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Semi�tica Santaella.pdf

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O SIGNO PEIRCEANO 
 
REFERÊNCIA 
 
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983 (os números de 
páginas sindicados entre parênteses se referem a essa obra). 
 
"O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Só é signo se 
carregar essa capacidade de representar outra coisa. O signo não é o objeto – não 
pode se confundir com o objeto." (p.58) 
• Uma foto representa o objeto (pessoa, paisagem etc.) fotografado. Essa foto 
não é o objeto e só pode funcionar como signo justamente porque carrega a 
capacidade de substituir/representar seu objeto. 
 
"O significado de um signo é sempre um outro signo — seja este uma imagem 
mental ou palpável, uma ação ou mera reação gestual, uma palavra ou um mero 
sentimento de alegria, raiva... uma idéia, ou seja lá o que for — porque esse seja lá o 
que for, que é criado na mente pelo signo, é um outro signo (tradução do primeiro)". 
(p.59) 
• Trata-se do caráter dinâmico do signo. Como somos seres de linguagem — 
porque só nos expressamos por meio de uma linguagem —, o resultado de 
uma interetação será sempre outro signo, sujeito também a ser 
interepretado, e assim sucessivamente. 
"O signo é um complexo de relações" (p.61). 
 
Santaella explica que o signo não é uma coisa monolítica. Podemos dizer que ele é o 
resultado de uma relação complexa entre representação (a coisa que se mostra) e 
interpretação (o que se entende sobre essa coisa). 
 
Entre essas duas instâncias (a da representação e a da interpretação), há uma série 
de interferências socioculturais, políticas etc. que criam condições tanto para a 
existência do signo quanto para a nossa interpretação. Pensemos, por exemplo, 
como a pomba branca passou a simbolizar a paz. Mesmo que não saibamos a 
história dessa representação, sabemos o suficiente para entender que se trata de 
uma criação humana. Além disso, ainda na instância da representação, sabemos que 
a pomba branca é símbolo de uma ideia de paz. 
 
A canção Minha Alma (A paz que eu não quero) do grupo O Rappa questiona essa 
ideia de paz, o que significa que essa ideia também é um signo (igualmente 
simbólico). 
 
Agora pensemos em nossa interpretação: por que nós associamos a imagem de uma 
pomba branca à paz? Por que entendemos "paz" mais ou menos do mesmo jeito? A 
resposta está ligada à nossa formação cultural, ao fato de essa associação ser 
convencional e de se repetir tanto a ponto de se criar uma relação que supomos 
"natural" (embora seja arbitrária) entre a imagem da pomba e essa ideia de paz. 
 
A CONSTITUIÇÃO DO SIGNO SEGUNDO PEIRCE 
 
Para Peirce, o signo se constitui a partir de três elementos: 
• Representâmen: aquilo que funciona como signo para quem o percebe; 
• Objeto: aquilo que é referido pelo signo; 
• Interpretante: o efeito do signo naquele (ou naquilo, incluindo outros seres 
vivos ou dispositivos comunicativos inumanos, como os computadores) que 
o interpreta, dentro de um contexto de significação; “processo relacional que 
se cria na mente do intérprete” (p.57). 
Ocorre que, na semiotica peirceana, um signo tem dois objetos e três 
interpretantes. 
 
 
Clique para ampliar 
 
Considerando que o representâmen (o que se mostra do signo) é o círculo, temos 
um "complexo de relações", contituído pelos seguintes elementos: 
 
Objeto dinâmico: aquilo que é substituído. O objeto “em si”. 
 
Objeto imediato: modo como o objeto dinâmico está representado no signo. 
 
Interpretante imediato: aquilo que o signo está apto a representar na mente do 
intérprete; virtualidade do signo; sua capacidade de representar algo. 
 
Interpretante dinâmico: aquilo que o signo produz na mente do intérprete. 
 
Interpretante em si: tradução do signo anterior em um outro signo. Esse outro 
signo, de caráter lógico, consiste não apenas no modo como sua mente reage ao 
signo, mas no modo como qualquer mente reagiria, dadas certas condições. 
 
 
 
FENOMENOLOGIA 
 
O termo “fenomenologia” provém de duas palavras gregas – phainomenon 
(fenômeno) e logos (estudo, ciência). O sentido mais imediato do termo, portanto, 
remete à ciência ou ao estudo dos fenômenos. 
Num sentido mais amplo, a fenomenologia pode ser pensada como uma investigação 
filosófica, já que ela parte dos fenômenos (aquilo que se apresenta) para lhes 
conferir uma unidade de sentido. 
“A fenomenologia é uma espécie de método que faz a mediação entre o sujeito e o 
objeto ou, dizendo de outro modo, entre o eu e a coisa” (BERNARDO). 
Para Edmund Husserl, conhecido como o fundador da fenomenologia moderna, 
todos os fenômenos, da mesa mais simples ao evento mais complexo, são reais à 
medida que compreendidos pela consciência” (BERNARDO). 
Tudo nos é informado pelos sentidos e transformado em uma experiência de 
consciência (em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo). Coisas, 
imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, eventos, memórias, sentimentos, 
etc. são fenômenos que constituem nossas experiências de consciência. 
"Nós nos apegaríamos à fé na realidade de mesas e mentes porque a concretude do 
mundo vivido é coberta por grossas camadas de preconceito que nos fazem 
acreditar em objetos e em sujeitos. É necessário remover ou reduzir essas camadas” 
(BERNARDO). 
"Os objetos devem ser libertos para revelar o que são: nós abstratos de intenções. 
Esse é o processo conhecido como redução fenomenológica (isto é, do fenômeno)” 
(BERNARDO). 
Da mesma forma, “o eu deve ser liberto para conhecer o que realmente sou: um 
outro nó abstrato do qual as intenções emanam – essa seria a redução eidética (isto 
é, do ser). 
“Os dois movimentos tornam possível e consciente a sinngebung (isto é, a doação do 
sentido)” (BERNARDO). 
 
 
- Entendendo fenômeno como qualquer coisa que esteja de algum modo e em 
qualquer sentido presente à mente (qualquer coisa que apareça, de modo externo 
(uma batida na porta, um raio de luz, um cheiro de jasmim), ou interna (uma dor no 
estômago, uma lembrança ou reminiscência, uma expectativa ou desejo), “a 
fenomenologia seria, segundo Peirce, a descrição e análise das experiências que 
estão em aberto para todo homem, cada dia e hora, em cada canto e esquina de 
nosso cotidiano” (2007, p.32). 
 
- “A fenomenologia peirceana começa, pois, no aberto, sem qualquer julgamento de 
qualquer espécie: a partir da experiência ela mesma, livre dos pressupostos que, de 
antemão, dividiriam os fenômenos em falsos ou verdadeiros, reais ou ilusórios, 
certos ou errados. Ao contrário, fenômeno é tudo aquilo que aparece à mente, 
corresponda a algo real ou não” (2007, p.32.). 
 
 
- “Trata-se, portanto, de um estudo que, suportado pela observação direta dos 
fenômenos, discrimina diferenças nesses fenômenos e generaliza essas observações 
a ponto de ser capaz de sinalizar algumas classes de caracteres muito vastas, as mais 
universais presentes em todas as coisas que a nós se apresentam” (p.33). 
 
 
Para Santaella, são três as faculdades que devemos desenvolver para essa tarefa: 
• capacidade contemplativa, isto é, “abrir as janelas do espírito e ver o que está 
diante dos olhos”; 
• capacidade de distinguir, discriminar diferenças nessas observações; 
• capacidade de generalizar as observações em classes ou categorias 
abrangentes (2007, p.33.) 
- “Considerando experiência tudo aquilo que se força sobre nós, impondo-se ao 
nosso reconhecimento, e não confundindo pensamento com pensamento racional 
(deliberado e auto-controlado), pois este é apenas um dentre os casos possíveis de 
pensamento, Peirce conclui que tudo que aparece à consciência, assim o faz numa 
gradação de três propriedades que correspondem aos três elementos formais de 
toda e qualquer experiência.” (2007, p.33.) 
 
 
“Em 1867, essas categorias foram denominadas: 1) Qualidade, 2) Relação e 3) 
Representação” (2007, p.35). 
 
 
- Depois, o termo relação foisubstituído por reação e o termo representação 
recebeu a denominação mais ampla de mediação. Mas, para fins científicos, Peirce 
preferiu fixar-se nos termos Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, por 
serem palavras inteiramente novas, livres de falsas associações a quaisquer termos 
já existentes (2007, p.35). 
 
 
- “Para se ter uma idéia da amplitude e abertura máxima dessas categorias, basta 
lembrarmos que, em nível mais geral, a 1º corresponde ao acaso, originalidade 
irresponsável e livre, variação espontânea; a 2º corresponde à ação e reação dos 
fatos concretos, existentes e reais, enquanto a 3º categoria diz respeito à mediação 
ou processo, crescimento contínuo e devir sempre possível pela aquisição de novos 
hábitos” (2007, p.39). 
 
 
- “O 3º pressupõe o 2º e o 1º; o 2º pressupõe o 1º; o 1º é livre. Qualquer relação 
superior a três é uma complexidade de tríades” (2007, p.39). 
 
 
- Essas três categorias irão para o que poderíamos chamar três modalidades 
possíveis de apreensão de todo e qualquer fenômeno. Certamente há infinitas 
gradações entre essas modalidades. Elas se constituem, no entanto, nas modalidades 
mais universais e mais gerais, através das quais se opera a apreensão-tradução dos 
fenômenos” (2007, p.42). 
 
 
A) PRIMEIRIDADE 
 
“O primeiro (primeiridade) é presente e imediato, de modo a não ser segundo para 
uma representação”. 
 
“Ele é iniciante, original, espontâneo e livre, porque senão seria um segundo em 
relação a uma causa”. 
 
“Ele não tem nenhuma unidade nem partes. Ele não pode ser articuladamente 
pensado; afirme-o e ele já perdeu toda sua inocência característica, porque 
afirmações sempre implicam a negação de uma outra coisa” (2007, p.45). 
 
“Levantemos, por exemplo, algumas instâncias de qualidades de sentir ao 
imaginarmos um estado mental caracterizado por uma simples qualidade positiva: o 
sabor do vinho, a qualidade de sentir amor, perfume de rosas, uma dor de cabeça 
infinita que não nos permite pensar nada, sentir nada, a não ser a qualidade da dor” 
(2007, p.46). 
 
Trata-se de “estados de disponibilidade, percepção cândida, consciência esgarçada, 
desprendida e porosa, aberta ao mundo, sem lhe opor resistência, consciência 
passiva, sem eu, liberta dos policiamentos do autocontrole e de qualquer esforço de 
comparação, interpretação ou análise. Consciência assomada pela mera qualidade 
de um sentimento positivo, simples, intraduzível”. (2007, p.46). 
 
É preciso “não confundir a qualidade de sentimento de uma cor vermelha, por 
exemplo, de um som ou de um cheiro, com os próprios objetos percebidos como 
vermelhos, sonantes ou cheirosos”. (2007, p.46). 
 
“Consciência em primeiridade é qualidade de sentimento” (2007, p.46). 
 
"Sentimento é, pois, um quase-signo do mundo: nossa primeira forma rudimentar, 
vaga, imprecisa e indeterminada de predicação das coisas” (p.46). 
 
Segundo Santaella, a primeiridade é a categoria que dá à experiência sua qualidade 
distintiva. 
 
Não a liberdade em relação a uma determinação física (que seria uma proposição 
metafísica), mas liberdade em relação a qualquer elemento segundo. Vale lembrar 
que a primeiridade é um condição para a secundidade. 
 
 
 
B) SECUNDIDADE 
 
 
O estado-quase, daquilo “que é ainda possibilidade de ser” (o primeiro) “deslancha 
irremediavelmente para o que já é (segundo). Assim, “entramos no universo do 
segundo” (2007, p.47). 
 
"Há um mundo real, reativo, um mundo sensual, independente do pensamento e, no 
entanto, pensável, que se caracteriza pela secundidade” (2007, p.47). 
 
“O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, consciência 
reagindo em relação ao mundo. Existir é sentir a ação de fatos externos resistindo à 
nossa vontade” (2007, p.47). 
 
“Certamente, onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua 
primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para 
existir, a qualidade tem de estar encarnada numa matéria. A factualidade do existir 
(secundidade) está nessa corporificação material.” (2007, p.47). 
 
“Sentimento ou impressão indivisível e sem partes, qualidade simples e positiva, 
mero tom de consciência é primeiro. Não se confunde com sensação, pois esta tem 
duas partes: 1) o sentimento e 2) a força da inerência desse sentimento num sujeito. 
Qualquer relação de dependência entre dois” (2007, p.48). 
 
 
A secundidade “é a arena da existência cotidiana. Estamos continuamente 
esbarrando em fatos que nos são externos, tropeçando em obstáculos, coisas reais, 
factivas que não cedem ao mero sabor de nossas fantasias” (2007, p.47). 
 
 
“É aquilo que dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto. Ação e reação 
ainda em nível de binariedade pura, sem o governo da camada mediadora da 
intencionalidade, razão ou lei (2007, p.51). 
 
 
C) TERCEIRIDADE 
 
 
“A terceiridade [...] aproxima um primeiro e um segundo numa síntese intelectual 
(2007, p.51). 
 
 
“Corresponde à camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através da 
qual representamos e interpretamos o mundo. Por exemplo: o azul, simples e 
positivo azul, é um primeiro. O céu, como lugar e tempo, aqui e agora, onde se 
encarna o azul, é um segundo. A síntese intelectual, elaboração cognitiva – o azul no 
céu, ou o azul do céu –, é um terceiro.” (2007, p.51). 
 
 
A terceiridade se refere à “generalidade, infinitude, continuidade, difusão, 
crescimento e inteligência”. 
 
 
“Mas a mais simples idéia de terceiridade é aquela de um signo ou representação. E 
esta diz respeito ao modo, o mais proeminente, com que nós, seres simbólicos, 
estamos postos no mundo” (2007, p.51). 
 
 
“Diante de qualquer fenômeno, isto é, para conhecer e compreender qualquer coisa, 
a consciência produz um signo, ou seja, um pensamento como mediação irrecusável 
entre nós e os fenômenos”(2007, p.51). 
 
 
Isso se dá no âmbito “do que chamamos de percepção. Perceber não é senão 
traduzir um objeto de percepção em um julgamento de percepção, ou melhor, é 
interpor uma camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido” (2007, 
p.51). 
 
 
“O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só 
interpreta essa representação numa outra representação, que Peirce denomina 
interpretante da primeira” (2007, p.51). 
 
 
“Compreender, interpretar é traduzir um pensamento em outro pensamento num 
movimento ininterrupto, pois só podemos pensar um pensamento em outro 
pensamento” (2007, p.52).

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