Buscar

Aula 3 Penal Parte Geral - Ênfase

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
1 
www.cursoenfase.com.br 
Sumário 
1. Lei penal no tempo ................................................................................................. 2 
1.1 Abolitio criminis ................................................................................................ 2 
1.1.1 Descriminalização formal ............................................................................ 3 
1.2 Continuidade normativa ................................................................................... 5 
1.3 Retroatividade parcial ....................................................................................... 7 
1.4 Lei intermediária ............................................................................................. 10 
1.5 Ultra-atividade gravosa das leis temporárias ou excepcionais ...................... 11 
1.6 Leis declaradas inconstitucionais .................................................................... 11 
 
 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
2 
www.cursoenfase.com.br 
1. Lei penal no tempo 
1.1 Abolitio criminis 
Reza o artigo 5º, inciso XL, da Carta da República: 
CRFB, Art. 5º. [...] 
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
 
Concomitantemente, positivam-se as regras da irretroatividade e retroatividade 
benéfica da lei penal no seio do dispositivo. 
Seguindo, vide o artigo 2º do CP, o qual consigna o instituto da abolitio criminis. 
CP, Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime [ou contravenção penal], cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais 
da sentença condenatória [reincidência, maus antecedentes, etc.]. 
 
CP, Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: 
[...] 
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 
 
Se o Estado não mais possuir interesse em punir determinada conduta, o Legislativo, 
atento às mudanças sociais, cria novel diploma abolindo a criminalização de tal conduta. O 
efeito dessa nova lei é a extinção da punibilidade (gênero que comporta as pretensões 
punitiva e executória), conforme leciona o artigo 107, inciso III, do Estatuto Punitivo. 
Preocupou-se o Legislador, ao redigir o artigo 2º, com a pior hipótese de incidência 
da abolitio criminis, a saber, sentença penal condenatória transitada em julgado. No ponto, 
observe-se que o instituto traja-se de contornos superpoderosos, na medida em que tem 
força para desconstituir a coisa julgada. Tudo, naturalmente, para beneficiar o réu. 
Uma vez editada a abolitio criminis após o trânsito em julgado, os efeitos extrapenais 
mantêm-se preservados, porquanto a sentença condenatória já se constituiu como título 
executivo apto a ensejar, por exemplo, uma reparação civil.1 
Caso a lei supressora da conduta criminosa seja criada antes do trânsito em julgado, 
terá ela o condão de extinguir a pretensão punitiva, evitando o aperfeiçoamento da 
condenação, e também os efeitos extrapenais são afastados, pois que a sentença penal não 
passou em julgado e assim materializou título executivo. Registre-se, ainda, que, ocorrendo 
 
1
 Curiosamente, como observa o professor Marcelo Uzeda, os efeitos penais (mais gravosos) afastam-
se, ao passo que os efeitos extrapenais são mantidos. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
3 
www.cursoenfase.com.br 
a abolitio criminis, eventual condenação não constará da folha de antecedentes do indivíduo 
beneficiado pela lex mitior. 
Naturalmente, a descriminalização de dada conduta não significa que o 
comportamento se tornará lícito noutra esfera, como a administrativa ou a civil. 
Exemplo: alteração do Código Penal para excluir a condescendência criminosa do rol 
de infrações penais. Se isso ocorrer, tal conduta, cuja pena é baixíssima, continuará a ser um 
ilícito administrativo. 
 
1.1.1 Descriminalização formal 
Questão amplamente debatida no artigo 28 da Lei 11.343/2006. 
Lei 11.343/2006, Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou 
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
 
O antigo diploma (Lei 6.368/76) punia com pena privativa de liberdade o portador de 
entorpecentes para consumo pessoal. Com o advento da Lei 11.343/2006, operou-se uma 
mudança no paradigma das sanções cominadas. Nenhuma delas ostenta caráter restritivo da 
liberdade. Desvelam-se como medidas de justiça terapêutica. 
O artigo 1º da Lei de Introdução do Código Penal traz-se o conceito legal de crime e 
de contravenção penal. 
LICP, Art. 1º Considera‑se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou 
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão 
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
 
Essa conceituação formal é bastante relevante. Prova disso é a impossibilidade de 
alguém ser receptador de produto objeto de contravenção penal; a pena diferenciada 
àquele dá causa a instauração de procedimento investigatório por imputar a outrem, que 
sabe ser inocente, a prática de contravenção penal (denunciação caluniosa); a tipificação da 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
4 
www.cursoenfase.com.br 
conduta daquele que calunia alguém, imputando-lhe, falsamente, fato definido como crime 
(e não contravenção2). 
Com base no conceito trazido a lume pelo artigo 1º da Lei de Introdução ao Código 
Penal, Luiz Flavio Gomes, acompanhado de parte da doutrina, sustenta que o artigo 28 da 
Lei Antidrogas operou uma descriminalização formal do porte de entorpecentes para uso 
próprio, haja vista a impossibilidade de classificar tal conduta como crime ou contravenção 
penal. Cuida-se de infração penal sui generis. 
A celeuma de que padece essa tese é a não explicação da reincidência, cuja 
ocorrência faz com que as penas cominadas nos incisos II e III do artigo 28 sejam dobradas. 
Argumenta a corrente capitaneada por LFG e outros que a reincidência descrita no artigo 28, 
§4º, está em seu sentido popular; não, técnico. 
No ponto, valioso pequeno esclarecimento sobre o que é reincidência. O artigo 63 do 
Código Penal: 
CP, Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de 
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por 
crime anterior. 
 
Adiante, pequeno quadro esquemático, extraído do site “dizer o direito”3, paraaclarar o tema: 
SE A PESSOA É CONDENADA 
DEFINITIVAMENTE POR 
E DEPOIS DA CONDENAÇÃO 
DEFINITIVA PRATICA NOVO(A) 
QUAL SERÁ A CONSEQUÊNCIA? 
CRIME 
(no Brasil ou exterior) 
CRIME REINCIDÊNCIA 
CRIME 
(no Brasil ou exterior) 
CONTRAVENÇÃO 
(no Brasil) 
REINCIDÊNCIA 
CONTRAVENÇÃO 
(no Brasil) 
CONTRAVENÇÃO 
(no Brasil) 
REINCIDÊNCIA 
CONTRAVENÇÃO 
(no Brasil) 
CRIME 
NÃO HÁ reincidência. 
Foi uma falha da lei. 
Mas gera maus antecedentes. 
CONTRAVENÇÃO 
(no estrangeiro) 
CRIME ou CONTRAVENÇÃO 
NÃO HÁ reincidência. 
Contravenção no estrangeiro não 
influi aqui. 
 
2
 Caso o indivíduo impute a outrem a prática de contravenção penal responderá por difamação. 
3
 Disponível em: <http://www.dizerodireito.com.br/2014/03/5-anos-apos-o-cumprimento-ou-
extincao.html> 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
5 
www.cursoenfase.com.br 
Observação1: de acordo com essa corrente minoritária, o menor de 18 anos que 
portasse cloridrato de cocaína para consumo pessoal, não sofreria qualquer 
responsabilização pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, eis que é digno de reprimenda 
o ato infracional análogo a crime, e o artigo 28 da Lei Antidrogas encerra infração penal sui 
generis. 
Observação2: o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a questão, refutou a tese da 
infração sui generis. Afirmou que continua a ser crime. Não houve descriminalização. Em 
verdade, houve despenalização moderada. A uma, porque a conduta está inserida no tópico 
dos crimes. A duas, pelo fato de que o sistema próprio da Lei Antidrogas permitiria a 
cominação de penas não privativas de liberdade para alguns dos crimes ali previstos. 
Necessário avivar que nem toda infração penal ensejará penas corporais ao agente; exemplo 
disso são os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95. A três, porquanto os compromissos 
assumidos pelo Brasil no cenário internacional contempla a criminalização do usuário de 
estupefacientes. 
A terceira corrente (Guilherme Nucci, Rogério Greco, etc.) concorda com o Pretório 
Excelso. Entretanto, discorda do argumento da despenalização. Operou-se, em verdade, 
uma descarcerização. O Legislador não optou por não penalizar. Mas, sim, aplicar penas que 
não enviassem o indivíduo à prisão. 
 
1.2 Continuidade normativa 
Por vezes, o Legislador revoga determinado artigo ou lei. Contudo, a conduta 
continua a ser considerada criminosa. 
Exemplo1: a Lei 12.015/2009 revogou a Lei 2.252/54 e inseriu no artigo 244-B do 
Estatuto da Criança e Adolescente a figura da corrupção de menores de 18 anos. 
No ponto, vale a pena a leitura do recente enunciado sumulado do Superior Tribunal 
de Justiça: 
Verbete nº 500 – Súmula do STJ 
A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva corrupção 
do menor, por se tratar de delito formal. 
 
Exemplo2: o artigo 214 do CP, revogado pela Lei 12.015/2009, previa o atentado 
violento ao pudor. Tal conduta não mais existe. Foi incorporada ao artigo 213 do CP, para o 
qual a prática de atos libidinosos, mediante violência ou grave ameaça, é estupro. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
6 
www.cursoenfase.com.br 
CP, Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção 
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação 
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) 
 
 O tipo penal do artigo 213 do CP é cumulativo ou alternativo? 
R. Tipo misto cumulativo é aquele que comporta diferentes crimes no mesmo 
dispositivo legal. Como consequência, a prática no mesmo contexto de conjunção carnal e 
atos libidinosos4 resultaria em concurso material. De outra banda, se se considerar que o 
tipo penal é misto alternativo, há um mesmo crime que pode ser praticado de formas 
variadas. Ao acolher-se essa última tese, há único crime. Sem embargo, como o agente 
praticou vários conteúdos do mesmo tipo penal, a pena base poderá ser agravada, eis que 
presente circunstância judicial para tanto. A posição prevalecente nos tribunais superiores 
é a do tipo misto alternativo. 
Conseguintemente, o que era concurso material passou a ser crime único ou crime 
continuado. Diante disso, pergunta-se: a Lei 12.015/2009 é benéfica ou gravosa? Nesse 
ponto, é benéfica. 
Vejamos o artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal. 
CP, Art. 2º. [...] 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos 
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Imagine-se indivíduo que fora condenado por atentado violento ao pudor e estupro 
em concurso material à pena de 12 anos. No curso do cumprimento da pena, edita-se a Lei 
12.015/2009. Por se tratar de lei benevolente, será aplicada ao caso. A pena, outrora de 12 
anos, decairá para 6 anos, sem prejuízo, naturalmente, de eventual acréscimo na pena base 
em decorrência da presença de circunstâncias judiciais. 
Problemático no caso sob estudo é o fato de ao juízo da execução ser vedado realizar 
retificação no quantum da sanção aplicada. Nada obstante, soluciona-se a celeuma com o 
verbete nº 611 da Súmula do STF. 
 
 
4
 Na visão da jurisprudência dos tribunais superiores, atentado violento ao pudor e estupro não são 
crimes da mesma espécie. Assim, quando houve a alteração pela Lei 12.015/2009 e um mesmo tipo passou a 
contemplar ambas as condutas, não haveria de ser reconhecida a continuidade delitiva, mas, sim, concurso 
material. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
7 
www.cursoenfase.com.br 
Enunciado nº 611 – Súmula do STF 
Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das Execuções a 
aplicação da lei mais benigna. 
 
Observação: entendem as Cortes maiores que o juiz da execução, na aplicação da lei 
benéfica, deve limitar-se aos elementos objetivos (cálculo de pena, readequação do regime, 
etc.). Veda-se-lhe a reapreciação do mérito da sentença condenatória. Permitindo o novel 
diploma a nova apreciação do mérito, pode o condenado valer-se da revisão criminal ou, 
excepcionalmente, um habeas corpus. 
O artigo 224 do Estatuto Punitivo também foi revogado. No ponto, necessária a 
leitura do artigo 9º da Lei 8.072/90. 
Lei 8.072/90, Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, 
§ 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 
223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo 
único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de 
trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 
também do Código Penal. 
 
Tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo Tribunal Federal já se 
manifestaram sobre o tema. Posicionaram-se nosentido de que, tendo o artigo 224 do CP 
sido revogado, o artigo 9º da Lei 8.072/90 ficou sem remissão. Assim, incabível o aumento 
de pena previsto nesse dispositivo. Vê-se, aqui, mais uma benesse trazida pela Lei 
12.015/2009. 
 
1.3 Retroatividade parcial 
Também conhecida como retroatividade em tiras ou combinação de leis. Quanto ao 
tema, o Superior Tribunal de Justiça decidiu pela impossibilidade de combinação e sumulou 
seu entendimento. 
Verbete nº 501 – Súmula do STJ 
É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da 
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo 
da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. 
 
Assentou a Corte não ser cabível a combinação entre as Leis 11.343/2006 e 6.368/76 
para, com vistas a beneficiar o agente, utilizar a pena dessa última (3 anos) e a causa de 
redução prevista na primeira (artigo 33, §4º - redução de 1/6 a 2/3). 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
8 
www.cursoenfase.com.br 
Há corrente argumentando pela possibilidade de retroatividade parcial. A uma, pela 
ausência de vedação legal5 ou constitucional a que se faça isso. A duas, porque, quando o 
magistrado procede a tal aplicação benéfica no caso concreto, estaria a fazer justiça; a agir 
por equidade. 
Tese intermediária, sustentada por Cezar Peluso, advogava em favor da não 
aceitação da combinação de leis. Entretanto, explanava que, no caso específico das Leis 
11.343/2006 e 6.368/76, inexistiria falar em combinação. Isso porque o novel diploma, a 
bem da verdade, traria em seu seio benefício inédito, qual seja, a causa especial de redução, 
o que viria a colmatar a lacuna havida na Lei 6.368/76. 
Hodiernamente, o Supremo Tribunal Federal (por maioria) e o Superior Tribunal de 
Justiça (entendimento sumulado) defendem corrente no sentido de ser impossível a mistura 
de lei. É que o magistrado, ao fazê-lo, estaria operando hibridismo penal (lex tertia = fruto da 
combinação de fatores benéficos de leis diferentes). Por conseguinte, violaria o princípio da 
legalidade, porquanto somente lei em sentido formal pode criminalizar condutas e 
estabelecer sanções. Outrossim, o magistrado, ainda que a pretexto de realizar justiça, 
estaria a atuar como legislador no caso concreto. Violaria, pois, o princípio da separação dos 
poderes. 
Observação1: a decisão de qual lei é mais benevolente fica a cargo do magistrado. À 
defesa é viável, no máximo, requerer a aplicação de tal ou qual diploma revela-se melhor ao 
acusado. 
Observação2: o anteprojeto do novo Código Penal prevê a possibilidade de 
combinação de leis. 
Ainda no bojo do tema de retroatividade parcial, cabe a análise de alguns enunciados 
da súmula do STJ. 
Enunciado nº 442 – Súmula do STJ 
É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do 
roubo. 
 
Essa inadmissibilidade, a teor do que preconiza o STJ, é decorrente de entendimento 
contrário consubstanciar-se em hibridismo penal. Aclare-se. A pena do furto qualificado 
varia de 2 a 8 anos, ao passo que o roubo circunstanciado sofre majoração de 1/3 a ½. Tese 
defensiva alegava que dobrar a pena de um furto simples e, apenas, realizar um acréscimo 
no roubo por força da mesma circunstância representaria uma violação ao princípio da 
 
5
 O artigo 2º, §2º, do Código Penal Militar, consigna ser incabível a combinação de leis. Contudo, nada 
há nesse sentido no Código Penal. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
9 
www.cursoenfase.com.br 
proporcionalidade. O STJ rechaçou a argumentação. Assinalou não haver se falar em mácula 
ao aludido princípio porque, dentro dos sistemas do furto e do roubo (os quais não são 
crimes da mesma espécie), as respectivas duplicação (furto) e majoração (roubo) das penas 
nos delitos qualificados (furto) e circunstanciados (roubo) se revelam como proporcionais 
aos crimes em comento. Ademais, narrou que proceder a essa combinação seria operar 
hibridismo penal, na medida em que, por meio de duas disposições legais distintas, o juiz 
estaria a criar uma terceira figura (furto circunstanciado pelo concurso de pessoas). 
Nesse diapasão, salutar tecer considerações acerca das modalidades simples (artigo 
180, caput, CP) e qualificada da receptação (artigo 180, §1º, do CP). 
Na modalidade simples da receptação, o agente sabe da origem espúria da coisa. Ou 
seja, atua com dolo direto. Distintamente, na receptação qualificada, o agente deve saber, o 
que caracteriza o dolo eventual, pois assume um risco (dúvida + indiferença). 
CP, Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou 
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a 
adquira, receba ou oculte: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
CP, Art. 180. [...] 
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, 
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito 
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber 
ser produto de crime: 
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. 
 
Diz a doutrina que punir alguém que deve saber (dolo eventual) com pena triplicada 
no mínimo e dobrada no máximo em relação ao que sabe (dolo direto) materializa 
conspurcação ao princípio da proporcionalidade. Trata-se de uma inversão de valores, haja 
vista que quem tem dúvida deve sofrer reprimenda mais suave do que aquele que tem 
certeza. 
A solução para a celeuma apresenta diversas nuances. Há quem sugira a mantença 
do preceito primário do artigo 180, §1º, CP, com a utilização do preceito secundário do 
artigo 180, caput, CP, a fim de que se respeite o princípio da proporcionalidade. Mais um 
exemplo de hibridismo penal. 
Os tribunais superiores não aceitam essa tese. Ventilam que o princípio da 
proporcionalidade não é lesionado pelo §1º do artigo 180, porque, há rigor, não se faz 
valoração da intensidade do dolo. De igual modo, inexiste falar em mácula à 
proporcionalidade da pena. Isso porque maior juízo de reprovação incide na conduta 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
10 
www.cursoenfase.com.br 
daquele que, ao atuar na ordem econômica, engendra maiores reflexos sociais. Imagine-se, 
por exemplo, a qualidade do chocolate, obtido por meio de saque a caminhão tombado, 
comprado por empresário e vendido em sua loja. 
 
 Reincidência e regime inicial 
O regime inicial de cumprimento de pena varia conforme o quantum da pena 
aplicada. É o que determina o artigo 33 do Código Penal. Por orientação legal, ao 
reincidente, independente da pena aplicada, fixa-se o regime fechado para início do 
cumprimento da pena. Reputando por altamente rigoroso o comando legal, o Superior 
Tribunal de Justiça editou o enunciado 269 de sua súmula, flexibilizou a regra e permitiu a 
fixação de regime semiaberto ao reincidente.Verbete nº 269 – Súmula do STJ 
É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a 
pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. 
 
Observação: pelo fato de o regime ser fixado consoante as regras da lei (art. 33 do 
CP), as quais sofrem clara mescla no presente verbete, o professor Marcelo Uzeda entende 
que a Corte operou verdadeiro hibridismo penal. 
A despeito disso, precioso olhar para o artigo 44, §3º, do Estatuto Punitivo, o qual 
comporta a possibilidade de substituição da pena corporal pela restritiva de direitos ao 
reincidente. Ora, se viável a substituição da pena, contanto que atendidos determinados 
requisitos, com muito mais acerto é cabível a fixação de regime mais brando. Trata-se de 
materialização do princípio da prorpocionalidade. 
CP, Art. 44, §3º. Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, 
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e 
a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. 
 
1.4 Lei intermediária 
Dá-se quando um fato é praticado sob a égide da Lei “A”, sobrevém a Lei “B” (mais 
benéfica e por isso retroage) e, posteriormente, cria-se a Lei “C” (mais gravosa que a Lei 
“B”). 
Mesmo revogada, a Lei “B” continua a projetar seus efeitos para o futuro. Assim, por 
agir para trás e para frente, diz-se que essa lei tem duplo efeito (retroatividade e ultra-
atividade) e é dotada de extra-atividade. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
11 
www.cursoenfase.com.br 
1.5 Ultra-atividade gravosa das leis temporárias ou excepcionais 
Em comum, essas leis possuem a elementar de caráter temporal. 
CP, Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração 
ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante 
sua vigência. 
 
A lei excepcional é circunstanciada. Enquanto perdura determinada circunstância, a 
lei mantém sua vigência. Tal lei é elaborada para ter curta duração. Foge à regra geral de que 
as leis são feitas para durar para sempre. Cessada a circunstância, automaticamente, é 
revogada. 
Exemplo: lei determinando que furtos e danos praticados durante período de 
manifestações contra a Copa do Mundo, o governo do Estado e do Município do Rio de 
Janeiro, etc., (comoção social) serão sempre qualificados. 
A lei temporária traz em seu bojo lapso temporal pelo qual perdurará. 
Exemplo: lei determinado que, nos 30 dias antecedentes à Copa do Mundo, crimes 
de furto e dano serão qualificados. 
Naturalmente, alguns fatos serão julgados após o período de vigência das leis 
excepcionais/temporárias. Por isso, diz-se que elas têm ultra-atividade. Aplicam-se aos fatos 
ocorridos durante sua vigência, ainda que o julgamento ocorra em período posterior. Um 
dos argumentos de defesa desse expediente é o evitar da impunidade, pois bastaria uma 
protelação no julgamento para o indivíduo furtar-se à responsabilização penal. Não fosse 
assim, ninguém a respeitaria e haveria chancela legal à impunidade. Com efeito, o melhor 
argumento é aventa que essa lei excepcional/temporária não necessariamente revoga a lei 
vigente anteriormente e também por essa lei, a qual cessada a circunstância ou o prazo volta 
a viger, não é revogada. Força nisso, entre elas não há critério de comparação a fim de se 
perquirir sobre qual delas é mais benéfica. 
Observação: se a lei temporária/excepcional for revogada por lei 
temporária/excepcional que trate do mesmo tema, em sendo esta última mais benéfica, 
abre-se mão da regra geral da ultra-atividade e observa-se o princípio da retroatividade para 
o benefício do réu. Ou seja, nesse caso, poderá a lei temporária/excepcional retroagir. 
 
1.6 Leis declaradas inconstitucionais 
Agora, vejamos o verbete nº 471 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: 
Enunciado nº 471 – Súmula do STJ 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
12 
www.cursoenfase.com.br 
Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da 
Lei nº 11.464/2007 sujeitam‑se ao disposto no art. 112 da Lei no 7.210/1984 (Lei de 
Execução Penal) para a progressão de regime prisional. 
 
LEP, Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a 
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso 
tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom 
comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as 
normas que vedam a progressão. 
 
Em 2006, no HC 82959, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o regime integral 
fechado, constante do artigo 2º, §1º, da Lei 8.072/90, seria incompatível com a Constituição 
por violar o princípio da individualização da pena. Declarou, pois, a inconstitucionalidade 
incidentalmente. 
PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A progressão no 
regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como 
razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio 
social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE 
- ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO 
JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, 
inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da 
pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da 
individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade 
do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. 
(HC 82959, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006, 
DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-00200-02 PP-00795) 
 
Após a declaração de inconstitucionalidade, passou-se a utilizar, para fins de 
progressão de regime dos crimes hediondos, a regra do artigo 112 da LEP. Em 2007, criou-se 
a Lei 11.464 que, para os crimes hediondos, estabeleceu o regime inicial fechado e o 
cumprimento de 3/5 (reincidente6) ou de 2/5 (réu primário) de pena para haver progressão 
do regime. 
Como o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do artigo 2º, §1º, 
da Lei 8.072/90, o padrão de comparação da Lei 11.464/2007 para determinar se ela é mais 
benéfica não é a redação original da referida Lei 8.072, mas, sim, o artigo 112 da LEP. Nessa 
 
6
 Diverge a doutrina sobre se essa reincidência é específica de crimes hediondos ou diz respeito a 
quaisquer delitos. 
Direito Penal – Parte Geral 
Aula 03 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
13 
www.cursoenfase.com.br 
senda, decidiu a Corte que a Lei 11.464/2007 é mais gravosa, assim, só se aplica aos crimes 
cometidos a partir da sua vigência. 
Observação1: se o STF afastar a aplicação de determinada norma por conta de sua 
inconstitucionalidade deixa ela de ser padrão de comparação com outra lei para aferir se 
mais benéficaou não. 
Observação2: o Pretório Excelso reputou por inconstitucional a determinação ex lege 
do regime inicial fechado. Tal imposição, a um só tempo, violaria os princípios da 
individualização da pena e da fundamentação das decisões judiciais. Nesse sentir, os 
enunciados 718 e 719 da súmula do STF. 
Enunciado nº 718 – Súmula do STF 
A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação 
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena 
aplicada. 
 
Enunciado nº 719 – Súmula do STF 
A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir 
exige motivação idônea.

Outros materiais