deverá atuar sempre em conformidade com as regras jurídicas vigentes. Já a legitimidade tem exigências mais delicadas, visto que levanta o problema de fundo, questionando acerca da justificação e dos valores do poder legal. A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu enquadramento nos moldes de uma constituição observada e praticada; sua legitimidade será sempre o poder contido naquela constituição, exercendo-se de conformidade com as crenças, os valores e os princípios da ideologia dominante, no caso a ideologia democrática. Portanto, no conceito de legitimidade entram as crenças de determinada época, que presidem a manifestação do consentimento e da obediência. Segundo Vedel: _ Chama-se princípio de legitimidade o fundamento do poder numa determinada sociedade, a regra em virtude da qual se julga que um poder deve ou não ser obedecido. Portanto, normalmente, quando as questões falarem em legitimidade, devemos associar com governabilidade. Porém, daqui a pouco eu vou mostrar que é preciso ter um pouco de cuidado, pois os conceitos estão passando por reformulações. Voltando para os conceitos, a governabilidade trabalha na dimensão política. Um exemplo em nosso país é o presidencialismo de coalizão, que vimos na aula passada. Como nosso sistema partidário é muito fragmentado, nenhum partido sozinho consegue formar maioria. Por conseguinte, para conseguir aprovar suas leis no Congresso, o Executivo precisa fazer acordos com outros partidos, trazendo eles para a chamada "base aliada", formando as ditas coalizões. Assim, o fisiologismo como meio de negociação de cargos é um instrumento de governabilidade, na medida em que busca aumentar o apoio do governo. Um conceito bastante cobrado é de Eli Diniz, para quem a governabilidade refere-se às "condições sistêmicas de exercício do poder por parte do Estado em uma determinada sociedade". seria uma "somatória dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos de execução das metas definidas". segundo a autora, as principais características da governabilidade seriam: • a forma de governo, ou seja, se o sistema é parlamentarista (com todas as suas variantes), presidencialista ou misto, como no caso brasileiro; Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 3 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS • a relação Executivo-Legislativo: se esta for mais assimétrica para um ou para outro podem surgir dificuldades de coordenação política e institucional, vitais para a governabilidade plena; • a composição, formação e dinâmica do sistema partidário (com poucos ou muitos partidos), o que pode dificultar a relação Executivo-Legislativo e Estado-sociedade; • o sistema de intermediação de interesses vigente na sociedade (corporativista, institucional pluralista, dispersos, ONGs etc.); e • todo o conjunto das relações Estado-sociedade, ou seja, as relações dos movimentos organizados, associações e da cidadania com o Estado no sentido de ampliar a sua participação no processo de formulação/implementação de políticas das quais sejam beneficiários. A autora fala em "formas de governo", mas o correto é "sistemas de governo", já que ela está falando do presidencialismo e do parlamentarismo. Portanto, estaria na esfera da governabilidade a relação do Executivo com o Legislativo e também com a sociedade. A forma como o Estado busca o apoio dos cidadãos se insere na governabilidade. Segundo Vinícius de Carvalho, a fonte da governabilidade são os cidadãos e a cidadania organizada, é a partir deles (e da sua capacidade de articulação em partidos, associações e demais instituições representativas) que surgem e se desenvolvem as condições necessárias para a governabilidade. Já a governança tem como origem os agentes públicos ou servidores do Estado, que possibilitam a formulação/implementação correta das políticas públicas e representam a face deste diante da sociedade civil e do mercado, no setor de prestação de serviços diretos ao público. Asdefinições de governabilidade e governança do Vinicius de Carvalho também são muito cobradas em provas, vale à pena dar uma olhada. Em uma definição genérica, podemos dizer que a governabilidade refere-se às próprias condições substantivas/materiais de exercício do poder e de legitimidade do Estado e do seu governo derivadas da sua postura diante da sociedade civil e do mercado (em um regime democrático, claro). Pode ser concebida como a autoridade política do Estado em si, entendida como a capacidade que este tem para agregar os múltiplos interesses dispersos pela sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, médio e longo prazos. Já a governança pode ser entendida como a outra face de um mesmo processo, ou seja, como os aspectos adjetivos/instrumentais da Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 4 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS governabilidade. Em geral, entende-se a governança como a capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas. Esta capacidade pode ser decomposta analiticamente em financeira, gerencial e técnica, todas importantes para a consecução das metas coletivas definidas que compõem o programa de um determinado governo, legitimado pelas urnas. Outra definição importante de governança é a do Banco Mundial, segundo o qual governança é: O exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo. É a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento, implicando a capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções. a Eles falam em poder, algo que nos remeteria a governabilidade, mas é o poder no gerenciamento dos recursos sociais e econômicos, por isso está relacionado à governança. 1.1 CONFUSÕES ENTRE OS CONCEITOS Até agora estávamos vendo que a governabilidade se refere mais a um aspecto político, enquanto a governança se situa na dimensão da gestão. Porém, essa distinção não é muito clara, não existe um ponto exato que separa os dois conceitos, mas sim uma área nebulosa em que eles se confundem. Podemos tentar entender isso na figura abaixo: Como vimos na definição do Vinícius de Carvalho, a governança corresponde aos "aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade", ou seja, é um instrumento para que o governo consiga governar. Assim, uma boa governança aumenta a governabilidade, ou seja, há uma relação estreita entre os dois conceitos. Uma má governança também pode diminuir a governabilidade. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 5 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Foi o que aconteceu na crise do modelo burocrático e do Estado de Bem-Estar. O modelo burocrático tinha uma má governança porque não administrava os recursos públicos adequadamente, não tinha capacidade para formular e implementar as suas políticas. Essa má governança foi gerando a insatisfação na sociedade, tanto que ocorreram as revoltas dos taxpayers, ou revolta dos contribuintes, em que as pessoas não queriam pagar mais impostos já que não viam os resultados. O Estado perdeu legitimidade, ou seja, perdeu governabilidade. Há uma área em que os dois conceitos se confundem e há divergência entre os autores. Por exemplo, vamos rever os conceitos do Bresser Pereira, da Eli Diniz e do Vinícius de Carvalho: • A capacidade política de governar ou governabilidade deriva da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança é a capacidade financeira e administrativa em sentido amplo de uma organização de implementar suas políticas. A governabilidade refere-se às condições sistêmicas de exercício do poder por parte do Estado em uma determinada sociedade". Seria uma "somatória dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos de execução das metas definidas. Em geral, entende-se a governança como a capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas. Esta capacidade pode ser decomposta analiticamente em financeira, gerencial e técnica, todas importantes para a consecução das metas coletivas definidas que compõem o programa de um determinado governo, legitimado pelas urnas. Podemos ver que Bresser e Carvalho colocam a capacidade financeira no conceito de governança, enquanto Eli Diniz associa os recursos financeiros com o conceito de governabilidade. Eu daria preferência pelos dois autores, pois a maior parte dos conceitos coloca capacidade financeira em governança. Porém, o conceito da Eli Diniz já foi usado várias e várias vezes pela ESAF, por isso tem que ficar de olho. Outra confusão entre os conceitos refere-se à legitimidade. Vimos que ela está associada com a governabilidade, mas o conceito de governança vem passando por reformulações. Segundo Bresser Pereira: No conceito de governança pode-se incluir, como o faz Reis (1994), a capacidade de agregar os diversos interesses, estabelecendo-se, assim, mais uma ponte entre governança e governabilidade. Uma boa governança, Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 6 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS conforme observou Fritschtak (1994) aumenta a legitimidade do governo e, portanto, a governabilidade do país. Vimos acima a definição de Vinícius de Carvalho, que afirma que a governabilidade pode ser entendida como a capacidade que este tem para agregar os múltiplos interesses dispersos pela sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, médio e longo prazos. E então: a capacidade de agregar interesses é governança ou governabilidade? É gestão ou política? É preciso saber que os conceitos em ciências sociais são reformulados ao longo do tempo, não são verdades estanques, apesar de os concursos cobrarem como se fossem. Assim, o conceito de governança vem passando por uma transformação, deixando de se restringir aos aspectos gerenciais e administrativos do Estado, para abranger aspectos ligados à cooperação entre os diversos atores e a capacidade destes em trabalharem juntos. A discussão mais recente do conceito de governança ultrapassa o marco operacional para incorporar questões relativas a padrões de articulação e cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema econômico. Com a ampliação do conceito de governança fica cada vez mais imprecisa sua distinção daquele de governabilidade. Uma das definições de governança mais recentes, originária da América Latina, trata de fazer uma reapropriação do conceito de governance formulado pelo Banco Mundial, incluindo nele a dimensão da "justiça social", como sendo uma responsabilidade do Estado. Essa nova interpretação é uma espécie de vertente de esquerda da noção de governança, que se opõe a noção difundida inicialmente pelo Banco. Enquanto esta última tem como orientação a redução do tamanho do Estado, principalmente através do seu desengajamento em relação a questões sociais, a primeira tenta atribuir a esse mesmo Estado, o papel de ator principal nas soluções dos problemas sociais. É nesse contexto que Klaus Frey fala da existência de pelo menos duas grandes vertentes analíticas que tratam de governança. Uma seria orientada pela noção difundida pelo Banco Mundial, nela se inscrevem abordagens que tem como objetivos finais principais o aumento da eficiência e da eficácia dos governos, usando para isso mecanismos de participação da sociedade civil. Na outra vertenteestão inscritas abordagens que focam o potencial democrático e emancipatório da sociedade civil, como por exemplo, a noção de governança participativa. Mas, segundo o autor as diferenças significativas entre essas Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 7 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS abordagens parecem subsistir apenas no plano ideológico, já que em termos práticos elas parecem muito próximas. Em cada uma delas, a necessidade de se levar em conta a "questão da mobilização dos saberes" tem razões diferentes. Os que seguem a vertente do Banco Mundial olham a participação a partir "da lógica e das necessidades administrativas e governamentais". Enquanto que, os adeptos da governança democrática, vêem na participação a possibilidade da "emancipação social e da redistribuição do poder" Para Edmilson Francisco de Oliveira: Esse esforço teórico mostrou que a principal diferença entre governabilidade e governança está na forma como a legitimidade das ações dos governos é entendida. Enquanto no conceito de governabilidade a legitimidade vem da capacidade do governo de representar os interesses de suas próprias instituições. No conceito de governança, parte de sua legitimidade vem do processo, do entendimento de que, quando grupos específicos da população quando participam da elaboração e implantação de uma política pública, ela tem mais chances de ser bem sucedida em seus objetivos. Podemos ver aqui que a legitimidade não é mais associada apenas ao conceito de governabilidade, ela passa a integrar também o conceito de governança. Portanto, temos que tomar MUITO CUIDADO. Na governabilidade, a legitimidade está relacionada com a representação de interesses, se a sociedade percebe o governo como um legítimo intermediário na disputa de interesses entre os diversos grupos da sociedade ou se ele é visto como direcionado para determinado grupo. Na governança, a legitimidade está relacionada com a participação da sociedade nas decisões, se as políticas são formadas e implementadas junto com a sociedade. As bancas de concursos normalmente não tratam desses nuances, elas ficam em torno de pontos que são mais consensuais e superficiais. Porém, algumas vezes elas passam a incorporar mudanças mais recentes nos conceitos, e a ESAF já fez isso uma vez com esse conceito de governança. Vamos ver a questão: 1. (ESAF/CGU/2008) Durante a crise do Estado dos anos 1980 e 1990, palavras e expressões foram forjadas para possibilitar o entendimento de suas diferentes dimensões e propiciar a busca de soluções. Neste contexto, quando um governo está preocupado em legitimar decisões e ações se diz que ele está buscando maior Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 8 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Complete a frase com a opção correta. a) governabilidade. b) efetividade. c) governança. d) accountability. e) eficiência. A questão fala em legitimidade, por isso a tendência é marcarmos governabilidade. Só que ela fala em legitimidade das "decisões e ações", ou seja, abrange um aspecto mais da gestão, não da política. Portanto, podemos perceber que eles estavam trazendo as tendências mais recentes do conceito de governança. Tanto que a resposta da questão era a letra "C". Todavia, como choveu recursos de pessoas que associaram a legitimidade com a governabilidade, a ESAF anulou a questão. Mas, vejam que ela não quis alterar o gabarito para a letra "A", ou seja, ela voltou a trás, mas nem tanto. Governabilidade Governança • Capacidade de governar, legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade; • Condições sistêmicas de exercício do poder por parte do Estado em uma determinada sociedade. Somatória dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos de execução das metas definidas; • Está relacionada com: a forma de governo, a relação Executivo- Legislativo, a composição, formação e dinâmica do sistema partidário, o sistema de intermediação de interesses, todo o conjunto das relações Estado-sociedade; • Condições substantivas/materiais de • Capacidade financeira e administrativa de uma organização de implementar políticas públicas; • Aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade. • Capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas. Esta capacidade pode ser decomposta analiticamente em financeira, gerencial e técnica; • O exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo. É a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento, implicando a Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 9 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS 2 Accountability Antes de entrarmos no conceito de Accountability, acho interessante vermos o que fala a teoria da agência e a relação entre agente e principal. 2 . 1 TEORIA DA AGÊNCIA A Teoria da Agência estuda as relações contratuais em que se observa a figura de um sujeito ativo que recebe o nome de principal, e de um sujeito passivo chamado agente. O principal é quem contrata e o agente o contratado. Essas relações podem ser explícitas (formais), em que existe um instrumento jurídico em que são expressos os direitos e deveres de cada um, ou implícitas (informais), em que as relações são orientadas por usos e costumes que sustentam e dão legitimidade às ações praticadas entre as partes relacionadas. Como exemplo de uma relação formal, temos os contratos de compra e venda, o contrato de trabalho, etc. São relações contratuais informais a entre o empregado e o patrão, o empregado e o cliente, etc. A suposição básica existente na relação principal-agente é de que o agente irá agir em favor do principal e que por isso receberá alguma recompensa. O agente, ou contratado, deverá desempenhar certas funções, de acordo com os critérios do principal, ou contratante. A teoria tenta identificar os incentivos que levam o agente a servir melhor os interesses do principal. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 10 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Esta teoria originou-se na Economia, baseando-se na ideia de escolha racional, que pressupõe que, do leque de ações possíveis numa situação dada, as pessoas escolhem racionalmente aquelas que maximizam as chances de conseguir suas metas e realizar seus projetos. A teoria da agência focaliza os problemas gerados pelo fato de que o agente tem de fazer algo pelo principal, mas não tem os mesmos interesses. Ao mesmo tempo, o principal nunca tem informação completa sobre as atividades do agente, e muitas vezes nem sabe fazer as tarefas do agente. Assumindo-se que as partes buscam a maximização de interesses individuais, é de se esperar que o agente não vá agir sempre no interesse do principal. Por outro lado, o principal procurará estar cercado de garantias para evitar que seus interesses sejam prejudicados. Segundo essa teoria, os conflitos de agência aparecem quando o bem-estar de uma parte, o principal, depende das decisões tomadas por outra, responsável pela gestão do patrimônio do principal, o agente. Embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal, muitas vezes ocorrem situações em que os interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por parte do agente. Essa abordagem tenta descobrir que arranjos contratuais e institucionaispodem melhor alinhar ou compatibilizar os interesses do agente com os interesses do principal. O ideal, para o principal, é um sistema de incentivos em que o agente só pode ganhar mais por meio de esforços que aumentam os benefícios do principal. O grosso dessa literatura tenta identificar as condições que estimulam maiores esforços dos agentes. Enfatiza especialmente os tipos e combina ações de incentivos e fiscalização que são mais adequados para os interesses do principal em vários tipos de agência. No entanto, em muitos casos o principal tem certa dificuldade em saber se o agente está realmente cumprindo com suas obrigações de forma satisfatória. Aqui entra a assimetria de informação. O agente dispõe de um conjunto de possíveis comportamentos a adotar, suas ações afetam o bem-estar entre as partes e dificilmente são observáveis pelo principal. Decorrentes da assimetria de informação surgem outros dois problemas: • Seleção adversa = quando são selecionados os agentes com maior risco. Se a indústria de seguros de vida praticar um preço baseado na média de risco das pessoas, saíra perdendo porque quem terá maior Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 11 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS propensão a fazer seguros serão as pessoas com maior risco. Por isso que são praticados preços de acordo com o risco de cada um. • Risco moral = uma das partes envolvidas em um contrato não dispõe de condições ou mecanismos para monitorar as ações e as atitudes da outra parte envolvida, que pode ter um comportamento de risco. Muitas pessoas com plano de saúde passam a usar os serviços médicos numa proporção bem maior do que quando não tinham o plano. Também existe para o agente. Por exemplo, quando o Estado determina alguns critérios no momento da contratação das empresas privadas e depois passa a usar outras regras. Devido a esses problemas, o principal incorre em custos adicionais para ter que monitorar a atuação do agente. • Por exemplo, quando uma empresa contrata um pessoa para distribuir panfletos na rua, não sabe se essa pessoa irá realmente entregá-los ou então jogá-los no lixo. Assim, é preciso monitorar a ação desse agente. A auditoria surgiu justamente para servir de instrumento do principal no controle das ações do agente. Segundo Peters, o conflito de agência existe desde que as empresas passaram a ser administradas por agentes distintos dos proprietários há cerca de 100 anos. Por essa época, começou a ser delineado o conflito de agência, em que o agente recebe uma delegação de recursos e tem, por dever dessa delegação, que gerenciar estes recursos mediante estratégias e ações para atingir objetivos, tudo isto mediante uma obrigação constante de prestação de contas. (grifo nosso). A relação entre a sociedade e o Estado também é uma relação de principal- agente. A sociedade é o principal que delega a responsabilidade pela gestão de seu patrimônio para o Estado. Este é o agente que deve atuar de acordo com o interesse público, ou seja, o interesse da sociedade 2.2 CONCEITO O conceito de Accountability existe dentro dessa relação principal-agente, buscando definir as responsabilidades do agente em relação ao principal. Não há tradução de accountability para o português. Alguns autores afirmam que isto se deve a pouca qualidade de nossa democracia em comparação com as anglo-saxãs. Alguns traduzem o termo como responsabilização, outros como dever de prestar contas, mas nenhum destes termos consegue abarcar todos os sentidos presentes na accountability. Ela abrange pelo menos três aspectos: Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 12 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Aspectos do cocneito de Accountability • Obrigação em prestar contas • Responsabilização pelos atos e resultados • Responsividade O agente administra bens pertencentes a terceiros, por isso deve prestar contas desta administração. Vimos que Peters fala em "obrigação constante de prestar contas". O segundo aspecto é a responsabilização. O agente deve responder pelos seus atos, tanto em termos de legalidade quanto de resultados. A administração gerencial mudou o foco do controle a priori sobre os processos para ser a posteriori de resultados, por isso o administrador público responde não só em termos de legalidade, mas também em termos de eficiência, eficácia e efetividade. A responsividade refere-se à sensibilidade do agente em à vontade do principal. O agente deve tomar suas decisões de forma a maximizar os interesses do principal, e não os seus próprios interesses. Assim, na administração pública, as decisões do governo devem ter como finalidade sempre o interesse público, seguindo o princípio da impessoalidade. Já Andréas Schedler identifica no conceito de accountability dois aspectos, ao invés de três: • Capacidade de resposta dos governos (answerability), ou seja, a obrigação dos oficiais públicos informarem e explicarem seus atos • Capacidade das agências de accountability de impor sanções e perda de poder (enforcement) para aqueles que violaram os deveres públicos. Estes dois aspetos não se diferenciam muito dos três vistos acima. O autor considera a noção de accountability bidimensional: envolve capacidade de resposta e capacidade de punição (answerability e enforcement). Contudo, a capacidade de resposta engloba dois tipos de questões: uma dimensão relativa à informação das decisões e outra condizente com a necessidade dos governantes explicarem tais decisões. A informação pode ser associada à necessidade de prestação de contas, o primeiro aspecto visto anteriormente. Já a explicação, ou justificação, está ligada à responsividade, ou seja, o administrador deve justificar seus atos para demonstrar que eles estão de acordo com o interesse público, com os anseios da sociedade Temos aqui a Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 13 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS responsividade. Por fim, a capacidade de punição pode ser associada com a responsabilização. 2.3 CLASSIFICAÇÃO A accountability pode ser classificada de formas diferentes. A classificação mais tradicional é a de Guillhermo O'Donnell, que diferencia a accountability horizontal da vertical. Segundo este autor, a responsabilização democrática procura aliar dois mecanismos: de um lado, os relacionados à accountability vertical, na qual os cidadãos controlam de forma ascendente os governantes (mediante o voto em representantes), com formas de democracia semidireta (como plebiscitos) ou ainda pela utilização do controle social, exemplificado pelos conselhos de políticas públicas; de outro, os vinculados à accountability horizontal, que se efetivam mediante a fiscalização mútua entre os Poderes (checks and balances) ou por meio de outras agências governamentais que monitoram o poder público, tais como os tribunais de contas. O autor define a accountability horizontal como: a existência de agências estatais que estão legalmente capacitadas e autorizadas, e realmente dispostas e aptas, a tomar ações que ultrapassem da vigilância rotineira a sanção criminal ou impedimento em relação às ações ou omissões por outros agentes ou agências do estado que podem ser qualificadas como ilegais... pois este tipo de accountability para ser efetivo precisa ter agências que são autorizadas e dispostas a vigiar, controlar, corrigir e/ou punir ações ilegais de outras agências estatais. Em suma, seriam agências estatais funcionando rotineiramente com poderes de supervisão, punindo ações ou omissõesdo Estado, consideradas ilegais. É o controle exercido por instituições como o TCU, CGU, entre outras. Já a accountability vertical pressupõe uma ação entre desiguais, seja sob a forma do mecanismo do voto (controle de baixo para cima) ou sob a forma do controle burocrático (de cima para baixo). A accountability vertical é, principalmente, embora de forma não exclusiva, a dimensão eleitoral, o que significa premiar ou punir um governante nas eleições. No entanto, ela abrange também o controle exercido por instituições de hierarquia superior. Ela diz respeito à vigilância e sanções que eleitores, imprensa, ONGs, e outras organizações da sociedade civil exercem sobre funcionários públicos. É o meio disponível para que cidadãos comuns possam atuar na fiscalização da atividade pública dos seus representantes. Embora as eleições sejam a principal fase da accountability vertical, este conceito abrange ações da sociedade civil e imprensa para fiscalização e exposição dos atos das autoridades públicas. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 14 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Muitos colocam o controle exercido pelos conselhos gestores, o orçamento participativo, ou seja, os instrumentos de participação da sociedade, dentro da accountability vertical. Outros já preferem diferenciá-los do controle eleitoral, classificando-os como uma accountability societal. Este conceito surgiu da insatisfação em relação às duas outras formas de accountability - a vertical e a horizontal -, que não estariam permitindo uma participação real da sociedade nas decisões governamentais. Era preciso separar tais instrumentos do controle eleitoral. A accountability societal pode ser definida como: um mecanismo de controle não eleitoral, que emprega ferramentas institucionais e não institucionais (ações legais, participação em instâncias de monitoramento, denúncias na mídia etc.), que se baseia na ação de múltiplas associações de cidadãos, movimentos, ou mídia, objetivando expor erros e falhas do governo, trazer novas questões para a agenda pública ou influenciar decisões políticas a serem implementadas pelos órgãos públicos. Esta definição se aproxima muito do controle social. Quando a definição fala em mecanismos institucionais e não-institucionais, podemos fazer um paralelo com o monitoramento legal e o monitoramento autônomo. É não eleitoral para, justamente, se diferenciar da accountability vertical. A definição fala em influenciar decisões, trazer questões para agenda, que podemos associar com o fato do controle social não envolver apenas fiscalização, mas também participação. A noção de accountability societal incorpora novos atores, tais como associações, ONG's, movimentos sociais, mídia. Diferentemente da accountability horizontal e vertical, os agentes da accountability societal apresentam diferenças quanto aos recursos que dispõem, uma vez que não possuem, segundo essa definição, mandato para sanções legais, mas apenas simbólicas, ainda que algumas ações dessa forma de controle possam gerar sanções legais. Podemos dizer que accountability societal é sinônimo de controle social. Classificação da Accountability Vertical Horizontal Societal • Controle exercido pelo processo eleitoral, por meio do voto. • Controle exercido por agências governamentais • Controle exercido pela sociedade - institucional ou não Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 15 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS 3 Governo Eletrônico O Governo Eletrônico caracteriza-se pela utilização de tecnologias de informação e comunicação para melhorar a gestão da informação na administração pública e aprimorar os serviços oferecidos aos cidadãos, aumentando a eficiência e a eficácia da gestão pública além de incrementar substantivamente a transparência do setor público e a transparência do cidadão nas suas relações com o Estado. O termo governo eletrônico tem foco no uso das novas tecnologias de informação e comunicação aplicadas a um amplo arco das funções de governo e, em especial, deste para com a sociedade. Em termos gerais pode-se pensar nas seguintes relações sustentadas pelo governo eletrônico: • relação governo-negócio; • relação governo-cidadão; • relação governo-governo. No primeiro tipo, a tecnologia da informação é utilizada como um instrumento de racionalização e otimização das relações do governo com seus fornecedores, por meio de sistemas como o Pregão Eletrônico, o Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores, etc. Na relação governo-cidadão, o principal objetivo é o desenvolvimento da cidadania, por meio da universalização de serviços públicos, promoção da transparência, abertura de canais de comunicação para sugestões e reclamações, etc. Na última relação, a tecnologia da informação é usada como uma forma de maior coordenação e integração entre os órgãos governamentais, os três Poderes e os demais níveis da federação. Em conjunto, o governo eletrônico além de promover essas relações em tempo real e de forma efetiva, seria ainda, potencializador de boas práticas de governança e catalisador de uma mudança profunda nas estruturas de governo, proporcionando mais efetividade, transparência e desenvolvimento, além do provimento democrático de informações para decisão. Para o Banco Mundial, e-gov refere-se ao uso, por agências governamentais, de tecnologias de informação (como redes de longa distância, Internet e computação móvel) capazes de transformar as relações com o cidadão, empresas e outras unidades de governo. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 16 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS De acordo com o National Audit Office (NAO), entidade de fiscalização superior equivalente ao TCU no Reino Unido, governo eletrônico significa prover acesso público via Internet a informações sobre os serviços oferecidos pelos departamentos centrais do governo e suas agências, habilitando o público à condução e conclusão de transações para tais serviços. A Organização das Nações Unidas (ONU) define e-gov como a utilização da Internet e da web para ofertar informações e serviços governamentais aos cidadãos. 3 . 1 GOVERNO ELETRÔNICO NO BRASIL: No Brasil, o marco inicial do processo de inserção do governo nas discussões • acerca do uso das tecnologias da informação e comunicação foi a criação do programa "Sociedade da Informação", em dezembro de 1999, com o objetivo de "viabilizar a nova geração da Internet e suas aplicações em benefício da Sociedade Brasileira". Com tal esforço, em setembro de 2000, o Governo brasileiro produziu, dentre outros documentos, o chamado "Livro Verde", que identificou o conjunto das ações estabelecidas para impulsionar a Sociedade da Informação no Brasil, contemplando ampliação do acesso à Internet, meios de conectividade, formação de recursos humanos, incentivo à pesquisa e ao crescimento, comércio eletrônico e desenvolvimento de novas aplicações. No ano 2000 o Governo Brasileiro lançou as bases para a criação de uma sociedade digital ao criar um Grupo de Trabalho Interministerial com a finalidade de examinar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas com as novas formas eletrônicas de interação. Em julho de 2000, o GTTI propôs uma nova política de interação eletrônica do Governo com a sociedade apresentando um relatório preliminar GTTI- Consolidado contendo um diagnóstico da situação da infra-estrutura e serviços do Governo Federal, as aplicações existentes e desejadas ea situação da legislação de interação eletrônica. Em outubro de 2000 foi criado o Comitê Executivo de Governo Eletrônico, o que pode ser considerado um dos grandes marcos do compromisso do Conselho de Governo em prol da evolução da prestação de serviços e informações ao cidadão. A gestão do governo eletrônico brasileiro é da atribuição do CEGE, presidido pelo Chefe da Casa Civil da Presidência da República. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 17 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS No Brasil, a política de governo eletrônico segue um conjunto de diretrizes que atuam em três frentes fundamentais: junto ao cidadão; na melhoria da sua própria gestão interna; e na integração com parceiros e fornecedores. Podemos observar que são as três relações de que falamos acima. 3 . 2 PAPEIS DO GOVERNO O governo eletrônico deve ser tratado como instrumento de transformação profunda da sociedade brasileira, o que obriga a levar em conta os múltiplos papeis do governo federal neste processo: a) Promotor da cidadania e do desenvolvimento: Isto significa que o governo eletrônico deve orientar-se para as demandas dos cidadãos enquanto indivíduos e também, para promover o acesso e a consolidação dos direitos da cidadania especialmente o direito: a. ao acesso aos serviços públicos; b. à informação; c. ao usufruto do próprio tempo pelo cidadão (economia de tempo e deslocamentos); d. a ser ouvido pelo governo; e. ao controle social das ações dos agentes públicos; f. à participação política. g. à inclusão digital. b) Instrumento de mudança das organizações públicas: Busca-se a melhoria do atendimento ao cidadão e de racionalização do uso de recursos públicos, além de aumentar a transparência da informação, permitindo que o governo eletrônico construa capacidades coletivas de controle social e participação política. Não se trata somente de colocar mais serviços disponíveis na Internet, mas de fazer com que a sua presença na Internet beneficie o conjunto dos cidadãos e promova o efetivo acesso ao direito aos serviços públicos. O governo eletrônico deve promover um deslocamento em direção à apropriação dos recursos de relacionamento entre governo e sociedade pelas Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 18 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS organizações da sociedade civil, de forma a garantir que o governo eletrônico construa capacidades coletivas de controle social e participação política. c) Promover a disseminação da tecnologia de informação e comunicação: O governo eletrônico deve contribuir para o desenvolvimento do país. Não basta que o governo funcione como "exemplo indutor para a sociedade na utilização de documentos eletrônicos e novas aplicações de suporte aos processos de trabalho", numa perspectiva voluntarista e na qual o governo federal renuncia a um papel mais ativo na sociedade. Sua intervenção deve ir além do exemplo. O desenho da política de governo eletrônico e das políticas correlacionadas deve abrir espaços para a promoção ativa do desenvolvimento nacional pelo campo da geração de demanda de produtos e serviços e da articulação de iniciativas de fomento e financiamento. Cabe à política de governo eletrônico eliminar a dependência de um número restrito de fornecedores de bens, serviços e licenças de software, estimular a promover o desenvolvimento de software e de novas tecnologias computacionais por entidades de pesquisa e empresas nacionais e fomentar a adoção de instrumentos de governo eletrônico pelos outros níveis de governo. Espera-se, com isto, que possam emergir novas empresas nacionais, novas tecnologias e ambientes colaborativos de desenvolvimento que preparem a superação do paradigma do software proprietário de maneira a reduzir as fragilidades brasileiras nos embates internacionais em torno da propriedade intelectual. d) Promover práticas de Gestão do Conhecimento na administração pública: A Gestão do Conhecimento é o conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, que governam as ações de criação, captação, armazenamento, tratamento, disseminação e utilização de conhecimentos, com o propósito de atingir objetivos institucionais. Essa inovadora visão de trabalho no setor público, no âmbito do Governo Eletrônico, constitui nova capacidade de articulação do processo decisório, de gestão das suas políticas estratégicas e de inclusão de um novo produtor de conhecimento geralmente esquecido: a sociedade e suas organizações. Além disso, os modelos e práticas da gestão do conhecimento são iniciativas essenciais para integração das três esferas de governo. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 19 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS 3 . 3 PRINCÍPIOS O governo eletrônico está sendo implementado segundo sete princípios, que são adotados como referência geral para estruturar as estratégias de intervenção, adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do conhecimento e gestão da TI no governo federal. São elas: a) Promoção da cidadania como prioridade; A política de governo eletrônico do governo brasileiro abandona a visão que vinha sendo adotada, que apresentava o cidadão-usuário antes de tudo como "cliente" dos serviços públicos, em uma perspectiva de provisão de inspiração neoliberal. O deslocamento não é somente semântico. Significa que o governo eletrônico tem como referência os direitos coletivos e uma visão de cidadania que não se restringe à somatória dos direitos dos indivíduos. Assim, forçosamente incorpora a promoção da participação e do controle social e a indissociabilidade entre a prestação de serviços e sua afirmação como direito dos indivíduos e da sociedade. 1. O governo eletrônico deve promover a universalização do acesso aos serviços públicos em termos de cobertura e equanimidade da qualidade oferecida: • O provimento de serviços deve priorizar os serviços básicos de interesse dos cidadãos que cubram amplas parcelas da população; • Os sítios e serviços on-line do Governo Federal devem priorizar a prestação de serviços para as classes C, D, E, sem detrimento da qualidade dos demais serviços já disponíveis na Internet. • Os sítios e serviços on-line do Governo Federal devem utilizar tecnologias inclusivas e não excludentes e oferecer garantia de acesso universal, abrangendo portadores de necessidades especiais, cidadãos de baixa escolaridade e usuários de diversas plataformas 2. Os sítios e serviços on-line do Governo Federal devem ser estruturados de acordo com os assuntos de interesse e perfil do público-alvo: • acesso e a utilização de portais pelos seus usuários devem se dar de forma flexível, o que significa que diferentes dispositivos podem permitir o acesso (computadores pessoais, computadores de mão, Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 20 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS telefones celulares); • o governo eletrônico deve promover a centralização e simplificação do acesso. Assim, os portais governamentais devem conter acesso não somente a serviços e informações providos pelo órgão ou nível de governo, mas também por outras instâncias estatais. 3. Os serviços on-line devem ser oferecidos com base nos "eventos da vida" do cidadão: • Os portais governamentais devem ser estruturados predominantemente pelas demandas dos indivíduos e eventos da linha da vida", ou seja, devem oferecer acesso a serviços e informaçõescorrespondentes a demandas pré-estabelecidas e vinculadas a eventos da vida dos cidadãos e cidadãs e organizações. Para tanto, devem ser organizados por agrupamentos lógicos de informação e aplicações destinados a atender categorias de necessidades dos usuários, em substituição ao critério departamental. 4. Tornar disponível a informação pública de maneira largamente acessível e compreensível: • Os sítios e serviços on-line devem ser estruturados de forma a promover a transparência das ações governamentais; • Os recursos de governo eletrônico devem oferecer novas formas de organizar e apresentar a informação de maneira a facilitar o controle social das ações de governo; • Deve-se buscar quebrar monopólios de informação, tanto no interior da administração pública como no conjunto da sociedade, de maneira a ampliar e democratizar a circulação de informações. 5. Fazer uso da Internet como um canal de comunicação entre governo e sociedade, permitindo a participação popular e a interatividade com os cidadãos: • O governo eletrônico deve ter entre seus objetivos fortalecer processos participativos, o que significa que deve incorporar recursos de interatividade que estimulem a participação ativa da sociedade. • Não somente pela via da inclusão digital, mas também pelo fornecimento de conteúdos relevantes, o governo eletrônico deve contribuir para ampliar a capacidade de participação das organizações da sociedade civil nas políticas públicas. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 21 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS 6. Os sítios e serviços online devem ter assegurado a qualidade e confiabilidade do seu conteúdo, o que significa que: • O governo deve estabelecer padrões públicos de qualidade para os serviços de governo eletrônico, no formato de "cartas de serviço" do governo eletrônico. As cartas de serviço são um tipo de documento público que estabelece compromissos entre governo, trabalhadores e cidadãos-usuários quanto aos direitos dos cidadãos, às características e qualidade dos serviços, os mecanismos de monitoramento e os canais de sugestões e reclamações. • Os padrões de qualidade dos serviços oferecidos através do governo eletrônico devem dar conta de um mínimo de compromissos, como: tempos de resposta, nível de satisfação, condições de prestação do serviço, responsabilidades e direito a recurso. 7. Articulação do governo eletrônico com o desenvolvimento e a inclusão social: • Além do acesso aos serviços públicos, o governo eletrônico também deve promover a inclusão social por meio da articulação com iniciativas de promoção do desenvolvimento de maneira includente e desconcentradora de riqueza, com atenção às oportunidades de criação de novas oportunidades, à articulação com a política industrial, a geração de empregos e iniciativas de apoio às empresas nacionais. b) Indissociabilidade entre inclusão digital e o governo eletrônico; A Inclusão digital deve ser tratada como um elemento constituinte da política de governo eletrônico, para que esta possa configurar-se como política universal. Esta visão funda-se no entendimento da inclusão digital como direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas para sua promoção. 1. Segmentação de públicos: • Escolas e crianças são públicos prioritários e indispensáveis, mas não exclusivos; • As iniciativas devem enfocar o público como sujeito do processo, não apenas destinatário de serviços; • A segmentação de públicos não pode impedir que as iniciativas garantam acessibilidade universal. Poderão ser desenhados programas para públicos específicos, sem levar a constituição de "guetos" e a Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 22 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS alimentação de exclusão e discriminação pela política de inclusão digital. c) Utilização do software livre como recurso estratégico; O software livre deve ser entendido como opção tecnológica do governo federal. Onde possível deve ser promovida sua utilização. Para tanto, deve-se priorizar soluções, programas e serviços baseados em software livre que promovam a otimização de recursos e investimentos em tecnologia da informação. Entretanto, a opção pelo software livre não pode ser entendida somente como motivada por aspectos econômicos, mas pelas possibilidades que abrem no campo da produção e circulação de conhecimento, no acesso a novas tecnologias e no estímulo ao desenvolvimento de software em ambientes colaborativos e ao desenvolvimento de software nacional. d) Gestão do Conhecimento como instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas: A Gestão do Conhecimento é compreendida, no âmbito das políticas de governo eletrônico, como um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, capazes de incrementar a habilidade dos gestores públicos em criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar informações e conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de decisões, para a gestão de políticas públicas e para inclusão do cidadão como produtor de conhecimento coletivo. e) Racionalização dos recursos; O governo eletrônico não deve significar aumento dos dispêndios do governo federal na prestação de serviços e em tecnologia da informação. Ainda que seus benefícios não possam ficar restritos a este aspecto, é inegável que deve produzir redução de custos unitários e racionalização do uso de recursos. Grande parte das iniciativas de governo eletrônico pode ser realizada através do compartilhamento de recursos entre órgãos públicos. Este compartilhamento pode se dar tanto no desenvolvimento quanto na operação de soluções, inclusive através do compartilhamento de equipamentos e recursos humanos. Destaque especial deve merecer o desenvolvimento compartilhado em ambiente colaborativo, envolvendo múltiplas organizações. Um exemplo de compartilhamento de recursos está no Projeto Infovia Brasil. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 23 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS f) Adoção de políticas, normas e padrões comuns; O sucesso da política de governo eletrônico depende da definição e publicação de políticas, padrões, normas e métodos para sustentar as ações de implantação e operação do Governo Eletrônico que cubram uma série de fatores críticos para o sucesso das iniciativas. Neste sentido, a arquitetura e- PING - Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico - define um conjunto mínimo de premissas, políticas e especificações técnicas que regulamentam a utilização da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no governo federal, estabelecendo as condições de interação com os demais poderes e esferas de governo e com a sociedade em geral. • g) Integração com outros níveis de governo e com os demais poderes. A implantação do governo eletrônico não pode ser vista como um conjunto de iniciativas de diferentes atores governamentais que podem manter-se isoladas entre si. Pela própria natureza do governo eletrônico, este não pode prescindir da integração de ações e de informações. A natureza federativa do Estado brasileiro e a divisão dos Poderes não pode significar obstáculo para a integração das ações de governo eletrônico. Cabe ao Governo Federal um papel de destaque nesse processo, garantindo um conjunto de políticas, padrões e iniciativas que garantam a integração das ações dos vários níveis de governo e dos três Poderes. 4 Qualidade na Administração Pública No serviço público, a busca pelaqualidade se desenvolveu junto com o paradigma do cliente, no consumerism. Muitas das questões cobradas neste item são relacionadas com a noção de qualidade total, que estudaremos na próxima aula. Aqui, veremos como se deu a evolução dos programas de qualidade na Administração Pública brasileira. O Governo Collor, apesar de curto, foi um grande choque para o país. Além de congelar a poupança de milhões de brasileiros, ele também realizou a abertura comercial do país. Uma economia extremamente fechada, de repente, se viu com as taxas alfandegárias lá em baixo e uma enxurrada de produtos internacionais. As empresas, que tinham seu mercado garantido, viram-se diante de uma competitividade muito maior e precisaram evoluir para Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 24 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS sobreviver no mercado. Collor dizia que no Brasil não se fabricava carros, mas carroças. Para contrabalancear a abertura comercial Collor lançou o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP), em 1991. O objetivo era apoiar o esforço de modernização da empresa brasileira, através da promoção da qualidade e produtividade, objetivando aumentar a competitividade dos bens e serviços produzidos no País. Collor também via de forma negativa os órgãos e empresas estatais. Os servidores eram marajás, que deveriam ser demitidos. Assim, a administração pública também foi inserida no PBQP, no subprograma setorial Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP), que viria mais tarde a ser transformado em um programa. Collor deu o pontapé inicial, e, desde então, vem-se desenvolvendo na administração pública brasileira ações cujo propósito é transformar as organizações públicas, procurando torná-las cada vez mais preocupadas com a qualidade, com o cidadão e não apenas com os seus processos burocráticos internos. No Governo FHC, em 1996, o PBQP foi alterado para Programa da Qualidade e Participação da Administração Pública (QPAP), dando ainda mais valor ao caráter da qualidade voltada para o cidadão. Bresser Pereira, analisando em 1997, os resultados e perspectivas do PBQP, afirmou que: "ainda que considerada a debilidade do desempenho no setor público frente aos resultados da iniciativa privada, o saldo alcançado pelos esforços de sensibilizar as organizações públicas foi positivo. A posição, hoje, não é mais de 'marco zero', registrando-se inúmeras instituições públicas federais, estaduais e municipais que já aderiram à prática de implantar programas de Qualidade, recebendo, por isso, manifestação positiva da sociedade". O Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública foi um dos principais instrumentos de aplicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho Estado, propondo-se a introduzir no Setor Público as mudanças de valores e comportamentos preconizados pela Administração Pública Gerencial, e, ainda, viabilizar a revisão dos processos internos da Administração Pública com vistas à sua maior eficiência e eficácia. O termo "participação" no nome do programa se refere à participação dos servidores, entendendo que somente com comprometimento de todos e com a Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 25 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS gestão participativa que o serviço público poderia alcançar a qualidade. Os objetivos do programa eram: Contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos, por meio da institucionalização dos seus princípios, com ênfase na participação dos servidores. Apoiar o processo de mudança de uma cultura burocrática para uma cultura gerencial, fortalecendo a delegação, o atendimento ao cidadão, a racionalidade no modo de fazer, a definição clara de objetivos, a motivação dos servidores e o controle de resultados. Seus princípios eram: • Satisfação do Cliente: Os órgãos e as entidades públicas devem conhecer e ouvir os seus clientes internos e externos - que são os demais órgãos e entidades públicas, os servidores, e, principalmente, os cidadãos - que representam, na verdade, os legítimos destinatários da ação pública, estabelecendo mecanismos que viabilizem a parceria com eles e a superação das suas expectativas. • Envolvimento de Todos os Servidores: A alta administração, o corpo gerencial e a base operacional devem envolver-se com a Qualidade, assumindo o compromisso com a melhoria contínua da Administração Pública. • Gestão Participativa: A gestão pela Qualidade é participativa, ou seja, pressupõe a convocação dos servidores a participar da melhoria de seus processos de trabalho; estabelece a cooperação entre gerentes e gerenciados; dissemina informações organizacionais; compartilha desafios; coloca a decisão o mais próximo possível da ação. • Gerência de Processos: O processo é o centro prático da gestão pela Qualidade. Isto significa: identificar e analisar os processos da organização; estabelecer metas de melhoria e aperfeiçoamento desses processos; avaliar os processos pelos resultados frente aos clientes; normalizar os estágios de desenvolvimento atingidos pelos processos. • Valorização do Servidor Público: A valorização do servidor público (cliente interno) é uma garantia ao cumprimento da missão da Administração Pública de atender com qualidade aos seus clientes externos - o cidadão. • Constância de Propósitos: A alta administração tem o dever indelegável de estabelecer e compartilhar com toda a organização objetivos de longo prazo que permitam coerência e efetividade de seus projetos e de suas ações. O planejamento estratégico é o instrumento por excelência do sistema de gestão pela Qualidade e fator de coerência do processo Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 26 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS decisório. • Melhoria Contínua: A melhoria é um processo contínuo inesgotável e está alicerçada no estímulo à criatividade e no estabelecimento permanente de novos desafios. • Não aceitação de erros: O compromisso com o fazer certo deve ser um traço da cultura de uma organização pública de qualidade. O desconforto com o erro, e o combate ao desperdício são atitudes que evidenciam a internalização deste princípio. Em 1999 o QPAP é transformado em Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP). Este novo programa traça um panorama do que já havia sido feito, construindo a seguinte evolução dos programas até aquele momento: Pode-se observar que o PQSP vinha dar grande ênfase a satisfação do cidadão. As ações do Programa iriam se desenvolver, principalmente, no espaço em que a organização pública se relaciona diretamente com o cidadão, seja na condição de prestadora de serviço, seja na condição de executora da ação do Estado. Neste espaço, o Programa atuaria mobilizando e sensibilizando as organizações para a melhoria da qualidade da gestão pública e do desempenho institucional. Atuaria, também, junto aos cidadãos, procurando torná-los participantes das atividades públicas, desempenhando o papel de avaliadores dos serviços e das ações do Estado. Neste sentido, o Programa da Qualidade no Serviço Público buscava ser um instrumento da cidadania, conduzindo cidadãos e agentes públicos ao exercício prático de uma administração pública participativa, Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 27 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS transparente, orientada para resultados e preparada para responder às demandas sociais. Diretrizes: • As diretrizes estratégicas que orientamas ações do Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública eram: • Descentralização das ações com coordenação estratégica centralizada • Compromisso dos órgãos e das entidades públicas formalizado por instrumento adequado (Compromisso de Resultado); • Compatibilização entre as políticas de reestruturação organizacional e as de modernização da gestão; • Comparatividade dos resultados de Qualidade e Participação alcançados pelas organizações públicas; • Direcionamento das ações para as atividades-fim das organizações, objetivando atingir diretamente o cliente; • Visibilidade e Seletividade; • Produção de resultados, principalmente em termos de redução de custos. 4 . 1 GESPÚBLICA Em 2005 ocorreu a última alteração no programa, que passou a ser chamado de Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública), que, na realidade é a fusão do PQSP com o Programa Nacional de Desburocratização. Foi instituído com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos e para o aumento da competitividade do País, formulando e implementando medidas integradas em agenda de transformações da gestão, necessárias à promoção dos resultados preconizados no plano plurianual, à consolidação da administração pública profissional voltada ao interesse do cidadão e à aplicação de instrumentos e abordagens gerenciais. O GesPública também traça um panorama da evolução dos programas, estabelecendo o seguinte quadro: Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 28 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS O Gespública foi instituído pelo Decreto 5.378 de 2005, segundo o qual: Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização - GESPÚBLICA, com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos e para o aumento da competitividade do País. Art. 2° O GESPÚBLICA deverá contemplar a formulação e implementação de medidas integradas em agenda de transformações da gestão, necessárias à promoção dos resultados preconizados no plano plurianual, à consolidação da administração pública profissional voltada ao interesse do cidadão e à aplicação de instrumentos e abordagens gerenciais, que objetivem: I - eliminar o déficit institucional, visando ao integral atendimento das competências constitucionais do Poder Executivo Federal; II - promover a governança, aumentando a capacidade de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas; Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 29 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS III - promover a eficiência, por meio de melhor aproveitamento dos recursos, relativamente aos resultados da ação pública; IV - assegurar a eficácia e efetividade da ação governamental, promovendo a adequação entre meios, ações, impactos e resultados; e V - promover a gestão democrática, participativa, transparente e ética. Modelo de Excelência em Gestão Pública O Decreto 5.378 de 2005 determina que: Art. 3° Para consecução do disposto nos arts. 1° e 2°, o GESPÚBLICA, por meio do Comitê Gestor de que trata o art. 7°, deverá: I - mobilizar os órgãos e entidades da administração pública para a melhoria da gestão e para a desburocratização; II - apoiar tecnicamente os órgãos e entidades da administração pública na melhoria do atendimento ao cidadão e na simplificação de procedimentos e normas; III - orientar e capacitar os órgãos e entidades da administração publica para a implantação de ciclos contínuos de avaliação e de melhoria da gestão; e IV - desenvolver modelo de excelência em gestão pública, fixando parâmetros e critérios para a avaliação e melhoria da qualidade da gestão pública, da capacidade de atendimento ao cidadão e da eficiência e eficácia dos atos da administração pública federal. No inciso IV, ficou estabelecido que o Gespública elaborasse um modelo de excelência em gestão pública. Esse modelo está no Documento de Referência do Gespública. Tal documento coloca que: O Gespública é uma política pública, formulada para a gestão, alicerçada em um modelo de excelência que trata do sistema de gestão das organizações como um todo, contemplando as dimensões técnicas tradicionais, como pessoas, planejamento, orçamento e finanças, entre outras, e, também, as dimensões sociais da gestão, como participação e controle social, orientação para os cidadãos, interação organização-sociedade e, principalmente, a produção de resultados que agreguem valor à Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 30 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS sociedade. Cabe destacar que esse modelo está calcado em valores que orientam e instrumentalizam a gestão pública para o cumprimento de seu papel de promover o bem-estar da sociedade, gerando benefícios concretos para o País. As principais características dessa política de gestão pública são: • Ser essencialmente pública: o Gespública é uma política formulada a partir da premissa de que a gestão de órgãos e entidades públicos pode e deve ser excelente, pode e deve ser comparada com padrões internacionais de qualidade em gestão, mas não pode nem deve deixar de ser pública. A qualidade da gestão pública tem que ser orientada para o cidadão, e desenvolver-se dentro do espaço constitucional demarcado pelos princípios da impessoalidade, da legalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. • Estar focada em resultados para o cidadão: sair do serviço à burocracia e colocar a gestão pública a serviço do resultado dirigido ao cidadão tem sido o grande desafio do Gespública. Entenda-se por resultado para o setor público o atendimento total ou parcial das demandas da sociedade traduzidas pelos governos em políticas públicas. Neste sentido, a eficiência e a eficácia serão tão positivas quanto a capacidade que terão de produzir mais e melhores resultados para o cidadão (impacto na melhoria da qualidade de vida e na geração do bem comum). • Ser federativa: a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos e o aumento da competitividade do País pressupõem a melhoria da qualidade da administração pública como um todo, em todos os poderes e esferas de governo, e implicam em uma atuação cada vez mais coordenada e integrada entre os diversos entes e instituições públicos. Assim, o Gespública atua junto às organizações públicas federais, estaduais, municipais, do legislativo e do judiciário, transcendendo, portanto, ao Executivo Federal. A base conceitual e os instrumentos do Gespública não estão limitados a um objeto específico a ser gerenciado (saúde, educação, previdência, saneamento, tributação, fiscalização etc.). Aplicam-se a toda administração pública em todos os poderes e esferas de governo. O Modelo de Excelência em Gestão Pública tem como base os princípios constitucionais da administração pública e como pilares os fundamentos da excelência gerencial. Os fundamentos da excelência são conceitos que definem o entendimento contemporâneo de uma gestão de excelência na administração Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 31 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS pública e que, orientados pelos princípios constitucionais, compõem a estrutura de sustentação do Modelo de Excelência em Gestão Pública. Estes fundamentos devem expressar os conceitos vigentes do "estado da arte" da gestão contemporânea, sem, no entanto,perder de vista a essência da natureza pública das organizações. O Modelo de Excelência em Gestão Pública foi concebido a partir da premissa segundo a qual é preciso ser excelente sem deixar de ser público. Esse Modelo, portanto, deve estar alicerçado em fundamentos próprios da gestão de excelência contemporânea e condicionado aos princípios constitucionais próprios da natureza pública das organizações. Esses fundamentos e princípios constitucionais, juntos, definem o que se entende hoje por excelência em gestão pública. A base do modelo são os princípios constitucionais da administração pública. A gestão pública para ser excelente tem que ser legal, impessoal, moral, pública e eficiente. • Legalidade: estrita obediência à lei; nenhum resultado poderá ser considerado bom, nenhuma gestão poderá ser reconhecida como de excelência à revelia da lei. • Impessoalidade: não fazer acepção de pessoas. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei. A cortesia, a rapidez no atendimento, a confiabilidade e o conforto são requisitos de um serviço público de qualidade e devem ser agregados a todos os usuários indistintamente. Em se tratando de organização pública, todos os seus usuários são preferenciais, são pessoas muito importantes. • Moralidade: pautar a gestão pública por um código moral. Não se trata de ética (no sentido de princípios individuais, de foro íntimo), mas de princípios morais de aceitação pública. • Publicidade: ser transparente, dar publicidade aos fatos e aos dados. Essa é uma forma eficaz de indução do controle social. • Eficiência: fazer o que precisa ser feito com o máximo de qualidade ao menor custo possível. Não se trata de redução de custo de qualquer maneira, mas de buscar a melhor relação entre qualidade do serviço e qualidade do gasto. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 32 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Orientados por esses princípios constitucionais, integram a base de sustentação do Modelo de Excelência em Gestão Pública os fundamentos apresentados a seguir. - Pensamento sistêmico: entendimento das relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo, com foco na sociedade. - Aprendizado organizacional: busca contínua e alcance de novos patamares de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de informações e experiências. - Cultura da Inovação: promoção de um ambiente favorável à criatividade, à experimentação e à implementação de novas idéias que possam gerar um diferencial para a atuação da organização. - Liderança e constância de propósitos: a liderança é o elemento promotor da gestão, responsável pela orientação, estímulo e comprometimento para o alcance e melhoria dos resultados organizacionais e deve atuar de forma aberta, democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando o desenvolvimento da cultura da excelência, a promoção de relações de qualidade e a proteção do interesse público. É exercida pela alta administração, entendida como o mais alto nível gerencial e assessoria da organização. - Orientação por processos e informações: compreensão e segmentação do conjunto das atividades e processos da organização que agreguem valor para as partes interessadas, sendo que a tomada de decisões e a execução de ações devem ter como base a medição e análise do desempenho, levando-se em consideração as informações disponíveis. - Visão de Futuro: indica o rumo de uma organização e a constância de propósitos que a mantém nesse rumo. Está diretamente relacionada à capacidade de estabelecer um estado futuro desejado que dê coerência ao processo decisório e que permita à organização antecipar-se às necessidades e expectativas dos cidadãos e da sociedade. Inclui, também, a compreensão dos fatores externos que afetam a organização com o objetivo de gerenciar seu impacto na sociedade. - Geração de Valor: alcance de resultados consistentes, assegurando o aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para todas as partes interessadas. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 33 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS - Comprometimento com as pessoas: estabelecimento de relações com as pessoas, criando condições de melhoria da qualidade nas relações de trabalho, para que elas se realizem profissional e humanamente, maximizando seu desempenho por meio do comprometimento, de oportunidade para desenvolver competências e de empreender, com incentivo e reconhecimento. - Foco no cidadão e na sociedade: direcionamento das ações públicas para atender, regular e continuamente, as necessidades dos cidadãos e da sociedade, na condição de sujeitos de direitos, beneficiários dos serviços públicos e destinatários da ação decorrente do poder de Estado exercido pelas organizações públicas. - Desenvolvimento de parcerias: desenvolvimento de atividades conjuntamente com outras organizações com objetivos específicos comuns, buscando o pleno uso das suas competências complementares para desenvolver sinergias. - Responsabilidade social: atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de cidadania com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, e ao mesmo tempo tendo também como um dos princípios gerenciais a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, potencializando a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades. - Controle Social: atuação que se define pela participação das partes interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da Administração Pública e na execução das políticas e dos programas públicos. - Gestão participativa: estilo de gestão que determina uma atitude gerencial da alta administração que busque o máximo de cooperação das pessoas, reconhecendo a capacidade e o potencial diferenciado de cada um e harmonizando os interesses individuais e coletivos, a fim de conseguir a sinergia das equipes de trabalho. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 34 CURSO ON-LINE - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS O Modelo de Excelência possui uma representação gráfica que se baseia no Ciclo PDCA Temos aqui quatro blocos que representam o PDCA - Planejamento, Implemntação, Controle e Agir Corretivamente. • Os quatro primeiros elementos (liderança, estratégias e planos, cidadãos e sociedade) compõem a primeira etapa, o planejamento, ou seja, é um planejamento participativo, que deve envolver a sociedade. Por meio da liderança forte da alta administração, que focaliza as necessidades dos cidadãos-usuários, os serviços, os produtos e os processos são planejados conforme os recursos disponíveis, para melhor atender esse conjunto de necessidades. • O segundo bloco - Pessoas e Processos - representa a execução do planejamento. Nesse espaço, concretizam-se as ações que transformam objetivos e metas em resultados. São as pessoas, capacitadas e motivadas, que operam esses processos e fazem com que cada um deles produza os resultados esperados. • O terceiro bloco - Resultados - representa o controle, pois serve para acompanhar o atendimento à satisfação dos destinatários dos serviços e da ação do Estado, o orçamento e as finanças, a gestão das pessoas, a gestão de suprimento e das parcerias institucionais, bem como o desempenho dos serviços/produtos e dos processos organizacionais. Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br
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