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COMO PESQUISAR NO TEXTO Clique em editar => Localizar ou clique Ctrl + F. Na barra de ferramentas, digite sua pesquisa na caixa de texto localizar. COMO UTILIZAR O ZOOM Selecione Visualizar => Aplicar Zoom e selecione a opção desejada ou clique na barra de ferramentas + ou - para alterar o zoom. Você ainda pode escolher Ferramentas => Selecionar e zoom => Zoom dinâmico e arraste para aumentar uma área. COMO IMPRIMIR Clique no ícone imprimir , ou selecione arquivo => imprimir. Se preferir clique em Ctrl + p para imprimir o arquivo. Selecione visualizar => modo de leitura ou modo tela cheia para ler com mais facilidade o arquivo. Para retornar à página anterior ou ir para a próxima página clique nos seguintes ícones: Obtenha maiores informações selecionando Ajuda => Como => Fundamentos do Adobe Reader. DICAS PARA UTILIZAR O PDF Clique no ícone imprimir , ou selecione arquivo => imprimir. Ensino a Distância Atendimento ao Aluno EAD DDG 0800.0514131 DDG: 0800.6426363 E-mail: alunoead@ulbra.br Campus Canoas: Av. Farroupilha, 8001 · Prédio 11 · 2º andar Corredor central - Sala 130 · Canoas/RS Atendimento de segunda-feira a sexta-feira: Manhã/Tarde/Noite: Das 8:00hs às 22:30hs Atendimento aos sábados: Manhã: 8:00hs às 12:00hs MANTENEDORA Comunidade Evangélica Luterana São Paulo - CELSP Rua Fioravante Milanez, 206 CEP 92010-240 – Canoas/RS Telefone: 51 3472.5613 - Fax: 51 3477.1313 DIREÇÃO Presidente Delmar Stahnke UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Av. Farroupilha, 8001 - Bairro São José CEP 92425-900 - Canoas/RS Telefone: 51 3477.4000 - Fax: 51 3477.1313 REITORIA Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Ricardo Müller Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio Gonzalez Hernandez Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão geral Gerhard Grasel Diretor de Ensino do EAD Joelci Clécio de Almeida Orientação e revisão da escrita Dóris Cristina Gedrat Design/Infografia/Programação José Renato dos Santos Pereira Luiz Carlos Specht Filho Sabrina Marques Maciel Su m ár io Cultura Religiosa 2 www.ulbra.br/ead Vermelho 2 www.ulbra.br/ead A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA .............................................................3 HINDUÍSMO ..................................................................................7 BUDISMO ....................................................................................14 ISLAMISMO ................................................................................. 21 JUDAÍSMO ...................................................................................28 CONFUCIONISMO ........................................................................35 XINTOÍSMO .................................................................................40 TAOÍSMO ..................................................................................... 41 CRISTIANISMO ............................................................................44 A MENSAGEM CRISTÃ NAS PARÁBOLAS DE JESUS .........................55 LUTERO E A REFORMA ..................................................................60 IGREJA LUTERANA E EDUCAÇÃO ...................................................70 AS RELIGIÕES DO BRASIL .............................................................79 CULPA E PERDÃO: UMA QUESTÃO EXISTENCIAL ...................................... 90 A RELAÇÃO ENTRE ....................................................................... 97 FÉ E SAÚDE ................................................................................. 97 ÉTICA ........................................................................................103 ÉTICA SOCIAL CRISTÃ APLICADA ................................................. 110 REFERÊNCIAS............................................................................ 117 SUMÁRIO 22 Cultura Religiosa 3 www.ulbra.br/ead A E xp er iê nc ia R el ig io sa A religião tem estado presente no cotidia-no através de diferentes manifestações. Pode-se, sem entrar em detalhes por ora, mencionar algumas áreas, alguns eventos e algumas práticas pessoais e sociais marcadas por idéias, ritos e símbolos consagrados ao campo religioso. Vamos utilizar aqui alguns pontos trabalha- dos pelo colega Ronaldo Steffen, estudioso do assunto, professor de Cultura Religiosa, publica- do no site da Universidade. De uma forma bem simples, podemos repor- tar o leitor a algumas práticas familiares ligadas à tradição religiosa como o casamento, batismo, morte e velamento. São cerimônias religiosas tão tradicionais, que muitas pessoas, sem que se dêem conta, se envolvem. O que dizer de pessoas doentes ou com problemas mais sérios que bus- A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Você já deve ter passado por alguma experiência Religiosa. Se não passou, alguém ao seu lado já deve ter contado algo que o levou a refletir sobre o assun- to. Neste capítulo vamos ver que a experiência religiosa é mais rica do que se imagina e é universal. Por Prof. Douglas Moacir Flor* cam ajuda divina como alternativa para a cura? No esporte estamos acostumados, marcada- mente no futebol, com a cena de uma oração con- junta antes da entrada no campo. Numa decisão por pênalti, por exemplo, é comum a imagem de jogadores ajoelhados, rezando ou beijando sua santinha. No campo musical não são raras as menções que se faz a personagens religiosos e até mesmo a sentimentos de ordem religiosa; no campo das artes somos conduzidos a milhares de imagens notadamente carregadas de simbolismo religioso dos mais diversos matizes. A literatura não tem deixado por menos e tem sido o mercado que mais cresce em termos de editoria nos últimos anos. O cinema tem sido pródigo nas temáticas de ordem religiosa. As novelas, fenômeno bra- sileiro que ganha o mundo, jamais têm deixado Im ag em 1 : W iki pe di a Cultura Religiosa 4 www.ulbra.br/ead A E xp er iê nc ia R el ig io sa de lado alguma alusão, personagem e até mesmo a temática central ligados a fatos eminentemente religiosos. A nossa alimentação está em grande parte determinada por elementos de ordem religiosa; o modo de expressar nossas idéias através da lin- guagem é, igualmente, em grande parte determi- nada por formas religiosas. O turismo religioso é hoje um grande filão na arrecadação de divi- sas para um município. A educação é fortemente marcada pelos valores que ela prega, quase sem- pre idênticos aos valores de ordem religiosa. A área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foi e ainda é construída com suporte religioso. Nosso calendário, suas datas festivas e grandes eventos, têm sua origem no meio eclesiástico. As diversas áreas do conhecimento humano, duma ou de outra maneira, têm-se ocupado com a te- mática religiosa, como a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a História, a Medi- cina, a Física, a Arqueologia, a Geografia e assim por diante. A palavra Religião Afinal, o que é religião? No texto a seguir temos uma definição que pode- rá ajudá-lo a entender o sentido. Etimologicamente, o termo Religião surge na história da humanidade através dos autores clássicos, como Cícero, Lactânio e Agostinho, respectivamente, nas palavras re-legere, que sig- nifica reler, re-ligare, que significa religar, e re- eligere, que significa reeleger. Todos os conceitos nos dão a idéia de voltar a uma situação anterior, ou seja, ligar novamentea criatura com o criador. É exatamente esta tentativa de religar com o Ser Superior, através de um conjunto de crenças, nor- mas, ritos ou costumes, que dá origem às diver- sas religiões o fenômeno religioso propriamente dito. (KUCHENBECKER, 2000, 0.) Apesar de seguidamente ouvir-se que reli- gião é coisa do passado, as menções acima indi- cam uma direção contrária. Estão apontando para o fato de que o ser humano preocupa-se com o di- vino, aqui entendido no sentido daquilo que ocu- pa lugar de destaque ou o primeiro lugar na vida. Conhecimento Religioso Ainda tentando responder o que é religião, podemos dizer que religião é um batismo numa igreja cristã. É um ritual sagrado nas águas do Rio Ganges. É a adoração num templo budista. Pode ser um muçulmano ajoelhado e orando para o Alá. Ou os mesmos devotos do Islã peregrinan- do a Meca. Pode ser um Judeu diante do Muro das lamentações em Jerusalém. São tantas as menções que seria impossível citar todas. O que pretendemos fazer é ligar os fatos. As ciências da religião procuram responder o que as atividades citadas acima têm em comum. Nós procuramos, como pesquisadores, investigar os rituais de uma perspectiva externa. Buscamos semelhanças e diferenças. Queremos entender como se dá o processo historicamente e o que isso representa para sociedade hoje. 1 - Batismo; 2 - Um monge budista; 3 - Peregrinos no Rio Ganges, na Índia; 4 - Muçulmanos orando; 5 - O muro das lamentações em Jerusalém Im ag em 2 : A rq ui vo U LB RA EA D 4 Cultura Religiosa 5 www.ulbra.br/ead A E xp er iê nc ia R el ig io sa Por que estudar as religiões? Dependendo da experiência de cada um, as respostas serão diferentes. Talvez você seja um religioso e não precise de tantas explicações. Mas, com certeza, muitas pessoas não se ligaram para a importância do assunto. Jostein Gaarder, escrevendo O Livro das Re- ligiões, nos ajuda a responder a pergunta acima: Um rápido olhar para o mundo ao redor mostra que a religião desempenha um papel bastante significativo na vida so- cial e política de todas as partes do globo. Ouvimos falar de católicos e protestantes em conflito na Irlanda do Norte, cristão contra muçulmanos nos Balcãs, atrito entre muçulmanos e hinduístas na Índia, guerra entre hinduístas e budistas no Sri Lanka. Nos Estados Unidos e no Japão há seitas religiosas extremistas que já prati- caram atos de terrorismo. Ao mesmo tem- po, representantes de diversas religiões promovem ajuda humanitária aos pobres e destituídos do terceiro mundo. É difícil adquirir uma compreensão adequada da política internacional sem que se esteja consciente do fator religião. (GAARDER) Além disso, explica Gaarder, um conheci- mento religioso também pode ser útil num mun- do que se torna cada vez mais multicultural. Ain- da mais quando falamos em globalização, apesar de que o termo deva ser usado com cuidado. Muitos de nós viajamos pelo Brasil ou mesmo ao exterior, entrando em contato com as diver- sas culturas religiosas. Estes povos têm costumes diferentes que devem ser respeitados pelos seus visitantes. Se uma mulher estiver num país mu- çulmano, por exemplo, terá que observar o tipo de roupa que usará nas ruas. É claro que não pre- cisará andar com uma Burca, mas terá que cobrir seu corpo com roupas decentes. Finalmente, acreditamos que o estudo das religiões pode ser importante para o desenvolvi- mento pessoal do indivíduo. As religiões podem responder várias das perguntas existenciais que fazemos como: de onde viemos, o que somos e para onde iremos. Tolerância religiosa Este é um dos pontos mais importantes na nossa caminhada. Tolerância é o respeito pelas pessoas que possuem diferentes pontos de vista em relação à religião. Não significa que precisa- mos concordar com tudo o que as outras religiões praticam e seguir os mesmos rituais. Cada um tem o direito de seguir aquilo que é melhor para si, pode ter uma fé sólida. Mas a tolerância não é compatível com atitudes como zombar das opi- niões alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A Tolerância não limita o direito de fazer propa- ganda, mas exige que esta seja feita com respeito pela opinião dos outros (GAARDER). O respeito pela vida religiosa dos outros, pelas suas opiniões e pontos de vista, é um pré- requisito para a nossa aula de Cultura Religiosa. Sem isso, é impossível começar, pois: Com freqüência, a intolerância é resultado do conhecimento insuficiente de um assunto. Quem vê de fora uma religião, enxerga apenas as suas manifestações, e não o que elas significam para o indivíduo que a professa (GAARDER). O respeito pela vida religiosa dos outros, pelas suas opiniões e pontos de vista, é um pré- requisito para a nossa aula de Cultura Religiosa. Sem isso, é impossível começar, pois: Com freqüência, a intolerância é re- sultado do conhecimento insuficiente de um assunto. Quem vê de fora uma religião, enxerga apenas as suas manifestações, e não o que elas significam para o indivíduo que a professa (GAARDER). O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, de- termina que as mulheres devem se vestir de forma a não atrair a atenção dos homens, para isso é preciso esconder todo o corpo, utilizando trajes como o Xador ou a Burca. Trata-se de uma veste fe- minina que cobre todo o corpo. No caso da Burca, até o rosto e os olhos são cobertos. É usada pelas mulheres do Afeganistão. Im ag em 3 : W iki pe di a Cultura Religiosa 6 www.ulbra.br/ead A E xp er iê nc ia R el ig io sa Quem sabe você conhece alguém que se identifica com este personagem. É comum a gente encontrar situações como esta. Nas aulas de Cultura Religiosa, quando perguntamos se nossos alunos têm alguma religião, muitos respondem: Sou Católico Apostólico Romano, não praticante. Isto significa que eles são Católicos por tradição, mas não vão à igreja aos domingos. Muitos são católicos, mas não deixam de ir ao terreiro ou ao Centro Espírita. Conclusão É importante ressaltar aqui a questão da to- lerância. Religião sem o devido respeito perde o sentido. Não é possível pregar algo e praticar ou- tra coisa. Por outro lado, a experiência religiosa é importante na vida de todo o ser humano. Se você ainda não passou por isso, busque entender um pouco mais do assunto. Leia, reflita sempre. “Hem? Hem? O que mais penso, texto e explico: todo-o- mundo é louco. O senhor, eu, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de re- ligião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita reli- gião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, ca- tólico, embrenho a certo; aceito as preces de compadre meu Que- lemém, doutrina dele, de Car- déque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acu- sa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refres- ca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar – o tempo todo. Mui- ta gente não me aprova, acham que lei de Deus é privilégios, in- variável. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? – o que faço, que quero, muito curial. E em cara de todos faço, executado. Eu? – não tres- malho! Olhe: tem uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam muita vir- tude de poder. Pois a ela pago, todo mês – encomenda de rezar por mim um terço, todo santo dia, e, nos domingos, um rosário. Vale, se vale. Minha mulher não vê mal nisso. E estou, já mandei recado para uma outra,do Vau- Vau, uma Izina Calanga, para vir aqui, ouvi de que reza também com grandes meremerências, vou efetuar com ela trato igual. Que- ro punhado dessas, me defendo em Deus, reunidas de mim em volta... Chagas de Cristo! JOÃO GUIMARÃES ROSA Sincretismo Religioso No Brasil é muito interessante falar sobre religião. Isto porque temos aqui uma pluralidade religiosa bem interessante. Além disso, encontra- mos o que chamamos de Sincretismo Religioso. Isso acontece quando misturamos elementos de várias religiões numa só. Sincretismo é o ter- mo que os historiadores denominam de fusão ou interpenetrações de religiões, ritos, crenças e personagens cultuais. Os cultos afro-brasileiros são um exemplo comprovado de sincretismo re- ligioso. Queremos mostrar como isso acontece através da fala de um pesonagem sertanejo do passado: Riobaldo Tatarana do Grande Sertão: Veredas: 6 Cultura Religiosa 7 www.ulbra.br/ead H in du ís m o HINDUÍSMO Cerca de 13% da população mundial segue o Hinduísmo, tornando-a uma das religiões com mais seguidores no mundo. Por Prof. Ronaldo Steffen História É difícil identificar uma data para regis-trar o início do hinduísmo. Costuma-se atribuir a alguma data entre 1500 a.C. e 200 a.C. Nesse período, um grupo de nobres (denominados de arianos) dominou o vale do rio Indo. Os nobres trouxeram suas crenças, forte- mente influenciadas por concepções religiosas indo-européias (grega, romana e germânica). Esse período é denominado de período védico do hinduísmo em razão dos hinos recitados pelos sacerdotes. Esses hinos eram chamados de vedas e significam “conhecimento”. O sacrifício era importante para o culto aria- no. Faziam-se oferendas aos deuses a fim de se conquistarem seus favores e se manterem sob controle as forças do caos. Achados arqueológicos no vale do rio Indo indicam que houve uma civilização avançada na Índia, anterior à chegada dos indo-europeus, e é certo que essa civilização também contribuiu para o hinduísmo moderno. Num período posterior, provavelmente entre 1000 a.C. e 500 a.C., surgiram os Upanishads, escritos em forma de diálogos entre o mestre e o discípulo. É nesse período que é introduzida a noção de Brahman, a força espiritual essencial sobre a qual se baseia todo o universo. É por essa razão que se diz que todos nascem do Brahman, vivem no Brahman e retornam ao Brahman por ocasião da morte. Os “Upanishads” introduzem a idéia de “Brahman”. Todos nas- cem dele, vivem nele e na morte retornam a ele. Hoje O hinduísmo, embora originário da Índia, possui adeptos espalhados por todos os países a sua volta, em especial Nepal, Bangladesh e Sri Lanka. Apenas em 1947 é que a Índia deixa de ser um Estado religioso e passa a garantir direito de expressão religiosa a todas as denominações re- ligiosas. Nesse mesmo ano, a tensão entre hinduís- tas e muçulmanos em razão da independência OHM: é símbolo universal do Hinduísmo e seu som impede sentimentos ruins e transmuta os pensamentos negativos em positivos. Ar qu ivo U LB RA EA D Cultura Religiosa 8 www.ulbra.br/ead H in du ís m o da Índia resultou na criação do Paquistão como um Estado muçulmano separado, dividido em duas partes distintas, o Paquistão do Leste e o Paquistão do Oeste. Depois da guerra de 1971 entre a Índia e o Paquistão, o Paquistão do Leste se tornou um Estado independente com o nome de Bangladesh. Ensinamentos Deuses A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito de transcendente. Há duas formas de compreender o tema: uma filosó- fica (Brahman é o princípio e a realidade última; o universo em sua totalidade é um só com a di- vindade; Brahman toma a forma de três divinda- des: Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente o Criador, o Mantenedor da criação e o Destruidor) e outra popular, ou menos acadêmica (acredita- se num grande número de divindades a tal ponto que quase todas as aldeias elegem sua divindade local). Deusas O hinduísmo tem uma série de deusas. Al- guns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina, a Rainha do Uni- verso ou Deusa-Mãe. Sua manifestação mais conhecida é Kali, a deusa negra, adorada, sobre- tudo, no Leste da Índia e a quem se sacrificam animais. O alto status de Kali no mundo dos deu- ses é evidente pelas imagens que a mostram piso- teando o corpo de Shiva. A importância das deusas na religião india- na é visível pela escolha da Mãe Índia (Bhárata Mata ou Bharthamata) como a divindade nacio- nal do moderno Estado da Índia. Na cidade de Varanasi há um templo especial que lhe é dedica- do. Ali, em vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa da Índia. Divindades menores A maioria das aldeias tem seu templo dedi- cado a Vishnu ou a Shiva. Esses deuses se con- centram nas questões maiores, universais e, em geral, são homenageados nos grandes festivais. Num nível mais doméstico, as pessoas costumam visitar pequenos templos dedicados a divindades menos importantes. Embora não sejam tão poderosas como Vishnu ou Shiva, é mais fácil se aproximar delas para assuntos de menor importância, tais como os problemas pessoais. Há deuses para as questões universais e deuses para as questões pessoais. Os deuses menores por vezes exercem in- fluência em áreas específicas, como, por exem- plo, em certos tipos de doença. Muitos deles têm origem humana: podem ser heróis que morreram em batalha ou esposas que se ofereceram para serem queimadas na pira funerária do marido. Alguns deuses são espíritos malignos que foram Conheça alguns deuses do hinduísmo Vishnu reencarnado também como Krishna Shiva, senhor da criação e destruição Bharata Mata, divindade nacional da Índia Im ag em 4 : U m ys l/ As tro lo g Im ag em 5 : Y og ac as av er de Im ag em 6 : W iki pe di a 8 Cultura Religiosa 9 www.ulbra.br/ead H in du ís m o deixados para trás por homens maus. Ao cultivar esses espíritos como deuses, é possível controlar e neutralizar sua maldade. Ser humano A concepção que o hinduísmo desenvolve a respeito do ser humano está intimamente vin- culada a uma compreensão ampla que privilegia os entendimentos sobre carma, reencarnação e o sistema de castas. Carma e reencarnação O ser humano tem uma alma imortal que não lhe pertence. Depois da morte, a alma volta a aparecer pelo renascimento, não necessariamen- te em forma humana, podendo, também, vir a re- nascer num animal. O conceito que expli- ca esse eterno vai-e-vem da alma é o carma (“ato” ou “ação”) do ser humano, referindo-se tanto às ações como aos pensamentos, às palavras e aos sentimentos. Desse modo, entende-se que o carma é determinante para o que irá ocorrer numa pró- xima existência. Muito embora se possa concluir que o carma é uma punição ou uma recompensa das ações humanas, não é esse o modo de com- preender sua extensão. É como se ele fosse ape- nas uma lei natural da existência. Colhe-se aquilo que se planta, e é justamente isso que explica as diferenças entre as pessoas. O ser humano é res- ponsável por si mesmo e de posse do livre-arbí- trio está apto a produzir as mudanças necessárias com vistas a uma melhor existência posterior, quando renascer. O sistema de castas O surgimento do conceito de casta é confu- so. O fato a ressaltar é a chegada dos arianos à Índia, com língua, cultura e traços fisionômicos (altos, pele clara, olhos azuis e cabelos lisos) di- ferentes. A diferença propiciou um sistema de identificação pela cor (varna, em sânscrito). As classificações tiveram ampliação à medida que a organização se fazianecessária, de modo que se chegou a uma estratificação com quatro classes sociais: videntes, administradores, produtores e seguidores. Na prática popular, hoje, a casta é entendi- da como as possibilidades que alguém tem de se relacionar com coisas mais puras ou impuras. Essas possibilidades são determinadas pelas re- gras que conduzem cada casta: castas elevadas buscam cada vez mais distanciamento das coi- sas materiais; castas mais baixas se permitem a aproximação com as coisas da matéria. Duma ou doutra forma, se alguém quebrar alguma das re- gras de sua casta, restam-lhe os rituais de purifi- cação, sendo o mais conhecido o banho num dos muitos rios sagrados. Os efeitos do sistema de castas e suas regras específicas influenciam di- retamente a base da divisão de trabalho na comunidade. Certas atividades e certos trabalhos são tão impuros que somente determinadas castas podem realizá-los. Essas castas têm o dever de ajudar os outros a manterem sua pureza. Por outro lado, apenas as castas que pre- encham os requisitos de pureza podem se apro- ximar dos deuses mais elevados. Para que isso ocorra com mais facilidade, outras pessoas de- vem ser impuras. Entretanto, todos se beneficiam da limpeza dos puros, pois todos os hinduístas tiram proveito dos ritos que são praticados. O sistema de castas deu um novo contexto à vida do indiano moderno. Assim, ser expulso de sua casta é o pior castigo imaginável e, por isso, só utilizado para crimes muito sérios. O nível mais baixo no sistema de castas é o dos intocá- veis ou sem-casta (também chamados de párias): criminosos, lixeiros e curtidores de couro de ani- mais, por exemplo. As complexas regras que controlam o con- trato social entre as castas eram muito rígidas. A Constituição da Índia, de 1947, introduziu, no en- tanto, medidas com a finalidade de banir a discri- minação por casta. Como não basta mudar a le- gislação para acabar com antigas divisões sociais Reigiosa- mente, as cas- tas indicam o mente, as cas tas indicam o mente, as cas grau de pureza ou impureza de grau de pureza ou impureza de grau de pureza uma pessoa. Cultura Religiosa 10 www.ulbra.br/ead H in du ís m o e religiosas, o sistema de castas continua tendo um papel importante, em especial nas aldeias. Vida e Morte Durante o período védico, as doutrinas do carma e dos renascimentos eram vistas como algo positivo. Por meio dos sacrifícios e das boas ações, o ser humano podia garantir que viveria várias vidas. Mais tarde, o hinduísmo passou a considerar esse ciclo como algo negativo, como um círculo vicioso a ser quebrado. É possível, as- sim, distinguir três caminhos para a libertação: as vias do sacrifício, do conhecimento e da devoção. A via do sacrifício Como vimos, a palavra indiana para ”ato” é carma. Hoje ela é usada para denotar todos os atos humanos e até mesmo a coletividade desses atos. No período védico, o termo se referia basi- camente a atos religiosos ou rituais, em especial aos atos sacrificiais. Estes eram necessários para incrementar a fertilidade e manter a ordem uni- versal, além de propiciar a possibilidade de liber- tação do constante nascer-renascer, integrando- se de modo definitivo com Brahman. A via da compreensão ou do conheci- mento A compreensão ou o conhecimento é apenas uma das formas de libertar-se do ciclo de renas- cimentos, pois se enfatiza que é a ignorância que aprisiona o ser humano a esse ciclo. Compreender a verdadeira natureza da exis- tência, o oposto da ignorância, é, portanto, um caminho para a libertação. É apenas quando o ser humano adquire o reto conhecimento que ele é redimido da implacável roda da transmigração. O reto conhecimento mencionado nada mais é do que a compreensão de que a alma humana (atmã: é o reflexo da alma universal e encontra-se nos seres humanos, nas plantas e nos animais) e o mundo espiritual (Brahman) são uma e a mesma coisa. A via da devoção Uma terceira rota para a salvação é a via da devoção, que é a dedicação que o ser humano de- vota a um deus e o seu agir desinteressado para com o seu semelhante. Essa proposta começou a difundir-se no Sul da Índia, por volta de 600 a.C. e logo se espalhou por toda a região da Índia. Já no século III a.C. esse caminho para a libertação encontrara sua expressão no Bhagavad Gita, um As possibilidades de ciclo da vida. Tudo é determinado pelas ações do presente Im ag em 7 : E vil kit te ns 10 Cultura Religiosa 11 www.ulbra.br/ead H in du ís m o poema catequético. Essa terceira tendência do hinduísmo é a que predomina na Índia moderna, e o livro Bhagavad Gita é o texto sagrado que ocupa o lugar supremo na consciência do indiano médio. Mundo É plural O mundo não é uno, mas plural. Há diver- sos mundos interconectados pela mesma razão. É como se fossem infinitas galáxias, e cada uma com o seu ponto de referência, como a Terra. Para dar uma dimensão superlativa ao conceito de infinitas galáxias, o hinduísmo entende que entre esse ponto de referência e o restante da ga- láxia há diversos outros mundos mais sutis, aci- ma, e mais grosseiros, abaixo. Os mundos sutis e grosseiros são os espaços ocupados pelas almas e que por eles transitam conforme os méritos ad- quiridos ou não. Cada mundo e galáxia têm ciclos diferentes de tempo. Há tempo que se expande e tempo que se recolhe, eterna e incontavelmente no mesmo movimento, estabelecendo os ciclos cósmicos. É meio O mundo e suas galáxias têm uma razão. É o espaço onde as almas individuais cumprem a inexorável lei do carma até sua libertação. Ine- rente ao conceito de carma está que toda decisão do ser humano terá determinadas conseqüências. Não há fatalismos no universo. Nos mundos mais grosseiros há uma percep- ção maior dos elementos sensoriais. Em razão dos prazeres proporcionados, geralmente assen- tados no eu individual, o ser humano deve buscar a libertação para mundos cada vez mais sensí- veis, em direção ao EU absoluto, o Transcenden- te, até sua integração completa. É moderado O mundo e suas galáxias são o espaço onde bem e mal, prazer e dor, conhecimento e igno- rância se entrelaçam em proporções quase iguais. Não faz parte dos propósitos do universo ser um paraíso, mas o espaço onde o espírito do ser hu- mano pode viabilizar seu aprendizado de integra- ção ao Transcendente. É como se o universo per- ceptível servisse apenas para poder perceber-se que há outra realidade além dele. É maya O mundo e suas galáxias são maya. A palavra maya possui a mesma raiz que mágica. Na mági- ca, o que vemos nem sempre é o que pensamos ver. Assim é o universo. Enquanto em processo de constantes renascimentos, o ser humano pode cair no ardil de que a materialidade e a multipli- cidade são realidades independentes, quando, em realidade, são Brahman, o todo inclusivo de tudo o que é e de tudo o que não é. O mundo e suas galáxias podem ser a pri- são do ciclo de constantes e infindáveis renasci- mentos do ser humano. O universo aí está para poder perceber-se sua unidade, que é Brahman. Mesmo que o ser humano não o perceba ou o perceba apenas parcialmente, ele continua sendo Brahman. É lila O mundo e suas galáxias são o espaço lila (“dança”) do Transcendente. É onde ele dança, numa espécie de jogo, de forma incansável, in- finda, irresistível, mas absolutamente benéfica. É o jogo que o Transcendente criou a fim de que o finito seja superado e destruído pelo infinito. Principais tendências Escolas do pensamento hindu Entre os séculos II a.C. e IV d.C., surgiram seis escolas ortodoxas da filosofia clássica hindu, descritas a seguir. Não eram grupos organizados, mas sistemas de pensamento que apresentavam perspectivas diversas,porém complementares, de métodos devocionais, interpretação das escri- turas e cosmologia. Cultura Religiosa 12 www.ulbra.br/ead H in du ís m o • Vaiseshika – Defende que a libertação do ser humano se dá pela compreensão das leis da natureza. • Nyaya – A libertação do ser humano se dá pelo conhecimento por meio do raciocínio lógico. • Sakhya – A libertação do ser humano ocorre quando se alcança a união da alma individual com o Transcendente (moksha) por meio da consciência que se desvencilha das preocupações mundanas e ma- teriais. Ela acreditava numa libertação ascética que acontece através de meditação e no domínio das paixões • Mimamsa – A libertação do ser humano dar- se-á à medida que os escritos sagrados forem adequadamente interpretados e, em decor- rência, produzirem o justo agir (darma). • Vedanta – A libertação do ser humano é decorrência da correta compreensão do Transcendente e dos conhecimentos espirituais, possibilitada pela igualda- de entre a alma individual e o Trans- cendente. Isto é atingido por técnicas transcendentes de controle de corpo e mente. • Bhakti – A libertação do ser huma- no é possível em razão das atitu- des devocionais que permitem a união entre a alma individual e o Transcendente, embora sejam diferentes. O pensamento hindu no ocidente Em meados do século XX, surgiu na Europa e nos Estados Unidos um grande interesse pela espiritualidade oriental. Dentre as muitas razões para isso, podemos afirmar que o Ocidente ma- terialista, espiritualmente estéril, percebeu que a vida e o viver iam muito além dos reducionis- tas aspectos biológicos. Esse interesse, que atin- giu seu ponto culminante nas décadas de 1960 e 1970, concentrou-se no budismo e no hinduísmo, com destaque para a ioga. Surgiram inúmeros movimentos que apresentaram o modo hinduísta de responder às questões da vida. Eram, em re- gra, movimentos centrados na personalidade de algum mestre (guru) carismático, venerado como se fosse um avatar. Dos movimentos que perma- neceram na ativa após a morte de seus fundado- res, destacamos: As 6 escolas ortodoxas da filosofia clássica hindu Templo hindu em Mysore - Índia Im ag em 8 : W iki pe di a 12 Cultura Religiosa 13 www.ulbra.br/ead H in du ís m o • Meher Baba (1894-1969) – Foi o primeiro guru moderno de importância a con- quistar adeptos no Ocidente. Nascido na Índia, elaborou uma doutrina que sin- tetizava várias tradições religiosas, inclusive os conceitos de carma e samsara (“renascimento cíclico”). Ensinava que o estado de iluminação que liberta só se alcança por meio do amor puro, desinteressado. • Sociedade Internacional da Consciência de Krishna – Foi fundada em mea- dos da década de 1960 no Ocidente por A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada (1896-1977). Seus discípulos de túnica amarela procuram a iluminação por meio do estudo das escrituras védicas, em especial o Bhagavad Gita, e do canto de um mantra em louvor a Krishna e Rama (graças ao qual o movimento é popularmen- te conhecido como Hare Krishna). Praticam um ascetismo rigoroso, que inclui o celibato, a não ser com finalidade de procriação e dentro do casamento. • Meditação transcendental – Ensina um método simples de meditação que se baseia em um mantra pessoal (palavra ou frase) que, constantemente repetido, produz o efeito de reduzir o estresse e de promover a integração pessoal e, por conseqüência, a iluminação que liberta. Foi trazido para o Ocidente por Maha- rishi Mahesh Yogi, nascido em 1911, em fins da década de 1950 e alcançou po- pularidade quando os Beatles se tornaram seus adeptos. • Missão da Luz Divina – Fundado na Índia em 1960 e no Ocidente em 1971, proclamou um menino guru, Maharah Ji, nascido em 1958, o mais recente avatar do Transcendente. Ensina quatro técnicas de meditação que capacitam os devo- tos a se voltarem para dentro de si mesmos a fim de experimentarem o estado de iluminação: a Luz Divina, a Harmonia Divina, o Néctar Divino e a Palavra Divina. • Bhagwan Shri Rajneesh (1931-1990) – Também conhecido como Osho. Mi- nistra a doutrina do amor livre, da sexualidade desinibida e dos atos impulsivos, juntamente com uma forma de meditação dinâmica que visa liberar a energia da Terra. Uma das técnicas de liberação das energias reprimidas é o riso. Possui centros de meditação em todo o mundo. Só no Brasil são oito centros, além de um jornal de circulação nacional. Alguns movimentos que permaneceram na ativa após a morte de seus fundadores Fundador: não há fundador. Ano de fundação: as raízes do hinduísmo remontam a um período entre 1500 a.C. e 200 a.C. Textos sagrados: Livro dos Vedas, que consiste numa coletânea de qua- tro obras, das quais certas partes datam de 1500 a.C. Estatística: hoje, cerca de 80% da população da Índia é hinduísta. O restante divide-se entre muçulmanos (10%), cristãos (4%) e outros gru- pos (6%). Em todo o mundo, os hinduístas perfazem cerca de 13% da população mundial. Perfil do Hinduísmo Estátua monumental de Buda em Kamakura - Japão Estátua monumental de Buda em Kamakura - Japão Im ag em 9 : Z as ta vk i Cultura Religiosa 14 www.ulbra.br/ead B ud is m o BUDISMO Uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha Gautama, objetivando o fim do ciclo de sofrimento. Por Prof. Ronaldo Steffen História A Índia antes do budismo O mundo à época do nascimento de Siddartha era de mudanças. Por volta de 1500 a.C., a Índia passou a ser influenciada pela religião védica, trazida pelos guerreiros arianos. Possivelmente o processo sincrético ocorrido entre os arianos e os não-arianos tenha originado o hinduísmo após séculos de evolução. Essas mudanças teriam ocorrido entre os anos 1000 a.C. e 200 a.C. Além das revoltas filosóficas contra o vedismo e o bramanismo, duas religiões surgiram na Índia: o jainismo e o budismo. Acresce que nesse tempo surgiram duas grandes escolas filosóficas: a Ajivakas, ou nihilistas, e a Lokayatas, ou materialis- tas. Posteriormente, essas duas escolas opuseram-se ao hindu- ísmo. Popular também à época do nascimento de Siddartha era um movimento denominado Sâmara, uma espécie de contracultura dos mendicantes religiosos, que optaram pela renúncia ao mundo. Todos esses movimentos surgi- ram no exato momento em que o ambiente da Índia era um campo fértil para novas idéias. Num período posterior, provavelmente entre 1000 a.C. e 500 a.C., surgiram os Upanishads, escritos em for- ma de diálogos entre o mestre e o discípulo. É nesse perío- do que é introduzida a noção de Brahman, a força espiritual essencial sobre a qual se baseia todo o universo. É por essa razão que se diz que todos nascem do Brahman, vivem no Brahman e retornam ao Brahman por ocasião da morte. O nascimento e vida de Siddartha O príncipe Siddartha cresceu em meio à for- tuna e ao luxo. Seu pai ouvira uma profecia de que seu filho ou seria um poderoso governan- te, ou abandonaria por completo o mundo. Esta última opção ocorreria caso o príncipe testemu- nhasse as mazelas e o sofrimento das pessoas. Para evitar essa situação, tentou proteger seu fi- lho, mantendo-o recluso aos limites do palácio e cercado de delícias e diversões. Casou-se jovem com uma prima e mantinha um harém de dan- çarinas. Aos 29 anos, Siddartha experimenta uma situação que mudaria por completo sua vida palaciana. Embora proibido pelo pai, arriscou- se a sair do palácio e viu, pela primeira vez, um velho, um homem doente e um cadáver em de- composição. A contradição se interpôs quando, a seguir, viu um asceta com uma expressão de radiante alegria. Percebeu que a vida de riqueza e prazer não traduz uma existência plena e com sentido. Questionou-se sobre a possibilidadede haver algo que ultrapassasse a velhice, a doença e a morte. Percebeu-se tocado por um profundo sentimento de compaixão pelas pessoas e por um chamado a fim de libertá-las do sofrimento. Ato contínuo, renuncia à vida prazerosa do palácio, a sua esposa e filho e parte para uma vida de andarilho. Da vida de abundância passa aos extremos dos exercícios ascéticos. Come cada vez me- nos; chega a alimentar-se apenas com um grão de arroz por dia. O que esperava conseguir era o domínio do sofrimento. Sem resultado, adota o “caminho do meio”, a meditação. Após seis anos de meditação ascética, aos 35 anos, chega à ilu- minação (bodhi), à margem de um afluente do rio Ganges. Agora era um buda, um iluminado. Alcançara a percepção de que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo. É apenas su- primindo o desejo que o homem pode escapar de outras encarnações e atingir a realidade última: o nirvana. Encontrara para si uma saída para a su- peração do sofrimento. Passo seguinte, Siddartha decide compartilhar sua percepção. À época, Benares era um grande centro re- ligioso. É para lá que se dirige. Faz sua primeira pregação e desencadeia o que se denomina de rodas de instrução. Monges mendigos tornam-se seus discípulos e por aproximadamente 40 anos o seguem pelo Nordeste da Índia. Seus seguidores, desde o princípio, dividem-se em dois grupos: os leigos e os monges. Por volta dos 80 anos, adoece e despede-se de seus discípulos. Daí para frente eles poderiam contar somente com o darma (“instrução”) que Siddartha lhes havia dado nos anos anteriores. Uma vez que o budismo surge dentro do contexto hinduísta como um caminho individu- al para a libertação dos renascimentos, é natural que muitos de seus ensinamentos estejam marca- dos por esse pensamento. Destacam-se, de modo especial, os pensamentos referentes às doutrinas do renascimento, do carma e da libertação (ou salvação). Deuses Buda não negou a existência dos deuses. To- davia, acreditava que esta era transitória, assim como a existência humana. Embora eles vives- A Árvore da Ilumi- nação, venerada por monges bu- distas, tem sido por séculos um lo- cal de constante peregrinação. 14 Cultura Religiosa 15 www.ulbra.br/ead B ud is m o Dukkha é mais que sofrimento: refere-se à ausên- cia de perfeição universal Im ag em 1 0: C lá ud ia P as to riu s Im ag em 1 1: T ra ve ls Ta la sh sem mais tempo que os seres humanos, também estavam atrelados ao ciclo de renascimentos e em nada podiam ajudar os seres humanos a se redi- mirem de tal ciclo. Outro aspecto a ressaltar diz respeito à ado- ração de demônios, espíritos e outras divindades. Todos são seres vivos e, se cultuados de modo correto, podem trazer vantagens para a vida neste mundo. Ser humano “Aquilo que você planta é o que colhe.” O ser humano é dono de seu destino: o que pensa e faz é determinante de seu futuro cósmico. Para o hinduísmo, originalmente, todo ser humano, bem como todo o universo, possui uma única alma (atmã), que sobrevive de uma existên- cia a outra e é idêntica, total ou parcialmente, ao Transcendente universal (Brahman). Buda rompe essa lógica. Nega que o ser humano tenha alma e rejeita a existência de um espírito universal. A alma é fugaz e fruto da ig- norância humana, que promove o desejo, funda- mental para a criação do carma individual. Nessa dimensão, o budismo entende a vida humana como uma série de processos mentais e físicos que alteram o ser humano de momento a momento. Tudo é transitório. Vida e morte A lei do carma Para Siddartha, o Buda, o ser humano é es- cravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações têm conseqüências, o princípio propulsor que está por detrás do ciclo nascimen- to-morte-renascimento são os pensamentos dos seres humanos, suas palavras e seus atos (carma). A idéia básica consiste em que tudo o que fi- zemos em determinada vida, ainda que passada, repercute e alcança-nos no presente. As ações de uma vida estendem-se a outra. O ser humano irá colher no presente aquilo que plantou no passa- do. Não há “destino cego” nem “divina providên- cia”. Daí a impossibilidade de escapar do carma. Enquanto houver um carma, o ser humano está fadado a renascer e manter-se preso à existência humana, não transcendendo. Em razão disso, tor- na-se imperiosa a busca por uma saída que seja capaz de produzir a libertação humana. As quatro nobres verdades sobre o sofrimento O denominado Sermão de Benares, que apresentou as quatro verdades sobre o sofrimento humano, ocorreu depois que Siddartha obteve o estado de iluminação. Cultura Religiosa 16 www.ulbra.br/ead B ud is m o As quatro nobres verdades sobre o sofrimento 1 2 3 4 1 Entendimento justo 2 Resolução justa 3 Palavra justa 4 Conduta justa 5 Sustento de vida justa 6 Esforço justo 7 Pensamento justo 8 Meditação justa Tudo é sofrimento A causa do sofrimento é o desejo O sofrimento cessa quando o desejo cessa O desejo cessa seguindo-se o caminho das 8 vias: aqui e agora e, por isso, nirvana não é um estado futuro. Simplesmente é o estado em que o desejo cessa completamente. O desejo cessa seguindo-se o caminho das oito vias – São elas: Entendimento (ou percepção/vi- são) justo: para conhecer a natureza e a origem do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho que con- duz para a cessação do sofrimento. Resolução justa: renunciar à mate- rialidade presente no mundo e não prejudicar ou odiar o semelhante. Palavra justa: abster-se da mentira ou da calúnia, da injúria e dos me- xericos. Conduta justa: abster-se de tirar a vida, roubar e praticar a luxúria. Sustento de vida justo: abster-se de pegar ou comercializar armas, con- sumir álcool e tóxicos e de qualquer outra atividade que possa trazer pre- juízo a outros. Esforço justo: é a vontade necessá- ria para estancar as más qualidades que afloram à mente, eliminar todas as que ali ainda estão e desenvolver bons estados mentais. Pensamento justo: ter consciência do seu próprio corpo, dos sentimen- tos e das atividades da mente. Meditação justa: é quando, priva- do de luxúria e disposições erradas, a serenidade interna é desenvolvida por meio da prática de meditação. Esta é a atividade que, em última análise, conduz ao nirvana. 4 1 2 3 4 5 6 7 8 Tudo é sofrimento – Para o budismo, o sofrimento implica algo mais do que mero desconforto físico e psicológico. Toda a existência é manchada pelo so- frimento, pois tudo é passageiro. Quem não percebe isso é cego. Isso, no entanto, não significa que o budismo negue toda a felicidade material e mental. A felicidade pode ser encontrada em muitos setores da vida, como na família, e em muitas coisas que estão à volta do ser humano. Porém, nada disso vai durar para sempre. A causa do sofrimento é o desejo – O desejo é o mesmo que ânsia. Há três tipos de desejos: desejo pela sensualidade, de- sejo por ser/existir e desejo por não ser/ não existir. Resumida e metaforicamente, significa prender-se a algo no curso da existência como se ele fosse absoluta- mente substancial para o ato de existir. É o desejo que produz a existência conti- nuada e a necessidade do renascimento. Não é a transitoriedade da felicidade que causa o sofrimento, mas a atitude frente a ela, como o apego e a ignorância. O sofrimento cessa quando o desejo cessa – A experiência de interrupção do sofrimento é tão real quanto a própria ex- periência do sofrimento. À interrupção do sofrimento dá-se o nome de nirvana. O nirvana é a cessação de mudança. O nirvana pode apenas ser experimentado, mas não descrito. Resumidamentepode ser definido como a cessação dos apegos ou dos desejos e certamente não é iden- tificado com o céu. O nirvana não é um lugar real ou metafórico. Em vez disso, o pressuposto é que a dor e a cessação da dor são duas experiências reais realizadas 1 2 3 16 Cultura Religiosa 17 www.ulbra.br/ead B ud is m o Analise os oito caminhos como uma proposta de conduta ética e tire suas próprias conclusões. Para pesquisar e confrontar: Como o cristianismo explica o sofrimento? Nirvana e céu são a mesma coisa? Cultura Religiosa 18 www.ulbra.br/ead B ud is m o Ética Com a decisão de Buda, depois de alcançar a iluminação, de tornar-se guia do ser humano, passam a ser fundamentais para o budismo o amor e a compaixão. Não só as ações, mas tam- bém os sentimentos e os afetos são importantes. A caridade realizada não apenas afeta aos outros, mas contribui para enobrecer o próprio caráter de quem a pratica. Nessa dimensão, o budismo tem cinco re- gras de conduta: As 5 regras de conduta do Budismo • Com relação às criaturas vivas: evitar toda maldade. • Evitar o roubo. • Não ser sexualmente promíscuo. • Falar apenas a verdade. • Evitar o uso de álcool e drogas. Mundo No mundo tudo é transitório. Nada é defi- nitivo e, por isso, essa transitoriedade deve ser abandonada para evitar-se todo e qualquer de- sejo. Notemos, no entanto, que, quando se fala em abandonar a transitoriedade da materialida- de constante no mundo, o que se tem em mente é o apegar-se a essa materialidade como se ela fosse capaz de resolver os problemas da natureza humana. A única saída para a transitoriedade do mundo é o nirvana. Uma vez que o nirvana é o oposto direto do ciclo de renascimentos, e uma vez que ele não pode ser comparado a nada neste mundo, só é possível dizer que o nirvana não é. Alcançá-lo só é possível por meio do estado de iluminação e de nada adiantam, por si sós, as boas obras. Embora o mundo não tenha autonomia, seja transitório e pleno de sofrimento, este é o espaço dado e no qual o ser humano pode chegar à liber- tação plena dos renascimentos. O Caminho ao Nirvana: é como se os desejos fossem sendo apagados Principais tendências Os pensamentos de Buda foram transmiti- dos oralmente. O resultado foi o surgimento de, pelo menos, 18 escolas diferentes. As escolas re- lacionadas a seguir representam apenas as mais importantes ramificações do budismo no mundo moderno. Budismo Theravada – É a mais antiga es- cola da tradição budista. Defende que cada ser humano é responsável sozinho pela sua própria iluminação. Apenas poucos alcançam esse esta- do. A sabedoria e a disciplina são virtudes valio- sas. Os rituais não são fundamentais, e sim a de- voção. Está presente no Sri Lanka, na Tailândia, em Mianmar, em Laos e no Camboja. Budismo Mahayana – É o budismo das pessoas comuns. Enfatiza que qualquer pessoa pode alcançar o estado de iluminação que liberta. A compaixão e o amor pelos menos afortunados são mais importantes que a sabedoria. Budismo Zen – É um amálgama da escola Mahayana com o taoísmo. Zen é o caminho da iluminação por meio da meditação e da vida sim- ples, evitando as teorias abstratas e favorecendo a experiência direta de um espírito “vazio” e aber- to. Há duas grandes escolas: a Rinzai Zen, que dá ênfase à iluminação espontânea, e a Soto, que enfatiza a concentração espiritual e corporal dis- ciplinada na meditação. As escolas Zen também enfatizam a pintura, a caligrafia e até a cerimô- nia do chá como expressões de um vínculo não interpretado com a natureza. Tornou-se popular Im ag em 1 2: N ea to ra m a Ca ch efl y 18 Cultura Religiosa 19 www.ulbra.br/ead B ud is m o no Ocidente a partir da década de 1950, com o surgimento dos movimentos holísticos. Budismo da Terra Pura – É o culto de um buda ou bodhisattva que vive numa terra pura, celestial. Seus devotos procuram renascer na Ter- ra Pura, onde alcançarão a iluminação libertado- ra. Budismo Nichiren – Também conhecido como Seita do Lótus, ensina que o budista verda- deiro é o que segue os ensinamentos contidos no Sutra do Lótus, escritura do século I d.C. A ênfa- se é que Buda é eterno e cósmico, manifestando- se incessantemente em budas terrenos. O maior grupo dessa tendência é o Nichiren Shoshu. Budismo tibetano – Também conhecido como lamaísmo, adota a doutrina do bodhisattva e o caminho gradual rumo ao estado de ilumina- ção por meio de rígidas disciplinas monásticas. O grupo mais importante nessa tendência é de Gelugpa, fundado em fins do século XIV d.C. Seu líder espiritual é o Dalai-Lama (“guru ocea- no”), cuja sabedoria é profunda e ampla como o mar. O Dalai-Lama é considerado a encarnação de um bodhisattva, e cada dalai-lama sucessivo é a reencarnação do anterior. A partir do século XVII, o Dalai-Lama passou a ser também o lí- der secular do Tibete, até o país ser ocupado pela China, em 1959, quando o Dalai-Lama passou a viver em exílio. No Brasil, como podemos ver a seguir, po- dem ser identificadas três grandes escolas bu- distas. Devemos levar em conta que cada escola pode estar subdividida em vários grupos. As três tradições fundamentais As diversas escolas budistas existentes po- dem ser agrupadas em três tradições fundamen- tais. Ainda na Índia, desenvolveram-se diferentes correntes com interpretações específicas dos en- sinamentos de Buda. Desse budismo primitivo, sobrevive até hoje a tradição Theravada. Simul- taneamente, a doutrina de Buda correu a Ásia e foi adaptada a diferentes culturas. O resultado é a diversidade. As 3 grandes escolas budistas Início Região de Consolidação Filosofia *Grupos no Brasil Membros no Brasil Alguns líderes no Brasil Theravada (Hinayana) Séc IV a.C. Sul da Ásia (Sri Lanka, Tailân- dia, Mianmar, Laos, Camboja) A figura do “vaículo pequeno” resume o espírito da tradição Theravada, também chamada de Hinayana. Cada um é responsável por guiar o próprio barco. Sozinho, o praticante busca a auto-iluminação por meio da meditação e de uma conduta condizente com a doutrina de Buda. 5 Menos de 1 mil Pushwelle Vipasse Mahayana Séc. I a.C. Norte da Ásia (China, Coréia, Japão) A tradição Mahayana pode ser simbolizada pela figura do “veículo grande”. O fiel não apenas busca a própria ilumi- nação como pode contribuir para que todos a sua volta evoluam espiritualmente. O bodhisattva (ser iluminado) é o timoneiro em um barco com muitos passageiros 85 Cerca de 220 mil Monja Sinceri- dade e Monja Coen Vajarayana Séc. VII d.C. Tibete Os primeiros missionários a visitar o Tibete tiveram de incorporar algumas práticas xamânicas da população na- tiva. A tradição Vajrayana, ou “veículo diamante” combina a ética Mahayana com doutrinas esotéricas do Tantrismo 45 Cerca de 3 mil Lama Michel e Segyu Rinpoche *Números aproximados Consultoria: Prof. Frank Usarski, programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC de São Paulo. Fonte: Revista Isto É, 2003. Cultura Religiosa 20 www.ulbra.br/ead B ud is m o Fundador: Siddartha Gautama, identificado por seus seguidores como Sakyamuni (pertencente ao clã dos Sakya), Buddha (“o iluminado”) ou Bhagavat (“senhor”). É tido como o quarto dos cinco budas encarnados. Não há certezas, as biografias men- cionam datas desde 624 a.C. até 410 a.C. Data de nascimento: Livro dos Vedas, que consiste numa coletânea de quatro obras, das quais certas partes datam de 1500 a.C. Local de nascimento: reino dos Sakyas, na cidade de Kapilavastu, próxima à fronteira atual entre a Índia e o Nepal. Ano de fundação: estima-se que Siddartha tenha atingido o estado de iluminação por volta de seus 35anos de idade. Textos sagrados e reverenciados: os ensinamentos de Buddha não foram original- mente escritos por ele, mas transmitidos oralmente por seus seguidores. Ao surgi- rem os primeiros escritos, duas formas podem ser identificadas: o cânone sulista de Pali, da tradição Theravada (escrito no Sri Lanka por volta do século I a.C.), e o cânone nortista sânscrito, da tradição Mahayana. O cânone de Pali é composto por três obras (pitaka): a) Sutra: os discursos de Buddha; b) Vinaya: as origens das regras da disciplina monástica; c) Abdhidharma: tratados escolásticos sobre a psicologia e a filosofia budis- tas. Já o cânone de tradição Mahayana crê que as doutrinas primeiras são incompletas e necessitam ser aperfeiçoadas com os tratados interpreta- tivos. Estatística: atualmente é um dos quatro maiores grupos de tradição religiosa. Os nú- meros correspondentes a essa afirmação são difíceis de serem comprovados em vis- ta das diversas escolas budistas. Hoje é muito difundido no Sri Lanka e no Sudoeste da Ásia, embora esteja também presente na China, na Coréia e no Japão. Excluindo a China, estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas professam a fé budista. Perfil do Budismo 20 Cultura Religiosa 21 www.ulbra.br/ead Is la m is m o ISLAMISMO Enquanto religião, o islã abrange todas as áreas da vida humana, pessoal e social. Por Prof. Ronaldo Steffen História Com origem na Arábia, o islã está pro-fundamente relacionado com a cultura árabe. Ressaltemos, no entanto, que hoje apenas uma minoria de seus seguidores são ára- bes. O islã está difundido por regiões da África e da Ásia, em especial, e é seguido por cerca de 15% da população mundial. A palavra árabe islam significa “submissão”. É pertinente ao seu conteúdo que o ser humano deve entregar-se a Deus e submeter-se a Sua von- tade em todas as áreas da vida. Esse entendimen- to sugere que, enquanto religião, o islã abrange todas as áreas da vida humana, pessoal e social. É a terceira e última das religiões originadas com Abraão, após o judaísmo e o cristianismo. Fruto de um “segundo casamento” de Abraão, agora com Hagar, Ismael dá origem aos muçul- manos. De importância capital para a compreensão do islã é a figura de Muhammad, ou Mohammed, ou, ainda, Maomé. Maomé Nasceu em Meca, na Arábia, por volta de 570 d.C. Nascido numa das principais famílias da cidade, ficou órfão ainda criança. Criado por um tio, Abu Talib, foi trabalhar como condutor de camelos para Khadidja, viúva de um rico mer- cador. Quinze anos mais velha que Maomé, veio a ser sua esposa e exerceu grande influência no desenvolvimento religioso de seu esposo. A peregrinação (Hajj) a Meca é um dos “cinco pilares do islã” Im ag em 1 3: W iki pe di a A Arábia Saudita hoje. Ar qu ivo U LB RA EA D Cultura Religiosa 22 www.ulbra.br/ead Is la m is m o A formação religiosa de Ma- omé Meca era um importante centro comercial e religioso da Arábia. Tribos nômades já adora- vam, bem antes de Maomé, a pedra preta, objeto de muitas peregrinações de beduínos. Era prática comum na região, também, cultuar muitos deu- ses e seres sobrenaturais, quase sempre ligados a práticas animistas. Em geral, os cultos eram tribais. Aliás, a tribo e a família eram estruturas centrais para o modo de vida dos nômades. Todo o sistema legal estava vinculado à tribo, originada e mantida pelos laços de sangue. Era recorrente o exercício da lei do “olho por olho”, quando um dos membros de uma tribo era assassinado por um membro de outra. Um cenário de constantes e sangrentas rixas fixou-se como prática comum. Maomé foi fortemente influenciado pelos ideais judaicos e cristãos, espe- cialmente o monoteísmo. Já à época de Maomé, apresentava-se um quadro de transição. A sociedade beduína nôma- de começava a dar lugar a uma sociedade urba- na mais fixa. Com isso, a religião e as práticas tradicionais passaram a ser revistas. Nesse hiato aumentou em muito a influência do judaísmo e do cristianismo. Com toda a certeza, Maomé foi fortemente influenciado pelo monoteísmo e pela noção de fim de mundo acompanhado de juízo final. O judaísmo havia se estabelecido em toda a Arábia depois da queda de Jerusalém em 70 d.C. Aos poucos, os judeus incorporaram a língua e o estilo de vida dos árabes, mantendo, porém, sua própria crença e seu culto mosaico. O cristianismo, por sua vez, também havia avançado por muitas regiões do Oriente Médio. Estados como a Abissínia (atual Etiópia) e mui- tas tribos beduínas tornaram-se cristãos. Com certeza o grupo que mais influenciou Maomé em sua formação religiosa foram monges e ere- mitas cristãos, que viviam isolados nos desertos da Arábia. Devotos e generosos eram pródigos na ajuda aos viajantes. A recitação de Maomé resulta no Alcorão. Deus revela-se a Maomé Era costume de Maomé retirar-se todos os anos para uma caverna aos arredores de Meca com o fim de meditar. Esse hábito também era prática corrente dos eremitas cristãos, que, di- ferentemente de Maomé, fundamentavam sua meditação em algum texto sagrado, em geral os Evangelhos da tradição cristã. Aos 40 anos, Maomé teve uma revelação. Apareceu-lhe o arcanjo Gabriel com um perga- minho ordenando-lhe que o lesse. Maomé não sabia ler e, em vista disso, o arcanjo incitou-lhe a recitar o que ouvia. Sura (capítulo) do alcorão As recitações transmitidas por Maomé fo- ram reunidas num livro, o Qu´ran, o Corão, ape- nas após a sua morte. Assim como no judaísmo e no cristianismo, o islamismo também passa a ter seu livro sagrado. Im ag em 1 4: W iki pe di a 22 Cultura Religiosa 23 www.ulbra.br/ead Is la m is m o De Meca a Medina Após a revelação, Maomé começa sua pre- gação em Meca. Proclama-se profeta e mensa- geiro de Deus. As famílias abastadas entende- ram essa pregação como manobra para usurpar o poder político da cidade. Também as famílias assentadas no tradicionalismo religioso se lhe opuseram por entenderem que, se abandonassem suas antigas crenças, estariam reconhecendo que seus antepassados foram pagãos. A crise estava instalada. A situação de Ma- omé piora após a morte de seu tio e esposa. Al- guns de seus seguidores, residentes em Medina, mostraram-se dispostos a aceitá-lo na cidade. Assim, em 622 d.C. Maomé sai de Meca e vai para Medina. Esse episódio é conhecido como hégira, que significa “rompimento” ou “partida”, mas jamais “fuga”. Líder religioso e político Em Medina, Maomé torna-se um líder reli- gioso e político. Sem perder de vista seu futuro retorno a Meca, procura se estabelecer financei- ramente por meio de assaltos a caravanas perten- centes às famílias ricas de Meca. O conjunto das atividades desenvolvidas por Maomé com vistas ao retorno a Meca é conhecido como jihad, hoje empregado para designar a guerra santa. Na década seguinte, Maomé toma a cida- de de Meca por meios militares e diplomáticos. Ocupou, a seguir, grande parte da Arábia. Em 632 d.C., pouco antes de morrer, havia realizado o feito de unir o país e torná-lo um só domínio, no qual a religião tinha mais representatividade que os antigos laços familiares e tribais. O Cisma no islã após Maomé Após a morte de Maomé, a liderança do movimento foi assumida pelos califas, ou suces- sores. Os três primeiros califas eram parentes de Maomé. O quarto califa, Ali, genro de Maomé, casado com sua filha Fátima, era filho de seu tio, Abu Talib, que o havia criado. Surgem os Xiitas e os Sunitas O Cisma no mundo islâmico começa na época de Ali. Sua liderança foi repleta de contro- vérsias, e ele acabou sendo assassinado por seus adversários. Os seguidores de Ali defendiam e acreditavam que, por ser o parente mais próximode Maomé, ele era o seu sucessor natural. Esses seguidores eram identificados como os Shiat Ali (o partido de Ali), ou xiitas, que formam a base da religião oficial do Irã de hoje. Os xiitas entendiam que a liderança do mo- vimento deveria ser concedida a um descendente direto de Maomé, enquanto o grupo divergente, facção bem maior que os xiitas, identificados como sunitas, julgava que a liderança cabia ao indivíduo que de fato controlava o poder. Após a morte de Ali, o califado teve sede em Damasco por algum tempo e, a seguir, instalou- se em Bagdá, onde permaneceu por 500 anos. Depois disso, a liderança passou para o sultão turco de Istambul. O último sultão foi derrubado em 1924 e, desde então, o mundo islâmico dei- xou de ter um califa como líder. Sunitas Xiitas Os dois grupos reúnem a maioria dos adeptos do islamismo. 84% 16% Ensinamentos Deus Não há Deus, senão Alá, e Maomé é seu pro- feta. Este é o resumo da fé islâmica: o monoteís- mo e a revelação dada a Maomé. Monoteísmo Alá não constitui um nome pessoal, mas, sim, a palavra árabe que significa “Deus”. Eti- Cultura Religiosa 24 www.ulbra.br/ead Is la m is m o mologicamente, a palavra alah se relaciona com a palavra hebraica el, que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus. O termo “alah”, ára- be, e o termo “el”, hebraico, referem-se a “Deus” O politeísmo é atacado com veemência, res- saltando-se a crença num só Deus, que é criador e juiz. Ele criou o mundo e tudo o que há nele. No último dia irá trazer todos os mortos de volta à vida para julgá-los. Há uma forte ênfase no amor e na compai- xão divinos. Embora Deus seja aquele a quem to- dos devem submeter-se, também é o que perdoa e auxilia o ser humano. Este não merece nada de Deus nem pode invocar direitos sobre nada. A salvação e a fé brotam somente da graça de Deus e são coisas que os seres humanos podem apenas ter esperança de conseguir. Revelação Deus falou ao ser humano por intermédio de seu profeta Maomé. Ele é o último dos pro- fetas enviados por Deus à humanidade. Embora, de início, Maomé estivesse próximo às tradições judaico-cristãs, delas se distancia em razão de controvérsias tidas com os judeus sobre narrati- vas do Antigo Testamento. O fundo histórico do movimento desencade- ado por Maomé é encontrado em Abraão e seu filho, Ismael, antepassado dos árabes. Maomé ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstru- ído a sagrada Kaaba, que fora erigida por Adão e destruída pelo dilúvio. Para Maomé, tanto os judeus como os cristãos distanciaram-se do mo- noteísmo de Abraão. Quando em Medina, Maomé ensinara que, ao orar, o rosto deveria estar voltado para Jeru- salém. Depois de rompidas as relações com os judeus, a orientação mudou: o fiel, agora, deve estar de frente para Meca ao orar. Por essa época também, designou-se a sexta-feira como dia sa- grado da semana. A Kaaba hoje em dia de peregrinação Em relação ao cristianismo, a diferença acentuou-se na questão da Trindade. Além disso, houve divergência quanto ao papel de Jesus, que, para o cristianismo, é o Verbo (Palavra) revelado, enquanto, para o islamismo, a revelação é o pró- prio Qu´ran (Corão). Ser humano O ser humano possui um estatuto especial e uma posição privilegiada no universo. A vida é dádiva divina. O ser humano é criatura divi- na perfeita e possuidor de uma alma que perdura após a morte. A bondade lhe é inata por graça divina e não se perde por qualquer meio ou motivo. Não há a noção de um pecado herdado. O ser huma- no é sempre bom. Quando muito, ele se esque- ce de sua origem divina e da bondade que lhe é inerente. Para que isso não ocorra, o ser humano necessita constantemente reavivar suas origens e qualidades divinas. O fato de ter sido escolhido por Deus para que Ele se revele ao mundo, dá a dimensão exata dos grandes valores e qualidades humanas. Vida e morte Os cinco pilares A vida de um seguidor do islamismo está marcada por cinco passos bem definidos, deno- minados de Os cinco pilares, descritos a seguir. Im ag em 1 5: B ha tk al 24 Cultura Religiosa 25 www.ulbra.br/ead Is la m is m o Os cinco pilares do Islamismo: • Credo • Oração • Caridade • Jejum • Peregrinação à Meca Credo – “Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta.” É a primeira coisa que se deve sussurrar ao ouvido da criança recém- nascida e a última a ser sussurrada no ouvido do moribundo. Oração – Deve ser feita cinco vezes ao dia; o pressuposto é estar ritualmente limpo das im- purezas, causadas pelas funções corporais, o que é obtido pelo banho em água corrente. Mesmo em terras distantes mantém-se a obrigação das orações diárias Caridade – É uma espécie de taxa sobre a riqueza e a propriedade, fixada em cerca de 2,5% sobre o montante; ela é destinada a usos sociais, objetivando diminuir as desigualdades entre ri- cos e pobres, sem interferir no princípio da pro- priedade privada. O islã não proíbe que se des- frute a vida na terra, mas lembra que se deve ter sempre em mente o fato de que esta não passa de uma preparação para a vida que começará depois do julgamento divino. Jejum – O Corão proíbe comer porco e be- ber álcool. De resto, nada se proíbe. A exceção é o jejum durante o Ramadan, mês em que Maomé teve sua primeira revelação. Nesse período, entre o nascer do sol e o pôr-do-sol, é proibido comer, beber, fumar ou ter relações sexuais. Os viajan- tes, os doentes, as crianças e as mulheres grávi- das ou que estão amamentando são exortados a cumprir o jejum numa data posterior. Peregrinação a Meca – Todo muçulmano adulto que dispõe de meios financeiros deve rea- lizar, pelo menos uma vez na vida, uma peregri- nação a Meca. Os peregrinos que para lá se diri- gem, passam a usar vestes brancas e caminham em torno da Kaaba por sete vezes. Outro mo- mento importante é quando os peregrinos vão ao monte Arafat e lá ficam, sem cobrir a cabeça, do meio-dia até o pôr-do-sol. Foi no monte Arafat que Adão e Eva se encontraram de novo, depois que foram expulsos do jardim do Éden. O ponto alto das festividades é o sacrifício de algum ani- mal (carneiro, bode, camelo, boi etc.). A finali- dade é relembrar que Abraão foi tão obediente a Deus que se dispôs a sacrificar seu próprio filho, Ismael. Deus foi misericordioso com Abraão e enviou-lhe um animal para que ele o sacrificasse em lugar do filho. Peregrinação a Meca Im ag em 1 6: T em pl e Un ive rsi ty Im ag em 1 7: B BC d e Lo nd re s Cultura Religiosa 26 www.ulbra.br/ead Is la m is m o Relações humanas - Ética e Política Quando as instruções do Livro não forem suficientes, recorre-se a dois princípios: • Princípio da similaridade ou analogia: busca-se no Corão um exemplo semelhante e capaz de sugerir uma decisão; • Princípio do consenso: uma decisão de consenso pode ser vista como lei a ser observada. • Já os xiitas adotam um terceiro princípio: o da revelação. Não há no islã distinção entre religião e po- lítica, tampouco entre a fé e a moral. O Corão é suficiente para resolver todas as questões que envolvem os relacionamentos humanos. Os xiitas acreditam que a revelação não está concluída e que seus líderes são os instrumentos divinos para as novas interpretações. Essa posi- ção contraria a dos sunitas, que afirmam que a re- velação veio apenas uma vez, em sua forma final. As mulheres no islã Há profundos contrastes no tratamento con- cedido a homens e mulheres na vida social e nas leis relativas ao casamento. Devemos, no entan- to, ressaltar que o Corão, em relação às mulhe- res, determina tanto obrigações (“os homens têm autoridade sobre as mulheres”)quanto direitos (o dote pago pelo marido, por ocasião do casamen- to, é propriedade da mulher e não pode ser usado sem o consentimento dela). A mulher só pode ter um marido. Já o ho- mem pode ter até quatro esposas, desde que as possa sustentar. A poligamia é proibida na Tur- quia e na Tunísia. Outra particularidade com relação ao casamento e que é pouco conhecida, embora bastante difundida, é o casamento por contrato com tempo determinado. É utilizado, em especial, quando o marido fica por muito tempo fora de casa e tem por fim preservar a sus- tentabilidade da mulher. O divórcio é possível, mas apenas quando iniciado pelo marido, que é o responsável pelo lado financeiro do ca- samento. O marido também tem o direito de punir fisi- camente a mulher se ela for desobediente. A excisão do clitóris (mutilação genital femini- na) não é obrigatória, mas mesmo assim é praticada com freqüência no Norte da África. Não há no Co- rão menção a essa prática, bem como à tradição de usar o xador, o véu. A morte Após a morte, a alma do fiel muçulmano vai a um paraíso desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá. A alma do infiel, por seu turno, vai ao inferno. Aguardar-se-á o dia do juízo, quando as ações dos seres humanos serão definitivamente julgadas e receberão a devida paga. As almas dos mártires e dos profetas não passarão pelo juízo final, pois já estão no paraí- so. O ato final será a proclamação do islã como religião mundial, liderada por Jesus. A crença num julgamento final após a morte é necessária, segundo muitos muçulmanos, para que o ser humano assuma a responsabilidade so- bre seus atos. A idéia de um julgamento cria um senso moral de dever que é relevante para a co- munidade. Mundo O mundo foi criado por um ato deliberativo de Alá. Em decorrência, dois aspectos emergem: o mundo da matéria é real e importante, e, por ser obra de Alá, que é perfeito em bondade e poder, o mundo material também o é. O Xador (véu) usado pelas mulheres da religião islamica O divórcio é possível, mas apenas quando iniciado pelo marido, que é o responsável - Im ag em 1 8: N aj ah T ea m 26 Cultura Religiosa 27 www.ulbra.br/ead Is la m is m o Principais tendências Sunitas – Defendem que a unidade da co- munidade islâmica é muito mais importante que a genealogia de seu líder. Acreditam que o pro- feta morreu sem indicar um sucessor e que os lí- deres que o sucederam, os califas, representam a sucessão legítima. Distinguem-se, ainda, pela ênfase dada à inescrutabilidade racional de Alá e à extensão limitada do livre-arbítrio humano. Xiitas – Defendem que a unidade da comu- nidade islâmica só é possível reconhecendo-se que os descendentes do profeta são os líderes (imã) ou modelos naturais escolhidos por Alá. É particularmente importante para esse grupo não perder de vista que o terceiro líder, assassinado em 680 d.C. ao recusar-se jurar fidelidade ao ca- lifa regente, optou pelo martírio como forma de obediência às revelações dadas ao profeta. Essa lembrança manifesta-se no sentimento de luto que toma conta dos xiitas por ocasião da morte, quando em luta, de um de seus adeptos. Possuem um clero hierárquico organizado, no qual a as- censão se dá segundo o grau de cultura, sendo o mais alto nível o de aiatolá. Sufismo – É o grupo islâmico com tendên- cia mística e cuja característica mais marcante é a renúncia ao eu por meio de hábitos devocionais e pela convicção de que Alá é a verdade suprema da existência humana e o caminho para os esta- dos mais elevados de consciência e iluminação. O termo sufi designa “o que se veste com lã”, numa referência possível às vestes dos primeiros sufis. Fundamentalismo islâmico – Defendem que a shari´ah (conjunto de regras islâmicas ex- traídas do Corão e dos ensinamentos de Maomé) tem validade eterna e deve ser seguida à risca. O movimento surgiu por volta do século XVIII como uma reação ao avanço ocidental e ao con- seqüente relaxamento dos princípios da shari´ah. Imaginam que será por meio de uma inserção cada vez maior na política que poderão ser res- tabelecidos os princípios islâmicos. Defendem uma estrutura familiar patriarcal e entendem que os postos militares e políticos só devem ser entre- gues a muçulmanos comprometidos com a comu- nidade islâmica e que aos empregados deve ser dado tempo para as orações diárias. Acreditam ainda que se deve solidariedade aos muçulmanos no mundo todo e opõem-se ao homossexualismo e ao aborto. Fundador: o profeta Muhammad (Maomé). Data de nascimento: 570 d.C. Local de nascimento: Meca, atual Arábia Saudita. Ano de fundação: 622 d.C., em Meca. Textos sagrados e reverenciados: Qu´ran (Corão), coleção das escrituras divinas como reveladas ao profeta Maomé pelo arcanjo Gabriel, e Hadith, coleção de ditos de Maomé e seus seguidores e que se perpetuaram com o decorrer do tempo. Estatística: estima-se hoje em cerca de 1 bilhão e 300 milhões de adeptos distribuí- dos por várias localidades: Turquia, Oeste da África, Sul da Ásia, Filipinas, Indonésia, Índia, Oriente Médio, Europa e as três Américas. No Brasil, fala-se em 1 milhão de adeptos. Perfil do Islamismo SÍMBOLO DO ISLAMISMO: Enquanto a estrela indica o caminho a seguir, a lua o ilumina. O símbolo é utilizado para significar como o Islamismo guia e ilumina o caminho dos seus seguidores. Cultura Religiosa 28 www.ulbra.br/ead Ju da ís m o História O judaísmo é uma religião inteiramente ligada à história. As narrativas bíblicas começam com Adão e Eva e os relatos que apontam as conseqüências do pecado, mani- festadas no desejo humano de rebelar-se contra Elohim (Deus). Segue-se a expulsão do paraíso. Mais tarde, o mundo inteiro é destruído pelo di- lúvio, salvando-se apenas Noé e sua família, jun- tamente com todos os animais da Terra. Sodoma e Gomorra, cidades sem Elohim, são aniquiladas, e a torre de Babel é derrubada por representar a tentativa humana de chegar até o céu*. De Abraão a Moisés A fase histórica seguinte tem seu ponto de partida com Abraão, ao sair da cidade de Ur, lo- calizada no atual Sul do Iraque, por volta de 1700 AEC. Seguindo orientação divina, Abraão saiu de sua terra e foi em direção à terra indicada por Elohim, a fim de formar um grande povo. Esse povo ganhou um nome após uma dramática luta entre Jacó, neto de Abraão, e um anjo de Elohim. O anjo lhe dá o nome de Israel (o que venceu a Elohim). Os filhos de Jacó, mais tarde, vieram a ser identificados como as doze tribos de Israel. Com José, um dos filhos de Jacó, as narra- tivas bíblicas mostram como os israelitas foram parar no Egito. Após serem escravizados, foram retirados do Egito com a ajuda de Moisés, numa jornada de 40 anos pelo deserto antes de chega- rem à Canaã, a terra prometida. Fato marcante da travessia acontece no mon- te Sinai, quando Elohim dá a Moisés as duas tá- buas da Lei com os Dez Mandamentos. Por volta de 1200 AEC, os israelitas con- JUDAÍSMO Uma religião inteiramente ligada à história: Por Prof. Ronaldo Steffen A jornada de Abraão *Confira esses relatos no “Livro de Êxodo”, disponível em: http://www.sbb.org.br. Ar qu ivo U LB RA EA D Ar qu ivo U LB RA EA D 28 Cultura Religiosa 29 www.ulbra.br/ead Ju da ís m o quistaram parte de Canaã, convivendo com povos não israelitas. Foi a época dos juízes que cuida- vam para que o povo respeitasse as leis dadas por Elohim. A luta com os filisteus, nesse período, foi o episódio determinante da necessidade da criação de um poder político centralizado. Divisão das 12 Tribos de Israel O reino de Israel O ano 1000 AEC marca a introdução da mo- narquia por meio de Saul.
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