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1 2- MOVIMENTO E DINÂMICA DA PARTÍCULA 2.1 –Movimento da Partícula A mecânica é a área da Física que estuda as relações entre movimentos, matéria e força. A cinemática é um segmento da mecânica que apenas descreve o movimento de uma partícula sem se preocupar com a sua causa, ou seja, estuda as propriedades geométricas dos movimentos relacionando-as com o tempo. A partir de agora, iremos apresentar uma rápida revisão dos conceitos fundamentais empregados na cinemática, e logo após passaremos a caracterizar fisicamente os principais movimentos que ocorrem em uma e duas dimensões (plano). 2.1.1 – Conceitos Fundamentais A) Ponto Material ou Partícula É todo o corpo cujas dimensões não interferem no estudo de determinado fenômeno, ou seja, qualquer corpo cujas dimensões sejam desprezíveis em relação às distâncias envolvidas no problema. Quando o corpo não puder ser considerado como um ponto material (partícula) ele será denominado de corpo extenso. Exemplo: uma bicicleta trafegando numa ciclovia pode ser considerada ponto material ao passo que a mesma bicicleta manobrando num pátio de uma residência será denominada de corpo extenso. Na cinemática, todo o ponto material (partícula) apresenta massa, entretanto, suas dimensões (tamanho) são consideradas desprezíveis. Em virtude de seu tamanho desprezível, um ponto material (partícula) não sofre movimento de rotação e nem de vibração de partes, executando apenas movimento de translação. B) Referencial ou Sistema de Referência. É um conjunto de corpo ou corpos cuja posição é previamente conhecida em relação ao qual estudamos as características cinemáticas de uma partícula. Exemplo: sistema cartesiano ortogonal, superfície terrestre e etc. C) Repouso, Movimento e Trajetória Uma partícula está em repouso em relação a um dado referencial quando as suas coordenadas cartesianas (x,y,z) permanecem inalteradas com o passar do tempo. 2 A partícula encontra-se em movimento, relativamente a um referencial, quando pelo menos uma de suas coordenadas de posição varia a medida que transcorre o tempo. A noção de repouso ou movimento é relativa, pois está relacionada ao referencial adotado. Na cinemática, um corpo poderá estar em repouso ou movimento, isto depende do referencial adotado. Exemplo: Um passageiro sentado no interior de um trem em movimento não acelerado observa através da janela, um poste, mover-se e afirma que, o poste está se movimentando em relação ao trem. Define-se trajetória como sendo a figura geométrica formada pelas sucessivas posições (pontos geométricos) que a partícula vai ocupando a medida que transcorre o tempo. A trajetória de um móvel pode ser de diversos típicos: retilínea, circular, parabólica, elíptica, ou uma curva qualquer. O tipo de trajetória descrita por uma partícula durante o intervalo de tempo considerado depende do referencial adotado. Exemplo: Considere um trem em movimento retilíneo mantendo o módulo da sua velocidade constante em relação a Terra, conforme ilustra a figura abaixo. Figura 2.1 – Trajetória descrita pela bola na visão de dois observadores distintos. A trajetória descrita pela bola abandonada do teto do vagão do trem na figura 2.1 é descrita como um segmento retilíneo vertical pelo passageiro parado no interior do vagão. Entretanto, esse movimento da bola também é descrito como sendo um arco de parábola pelo observador situado no solo o qual acompanhou o que estava ocorrendo no interior do trem. D) Distância Percorrida A Distância percorrida, d é definida como o comprimento da trajetória descrita por uma partícula durante um intervalo de tempo considerado, ou seja, a soma dos valores absolutos de todas as variações elementares de posição ocorridas ao longo deste tempo. Portanto, o conceito de distância percorrida indica realmente quanto andou a partícula no intervalo de tempo considerado. A distância percorrida é uma grandeza escalar, ou seja, não é necessário levarmos em consideração direção e sentido desta. A unidade de medida adotada pelo SI para distância, posição e deslocamento, as últimas duas serão discutidas a seguir, é o metro (m), definida no capítulo 1 como sendo uma das grandezas fundamentais. E) Vetor Posição 3 Admita que uma partícula esta em movimento em relação ao sistema de coordenadas da figura 2.2. A origem desse sistema é o ponto O e o ponto P representa a posição desta partícula num dado instante de tempo t. Figura 2.2 – Representação gráfica do vetor posição. Define-se o vetor posição, rr como o segmento de reta com origem no ponto O e extremidade em P. O vetor rr é escrito em coordenadas cartesianas, em duas dimensões, pela expressão (1): jyixr ˆˆ +=r (1) F) Vetor Deslocamento. Agora, admita que P1 e P2 sejam posições ocupadas por uma partícula ao longo de sua trajetória (linha pontilhada) em dois instantes de tempo quaisquer t1 e t2, conforme ilustra a figura abaixo. Figura 2.3 – Representação gráfica do vetor deslocamento. 4 Define-se o vetor deslocamento, rr∆ , entre os instantes de tempo t1 e t2, como o segmento de reta com origem em P1 e extremidade em P2, ou ainda, como a subtração vetorial dos vetores posição 1r r e 2r r nos instantes t1 e t2, ou seja: rrr rrr ∆+= 12 rrr rrr ∆=− 12 (2) Exemplo resolvido 2.1 Um avião se desloca 4 km para o leste e em seguida 3 km para o norte. Qual será o módulo do deslocamento do avião? Resolução: Na figura 2.4 está ilustrada a trajetória percorrida pelo avião (em vermelho) ao longo do sistema de referência adotado. Aplicando a definição de vetor deslocamento, obtemos sua representação gráfica dada pelo vetor rr∆ (em azul). Figura 2.4 – Trajetória e deslocamento, realizados pelo avião do exercício resolvido 2.1. Analisando a figura, constatamos que o módulo do vetor deslocamento é determinado a partir da aplicação do teorema de Pitágoras, então: 22222 )3()4( kmkmyxr +=+=∆ r ( ) kmkmr 525 212 ==∆ r 5 mr 0005=∆ r Há uma diferença significativa entre os conceitos de distância percorrida, d e deslocamento. Por exemplo, considere a trajetória arbitrária L, não retilínea, entre as posições P1 e P2. Figura 2.5 – Diferenciação entre deslocamento e distância percorrida. A figura 2.5 mostra claramente que em módulo: rd r∆> . Por outro lado, se a trajetória L fosse retilínea, entre P1 e P2, teríamos: rd r∆= . Então, podemos afirmar genericamente que para qualquer trajetória teremos: rd r∆≥ . Exemplo resolvido 2.2 Um móvel percorre a trajetória em linha vermelha, descrita na figura abaixo. Ele partiu de A no instante t0 = 0, passou B no instante t1, chegou a C no instante t2. Retornando e passando novamente por B no instante t3. Figura 2.6 – Trajetória seguida pelo móvel do exemplo 2.2. Determinar: A) A distância percorrida, d. B) O deslocamento, rr∆ . Resolução: 6 A) A distância percorrida será dada por: mmmmBCCBBAd 9333 =++=++= md 9= B) O deslocamento, de acordo como ilustra a figura abaixo, será dado por: Figura 2.7 – O deslocamento apresentado pelo móvel do exemplo 2.2. mmxxxr AB 36 −=−=∆=∆ r mx 3=∆ G) VelocidadeEscalar Média, EMv É definida como sendo a razão entre a distância total percorrida, d pelo móvel e o intervalo de tempo gasto, ∆t para percorrê-la, portanto, trata-se de uma grandeza escalar. t d vEM ∆ = (3) A unidade de medida no SI para velocidade é o metro por segundo (m/s). Exemplo resolvido 2.3 Um ônibus está se movimentando em relação ao solo. A duração deste movimento, ∆t foi de 30 min e a distância percorrida, d durante este tempo foi de 5 km. Qual o valor da sua velocidade escalar média? Resolução: Convertendo os valores de ∆t e d para unidades do SI: 30 min → 1800 s e 5 km → 5000 m. Agora, aplica-se a definição dada pela equação (3). s m t d vEM 1800 5000 = ∆ = 7 ./78,2 smvEM = H) Velocidade Média, Mv r É definida como sendo a razão entre o vetor deslocamento, rr∆ sofrido pela partícula e o intervalo de tempo gasto, ∆t para executá-lo. t r vM ∆ ∆ = r r (4) Tomando com exemplo a figura 2.8, observamos que o vetor velocidade média, mv r (em azul) tem a mesma direção e o mesmo sentido do vetor deslocamento, rr∆ conforme prevê a definição dada pela equação (4). Fig. 2.8 – Representação gráfica do vetor velocidade média. O vetor mv r independe da trajetória da partícula uma vez que a velocidade média é diretamente proporcional ao vetor deslocamento, que por sua vez depende somente exclusivamente dos vetores posição inicial e final, mas não depende da trajetória seguida entre esses dois pontos. Tomemos como exemplo a figura 2.8. A partícula executa movimento a partir de P1 até P2, utilizando a trajetória descrita. Agora, imagine que a partícula retorne de P2 para P1. Independentemente da trajetória adotada para o retorno, a velocidade média da partícula em todo o seu trajeto de ida e volta será nula uma vez que o vetor deslocamento será igualmente nulo. I) Velocidade Instantânea, vr 8 É a velocidade real que o móvel possui em cada ponto de sua trajetória. É definida como sendo o limite quando o intervalo de tempo tende para zero do vetor velocidade média. =v r lim Mv r (5) 0→∆t A velocidade instantânea também pode ser interpretada como sendo a taxa de variação do vetor posição em função do tempo. dt rd v r r = (6) Em termos das componentes de rv , no plano, têm-se que: j dt ydi dt xdjvivv yx ˆˆˆˆ +=+= r (7) Observe o que acontece com o vetor velocidade média quando toma-se o limite ∆t → 0 na figura 2.8. O ponto P1 fica cada vez mais próximo do ponto P2. Nesta situação, o vetor deslocamento, rr∆ torna-se tangente à curva, ou seja, assume a mesma direção e sentido do vetor velocidade instantânea, vr . Sendo assim, pode-se concluir que: O vetor velocidade instantânea é sempre tangente a trajetória do móvel em qualquer ponto desta, conforme ilustra a figura 2.9 para os pontos P1 e P2. Figura 2.9 – Representação gráfica do vetor velocidade instantânea. Na cinemática, quando a palavra “velocidade” é empregada, geralmente, ela apresenta o significado de velocidade instantânea. 9 Exemplo resolvido 2.4 Um brinquedo a controle remoto está em movimento ao longo de uma trajetória num plano. A posição onde se encontra o operador é a origem do sistema de referência que é o plano cartesiano x-y. As coordenadas de posição do brinquedo, ao longo do plano, estão variando em função do tempo de acordo com as seguintes equações: 22 )/5,0(3 tsmmx −= 33 )/25,0()/2( tsmtsmy −= A) Calcule as coordenadas do brinquedo e a distância entre o operador e o brinquedo no instante t = 1 s. B) Calcule o vetor deslocamento e o vetor velocidade média no intervalo de tempo t = 0 s e t = 1 s. C) Deduza uma equação horária para o vetor velocidade instantânea do brinquedo. D) Calcule o valor do vetor velocidade instantânea quando t = 1 s. Expresse o resultado usando componentes e em termos de módulo, direção e sentido. Resolução: A) No instante t = 1 s, o valor das coordenadas é o seguinte: mssmmx 5,2)1.()/5,0(3 22 =−= mssmssmy 75,1)1).(/25,0()1.()/2( 33 =−= myemx 75,15,2 == O operador está na origem, ou seja, suas coordenadas são: x = 0 e y = 0. Portanto o valor da distância entre o operador e o brinquedo no instante t =1 s é dado pelo cálculo do módulo do vetor deslocamento, rr∆ entre estas duas posições: [ ] 2122 )075,1()05,2( −+−=∆ mmrr mr 05,3=∆r B) Expressaremos o vetor deslocamento, no item anterior apenas calculamos seu módulo, em termos de suas coordenadas cartesianas. A equação geral para a posição em função do tempo é dada pela seguinte expressão: jyixr ˆˆ +=r [ ] [ ] jtsmtsmitsmmr ˆ)/25,0()/2(ˆ)/5,0(3 3322 −+−=r 10 Para o instante t = 0, o vetor posição assume a seguinte expressão: [ ] [ ] jsmsmismmr ˆ0.)/25,0(0)./2(ˆ0)./5,0(3 33220 −+−=r [ ] imr ˆ30 =r Para o instante t = 1 s, o vetor posição assume a seguinte expressão: [ ] [ ] jssmssmissmmr ˆ)1()/25,0()1()/2(ˆ)1()/5,0(3 33221 −+−=r [ ] [ ] jmimr ˆ75,1ˆ5,21 +=r Agora, utilizando a sua definição, calcula-se o vetor deslocamento entre os instantes de tempo desejados: =−=∆ 01 rrr rrr [ ] [ ] [ ] imjmim ˆ3ˆ75,1ˆ5,2 −+ [ ] [ ] jmimr ˆ75,1ˆ5,0 +−=∆ r A partir do observador, o brinquedo se desloca 0,5 m no sentido negativo do eixo x e 1,75 m no sentido positivo do eixo y. Obtêm-se o valor do vetor velocidade média, entre os instantes considerados, aplicando a sua definição, ou seja: [ ] [ ] 01 ˆ75,1ˆ5,0 − +− = ∆ ∆ = s jmim t r vM r r [ ] [ ] jsmismvM ˆ/75,1ˆ/5,0 +−=r C) A dedução da equação horária para o vetor velocidade instantânea é obtida a partir do cálculo das componentes desse vetor, ou seja: ( ) j dt dyi dt dxjyix dt d dt rd v ˆˆˆˆ +=+== r r O valor da componente de vr em função de t na direção x é dada por: ( ) ( ) dt td smm dt d tsmm dt d dt dx vx 2 222 /5,03)/5,0(3 −=−== ( )tsmvx 2/1−= 11 O valor da componente de vr em função de t na direção y é dada por: [ ] 3333 /25,0)/2()/25,0()/2( t dt d smt dt d smtsmtsm dt d dt yd v y −=−== ( ) ( ) 23/75,0/2 tsmsmv y −= Portanto, a equação da horária do vetor velocidade assuma o seguinte padrão: ( )[ ] ( ) ( )[ ] jtsmsmitsmv ˆ/75,0/2ˆ/1 232 −+−=r D) Substituindo o valor do tempo na equação anterior, obtêm-se o vetor velocidade instantânea em termos de coordenadas cartesianas. ( )[ ] ( ) ( )( )[ ] jssmsmissmv ˆ1/75,0/2ˆ1/1 2321 −+−=r ( ) ( ) jsmismv ˆ/25,1ˆ/11 +−=r Chamamos sua atenção para o fato de que o valor do vetor velocidade instantânea e bem diferente do valor obtido para o vetor velocidade média no item B em um dado intervalo de tempo. O cálculo do vetor velocidade instantânea em termos de módulo, direção e sentido é obtidoda seguinte forma: Da expressão anterior obtêm-se os valores de suas componentes: smv x /11 −= e smv y /25,11 = Como estas componentes são ortogonais entre si, veja figura 2.10, e o vetor velocidade instantânea é o resultado da soma vetorial dessas componentes, temos que: ( ) ( )[ ] 21222121211 )/25,1(/1 smsmvvv yx +−=+=r smv /6,11 = r 12 Figura 2.10 – Representação gráfica do vetor velocidade instantânea v1. Da figura constamos que: º1 1 11 7,39 /25,1 /1 tantan −= −= = −− sm sm v v y xθ O ângulo θ vale -39,7º em relação ao eixo vy. Agora, lembrando que o 1v r apresenta direção tangente a posição de 1r r , concluímos que o eixo vx está paralelo ao eixo do x positivo, sendo assim: °=°+= 7,12990º7,39α Portanto, o vetor velocidade 1v r apresenta módulo igual a 1,6 m/s e está posicionado a 129,7° do sentido crescente do eixo x. A figura 2.11 mostra a representação gráfica em conjunto dos vetores posição, rr e velocidade instantânea, vr para os instantes de tempo t = 0 e t = 1 s a partir dos resultados obtidos no problema 2.4. Note que vr é perpendicular ao vetor posição rr e tangente a trajetória nos pontos considerados. O vetor 1vr está 129,7° do eixo x positivo ao passo que o vetor 0v r está 90° do mesmo eixo. 13 Figura 2.11 – Representação gráfica dos vetores posição r0, r1 e r2 e vetores velocidade instantânea v1 e v0. J) Aceleração Média, Ma r Define-se o vetor aceleração média como sendo a razão entre o vetor variação de velocidade, vr∆ e o tempo gasto, ∆t nesta variação. 12 12 tt vv t v aM − − = ∆ ∆ = rrr r (8) A unidade de mediada no SI para aceleração é o metro por segundo ao quadrado (m/s2). A aceleração média é uma grandeza vetorial que apresenta a mesma direção e sentido do vetor variação de velocidade, vr∆ , conforme ilustra a figura abaixo. 14 Figura 2.12 – Representação gráfica dos vetores: A) aceleração média e B) variação de velocidade. Na figura 2.12.A, uma partícula está se movendo ao longo de uma trajetória curva (em vermelho). Os vetores 1v r e 2v r assumem a direção e sentido da velocidade instantânea da partícula nos pontos considerados de sua trajetória. As duas velocidades podem possuir módulos e direções diferentes. A aceleração média é uma grandeza vetorial que apresenta a mesma direção e sentido do vetor variação de velocidade vr∆ a ser obtido a partir da soma vetorial dos vetores 1v r e 2v r , conforme ilustra a figura 2.12.B. L) Aceleração Instantânea É a aceleração real que o móvel possui em cada ponto de sua trajetória. É definida como sendo o limite quando o intervalo de tempo tende para zero, da aceleração média. =a r lim Ma r (9) 0→∆t A aceleração instantânea também pode ser compreendida como sendo a taxa de variação da velocidade instantânea com o tempo, ou seja: dt vd a r r = (10) Em termos das componentes de vr no plano: j dt vd i dt vdjaiaa yxyx ˆˆˆˆ +=+= r (11) Como cada componente de vr é dada pela derivada temporal da respectiva coordenada de posição, pode-se dizer que: 15 j dt yd i dt xd a ˆˆ 2 2 2 2 += r (12) A definição mais precisa da equação (10) mostra que pode existir aceleração diferente de zero quando houver qualquer variação do vetor velocidade, incluindo apenas variação da direção sem variação do módulo ou variação simultânea de ambos. Na maioria dos movimentos acelerados, o conceito vetorial de aceleração instantânea é empregado para representar a palavra “aceleração”, especialmente nas equações horárias desses movimentos. O vetor aceleração instantânea é uma grandeza vetorial onde sua direção e sentido é destacado na figura abaixo. Figura 2.13 – Representação gráfica do vetor aceleração instantânea nos pontos P1 e P2 de uma trajetória qualquer. Na figura 2.13.A, verifica-se que o vetor aceleração instantânea, ar é perpendicular a direção dos vetores velocidade instantânea 1v r e 2v r nos pontos considerados. Além disso, seu sentido é sempre direcionado para o lado interno da trajetória curva. Portanto, quando um móvel estiver se movimentando ao longo de uma trajetória curva ele sempre sofrerá a ação de uma aceleração. Na figura 2.13.B, quando 0→∆t , o ângulo α, entre os vetores 1v r e 2v r , também tende a zero o que faz com que o vetor vr∆ seja aproximadamente perpendicular a direção dos vetores 1v r e 2v r , conforme ilustra a figura 2.13.B. Isso deve-se ao fato de que 1v r e 2v r estão variando suas direções sem variarem seus módulos. Uma situação do cotidiano que evidencia este fenômeno é o fato de que quando estamos no interior de um ônibus e este começa a fazer uma curva sem alterar o valor da velocidade, você tende a ser empurrado para fora da trajetória desta curva uma vez que o ônibus experimenta uma aceleração ar no sentido oposto. 16 Exemplo resolvido 2.5. Utilizando as equações que descrevem o comportamento da velocidade em função do tempo no movimento do brinquedo a controle remoto do exercício 2.4, determinaremos as seguintes grandezas: A) Calcule as componentes do vetor aceleração média entre os instantes de tempo t = 0 e t = 1 s. B) Determine o vetor aceleração instantânea quando t = 1 s. C) Expresse o resultado anterior em termos de módulo, direção e sentido. Resolução: A) A equação para o vetor velocidade em função do tempo é a seguinte, veja exemplo 2.4: ( )[ ] ( ) ( )[ ] jtsmsmitsmjvivv yx ˆ/75,0/2ˆ/1ˆˆ 232 −+−=+=r Para o instante t = 0: ( )[ ] ( ) ( )[ ] ( ) jsmjsmsmismv ˆ/2ˆ0./75,0/2ˆ0./1 2320 =−+−=r Para o instante t = 1 s: ( )[ ] ( ) ( )( )[ ] ( ) ( ) jsmismjssmsmissmv ˆ/25,1ˆ/1ˆ1/75,0/2ˆ1./1 2321 +−=−+−=r Agora, para expressar o módulo do vetor velocidade média em termos de suas componentes, utilizamos os valores obtidos na equação anterior, ou seja; Na direção x, temos que: smv x /11 −= e 00 =xv . Portanto, aplicando a definição dada pela equação (8): sm sm tt vv t v a xxxM /101 0/1 01 01 −= − −− = − − = ∆ ∆ = Na direção y, temos que: smv y /25,11 = e smv y /20 = . Portanto, aplicando a definição dada pela equação (8): sm smsm tt vv t v a yy yM /75,001 /2/25,1 01 01 −= − − = − − = ∆ ∆ = A resposta obtida é a seguinte: smaesma yMxM /75,0/1 −=−= 17 B) O vetor aceleração instantânea pode será obtido a partir da aplicação da equação (10) e (11), respectivamente, ou seja: ( )[ ] ( ) ( )[ ] jtsmsm dt ditsm dt dj dt vd i dt vd dt vd a yx ˆ/75,0/2ˆ/1ˆˆ 232 −+−=+== r r ( ) ( ) j dt td smi dt td sma ˆ/75,0ˆ/1 2 32 −−= r ( ) ( ) jtsmisma ˆ/5,1ˆ/1 32 −−=r . Para o instantet = 1 s, o vetor aceleração instantânea assume a seguinte forma: ( ) ( ) jsmisma ˆ/5,1ˆ/1 221 −−=r C) Da mesma forma que foi determinado para a velocidade instantânea do exercício resolvido 2.4 em termos de módulo, direção e sentido, temos que: Da expressão anterior, obtida no item B deste exercício, deduzimos: 2 1 /1 sma x −= e sma y /5,11 −= Como estas componentes são ortogonais entre si, veja figura 2.14, temos que o módulo do vetor aceleração instantânea será dado pela soma vetorial dessas componentes: ( ) ( ) 2122222121211 )/5,1(/1 −+−=+= smsmaaa yxr 2 1 /80,1 sma = r 18 Figura 2.14 – Representação gráfica do vetor aceleração instantânea a1. Da figura constamos que: º1 1 11 3,56 /1 /5,1 tantan = = = −− sm sm a a x yγ O ângulo γ vale -56,3º em relação ao eixo – ax. Agora, tomando a distância do vetor 1a r em relação ao eixo ax, temos: °=°+°+= 3,2369090º3,56β Portanto, o vetor aceleração 1a r apresenta módulo igual a 1,80 m/s2 e está posicionado a 236,3° do sentido crescente do eixo x. A figura 2.15 mostra a representação gráfica em conjunto dos vetores posição, rr , velocidade instantânea, vr e aceleração instantânea, ar para os instantes de tempo t = 0 e t = 1 s a partir dos resultados obtidos nos problemas 2.4 e 2.5. Note que o vetor ar varia sua posição é módulo em relação aos demais vetores e aponta para o lado de dentro (côncavo) da trajetória. Note que a direção de vr é diferente da direção do vetor ar nos dois pontos da trajetória analisados. O vetor 1ar está 263,3° do eixo x positivo ao passo que o vetor 0ar está 180° do mesmo eixo. 19 Figura 2.15 – Representação gráfica dos vetores posição r0, r1 e r2, velocidade instantânea v1 e v0 e aceleração instantânea a1 e a2. 2.1.2 - Movimento em uma Dimensão Os movimentos mais simples estudados pela cinemática da partícula são os que ocorrem em trajetória retilínea. Entre eles, destacam-se o movimento uniforme e o movimento uniformemente variado. 2.1.2.1 – Introdução Consideraremos que uma partícula, p está executando um movimento retilíneo acelerado e que sua posição é registrada em um determinado instante de tempo e ilustrada na figura abaixo. Figura 2.16 – Representação dos vetores posição, x, velocidade, v e aceleração, a em um movimento retilíneo acelerado de uma partícula p. 20 Como se trata de um movimento na direção do eixo das abscissas (x), temos que os vetores posição, deslocamento, velocidade e aceleração têm a mesma direção o que permite expressar os sentidos destes vetores em termos dos seus sinais algébricos em relação ao referencial adotado. O valor algébrico do vetor posição é dado pela letra x. Os valores de x, a partir da origem (marco 0), são positivos quando a partícula encontra-se a direita do eixo e negativos quando a partícula encontra-se a esquerda do referido eixo. Na figura 2.14, x = 3,5 m. O valor algébrico de vr , a partir da origem, é positivo quando a partícula estiver no sentido positivo do eixo e negativo se estiver a esquerda deste. O valor algébrico de ar será positivo quando o vetor aceleração apontar no sentido positivo do eixo e será considerado negativo quando apontar no sentido oposto do eixo. Note que a partícula da figura anterior apresenta valores de x e v positivos e o valor da aceleração a é negativo. Os movimentos retilíneos podem ser classificados da seguinte maneira. A) progressivo: o valor algébrico da velocidade é positivo o que fisicamente significa que o móvel está andando no sentido positivo de sua trajetória. B) regressivo (retrógrado): o valor algébrico da velocidade é negativo o que fisicamente significa que o móvel está andando no sentido negativo de sua trajetória. C) acelerados: neste movimento ar e vr têm o mesmo sentido, o que determina sinais algébricos idênticos para o módulo estes vetores, ou seja, o movimento é acelerado quando a velocidade aumenta em módulo. D) retardados: neste movimento ar e vr têm sentidos opostos, o que determina sinais algébricos distintos para o módulo destes vetores, ou seja, o movimento é retardado quando a velocidade diminui em módulo. 2.1.2.2 – Movimento Retilíneo Uniforme (MRU) Uma partícula encontra-se em MRU quando a trajetória de seu movimento é retilínea e o seu vetor velocidade, vr é constante e diferente de zero. Sendo assim, o MRU é o movimento que não apresenta aceleração. Em um movimento uniforme a velocidade escalar média e a velocidade média calculadas em um instante de tempo qualquer sempre serão iguais ao valor da velocidade instantânea da partícula. Além disso, em um movimento uniforme a partícula sempre percorrerá distâncias iguais em tempos iguais. A) Equação horária do MRU. Define-se equação horária como sendo uma função que relaciona individualmente os valores de posição, velocidade e aceleração com os correspondentes valores de tempo gasto na execução do movimento. A figura abaixo destaca dois instantes distintos do MRU progressivo que uma partícula p está executando. 21 Figura 2.17 – Representação esquemática do MRU progressivo executado por uma partícula p. Da figura, define-se: t0 – instante inicial t – instante final x0 – posição inicial x – posição final v – velocidade Agora, aplicando o conceito de velocidade média ao deslocamento ∆x sofrido pela partícula p num instante de tempo ∆t, temos: 0 0 tt xx t x vM − − = ∆ ∆ = (13) Considerando que no MRU, vM = v temos que: ( )00 ttvxx −+= (14) Lembrando que t0 = 0 temos que a equação (14) assume a seguinte forma: vtxx += 0 (15) A equação (15) nos fornece o valor da posição em função do tempo de uma partícula que executa um MRU. B) Diagramas gráficos do MRU Discutiremos agora a forma dos diagramas horários da posição e velocidade para uma partícula em MRU. Para tanto, trabalharemos apenas com t ≥ 0. Iniciaremos nossa atividade analisando o comportamento do gráfico da posição em função do tempo. 22 Figura 2.18 – Uma das possíveis representações gráficas do comportamento de x-t para uma partícula executando MRU, a) para v > 0 e b) para v< 0. De acordo com a figura 2.18, podemos concluir, analisando ambos os gráficos, que a partícula começa seu movimento a direita do ponto de origem, portanto, sua posição inicial é positiva. O gráfico A mostra que o comportamento de x-t é representado por uma reta ascendente o que nos leva a concluir que o módulo da velocidade é constante e positivo. Por outro lado, o gráfico B mostra que o comportamento de x-t é representado por uma reta descendente o que nos leva a concluir que o módulo da velocidade é constante é negativo. O comportamento linear de x-t para o MRU, progressivo ou regressivo, está em acordo com a equação (15) uma vez que ela é uma função linear de x em função de t. O comportamento da velocidade em função do tempo (v-t) de um MRU pode ser expresso pelas seguintes respostas gráficas. Figura 2.19 - Uma das possíveis representações gráficas do comportamento de v-t para uma partícula executando MRU, a) para v > 0 e b) para v< 0. Lembremos que no MRUo vetor velocidade é constante e não nulo. Logo, terá seu comportamento representado por uma reta paralela ao eixo t. Conforme mostra a figura, esta reta está acima do eixo t quando v > 0, gráfico A e está abaixo do eixo t quando v < 0, gráfico B. 23 Exemplo resolvido 2.6 Uma partícula está em movimento uniforme e a sua equação horária da posição é dada por: tx 72 −= em unidades do SI. Determinar: a) O valor da posição inicial. b) O valor da velocidade. c) O tipo de MRU Resolução: a) Façamos t = 0 na equação horária da posição e encontraremos o valor da posição inicial, então: mx 40.72 =−= mx 20 = b) Utilizando o conceito de velocidade instantânea, teremos: 70)72( −=−== t dt d dt dx v smv /7−= c) Analisando o sinal da velocidade, negativo, concluímos que o movimento é regressivo. Exemplo resolvido 2.7 Os móveis A e B, no instante t = 0 estão a 15 m um do outro. Suas trajetórias são coincidentes e suas velocidades têm valor absoluto indicado na figura. Figura 2.20 – Móvel A e B movimentando-se em MRU. Determinar: a) A equação horária da posição para os móveis A e B. b) O instante e o local do encontro. 24 Resolução: a) A equação horária do movimento depende do ponto a ser adotado como origem do movimento. Arbitraremos a posição ocupada pelo móvel A como ponto de origem para o movimento. Desta forma, teremos: Para o móvel A: x0 = 0 m e vA = 4 m/s. Para o móvel B: x0 = 15 m e vB = - 6 m/s. Agora, empregando a equação (15) para as condições anteriores, teremos: Equação horária para o móvel A: )(4 mtxA = Equação horária para o móvel A: )(615 mtxB −= b) Os móveis encontrar-se-ão quando suas equações horárias de posição coincidirem. Portanto: BA xx = tt 6154 −= 1510 =t st 5,1= Exemplo resolvido 2.8 Um móvel em MRU tem a respectiva função horária dada pelo gráfico abaixo. Figura 2.21 – Gráfico de x-t para o móvel do exemplo resolvido 2.8. Escrever a equação horária do movimento. 25 Resolução: Analisando o gráfico, quando t0 = 0, x0 = 10 m e quando t = 5 s, x = 20 m. Utilizando a definição de velocidade média, obtemos: sm t x vM /25 10 )05( )1020( == − − = ∆ ∆ = Lembrando que no MRU, vM = v = 2 m/s. Agora, empregando a equação (15) para as condições apresentadas pelo gráfico, temos que: )(210 mtx += 2.1.2.3 – Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV) Uma partícula encontra-se em MRUV quando a trajetória de seu movimento é retilínea e o seu vetor velocidade, vr varia uniformemente em função do tempo. Sendo assim, o MRUV é o movimento que apresenta vetor aceleração, ar constante e diferente de zero. Em um movimento uniformemente variado, o vetor aceleração média em qualquer intervalo de tempo é igual ao vetor aceleração instantânea em qualquer instante de tempo dentro do intervalo de tempo considerado. Esta particularidade resulta numa mesma taxa de variação para a velocidade da partícula que executa esse tipo de movimento. Uma das muitas aplicações deste movimento ocorre quando analisamos a queda de corpos na superfície terrestre, quando o atrito com o ar pode ser desconsiderado. Ele também encontra aplicações em situações artificiais ou tecnológicas, como no caso de um caça a jato sendo catapultado de um porta-aviões. A) Equações horárias do MRUV. A figura abaixo destaca dois instantes distintos do MRUV acelerado que uma partícula p está executando ao longo do eixo x. Figura 2.22 – Representação esquemática do MRUV acelerado executado por uma partícula p. Da figura, define-se: 26 t0 – instante inicial t – instante final x0 – posição inicial x – posição final v0 – velocidade inicial v - velocidade final. a – aceleração. Aplicando o conceito de aceleração média, aM, equação (8), a variação de velocidade, ∆v sofrida pela partícula p durante um instante de tempo ∆t, obtêm-se: 0 0 tt vv t v aM − − = ∆ ∆ = ( ) 00 vvttaM −=− Porém, no MRUV temos que aM = a e se consideráramos t0 = 0, temos: tavv += 0 (16) A equação (16) nos fornece o valor da velocidade em função do tempo para uma partícula que executa um MRUV e é denominada de equação horária da velocidade. A velocidade média, equação (4), aplicada ao movimento da partícula da figura 2.20 onde t0 = 0, assume a seguinte forma: t xx t x vM 0− = ∆ ∆ = (17) Outra definição possível para a velocidade média, válida somente para a partícula que está executando um MRUV, é a seguinte: a velocidade média durante qualquer intervalo de tempo de um MRUV é simplesmente a média aritmética desde o início até o instante final deste movimento. Para o intervalo de tempo de 0 a t: 2 0 vvvM + = (18) Substituir a equação (16) na equação (18) resulta em: 22 0 00 tav tavv vM += ++ = (19) Agora, igualando as equações (17) e (19), obtêm-se: 27 20 0 tav t xx += − 2 00 2 1 tatvxx ++= (20) A equação (20) nos fornece o valor da posição em função do tempo para uma partícula que executa um MRUV e é denominada de equação horária da posição. Em muitas questões envolvendo o estudo do MRUV, se faz necessário obter uma equação que relacione posição, velocidade e aceleração. Para obtê-la, inicialmente, isola-se t na equação (16) e logo após, a substitui na equação (20), resultando em: 2 00 00 2 1 − + − += a vv a a vv vxx a vvvv a vvv a vvvv a a vvv xx 2 2.2 2 1. 200 22 00 2 2 00 22 00 0 +− + − = +− + − =− ( ) 20220022000 2222 vvvvvvvvvxxa −=+−+−=− ( )0202 2 xxavv −+= (21) Uma outra equação relevante no MRUV é aquela em que a posição e obtida em termos da velocidade e tempo, ou seja, quando o valor da aceleração não é conhecido. Para tanto, se igualam as equações (17) e (18), multiplicando-se por t ambos os lados da expressão. Ao proceder desta maneira, encontra-se: t vv xx 2 0 0 + =− t vv xx + += 2 0 0 (22) Observação: Aplicando a definição de velocidade instantânea, dada pela equação (6), na equação (20), obtemos a equação (16), ou seja: 2 00 2 00 2 1 2 1 t dt d at dt d vx dt d tatvx dt d dt xd v ++= ++== tavv += 0 28 Onde x0 e v0 independem do tempo. B) Diagramas gráficos do MRU Discutiremos agora a forma dos diagramas horários da posição, velocidade e aceleração para uma partícula em MRUV. Para tanto, trabalharemos apenas comt ≥ 0. Iniciaremos nossa atividade analisando o comportamento do gráfico da posição em função do tempo, dado pela equação (20). Conforme ilustra a figura 2.23, a representação gráfica de x-t será uma parábola, cuja concavidade para cima (gráfico A) ou para baixo (gráfico B) depende do sinal do coeficiente da equação (20) que é uma equação de segundo grau. Em outras palavras, depende se a > 0 (positiva) ou a < 0 (negativa). Figura 2.23 - Uma das possíveis representações gráficas do comportamento de x-t para uma partícula executando MRU, a) para a > 0 e b) para a< 0. O comportamento da velocidade em função do tempo (v-t) de um MRUV pode ser expresso pelas seguintes respostas gráficas. 29 Figura 2.24 – Uma das possíveis representações gráficas do comportamento de v-t para uma partícula executando MRUV, a) para a > 0 e b) para a< 0. De acordo com a figura 2.24, o gráfico A mostra que o comportamento de v-t é representado por uma reta ascendente o que nos leva a concluir que o módulo da aceleração é constante e positivo. Por outro lado, o gráfico B mostra que o comportamento de v-t é representado por uma reta descendente o que nos leva a concluir que o módulo da aceleração é constante é negativo. O comportamento linear de v-t para o MRUV, acelerado ou retardado, está em acordo com a equação (16) uma vez que ela é uma função linear de v em função de t. O ponto marcado como t1 nos gráficos de x-t e v-t representa nestes gráficos o ponto da trajetória onde a velocidade do móvel inverte o seu sinal. Finalizando, temos os gráficos de a-t para uma partícula executando MRUV. Figura 2.25 – Uma das possíveis representações gráficas do comportamento de a-t para uma partícula executando MRUV, a) para a > 0 e b) para a< 0. Lembremos que no MRUV o vetor aceleração é constante e não nulo. Logo, terá seu comportamento representado por uma reta paralela ao eixo t. Conforme mostra a figura, esta reta está acima do eixo t quando a > 0, gráfico A e está abaixo do eixo t quando a < 0, gráfico B. Exemplo resolvido 2.9 A velocidade de um automóvel reduz-se de 45 m/s para 25 m/s enquanto percorre uma distância de 700 m. a) Calcule a aceleração do automóvel, admitindo que o mesmo esteja executando um MRUV. b) Determine o tempo total transcorrido para o móvel reduzir sua velocidade de 25 m/s e atingir a velocidade de repouso. Resolução: 30 A) Como desconhecemos o tempo gasto na redução de velocidade, utilizaremos a equação (21) que relaciona velocidade final e inicial, variação de posição e aceleração durante a execução do movimento. O problema nos fornece os seguintes dados: v = 25 m/s, v0 = 45 m/s e x-x0 = 700m. Agora, isolando a aceleração na equação (21) e aplicando os valores destacados, obtemos: ( ) ( ) ( ) mx smsm xx vv a 7002 /45/25 2 22 0 2 0 2 − = − − = 2/1 sma −= B) Atingindo o repouso, a velocidade final do veículo é nula. Como ele está executando um MRUV e sua aceleração foi determinada no item anterior, devemos utilizar uma expressão que relacione velocidade inicial, velocidade final, aceleração e tempo. Esta é a equação (16). Então, isolando o tempo nesta equação, temos: ( ) 2 0 /1 /250 sm sm a vv t − − = − = st 25= Exemplo resolvido 2.10 Um ciclista A inicia uma corrida em linha reta a partir do repouso, acelerando 1 m/s2 constantemente. Nesse instante passa por ele um outro ciclista B, com velocidade constante de 10 m/s no mesmo sentido que o ciclista A. A) Após a largada, qual o tempo gasto pelo ciclista A para alcançar o ciclista B? B)Qual o valor da velocidade do ciclista A ao alcançar o ciclista B? Resolução: A) O ciclista A apresenta aceleração constante ao longo do movimento, portanto, ele está executando um MRUV ao passo que o ciclista B está executando um MRU, pois ele mantém sua velocidade constante ao longo do movimento. Agora, tomemos a posição comum inicial como origem da posição, o instante correspondente como origem dos tempos e orientemos a trajetória no sentido do movimento dos dois ciclistas. Passamos agora a montagem das equações horárias para a posição de ambos os ciclistas. Ciclista A Utilizando a equação (20), onde temos x0 = 0, v0 = 0 e a = 1 m/s2, temos: 31 ( ) ( ) 2222200 /5.0/12121 tsmtsmtatvxxA ==++= Ciclista B Utilizando a equação (15), onde temos x0 = 0, v = 10 m/s, temos: ( ) tsmvtxxB /100 =+= No instante de encontro, te, ambos os ciclistas terão percorrido distância iguais, ou seja: AB xx = ( ) ( ) 22/5.0/10 ee tsmtsm = ( ) ( ) 0/10/5.0 22 =− ee tsmtsm ( ) ( ) 0/10/5.0 22 =− ee tsmtsm ( ) ( ) 020/5.0 2 =− sttsm ee A equação anterior fornece duas soluções que são interpretadas fisicamente da seguinte maneira: 0=et → Instante inicial marca o primeiro encontro de ambos, ou seja, quando o ciclista B passa pelo ciclista A com velocidade constante. ste 20= → A resposta da questão A, ou seja, é o instante de tempo que o ciclista A alcança o ciclista B. B) Utilizando a equação (16), e lembrando que a velocidade inicial do ciclista A é nula, parte do repouso, e do fato de que foram percorridos 20 s para A, alcançar B, temos que: ssmtavvA 20./1 2 0 =+= smvA /20= Exemplo resolvido 2.11 A função horária da velocidade de uma partícula está representada no gráfico v-t da figura 2.23. Determine: A) A aceleração do movimento. B) A equação horária da velocidade. 32 C) A equação horária da posição, admitindo que a posição inicial da partícula seja 10 m. Figura 2.26 – Gráfico de v-t para o móvel do exemplo resolvido 2.11. Resolução: Primeiramente, devemos identificar que tipo de movimento a partícula está executando. Analisando o comportamento do gráfico de v-t, observamos que a velocidade está variando uniformemente em função do tempo (resposta linear), portanto, a partícula está executando um MRUV partindo do repouso. A) A Aceleração para este tipo de movimento é dada a partir da sua definição, ou seja: t v a ∆ ∆ = Agora, tomando dois pontos quaisquer que integram a reta do gráfico v-t acima, obtemos: 08 0/80 − − = ∆ ∆ = s sm t v a 2/10 sma = B) A função horária da velocidade é dada a partir do emprego da equação (16), onde v0 = 0 (veja gráfico quando t = 0), e a constante. Então: tavv += 0 ( )tsmv 2/10= C) A função horária da posição é dada pelo emprego da equação (20), lembrando que x0 = 10 m, v0 = 0 e a = 10 m/s2. Então: 33 2 00 2 1 tatvxx ++= ( ) 22/510 tsmmx += 2.1.2.4 – Corpos em Queda Livre A) Introdução: Resultados experimentais comprovam que vários corpos quando lançados no vácuo (ausência de matéria) nas proximidades da superfície terrestre (altitudes bem inferiores ao valor do raio do globo terrestre) sofrem a mesma aceleração durante o movimento. Esta aceleração é denominada de aceleração da gravidade e o seu valor independe das características dos corpos, como, por exemplo: constituição, dimensão e massa. O primeiro registro deste fenômeno é atribuído ao cientista Galileu Galilei, em virtude do resultado experimental por ele obtido no lendário experimento da queda de corpos, veja figura 2.27. Reza a lenda que Galileu Galilei registrou o tempo de queda de dois corpos de massa diferentes quando soltos simultaneamente do alto da famosa torre inclinada da cidade de Pisa. Segundo seu relato, os corpos atingiram o solo aproximadamente ao mesmo tempo, o que é possível somente se ambosos corpos experimentaram a mesma aceleração durante a queda. Figura 2.27 – Ilustração da lendária experiência de queda dos corpos realizada por Galileu Galilei na torre de Pisa. A aceleração da gravidade e é representada pela letra g. Ela é uma grandeza vetorial, que próximo a superfície terrestre assume, em módulo, o valor de aproximadamente 9,8 m/s2, direção vertical (radial) e sentido apontando para o centro da Terra. O valor adotado para g é medido a 45° de latitude e ao nível do mar. O valor da aceleração da gravidade terrestre é dependente da altitude e da localização em que um corpo está em relação a superfície terrestre. Por exemplo: no 34 equador g = 9,78 m/s2, nos pólos geográficos este valor sobe para g = 9,83 m/s2. Na superfície da Lua, g = 1,6 m/s2. Próximo à superfície do Sol, g = 270 m/s2. Define-se queda livre como o movimento que um corpo executa, nas proximidades da superfície terrestre, sob influência apenas da aceleração da gravidade (ação do atrito do ar é desprezível), independentemente de seu movimento inicial. Nesta situação, corpos lançados para cima ou para baixo e aqueles abandonados em repouso executam movimento de queda livre. Como o movimento de queda livre é um movimento caracterizado por apresentar um vetor aceleração constante ele pode ser caracterizado como um caso particular de um MRUV acelerado ou retardado. B) Equações Horárias: As equações desenvolvidas para o MRUV podem ser aplicadas para o movimento de queda livre. Para tanto, devemos considerar que o movimento de queda livre ocorre na direção vertical, assim usa-se y em vez de x, e que o vetor g têm sentido contrário ao eixo y positivo. Assim, considera-se ay = -g, em que o sinal negativo significa que a aceleração do corpo ocorre para baixo. Desta forma, executando essas alterações nas equações (16), (20), (21) e (22), obtemos as equações para o movimento de queda livre. tgvv −= 0 (23) 2 00 2 1 tgtvyy −+= (24) ( )0202 2 yygvv −−= (25) t vv yy + += 2 0 0 (26) Observação: O valor de g sempre será dado pelo seu módulo ao invés de - 9,8m/s2. O sinal (-) significa que o sentido da aceleração é contrário ao que adotamos como sentido positivo e ele já esta sendo levado em conta nas equações de queda livre. Algumas considerações devem ser registradas a respeito do lançamento vertical de um corpo na superfície terrestre, são elas: - Durante a subida de um corpo, o vetor velocidade apresenta diminuição uniforme de seu módulo e sentido oposto a gr , caracterizando um movimento uniformemente retardado. Durante a descida, vr apresenta aumento uniforme de seu módulo e mesmo sentido que gr , caracterizando um movimento uniformemente acelerado. - No ponto mais alto da trajetória, 0=vr . - O tempo gasto na subida é igual ao tempo gasto na queda. - Os módulos das velocidades, tanto na subida como na descida, em pontos de mesma altitude, são iguais. 35 Exemplo resolvido 2.12 Um corpo em queda vertical no vácuo, conforme ilustra a figura 2.28, a partir do repouso, possui uma velocidade V após percorrer uma distância h. Para a velocidade ser 3 V, qual distância deverá ser percorrida pelo corpo? Figura 2.28 – Diagrama esquemático do problema resolvido 2.12. Resolução: Note que o tempo é uma variável que não foi mencionada no contexto da questão. Portanto, devemos utilizar a equação (25) para os dois eventos propostos. Ela relaciona os dados fornecidos pelo problema com o que esta sendo questionado. Para o primeiro evento, temos: v0 = 0 e ∆y = h, então: hgV 22 −= Para o segundo evento, temos: v0 = 0 e ∆y = y, então: ( ) ygV 23 2 −= Agora, dividindo a equação do segundo evento pela obtida para o primeiro, temos: h y =9 A resposta será: hy 9= 36 Exemplo resolvido 2.13 Um turista arremessa uma moeda de baixo para cima do topo da torre de Pisa. A moeda abandona a sua mão com uma velocidade de 10 m/s em um ponto que coincide com a extremidade superior da torre movendo-se, a partir deste instante, em queda livre. Quando a moeda retorna, ela passa novamente pelo ponto de lançamento e continua seu movimento. Na torre, g = 9,8 m/s2. Determine: A) A posição da moeda 2 s depois de deixar o ponto de lançamento. B) A velocidade da moeda quando estiver a 3 m do ponto de lançamento. C) A altura máxima atingida pela moeda. D) A aceleração no ponto mais alto de sua trajetória. Resolução: Antes de começarmos a resolução propriamente dita, devemos notar que a origem do movimento ocorre no ponto de lançamento da moeda. As sucessivas posições ocupadas pela moeda ao longo de sua trajetória vertical são positivas para pontos localizados acima da origem (sentido positivo do eixo y) e negativas para pontos localizados abaixo da origem (sentido negativo do eixo y). A posição inicial da moeda, y0 será nula, moeda parte da origem, e sua velocidade inicial, v0 será 10 m/s. A) A posição em qualquer instante de tempo da trajetória da moeda será dada pela equação (24). Aplicando a equação para t = 2 s, obtemos: ( )22200 2./8,9.2 12./10 2 1 ssmssmtgtvyy −=−+= my 4,0= A interpretação física da resposta anterior é a seguinte: a moeda, quando t = 2 s, esta a 0,4 m da origem e ainda não passou pelo ponto de altura máxima de sua trajetória. B) A velocidade em qualquer posição y da trajetória da moeda é dada pela aplicação da equação (25): ( ) ( ) ( ) 22220202 /2,413./8,9.2/102 smmsmsmyygvv =−=−−= smv /4,6±= A interpretação física deste resultado é a seguinte: os dois valores encontrados para v correspondem a velocidade da moeda quando ela passa pela posição 3 m durante a sua subida e durante a sua queda. A velocidade durante a ascensão é igual a + 6,4 m/s ao passo que durante a descida é – 6,4 m/s. 37 C) A medida que a moeda ascende na sua trajetória, sua velocidade vai diminuindo até se tornar nula, ou seja, até a moeda parar e começar a cair. Durante a queda a velocidade da moeda inverte seu sentido e passa a aumentar uniformemente em função do tempo. A altura máxima atingida pela moeda, durante a execução de sua trajetória, ocorre no momento em que a sua velocidade se anula. Portanto, o valor da altura máxima pode ser calculado de duas maneiras. Primeira maneira: O primeiro modo consiste em empregar a equação (25) e substituir os seguintes valores: v = 0, y0 = 0, então: ( ) ( )ysmsm 22 /8,92/100 −= 2 22 /6,19 /100 sm smy − − = my 1,5= Segunda maneira: O segundo modo consiste em determinar o tempo para o qual v = 0 aplicando a equação (23) e a seguir substituir este valor de t na equação (24) para obter a posição neste instante. Então: ( ) Mtsmsm 2/8,9/100 −= s sm sm tM 02,1/8,9 /10 2 = − − = Agora, substituindo o valor de tM na equação (24) obtemos: ( ) 22 02,1./8,9 2 102,1./10 ssmssmy −= my 1,5= D) A aceleração vale g, ou seja, 9.8 m/s2, caso contrário, não haveria variação do vetor velocidade da moeda durante o seu movimento de queda livre. 2.1.3 - Movimento no Plano Muitos movimentos do nosso cotidiano ocorrem em duas ou trêsdimensões. Entre esses, podemos incluir desde os menos usuais como: o movimento de satélites, em órbita ao 38 redor da Terra, lançamento de um míssil e o movimento de partículas em torno de campos elétricos e magnéticos, até os mais usuais como: o movimento de uma bola de futebol chutada por um jogador, o movimento do carro de uma montanha-russa ao longo de uma curva ou o vôo de um pássaro circulando um campo aberto. A descrição desses movimentos é obtida de maneira eficiente quando aplicada a cinemática vetorial. Portanto, neste ponto, colocaremos em prática as definições vetoriais de: deslocamento, velocidade e aceleração, tratados no item 2.1.1, em conjunto com os conceitos cinemáticos adquiridos no estudo dos movimentos unidimensionais, item 2.1.2. Nosso principal objetivo é descrever o movimento e não analisar as suas causas. Porém, a linguagem que utilizaremos aqui será uma ferramenta essencial para capítulos posteriores quando aplicaremos as leis de Newton para estudar a relação entre força e movimento. Entre os movimentos bidimensionais a serem estudados estão o movimento de projéteis e o movimento circular de uma partícula. 2.1.3.1 – Lançamento Oblíquo no Vácuo (Movimento de um Projétil) A)Introdução: Um projétil pode ser considerado como qualquer corpo lançado com velocidade inicial e que segue uma trajetória determinada exclusivamente pela ação da aceleração da gravidade em conjunto com a aceleração produzida pela resistência do ar. Com o objetivo de simplificarmos a análise desse tipo de movimento, começaremos com um modelo idealizado. Nesse modelo, o projétil é representado como uma partícula que sofreu um lançamento obliquo, partindo da superfície terrestre, percorrendo uma determinada trajetória com aceleração igual a aceleração da gravidade e apresentando um curto alcance, quando comparado, por exemplo, ao alcance de um míssil. Nessas circunstâncias, poderemos desprezar os efeitos da resistência do ar e a curvatura de rotação da Terra. A figura abaixo ilustra a trajetória descrita por um projétil sujeito às condições impostas no parágrafo anterior. O projétil parte da origem do sistema, ponto A, com uma velocidade inicial 0v r . O vetor velocidade, vr vai se modificando ao longo do tempo, tanto em módulo como direção, veja todos os pontos assinalados da figura. Esta mudança do vetor v r é resultado da presença da aceleração gr ao longo do sentido negativo do eixo y. Por outro lado, a componente x do vetor vr permanece constante durante a execução do movimento, pois não há aceleração atuando nesta direção. Nota-se ainda que a componente y da velocidade é nula no ponto mais alto da trajetória. Dessa forma, analisando fisicamente o movimento, podemos concluir que: o movimento de um projétil é uma combinação de dois movimentos distintos: movimento com velocidade constante ao longo do eixo x e movimento vertical com aceleração constante ao longo do eixo y. 39 v E D C B θ θ = − θ 0 θ g g g vY vY vY v v v v0Y Y X v0X g θ 0A v0 h R gv0X v0X = v0X v0X Figura 2.29 – Trajetória de um corpo lançado com velocidade inicial 0v r formando um ângulo θθθθ0 acima da horizontal. A distância R é o alcance horizontal e h é a altura máxima. B) Equações Horárias: Agora, passamos a descrever as equações horárias para o movimento de um projétil. De acordo como o sistema de referência x-y adotado na figura 2.29, temos que ga y rr −= (como o movimento de queda livre unidimensional) e 0=xa r (a resistência do ar é desprezada). Além disso, quando t = 0, o projétil parte da origem (x0 = 0 e y0 = 0) com velocidade inicial 0v r , ponto A na figura 2.29. O vetor 0v r faz um ângulo θ0 com a horizontal, sendo assim, podemos escrever o vetor 0v r em termos de suas componentes ao longo do eixo x e y, para isso, utilizamos as relações trigonométricas para um triângulo retângulo, ou seja: -Para a componente de 0v r ao longo do eixo x: 0 0 0cos v v x =θ 000 cosθvv x = (27) -Para a componente de 0v r ao longo do eixo y: 0 0 0 v v sen y =θ 40 000 θsenvv y = (28) Substituindo a expressão (28) na equação (23), obtemos as equações horárias para a velocidade, ou seja: - Na direção x: xx vv 0= 00 cosθvvx = (29) - Na direção y: tgvv yy −= 0 tgsenvvy −= 00 θ (30) O vetor vr , em coordenadas cartesianas, em qualquer ponto e instante da trajetória do projétil é dado pela equação (7): j dt ydi dt xdjvivv yx ˆˆˆˆ +=+= r Substituindo a expressão (27) na equação (15) e a expressão (28) na equação (24), lembrando que: x0 = 0 e y0 = 0, se obtém as equações horárias para a posição, ou seja: - Na direção x: tvxx x00 += ( ) tvx 00 cosθ= (31) - Na direção y: 2 00 2 1 tgtvyy y −+= ( ) 200 2 1 tgtsenvy −= θ (32) A posição vetorial do projétil, em qualquer ponto de sua trajetória é dado pelo cálculo do vetor r r que é definido pela equação (1). 41 jyixr ˆˆ +=r A figura 2.29 sugere que a trajetória descrita pelo projétil, ao longo de seu movimento, seja do tipo parabólico. Sendo assim, podemos modelar matematicamente esta trajetória, por meio de uma parábola, se isolarmos t na equação (31) e substituirmos seu valor na equação (32). Efetuando as operações necessárias, obtemos: ( ) 2 0 22 0 0 cos2 x v g xtgy −= θ θ (33) A equação (33) é válida para 0 < θ0 < pi/2. Observe que a equação (33) assume a forma genérica: y = bx- cx2, que é a forma matemática de uma expressão parabólica que passa através da origem do sistema. Desta forma, está provado matematicamente que a trajetória de um projétil é do tipo parabólico, sendo completamente especificada se conhecermos os valores de v0 e θ0. C) Alcance Horizontal e Altura Máxima: Existem dois pontos especiais ao longo da trajetória do projétil da figura 2.29 que devem ser destacados. O ponto mais elevado da trajetória, denominado por h, ponto C da figura, de coordenadas planares (R/2; h), e o ponto E, denominado por R, de coordenadas (R; 0) que marca a posição em que o projétil atinge o eixo x. A distância R é denominada de alcance horizontal do projétil, e h é sua altura máxima. Em virtude da simetria da trajetória, o projétil está em sua altura máxima h quando sua posição horizontal x é metade de seu alcance R. Podemos determinar uma expressão para h, isolando o tempo t na equação (30) e lembrando que no ponto mais elevado da trajetória vy = 0: g senv t 00 θ = (34) Agora, substituindo a equação (34) na equação (32) e trocando y por h, obtemos: ( ) ( ) ( ) g senv g senv g senv g g senv senvh 2 002 00 2 0000 00 2 1 2 1 θθθθθ −= − = g senvh 2 0 22 0 θ = (35) De acordo com a equação anterior, a altura h depende diretamente da velocidade e do ângulo iniciais de lançamento. O alcance R é a distância horizontal percorrida no dobro do tempo, dado pela equação (34), necessário para alcançar o topo, isto é, em um tempo 2t. Utilizando a equação (31) e fazendo x = R e t = 2t, temos: 42 ( ) ( ) g senv g senv vtvR 00 2 000 0000 cos22 cos2cos θθθθθ === Empregando a seguinte identidade matemática: sem (2θ) = 2 sem θ cos θ, R pode ser expresso da seguinte forma: ( ) g senv R 0 2 0 2θ = (36) De acordo com a equação anterior, o alcance horizontal R depende diretamente da velocidade e do ângulo iniciais de lançamento. Exemplo resolvido 2.14 Uma bola de golfe é lançada da borda de um aclive com uma velocidade horizontal de 12 m/s, conforme ilustra a figura 2.30. Determine: A) A posição da bola depois de transcorrido 1 s do lançamento. B) O valor do deslocamento sofrido pela bola quando t = 1 s. C) O vetor velocidade, em coordenadas cartesianas, depois de transcorrido 1 s. Figura 2.30 – Trajetória percorrida pela bola de golfe do exercício resolvido 2.14. Resolução: De acordo com o sistema de coordenadas, dado pela figura 2.14, a origem do movimento está no ponto x0 = 0 e y0 =0. A velocidade inicial vale: v0 = v0x= 12 m/s e v0y = 0. A) Utilizando as equações (31) e (32) e lembrando que v0x = vo cos θ0 e v0y = v0 sen θ0, temos que quando t = 1 s as coordenadas x e y são: 43 ( ) mssmtvtvx x 121./12.cos 000 ==== θ ( ) ( ) mssmtgtvtgtsenvy y 9,41./8,9.2 10 2 1 2 1 222 0 2 00 −=−=−=−= θ x = 12 m e y = - 4,9 m. B) O módulo do vetor rr , veja a figura, é dado pela seguinte expressão: ( ) ( ) ( )[ ] 21222122 9,412 mmyxr +=+=r mr 96,12=r C) Lembrando que v0 = v0x= 12 m/s e v0y = 0. As expressões que fornecem a velocidade em função do tempo são dadas pelas equações (29) e (30), portanto, para t = 1 s temos: smvvv xx /12cos 000 === θ smssmtgvtgsenvv yy /8,91./8,90 2 000 −=−=−=−= θ Portanto, para t = 1 s, o vetor vr é dado por: ( ) ( ) jsmismjvivv yx ˆ/8,9ˆ/12ˆˆ −+=+=r Exemplo resolvido 2.15 Uma partícula é lançada a partir do solo obliquamente, atingindo altura máxima de 10 m e alcance horizontal de 40 m. Determinar: A) O ângulo de lançamento. B) A velocidade inicial da partícula Resolução: A) O problema nos fornece o valor de h e R. Comparando as equações (35) e (36) notamos que ambas dependem das mesmas variáveis, ou seja, da velocidade e do ângulo iniciais de lançamento. Procederemos da seguinte maneira: A altura máxima será dada por: g senvh 2 0 22 0 θ = 0 22 02 θsenvgh = 44 222 0 22 0 /196/6,19.10 smsmmsenv ==θ (i) O alcance horizontal é dado por: ( ) g senv R 0 2 0 2θ = ( )020 2θsenvgR = ( ) 222020 /392/8,9.402 smsmmsenv ==θ (ii) Agora, dividindo membro a membro a expressão (ii) por (i): ( ) 22 22 0 22 0 0 2 0 /196 /3922 sm sm senv senv = θ θ Aplicando a seguinte identidade matemática: sen(2θ0) = 2.sen θ0.cos θ0 na expressão anterior, obtemos que: ( ) ( ) ( ) ( ) 2 cos2 00 00 = θθ θθ sensen sen ( ) 1tan 0 =θ O que nos fornece o seguinte valor para o ângulo de lançamento: °= 450θ B) Aplicando o valor de °= 450θ na expressão (i) ou (ii), obtemos o valor da velocidade inicial. 22 0 22 0 /196 smsenv =θ 22 2 2 0 /1962 2 smv = smv /8,190 = 45 2.1.3.2 – Movimento Circular Uniforme (MCU) Conforme foi discutido no item L dos conceitos fundamentais, quando uma partícula se move ao longo de uma trajetória curva e a direção do vetor velocidade varia sem variar em módulo, então, esta partícula estará experimentando uma aceleração perpendicular a sua trajetória com sentido para o lado interno da curvatura, veja a figura 2.11. Se esta partícula estiver se movimentando ao longo de uma trajetória circular exibindo as características cinemáticas discutidas no parágrafo anterior, dizemos que ela está em movimento circular uniforme (MCU). Um satélite movendo-se em uma órbita circular, o movimento das pás de um ventilador e um patinador descrevendo uma circunferência em uma pista com velocidade constante são alguns exemplos desse movimento. Anteriormente, definimos aceleração como sendo a taxa de variação da velocidade em função do tempo (equação 10). Está é a definição universal de aceleração. Nesta seção, iremos deduzir especificamente uma expressão para a aceleração no movimento circular uniforme. A figura 2.31-A mostra uma partícula se movimentando em MCU ao longo de uma circunferência de raio R com centro O. A partícula gasta um intervalo de tempo ∆t para se mover de P1 a P2. A variação do vetor velocidade v r∆ durante esse intervalo de tempo é indicada pela figura 2.31-B. Figura 2.31 – Diagrama vetorial de uma partícula em MCU. A) Composição vetorial nos pontos P1 e P2. B) Representação gráfica do vetor ∆∆∆∆v entre pontos P1 e P2 da trajetória circular da letra A. O deslocamento angular sofrido pela partícula, designado por ∆θ, nas figuras 2.31)A e 2.31)B são iguais porque 1v r é perpendicular a linha OP1 e 2v r é perpendicular à linha OP2. Portanto, os triângulos OP1P2 (figura 2.31-A) e Op1p2 (figura 2.31-B) são semelhantes. As razões entre lados correspondentes são iguais, portanto podemos dizer que: r R v v rr ∆=∆ 1 (37) 46 O valor da aM (aceleração média) durante o intervalo de tempo ∆t é dado pela aplicação da equação (8) a questão, ou seja: t r R v t v aM ∆ ∆ = ∆ ∆ = 1 O módulo da aceleração instantânea no ponto P1 é obtido com uso das equações (9) e (10) aplicado ao limite desta expressão quando o ponto P2 tende a se superpor ao ponto P1, ou seja: t r R v t r R v a tt ∆ ∆ = ∆ ∆ = →∆→∆ 0 11 0 limlim Porém, o limite (∆r/∆t) é a velocidade v1 no ponto P1. Mas P1 pode ser qualquer ponto da trajetória, de modo que podemos remover o índice inferior e escrever a expressão para designar o valor da aceleração que a partícula irá sofrer em qualquer ponto de sua trajetória, ou seja: R v ac 2 = (38) O índice “c” na aceleração da equação (38) significa a inicial da palavra centrípeda, derivada do grego que significa: “que se dirige para o centro”. A figura 2.32 nos apresenta a relação entre os vetores vr e ca r para uma partícula executando um MCU no sentido horário (mesmo sentido do movimento dos ponteiros de um relógio). Sendo assim, podemos concluir que: No MCU, o módulo do vetor ca r é dado pela equação (38) e sua direção e sentido são dados conforme está representado na figura 2.32, ouseja, sua direção será sempre perpendicular ao vetor vr apontando para o centro do círculo de reio R. 47 Figura 2.32 – O vetor v é tangente à circunferência em cada ponto da trajetória e o vetor aceleração é dirigido radialmente para o centro da circunferência. Em muitas das situações é conveniente descrever o MCU de uma partícula em termos do período de revolução T, o qual é definido como sendo o tempo necessário para que a partícula complete uma volta inteira, ou seja, complete uma revolução. A velocidade da partícula pode ser definida como sendo igual à circunferência da trajetória circular dividida pelo período, ou seja: T r v pi2 = (39) Quando substituímos esse resultado na equação (38), obtemos a aceleração centrípeda em termos do período de revolução, ou seja: 2 24 T R ac pi = (40) Nesta seção, apresentou-se o MCU como um exemplo de um caso no qual as leis vetoriais são essenciais para compreender o movimento bidimensional. A medida que avançarmos no conteúdo do curso, técnicas vetoriais mais gerais serão empregadas na descrição de situações em que a aceleração possui tanto coordenadas radiais (centrípetas), devidas a variação da direção do vetor velocidade, quanto tangenciais, devidas a variação modular do vetor velocidade, em relação a trajetória circular descrita por uma partícula. Exemplo resolvido 2.15 Uma roda-gigante, com raio de 15 m, esta em torno de um eixo horizontal que passa pelo seu centro. A velocidade de a velocidade de uma passageira em um ponto de sua periferia vale 6 m/s. Determine a ar da passageira: A) No ponto superior da trajetória B) No ponto inferior da trajetória C) O tempo transcorrido para que a roda-gigante execute uma revolução. Resolução: De acordo com a figura 2.33, o movimento da roda-gigante, com raio de 15 m, se dá em relação ao eixo horizontal que passa pelo seu centro (ponto O). Desta forma, o ponto O será a origem do eixo y para a aceleração. A trajetória descrita pela roda-gigante é circular e sua velocidade de “giro”, em torno deste eixo, é constante e igual a 6 m/s. Estas características classificam o movimento como sendo circular uniforme (MCU). 48 Figura 2.33 – Figura do exercício resolvido 2.15. A) De acordo com o que foi acima discutido, neste movimento ca r sempre terá direção radial apontando para o centro da circunferência em qualquer ponto da trajetória, independente da direção e sentido assumida por vr . Portanto, no ponto superior da trajetória, car tem sentido direcionado ao longo do eixo ay crescente. Sendo assim, seu valor algébrico será positivo. O valor da aceleração será dado pela equação (38), ou seja: ( ) m sm R v ac 15 /6 22 == 2/4,2 smac = B) No ponto inferior, o valor de ac permanece o mesmo apenas seu valor algébrico e que é modificado em virtude do vetor ca r ter sentido direcionado ao longo do eixo ay decrescente, então: 2/4,2 smac −= C) O tempo transcorrido será dado pelo uso da equação (39): ( ) sm m v rT /6 1522 pipi == sT 7,15= 49 2.2 – Dinâmica da Partícula Nas seções anteriores descrevemos movimentos de partículas baseados nas definições de posição, velocidade e aceleração, ou seja, adotamos a cinemática como linguagem de caracterização sem maiores preocupações. A partir de agora passamos a nos preocupar em responder questões relativas ao movimento de uma partícula para as quais a cinemática não nos fornece resposta, questionamentos do tipo: qual mecanismo gera mudanças no movimento? Por que alguns corpos aceleram a taxas mais elevadas que outros? As respostas a esses e outros questionamentos nos conduzem ao estudo da dinâmica. A dinâmica estuda, essencialmente, as relações existentes entre o movimento e a força que o produziu. Portanto, para analisarmos os princípios da dinâmica usaremos as grandezas deslocamento, velocidade e aceleração juntamente com dois novos conceitos, força e massa. Esses princípios podem ser reunidos em um conjunto de três leis da dinâmica conhecidas como leis de Newton. As leis de Newton formam o alicerce da nossa compreensão cotidiana sobre o movimento e suas causas. Entretanto, essas leis apresentam limitações e falham quando tentam explicar a dinâmica de partículas atômicas (efeitos quânticos) e de objetos se movimentando a velocidades próximas a velocidade da luz (efeitos relativísticos). 2.2.1 – O Conceito de Força. As compreensões básicas do conceito de força provem do resultado de experiências diárias por nos realizadas. Quando se empurra ou puxa um corpo, se aplica uma força sobre o próprio. O conceito de força nos fornece uma descrição quantitativa da interação entre dois corpos ou entre o corpo e seu ambiente. Uma força é exercida quando se joga ou se chuta uma bola, quando uma mola é esticada ou quando se bloqueia uma bola durante uma partida de vôlei. Nesses exemplos, a palavra força está associada ao resultado da atividade muscular e a alguma mudança no estado de movimento de um corpo. Contudo, a aplicação de forças nem sempre é a garantia de que um corpo vai entrar em movimento. Por exemplo, um grande bloco de pedra em repouso pode ser empurrado por várias pessoas e mesmo assim, não modificar o seu estado de origem. Ao longo dessa seção, estaremos lidando com a relação entre a força aplicada sobre um corpo e a mudança produzida por essa sobre o estado de movimento ou repouso desse corpo. Nos exemplos anteriores, a aplicação de uma força está diretamente associada à atividade muscular. As forças provenientes desse tipo de atividade integram uma classe de forças denominadas de forças de contato. Outra classe de forças são as denominadas de forças de longo alcance (forças de campo) onde não existe contato físico entre os corpos que estão interagindo. A força gravitacional existente entre dois corpos é um exemplo desse tipo de forças. A ação da força gravitacional é responsável pelo movimento de queda livre de corpos na superfície terrestre, e pela manutenção das órbitas planetárias de nosso sistema solar. Outro exemplo comum de força de longo alcance é a força elétrica que uma carga elétrica exerce sobre outra carga elétrica, por exemplo: a atração existente entre um próton e um elétron e vice- versa. Um terceiro exemplo de força de longo alcance é a força magnética que um imã exerce sobre um pedaço de ferro ou sobre outro imã. 50 A distinção entre forças de contato e de longo alcance é recomendada para uma melhor compreensão dos fenômenos macroscópicos, porém, verifica-se a nível atômico, que todas as forças classificadas como sendo de contato são devidas a forças de campo do tipo elétricas. Retornaremos a falar sobre força na seção referente a segunda lei de Newton, lá definiremos quantitativamente força em termos dos conceitos de massa e aceleração. 2.2.2 – Primeira lei de Newton (Princípio da Inércia). Denominamos por “Lei” ou “Princípio” a toda proposição que se admite como verdadeira, sem, contudo ser evidente por si mesma (como nos axiomas), nem admitir uma demonstração matemática direta (como os teoremas). A lei física deve ser sugerida pela observação da natureza e deve ter verificação indireta, através de suas conseqüências, que devem estar de acordo com a experiência. Anteriormente a Galileu Galilei (1564-1642), prevalecia o pensamento de Aristóteles de Estagira (384–322 A.C.) que associava a idéia de força a movimento. Assim, de acordo com
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