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de produção da Arquitetura Sustentável são úteis, pois representam uma mudança de mentalidade. Segundo os autores, a experiência internacional encontra-se mais avançada do que a brasileira por uma série de fatores, dentre os quais poderíamos destacar a escassez de recursos naturais e os incentivos fiscais concedidos a empresas com preocupações ecológicas. Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 27 Muito embora os exemplos atuais de Arquitetura Sustentável possam ser considerados escassos, Gonçalves e Duarte (2006) defendem que exemplos de prática semelhante podem ser encontrados nas arquiteturas vernaculares de diversas culturas e em obras do período Modernista, sem que seja necessário pressupor um estilo ou movimento arquitetônico específico. Partindo deste pressuposto, levantemos uma questão: será que a chamada Arquitetura Sustentável, na realidade, não é apenas uma evolução, com adição de novas tecnologias ecológicas e atenção à responsabilidade social? Considerando-se também que responsabilidade social deveria ser um pressuposto em qualquer atividade humana, será que o que temos visto não seria uma Tecnologia Sustentável? Estaria havendo apenas a incorporação de novas tecnologias disponíveis na construção civil? Retomaremos esta discussão posteriormente. De qualquer forma, o que parece ser de comum acordo entre os diversos autores é que “(...) a sustentabilidade de um projeto arquitetônico começa na leitura e no entendimento do contexto no qual o edifício se insere e nas decisões iniciais de projeto” (GONÇALVES; DUARTE, 2006, p. 54). Lamberts et.al. (200-?, n.p.) concorda: “(...) as preocupações devem começar desde o projeto, prosseguirem durante a construção e participarem da etapa de utilização”. O projeto arquitetônico se apresenta como a etapa primordial de inserção da sustentabilidade e isto talvez se justifique por um dos impasses para a Arquitetura Sustentável indicado por Nunes, Carreira e Rodrigues (2009), no qual o custo de implantação das edificações ditas sustentáveis é de cerca de 30% superior ao de uma edificação convencional, dependendo, portanto, de uma mentalidade que busque lucro a prazos mais distantes. Na etapa de projeto, as decisões podem ser analisadas, experimentadas e, se necessário, revistas, sem grandes gastos financeiros adicionais. Contudo, as demais etapas não devem ser menosprezadas, posto que nelas – na construção e na operação do edifício – concentram-se os gastos e os impactos mais significativos (LAMBERTS et.al., 200-?). Aqui se apresenta também a necessidade do diálogo entre os diversos profissionais envolvidos na construção civil. De acordo com Lipai (2006, n.p.): Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 28 “O conhecimento compartimentado induz, com frequência, a equívocos ou erros de interpretação de dados que por sua vez podem conduzir a soluções inadequadas ou incompletas”, logo, a sustentabilidade aplicada à Arquitetura depende de um processo de síntese, obrigatoriamente interdisciplinar. Por mais complexo que o conceito de Arquitetura Sustentável se apresente, sua complexidade é, muitas vezes, menosprezada, reduzindo os aspectos sustentáveis do projeto arquitetônico ao uso de tecnologias ecológicas; este será o tema tratado a seguir. 2.1.2. Tecnologias Sustentáveis Como vimos anteriormente, as tecnologias sustentáveis possuem papel fundamental no que vem sido desenvolvido como Arquitetura Sustentável, levando até mesmo ao questionamento de se o que vem sendo produzido na construção civil nacional é fruto de uma Arquitetura ou de uma Tecnologia sustentável. A expressão tecnologia sustentável, assim como suas características, tem sido descrita por diversos autores, como Boff (1999); Isoldi, Sattler e Gutierrez (200-?); Lago e Pádua (1984); Vale e Vale (2000 apud ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?); entre outros. A Agenda 21 descreve a expressão como: (...) tecnologias ambientalmente saudáveis protegem o meio ambiente, são menos poluentes, usam todos os recursos de forma mais sustentável, reciclam mais seus resíduos e produtos e tratam os dejetos residuais de uma maneira mais aceitável do que as tecnologias que vieram substituir. (ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?, n.p.) A definição de Boff (1999) propõe que a ecotecnologia é um “caminho suave”, com técnicas e procedimentos que preservam o meio ambiente, identificando causas ao invés de consequências. Lago e Pádua (1984, p.65) separam a produção tecnológica entre “dura” ou “pesada” e “leve” ou “alternativa”, também chamada de limpa por Vale (2000 apud ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?). Isoldi, Sattler e Gutierrez (200- ?) explicam que: A tecnologia “dura” ou “pesada” é reflexo da sociedade capitalista de crescimento e é aquela que contribui para a Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 29 destruição ambiental, para o surgimento de injustiças sociais e territoriais e para a concentração de poder e capital. A tecnologia “alternativa”, por sua vez, é uma nova maneira de entender a escala e o esquema de funcionamento das atividades técnicas. (ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?, n.p.) É neste enfoque que Vale e Vale (2000 apud ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?) criaram um quadro comparativo (Quadro 1) entre a tecnologia pesada – derivada da racionalidade científica moderna – e a tecnologia limpa ou alternativa – fruto do paradigma pós-moderno, holístico e ecológico (ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?). Quadro 1: Comparação das características da tecnologia pesada e limpa. Fonte: Vale e Vale (2000 apud ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?, n.p.) Tecnologia Pesada Tecnologia Limpa descomprometida ecologicamente comprometida ecologicamente grande consumo de energia pequeno consumo de energia taxa elevada de poluição baixa taxa de poluição utilização de materiais e fontes de energia não renováveis materiais renováveis e fontes renováveis de energia funcional por um tempo funcional para todos os tempos produção em massa indústria artesanal alta especialização baixa especialização família nuclear comunidades alienação da natureza integração com a natureza limites tecnológicos definidos pelo lucro limites tecnológicos definidos pela natureza desvinculado da a cultura local compatível com a cultura local altamente destrutivo com outras espécies considera o bem estar das outras espécies inovação regulada pelo lucro e pela guerra inovação regulada pela necessidade capital intensivo trabalho intensivo centralista descentralista modos de operação complicados para compreensão geral modos de operação compreensíveis a todos soluções únicas para problemas técnicos e sociais múltiplas soluções para problemas técnicos e sociais agricultura com ênfase na monocultura agricultura com ênfase na diversidade quantidade é critério de alto valor qualidade é critério de alto valor objetivo do trabalho é a renda objetivo do trabalho é a satisfação unidades totalmente dependentes das outras pequenas unidades auto-suficientes forte distinção entre trabalho e lazer fraca ou não existente distinção entre trabalho e lazer ciência e tecnologia alienada da cultura ciência e tecnologia integrada com a cultura ciência e tecnologia realizadas por uma elite de especialistas ciência e tecnologia realizadas por todos ciência e tecnologia separada de outras ciência e tecnologia integradas com Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 30 Tecnologia Pesada Tecnologia Limpa formas de conhecimento outras