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Feijoada e soul food, Peter Fry

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Feijoada e soul food – Peter Fry
 Esse texto do Peter Fry é muito interessante para nós, estudantes de Ciências Sociais, pelo fato do questionamento que ele desperta a partir da releitura que Peter Fry faz do seu próprio texto 25 anos depois. Cabe destacar que Fry é um importante antropólogo da Unicamp; inglês, radicado no Brasil desde os anos 70, Fry realizou diversos trabalhos em países de língua portuguesa, especialmente na Rodésia e no Brasil. 
 Suas concepções tiveram grande influência nos meios intelectuais brasileiros. A releitura feita por ele 25 anos depois, chama a atenção para o fato de que os indivíduos ao escreverem, sofrem a influência de ideologias políticas e dos modismos intelectuais de época. 
 No texto publicado no XXVIII Congresso da SBPC, em 1976, Fry assegura que no Brasil os produtores de símbolos nacionais e de cultura de massa escolheram a feijoada como um símbolo cultural da sociedade brasileira, ou seja um item representativo da cultura nacional.
 Na concepção de Fry a escolha da feijoada como símbolo nacional (a qual é um símbolo cultural originalmente produzido pelos grupos dominados) foi, na verdade, uma manobra sutil e maquiavélica das elites dominantes (os produtores de símbolos nacionais), para garantir a dominação racial e social existentes no Brasil, mascarando-a. o mesmo teria acontecido com o candomblé e o samba. 
 O candomblé, segundo Peter Fry, para ser aceito socialmente, teria passado antes por um processo de purificação dos seus aspectos africanos mais evidentes, sob a influência da classe média brasileira. O samba, por sua vez, também teria passado por um processo de apropriação por parte das elites dominantes, de forma a se tornar rentável e lucrativo; o instrumento para isso teria sido o processo de endividamento da “Mangueira” para construir a sua sede.
 Importa de tudo isso que Fry aproveitou seu texto para desqualificar a tese da democracia racial de Gilberto Freyre, alegando que Freyre ajudava a mascarar o processo de dominação racial existente na sociedade brasileira. 
 Passados 25 anos (2001), Peter Fry fez uma espécie de revisão, releitura do que havia escrito em 1976, o que é muito difícil de ser ver entre os intelectuais brasileiros.
 Em sua releitura Fry admite que quando escreveu esse artigo, em 1976, no qual desqualificava, inclusive, a concepção de Gilberto Freyre, ele estava muito influenciado pelo contexto marxista e esquerdista dos anos 60 e 70, que dominava nos meios intelectuais.
 Ele admite que fez uma análise muito tendenciosa da sociedade brasileira, optando por utilizar uma terminologia marxista que estava muito em moda, na época, empregando termos como elites dominantes, dominados, dominadores, etc.
 Segundo ele, sua desqualificação da tese de “democracia racial” de Freyre também agradou muito aos intelectuais paulistas, especialmente aos da UNICAMP, que tinha aversão à obra de Gilberto Freyre e o consideravam como uma espécie de arqui-inimigo, na época.-
 Importa de tudo isso, que Fry se justifica a partir da constatação de que os intelectuais escrevem sob a influência do contexto histórico que vivenciam.
 Em suma, esse texto do Peter Fry nos ensina a questionarmos e cotejarmos as diversas concepções que nos são apresentadas, principalmente quando relacionadas com modelos ideológicos e modismos acadêmicos.

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