Grátis
125 pág.

Denunciar
Pré-visualização | Página 8 de 37
formas de conhecimento objetivos técnicos válidos somente para uma porção limitada da terra por um limitado período de tempo objetivos técnicos válidos para todos os homens para todos os tempos Este quadro deve ser visto com critério, pois as posições aqui defendidas podem ser consideradas um tanto quanto ingênuas. Os contrapontos descritos também misturam critérios e categorias distintas, dificultando sua análise e compreensão. Porém, permitiria que arquitetos e demais profissionais envolvidos na construção civil pudessem tomar decisões mais conscientes sobre quais tecnologias e materiais utilizar em seus projetos. Agopyan, John e Goldemberg (2011) atentam para que listas como esta devam ser utilizadas com cautela, pois boa parte delas tem falhas fundamentais nas suas propostas, como ignorar a dimensão social. Os autores chamam especial atenção às listas feitas com base na Análise de Ciclo de Vida (ACV) que, apesar de ser um método bastante conhecido atualmente, ainda tem falhas de avaliação. Para Veiga (2010), o desenvolvimento de novas tecnologias não deve ser o grande foco da discussão, pois, segundo ele, (...) muitas sociedades já demonstraram notável talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe são escassos. Em princípio, os fatores que podem levar a mudanças na composição e nas técnicas da produção podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econômica sejam evitados ou superados. E se houver evidência empírica que confirme essa suposta tendência, será permitido concluir que a recuperação ecológica resultará do próprio crescimento. (VEIGA, 2010, p.114-5) Qual seria, então, a grande questão com relação ao uso de tecnologias que emprestariam a alcunha sustentável para a Arquitetura? O problema, segundo Behling (1996), é que, ao invés de servir como instrumentos da Arquitetura, as novas tecnologias têm submetido a Arquitetura ao seu controle. Behling (1996) afirma que edifícios são manifestações de inovações técnicas: “Arquitetura e tecnologia nunca se desenvolveram de maneira independente e os avanços arquitetônicos e construtivos foram determinados pelo desenvolvimento técnico e da engenharia” (BEHLING, 1996 apud ISOLDI; Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 31 SATTLER; GUTIERREZ, 200-?, n.p.). Entretanto, a preocupação é com a dependência completa de tecnologias. Edwards (2008) afirma que a ecoarquitetura pode acabar se transformando em ecotecnologia, dependendo exclusivamente da tecnologia sustentável. Para ele, (...) a verdadeira sustentabilidade envolve todos os elementos de uma edificação: plantas, cortes, fachadas e detalhes construtivos. Se esta nova abordagem ecológica não conseguir promover uma mudança no entorno social e na forma da cidade, fracassará em sua tentativa de se converter na tendência predominante. (EDWARDS, 2008, p.162) O autor propõe que “A tecnologia é a base da construção sustentável, assim como o planejamento urbano também constitui a base das cidades sustentáveis” (EDWARDS, 2008, p.162). Lipai (2006) concorda, dizendo que arquitetos de projeção internacional têm apresentado soluções puramente tecnológicas, gerando “(...) tipologias semelhantes entre si, parecem substituir o conceito inicial de ‘máquina de morar’ de Le Corbusier pelo conceito de ‘indústria de morar’, (...)” (LIPAI, 2006, n.p.)1. A comparação com os conceitos de Le Corbusier é interessante, em especial quando comparada com a seguinte declaração de Edwards (2008): “Um típico estudante [de Arquitetura] da década de 1960, como o autor deste livro, era encorajado a acreditar que o aquecimento, a iluminação, o conforto e a acústica eram questões de projeto a serem transferidas à emergente profissão de consultores mecânicos e eletricistas” (EDWARDS, 2008, p.39)2. Interessante notar que a geração de arquitetos contemporâneos a Le Corbusier – prováveis professores da década de 60 – já acreditasse que os problemas arquitetônicos poderiam ser solucionados com o uso de tecnologias agregadas à edificação. Edwards (2008) alega que, atualmente, as tecnologias ecológicas estão num estágio avançado de desenvolvimento, embora não haja uma prática arquitetônica condizente. Já Isoldi, Sattler e Gutierrez (200-?) pregam que as inovações tecnológicas que têm ocorrido devam ser vistas com senso crítico: 1 Grifo do autor. 2 Grifo do autor. Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 32 Uma inovação assentada e direcionada dentro de um novo paradigma: o paradigma emergente da pósmodernidade, holístico, ecológico. Uma inovação multicultural, aberta a novas configurações de conhecimento e utilização, e tendo como princípios o respeito, a tolerância e a diversidade. (ISOLDI; SATTLER; GUTIERREZ, 200-?, n.p.) Os autores afirmam ainda que fica cada vez mais evidente o fato de que medidas puramente tecnológicas são insuficientes para solucionar os problemas ambientais causados pela humanidade. Gonçalves e Duarte (2006) propõem que, quando as inovações tecnológicas forem apropriadas, façam parte da concepção do projeto arquitetônico, para que não sejam inseridas posteriormente como “acessórios” e, de fato, contribuam para o bom desempenho e o resultado arquitetônico do edifício. Esta questão é confirmada por Wines (2008), que alega que as tecnologias sustentáveis são comumente tratadas como elementos instalados ao invés de elementos expressivos, que poderiam contribuir para a estética, ou seja, para a beleza da arquitetura. De acordo com o autor, sem que as tecnologias sustentáveis sejam plenamente incorporadas ao design das edificações, dificilmente a Arquitetura Sustentável será duradora. Wines (2008) afirma ainda que as raras exceções de profissionais que atuam de forma integrada entre o projeto arquitetônico e as tecnologias sustentáveis têm um valor fundamental, pois conseguem atribuir confiança e agradabilidade ao que, em primeira instância, pode parecer demasiadamente experimental e duvidoso para os usuários do espaço. A seguir, veremos como tem se dado a questão da sustentabilidade na realidade brasileira, com foco para a construção civil. 2.1.3. A Experiência Brasileira Em decorrência das discussões internacionais sobre sustentabilidade, o Ministério do Meio Ambiente realizou, em 1997, uma análise sobre as necessidades e carências específicas de cada região brasileira, publicando seus resultados em 2002, com os títulos Agenda 21 brasileira: resultado da consulta nacional e Agenda 21 brasileira: ações prioritárias (AFONSO, 2006). Entre o Discurso e a Prática: o mi(n)to da arquitetura sustentável Capítulo 2 – Revisão de Literatura 33 Estes documentos identificaram que as principais carências urbanas brasileiras estavam relacionadas ao contínuo processo de urbanização acelerada, juntamente com a ineficácia – ou até mesmo a ausência – de planejamento urbano. Dentre as carências identificadas, as principais foram: “(...) dificuldades de acesso à habitação; aumento do desemprego e dos subempregos; demandas não atendidas de serviços sociais, abastecimento, saneamento e transporte; além de padrões inadequados de gestão” (AFONSO, 2006, p.51). Com relação à carência de habitação, um levantamento posterior indicou que o déficit habitacional brasileiro era da ordem de 7,2 milhões de residências dignas (dados de 2004), confirmando os dados da Agenda 21 brasileira (BRASIL, 2004). A Agenda 21 brasileira propõe que o ponto de partida para resolução destas carências seja a reformulação de políticas públicas territoriais e urbanas,