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Direito Penal Parte Especial

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ART. 121 – HOMICÍDIO
 
a) Conceito: destruição da vida humana alheia por outrem.
 
b) Objeto Jurídico: vida humana, independente de sexo, idade, raça ou condição social do indivíduo.
- Direito subjetivo fundamental, garantido pelo artigo 5o, caput, da C.F.
Obs.: O consentimento é irrelevante.
 
c) Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum).
 
d) Sujeito passivo: ser humano com vida.
Obs.:	
1ª.) Destruição de vida intra-uterina configura aborto (art. 124 do C.P.)
2ª.) Limite mínimo do homicídio: começo do nascimento, com contrações expulsivas ou pela intervenção cirúrgica.
3ª.) Limite máximo do homicídio: possível até a morte da pessoa.
 
e) Conduta típica: matar alguém, por qualquer meio.
 
- Meios:
1)                 Diretos: de que se vale o agente para atingir diretamente a vítima (ex. disparo de arma de fogo; esganadura; etc.)
2)                 Indiretos: conduzem à morte de forma mediata (Ex. ataque com animal bravio).
3)                 Materiais: mecânico; químico; patológico.
4)                 Morais: susto; violenta emoção; medo; etc. (com pessoas portadoras de distúrbios cardíacos).
 
f) Elemento subjetivo: dolo, vontade livre e consciente de realizar conduta dirigida à morte da vítima.
 
g) Objeto material: o próprio ser humano com vida.
 
h) Consumação: consuma-se com a morte (crime material).
Obs.: 
1ª.) Delito instantâneo de efeitos permanentes – necessário exame de corpo de delito – art. 158 do C.P.P.
2ª.) Homicídio por omissão: possível (crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão) – conhecimento de situação típica, não realização de ação dirigida de modo a evitar o resultado, sendo o autor garantidor do bem jurídico (Ex. mãe que deixa de alimentar recém nascido; salva-vidas que deixa de socorrer o banhista que se afoga).
 
i) Tentativa: admissível. Quando iniciada a execução o resultado morte não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, II, do C.P.).
 
j) § 1º: Homicídio privilegiado.
- Causa especial de diminuição de pena.
- Espécies:
1. agente impelido por relevante valor social ou valor moral: Exposição de motivos – aquele que em si mesmo é aprovado pela moral prática, como a compaixão pelo sofrimento da vítima (eutanásia) ou a indignação contra um traidor da pátria.
* Valor social: interesses coletivos ou da sociedade;
* Valor moral: orientado por princípios éticos; nobres; altruístas.
2. violenta emoção, após injusta provocação da vítima: 
- emoção: sentimento intenso e passageiro que altera o estado psicológico, provocando alterações fisiológicas (Ex. medo; angústia; tristeza);
- paixão: emoção-sentimento – idéia permanente ou crônica por algo (ex. amor, ódio, ciúme).
- Emoção (paixão) violenta: resultante de severo desequilíbrio psíquico, capaz de eliminar capacidade de reflexão e autocontrole.
- Provocação: atitude desafiadora; com ofensas diretas ou indiretas, insinuações, expressões de desprezo, etc.
* Necessidade da imediatidade da reação, impedindo reflexão.
* Redução de pena obrigatória, se prevalecem estas circunstâncias como reconhecidas pelo Júri, competente para seu julgamento, cabendo ao juízo apenas o arbitramento do quantum da redução.
* Circunstância que beneficia apenas o “caput” do art. 121, não podendo ser aplicada ao homicídio qualificado (§ 2o.) – Divergência da jurisprudência: STF – RT 541/466 : Incompatível com as qualificadoras subjetivas (motivo fútil ou torpe, etc.), mas compatível com as qualificadoras objetivas (fogo, veneno, meio cruel, etc.)
 
l) § 2o. Homicídio Qualificado
1. Conceituação: impulsionado por certos motivos ou praticado com o recurso a meios cruéis ou insidiosos ou perigo comum; ou de forma a tornar impossível a defesa da vítima; ou, ainda, se realizado com o fim de atingir objetivos reprováveis (execução, ocultação, impunidade ou vantagem em outro crime).
2. Qualificação por motivos determinantes: - Incisos I e II – Motivo fútil ou torpe
. Fútil: insignificante, desproporcional ou inadequado.
. Torpe: indigno, desprezível, repugnante, ausência de sensibilidade moral.
* Mediante paga ou promessa de recompensa: motivo torpe. 
- Jurisprudência determina que deve prevalecer conteúdo econômico na promessa ou no pagamento.
- Não se exige que o agente receba o pagamento
- Qualificadora aplicável apenas ao autor (executor) e não ao partícipe (quem oferece recompensa), visto que pode faze-lo, inclusive, por motivo justo ou nobre.
3 – Qualificação por meios e modos de execução – incisos III e IV do § 2o., do art. 121, do C.P.
* Inciso III: meios de execução.
- Meio insidioso: dissimulado em sua eficiência maléfica;
- Meio cruel: aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela brutalidade fora do comum, sem piedade.
- Perigo comum: capaz de afetar número indeterminado de pessoas (fogo, desabamento, explosivo, etc.).
- Meios que podem ser empregados:
. Veneno: substância mineral, vegetal ou animal que, ingerida, inoculada ou introduzida no organismo, provoque lesão ou perigo de lesão à saúde ou à vida. 
- Para configurar seu uso, necessária a ausência de conhecimento da vítima; seu emprego com violência pode configurar meio cruel.
. Asfixia: mecânica, enforcamento ou estrangulamento, ou tóxica, consistente em bloquear a função respiratória.
. Tortura: como meio de prática de homicídio, com utilização de mal desnecessário, com o intuito de provocar dor, angústia e grave sofrimento físico à vítima (não deve ser visto aqui como delito autônomo – art. 1o., da Lei nº 9455/97).
* Inciso IV: modos de execução que garantem o delito e afastam eventual defesa da vítima.
. Traição: deslealdade.
. Emboscada: correspondente ao ocultamento do agente, como intuito de surpreender a vitima.
. Dissimulação: encobrir os próprios objetivos.
4 – Qualificação pela conexão – assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime – Inciso V, do § 2o., do art. 121, do C.P.
- Pressupõe a existência de dois crimes, entre os quais ocorra conexão.
5 – Duas ou mais qualificadoras:
 - Homicídio mediante emboscada e uso de explosivo:
. Emboscada: homicídio qualificado – (art. 121, § 2o., IV, do C.P.)
. Explosivo: agravante genérica (art. 61, II, d, do C.P.).
 
m) § 3o. Homicídio Culposo
- O agente não observou o cuidado objetivamente devido, ou as diligências indispensáveis que exigirem as circunstâncias do caso em concreto, por conseqüência, produzindo o resultado morte, não querido pelo autor.
- Causado por imprudência, negligência ou imperícia – art. 18, II, do C.P.
 
n) § 4o. Aumento de pena em Homicídio Culposo
- Causas especiais:
1 - Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: deliberadamente desatende às regras técnicas (não se confunde com a imperícia, onde o agente não tem capacidade ou conhecimento técnico necessário ao caso).
2 – Omissão de socorro imediato à vítima: (crime autônomo – art. 135 do C.P.) – conduta culposa antecedente, sem ocorrência de morte instantânea, tornando viável o socorro.
3 – Abster-se de comportamento que diminua as conseqüências dos atos do agente: abarcada pela omissão de socorro.
4 – Fuga do agente para evitar a prisão em flagrante: evasão à aplicação da lei penal.
 
o) § 4o. – Segunda parte: Acrescentada pela Lei nº 8.069/90 – ECA – aumento de 1/3 na pena de homicídio doloso, praticado contra menor de 14 anos.
 
p) § 5o. – Perdão Judicial: arts. 107, IX e 120 do C.P.- Extinção de punibilidade
- Homicídio Culposo
- Morte de pessoas estreitamente ligadas ao agente (parentesco ou afinidade) ou incapacidade do agente para o trabalho.
* Posição divergente na doutrina a respeito do perdão judicial:
1. Não se aplica ao homicídio culposo em acidente de trânsito – art. 302, da Lei 9.503/97 – pois o art. 291 da Lei indica que não cabe aplicação analógica de normas penais não incriminadoras, tendo em vista que as disposições a respeito do perdão judicial para homicídio e lesão corporal culposa, estão na parte especial do Código Penal, e o artigo 291, do CTB, só permite a aplicaçãode normas da parte geral do Código Penal e, apesar da previsão no artigo 107, IX, do C.P., este se refere aos casos previstos em lei e, como o Código de Trânsito revogou esta previsão, anteriormente contida no artigo 300 (revogado), é certo que não mais existe previsão legal específica, bem como o legislador não desejou a interpretação favorável ao réu. (Rui Stoco).
2. Cabe a aplicação do perdão judicial, como interpretação benéfica ao réu, visto que apesar da disposição do artigo 291, do CTB, é o artigo 107, inciso IX, do Código Penal, constante da parte geral, que prevê a aplicação do perdão judicial, nos casos previstos na lei.
 
q) Ação Penal: Pública Incondicionada.
 
r) Crimes hediondos
- São considerados na forma consumada ou tentada, de acordo com o art. 1o., I, da Lei 8.072/90:
. Homicídio Simples: mesmo que praticado por um único agente, mas em atividade típica de grupo de extermínio.
. Homicídio Qualificado: art. 121, § 2o.
ART. 122. - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO
 
a) Conceito:
	Suicídio: "é a deliberada destruição da própria vida" Euclides Custódio da Silveira.
	Obs.: por razões que se prendem à impossibilidade de punição do suicídio e à política criminal (impossibilidade da dissuasão) não se incrimina a prática do suicídio. Mas é ilícito, pois atinge um bem indisponível.
	Então a lei pune quem age induzindo, instigando ou auxiliando outrem a suicidar-se.
 
b) Objeto jurídico: a vida humana (art. 5o., caput, da CF).
 
c) Sujeitos:
	1) ativo: qualquer pessoa (crime comum);
	2) passivo: qualquer pessoa, não obstante dever se tratar de pessoa determinada, não perfazendo o delito o induzimento genérico. A pessoa deverá ter discernimento, senão o crime poderá ser homicídio - o sujeito passivo deve agir voluntaria e conscientemente.
 
d) Tipo objetivo:
	Conduta típica: Induzir ou instigar (concurso moral) alguém ao suicídio ou prestar-lhe auxílio (concurso físico).
	Induzir: significa inspirar, incutir, sugerir, persuadir. Fazer brotar no espírito de outrem a idéia suicida. Ex. A é doente terminal. B o induz a se matar. A idéia primeira é de A, que induz.
	Instigar: é estimular, incitar, acoroçoar alguém ao suicídio. A idéia suicida preexiste. Ex. A está doente e indeciso entre a luta contra a doença e a morte. B o instiga a se matar.
	Prestar auxílio: o agente colabora fornecendo os meios necessários para que a vítima alcance o propósito de matar-se. Ex. empréstimo de arma, de veneno, de corda, etc. Ou Conselhos de como se matar. Ex. dose de veneno.
	Omissão: é discutida a possibilidade da prática deste crime por omissão.
	Parte da doutrina entende possível, por aquele que conscientemente omite ação a que estava obrigado em razão da posição de garante (art. 13, § 2º., CP).
 
e) Tipo subjetivo: dolo - consciência e vontade de induzir, instigar ou auxiliar outrem ao suicídio, podendo fazer de forma espontânea ou a pedido da vítima. Pode ser direto, querer, ou eventual, assumir conscientemente o risco do evento danoso.
	Para alguns há o dolo específico - elemento subjetivo do tipo ou do injusto = desejo de que a vítima morra. José Frederico Marques e Euclides Custódio da Silveira. Contra: Júlio Fabbrini Mirabete, Damásio de Jesus, Luis Regis Prado.
 
f) Consumação: duas correntes:
	1) consuma-se com a instigação, o induzimento ou o auxílio (delito instantâneo e de mera conduta). A aplicação da pena, todavia, está sujeita à superveniência do evento morte ou lesão corporal grave. Condição objetiva de punibilidade. Aníbal Bruno, Nelson Hungria, Galdino Siqueira.
	2) consuma-se com o resultado natural (morte ou lesão corporal da natureza grave). O resultado não é condição objetiva de punibilidade, mas elemento do tipo. Júlio Fabbrini Mirabete, Magalhães Noronha, José Frederico Marques, Damásio de Jesus, Heleno Fragoso, Euclides Custódio da Silveira.
 
g) Tentativa: inadmissível - não havendo o resultado morte ou lesão corporal de natureza grave o fato é atípico. Ocorrendo qualquer dos dois o delito consumou-se.
 
h) Formas qualificadas - PARÁGRAFO ÚNICO
	I - se o crime é cometido por motivo egoístico, que desvela desprezo pela vida alheia. Exs.: instiga ou ajuda, para recebimento der herança ou de seguro ou visa eliminar um rival.
	II - se a vítima for menor ou tem diminuída, por qualquer causa a capacidade de resistência.
 
i) Suicídio conjunto:
	1) pacto de morte: duas pessoas combinam se matar - caso ambos colaborem para o evento morte (abrindo a torneira de gás, vedando o ambiente) e sobrevivem = homicídio tentado; se apenas uma delas sobrevive = homicídio consumado. Se apenas uma colabora para o evento morte - se a que colaborou sobrevive = homicídio consumado (ex.: um atira no outro e depois tenta se matar, mas não morre); se a outra sobrevive = instigação (ex.: um atira no outro, que não morre, e depois, acreditando na morte do primeiro, se mata).
	b) roleta russa: arma com um só projétil, rolando o tambor. O sobrevivente comete o crime do art. 122.
	c) duelo americano: uma arma carregada, outra não. O sobrevivente comete o crime do art. 122.
	d) fraude: homicídio. Ex.: afirmar falsamente que a arma está descarregada.
	e) falta de discernimento da vítima: homicídio (induzir um louco a se matar).
 
j) Pena
	1) tipo simples (art. 122, caput) - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se a vítima morre; 
 	2) reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se a vítima sofre lesão corporal de natureza grave. 
 	3) Tipo qualificado (parágrafo único) - a pena do caput aplicada em dobro.
	
l) Ação penal: pública incondicionada.
 
 
ART. 123. - INFANTICÍDIO
 
a) Conceito: é a morte dada pela mãe ao próprio filho, durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal.
	Três sistemas:
	a) sistema psicológico: fundado no motivo honra, que é o temor à vergonha da maternidade ilegítima;
	b) sistema fisiopsicológico ou fisiopsíquico: apoiado no estado puerperal. O Código Penal atual adota esse sistema.
	c) misto (ou composto): agrega os dois sistemas - Anteprojeto Hungria 1963.
 
b) Objeto jurídico: a vida humana (art. 5o., caput, da CF).
 
c) Sujeitos:
	1) ativo: crime próprio - a mãe, que mata o próprio filho durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal.
	Puerpério: "(de puer e parere) é o período que vai da dequitação (isto é, do deslocamento e expulsão da placenta) à volta do organismo às condições pré-gravídicas" (R. Briquet) - A. Almeida Jr. e J. B. O. Costa Jr.. Sua duração é, pois, de seis a oito semanas (Lee), "conquanto alguns limitem o uso da expressão puerpério ao prazo de seis a oito dias". Obs.: o estado puerperal gera uma simples influência psíquica. Além disso = doença mental (art. 26, "caput) ou perturbação da saúde mental (art. 26, p. ú.).
	A melhor solução é deixar a conceituação da elementar "logo após" para análise do caso concreto, entendendo-se que há delito de infanticídio enquanto perdurar a influência do estado puerperal.
	- Concurso de pessoas: discutível
	I - não há: porque o estado puerperal é circunstância pessoal, insuscetível de extensão aos co-autores ou partícipes - o terceiro responderia por homicídio.
	II - há: regra do art. 30 do CP. O estado puerperal é elementar do tipo infanticídio, essencial a sua configuração.
	III - posição mista: punição por homicídio se o terceiro pratica ato executório consumativo, e por infanticídio se apenas é partícipe do ato da mãe.
	2) passivo: é o ser humano nascente - na etapa de transição da vida uterina para a extra-uterina - ou recém-nascido (elemento normativo do tipo).
 
d) Tipo objetivo:
	Matar: de qualquer maneira - delito de forma livre. A conduta típica pode ser cometida por ação (sufocação, estrangulamento) ou omissão (mãe que deixa de fazer a ligadura do cordão umbilical).
	Durante o parto ou logo após são elementos normativos do tipo, que exigem um juízo cognotivo para sua exata compreensão.
	Parto - é o conjunto de processos fisiológicos, mecânicos e psicológicos através dos quais o feto separa-se doorganismo materno. Seu início é marcado pelo período de dilatação do colo do útero e seu término pela completa separação da criança do organismo materno, com a expulsão da placenta e o corte do cordão umbilical.
	Logo após - Bento de Faria se refere ao prazo de oito dias, em que ocorre a queda do cordão umbilical. Flamínio Fávero se inclina para a orientação de deixar ao julgador a apreciação do conceito do termo. Damásio de Jesus estende o prazo até enquanto perdurar a influência do estado puerperal. O prazo se estende durante o estado transitório de desnormalização psíquica (RT 442/409).
	Obs.: não basta que a conduta tenha lugar durante o parto ou logo após: é preciso, demais disso, a existência de um vínculo causal entre a morte da criança dada naquele lapso temporal e o estado puerperal.
	Cabe à perícia determinar se a conduta delituosa foi realmente impulsionada pelas perturbações físicas e psíquicas decorrentes do parto.
 
e) Tipo subjetivo: Dolo - vontade livre e consciente de matar o nascente ou recém-nascido durante o parto ou logo após (dolo direito), como assumir conscientemente o risco do êxito letal (eventual).
	Não existe a modalidade culposa.	
 
f) Consumação: delito material - consuma-se com a morte do nascente ou recém-nascido.
 
g) Tentativa: crime plurissubsistente - admite a tentativa.
 
h) Pena: detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
 
i) Ação penal: pública incondicionada, competindo ao Júri o seu julgamento.
 
 
ARTS. 124-8. – ABORTO
 
a) Conceito: é a interrupção do processo de gravidez, com a morte do feto.
	Há seis figuras:
1ª.) aborto provocado pela própria gestante ou auto-aborto (art. 124, 1a. parte);
2ª.) consentimento da gestante a que outrem lhe provoque o abortamento (art. 124, 2a. parte);
3ª.) aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125);
4ª.) idem, mas com o consentimento da gestante, ou aborto consensual (art. 126);
5ª.) aborto qualificado (art. 127);
6ª.) aborto legal (art. 128).
 
b) Objeto jurídico:
	A vida humana (art. 5o., caput, da CF). A vida do ser humano em formação = vida intra-uterina.
	No aborto provocado por terceiro tutela-se também a vida e a incolumidade física e psíquica da mulher grávida.
	O objeto material do delito é o embrião ou o feto humano vivo, implantado no útero materno.
 
c) Sujeitos:
	a) ativo:
I - no auto-aborto é a própria mãe (crime próprio);
II - nos demais casos (consentido ou não), qualquer pessoa (crime comum).
 
	b) passivo: é o ser humano em formação (óvulo = até 3 semanas; embrião = de 3 semanas a 3 meses; feto = após 3 meses).
	Obs.: caso sejam vários os fetos, a morte dada a eles conduz ao concurso de delitos.
 
d) Tipo objetivo
	Provocar (dar causa a, originar, promover, ocasionar) aborto (é a morte dada ao nascituro intra uterum ou pela provocação de sua expulsão) - elemento normativo do tipo, de valoração extra-jurídica.
	- O ato de provocar pode ser praticado por qualquer meio (delito de forma livre) - por ação (ministrar remédio abortivo - citotec), ou por omissão (médico que, dolosamente, não toma medidas para evitar o aborto espontâneo ou acidental uma vez que tem o dever jurídico de impedir esse resultado).
	- O delito pressupõe gravidez em curso, sendo indispensável a prova de que o ser em gestação se encontrava vivo quando da intervenção abortiva e de que sua morte foi decorrência precisa da mesma.
	- O estágio da evolução do ser humano em formação não importa a caracterização do delito de aborto. O termo inicial para a prática do delito é o começo da gravidez: duas correntes:
I - do ponto de vista biológico - é marcada pela fecundação;
II - do ponto de vista jurídico - com a implantação do óvulo fecundado no endométrio, ou seja, com sua fixação no útero materno (nidação). Assim, o aborto tem como limite mínimo para sua existência a nidação, que ocorre cerca de catorze dias após a concepção. O termo final é o início do parto.
	Obs.: a gravidez interrompida deve ser a normal, e não a patológica - como a extra-uterina (quando a gravidez se desenvolve fora do útero, como na parede uterina (intersticial), na trompa (tubária), no ovário (ovárica) ou entre o ovário e a trompa (tubo-ovárica). Ou molar, que consiste em uma formação neoplasmática - produto conceptivo degenerado, inapto a produzir uma vida nova.
	- O momento da morte do feto não importa para a caracterização do crime de aborto: pode o feto morrer no útero materno, ou ser expulso ainda vivo e morrer em decorrência das manobras abortivas ou porque o estágio de sua evolução não tenha possibilitado a continuidade dos processos vitais.
	- Os processos abortivos podem ser químicos, físicos ou psíquicos: químicos - provocam a intoxicação do organismo (fósforo, chumbo, mercúrio, arsênico, quinina, estricnina, ópio, etc.); físicos - são mecânicos (traumatismo do ovo por punção, dilatação do colo do útero, curetagem, bolsas de água quente, escalda-pés, choque elétricos por máquina estática, etc.); psíquicos ou morais (sugestão, susto, terror, choque moral, etc.).
 
e) Tipo subjetivo: dolo - vontade livre e consciente de produzir a morte do feto. Admite-se o dolo direito (traumatismo do ovo por punção), como o eventual (agredir mulher sabendo do estado de gravidez).
	Não há a figura culposa. Porém, o terceiro que, culposamente, causa o aborto, responde por lesão corporal culposa.
 
f) Consumação: com a morte do ovo, do embrião ou do feto (crime material e instantâneo).
 
g) Tentativa: é admitida. P. ex.: se das manobras abortivas sobrevem a aceleração do parto, mas o feto sobrevive, ou não interrompem a gravidez.
	Se expulso o feto com vida e sua morte é provocada por nova conduta, haverá concurso material de delitos (aborto tentado e homicídio ou infanticídio, consumados).
 
h) Espécies de aborto:
 
I - Auto-aborto e aborto consentido
- auto-aborto: art. 124, 1a. parte - "provocar aborto em si mesma". Crime próprio: é sujeito ativo apenas a mulher grávida.
- aborto consentido: art. 124, 2a. parte - ocorre quando a gestante consente que outrem lhe provoque o aborto. A gestante não provoca o aborto em si mesma, mas consente que outro o faça. Este incorrerá no delito do art. 126, CP.
	Assim, o art. 124 não admite co-autoria. O terceiro que realiza o aborto consentido pela gestante é autor de delito autônomo, o do art. 126. Porém admite-se a participação (Luiz Regis Prado, Damásio, Mirabete). Conforme Damásio explica: "De ver-se que ela (gestante) consente na provocação; o terceiro provoca. Os verbos do tipo são consentir (art. 124, 2a. parte) e provocar (art. 126). se o sujeito intervém na conduta de a gestante consentir, aconselhando, v. g., deve responder como partícipe do crime do art. 124. Agora, se, de qualquer modo, concorrer no fato do terceiro provocador, responderá como partícipe do crime do artigo 126 do CP.
 
II - Aborto provocado por terceiro
1) sem o consentimento da gestante (art. 125): o agente emprega força física, a ameaça ou a fraude para a realização das manobras abortivas. Ex, o agente ministra à mulher grávida substância abortiva ou nela realiza intervenção cirúrgica para a extração do feto sem o seu conhecimento.
	O não consentimento ocorre também quando: a gestante ase mostra contrária; desconhece a gravidez ou o processo abortivo.
2) com o consentimento da gestante (art. 126). Porém, aplica-se a pena do art. 125 (par. único do art. 126) se:
2.1) a gestante não for maior de catorze anos:
2.2) a gestante for alienada ou débil mental; ou
2.3) o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
	Nas duas primeiras hipóteses presume-se a ausência do consentimento. Na última, a não-concordância é real. Exs. fraude: induz-se a gestante a acreditar que sua vida corre risco grave em razão da gravidez. A violência, neste caso, refere-se àquela empregada para a obtenção do consentimento.
	- É indispensável, para a ocorrência do aborto consensual, o consentimento da gestante do início ao fim da conduta. Se a gestante desiste e o terceirocontinua, caracteriza-se o crime do art. 125.
 
III - Aborto qualificado pelo resultado
	- as penas dos arts. 125 e 126 são aumentadas de 1/3 se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevem a morte.
	O resultado mais grave é imputado a título de culpa (art. 19, CP). Havendo dolo (direto ou eventual) ocorrerá concurso formal.
	- Não ocorrendo a morte do feto, mas a lesão corporal grave ou a morte da gestante, o agente responde pela tentativa de aborto qualificado.
	- Não ocorre a qualificadora quando houver lesão grave necessária p/ o aborto (lesão do útero, p. ex.). Nesses casos é ela conseqüência normal do fato.
IV) Aborto necessário
	Havendo conflitos de interesses da mãe e do feto, em alguns casos, devem prevalecer os da mãe. São casos excludentes de criminalidade, as quais tornam lícita a prática do aborto.
	Art. 128:
	i) se não há outro meio de salvar a vida da gestante.
	- tem natureza terapêutica - o aborto necessário (ou terapêutico) consiste na intervenção cirúrgica realizada com o propósito de salvar a vida da gestante. Baseia-se no estado de necessidade, excludente da ilicitude da conduta, quando não houver outro meio apto a afastar o risco de morte. Ex. riscos advindos de anemias profundas, diabete grave, leucemia, cardiopatias, etc.
	ii) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
	- aborto sentimental (ético ou humanitário) - "significa o reconhecimento claro do direito da mulher a uma maternidade consciente". Jimenez de Asúa.
	- Para a realização do aborto pelo médico não é preciso sentença condenatória e tampouco autorização judicial, bastando que a intervenção se encontre calcada em elementos sérios de convicção. Exs.: BO, declarações, etc.
	- Se a gravidez resulta de atentado violento ao pudor, aplica-se o dispositivo, isentando o agente, pela aplicação da analogia in bonan partem. Assim, Mirabete e Damásio. Luiz Regis Prado entende que não, porque a norma em questão é não-incriminadora excepcional.
 
i) Penas:
1) para o auto-aborto e aborto consentido: detenção, de 1 a 3 (art. 124).
2) para o aborto sem o consentimento: reclusão, de 3 a 10 (art. 125).
3) para o aborto com o consentimento: reclusão, de 1 a 4 (art. 126).
4) para o aborto qualificado - com ou sem o consentimento: penas dos arts. 125 e 125, aumentadas de 1/3, se a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e duplicadas, se sobrevém a morte (art. 127).
 
j) Ação penal: pública incondicionada. Tribunal do Júri.
ART. 129 – LESÃO CORPORAL
 
1 - Conceito: ofensa à integridade corporal ou à saúde.
 
2 - Objetividade Jurídica: a integridade física ou psíquica do ser humano.
Obs.: O consentimento é irrelevante. Bem indisponível.
 
3 - Sujeitos
a) Ativo: qualquer pessoa (crime comum).
b) Sujeito passivo: qualquer ser humano vivo, a partir do momento em que se tem por iniciado o parto.
 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: ofender a integridade corporal ou a saúde física ou mental de outrem.
 
5 - Tipo subjetivo: dolo = vontade livre e consciente de ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem (animus vulnerandi ou laedendi). Pode ser direito ou eventual.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: crime material - quando resulta uma lesão à integridade física ou psíquica da vítima.
	b) Tentativa: quando o agente pretendendo causar um ferimento ou dano à saúde, não consegue por circunstâncias alheias a sua vontade.
 
7 - Lesão corporal leve:
	O conceito de lesão leve é dado por exclusão. O art. 129, §1o. = lesões graves; o §2o. = lesões gravíssimas; e o §3o. = lesões seguidas de morte. Então no caput do art. 129 está descrita as lesões corporais leves.
 
8 - Lesão corporal grave - §1o.
	- É tipo penal derivado (qualificado), nos quais é conferido maior relevo ao desvalor do resultado (lesão corporal ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico protegido). Se resultam:
a) Inciso I - incapacidade para ocupações habituais, por mais de trinta dias.
b) Inciso II - perigo de vida.
c) Inciso III - debilidade permanente de 
ART. 133 – ABANDONO DE INCAPAZ
 
1 - Conceito: 
"Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono".
 
2 - Objetividade Jurídica: a saúde da pessoa humana.
 
3 - Sujeitos
a) Ativo: é aquele que possua uma especial relação de assistência para com a vítima, que se encontra sob seu cuidado, guarda, vigilância, ou imediata autoridade. Crime Próprio. 
Posição de garantidor, que deve ser anterior à conduta e pode advir de:
a.1. lei: Código Civil; Estatuto da Criança e do Adolescente; Estatuo do Idoso, etc;
a.2. contrato ou convenção: enfermeiros, médicos, amas, babás, diretores de colégios, etc.
a.3. qualquer fato lícito ou ilícito: recolhimento de pessoa abandonada, condução de incapaz em viagem, caçada, etc.) .
b) Sujeito passivo: é o incapaz, sob a guarda ou assistência do agente.
 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: abandonar = deixar sem assistência, desamparar.
- Indispensável é que a vítima fique em situação de perigo concreto, não se podendo presumir a ocorrência do risco. É necessária uma separação física entre os sujeitos.
 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: vontade livre e consciente de expor a perigo concreto a vida ou a saúde do sujeito passivo através do abandono. Necessária a ciência do agente de que é responsável e do perigo que pode ocorrer. Pode o dolo ser direto ou eventual. 
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: crime de perigo concreto - consuma-se com o efetivo risco corrido pelo ofendido.
	b) Tentativa: admissível.
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o.
"§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave" e
"§ 2º - Se resulta a morte". Figuras preterdolosas ou preterintencionais.
 
8 - Caso de aumento da pena - § 3o. 
"§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.".
 
9 - Pena e ação penal
- Penas:
a) art. 133, caput = detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.
b) se resulta lesão corporal de natureza grave (§ 1o.) - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
c) se resulta morte (§ 2o.) - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
d) casos de aumento - aumenta-se a pena em 1/3.
	A ação penal é pública incondicionada.
 
 
ART. 134 – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
 
1 - Conceito: 
Em íntima afinidade com o delito de abandono de incapaz, do qual é uma espécie privilegiada autônoma, em razão do motivo que impulsiona o sujeito ativo à prática do crime: a ocultação da desonra própria. O crime de exposição ou abandono de recém-nascido é definido no art. 134:
"Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria".
 
2 - Objetividade Jurídica: a vida e a saúde do recém-nascido.
 
3 - Sujeitos
a) Ativo: Crime próprio, podendo ser praticado não só pela mãe na gravidez extra matrimonium, como pelo pai, em caso de filho adulterino ou incestuoso.
b) Sujeito passivo: é o recém-nascido.
 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria (tipo misto alternativo).
- É indispensável para a caracterização do delito em tela a existência - ainda que momentânea - de perigo concreto. Deve ser este efetivamente demonstrado.
 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: vontade livre e consciente de abandonar o recém-nascido, ciente o sujeito de que está ocasionando o perigo. Exige-se, porém, o elemento subjetivo do injusto que é o fim de ocultar a própria desonra (dolo específico).
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: com a efetiva exposição ou abandono, condicionados, porém, à superveniência de perigo concreto à vida ou à saúdedo neonato. É delito instantâneo.
	b) Tentativa: é admissível. 
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o.
- Se do ato resulta lesão corporal de natureza grave ou morte.
 
8 - Pena e ação penal
- Penas:
a) art. 134, caput = detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.;
b) se resulta lesão corporal (§ 1o.) - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos;
c) se resulta morte (§2o.) - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
	A ação penal é pública incondicionada.
 
ART. 135 – OMISSÃO DE SOCORRO
 
1 - Conceito: 
"Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública".
 
2 - Objetividade Jurídica: a vida e a saúde da pessoa humana. 
 
3 - Sujeitos
a) Ativo: Crime Comum - qualquer pessoa. O dever de agir é imposto pelo próprio ordenamento jurídico, diante de certo caso concreto por ele mesmo previsto, não decorrendo de uma particular relação entre o agente e a vítima, ou entre o agente e a fonte geradora do perigo. Existindo essa relação, que impõe um dever jurídico de proteção, poderá ocorrer crime mais grave.
 
b) Sujeito passivo: a criança abandonada ou extraviada, a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, ou qualquer pessoa em grave e iminente perigo.
 
4 - Tipo Objetivo:
Trata-se de crime omissivo próprio ou puro. Pune-se a não-realização de uma ação que o autor podia realizar na situação concreta em que se encontrava. O agente infringe uma norma mandamental, isto é, transgride um imperativo, uma ordem ou comando de atuar. Ou seja, é preciso a existência de uma situação típica (criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perito), a não-realização de uma ação cumpridora do mandado (o agente deixa de prestar assistência ou não pede socorro da autoridade pública) e a capacidade concreta da ação (conhecimento da situação típica e do meios ou formas de realização da conduta devida).
 - Condutas típicas: a) não prestar assistência (toda forma de auxílio ou socorro adequado) à vítima (criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou pessoa em grave e iminente perigo). O dever de assistência é limitado pela possibilidade e capacidade individual determinando-se estas diante das circunstâncias do caso concreto.; b) não pedir o socorro da autoridade pública: o socorro é supletivo ou subsidiário, ou seja, é cabível quando se revelar capaz de arrostar tempestivamente o perigo ou quando a assistência direta oferecer riscos à incolumidade do agente. A autoridade pública a que faz referência o dispositivo é aquela apta a prestar assistência à vítima.
	No caso de omissão a prestar auxílio à criança extraviada ou abandonada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, o perigo é abstrato. Já no caso da pessoa em grave e iminente perigo, é indispensável sua efetiva demonstração (perigo concreto) 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo (direto ou eventual): vontade livre e consciente de não prestar assistência, podendo fazê-lo sem risco pessoal, ou, na impossibilidade, de não pedir auxílio.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: crime instantâneo - consuma-se o delito quando o sujeito ativo não presta o socorro, ainda que outro o tenha feito posteriormente e, de conseqüência, impedido a efetiva lesão da vida ou da saúde da vítima.
	b) Tentativa: crime omissivo puro - a tentativa é inadmissível. Se o agente se omite, o crime consumou-se; se não se omite, realiza o que lhe foi mandado.
 
7 - Figura qualificada - § único
"Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte."
	Na verdade, a lesão grave ou a morte não resultam da omissão, mas para que se configure o crime qualificado é preciso que se comprove que o sujeito ativo, se atuasse, poderia evitar esses resultados.
 
8 - Qualificação doutrinária: delito omissivo próprio; crime de perigo; crime subsidiário; e crime instantâneo.
9 - Pena e ação penal
- Penas:
a) art. 135, caput = detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
b) forma qualificada (§ único): b.1) se resulta lesão corporal de natureza grave - a pena é aumentada da metade; b.2) se resulta a morte - a pena é triplicada.
- A ação penal é pública incondicionada.
 
 
ART. 136 – MAUS-TRATOS
 
1 - Conceito: 
"Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina".
 
2 - Objetividade Jurídica: a incolumidade da pessoa humana, reprimindo-se com o dispositivo os abusos correcionais e disciplinares que a expõem a perigo.
 
3 - Sujeitos
a) Ativo: Crime próprio. Apenas a pessoa que tenha a vítima sob sua guarda, vigilância ou autoridade, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia. 
b) Sujeito passivo: é aquele que estiver sob a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia (filhos, pupilos, curatelados, discípulos, aprendizes, enfermos, presos, etc.).
 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, por:
a) privação da vítima dos alimentos necessários. Modalidade de conteúdo omissivo. É suficiente a privação parcial - com redução da qualidade ou quantidade;
b) privação dos cuidados indispensáveis. Esses cuidados significam o mínimo imprescindível para a garantia da incolumidade física ou psíquica da vítima. Modalidade de conteúdo omissivo;
c) sujeitar a vítima a trabalhos excessivos ou inadequados: trabalho excessivo: é o que produz fadiga extraordinária ou não pode ser suportado sem grande esforço; trabalho inadequado: é o impróprio ou inconveniente ao trabalhador;
d) abuso dos meios de correção ou disciplina. O poder disciplinar pode ser exercido por quem tem o encargo legal ou convencional de educar, tratar, custodiar, etc., mas é vedado o abuso que pode causar dano à vida ou saúde.
 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo (direto ou eventual): vontade livre e consciente de expor a perigo concreto a vida ou a saúde da vítima.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito com a criação do perigo.
	b) Tentativa: é admissível nas condutas comissivas.
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave;
§ 2º - Se resulta a morte.
 
8 - Causa especial de aumento da pena - § 3o.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
- § Acrescentado pela Lei nº 8.069, de 13.07.1990 - ECA.
 
9 - Pena e ação penal
- Penas:
a) art. 136, caput = Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.
b) se resulta lesão corporal de natureza grave (§ 1o.) - Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos;
c) se resulta morte (§ 2o.) - Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos;
d) se o crime é praticado contra > de 14 anos (§ 3o.) - Aumenta-se a pena de um terço
- A ação penal é pública incondicionada.
 
 
ART. 137 – RIXA 
 
 
1 - Conceito: "Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:".
 
 
2 - Objetividade Jurídica: a incolumidade da pessoa humana, e de modo secundário a preservação da tranqüilidade pública, perturbada pelo ambiente de algazarra e confusão gerado pela rixa.
 
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). 
- É delito plurissubjetivo ou coletivo, que somente se configura com o concurso de três ou mais pessoas. A conduta plural é tipicamente obrigatória: + de 3 pessoas. Sendo que são, ao mesmo tempo, sujeitos ativos e passivos, uns emrelação aos outros.
b) 	Sujeito passivo: é o próprio rixoso, em relação a conduta dos demais, e estes em relação a conduta dos outros.
 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: participar de rixa.
Participar = concorrer, tomar parte, contribuir para o desencadeamento ou empenhar-se par a continuidade da rixa.
Rixa = é o embate violento travado entre três ou mais pessoas. É indispensável a violência física, constituída por, no mínimo, vias de fato.
 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: vontade livre e consciente de participar da rixa (animus rixandi). Não existe a forma culposa.
 
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito com a prática de vias de fato ou violências recíprocas, instante em que há a produção do resultado, que é o perigo abstrato de dano.
	b) Tentativa: duas posições:
	b.1) admitem a tentativa aqueles que entendem ser possível a rixa preordenada (ex proposito);	b.2) para aqueles que o reconhecem o imprevisto como elemento da rixa, a tentativa é impossível, porque a conduta e o evento se exaurem simultaneamente.
 
 
7 - Rixa qualificada - § ún.: "Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos."
 
8 - Pena e ação penal
- Pena: detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
- A ação penal é pública incondicionada.
CAPÍTULO V - Dos Crimes Contra a Honra
 
 	São Crimes que atingem a integridade ou a incolumidade moral da pessoa humana.
	Honra = o conjunto de atributos morais, intelectuais e físicos referentes a uma pessoa - valor próprio da pessoa, então conceituada sob vários aspectos:
1) Distingue-se a honra dignidade da honra decoro:
a) honra dignidade: é o sentimento da pessoa a respeito de seus atributos morais, de honestidade e bons costumes. Atingir-se-á quando se afirma que alguém é estelionatário ou praticou determinado furto;
b) honra decoro: é o sentimento pessoal relacionado ao dotes ou qualidade do homem (físicos, intelectuais e sociais). Atingir-se-á quando se afirma que a vítima é um aleijão, ignorante, sovina, etc.
2) Distingue-se a honra subjetiva da honra objetiva:
a) honra subjetiva: é o apreço próprio, na estima de si mesmo, o juízo que cada um faz de si, que pensa de si - o auto-respeito;
b) honra objetiva: é a consideração para com o sujeito no meio social, o juízo que fazem dele na comunidade.
3) Fala-se em:
a) honra comum: é a peculiar a todos os homens;
b) honra especial ou profissional: é aquela referente a determinado grupo social ou profissional, cuja sensibilidade, às vezes, se reveste de contornos diversos da média. Ex.: chamar um militar de "covarde"; um advogado de "coveiro de causas"; um médico de "açougueiro", etc.
 
 
ART. 138 – CALÚNIA 
 
 
1 - Conceito: 
"Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:”
 
2 - Objetividade Jurídica: a honra, no caso a honra objetiva.
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). b) 	Sujeito passivo: é tão-somente a pessoa física. Pois o ordenamento jurídico-penal pátrio é fundado no direito penal da conduta, da culpabilidade e da personalidade da pena, vedando a responsabilização dos entes morais. Dessa maneira, a imputação caluniosa dirigida a uma pessoa jurídica se resolve em calúnia contra as pessoas que a dirigem, tratando-se de crime comum. Exceção: Lei de proteção ambiental (Lei n. 9.605/98), em seus artigos 3o, e 21 a 24, prevê a responsabilidade da pessoa jurídica em relação a delitos contra o meio ambiente. Logo, ela pode ser caluniada quanto esses delitos.
	- § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Porém a vítima não é o morto, pois o morto não é titular de direitos, mas sim serão seus parentes, interessados na preservação do bom nome do morto por reflexo, os sujeitos passivos.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: imputar, ou seja, atribuir a alguém a pratica do ilícito. O tipo é composto de três elementos:
a) a imputação da prática de determinado fato;
b) a característica de ser esse fato um crime (fato típico); e
c) a falsidade da imputação.
 5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: vontade livre e consciente de imputar falsamente a alguém fato definido como crime (dolo direito). E também se exige uma determinada tendência subjetiva de realização da conduta típica, qual seja, a FINALIDADE DE DESACREDITAR, MENOSPREZAR, O ÂNIMO DE CALUNIAR (animus caluniandi) – elemento subjetivo do injusto. 
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando qualquer pessoa, que não a vítima, toma conhecimento da imputação falsa. Se o fato é diretamente imputado à vítima, sem que seja ouvido lido ou percebido por terceiro, não haverá calúnia.
	b) Tentativa: é possível quando a calúnia não é oral.
 
7 – Propalação e divulgação - § 1º
"§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga."
 	Incorre nas mesma penas da calúnia que "sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga."
	Propalar e propagar, espalhar.
 	Divulgar é tornar público.
 	Se o caput descreve a conduta daquele que cria a imputação falsa, o § 1º ocupa-se daquele que, ouvindo-a, leva-a adiante, incrementando o risco da lesão ou efetiva ofensa à reputação da vítima. E é indispensável que o agente saiba da falsidade da imputação (dolo direto), ou seja, não admite o dolo eventual.
8 – Exceção da verdade, e exceções da exceção - § 3º
	"§ 3º - Admite-se a prova da verdade..."
	A falsidade da imputação é elemento normativo do tipo. Em razão da gravidade do fato imputado, a calúnia admite a exceção da verdade, que consiste na defesa apresentada pelo acusado com o fim de demonstrar a verdade da imputação. A exceção da verdade há de ser submetida ao contraditório (RT 621/328), mas pode ser alegada e comprovada em qualquer fase processual, inclusive ao ensejo das razões de apelação (RT 607/306).
	Contudo, apesar da exceção apresentar-se como regra geral, em virtude do inequívoco interesse social no esclarecimento das condutas delituosas, evitando a impunidade de seus autores, o Código Penal proíbe a prova da verdade em três hipóteses:
"§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;" In casu, a impossibilidade de argüição da exceção da verdade é justificada pelo princípio da disponibilidade da ação penal privada, a qual vis resguardar os interesses da vítima.
"II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no número I do art. 141;" Estão protegidos o Presidente da República e o chefe de Governo estrangeiro (soberano, presidente, primeiro-ministro) quer pela dignificante função que exercem, quer pelas repercussões internas ou externas do fato.
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível." Pois se o sujeito passivo já foi absolvido do crime imputado, por decisão irrecorrível, presume-se juris et de jure a falsidade da acusação.
	Assim, nas hipóteses apontadas, ainda que verdadeiros os fatos imputados, o delito de calúnia se encontra configurado, ante a impossibilidade de oposição da exceção da verdade. Prescinde-se, então, para a caracterização da calúnia, da falsidade do fato imputado.
 
9 - Pena e ação penal
- Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa
- A ação penal é privada. Salvo se praticado o crime contra o presidente da República, chefe de governo estrangeiro ou funcionário público (art. 141, I e II), hipóteses em que a ação penal é pública condicionada à requisição do ministro da Justiça ou à representação do ofendido, respectivamente (art. 145, par. ún., CP).
 
ART. 139 – DIFAMAÇÃO 
 
1 - Conceito: 
" Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:"2 - Objetividade Jurídica: a honra, no caso a honra objetiva: externa (a reputação, o conceito do sujeito passivo no contexto social).
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). b) 	Sujeito passivo: o ser humano, inclusive os menores e os doentes mentais.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: imputar (atribuir) a alguém fato ofensivo à sua reputação.
	Diversamente da calúnia, a difamação não está condicionada à falsidade da imputação. A prova da veracidade de seu conteúdo (exceptio veritatis) é regra geral, afastada.
	Como a calúnia, também na difamação o fato imputado deve ser determinado. Não há, porém, a exigência de descrição detalhada, isto é, não é preciso que o agente o narre em todos pormenores.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo (direto ou eventual): vontade livre e consciente de imputar falsamente a alguém fato ofensivo à sua reputação. E também se exige uma determinada tendência subjetiva de realização da conduta típica, qual seja, a FINALIDADE DE MACULAR A REPUTAÇÃO ALHEIA, O ÂNIMO DE DIFAMAR (animus diffamandi) – elemento subjetivo do injusto. 
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando qualquer pessoa, que não a vítima, toma conhecimento da imputação. Se o fato é diretamente imputado à vítima, sem que seja ouvido lido ou percebido por terceiro, não haverá difamação.
	b) Tentativa: é possível quando não praticada oralmente.
 
7 – Exceção da verdade
 	"Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções."
8 - Pena e ação penal
- Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
- A ação penal é privada. Salvo se praticado o crime contra o presidente da República, chefe de governo estrangeiro ou funcionário público (art. 141, I e II), hipóteses em que a ação penal é pública condicionada à requisição do ministro da Justiça ou à representação do ofendido, respectivamente (art. 145, par. ún., CP).
 
ART. 140 – INJÚRIA 
 
1 - Conceito: 
"Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:"
 
2 - Objetividade Jurídica: a honra, no caso a honra subjetiva.
 - dignidade: é o sentimento que o próprio indivíduo possui acerca de seu valor social e moral;
- decoro: é o sentimento que o próprio indivíduo possui acerca de sua respeitabilidade (sua qualidades físicas e intelectuais).
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). b) 	Sujeito passivo: é tão-somente a pessoa física.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Traduz a injúria a opinião pessoal do agente, manifestada em qualquer conduta capaz de exprimir o menosprezo que sente pela vítima.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: vontade livre e consciente de ofender a dignidade ou o decoro de outrem. E também se exige uma determinada tendência subjetiva de realização da conduta típica, qual seja, a FINALIDADE DE MENOSPREZAR, O ÂNIMO DE INJURIAR (animus injuriandi) – elemento subjetivo do injusto.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando a vítima toma conhecimento da qualidade negativa que lhe é imputada pelo sujeito ativo. Não é preciso, porém, que o sujeito passivo sinta realmente a ofensa. A injúria é crime formal, em que se prescinde do resultado danoso para a sua configuração.
	b) Tentativa: é possível, especialmente quando feita por escrito. 
 
7 – Provocação e retorsão - § 1º
"§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria."
São casos de perdão judicial:
- no primeiro caso (inc. I) a razão do benefício legal reside justa causa irae, ou seja, o legislador reconhece que a palavra ou gesto ultrajante decorreu de irrefutável impulso defensivo, por ocasião de justificável irritação. Indispensável, porém, que a provocação seja direta - feita na presença do agente - e reprovável - digna de censura. A provocação pode constituir-se me um ilícito (lesão, dano, etc.) ou não (gracejo à esposa do agente, etc.).
- no segundo caso (inc. II), o ofendido rebate com outra injúria a injúria que lhe foi endereçada: deve ser imediata (sine intervallo), motivada pela primeira injúria e na presença dos dois agentes, caso contrário estaremos falando de reciprocidade de injúrias, não se admitindo o perdão judicial para elas.
	Nas duas hipóteses não há compensação das injúrias, mas isenção da pena àquele que, por irritação ou ira justificada, ofende o provocador da injúria.
8 – Injúria real - § 2º
	"§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:"
	Refere-se a lei à injúria em que há prática de violência (chicotadas, marcação a faca ou a ferro em brasa etc.) ou vias de fato.
9 - Injúria preconceituosa ou discriminatória - § 3o.
"§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem:" Com redação dada pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997
 Trata-se de injúria qualificada, na qual o agente busca ofender a dignidade ou decoro da vítima utilizando-se de referências à raça, cor, etnia, religião ou origem desta.
10 - Pena e ação penal
- Pena: 
caput: detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa;
§ 2o. - injúria real: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência;
§ 3o. - injúria preconceituosa: reclusão de um a três anos e multa.
- A ação penal é privada. Salvo se praticado o crime contra o presidente da República, chefe de governo estrangeiro ou funcionário público (art. 141, I e II), hipóteses em que a ação penal é pública condicionada à requisição do ministro da Justiça ou à representação do ofendido, respectivamente (art. 145, par. ún., CP). Na injúria real, resultante de lesão corporal de natureza grave (art. 129, §§ 1o. e 2o., CP), a ação penal é pública incondicionada (art. 101, CP); se produzidas lesões leves, a ação penal é pública condicionada à representação (arts. 101, CP, e 88, Lei 9.099/95); na hipótese de vias de fato, a ação é de natureza privada (art. 145, caput, CP).
 
 
 
 
 
ARTS. 141/145 – DISPOSIÇÕES COMUNS AOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 
 
1 - Causas de aumento de pena: 
"Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro."
 
2 - Exclusão do crime
	"Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único. Nos casos dos números I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade."
	Nestes casos inexiste o elemento subjetivo do injusto (animus injuriandi vel diffamandi) ou de exclusão de ilicitude, que eliminam a antijuridicidade e não a simples punibilidade.
 
3 - Retratação
	"Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena."
	Retratação: é o ato de desdizer-se, de retirar o que foi dito.
 	É ato unilateral - independe de aceitação por parte do ofendido.
	É ato pessoal, portanto não aproveita os demais co-autores, devendo ser completa, irrestrita, incondicional, em suma, cabal.
	Deve ser apresentadaantes da sentença de primeira instância, não valendo aquela praticada em grau de recurso. Poderá constituir-se, neste caso, em atenuante.
	É causa de extinção da punibilidade (art. 107, VI, CP).
4 - Pedido de explicações
	"Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa."
	- é uma medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa quando, em virtude dos termos empregados ou do verdadeiro sentido das frases, não se mostra evidente a intenção de caluniar, difamar ou injuriar, causando dúvida quanto ao significado da manifestação do autor. Também cabe o pedido para verificar a que pessoas foram dirigidas as ofensas.
	O prazo de decadência, por não estar sujeito a suspensão, ou interrupção, não é afetado pelo pedido de explicações. 
5 - Ação penal: 
	"Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do número I do art. 141, e mediante representação do ofendido, no caso do número II do mesmo artigo."
ART. 146 – Constrangimento ilegal
 
 
1 - Conceito: 
 	"Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:"
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade individual.
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). 
b) 	Sujeito passivo: a pessoa física que possui capacidade de querer. 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: constranger (forçar, compelir, obrigar, coagir) alguém a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que a lei não manda.
a) a violência (vis absoluta ou vis corporalis): força física empregada para suplantar a resistência oposta pelo sujeito passivo.;
b) a grave ameaça (vis compulsiva): é a violência moral, destinada a perturbar a liberdade psíquica e a tranqüilidade da vítima, pela intimidação ou promessa de causar a alguém, futura ou imediatamente, mal relevante.;
c) outros meios capazes de reduzir a capacidade de resistência da vítima: refere-se a lei à ministração de substâncias entorpecentes, de bebida alcoólica, de estupefacientes, de narcóticos, de sugestão hipnótica, de privação de alimentos, etc. E tudo de forma sub-reptícia ou fraudulenta, sem violência ou grave ameaça.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de constranger a vítima à prática da conduta pretendida. Exige-se a consciência da ilegitimidade da pretensão e necessário o elemento subjetivo do injusto, que é o obter a ação ou omissão da vítima. São irrelevantes os motivos do sujeito ativo.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando a vítima, submetida, toma o comportamento a que foi obrigada, fazendo o que não desejava ou não fazendo o que queria, ainda que estas não sejam completas.
	b) Tentativa: é possível, quando o agente não atinge o fim pretendido. 
 
7 – Formas qualificadas - § 1º
"§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas."
8 – As penas para a violência - § 2o. 
	"§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência."	
9 - Exclusão do crime - § 3o.
"§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - à intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio."
10 - Distinção
	É importante frisar que o constrangimento ilegal é delito subsidiário. Se o constrangimento figurar como elementar de outro delito, como acontece nos crime complexos (roubo, art. 157; extorsão, art. 158; estupro, art. 213), não haverá concurso material.
11 - Pena e ação penal
- Pena: 
caput: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa;
§ 1o. - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro;
§ 2o. - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
- A ação penal é pública incondicionada.
 
 ART. 147 – Ameaça
 
 
1 - Conceito: 
 	"Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:"
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade individual.
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum).
 b) 	Sujeito passivo: a pessoa física que possui capacidade, ou seja, condições de maturidade e sanidade mental que permita sentir a intimidação.	Indispensável, também, que se trate de pessoa determinada. 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: ameaçar (vis compulsiva) que significa intimidar, anunciar ou prometer castigo ou malefício.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de ameaçar alguém de mal injusto e grave. Agrega-se ao dolo o elemento subjetivo do injusto que é a intenção de intimidar (dolo específico para a doutrina tradicional), não caracterizando o crime a mera bravata ou a ameaça proferida com jocandi animo.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando a vítima toma conhecimento da ameaça, independentemente de sua intimidação (crime formal).
	b) Tentativa: é possível nos casos de ameaça por escrito (ex. uma carta interceptada). 
 
7 – Distinção do constrangimento ilegal
- a ameaça, ao contrário do constrangimento ilegal, exige que o mal seja injusto. No delito de ameaça o mal exaure-se em si mesmo, já que busca intimidar a vítima. No constrangimento, ao contrário, a grave ameaça, como meio de execução, visa obrigar o sujeito passivo a não fazer o que a lei permite o a fazer o que ela não manda.
 8 - Pena e ação penal
- Pena: detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
- A ação penal é pública condicionada. "Parágrafo único. Somente se procede mediante representação." 
 
ART. 148 – Seqüestro e cárcere privado
 
 
1 - Conceito: 
 	"Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:"
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade individual.
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum). 
b) 	Sujeito passivo: qualquer pessoa, sem restrições, ou seja, inclusive crianças, insanos e pessoas inconscientes ou que podem locomover-se ou movimentar-se sem auxílio de terceiros, como os embriagados, os paralíticos, etc.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de privar alguém de sua liberdade de locomoção.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando a vítima é privada de sua liberdade, ainda que por curto lapso de tempo.
	b) Tentativa: é possível, é crime material. 
 
7 – Formas qualificadas - § 1o. e 2o. 
 	"§ 1º - A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge do agente;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias. 
 	§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos."
8 - Exclusão do crime
	Não ocorrerá o crime de seqüestro se houver justa causa para a privação da liberdade, como no caso de prisão em flagrante delito enquanto se aguarda a chegada da Polícia, no encarceramento do louco furioso ou de enfermo com moléstia contagiosa enquanto não é removido para sanatório, etc.
9 - Pena e ação penal
- Pena: reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 1o. - A pena é de reclusão, de2 (dois) a 5 (cinco) anos;
§ 2o. - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
- A ação penal é pública incondicionada. 
 
 ART. 149 – Redução a condição análoga à de escravo
 
 
1 - Conceito: 
 	" Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:"
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade pessoal.
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime comum).
b) 	Sujeito passivo: qualquer pessoa.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: reduzir alguém a condição análoga à de escravo, que é a submissão: submetendo-o (submeter: dominar, obrigar, subjugar, vencer) a trabalhos forçados ou jornada exaustiva; a sujeição: sujeitando-o (sujeitar: tornar sujeito (o que era livre); dominar, subjugar) a condições degradantes de trabalho; ou restrição: restringindo (restringir: diminuir, encurtar, limitar), por qualquer meio (fraude, engodo, violência, ameaça, etc) sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. 
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de reduzir alguém a condição análoga à de escravo.
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando a vítima é reduzida à condição análoga à de escravo por certo período.
	b) Tentativa: é possível. 
 
7 - Condutas assemelhadas § 1o.
	I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
	II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
	Condutas dolosas, que reclamam o elemento subjetivo especial do tipo (dolo específico), qual seja, o fim especial de reter a pessoa no local de trabalho. 
 
8 – Pena e ação penal
- Pena: caput e § 1o.: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
	§ 2o.: a pena é aumentada da metade.
- A ação penal é pública incondicionada. 
ART. 150 – VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO 
 
1 - Conceito: "Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:"
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade individual, no particular aspecto da inviolabilidade do domicílio.
 
3 - Sujeitos
a) ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem restrições (crime comum). Inclusive o proprietário do imóvel quando a posse estiver legalmente com terceiro (locação).
b) passivo: é o morador, seja ele proprietário, locatário, possuidor legítimo, etc.
- quando existe mais de um morador:
b.1) subordinação: há uma relação hierárquica entre os diversos moradores.;
b.2) igualdade: pertence a todos os moradores o direito de inclusão/exclusão. 
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: entrar ou permanecer (tipo misto alternativo), clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.
	A entrada ou permanência podem ser:
- Clandestina: é a sorrateira, realizada às escondidas do morador, driblando sua vigilância.
- Astuciosa: o agente utiliza-se de meios fraudulentos para induzir ou manter a vítima em erro e, assim, obter o seu consentimento, ou para escapar à sua vigilância.
 - Franca: quando o agente contraria abertamente, sem subterfúgios, a vontade do sujeito passivo.
"§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade."
"§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do número II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero."
 	Esses lugares são excluídos da tutela penal precisamente por serem abertos ao público, e, conseqüentemente, não apresentarem a natureza de espaço reservado à vida privada do indivíduo.
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de entrar ou permanecer em casa alheia sem o consentimento de quem de direito.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito, na modalidade entrar, no momento em que o agente transpõe efetivamente o limite que separa a casa ou suas dependências do mundo exterior (delito de mera conduta e, nessa modalidade, instantâneo). Na modalidade permanecer, a consumação se verifica quando o agente persiste em continuar no local, por tempo juridicamente relevante, capaz de demonstrar o propósito de aí continuar contra a vontade da vítima. Neste caso tratamos de delito permanente.
	b) Tentativa: admissível.
7 - Causas de exclusão da antijuridicidade - § 3o.
"§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; (mediante apresentação de ordem judicial - art. 5o., XI, CF)
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser."
	Também é lícita a entrada em casa alheia, sem o consentimento do morador, em caso de "desastre ou para prestar socorro" (art. 5o., XI, CF), vislumbrando-se ai situações de estado de necessidade.
8
 - Formas qualificadas - § 1o.
"§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
...
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
	§ 1o. - Se o crime é cometido:
1o.) durante a noite: noite é o período compreendido entre o completo pôr-do-sol e o seu nascer.;
2o.) em lugar ermo: lugar ermo é o local habitualmente isolado, deserto e pouco freqüentado.;
3o.) com emprego de violência ou de arma: violência (vis absoluta) é a força física empregada para suplantar a resistência oposta pelo sujeito passivo. Pode ser imediata (contra o próprio sujeito) e mediata (sobre terceiro ou coisa). Arma, seja ela própria ou imprópria, desde que seu uso seja efetivo;
4o.) por duas ou mais pessoas: demonstra maior gravidade da conduta, pois a vítima tem diminuída sua capacidade de resistência. 
	§ 2o. Os casos legais são aquele que excluem a ilicitude da conduta (art. 150, § 3o.). As formalidades a serem observadas pelo funcionário público encontram-se previstas em lei (mandado de despejo, penhora, etc.) O abuso pode ocorrer quando o agente excede no poder de fiscalização ou assistência que lhe incumbe. Ex.: oficial de justiça que, ao efetuar penhora, permanece na casa do executado, contra vontade deste, e desnecessariamente, além do tempo previsto.
9 - Pena e ação penal
- caput - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 
- § 1o. detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, além da pena correspondente à violência.
- § 2o. aumenta-se a pena de um terço.
- A ação penal é pública incondicionada.
 
 
ART. 151 – VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA 
 
 
1 - Observação
 	Garantia constitucional: art. 5o., XII. O dispositivo do art. 151 foi revogado pela Lei n. 6538/78, que dispõe sobre os serviços postais, em que se define o delito, no artigo 40, com a mesma redação.
 
2 - Objetividade Jurídica: tutela-se a liberdade individual, especialmente no que se refere à liberdade de manifestação de pensamento. Ver art. 5o., XII, CF.
	São as seguintes as modalidades de delitos contra a inviolabilidade de correspondência:
a) violação de correspondência fechada (art. 40, caput, Lei 6538/78);
b) apossamento de correspondência para sonegação ou destruição (art. 40, § 1o., Lei 6538/78);
c) divulgação, transmissão ou utilização de comunicação telegráfica,radioelétrica ou telefônica (art. 151, § 1o., III, CP);
d) instalação ou utilização ilegal de estação ou aparelho radioelétrico (art. 70, Lei 4117/62);
e) desvio, sonegação, subtração, supressão ou revelação de correspondência comercial (art. 152). 
 
3 - Sujeitos
a) 	Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem restrições (crime comum), excluídos o remetente e o destinatário.
b) 	Sujeito passivo: o remetente e o destinatário (crime de dupla subjetividade passiva - art. 40 e § 1o., da Lei 6538/78). De acordo com o art. 11, os objetos postais pertencem ao remetente até a sua entrega a quem de direito.
4 - Tipo Objetivo:
 - Conduta típica: devassar - tomar conhecimento, de forma parcial ou total - indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem. Correspondência: "toda comunicação de pessoa a pessoa, por meio de carta, através da via postal, ou por telegrama (art. 47, Lei 6538/78).
5 - Tipo subjetivo: 
 	Dolo: consciência e vontade de devassar a correspondência alheia. O erro acerca da propriedade da correspondência exclui o dolo.
 
6 - Consumação/Tentativa:
 	a) Consumação: consuma-se o delito quando o sujeito ativo tem conhecimento, ainda que parcial, do conteúdo da correspondência.
	b) Tentativa: admissível.
7 - Sonegação ou destruição de correspondência - § 1o., do art. 40 da Lei 6538/78 = § 1o. do art. 151
"§ 1º - Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte."
- a conduta típica consiste em apossar-se (apoderar-se, tomar posse) indevidamente de correspondência alheia com o propósito de sonegá-la ou destruí-la (elemento subjetivo especial do tipo). Sonegar é ocultar ou desviar; destruir é rasgar, inutilizar, danificar a correspondência.
- é irrelevante que se encontre aberta ou fechada., ou que o agente tenha ou não tomado conhecimento de seu teor.
- o tipo subjetivo é integrado pelo dolo - consciência e vontade de apossar-se indevidamente da correspondência alheia - e por um fim especial de agir (para sonegá-la ou destruí-la).
- o crime se consuma com o mero apossamento da correspondência (delito de mera conduta). Havendo a destruição ou sonegação dar-se-á o mero exaurimento.
- a tentativa é admissível.
8 - Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica § 1o., II.
"§ 1º - Na mesma pena incorre:
...
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;"
- Divulgar é tornar público o conteúdo da comunicação; transmitir é revelá-lo a uma ou várias pessoas; utilizar é servir-se do conteúdo da comunicação ou conversação para qualquer finalidade (econômica, política, etc.) É necessário que a divulgação ou a transmissão sejam indevidas e que a utilização seja abusiva para a existência do delito.
 - o tipo subjetivo é composto pelo dolo - consciência e vontade de divulgar, transmitir ou utilizar comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas.
- consuma-se o delito com a efetiva divulgação, transmissão ou utilização (delito material). A tentativa é admissível.
- é oportuno salientar que o art. 10 da Lei 9.296/96 dispõe "constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, e informática ou telemática, ou quebrar segredo de Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena - reclusão, de 02 (dois) a 04 (quatro) anos, e multa."
9 - Impedimento da comunicação - § 1o., III
"§ 1º - Na mesma pena incorre:
...
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;"
- Impedir significa obstar, interromper por qualquer modo (p. ex., rompendo os cabos telefônicos, produzindo ruídos no aparelho, interferindo na freqüência das ondas hertzianas, etc.) a corrente ou onda elétrica ou a comunicação telegráfica ou telefônica.
- o elemento subjetivo é o dolo - consciência e vontade de impedir o início ou prosseguimento da comunicação.
- consuma-se o crime com o impedimento da comunicação. A tentativa é admissível.
10 - Instalação ou utilização ilegais - § 1o., IV = art. 70 da Lei 4.117/62.
"Art. 70 - Constitui crime punível com a pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos.
- Artigo, "caput", com redação dada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28.02.1967.
Parágrafo único. Precedendo ao processo penal, para os efeitos referidos neste artigo, será liminarmente procedida a busca e apreensão da estação ou aparelho ilegal.
- Parágrafo com redação dada pelo Decreto-Lei nº 236, de 28.02.1967.
	Veda-se a instalação (montagem, estabelecimento) ou utilização (funcionamento) de estação ou aparelho radioelétrico.
- exige-se que o aparelho seja relativamente potente, capaz de provocar interferência nos meios de comunicação.
- tipo subjetivo: dolo: consciência e vontade de instalar ou utilizar telecomunicações, sem observância do disposto na Lei 4117/62 ou em seus regulamentos (lei penal em branco).
- consumação: com a instalação ou utilização do aparelho, estação de rádio, emissora ou receptora (delito de mera conduta). A tentativa é admissível.
- se da conduta sobrevem dano a terceiro, a pena será aumentada da metade. 
11 - Causas de aumento de pena - §§ 2o. e 3o.
"§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem."
- a causa de aumento de pena do § 2o., só se aplica aos incisos II e III do § 1o., pois no caso de violação de correspondência ou sonegação ou destruição, incidirá a causa do § 2o., do art. 40, da Lei 6538/78 ("as penas aumentam-se de metade se há dano para outrem"), que alberga preceito idêntico, determinando o aumento da metade se houver dano a alguém.
"§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos."
- este preceito encontra-se inteiramente revogado. Havendo abuso por parte de funcionário de telecomunicações, será aplicável o art. 58 da Lei 4117/62; nas demais hipóteses (art. 40, caput e § 1o., Lei 6538/78), o funcionário incorrerá no disposto no art. 43 da Lei de Serviços Postais. Este último preceito contém uma circunstância agravante genérica, que estabelece que os crimes contra o serviço postal, ou serviço de telegrama, quando praticados por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em abuso de função, terão a pena agravada. Refere-se o art. 43 à função específica desempenhada pelo agente (telegrafista, carteiro, etc.), de modo que não perfaz a agravante pelo simples fato de ser o sujeito funcionário da empresa ou serviço de telecomunicações (faxineiro, porteiro, contínuo, etc.). Já o art. 58 da Lei 4117/62 - aplicável aos crimes previstos pelos arts. 70, do mesmo diploma legal, e 151, § 1o., II e III, do Código Penal - prescreve que as penas serão fixadas em dobro para autoridade responsável por violação de telecomunicação (inciso II, b); em se tratando de funcionário, a pena cominada é de detenção, de um a dois anos, ou perda de cargo ou emprego (inciso II, a).
12 - Pena e ação penal
- art. 40, caput e § 1o., Lei 6538/78 - detenção, até seis meses, ou pagamento não excedente a vinte dias-multa. 
- art. 40, § 2o., Lei 6538/78 - as penas aumentam-se da metade se houver dano a outrem.
 	Em ambas as hipóteses a ação penal é pública incondicionada.
- art. 151, § 1o., II e III, CP - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 2o. As penas aumentam-se da metade, se houver dano a outrem.
	A ação penal é pública condicionada à representação (art. 151, § 4o., CP). Tanto o remetente quanto o destinatário são titulares do direito de representação. Se houver divergência, prevalece a vontade no sentido de representar.
	Caso o crime seja perpetrado por com abuso de autoridade ou função, a ação penal é pública incondicionada

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