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Resumo de Epidemiologia I – Parte 5 Aula 12: Vigilância Epidemiológica Vigilância à Saúde e a Vigilância Epidemiológica: o termo Vigilância à Saúde é abrangente, e compreende diversos subtipos de vigilância, dentre os quais podemos citar: Vigilância Sanitária (cujo órgão mais evidente é a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária –, a qual tem por responsabilidade a avaliação dos produtos consumidos pelos seres humanos, como alimentos, água comercializada e medicamentos), Vigilância Ambiental (subdividida em Vigi-Ar, Vigi-Água e Vigi-Solo, por exemplo), Vigilância à Saúde do Trabalhador (trata de aspectos relacionados à saúde do profissional que trabalha na área de saúde) e a própria Vigilância Epidemiológica (a qual atua sobre aspectos relacionados à integridade do indivíduo e da coletividade). A Vigilância Epidemiológica é, portanto, um dos âmbitos incluídos dentro do conceito total de Vigilância à Saúde. Conceito de Vigilância Epidemiológica: consiste no “conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças e agravos.” Ou seja, a vigilância epidemiológica se constitui em um conjunto de medidas que visam a efetuar a observação/vigília de fatos epidemiológicos em uma determinada área e em um período de tempo específico. Vale ressaltar que a vigilância inclui não somente medidas de controle, mas também contém as medidas de prevenção. Ou seja, é também papel da vigilância epidemiológica realizar ações voltadas à promoção da saúde, e não somente aquelas associadas ao controle. Pilares e Atividades da Vigilância Epidemiológica: os pilares da VE compreendem o território, a orientação por problemas e o planejamento e programação local. As suas atividades consistem em vigilância das doenças e agravos notificáveis ou não, monitoramento das doenças diarreicas agudas, imunização e investigação de óbitos maternos e infantis. Além disso, a vigilância epidemiológica não atua somente no monitoramento das doenças transmissíveis, mas também no controle e prevenção das doenças não- transmissíveis. Vale ressaltar que, antigamente, os pilares da Vigilância Epidemiológica se fundamentavam em uma programação nacional, que deveria ser seguida por todos os locais do país, sem um ajuste adequado das ações e propostas às diferentes realidades locais. Atualmente, contudo, a Vigilância Epidemiológica é pautada por intervenções que atendam às demandas regionais e que definam ações pontuais específicas. As linhas gerais de ação, como os protocolos de atendimento, contudo, continuam sendo definidas nacionalmente e seguidas pelas demais localidades; apenas as estratégias da Vigilância Epidemiológica é que passaram a atender as distintas realidades e situações de cada localidade do nosso país, flexibilizando-se a cada uma delas. Ação da Vigilância Epidemiológica quanto às doenças transmissíveis: no caso de doenças transmissíveis, existem aquelas de notificação compulsória e as de notificação não-compulsória. Para fazer a distinção entre esses dois tipos de doenças, a Portaria nº 2.472, de 31 de agosto de 2010, define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. É importante ressaltar que a simples suspeita de um caso de doença deve ser notificada, de modo que os indivíduos com sinais ou sintomas clínicos sugestivos de uma certa doença devem ser notificados. Existem, inclusive, alguns tipos de doenças, enquadradas em um sistema-sentinela, as quais são caracterizadas por terem sua vigilância, monitoramento e controle bastante ampliados, pois geralmente constituem doenças de alta letalidade (como no caso da meningite, por exemplo). Obviamente, os casos confirmados também devem ser notificados, como no caso de tuberculose, hanseníase, AIDS e doenças relacionadas ao trabalho. O quadro abaixo demonstra um caso suspeito de dengue, o qual deve ser notificado: Exemplo de caso suspeito de dengue e notificação do caso Mesmo pacientes com casos suspeitos de algumas doenças críticas, como no caso da dengue, devem ser notificados às autoridades de saúde. O caso abaixo ilustra um paciente com suspeita de dengue. Neste caso, diante deste quadro clínico, a simples suspeita da doença deve ser notificada o quanto antes. Quadro clínico: Paciente com febre com duração máxima de 77 dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaleia, dor retroorbital, mialgia, artralgia, prostração, exantema e com exposição à área com transmissão de dengue ou com presença de Aedes aegypti nos últimos quinze dias. A coleta de dados é feita através de uma sequência de eventos, a qual se segue na linha abaixo: Processamento de dados das Unidades de Saúde Análise e interpretação dos dados coletados (uso de Sistemas de Informação em Saúde) Recomenda- ção das medidas de controle Promoção das ações de controle indicadas Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas Divulgação de informações pertinentes Para que o processo descrito na página anterior seja realizado de forma adequada, os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) devem estar funcionando de maneira eficiente. Segundo sua definição, esses sistemas constituem “um conjunto de mecanismos de coleta, processamento e armazenamento de dados, visando à produção e à transmissão de informações para a tomada de decisões sobre as ações a serem realizadas, avaliando os resultados da sua execução e o impacto provocado na situação de saúde.” Entre os sistemas de informação em saúde de interesse para a Vigilância Epidemiológica estão o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), o SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), o SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica), o SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e o SI-PNI (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização). A notificação, por sua vez, é realizada especificamente através do Sistema de Agravos de Notificação (SINAN), o qual consta de uma ficha individual de notificação (para situações de suspeita diagnóstica) e a de investigação (para casos de doenças obrigatórias e/ou situações de surtos/epidemias). Inquéritos e levantamentos epidemiológicos, sistemas sentinela, SIM, SIH e IBGE compreendem fontes de dados adicionais, as quais também podem ser utilizadas. Como a notificação é um processo legalmente estabelecido, várias instâncias legais/judiciárias regulam sua ocorrência, como, por exemplo, o Código Penal, cujo artigo 269 se refere ao caso do médico que deixa de notificar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. A pena constitui detenção que varia de seis meses a dois anos, além de multa. Ademais, o não cumprimento dessa obrigatoriedade é comunicado aos conselhos de entidades de Classe e ao Ministério Público para que sejam tomadas as medidas cabíveis, conforme estabelece a Portaria do Ministério da Saúde. Na notificação, alguns aspectos devem ser levados em consideração. Em primeiro lugar, como já foi discutido, a simples suspeita da doença deve ser notificada. Em segundo lugar, a notificação deve ser sigilosa e só pode ser divulgada fora do âmbitomédico-sanitário caso haja risco para a comunidade, sempre respeitando o direito ao anonimato dos cidadãos. E, em terceiro lugar, o envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausência de casos. As notificações seguem um determinado fluxograma de encaminhamento, conforme mostram os esquemas abaixo: Estratégias de Intervenção da Vigilância Epidemiológica: Endemia: segundo sua definição, endemia é a “ocorrência coletiva de uma determinada doença que, no decorrer de um largo período histórico, acometendo sistematicamente grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados, mantém sua incidência constante, permitidas flutuações de valores tais como as variações sazonais.” A endemia, portanto, representa uma doença habitualmente presente entre membros de uma determinada área e em uma população definida. Em determinadas ocasiões, a endemia pode assumir um caráter epidêmico. Epidemia: significa a ocorrência de uma dada doença em um grande número de pessoas simultaneamente. Seu conceito operativo a define como uma “alteração espacial e cronologicamente delimitada do estado de saúde-doença de uma população, caracterizada por uma elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos coeficientes de incidência de determinada doença, ultrapassando e reiterando valores acima do limiar epidêmico preestabelecido.” Observe, abaixo, um diagrama controle para incidência de doença meningocócica no Brasil, entre os anos de 1994 e 1997 (observar, no diagrama, que a área sombreada corresponde aos valores endêmicos, ou seja, aqueles que são normalmente esperados para a doença em questão e, quando a incidência, representada pela linha escura, ultrapassa o número de casos esperados, uma área branca surge, indicando a ocorrência de epidemia): Pandemia: consiste em uma ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial, atingindo várias nações distintas. A pandemia pode ser entendida como uma séria de epidemias localizadas em diferentes regiões e que ocorrem em vários países ao mesmo tempo. Como exemplo, pode ser citada a pandemia da cólera (entre os anos de 1961 e 1965, tendo atingido 18 países, entre os anos de 1965 e 1970, tendo atingido 39 países, e ao longo do ano de 1991, tendo atingido as Américas, entrando pelo Peru através de um navio procedente da Ásia e difundindo-se pelo Equador, Colômbia, Brasil, Chile, Bolívia e até EUA). Retroalimentação: boletins e dados divulgados pela mídia permitem a retroalimentação do processo de coleta de dados a respeito da saúde pela Vigilância Epidemiológica. Ou seja, o compromisso de responder aos informantes (profissionais de saúde, dirigentes, população e imprensa) de forma adequada e oportuna é fundamental para evidenciar a importância do trabalho sendo realizado e a credibilidade do sistema, e surge daí a importância da divulgação de todos os dados colhidos e análises empreendidas. Ação da Vigilância Epidemiológica quanto às doenças/agravos não- transmissíveis (DANTs): no caso das doenças que não são transmissíveis, a Vigilância Epidemiológica atua analisando dados secundários e fazendo a consideração acerca dos diferentes estilos de vida da população. No caso das transições demográfica e epidemiológica que vêm ocorrendo gradativamente, com queda da fecundidade, declínio da mortalidade por doenças infecciosas, aumento da expectativa de vida e aumento da exposição a modos de vida pouco saudáveis, há elevação na população idosa e diminuição da proporção de indivíduos com 0 a 4 anos. Esses fatores de mudança social influenciam de modo decisivo o tipo de doenças que mais acometem a população, as quais estão também condicionadas pelos hábitos de vida. No caso das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNTs), por exemplo, o quadro abaixo resume os diversos fatores determinantes e condicionantes que estão relacionados à ocorrência desse tipo específico de doença: Portanto, o papel da Vigilância Epidemiológica no caso das DANTs é realizar a vigilância/monitoramento das DCNTs e seus fatores de risco, bem como dos acidentes e casos de violência. Ademais, no caso das DANTs, é papel da Vigilância Epidemiológica, mais uma vez, realizar a promoção da saúde, além do controle.
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