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a salvação do planeta, numa atitude simples e muitas vezes descompromissada. 1 As fontes das imagens utilizadas também foram mantidas em sigilo, posto que revelariam os nomes dos responsáveis. Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 1 – Introdução 12 Aproveitando-se deste novo mercado, empresas passaram a investir na sustentabilidade, mas as próprias contradições e ambiguidades referentes ao tema abriram espaço para incongruências. Na prática, o que parece importar é que algo pareça sustentável, sem que necessariamente o seja. Isto culminou na situação em que vivemos hoje: muitos dos produtos e serviços vendidos como sustentáveis somente o são em teoria, inclusive na construção civil. Assim, o que temos visto na produção civil nacional é a divulgação cada vez mais intensiva dos conceitos e princípios para a construção dita sustentável e, no entanto, os exemplos produzidos pouco apresentam de reais contribuições para o fim a que se propõem. Em uma das atividades mais poluidoras do planeta, os empreendimentos de qualquer porte são elaborados com uma visão ingênua – para não dizer enganosa – de que seus resultados contribuirão para salvar o mundo, muitas vezes sem embasamento algum que não seja o mercadológico. As contribuições para a “salvação do planeta” são, no mínimo, ineficientes. O prejudicado é, portanto, o usuário. Esta é a principal contribuição desta pesquisa: começar a desmistificar a questão. É necessário que os profissionais envolvidos na construção civil – e por que não dizer de todas as outras áreas? – tenham um posicionamento crítico a respeito de suas produções, sem que o discurso seja passado como prática. Estas constatações iniciais levaram ao questionamento que pareceu ainda mais pertinente ao atual momento histórico do desenvolvimento sustentável no país: será a atual produção arquitetônica brasileira dita sustentável realmente digna desta designação ou será a sustentabilidade tratada mais como uma ferramenta de marketing verde do que como um posicionamento político? Qual a diferença entre o que é discursado como sustentável e o que é realmente posto em prática? É esta questão, enfim, que será investigada nesta pesquisa. Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 1 – Introdução 13 1.3. Delimitação do Estudo de Caso Para investigar as questões apresentadas por esta pesquisa, selecionou- se um estudo de caso representativo de uma produção arquitetônica de amplitude nacional com preceitos sustentáveis: trata-se de um condomínio residencial de grande porte, com unidades multifamiliares, vinculado ao Programa Minha Casa Minha Vida2 do Governo Federal, especificamente para famílias com faixa de renda entre 6 e 10 salários mínimos. O condomínio está localizado em Cotia-SP e foi o primeiro de uma série de condomínios similares construídos posteriormente em Camaçari-BA, Fortaleza-CE e Porto Velho-RO. Futuramente deverão ser implantados condomínios similares também em Brasília-DF, Blumenau-SC, Campinas-SP, Queimados-RJ e Salvador-BA. Esta iniciativa foi escolhida por seu alcance nacional e seu porte; o condomínio de Cotia-SP foi selecionado por se tratar do empreendimento mais antigo e, portanto, com residentes há mais tempo. A caracterização completa do empreendimento será feita posteriormente. 1.4. Objetivos O objetivo geral desta pesquisa foi verificar as diferenças entre o discurso e a prática na construção civil nacional autodenominada sustentável. Para atingir tal objetivo, propuseram-se os seguintes objetivos específicos: � Selecionar indicadores de sustentabilidade; � Analisar o conteúdo do discurso utilizado pelos empreendedores; � Caracterizar o estudo de caso, com foco nas questões sustentáveis; � Identificar o grau de sustentabilidade do estudo de caso; � Comparar o conteúdo do discurso divulgado pelos empreendedores com o projeto realizado; � Identificar possíveis discrepâncias entre o discurso e a prática. 2 Não cabe ao escopo deste trabalho caracterizar o Programa Minha Casa Minha Vida, entretanto, sugere-se aos interessados por maiores informações acessar o endereço eletrônico do programa: <http://www.caixa.gov.br/habitacao/mcmv/index.asp>. Acesso em: 20 mai. 2012. Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 1 – Introdução 14 1.5. Estrutura da Dissertação Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos. O primeiro capítulo, que retrata a problemática em estudo, foi mantido sem a apresentação da Metodologia empregada, para facilitar sua compreensão. O Capítulo 2 – Revisão de Literatura apresenta, juntamente com as referências bibliográficas necessárias à compreensão do tema pesquisado, o embasamento teórico complementar à compreensão dos procedimentos empregados nesta pesquisa. Por este motivo, a Metodologia será apresentada no Capítulo 3. Após a discussão dos procedimentos metodológicos, o Capítulo 4 – Estudo de Caso apresenta os resultados obtidos e a análise dos dados. As considerações finais são discutidas no Capítulo 5. REVISÃO DE LITERATURA [Capítulo 2] Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 16 2.1. Sustentabilidade Comecemos este capítulo com uma pergunta: Você é contra o desenvolvimento sustentável? De acordo com Veiga (2010, p.196): “Basta fazer esta pergunta para que se perceba que a noção já desfruta de uma unanimidade só comparável, talvez, à felicidade ou ao amor materno”. Mesmo que com certo tom sarcástico, o autor nos mostra o quanto o conceito de sustentabilidade já se encontra enraizado em nossas vidas. A cada dia somos bombardeados com produtos sustentáveis, empresas sustentáveis, escolhas sustentáveis, atitudes sustentáveis, mas será que realmente sabemos o que vem a ser sustentabilidade? Segundo Veiga (2010), a discussão acerca da sustentabilidade surgiu na década de 60, principalmente nos EUA, onde as expressões “crescimento econômico”, “preservação ambiental” e “explosão demográfica” tomaram proporções, até certo ponto, apocalípticas. Desde então, diversos autores propuseram suas definições, ora sobre desenvolvimento sustentável, ora sobre sustentabilidade. Amodeo, Bedendo e Fretin (2006) acrescentam que o mesmo vocábulo – sustentabilidade – abriga tanto nostalgia quanto necessidade: Por um lado está a lembrança histórica dos movimentos alternativos das décadas de 60 e 70 com suas propostas romantizadas de comunidades auto-sustentáveis e utopicamente autônomas em relação à sociedade estabelecida. Por outro a demanda de se tentar reverter conseqüências provenientes de equivocada visão em ações provenientes de um desenvolvimento econômico predatório do meio-ambiente e da sociedade com exemplos desastrosos sejam quais forem as ideologias e regimes políticos. (AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006, n.p.) Os autores afirmam ainda que a noção de sustentabilidade, inicialmente, estava vinculada a questões estritamente ecológicas, extrapolando para os campos econômico, social e político com o passar do tempo, o que tornou sua definição e aplicação ainda mais ampla e complexa. No cerne do conceito “está a manutenção responsável de todos os recursos naturais, sociais e tecnológicos sob a ótica sistêmica de longo prazo, abrandando consequências devastas e maximizando o desenvolvimento social” (AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006, n.p.). Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 17