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A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL, Durkheim, Emile

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Resenha: A Divisão do Trabalho Social
(Durkheim, Émile, A divisão do trabalho social, Martins Fontes, 1977)
 Émile Durkheim principia sua tese esclarecendo o papel ou função da divisão do trabalho, ou seja, procura esclarecer “a que necessidade ela corresponde” (p.13). Nesse sentido ele tece uma série de considerações que exclui vários fatores e atribui à divisão do trabalho o papel de prover a coesão social, por meio da solidariedade social. 
 Partindo da constatação de que geralmente se concebe à civilização um valor absoluto, Durkheim concorda que a divisão do trabalho tem como função mais aparente aumentar a força produtiva e a habilidade do trabalhador, condição necessária do progresso intelectual e material da sociedade: a fonte da civilização. Todavia, sem negar essa realidade, ele observa que essa constatação, por si só, não confere à divisão do trabalho um caráter moral, tendo no máximo relação indireta e muito distante (p.14). 
 Para Durkheim o complexus a que chamamos de “civilização”, e os elementos de que é composto, são desprovidos de caráter moral, pois a quantidade de crimes, suicídios e outros fatos mórbidos, não diminuem, ao contrário, parecem crescer à medida que as artes, a ciência e a indústria progridem. 
 Durkheim constata que, assim como indivíduos semelhantes se atraem, o contrário também é possível. Ele observa que em muitos casos indivíduos diferentes se atraem, (p.20); todavia não por qualquer tipo de dessemelhança, não as que tendem a se oporem, mas apenas as que servem de complemento (p.21). Em decorrência dessa interpretação Durkheim passa então a considerar a divisão do trabalho sobre outro aspecto: o da solidariedade (p.21). Nesse sentido, “os serviços econômicos” que a divisão do trabalho presta “não são nada em comparação ao efeito moral que ela produz”, ou seja, para o autor, a divisão do trabalho gera a solidariedade. Estabelecido este pressuposto, Durkheim passa a tecer uma série de considerações acerca da sociedade conjugal e da divisão sexual do trabalho, as quais conduzem à constatação de que “é a divisão do trabalho sexual a fonte da solidariedade conjugal” (p22). Ainda nessa perspectiva, o autor entende que a divisão do trabalho sexual estende-se a todas as funções orgânicas e sociais (p.22). Daí observa que “a história desenvolveu-se no mesmo sentido e da mesma maneira que a sociedade conjugal” (p.22). Segundo ele, quanto mais remontamos ao passado, mais a sociedade conjugal se apresenta menos complexa e mais livre de obrigações jurídicas, até chegar ao ponto de associações conjugais muito efêmeras e desprovidas de complexidade (p.24). Durkheim concebe que o mais notável efeito da divisão do trabalho não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas torná-las solidárias; nesse sentido, o seu papel é tornar possíveis sociedades que, sem elas, não existiriam (p.27); logo, segundo o autor, a solidariedade supera infinitamente a esfera econômica da divisão do trabalho, pois consiste no estabelecimento de uma ordem social “sui gêneris”, cimentando as ligações entre os indivíduos (p.27). 
 Daí o autor infere que a divisão do trabalho é a fonte, se não única, pelo menos principal da solidariedade social (p.29).pois, é a repartição contínua dos diferentes trabalhos humanos que constitui a solidariedade social, e se torna a causa elementar da extensão e da complicação (complexidade) crescente do organismo social, ou seja, a divisão do trabalho, por meio da solidariedade social, tem a característica de dotar a sociedade de coesão, derivando daí seu caráter moral, pois é condição para a sua existência (p.30). Assim, Durkheim observa que a garantia de coesão social atribui à divisão do trabalho um caráter moral.
 Partindo do pressuposto acima estabelecido, de que a solidariedade social é um fenômeno totalmente moral, portanto um fato interno que, por si só não se presta bem à observação e à classificação, Durkheim propõe substituí-lo por um fato externo que o simbolize e permita estudar o primeiro através do segundo. Esse símbolo proposto pelo autor é o Dreito. Essa afirmação relaciona-se à argumentação segundo a qual, onde a solidariedade social é forte, ela inclina fortemente os homens uns para os outros, colocando-os em contato (p.31); donde ele concebe que, quanto mais os membros de uma sociedade são solidários, mais mantém relações diversas entre si; e, por conseguinte, o número dessas relações é diretamente proporcional ao das regras jurídicas que as determinam (p.31).
 Para o autor, “a vida social, onde quer que exista de forma duradoura, tende a tomar forma definida, a se organizar, e o Direito nada mais é do que essa organização” (p.32). Ele reconhece que existem relações sociais que não são regulamentadas pelo Direito, mas sim pelo costume, o qual, todavia, não se opõe ao Direito, pelo contrário, é a sua base (p.32). Da relação entre a solidariedade social – garantidora da coesão social – e o Direito, Durkheim concebe que a solidariedade pertence ao domínio da sociologia, constituindo-se, portanto, num fato social (p.34). 
 Ao analisar extensivamente a natureza dos fenômenos jurídicos, sobretudo do Direito penal, Durkheim relaciona os fenômenos jurídicos ao tipo de solidariedade vivenciada pela sociedade. Atribuindo especial importância à análise do Direito Penal, o autor concebe dois tipos de sanções jurídicas: as repressivas relacionadas à solidariedade mecânica, e as restitutivas associadas à solidariedade orgânica (p.37).
 Cabe esclarecer que, segundo Durkheim, nas sociedades “primitivas”, de estruturas sociais mais simples, predomina um tipo de solidariedade que ele chama de solidariedade mecânica, e nelas a consciência coletiva é muito acentuada, ao passo que a consciência individual encontra-se muito atenuada; nelas Durkheim constata que o Direito praticado é essencialmente penal, com sanções repressivas; esse Direito repressivo tende a estar difuso na sociedade. Por outro lado, nas sociedades mais complexas predomina uma solidariedade orgânica, e nelas a consciência individual encontra-se muito acentuada, ao passo que a consciência coletiva é muito atenuada;. Nelas Durkheim observa a existência de outros ramos do Direito, caracterizados por sanções restitutivas; nessas sociedades o Direito restitutivo já não tende a estar difuso, mas concentrado em órgãos especiais: tribunais trabalhistas, administrativos, etc. 
 No segundo capítulo, Emile Durkheim apresenta e desenvolve o conceito de solidariedade mecânica ou por similitude; mas ele o faz a partir de uma argumentação fundamentada na evolução do Direito Penal, em virtude daquela não prestar-se à observação direta, ao passo que o Direito constitui-se numa manifestação daquela. Ainda segundo o autor, o Direito Penal expressa aquilo que afeta de maneira mais intensa à consciência moral dos indivíduos (p.40); por conseguinte, a consciência moral é comum à toda a sociedade, ela é a consciência coletiva. Adversamente, a consciência coletiva é tanto mais acentuada quanto mais simples for a sociedade, ou seja, ela desenvolve-se em proporção inversa ao seu grau de complexidade. A consciência coletiva ou comum é o tipo psíquico da sociedade (p.50). 
 Da sua análise do Direito Penal Emile Durkheim conclui que “a única característica comum a todos os crimes é que eles consistem em atos universalmente reprovados pelos membros de cada sociedade” (p.43), ou seja, “o crime melindra sentimentos que se encontram em todas as consciências sadias de um mesmo tipo social” (idem). 
 Em seu esforço para explicar a gênese do Direito Penal, como ele se codificou, Durkheim constata não ser possível fazer uma lista dos sentimentos cuja violação constitui um ato criminoso nas diferentes sociedades e épocas, pois, eles só se distinguem dos outros pela característica de serem comuns a grande médiados indivíduos da mesma sociedade (p.44); por isso, as regras que proíbem esses atos e que o Direito Penal sanciona, são as únicas a que o famoso axioma jurídico “ninguém pode ignorar a lei” se aplica sem ficção (p.44). Para o autor isso elucida a maneira especial como o Direito Penal se codificou, pois, segundo ele, todo Direito escrito tem uma dupla função: impor certas obrigações e definir sanções ligadas a estas (p.44).
 Durkheim desvenda como nas sociedades “primitivas”, gestos como o de tocar um objeto tabu, um animal ou um homem impuro ou consagrado, de deixar-se apagar o fogo sagrado, de comer certas carnes,de não pronunciar corretamente a fórmula ritual, de não celebrar certas festas, etc., pôde constituir um perigo social (p.41), ao ponto de configurar-se em crime; ele observa que isso só faz sentido se essas ações ou omissões ofendessem de maneira intensa os estados fortes da consciência coletiva. Nessas sociedades “primitivas” o Direito era afeto ao campo da religião e caracterizava-se por ser sempre repressivo (p.48), como também, por ser exercido por sacerdotes, conforme se pode observar do Pentateuco e de outros textos sagrados da antiguidade. Nesse sentido, o crime era uma ofensa a uma autoridade transcendental (p.56) e como tal, era uma ofensa à consciência coletiva, por isso é a sociedade quem pune (p.62). Por fim, o autor infere a razão porque o Direito penal não só é essencialmente religioso, em sua origem, como também guarda sempre certa marca de religiosidade. Os atos que ele castiga parecem ser atentados contra algo transcendental (p.72). Ele está relacionado, em sua origem, à solidariedade mecânica, a qual vincula diretamente o indivíduo à sociedade, e é característica das sociedades “primitivas” (p.79). 
 No terceiro capítulo Durkheim desenvolve o conceito de solidariedade devida à divisão do trabalho ou orgânica, ainda a partir da observação dos fenômenos jurídicos. Ele parte do pressuposto que a própria natureza restitutiva das sanções já aponta para um outro tipo de solidariedade, a orgânica (p.85). Segundo Durkheim, nas sociedades “superiores” predomina uma solidariedade orgânica. Essas sociedades complexas se caracterizam pela predominância do Direito restitutivo, o qual já não tende a estar disseminado pela sociedade, e sim concentrado em órgãos especiais, como os tribunais consulares, trabalhistas, administrativos, etc. (p.87). Elas já não se caracterizam pelo Direito Penal, mas sim os de sanções restitutivas como o Direito administrativo, o Direito Civil, o Constitucional, etc. 
 Para o autor, a consciência coletiva e a individual estão presentes no mesmo indivíduo, mas são sempre inversamente proporcionais. Ainda Segundo Durkheim, a natureza desses fenômenos jurídicos, nas sociedades complexas, estão mais ou menos fora da consciência coletiva (p.87), fenômeno compatível com o tipo de solidariedade praticada. 
 Para Durkheim, nas sociedades onde solidariedade mecânica é muito desenvolvida, o indivíduo é, literalmente, uma coisa de que a sociedade dispõe (107), já nas sociedades orgânicas o grau de individuação é muito acentuado.Utilizando-se de uma linguagem anatômica Durkheim compara a sociedade complexa a um organismo, composto por diferentes órgãos, cada um responsável por uma função, mas interdependentes (p.109), o que é muito benéfico, pois, “a unidade do organismo é tanto maior, quanto mais acentuada a individuação das partes”. 
 No quinto capítulo Durkheim discorre acerca da preponderância progressiva da solidariedade orgânica e suas conseqüências. Ele inicia chamando à atenção para a maior importância do Direito Cooperativo nas sociedades “complexas”, tal como o Direito Doméstico, Direito Contratual, Direito Comercial, etc. proporcionalmente à menor importância do Direito Penal, o que significa, segundo o autor, que o conjunto de relações submetidas à legislação penal representa apenas a menor fração da vida geral (p.127), o que induz à conclusão que os vínculos que ligam o indivíduos à sociedade e que derivam da comunidade das crenças são muito menos numerosos do que os que resultam da divisão do trabalho (p.127). Cabe esclarecer que, segundo Durkheim, nessas sociedades complexas a consciência coletiva e a solidariedade que ela produz não são expressas integralmente pelo Direito Penal (p.127). 
 Durkheim observa que ao longo da história muitos tipos de criminológicos foram paulatinamente desaparecendo, ao passo que foram sendo relegados a outros campos da razão humana, como, por exemplo, a vida privada, a vida doméstica, etc, o corresponde a tipos de sentimentos coletivos diferentes (p.140). 
 Por fim, cabe frisar que Durkheim preocupa-se em ressaltar a importância que atribui ao papel da divisão do trabalho e o seu caráter agregador (ao contrário do que preconizava a teoria marxista na mesma época). Ele desenvolve uma concepção bastante otimista da sociedade, pois, defende que o progresso social não consiste numa dissolução, ao contrário, ele aumenta a sua de unidade (p.156). Para ele a divisão do trabalho cumpria cada vez mais o papel outrora exercido pela consciência comum ou consciência coletiva (p.156).
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