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CULTURA BRASILEIRA

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CULTURA BRASILEIRA / AULA 1 - INTRODUÇÃO À 
CULTURA BRASILEIRA 
 
 Nesta aula, será enfatizada a importância do estudo da Cultura como um todo e da Cultura 
Brasileira, em particular, como elemento necessário para uma formação humano-profissional. Será 
explicitada sua importância, pertinência e atualidade, justificando sua relevância como disciplina nos 
currículos escolares, sobretudo, nos currículos das universidades. 
 
INTRODUÇÃO À CULTURA BRASILEIRA 
 
 Dentre os fatores mais relevantes para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem está a 
motivação. 
 A motivação do adulto está principalmente em entender a relevância do que estuda, assim 
como em descobrir aplicabilidade do conhecimento que adquire ou pretende adquirir. 
 
POR QUE ESTUDAR A CULTURA BRASILEIRA ATRAVÉS DESTA DISCIPLINA? 
 
 Por permitir a compreensão da história de nossa cultura e o papel dos indivíduos na construção 
de nossa sociedade. 
 
QUAIS OS PRINCIPAIS OBJETIVOS DO CURSO? 
 
 Propiciar o conhecimento de matrizes fundadoras das explicações do Brasil. 
 Compreender o papel da cultura na construção da sociedade brasileira e de promoção do país 
no contexto mundial. 
 Este conteúdo contribuirá para a melhor compreensão do Brasil contemporâneo, de noções 
de cidadania e, consequentemente, ensejará uma visão mais crítica da realidade e um compromisso 
ético de sua profissão. 
 Esta disciplina pretende refletir sobre a complexidade da cultura e da identidade cultural; 
proporcionar o domínio razoável das questões fundamentais das principais linhas de interpretação da 
sociedade brasileira no século XX, identificando-as, inclusive, numa perspectiva histórico-sociológica. 
Além de problematizar a questão da identidade cultural brasileira, assim como, caracterizar a cultura 
e as identidades nacionais num contexto da Globalização e do Multiculturalismo. 
 É necessário destacar também a relação da disciplina Cultura Brasileira com as demais 
disciplinas do curso de Letras, visto que a riqueza do conceito de cultura e a perspectiva histórico-
cultural do processo de formação da sociedade brasileira que cercam a disciplina certamente facilitam 
e deixam clara a compreensão daquela relação. 
 
 O CURSO ESTÁ ESTRUTURADO EM: 
 
TEMAS 
 Os temas a serem abordados pela disciplina sempre estarão voltados para uma consciência 
histórico-cultural indispensável à construção do conhecimento e de um senso crítico fundamentais à 
formação de qualquer profissional. 
 
CONCEITOS 
 
 Serão trabalhados quatro conceitos: 
1. Cultura 
2. Identidade nacional brasileira (numa perspectiva histórica). 
3. Globalização 
4. Multiculturalismo (levando em consideração seus efeitos sobre a cultura). 
 
UNIDADES 
 
 O conteúdo programático foi estruturado em três unidades: 
• Primeira - Abordará além do conceito de Cultura, conceitos fundamentais para a sua compreensão. 
• Segunda - Se ocupará, especialmente, das tentativas de interpretações da sociedade brasileira e da 
construção da identidade cultural. 
• Terceira - Tratará do projeto de globalização, seus efeitos e desafios à cultura. 
 
CULTURA 
 
 Compreender cultura como algo construído pelos indivíduos, na sua diversidade e sua relação 
com a história da humanidade, também é compreender a si mesmo como sujeito histórico e 
consciente. Tal conhecimento permite uma visão mais crítica da realidade não só brasileira, mas global. 
 
O PAPEL DA CULTURA 
 
 Nunca é demais reiterar a importância do papel da Cultura na construção das sociedades 
modernas. Para se compreender essa relação no caso da sociedade brasileira, partiremos das matrizes 
fundadoras das explicações do Brasil. 
 
O HISTÓRICO DA CULTURA 
 
 Os principais teóricos brasileiros em cultura, a partir dos anos 1930, deixaram de tentar 
responder quem eram os brasileiros e passaram a querer entender: o porquê do Brasil ser pobre, qual 
a razão de seu atraso social, cultural e econômico. Além disso, houve uma mudança no pensamento 
da elite cultural brasileira (A elite intelectual brasileira, especialmente as do campo sociológico e 
econômico, tomou cada vez mais consciência das desigualdades sociais, da miséria, dos desequilíbrios 
regionais, do mau funcionamento das instituições, das debilidades políticas e morais que prejudicavam 
o bom funcionamento das coisas, tratando de, cada um a seu modo, engajar-se na tarefa de explicar e 
transformar o país contemporâneo). 
 Essa disciplina será traduzida em conteúdo amplo, por meio de aulas expositivas que 
certamente irão contribuir para a compreensão das noções de cidadania, identidade cultural, memória 
coletiva e sua importância, nos dias atuais, para a construção da democracia e do futuro do país, 
inserido num sistema global e multicultural. 
 Todo e qualquer processo de ensino-aprendizado é sempre mais produtivo quando há 
empenho e interesse de todos, concorda? 
 Esse interesse pode ser manifestado quando há o acompanhamento por meio das leituras 
indicadas e da execução de tarefas e atividades propostas, por parte dos próprios alunos. 
 A educação é um processo de construção de conhecimento que deve estimular a criação de 
ideias e a sensibilidade para problemas recorrentes nas vidas de cada indivíduo. Nesse 
processo, professor e alunos são parceiros numa relação amigável, consciente e criativa. 
 Por parte do professor, a orientação do melhor caminho, a mediação de resultados e, se 
necessário, uma reorientação, isto é, a avaliação permitirá, após o resultado de cada etapa, uma 
reflexão acerca dos pontos positivos e recomendações acerca daquilo que não alcançou o estágio 
satisfatório. Este cuidado tem sentido inclusivo, acolhedor e não seletivo e autoritário. 
 E o seu papel aluno, você já sabe? 
 Além da leitura que mencionamos, a participação em fóruns e chats propostos também é 
importante, pois o debate estimula a criação de ideias e ajuda na compreensão das questões mais 
complexas. Sabemos que os estudos universitários exigem esforços ordenados e que é fundamental 
fazer anotações tanto das leituras quanto das falas de colegas e, sobretudo do professor para que estas 
sirvam como recurso auxiliar das leituras e reflexões que irão fortalecer a aprendizagem e enriquecer 
as aulas. 
 Também sabemos que não se aprende para um uso futuro somente, por isso é importante ir 
se autoavaliando e incorporando a aprendizagem no dia a dia. 
 Aprender é um processo de superação de ideias preconcebidas, preconceituosas, 
estereotipadas e egocêntricas que devem ser modificadas à medida que se forma um senso crítico 
construído no processo de conhecimento. Isso dará lugar a ideias claras, inteligentes, formuladas com 
sensibilidade crítica, com a ajuda dos estudos sistemáticos. 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 2 - O QUE SE ENTENDE POR 
CULTURA? 
INTRODUÇÃO 
 
 Nesta aula, serão expostas algumas definições de cultura e de identidade cultural e suas 
complexidades. Como consequência dessa complexidade, abordaremos o significado de 
etnocentrismo e seus efeitos na cultura, algumas questões relacionadas à diversidade cultural e à 
importância de certo relativismo quando se tem em vista a cultura. 
 É certo que a Cultura é uma preocupação contemporânea, muito presente nos tempos atuais. 
Além disso, é uma forma de entender os diversos caminhos que conduziram os grupos humanos a suas 
relações presentes e suas perspectivas de futuro. 
 Vejamos os significados para cultura ao longo da história 
 Vinda do verbo latino colere (cultivar, criar, tomar conta e cuidar), Cultura teve como 
significado: 
 
 A cultura era a educação do espírito das crianças para tornarem-se membros excelentes e 
virtuosos da sociedade pelo refinamento e aperfeiçoamento das qualidades naturais, como o caráter, 
a índole e o temperamento sem excessos. 
 Desta forma, Cultura seria o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido 
amplo. 
 No século XVIII,passa-se a entender por cultura os resultados da formação ou educação dos 
seres humanos. 
 Resultados esses observados em obras realizadas, feitos, ações e instituições, tais como as 
artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. 
 Torna-se, a Cultura, portanto, sinônimo de civilização. 
 Os pensadores, dessa época, entendiam que o resultado dessa formação-educação se 
manifesta muito claramente na vida social e política ou na vida civil (Inicia-se o processo de separação 
e posterior oposição entre Cultura e Natureza. Os pensadores do século XVIII viam uma diferença 
essencial entre os seres humanos e a Natureza: enquanto homens e mulheres são dotados de 
liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com valores e fins, a Natureza é da ordem da 
necessidade causal, do determinismo absoluto. Enquanto a Natureza é repetição, a Cultura é 
transformação racional: relação, portanto, dos humanos com o tempo e no seu tempo) (do latim, cives, 
cidadão; civitas, a cidade-Estado). 
 No século XIX, observa-se uma atenção dirigida a formas sistemáticas de se estudar as culturas 
humanas, de se discutir sobre elas. Esses estudos se intensificaram na medida em que se aceleravam 
os contatos, nem sempre pacíficos, entre povos e nações. 
 As reflexões em torno da cultura se voltaram tanto para compreensão das sociedades 
modernas e industriais quanto das que iam desaparecendo ou perdendo suas características originais 
em virtude daqueles contatos. 
 É bom frisar que toda essa preocupação NÃO produziu uma definição clara e unânime do que 
seria cultura e isso mostra a dificuldade de conceituá-la. Hoje, pode-se elencar algumas concepções 
de cultura, para evidenciar sua complexidade. 
 
SÃO BASICAMENTE DUAS CONCEPÇÕES DE CULTURA: 
 
1 - A primeira concepção, nos remete a todos os aspectos de uma realidade social. Embora ela seja 
mais genérica, é mais usual quando se fala de povos e de realidades sociais bem diferentes das nossas, 
com os quais partilhamos de poucas características em comum. 
2 - Na segunda concepção básica de cultura, observa-se também a referência à totalidade de 
características de uma realidade social, já que não se pode falar em conhecimento, ideias, crenças sem 
pensar na sociedade à qual se referem. Essa concepção diz respeito a uma esfera, a um domínio, da 
vida social. 
 Uma definição mais completa de cultura está formulada no Dicionário Filosófico Abreviado, de 
M. Rosental e P. Iudin que define cultura como sendo um nível de desenvolvimento alcançado pela 
sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituições 
correspondentes. Entre os índices mais importantes do nível cultural, em determinada etapa histórica, 
segundo esses autores, é preciso notar o grau de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos 
desenvolvimentos científicos na produção social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens 
materiais, assim como o grau de difusão da instrução, da literatura e das artes em geral entre a 
população. 
 Segundo os especialistas em Estudos Culturais, as identidades culturais dizem respeito àqueles 
aspectos de nossas identidades que surgem de nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, 
linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. 
 Na construção da identidade nacional brasileira, se observa, que em diferentes épocas e sob 
diferentes aspectos, a questão da identidade nacional esteve vinculada, com frequência, à 
problemática da cultura popular. 
 Vários são os exemplos, não só no Brasil, que associam a identidade nacional à cultura popular, 
por isso, pode-se dizer que a relação entre nacional e popular se manifesta no interior de um quadro 
mais amplo, isto é, o Estado. 
 Um exemplo de memória coletiva popular é a prática do candomblé, que ao definir um espaço 
social sagrado, o terreiro, possibilita a encarnação da memória coletiva africana em determinados 
enclaves da sociedade brasileira. Assim, a origem é recorrentemente relembrada e se atualiza através 
do ritual religioso. A memória coletiva popular deve se transformar em vivência, pois somente dessa 
forma fica assegurada a sua permanência através das representações. 
 Enquanto a memória coletiva popular é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a 
uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano. 
 O exemplo de memória coletiva (o candomblé) mostra a necessidade de a tradição se 
manifestar enquanto vivência de um grupo social restrito, a memória nacional se mostra em outro 
plano, visto que está vinculada à história e, assim sendo, pertence à esfera da ideologia. 
 Um mito é encarnado por um grupo restrito; já a ideologia se estende à sociedade inteira. A 
memória nacional, dessa forma, não é propriedade particularizada de nenhum grupo social, pois ela 
se define como um universal que se impõe a todos os grupos. Ela não possui uma existência concreta, 
mas virtual, daí não poder se manifestar como vivência. 
 
IDENTIDADE CULTURAL MAIS UM ENFOQUE 
 
 Embora possa ser entendida como um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios 
simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre 
os membros de uma sociedade, identidade cultural é um conceito de trânsito intenso e tamanha 
complexidade, que pode envolver um amplo número de situações que vão desde a fala até a 
participação em certos eventos. 
 Caberia ressaltar, ainda, que com o desenvolvimento das sociedades modernas, muitos 
teóricos tiveram grande preocupação em apontar o enorme “perigo” que o avanço das transformações 
tecnológicas, econômicas e políticas poderiam oferecer a determinados grupos sociais. Por outro lado, 
pode-se apontar para algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das Ciências 
Humanas que desempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito de identidade 
cultural. De acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento da globalização, 
a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que 
definem o indivíduo e a coletividade a qual ele faz parte. Um dos mais conhecidos exemplos dessa nova 
tendência que pensa a questão das identidades pode ser encontrada na obra do pesquisador Nestor 
Garcia Canclini. Em vários de seus escritos, este pensador tem a recorrente preocupação de analisar 
diversas situações em que mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas como um 
patrimônio a ser preservado. Longe disso, ele assinala que o intercâmbio e a modificação são caminhos 
que orientam a formulação e a construção das identidades. Destaca-se que com as novas noções de 
identidade, antigos temas relacionados à cultura que aparentavam completo esgotamento ganharam 
um novo fôlego interpretativo. 
 As identidades passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos estudos vão 
contra a ideia de que uma população deve abraçar a sua cultura e garantir todas as formas possíveis 
de cristalizá-la. Dessa forma, presenciamos a abertura de novas possibilidades de entender o 
comportamento do homem com seu mundo. 
 O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como "certo" ou 
"errado", "feio" ou "bonito", "normal" ou "anormal" os comportamentos e as formas de ver o mundo 
dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. 
 Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo. Os 
estereótipos são uma maneira de biologizar as características de um grupo. 
 O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao definir a priori 
quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se aproxima também do preconceito. 
DINAMISMO CULTURAL 
 
 O caráter dinâmico da cultura é extremamente relevante, pois muitas vezes a cultura é 
associadaà ideia de "tradição", quando na verdade foi pensada como algo imutável, que tenderia a se 
reproduzir sem perder suas características. 
 A dinâmica cultural está diretamente relacionada à diversidade cultural existente em nossa 
sociedade. Esta se confunde muitas vezes com a desigualdade social – que deve ser combatida – e com 
um universo de preconceitos – que devem ser superados. 
 
RELATIVISMO CULTURAL 
 
 Seria pertinente salientar que o mais correto politicamente é se pensar na possibilidade de um 
verdadeiro relativismo cultural cujo princípio afirma que todos os sistemas culturais são 
intrinsecamente iguais em valor, e que os aspectos característicos de cada um têm de ser avaliados e 
explicados dentro do contexto do sistema em que aparecem, por um lado; por outro, entender e 
interiorizar o diferente como um sujeito igual em direitos e oportunidades. 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 3 - O POPULAR, O ERUDITO E O 
PAPEL DO INTELECTUAL 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Nesta aula, abordaremos dois conceitos bastante controvertidos, que se ligam ao campo de 
estudos sobre Cultura. Trata-se da definição de “popular” e de “erudito”; das questões devem ser 
consideradas em suas conceitualizações. Em seguida, examinaremos algumas questões relacionadas 
ao conceito de “Intelectual”, este sujeito que demonstra interesse pronunciado pelas coisas da cultura, 
em toda sua amplitude e complexidade. 
 Concluiremos com observações acerca do papel do intelectual na sociedade e suas relações 
com o poder e da figura do intelectual nos dias de hoje. 
 Os conceitos popular e erudito são tomados como opostos. 
 O vocábulo erudito vem do latim erudítus, aquele “que obteve instrução, conhecedor, sábio”. 
 A palavra popular, também tem origem no latim populare, significa “de ou do próprio povo”. 
 
 Tradicionalmente, esses termos são carregados de ideologias. 
 Ao citar essas palavras em determinados contextos, já se revela a natureza do discurso. 
 Trata-se de dois polos extremos de um pensamento dicotomizado, maniqueísta e tendencioso. 
 Entretanto, a expressão cultura popular e erudita/elite é criticada por certos estudiosos, como 
Roger Chartier e, dada a sua extensão e impressão homogeneizante que passa. 
 
ROGER CHARTIER 
 Se for verdade que esta relação integra o quadro mais abrangente do Estado, é necessário 
saber que tipo de relação é esta. 
 Chartier, defende a ideia de que os sujeitos se apropriam e representam as práticas culturais 
de formas diversas. 
 
PETER BURKE 
 
 Já Burke, cunhou o termo “biculturalidade”, para expressar o quanto membros das elites 
conheciam e participavam da cultura popular, ao mesmo tempo em que preservam sua cultura. 
O POPULAR E O ERUDITO NO MODERNISMO BRASILEIRO 
 
 Na visão dos modernistas, somente a arte que integrasse a cultura erudita e a popular poderia 
representar o Brasil. 
 Os modernistas pretendiam reformular a visão de cultura até então vigente, integrando as 
duas culturas, para unificá-las em uma só: a cultura brasileira. Essa visão de cultura popular modificou-
se nos anos 60 do século XX, durante o regime militar, por aqueles que organizaram o movimento de 
contestação de caráter social e cultural chamado Contracultura. 
 Assim, um movimento de cultura popular deveria ser fundamentalmente revolucionário e 
fazer arte com o povo, e não para o povo. 
 Entretanto, sabe-se hoje, que entre o popular e o erudito não há um abismo, mas uma 
passagem gradual. 
 
O INTELECTUAL 
 
Para tratarmos do intelectual vamos considerar três definições clássicas do termo: 
 
O Intelectual Orgânico 
 
Para Gramsci certo tipo de agente é capaz de fazer a ligação entre a “superestrutura” e a 
“infraestrutura”, independente de sua escolaridade específica, mas relacionada diretamente com o 
“lugar” que ocupa nas relações materiais/sociais de uma determinada produção social. 
Como alguém sustentado por uma base material econômica e por uma ideologia emanada 
desta base que procura mantê-la, e aqueles que estão fora do poder, mas produzindo para este poder 
e afetados por sua ideologia. 
 A mediação se daria por meio da organização e formação de um senso crítico, junto a esse 
grupo, construído com a contribuição dos intelectuais. 
 
O Intelectual Engajado 
 
 O intelectual é uma figura que intervém criticamente na esfera pública, transgredindo a ordem 
e criticando o existente, inclusive, a forma e o conteúdo da própria atividade das artes, ciências, 
técnicas, filosofia e direito. 
 Um “personagem” engajado que é contra todas as formas de exploração e dominação 
vigentes; é a favor da emancipação ou da autonomia em todas as esferas da vida econômica, social, 
política e cultural, o que o diferencia do ideólogo que fala a favor da ordem vigente, justificando-a e 
legitimando-a. 
 
O Intelectual Universal 
 
 O intelectual apresentado por Michel Foucault pode ser qualquer um, já que segundo ele a 
estrutura de poder deve funcionar em uma sociedade por meio de um sistema disciplinar disperso, 
que funciona anonimamente, através de um controle incessante que se faz valer de práticas discursivas 
para aplicar-se sobre os sujeitos; sujeitos estes que aparecem sujeitando-se, como efeito de operações 
de poder. 
 Tal poder disciplinar está intrinsecamente ligado às ciências humanas, enquanto sistemas de 
conhecimento sobre seres humanos, dentre os quais a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise 
assumem posição privilegiada. 
 
 Enquanto mediador simbólico, os intelectuais são os agentes que constroem, por exemplo, a 
identidade nacional; são os artífices desta identidade e da memória nacionais, desempenhando a 
tarefa de mediadores simbólicos. 
 Todos se dedicam a interpretar o país cuja identidade será o resultado do jogo das relações 
apreendidas por cada autor, podendo ser chamados de mediadores simbólicos. 
 A construção da identidade nacional necessita desses mediadores, pois são eles que descolam 
as manifestações culturais de sua esfera particular e as articulam a uma totalidade que as 
transcendem. 
 Embora as concepções do intelectual engajado de Sartre e do intelectual orgânico de Gramsci 
estejam presentes até hoje, sobretudo entre os pensadores ditos de “esquerda”, a urgência hoje, passa 
por uma reformulação desta moral do engajamento, desta “vontade de servir” (ou dever). 
Talvez hoje seja indispensável reavaliar a relação indivíduo/sociedade e consequentemente a relação 
entre intelectual e grupo social. 
 Para se entender melhor o papel dos intelectuais hoje, seria preciso definir novos tipos de 
relações que unem o indivíduo aos grupos. 
 
CULTURA BRASILEIRA AULA 4 – CULTURA NAS 
SOCIEDADES DE CLASSES 
INTRODUÇÃO 
 
 Nesta aula, desenvolveremos alguns conceitos atribuídos à Ideologia, ressaltando suas 
diferenças. Em seguida, analisaremos o significado de Indústria Cultural, conceito atrelado ao de 
Ideologia pelos pensadores da Escola de Frankfurt. Por fim, debateremos acerca da relação entre 
Ideologia, Indústria Cultural e Sociedade de Consumo, e o início e a consolidação da Indústria Cultural 
no Brasil. 
 
Cultura nas Sociedades de Classes 
 
 Para relacionar cultura com as sociedades ditas de classes, como são as sociedades modernas, 
faz-se necessário, primeiramente, algumas reflexões em torno do termo ideologia. 
 A ideologia consiste na separação entre pensamento e ação, cultura e materialidade, sujeito e 
objeto, tanto em sua concepção: 
 
 
Ideologia Marxista 
Base da ideologia: 
 
 
 
 
Ideologia segundo os pensadores da Escola de Frankfurt 
 
Base da ideologia: 
 
 
 
 
 
 O objetivo do grupo era romper os grilhões de todos os sistemas fechados de pensamento e 
combater tradições que haviam bloqueado o desenvolvimento do projeto crítico. Em suas análises, 
esses teóricos fazem referência à separação, largamente difundida na Alemanha, entre cultura e 
civilização. 
 O conceito marxistade ideologia sofre transformações importantes no século XX, provocadas 
pelo pensamento dos teóricos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Marcuse), na Alemanha 
dos anos de 1930. 
 
A INDÚSTRIA CULTURAL DE MASSAS E A SOCIEDADE DE CONSUMO 
 
 Adorno e Horkheimer elaboraram o termo indústria cultural, com a finalidade de solucionar 
uma confusão a respeito da diferença entre cultura de massas e cultura popular. 
 O conceito indústria cultural esclarece que não se trata de uma cultura produzida pela massa, 
mas uma cultura do capitalismo voltada para o consumo em massa. 
 Ao ser transformada em bem de consumo que adapta os indivíduos à realidade existente e 
subjuga-o ao poder do sistema, a cultura resultará na indústria cultural. 
 A potencialidade da cultura como esfera da formação do indivíduo, a qual pressupunha a 
autonomia do sujeito e de sua relação crítica e contestadora com a totalidade é transformada pela 
indústria cultural em esfera de alienação e adaptação acrítica do indivíduo à realidade. 
 
A INDÚSTRIA DA CULTURA NO BRASIL 
 
 A indústria cultural adquire seu pleno desenvolvimento no Brasil e se consolida 
em decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: 
um de natureza política e outro de natureza econômica. 
 O processo de implantação das indústrias de bens simbólicos, no entanto, começa antes, nos 
anos 60, embora só se consolide na década de 70. 
 Mesmo que nas décadas anteriores aos anos 1960 possam ser encontrados empreendimentos 
empresariais no setor da cultura e da comunicação (jornais, emissoras de rádio, editoras, gravadoras 
etc.), assim como um insipiente mercado para esses bens, 
não se pode dizer que tivessem as características próprias daquele tipo de atividade que Adorno e 
Horkheimer, em 1947, denominaram de indústria cultural. 
 Na década de 40, segundo o antropólogo Renato Ortiz, as empresas culturais existentes 
procuravam expandir suas bases materiais, mas encontravam grandes obstáculos que se interpunham 
ao desenvolvimento do capitalismo brasileiro, o que colocava limites concretos 
para o crescimento de uma cultura popular de massa. 
 Dessa forma, é possível dizer que os anos 40 e 50 marcam o momento de incipiência de uma 
sociedade de consumo de massa no Brasil, porque a sociedade ainda não estava estruturada de forma 
a atribuir significado e amplitude social aos meios culturais que possuía. 
Já as décadas de 60 e 70 se definem pela consolidação do mercado de bens culturais. 
 
Cultura Brasileira / Aula 5 - Formação Étnica do Povo 
Brasileiro 
 
Introdução 
 
 Nesta aula, diferenciaremos os conceitos de etnia e raça, a fim de evidenciar a formação étnica 
de um povo. 
 
FORMAÇÃO ÉTNICA DO POVO BRASILEIRO 
 
 Para se falar da formação étnica de um povo, é necessário que comecemos por diferenciar o 
conceito de “etnia” do conceito de “raça”. 
 
 O conceito de raça é uma construção social forjada nas tensas relações entre brancos, negros 
e indígenas. Não tinha relação com o conceito biológico de raça cunhado no século XIX e que hoje está 
superado. Tem uma conotação política e é utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras, 
para informar como determinadas características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre 
outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no 
interior da sociedade brasileira. 
 
 
 Quanto à etnia, o termo marca as relações tensas por causa das diferenças na cor da pele e 
nos traços fisionômicos que caracterizam a raiz cultural plantada na ancestralidade dos mais diversos 
grupos, que difere em visão de mundo, valores e princípios de origem indígena, europeia ou asiática.
 
 O termo étnico é fundamental para demarcar que indivíduo pode ter a mesma cor da pele que 
o outro, o mesmo tipo de cabelo e traços culturais e sociais que os distingue, caracterizando assim 
etnias diferentes. 
 
MISCIGENAÇÃO E SINCRETISMO 
 
 A heterogeneidade presente na formação (étnica, cultural, social) da população brasileira 
gerou discussões historicamente marcadas pela diversidade de enfoques desde os primeiros trabalhos, 
a partir do século XIX. 
 Esta visão da formação do povo brasileiro começa com a explicação biologizante da mescla de 
três raças: a branca, a indígena e a africana. 
 Foi a chegada de imigrantes europeus que instigou a busca por uma visão biológica, 
salientando nossa capacidade singular de absorção do "outro". 
 A fábula de três raças surgiu ainda no Brasil Império, entre os pesquisadores naturalistas e 
ganhou a adesão de cronistas e escritores, em meio às teorias da época que relacionavam os saberes 
biológicos com os sociais. 
 Os autores que formularam as impressões do que viam se consolidar por aqui inclinavam-se 
por caminhos divergentes, mantendo, porém, uma matriz comum: a constatação da mestiçagem 
racial. Esta foi vista ou como uma elaboração biocultural inusitada e sublime ou como algo perigoso e 
lamentável. 
 
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL 
 
 A sociedade brasileira se identifica com o traço multiétnico 
e cultural que lhe é constitutivo, mas vive este de forma tensa. 
 Na prática, o Brasil branco e europeizado, mais tarde branco e americanizado, não soube como 
fazer com a diversidade cultural que a nossa formação configurou; não a integrou de fato, 
quando muito de direito. 
 O conceito de “nação” pode ser utilizado como um dispositivo discursivo que apazigua 
elementos diversos em uma aparente unidade. Dessa forma, os vários grupos étnicos, 
classes sociais e gêneros que constituem a sociedade são representados como pertencentes à mesma 
identidade nacional, suprimindo as múltiplas identidades culturais que perpassam 
os membros de uma nação. 
 
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL 
 
 Se o imaginário nacional instaura uma suposta igualdade entre esses membros, isso não se 
confirma no espaço real, onde as desigualdades entre as classes sociais não permitem que todos 
usufruam dos mesmos recursos; assim, esse conceito é construído ao longo do tempo de acordo com 
as representações, nessa cultura nacional, de sua nacionalidade. 
 Uma nação constitui-se não apenas de uma organização política, mas, principalmente, de um 
sistema de significação cultural. 
 Neste sistema, os discursos que narram a nação serão ambivalentes ideologicamente por 
serem o produto de um processo histórico contínuo. A identidade cultural, como sabemos, é algo que 
se constrói ao longo do tempo e se manifesta de muitas maneiras. 
 Não há nação sem identidade nacional, porém, tais identidades são construídas 
permanentemente e nunca completadas, e nesta construção estão envolvidos intelectuais, artistas, 
povo e Estado. 
 
DISCURSOS FUNDADORES 
 
 No Brasil, foram várias as tentativas de se pensar uma identidade cultural para a nação 
brasileira. Entre essas tentativas, destacamos alguns momentos: 
 
 
SILVIO ROMERO (1851-1914) E A IDENTIDADE BRASILEIRA 
 
 Para Silvio Romero, o passado colonial foi um problema central. Os fundamentos essenciais da 
nacionalidade remontariam aos tempos coloniais, mas ali também estaria a origem do atraso 
brasileiro. Em última estância, a tradição colonial era um fardo, pois de lá provinham as “raças 
inferiores” e a pesada herança escravocrata. 
 
EUCLIDES DA CUNHA (1866 – 1909) E O BRASIL DE CANUDOS 
 
 Autor de Os Sertões, de 1902, obra em que apresenta a realidade social do interior do país, em 
grande parte desconhecida pela consciência intelectual brasileira, republicana, racista e positivista. 
 Ao relatar a guerra de Canudos no sertão da Bahia em 1897, apresenta o sertanejo como 
homem antes de tudo forte no contexto de um meio ambiente natural e político-social gravemente 
hostil, quando esta era uma surpreendente novidade para uma intelectualidade que a época justificava 
o atraso cultural do paíspelos maus costumes coloniais da mestiçagem. 
 
OS INTÉRPRETES DO BRASIL DO SÉCULO XX 
 
 
 
 
 
 
 
 A teoria do lusotropicalismo formulada pelo sociólogo Gilberto Freyre, durante a primeira 
metade do século XX, supõe a existência de uma civilização original que se ergueu sobre os alicerces 
decorrentes da expansão portuguesa por zonas tropicais do mundo e do modo particular dos 
portugueses de se relacionar com as populações indígenas. Através desta interação, que contempla a 
mútua influência em várias dimensões da vida cotidiana, nomeadamente no estilo de se vestir, na 
culinária, no comportamento social, nos ritos religiosos, assim como, na expressão idiomática de dois 
ou, no caso do Brasil, de três elementos, que se criaram sociedades híbridas na sua composição 
etnocultural. 
 
Cultura Brasileira / Aula 6 - A dialética Literatura e História 
 
Introdução 
 
 Nesta aula, compreenderemos a importância da relação entre literatura e história na formação 
cultural brasileira. 
 
A LITERATURA COMO UM FATO CULTURAL 
 
 Entender a importância da relação entre literatura e história, na formação cultural brasileira, 
é fundamental quando falamos sobre este assunto. 
 A Literatura pode ser entendida como um sistema de obras ligadas por denominadores 
comuns que fazem dela aspecto orgânico da civilização, isto é, fazem dela parte constitutiva da 
civilização. 
 Assim, a literatura é vista como um fato de cultura, algo, portanto, que não 
surge pronto e acabado, mas que se configura ao longo de um processo cumulativo de articulação com 
a sociedade. 
 A reflexão sobre a “forma” (literária) deve ser entendida como uma dupla articulação – social 
e artística – que implica a percepção de que ela funcionaria como princípio mediador, capaz de 
organizar em profundidade os dados da ficção e do real, sendo parte dos dois planos. 
FORMA LITERÁRIA E FUNÇÃO HISTÓRICA 
 
 A forma, como noção que abrange a esfera literária e a própria vida real, assinala que há uma 
articulação entre estética e fator social que se faz mediante um fundamento prático histórico. 
 A conjunção entre literatura e sociedade – enquanto “estruturas” complementares – se dá na 
medida em que a concepção de forma é definida para além da esfera literária: a própria realidade 
histórica é, com efeito, ela mesma “formada”. 
 
A QUESTÃO DO LOCAL E DO UNIVERSAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO CULTURAL BRASILEIRO: 
 
 Ao pensarmos a dialética de local e universal, que está pressuposta no movimento crítico da 
“Malandragem”, podemos ressaltar um aspecto fundamental para a realidade do pensamento 
intelectual brasileiro: 
Colhendo um problema histórico-social em sua cor local, opera-se a apreciação da cena internacional 
e a interpretação da sociedade contemporânea. 
 Trata-se de um primeiro estrato universalizador, em que fermentam arquétipos válidos para a 
imaginação de um amplo ciclo de cultura. 
 Há, porém, um segundo estrato de cunho mais restrito, no qual se encontram representações 
da vida capazes de estimular a imaginação de um universo menor dentro deste ciclo: o brasileiro. 
 
A “DIALÉTICA DA MALANDRAGEM” OU “DA ORDEM E DA DESORDEM” 
 
 Seria o universal no particular, fazendo com que esses dois mundos se toquem continuamente. 
E é nesse segundo estrato brasileiro que nos deparamos com a dialética da ordem e da desordem, 
como “modos de existência”. São “brasilidades”: a casa e a rua - a comida quente - a religião - o 
malandro - o carnaval - o futebol 
 Uma combinação dinâmica e especial de possibilidades universais. 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 7 - IDENTIDADE CULTURAL 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Nesta aula, analisaremos a questão da identidade na contemporaneidade. O argumento dos 
debates que giram em torno dessa questão diz que as "velhas identidades", que por tanto tempo 
estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o 
indivíduo moderno. 
 Vamos começar essa aula com a reflexão de um crítico contemporâneo chamado Kobena 
Mercer, citado por Stuart Hall, que diz que: 
 
 
 Considerando essa reflexão, passamos ao foco da aula que é a questão da identidade na 
contemporaneidade. 
 O argumento dos debates que giram em torno da questão Identidade Contemporânea diz que 
as “velhas identidades”, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo 
surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno. 
É a chamada “crise de identidade”. 
 Ela é vista como parte de um processo mais amplo de mudança que está deslocando as 
estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência 
que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. 
 
IDENTIDADE CULTURAL E O SUJEITO CONTEMPORÂNEO 
 
 As “velhas identidades” que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, 
fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, visto até aqui como um sujeito 
unificado. 
 
CRISE DE IDENTIDADE 
 
 Um tipo diferente de mudança está transformando as estruturas das sociedades modernas 
desde os meados do século XX. 
 Tal mudança é responsável pela fragmentação das paisagens culturais de classe, gênero, 
sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações 
como indivíduos sociais. 
 Essas transformações atingem nossas identidades pessoais, pondo em xeque a ideia que temos 
de nós próprios como sujeitos integrados. 
 Esta perda de um “sentido de si estável” é chamada de “deslocamento” ou “descentração” 
do sujeito. 
 Um tipo diferente de mudança está transformando as estruturas das sociedades modernas 
desde os meados do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 8 - A SOCIEDADE GLOBAL 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O mundo ampliou-se além da capacidade interpretativa dos conceitos já conhecidos que 
partem, sobretudo, das ciências sociais. Nesta aula, analisaremos as noções de sociedade global, que 
vivenciamos hoje. 
 O cientista social Octavio Ianni, em sua obra A sociedade global afirmou que o mundo ampliou-
se além da capacidade interpretativa dos conceitos já conhecidos, que partem sobretudo das ciências 
sociais. 
 Nessa afirmação, o autor faz referência a noções de sociedade global que experimentamos 
hoje. 
 O indivíduo e a sociedade já não se situam apenas no âmbito da nação e de sua história. 
 As biografias já não expressam nem a autonomia ou identidade do indivíduo, nem podem ser 
explicadas, de modo satisfatório, no âmbito do grupo, classe ou sociedade nacional. 
 
A SOCIEDADE GLOBAL 
 
 A cultura, além das formas conhecidas, como expressão e condição de classes, etnias, 
minorias, sociedades e outros, está impregnada de padrões e valores, ideias e imaginários, 
provenientes destes grupos situados além. As relações, os processos e as estruturas de dominação e 
apropriação, antagonismo e integração, ultrapassam fronteiras. 
 
O QUE É GLOBALIZAÇÃO? 
 
 A globalização se refere àqueles processos que atuam em escala global, que atravessam 
fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de 
espaço-tempo. 
 A globalização está deslocando as identidades culturais nacionais, pois atravessa fronteiras 
nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações, em novas combinações de espaço-
tempo, tornando o mundo mais interconectado. 
Duas tendências contraditórias estão presentes na globalização: a tendência à autonomia nacional e a 
tendência à globalização. 
 
O GLOBAL, O LOCAL 
 
 A era da globalização impõe transformações universalizantes que reconfiguram a tradição, seu 
abandono ou desincorporação. 
 O local encontra-se de tal forma conectado ao global que influencia e é influenciado por este. 
 A tradição vivenciada no locus do cotidiano, no espaço específico, é colocada em questão pela 
experiênciavivenciada do indivíduo no tempo e espaço global. Por outro lado, o local também 
problematiza o global. 
 Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem consciência do fato de 
que suas atividades locais são influenciadas e, às vezes, até determinadas, por acontecimentos ou 
organismos distantes. 
 O reverso da medalha é menos evidente. Hoje em dia, as ações cotidianas de um indivíduo 
produzem consequências globais. 
 A decisão de comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um tipo específico de 
alimento, tem múltiplas implicações globais. 
 
 
 Há uma interdependência cada vez maior entre o espaço global e o local. 
 O global tem influência sobre as vidas individuais nos espaços locais; mas também as decisões 
dos indivíduos em seu cotidiano podem influenciar sobre os resultados globais. Esta interinfluência 
incide sobre as coletividades e grupos de todos os tipos, incluindo o Estado. 
 Todos têm que levar em consideração essa realidade, o que pressupõe repensar os papéis, sua 
reorganização e reformulação. 
 A experiência global da modernidade está interligada – e influencia, sendo por ela influenciada 
– à penetração das instituições modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. 
Não apenas a comunidade local, mas as características íntimas da vida pessoal e do eu tornam-se 
interligadas a relações de indefinida extensão no tempo e no espaço. Estamos todos presos às 
experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão abertos quanto aqueles 
que afetam a humanidade como um todo. 
 As experiências do cotidiano refletem o papel da tradição – em constante mutação – e, como 
também ocorre no plano global, devem ser consideradas no contexto do deslocamento e da 
reapropriação de especialidades, sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos. A tecnologia, no 
significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel principal. 
 As experiências do cotidiano na modernidade globalizada vinculam-se às questões 
fundamentais relativas à identidade, à percepção do “eu” e do “outro”; e, por outro lado, envolvem 
múltiplas mudanças e adaptações na vida cotidiana. Em tais circunstâncias, os indivíduos “sentem-se 
no ar” e, inseguros, se apegam à tradição. Os indivíduos resistem localmente à globalização e, 
simultaneamente, não podem desconsiderá-la. 
 
A DIALÉTICA DAS IDENTIDADES 
 
 A globalização caminha junto ao reforço das identidades locais. 
 Trata-se de um processo desigual e que tem sua “geometria de poder”. 
 A globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades 
culturais estão sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo. 
 Com o declínio das identidades nacionais, identidades híbridas entram em cena. 
 No debate sobre o novo interesse pelo local e a nova articulação entre o global e o local, há, 
portanto, uma verdadeira dialética das identidades: entre novas identidades globais e novas 
identidades locais. 
Segundo Stuart Hall: 
 A globalização tem um efeito contestador e deslocador das identidades centradas e fechadas 
de uma cultura nacional. 
 Esse efeito verdadeiramente pluralizante altera as identidades fixas, tornando-as menos fixas, 
plurais, mais políticas e diversas. 
Esse movimento pode produzir dois efeitos: 
 
 
 
 Assim, as nações estariam gravitando entre manter (a tradição) e transformar (a tradução), o 
que afeta diretamente as novas (ou velhas) formas de identidade cultural. 
É nesse movimento/deslocamento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a tradição e a 
tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de modernidade tardia. 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 9 - TRADIÇÃO E MODERNIDADE 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Nesta aula, conceituaremos o binômio Tradição e Modernidade. Em seguida, discutiremos 
como a modernidade cultural e a tradição se misturam de forma peculiar e dinâmica. 
 
O BINÔMIO TRADIÇÃO E MODERNIDADE 
 
 A modernidade cultural e a tradição misturam-se de forma peculiar e dinâmica. Essa mescla 
entre o tradicional e o moderno conduz a “tradicionalização do moderno”. 
 A Modernidade, com respeito aos valores da tradição cultural, torna-se um tabu para alguns, 
daí a reflexão que a cultura está em processo de transformação na sociedade moderna e tem 
conduzido aos contrários a ela. 
 Surgem afirmações errôneas como: “o Brasil não ingressou na modernidade” ou ainda; “o 
Brasil não tem tradição”. 
 Para a década de 70, tais afirmações teriam algum sentido. 
 O Brasil era um país classificado pelos países ricos como subdesenvolvido. 
 A tradição é o elo que une as ordens sociais pré-modernas. A tradição envolve, de alguma 
forma, o controle do tempo. É uma orientação para o passado, de tal forma ele é construído para ter 
uma pesada influência sobre o presente. 
 A tradição integra e monitora a ação e a organização tempo-espacial da comunidade, ela é 
parte do passado, presente e futuro, é um elemento intrínseco e inseparável da comunidade. 
 A tradição está vinculada à compreensão do mundo fundada na superstição, religião e nos 
costumes, pressupondo uma atitude de resignação diante do destino, o qual, em última instância, não 
depende da intervenção humana, do “fazer a história”. 
 Dessa forma, conhecer a tradição é ter habilidade para produzir algo que está ligado à técnica 
e à reprodução das condições do viver. 
 A ordem social sedimentada na tradição expressa a valorização da cultura oral, do passado e 
dos símbolos enquanto fatores que perpetuam a experiência das gerações. 
 Por outro lado, a tradição também se vincula ao futuro. Mas este não é concebido como algo 
distante e separado, mas como uma espécie de linha contínua que envolve o passado e o presente. 
 É a tradição que persiste, remodelada e reinventada a cada geração. Não há um corte 
profundo, ruptura ou descontinuidade absoluta entre o ontem, hoje e o amanhã. 
 A tradição envolve o ritual; este constitui um meio prático de preservação. Nas sociedades que 
integram a tradição, os rituais são mecanismos de preservar a memória coletiva e as verdades 
inerentes ao tradicional. 
 O ritual reforça a experiência cotidiana e refaz a liga que une a comunidade, mas ele tem uma 
esfera e linguagem próprias e uma verdade em si, isto é, uma “verdade formular” que não depende 
das “propriedades referenciais da linguagem”. Pelo contrário, “a linguagem ritual é performativa, e às 
vezes pode conter palavras ou práticas que os falantes ou os ouvintes mal conseguem compreender. 
 
(...) A fala ritual é aquela da qual não faz sentido discordar nem contradizer – e por isso contém um 
meio poderoso de redução da possibilidade de dissenção”. 
 
MODERNIDADE 
 
 No que tange à Modernidade, podemos dizer que: 
 A modernidade reincorpora a tradição, reinventa-a, e, neste sentido, também expressa 
continuidade. Grande parte dos valores relacionados à tradição permanecem e se reproduzem no 
âmbito da comunidade local. 
 Na verdade, as primeiras instituições da modernidade não podiam desconsiderar a tradição 
preexistente e, vários aspectos, dependiam delas. 
 Porém, a modernidade teve que “inventar” tradições e romper com a “tradição genuína”, isto 
é, aqueles valores radicalmente vinculados ao passado pré-moderno. 
 A modernidade, neste sentido, expressa descontinuidade, a ruptura entre o que se apresenta 
como o “novo” e o que persiste como herança do “velho”. 
 
 
 A modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na 
Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua 
influência. Vivemos uma época marcada pela desorientação, pela sensação de que não 
compreendemos plenamente os eventos sociais e que perdemos o controle. A modernidade 
transformou as relações sociais e também a percepção dos indivíduos e coletividades sobre a 
segurança e a confiança, bem como sobre os perigose riscos do viver. 
 A modernidade, pode-se dizer, rompe o referencial protetor da pequena comunidade e da 
tradição, substituindo-as por organizações muito maiores e impessoais. O indivíduo se sente privado 
e só, num mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido de segurança oferecidos em 
ambientes mais tradicionais. 
 A modernidade, enquanto descontinuidade entre as ordens sociais tradicionais e as 
instituições sociais modernas, apresenta três características: 
1 - O ritmo de mudança que a era da modernidade põe em movimento. 
 
2 - O escopo da mudança, isto é, a abrangência global desta. 
 
3 - A natureza das instituições modernas (o sistema político do Estado-nação, a dependência por 
atacado da produção de fontes de energia, a transformação em mercadoria de produtos e trabalho 
assalariado). 
 A modernidade nas condições da globalização amplia tanto as oportunidades quanto as 
incertezas e os perigos. Daí a sensação de mal-estar e de desorientação. O mundo tornou-se cada vez 
mais um lugar inseguro e essa insegurança é sentida pelo indivíduo em sua mais remota comunidade. 
 A experiência da modernidade em tempos globais colocou por terra as certezas: as surpresas 
e os riscos estão sempre à espreita e o futuro parece uma impossibilidade se pensado enquanto 
construção histórica a partir do passado e do presente. 
 A modernidade na globalização se assemelha a uma grande e perigosa aventura, à qual, 
independente da nossa vontade, estamos presos e temos que participar. 
 A modernidade solapa a confiança fundada nos valores tradicionais e pressupõe um novo 
ambiente em que possa se desenvolver a “segurança ontológica”, isto é, o “ser no mundo”. A 
segurança ontológica “se refere à crença que a maioria das pessoas têm na continuidade de sua 
autoidentidade e na constância dos ambientes de ação social e material circundantes”. Ela diz respeito 
ao sentimento que temos sobre a continuidade das coisas e das pessoas; um sentimento inculcado 
desde a infância e que se vincula à rotina e à influência do hábito. A necessidade de “segurança 
ontológica” produz um novo ambiente de confiança. 
 
O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO E A MODERNIDADE CULTURAL 
 
 Nas sociedades dependentes de origem colonial, o capitalismo é introduzido antes da 
constituição de uma ordem social competitiva. 
 Considerando essa defasagem temporal, há no Brasil, desde a tradição literária do final do XIX, 
uma aliança significativa entre a arte e os veículos de comunicação, neste caso referindo-se à 
dependência da literatura em relação aos jornais. Houve um modernismo no Brasil sem que houvesse 
modernização da sociedade, sendo este descompasso um elemento característico da sociedade 
brasileira periférica. 
 Os grandes centros foram tomados pelo frenesi e agitação da Belle Époque 
(expressão francesa que significa bela época) com o advento da eletricidade, as reformas urbanas, 
construção de jardins, sendo tudo isso vivido sob o signo do moderno. 
 A ideia de moderno associa-se neste momento a conceitos como progresso e civilização e a 
preocupação gira em torno do que os estrangeiros diriam de nós, num esforço de esculpir um retrato 
do Brasil condizente com o imaginário civilizado. Dessa maneira, houve no Brasil o estabelecimento de 
uma ponte entre uma vontade de modernidade e a construção de uma identidade nacional. 
 O moderno passa a ser encarado como uma vontade de construção nacional. A necessidade 
de superar o subdesenvolvimento estimula o fortalecimento da modernização assumida como um 
valor em si sem ser questionada. Dentro deste contexto, a ansiedade pelo moderno e o aparecimento 
da indústria cultural passam a ser vistos sob o signo da modernização além de uma necessidade para 
efetivamente concretizar a nacionalidade brasileira. 
 O pensador marxista Perry Anderson apontou três fatores como centrais para a concretização 
de um padrão de modernidade. 
 Veja abaixo a apresentação desses fatores em contraposição a realidade brasileira: 
 
 
 A modernidade no Brasil é sempre algo que trabalha com o novo e com isso se afirma 
contrapondo com a noção de atraso e por isso mesmo se impondo como necessário. 
 No movimento de modernização brasileira, o nacional e o capitalismo são pólos que se 
integram e interpenetram. A autêntica cultura brasileira capitalista e moderna que se configura 
claramente com a emergência da indústria cultural é fruto da fase mais avançada do capitalismo 
brasileiro. 
 
CULTURA BRASILEIRA / AULA 10 - A GLOBALIZAÇÃO E OS 
DESAFIOS PARA A CULTURA BRASILEIRA: INTEGRAÇÃO OU 
RESISTÊNCIA 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A economia afeta as práticas socioculturais coletivas e individuais. A fragmentação da 
sociedade, em função da natureza das práticas político-econômicas, acabou reduzindo o grande 
sujeito coletivo a uma imensa quantidade de universos fechados. Nesta aula, analisaremos o conceito 
de cidadania na contemporaneidade, ligado ao fenômeno da Globalização e à indústria cultural. 
 
MUNDIALIZAÇÃO E CULTURA 
 
 Em sua obra Mundialização e Cultura, escrita em 1994, o cientista social Renato Ortiz reforça 
que a economia vem afetando as práticas socioculturais coletivas e individuais. 
 Segundo o autor, a fragmentação da sociedade, em função da natureza das práticas político-
econômicas, acabou reduzindo o grande sujeito coletivo (sociedade enquanto um todo) a uma imensa 
quantidade de universos fechados. 
 Para Ortiz, o que passaria a existir, agora, seria uma sociedade dividida em segmentos, em 
estratos sociais que contêm apenas um único elemento de universalidade que os unia – e que mesmo 
assim, era de natureza bastante fluída, em função das realidades socioeconômicas de seus respectivos 
Estados: o seu poder de consumo. 
 Cabe ressaltar aqui uma característica peculiar do pensamento de Renato Ortiz, isto é, que a 
realidade segmentada, cuja orientação se daria a partir de uma relação de consumo material de bens, 
não se dá sem afetar a dimensão psicológica da sociedade. 
 O grande princípio orientador das ações humanas, na atualidade, é o consumo simbólico dos 
bens (BOURDIEU, P. O poder simbólico. RJ: Bertrand Brasil, 2000), através do significado de suas 
imagens, que fomentaria um todo cultural inteiramente novo, e que não substituiria as culturas locais 
e as identidades tradicionais, como em um passe de mágica. 
 O consumo simbólico de bens formaria uma cultura-mundo, cujos ícones, independente do 
idioma falado ou do segmento em que se encontraria um agente social qualquer, seria reconhecido 
em todas as partes do globo, a partir de discursos visuais (ORTIZ, 1994, p.56-57). 
 Em outras palavras, uma cultura-mundo se daria a partir do emprego da tecnologia, que 
aproxima cada vez mais as culturas do globo, sintetizando e cristalizando-as algumas vezes, sob a 
forma de bens materiais. 
 A síntese de uma cultura não se daria no intuito de reduzi-la a uma quase descaracterização 
de seus significados, mas sim de diminuir sua complexidade para melhor apreendê-la e reproduzi-la 
em escala global. 
 
A GLOBALIZAÇÃO E OS DESAFIOS PARA A CULTURA BRASILEIRA 
A INDÚSTRIA CULTURAL NO BRASIL 
 
 As indústrias culturais adquirem seu pleno desenvolvimento no Brasil, e se consolidam, em 
decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: um de natureza 
política e outro de natureza econômica. 
 O fator econômico é representado pelo ingresso do País na etapa monopolista do capitalismo. 
 O fator político é representado pela instauração do regime militar em 1964 e a consequente 
implementação de um projeto de desenvolvimento burocrático-autoritário fundamentado na 
Ideologia da Segurança Nacional – ISN. 
 
A MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA 
 
 Entende-se por globalização a progressiva e inconclusa integração econômica assimétrica e 
desigual de mercados (que supera a ideia de Estados-nacionais, embora os mantenha como unidade 
política de referência),com a exclusão daqueles que, não dispondo de importância estratégica no novo 
cenário em construção, não devem se tornar empecilhos ao modelo de sociedade econômica mundial 
idealizada pelo capital internacional. 
 
MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA 
 
 Para compreender o conceito de mundialização da cultura é necessário compreender dois 
pressupostos: 
 Embora indispensável, a correlação entre economia e cultura no plano global não acontece de 
forma imediata. 
 É um equívoco imaginar que a pretendida integração precise rechaçar a convivência das 
diferenças culturais. 
 O avanço tecnológico e a expansão do sistema informacional se encarregariam de veicular em 
esfera global os elementos constitutivos da cultura mundializada, oferecendo padrões de referência 
para a formação de identidades sociais. 
 Assim, não haveria um choque de culturas entre o comum e o diverso, mas uma tendência de 
aproximação entre as lógicas que os conformam, em que o local, para garantir sua sobrevivência, 
precisa adequar-se ao mundial. 
 Em síntese, estaria em desenvolvimento um processo de integração progressiva de aspectos 
de diferentes culturas regionais a uma cultura comum, reconhecida entre si, porém sem a negação dos 
seus traços distintivos próprios. 
 A mundialização da cultura não prescinde das culturas locais para as quais devolve padrões 
culturais próprios, modelados pela lógica do consumo (ORTIZ:1994). 
 Sendo, portanto, necessária a implementação de estratégias que promovam igualmente a 
aproximação entre hábitos, valores e preferências de consumo em esfera planetária, garantido assim 
a criação de um mercado consumidor global para produtos que pouco diferem entre si. 
 Em outras palavras, revelou-se necessária a produção de uma cultura de consumo 
tendencialmente homogênea em âmbito mundial, que reduzisse substancialmente as diferenças 
subjetivas de comportamento dos consumidores e que, anteriormente, eram mais influenciados pelas 
características identitárias das culturas locais/regionais. 
O BRASILEIRO COMO CIDADÃO GLOBAL E OS OUTROS 
 
 A cidadania é notoriamente um termo associado à vida em sociedade. Sua origem está ligada 
ao desenvolvimento das polis gregas, entre os séculos VIII e VII a.C. 
 A partir de então, tornou-se referência aos estudos que enfocam a política e as próprias 
condições de seu exercício, tanto nas sociedades antigas quanto nas modernas. 
 Por outro lado, as mudanças nas estruturas socioeconômicas, incidiram, igualmente, na 
evolução do conceito e da prática da cidadania, moldando-os de acordo com as necessidades de cada 
época. 
 Hoje, uma variedade de atitudes caracteriza a prática da cidadania. Assim, entendemos que 
um cidadão deve atuar em benefício da sociedade, bem como esta última deve garantir-lhe os direitos 
básicos à vida, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, trabalho, entre outros. Como 
consequência, cidadania passa a significar o relacionamento entre uma sociedade política e seus 
membros. 
 Segundo Hannah Arendt: 
“A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres humanos não 
é um dado. É algo construído na convivência coletiva que requer o acesso ao espaço público. É esse 
acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo comum através de um processo de 
asserção dos direitos humanos.” 
 Deve-se considerar que a cidadania como acesso ao espaço público, é a luta pela participação 
e construção do próprio espaço de modo a reivindicar a efetivação dos direitos humanos em seu 
aspecto sociopolítico e cultural. 
 Por outro lado, a cultura do povo brasileiro é uma cultura de país colonizado, reflexo de muitos 
anos de exploração, o que se perpetua até hoje. A formação histórica brasileira é reprodutora de 
relações sociais autoritárias e conservadoras. Devido a essa herança cultural de submissão, torna-se 
difícil resgatar valores historicamente negados, que são a base para a construção de uma cidadania. 
 O acesso ao espaço público se dá pela politização do sujeito, no sentido de modificar esse 
pensamento que está arraigado nos costumes do povo brasileiro. Isso passa pela formação de uma 
cultura política, em que os sujeitos passem realmente a ocupar o espaço público como espaço de 
reivindicações e melhoria das condições de vida. 
 É por isso que se torna impossível estabelecer um conceito pronto e acabado do que seja a 
cidadania. As pessoas precisam aprender sempre para saber exigir e participar do meio em que vivem. 
Isso porque tanto os indivíduos quanto os direitos estão sempre em processo de mudança, e essa 
dinamização traz sempre elementos novos a serem agregados ao homem-cidadão. Desse modo, a 
cidadania significa pertencer a uma comunidade e ter a responsabilidade de construir uma identidade 
cultural dia após dia. 
 
“CIDADÃOS DO MUNDO” 
 
 O cidadão do mundo é o cidadão público, em um mundo que se transformou em Global, e que 
virtualmente é um espaço pequeno onde todos estão em qualquer lugar. Este cidadão, dotado de 
informação e conhecimentos, é entendido como um sujeito capaz de interferir no mundo, e participa, 
cotidianamente, deste mundo. 
 Há, portanto, a necessidade de se incluir algumas dimensões essenciais na construção da nova 
cidadania contemporânea, qual seja, a cidadania democrática, a cidadania social, a cidadania 
intercultural, a cidadania entre gêneros, a cidadania empresarial e ambiental. 
 
DEMOCRACIA E CONTEMPORANEIDADE 
 
QUANDO UM SISTEMA POLÍTICO PODE SER CONSIDERADO DEMOCRÁTICO? 
 
 Quando seus principais tomadores de decisões coletivas são selecionados através de eleições 
periódicas, honestas e imparciais; se os candidatos de diferentes correntes de pensamento concorrem 
livremente pelos votos; 
 Se virtualmente toda a população adulta têm direito de voto. 
De modo geral, esta concepção minimalista da democracia representa e representou um importante 
avanço diante dos regimes autoritários que predominaram durante muito tempo em muitas 
sociedades. 
 Na atualidade, porém, esta concepção mínima de regime político parece ser muito limitada 
para encarar os grandes desafios políticos, econômicos e sociais presentes no mundo contemporâneo. 
Talvez a abordagem mais pertinente para avançar neste debate seja considerar a chamada democracia 
de cidadania.

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