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de ser estruturas herméticas que causam desconforto, para dar origem a habitações agradáveis, que instigam a produção e o bem-estar no trabalho e o relaxamento quando em casa”. Corbella e Yannas (2003) definem que a Arquitetura Sustentável deve integrar o edifício ao meio, objetivando o aumento da qualidade de vida humana, seja no ambiente construído ou no seu entorno; esta integração deve garantir a adequação às características e ao clima locais, economizando a energia necessária ao conforto ambiental, contribuindo, assim, para o meio ambiente das gerações futuras. Gonçalves e Duarte (2006) propõem que tanto o idealismo como o pragmatismo são fundamentais à Arquitetura Sustentável, responsável pela Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 24 síntese entre projeto, ambiente e tecnologia, a médio e longo prazo, sempre atentando a um contexto ambiental, cultural e socioeconômico específico. Edwards (2008) define Projeto Sustentável como aquele que reduz o aquecimento global pela eficiência energética e outras técnicas, buscando o equilíbrio econômico de investimentos a longo prazo. Para o autor, o conceito envolveria também criar espaços saudáveis, viáveis (economicamente) e sensíveis (socialmente), que respeitassem igualmente o meio ambiente. Ele também apresenta outras definições que considera fundamentais ao tema – projeto sustentável, construção sustentável, materiais sustentáveis –, citando outros autores e a si próprio. Demais autores como Lamberts et.al. (200-?), Triana (apud LAMBERTS; et.al., 200-?) e o próprio Edwards (2008), listam em suas obras critérios, regras, características, políticas, ações ou diretrizes que norteariam a Arquitetura Sustentável e que, por se tratar de listagens demasiadamente longas, não exporemos aqui. Para as intenções desta revisão de literatura, é suficiente dizer que, em diferentes graus, todos os autores propõem princípios que foram resumidos pelo que Tibúrcio (2010, p.914) nomeou como: “adequação ambiental, viabilidade econômica, justiça social e aceitação cultural”. Interessante notar aqui também a influência de Ignacy Sachs e dos seus cinco pilares para o desenvolvimento sustentável, mostrando a transdisciplinaridade dos conceitos. Como podemos notar, assim como no caso do termo sustentabilidade e da expressão desenvolvimento sustentável, a Arquitetura Sustentável é definida por diversos autores, sem haver um consenso sobre seu significado. E mais, juntamente com suas definições, surgem outros termos – projeto sustentável, construção sustentável, edifício sustentável, edifício inteligente, tecnologias sustentáveis, materiais sustentáveis, e assim por diante. Amodeo, Bedendo, Fretin (2006), citando Yeang, relacionam essa profusão de definições e termos à própria amplitude de aplicações e conceituações inerentes ao termo sustentabilidade, que já vimos no item anterior: Na Arquitetura também houve a proliferação do termo “Sustentabilidade”. Este termo acabou caindo em lugar comum, sendo utilizado para tudo e significando o que for mais conveniente. Derivações deste termo também acabaram sendo Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 25 incorporadas no vocabulário da Arquitetura: Arquitetura Verde, Arquitetura Bioclimática, Arquitetura Ecológica, entre outros. Sem nenhum consenso, estes termos são utilizados constantemente trazendo ainda mais incertezas. (YEANG, s.d. apud AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006, n.p.) Nunes, Carreira e Rodrigues (2009) consideram arquitetura verde, arquitetura ecológica e ecoarquitetura como sinônimos de Arquitetura Sustentável. Corbella e Yannas (2003), afirmam que a Arquitetura Sustentável é, na verdade, uma continuação natural da Arquitetura Bioclimática. Edwards (2008) considera simplesmente a sustentabilidade na Arquitetura como um conceito complexo. Assim, não existe consenso entre os conceitos utilizados pelos profissionais e nem mesmo entre os termos que designariam esta Arquitetura. Gonçalves e Duarte (2006, p.69) propõem que “o momento da arquitetura brasileira a respeito da sustentabilidade ainda é de definições das reais necessidades e possibilidades”, indicando a necessidade de uma visão crítica do tema, evitando falsos paradigmas. Esta indefinição tem levado alguns profissionais a vangloriar seus projetos como sustentáveis, sem que haja realmente características dignas do adjetivo em suas obras. Para Amodeo, Bedendo e Fretin (2006, n.p.): “A sustentabilidade em arquitetura não pode se confundir com os cuidados técnicos, condições a priori de qualidade”. A respeito disso, Gonçalves e Duarte (2006) citam um exemplo interessante de iniciativa da empresa Petróleo Brasileiro (Petrobras) que, em 2004, decidiu promover um concurso para escolher o projeto arquitetônico do seu novo Centro de Pesquisas (CENPES II), localizado na Ilha do Fundão-RJ. Os autores afirmam que esta iniciativa teve “um papel histórico no contexto da arquitetura e da construção nacional” (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p.67) por formalizar o interesse de empresas públicas na inserção da sustentabilidade na construção e operação de seus edifícios. Dentre as exigências do concurso, constavam dez quesitos sustentáveis – nomeados pela Petrobras de eco-eficientes – com caráter eliminatório. Resumidamente, estes quesitos foram: adequada orientação solar; atenção aos condicionantes climáticos locais; condições de conforto térmico e luminoso; existência de ventilação e iluminação naturais; presença de vegetação; aplicação de Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 26 sistemas para economia e reuso de água; uso de materiais de baixo impacto ambiental. Há um mérito incontestável na iniciativa da Petrobras em valorizar aspectos do projeto que estejam fortemente relacionados com as condições climáticas locais, com o conforto ambiental e com a eficiência energética. Porém, o fato de questões básicas como orientação solar, sombreamento e outras serem listadas como eliminatórias chama a atenção para a prática corrente da arquitetura e da construção que frequentemente não considera parâmetros tão essenciais na concepção dos projetos. (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p.68) Amodeo, Bedendo e Fretin (2006) ainda indicam a responsabilidade dos arquitetos nesta questão por serem profissionais que sempre demonstraram comprometimento com a qualidade de vida e com a paisagem urbana, alardeando criatividade. Logo, estes mesmos profissionais deveriam demonstrar igual comprometimento “na busca de soluções técnicas, econômicas e sociais viáveis para o desenvolvimento da sustentabilidade” (AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006, n.p.), em especial nas obras de pequeno e médio porte. Esta ênfase nas obras de pequeno e médio porte se justificaria pela ideia errônea de que apenas as grandes obras – como o CENPES II da Petrobras – seriam responsáveis pelos grandes impactos ambientais: “Os principais obstáculos na disseminação desse paradigma [da sustentabilidade] estão nos empreendimentos de menor porte onde são bem menos visíveis as influências das decisões individuais” (AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006, n.p.). Gonçalves e Duarte (2006) afirmam: (...) experiências isoladas de edifícios projetados para reduzir o impacto ambiental da arquitetura continuam sendo válidas para o avanço do tema, mas deve ser lembrado que a transformação do ambiente construído em direção à sustentabilidade ambiental urbana depende de uma abordagem mais complexa e mais ampla, envolvendo várias escalas de atuação. (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p.62) Lamberts et.al. (200-?) afirmam que, mesmo se tratando de medidas pontuais, as iniciativas