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COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 1 Oficinas com Famílias no Âmbito do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) Vera Lucia Alves Rezende1 A Assistência Social é um direito do cidadão e dever do Estado, garantido na Constituição Federal de 1988. Conforme estabelece a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS/1993, é definida como Política de Seguridade Social, não contributiva, que tem como foco atender a todos os cidadãos que dela necessitarem. Tem como objetivos garantir: a proteção social à família, à infância, à adolescência, à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a reabilitação e promoção de integração à comunidade para as pessoas com deficiência; e o pagamento de benefícios aos idosos e às pessoas com deficiência. O Sistema Único de Assistência Social – SUAS, instituído em 2005, organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social: - Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. Dentro desta perspectiva, são ofertados os seguintes serviços para atendimento deste público: 1. Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); 2. Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; 3. Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para pessoas com deficiência e idosas. 1 Vera Lucia Alves Rezende: Assistente Social, especialista em Gestão e Avaliação de Projetos Técnicos socioambientais Servidora da Secretária Estadual da Mulher do Desenvolvimento Social, Analista de Políticas de Assistência Social da Secretária Estadual da Mulher do Desenvolvimento Social, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e de Trabalho. COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 2 - Proteção Social Especial, destinada às famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros aspectos. Onde os serviços ofertados são: Média Complexidade: 1. Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias Indivíduos (PAEFI); 2. Serviço Especializado em Abordagem Social; 3. Serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); 4. Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; 5. Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. - Alta Complexidade: 1. Serviço de Acolhimento Institucional; 2. Serviço de Acolhimento em República; 3. Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora; 4. Serviço de proteção em situações de calamidades públicas e de emergências. Entre os serviços supracitados, o PAIF é o único que tem como obrigatoriedade ofertar oficinas com famílias. Conforme descrito na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Brasil, 2009), o PAIF executa o trabalho social com famílias, de caráter continuado, com o objetivo de: fortalecer a função protetiva COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 3 da família; prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários; promover a garantia e acesso dos usuários aos direitos fundamentais; prever o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Podemos ainda ressaltar que o trabalho social com famílias realizado pelo PAIF consiste: [...] em um conjunto de procedimentos implementados por profissionais, a partir de pressupostos éticos, conhecimento teórico- metodológico e técnico-operativo. Ele tem por objetivo contribuir na e para a convivência de um conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ ou de solidariedade, a fim de proteger seus direitos, apoiá- las no desempenho da sua função de proteção e socialização de seus membros, bem como assegurar o convívio familiar e comunitário de maneira “preventiva, protetiva e proativa”. É por meio do trabalho social que o PAIF, no âmbito da Proteção Social Básica do SUAS, contribui para a materialização da responsabilidade constitucional do Estado de proteger as famílias. (Orientações Técnicas: sobre o PAIF volume 1, 2012, pag. 15). O trabalho social com famílias do PAIF concretiza-se na realização de ações que buscam atender determinado objetivo. Para tanto, elas devem ser planejadas e avaliadas com a participação das famílias usuárias e com instâncias que têm a responsabilidade de realizar o controle social, a fim de melhor adequar o serviço às necessidades locais, bem como fortalecer o protagonismo das famílias e do território. As ações inerentes ao serviço realizado pelo PAIF são: Acolhida; Oficinas com Famílias; Ações Comunitárias; Ações Particularizadas; Encaminhamentos. Dentre estas ações, vamos tratar do tema Oficinas com Famílias como foco deste estudo. Oficinas com famílias são, COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 4 [...] compreendidas como encontros previamente organizados, com objetivos de curto prazo a serem atingidos, com um conjunto de famílias, por meio de seus responsáveis ou outros representantes, sob a condução de técnicos de nível superior do CRAS, com o intuito de suscitar uma reflexão sobre um tema de interesse das famílias, sobre vulnerabilidades e riscos ou potencialidades identificados no território, contribuindo para o alcance de aquisições, em especial o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos, o protagonismo, a participação social e para a prevenção a riscos. (O CRAS que Temos o CRAS que Queremos, volume 01, 20 pag. 28) Diante do exposto, verifica-se que as oficinas com famílias têm como objetivos trabalhar no contexto familiar e no contexto comunitário/territorial. No âmbito familiar busca: fomentar vivências que questionem padrões estabelecidos e estruturas desiguais; estimular a socialização e a discussão de projetos de vida; possibilitar a discussão sobre as situações vivenciadas pelas famílias e as diferentes formas de lidar com tais situações; propiciar a melhoria da comunicação, fomentar a cooperação entre os membros das famílias, romper com preconceitos, estereótipos e formas violentas de interação e repensar os papéis sociais no âmbito da família. No âmbito comunitário/territorial, as oficinas com famílias têm como foco estimular a identificação das vulnerabilidades e recursos do território e seus impactos na vida das famílias; promover espaços de vivência que possibilitem aos membros das famílias apreenderem-se como resultado das interações entre os contextos familiar, comunitário, econômico,cultural, ambiental entre outros; proporcionar o compartilhamento de experiências; fomentar a reflexão sobre a importância e os meios de participação social, inclusive por meio do estímulo à participação nas atividades de planejamento do PAIF. (Orientações Técnicas: sobre o PAIF volume 2, 2012,). Conforme o caderno de Orientações Técnicas sobre o PAIF volume 2 (Brasil,2012), podemos identificar alguns procedimentos fundamentais na realização das Oficinas com Famílias, sendo eles: COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 5 Orientações sobre a Composição de Oficinas com Famílias – As oficinas devem ser realizadas com no mínimo 7(sete) e no máximo 15 (quinze) participantes de modo que todos possam expressar suas opiniões e que se sintam integrantes deste grupo. As famílias devem ser convidadas a participar das oficinas e cabe a elas decidirem sobre essa participação. Recomenda-se que sejam os responsáveis familiares a participarem das oficinas, mas também deve contemplar outros membros a fim de enriquecer a troca de vivências e possibilitar aos participantes o exercício de convivência, diálogo e reflexão. As oficinas podem agrupar tanto participantes com características homogêneas quanto heterogêneas. A equipe técnica e o coordenador do CRAS devem, a partir das características dos participantes, das especificidades do território e da temática a ser abordada na oficina, escolher o grau de homogeneidade ou heterogeneidade que melhor potencializará o trabalho da oficina e alcance dos seus objetivos. Procedimentos Iniciais para a Realização de Oficinas com Famílias – Os profissionais responsáveis pela condução de oficinas com famílias devem buscar conhecer as expectativas dos participantes, suas formas de comunicação, inclusive aquelas não verbais. Devem ser estabelecidas regras de funcionamento de forma democrática, em que sejam estabelecidos procedimentos como duração, falas, sigilo necessário, escuta, entre outras regras. Profissionais Responsáveis pela Condução das Oficinas com Famílias - As Oficinas com Famílias devem, necessariamente, ser conduzidas por dois técnicos de nível superior da equipe de referência do CRAS ou da equipe volante (assistente social e psicólogo). Tal composição é capaz de melhor compreender as vulnerabilidades sociais das famílias e, por meio desse olhar interdisciplinar, propor intervenções efetivas ao grupo. Para que as oficinas tenham êxito, é necessário que os profissionais responsáveis tenham conhecimento conceitual, domínio de métodos e técnicas de trabalho em grupo. Para tanto, devem passar por aprimoramento contínuo. COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 6 Nesta direção, é necessário que o coordenador do CRAS estimule a qualificação dos profissionais - assegurando períodos para estudo, incentivo à participação em seminários e cursos de formação para o exercício de tal atividade. Ao gestor municipal, cabe buscar a cooperação de outros órgãos para garantir a necessária qualificação dos profissionais, a partir de capacitações continuadas. Observações sobre a Condução das Oficinas com Famílias - Na realização das oficinas, quando os participantes apresentarem uma questão que não está relacionada aos objetivos do PAIF, os profissionais deverão orientar e encaminhar essa demanda aos serviços apropriados, evitando posturas que desconsideram as demandas que as famílias verbalizam nas oficinas quando estas não dizem respeito ao tema tratado. O profissional deve manter a objetividade na condução da oficina, mas é preciso ter sensibilidade para não intimidar os participantes. O profissional deve responder rapidamente à questão, tentando fazer com que as famílias também reflitam sobre ela. Desta forma, possibilita-se a socialização das informações, favorecendo a abertura para exposição de novas necessidades, interesses e motivações dos participantes. Outro fator a ser observado é que os profissionais responsáveis pela condução das oficinas com famílias desenvolvam competência técnica para trabalhar questões como: os conflitos entre os membros da oficina, o relato de experiências que fogem às expectativas das famílias ou que possam causar comoção. É preciso que estes profissionais desenvolvam um ambiente acolhedor, dialógico e democrático, no qual os participantes sintam-se à vontade para expor suas opiniões e anseios. Diante deste desafio, é indicado utilizar dinâmica de grupo com estratégias de comunicação e interação entre os participantes, contribuindo na expressão da subjetividade, na construção coletiva de conhecimento e na reflexão acerca da realidade vivenciada pelos integrantes. Duração das Oficinas com Famílias - As oficinas com famílias devem ter duração de 60 a 120 minutos. Esse período permite o desenvolvimento de COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 7 dinâmicas, possibilita ampliação de oportunidades de participação dos membros e resguarda tempo para a finalização do trabalho. Locais para a Realização das Oficinas com Famílias - Recomenda-se que o ambiente escolhido para a realização das Oficinas com Famílias seja provido de: adequada iluminação, ventilação, conservação, privacidade, salubridade e limpeza. Formato das Oficinas com Famílias – Estas oficinas podem apresentar diferentes formatos, podendo ser abertas ou fechadas. As oficinas abertas recebem novos integrantes a qualquer instante do processo de operacionalização; o formato fechado restringe a inserção de novos componentes após sua inicialização. A definição de qual formato de oficina a ser realizada deve ser feita pela equipe técnica, após conhecer o perfil do grupo e sua dimensão. Número de encontros a serem realizados nas Oficinas com Famílias - As oficinas com famílias podem ser desenvolvidas em um ou vários encontros; isso vai depender dos objetivos a serem alcançados e a disponibilidade dos participantes. Os critérios devem ser estabelecidos pelos técnicos de nível superior e coordenador do CRAS. Sugestões de Temas a serem Abordados nas Oficinas com Famílias - Os temas a serem abordados devem ser adequados à realidade do território, responder às necessidades e expectativas das famílias, possuir caráter preventivo, protetivo e proativo, contribuindo para o alcance dos objetivos do PAIF. Abaixo serão citados alguns temas que podem ser trabalhados nas Oficinas com Famílias; no entanto, sugere-se que se verifique o detalhamento destes temas nos documentos: “O CRAS que Temos, o CRAS que Queremos” (volume 01-Brasil, 2010/2011) e “Orientações Técnicas sobre o PAIF” (volume 2-Brasil,2012). Temas: COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 8 1. Quais são e como acessar nossos direitos (civis, políticos, sociais, culturais, econômicos, ambientais); 2. Os desafios da vida em família; 3. A vida no território: superando vulnerabilidades e identificandopotencialidades. Registro das Oficinas com Famílias - É fundamental registrar as informações, sistematizando as principais discussões e averiguando o cumprimento dos objetivos propostos junto aos participantes. Este procedimento se faz necessário para avaliar a efetividade das ações do PAIF e realizar seu aprimoramento. Avaliação das Oficinas com Famílias – A avalição deve ser feita juntamente com os participantes do grupo, de forma impessoal. Ela permite verificar o cumprimento dos objetivos propostos na oficina, e configura-se como um importante instrumento de aprimoramento da ação. Diante do que foi exposto concluímos que: Somente é possível afirmar que se realiza oficinas/grupos de convivência com famílias se essa ação compuser de modo regular e planejado o rol de ações do PAIF, com a finalidade de fortalecer os laços familiares e comunitários, promover o acesso a direitos, o protagonismo e a participação social e prevenir a ocorrência de situações de risco. Se as oficinas realizada(s) não tiver(em) sido planejada(s) ou não tiver(em) objetivos a serem alcançados, não se pode afirmar que essa ação foi realizada. (O CRAS que Temos o CRAS que Queremos, volume 01, 20 p. 31) Outra conclusão a ser estabelecida é que oficinas com famílias no âmbito do PAIF não estão ligadas à execução de ações de intermediação de mão de obra ou execução de cursos de inclusão produtiva, conforme resolução nº 33/2011 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e nem a realização de oficinas de trabalhos manuais com foco no aprendizado. COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 9 Referências MDS. ACESSUAS trabalho: orientações técnicas. Programa Nacional de Promoção do Acesso do Mundo do Trabalho. -- Brasília, 2017. ______. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS). Brasília, 2002, Reimpresso 2012 ______. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social (NOB-RH/SUAS). Brasília, 2007, Reimpresso 2012 ______. Orientação técnicas para o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Brasília, 2006, Reimpresso 2012 _____ Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF: Trabalho Social com Famílias volume 2, 1ª edição Brasília - 2012 ______ Orientações Técnicas sobre o PAIF - O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF, segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, volume 1, 1ª edição Brasília – 2012. ______ O CRAS que Temos o CRAS que Queremos volume 01, Brasília - período 2010/2011 ______. Resolução CNAS Nº 17, de 20 de junho de 2011, Brasília 2011 _____ Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) nº 33 de 28 de novembro Brasília 2011 ______ Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais – Resolução CNAS nº 109 de 11/11/2019. Brasília: CNAS/MDS, 2009, Reimpresso 2014 COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 10 QUESTÕES 1 - Marque Verdadeiro (V) ou Falso (F): a) ( . ) O PAIF previne a ruptura dos vínculos familiares e comunitários. b) ( ) Cabe ao Serviço Especializado em Abordagem Social ofertar obrigatoriamente as Oficinas com Famílias. c) ( ) O trabalho social com famílias do PAIF devem ser planejadas e avaliadas exclusivamente pela equipe de trabalhadores. d) ( ) As oficinas com famílias buscam fomentar vivências que questionem padrões estabelecidos e estruturas desiguais. e) ( ) As oficinas com famílias no âmbito do PAIF buscam promover a realização de trabalhos manuais com foco no aprendizado. 2- Quem deve ser responsável pela condução das Oficinas com Famílias? a) ( .) O coordenador do CRAS. b) (....) Os profissionais da rede de atendimento socioassistencial. c) (....) Pela equipe técnica de nível superior do CRAS. d) (....) Todas as alternativas estão corretas. 3 - Qual a finalidade das oficinas com famílias? a) ( .) Realizar trabalhos manuais/cursos profissionalizantes de interesse da comunidade b) (....) Realizar encaminhamentos para a rede de atendimento; c) (....) Possibilitar a discussão sobre as situações vivenciadas pelas famílias e as diferentes formas de lidar com tais situações; d) (....) Atender somente os responsáveis pelas famílias. COORDENAÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 11 Gabarito: Questões Resposta/Letras 1 V, F, F, V, F 2 C 3 C
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