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anatô- mica, a palpação de uma saliência óssea, que também é facilmente identificável. Ao deixar o útero, a inerva- ção dirige-se para a medula espinhal, através de uma cadeia de nervos que, à semelhança de uma rede elé- trica, liga o útero à medula espinhal e ao cérebro. O bloqueio da condução da dor nesse local, embora tec- nicamente um pouco mais elaborado, também é pos- sível. Na medula, a inervação entra em locais separa- dos e restritos, o que possibilita uma abordagem sele- tiva, bloqueando somente a dor da fase 1 ou a da fase 2, conforme forem as necessidades. Seguindo esse argumento, da generosidade divi- na para com a gestante, temos inúmeros medicamen- tos e tecnologias que permitem bloquear, no nível da medula espinhal, somente as fibras nervosas que con- duzem a dor, sem afetar aquelas responsáveis pela con- tração uterina, que é necessária para que o nascimen- to se processe. Por último, é possível minimizar a dor do parto atra- vés da utilização de analgésicos por intermédio de uma injeção venosa, uma das formas mais utilizadas no mun- do, ou através da respiração de gases analgésicos. De to- É difícil imaginar que o Criador não pretendeu que o alívio da dor do parto fosse uma realidade. 90 ANESTESIA dos os tipos de dor, a do parto é a que apresenta maiores possibilidades de ações para obtenção de alívio. Dessa forma, se desejar, pode discutir com seus médicos sobre o tipo de analgesia a ser utilizado. A maternidade é uma situação muito especial na vida da mulher, e existe quem prefira ter seu filho sem utilizar nenhum tipo de analgesia. Isso deve ser respeita- do. A analgesia deve ser utilizada em todas as mulheres que o queiram, ou estar disponível para ser utilizada quando se fizer necessária. Durante o parto, a dor determina uma série de alte- rações que se refletem no bem-estar do recém-nascido. Como regra geral, quanto mais comprometido for o es- tado de saúde da mãe, por doenças pré-existentes ou pró- prias da gestação, mais a analgesia está indicada. Ao realizarmos uma analgesia, ocorre absorção e passagem de uma quantidade dos analgésicos para den- tro da circulação materna. Por esse intermédio, uma quantidade ainda menor pode alcançar a circulação placentária e a fetal. Os efeitos disso são mínimos e podem ser facilmente controlados pelo anestesista e pelo pediatra. Da mesma forma, ocorre passagem dos analgésicos através do leite. É preciso considerar, entretanto, que os analgésicos utilizados são aqueles que, devidamente es- tudados, demonstraram os menores efeitos no recém- nascido. Além disso, saliente-se que, após uma operação cesariana, a dor é mais intensa nas primeiras vinte e qua- tro horas, período em que, geralmente, a amamentação ainda não se iniciou. Outra conduta altamente recomendada é tomar o analgésico logo após ter finalizado a amamentação, pois, até que a nova amamentação se inicie, o organismo ma- ANESTESIA 91 terno tem tempo para eliminar o analgésico. Não há ra- zão médica para não se proceder ao alívio da dor durante e após o nascimento. CIRURGIAS DURANTE A GRAVIDEZ Uma mulher está ou pode estar grávida e necessita sub- meter-se a uma cirurgia: como proceder? Deve informar ao seu médico a respeito da gravidez ou do atraso menstrual, ou da possibilidade de estar grávida. Cirurgias eletivas são desaconselháveis durante a gravidez e devem ser evitadas. Geralmente são proteladas para um outro período fora da gravidez. A urgência em resolver o caso deverá ser considera- da pelo cirurgião em conjunto com o seu obstetra, ou com o seu clínico, ou com ambos. Aqui falamos daque- las situações, raras é verdade, em que a cirurgia é de urgência ou emergência e tem que ser realizada: uma retirada do apêndice cecal, um sangramento que não cessa, por exemplo. Nessas situações não há como adi- ar; a cirurgia tem que ser feita, pois, ao não fazê-la, estaríamos colocando em risco a vida da mãe e, por conseqüência, a do bebê. A dúvida, que deve ser esclarecida, é: a realização da anestesia e da cirurgia prejudica ou compromete o bem- estar e o futuro do bebê. Para responder a essa questão, inicialmente é preciso considerar que, mesmo em servi- ços especializados, o número desses casos de urgência é pequeno, o que dificulta a realização de estudos mais conclusivos. Entretanto, com a experiência acumulada, A dúvida é se a realização da anestesia e da cirurgia prejudicam ou comprometem o bem- estar e o futuro do bebê. 92 ANESTESIA é possível afirmar, com razoável grau de certeza, que o risco de se realizar a anestesia nessas condições é bastante pequeno. Ao que tudo indica, a anestesia bem realizada e con- duzida influi muito pouco na incidência de interrupção da gravidez e não apresenta riscos de alterações detectá- veis ao feto. É razoável afirmar, também, que, sempre que pos- sível – estamos falando de situações de urgência –, as anestesias devem ser realizadas em centro especializado no manejo de gestantes, por um anestesiologista expe- riente em anestesia obstétrica, com monitorização dis- ponível. O desencadear de trabalho de parto prematuro é uma possibilidade que, embora rara, pode ocorrer, e o aumento da atividade contrátil do útero precisa ser moni- torizada, pois existem drogas que podem neutralizá-la. ANESTESIA 93 Como qualquer profissional, o anestesiologista deve ser justamente recompensado, pois sem um mínimo de condições, nenhum ser humano pode ser capaz de exer- cer com dignidade qualquer profissão. Nunca é demais repetir que a Medicina não é tão- somente um negócio destinado a render lucros, mas uma profissão que rigidamente não está vinculada a simples leis comerciais. Assim sendo, os serviços prestados por um profissional liberal da anestesia (anestesiologista) devem ser retribuídos na forma de honorários médicos, e não de salários, pois é algo que se recebe por honra e gratidão. O direito do anestesiologista de cobrar por seus ser- viços não é mais contestado, mas há ainda dificuldades na fixação e cobrança de valores justos para a realização da anestesia, e isso se constitui na parte mais delicada do re- lacionamento médico-paciente-família. O valor de cada anestesia deve ser inserido num contexto mais amplo e levar em conside- ração vários critérios, como os citados no livro Direito Médico, do Dr. Genival Veloso França, transcritos abaixo: 1. Condição econômica do paciente: é um ponto polêmico, pois surgem situações como: a consideração de que o trabalho médico vale muito, mas o doente não tem condições de retribuir tal benefício. Outras vezes, o 1 3 Os honorários do anestesiologista O valor de cada anestesia deve ser inserido num contexto amplo. 94 ANESTESIA serviço prestado vale menos, todavia o paciente, face a sua condição econômico-financeira, pode pagar bem. Pagar bem não pode ser sinônimo de extorsão. 2. A fama do médico: tal critério fundamenta-se nas garantias que tem o cliente de escolher o anestesista de elevada conceituação profissional. Os profissionais de Medicina têm uma responsabilidade maior perante a sociedade, além da necessidade de resguardá-la. Aqui é conveniente esclarecer que o paciente pode e deve esco- lher o anestesiologista de acordo com as suas prefe- rências, bem como discutir com o cirurgião os prós e contras dessa escolha. 3. Valor do trabalho: a quantidade e a qualidade do serviço prestado devem, necessariamente, ser levadas em conta. A natureza da doença pode determinar uma assis- tência mais cuidadosa e mais trabalhosa, dando à presta- ção de serviços um valor maior. 4. O local e a hora do trabalho: o afastamento das atividades normais e lucrativas deve ser igualmente pon- derado, no caso de uma urgência, por exemplo. 5. O uso e o costume do lugar: a remuneração deve variar de acordo com a situação econômica da região. É uma regra