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Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Aplicação da Pena ................................................................................................... 2 1.1 Dosimetria da Pena Privativa de Liberdade ...................................................... 2 1.1.1 Critério trifásico ........................................................................................... 2 1.1.1.1 1ª Fase (Pena-base).............................................................................. 2 1.1.1.2 2ª Fase (Pena-intermediária) ............................................................... 7 1.1.1.3 3ª Fase (Pena definitiva) .................................................................... 12 Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Aplicação da Pena 1.1 Dosimetria da Pena Privativa de Liberdade 1.1.1 Critério trifásico Situa-se na primeira fase de aplicação da pena. Cabe assinalar que as três distintas fases nas quais a pena é aplicada não se compensam. É vedado, também, a aplicação da mesma circunstância em fases diferentes (bis in idem). Salvo quando houver autorização legal. Remete-se à leitura do artigo 68: CP, Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. À luz do artigo 68 do Código Penal, o critério trifásico comporta três fases, adiante explicitados. 1.1.1.1 1ª Fase (Pena-base) CP, Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: O juiz, primeiramente, estabelece a pena-base (circunstâncias judiciais do artigo 59 do CP). Aqui, há certa margem de discricionariedade para o juiz, mediante a devida fundamentação. Deve-se partir da pena mínima cominada e, ocorrendo alguma circunstância desfavorável, realizar-se o aumento. O percentual desse aumento não está definido na lei. Diz a doutrina que essa fração tem de ser no valor de 1/8, pelo fato de serem 08 circunstâncias judiciais, percentual esse que tem sido acolhido pela jurisprudência. a. Culpabilidade Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Uma dessas circunstâncias judiciais é a culpabilidade. Fundamentado nela, pode o juiz aumentar a pena-base. Na visão moderna, ela atrela-se à ideia de responsabilidade social1. Vale dizer que a mera repetição de comandos legais (ex. exasperação da pena-base pela elevada culpabilidade) não é fundamentação idônea. Encontrada nos elementos probatórios empíricos dos autos, a culpabilidade é valorada em graus (tal qual no princípio da insignificância) e, a partir do maior ou menor grau de culpabilidade na conduta do agente, dosará o magistrado sua sanção penal. No ponto, remete-se ao artigo 29 do Código Penal, segundo o qual “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.” Alguns autores entendem que culpabilidade seria o elemento para valoração da pena- base que está fracionado, distribuído nos demais elementos. b. Antecedentes Condenações anteriores transitadas em julgado não utilizadas para fins de reincidência. Vide o artigo 64 do Código Penal, o qual estatui os delineadores da reincidência, da qual, por exclusão, extrai-se a definição de antecedentes: CP, Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; Esse período de cinco anos após o cumprimento/exclusão da pena chama-se de “período de depuração”. Havendo condenação dentro desse período, no qual se computa o tempo de sursis e de livramento condicional, operar-se-á a reincidência. Transcorridos esses cinco anos sem condenação por nova infração, o apenado será primário, mas, portador de maus antecedentes. Logo, dessume-se ser “primário de bons antecedentes” aquele que não possuir nenhuma condenação transitada em julgado em seu desfavor. Discussão considerável advém da utilização de inquéritos policiais (procedimentos administrativos de cunho investigatório, com natureza inquisitorial, em que o indivíduo é mero objeto de investigação, motivo por que não pode ser usado para definição de maus 1 Não se está a falar, aqui, de culpabilidade como elemento do crime, entendida como juízo de reprovação social que recai sobre a conduta típica e ilícita. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br antecedentes) e ações penais em curso (instrumento de aplicação da reprimenda penal em atendimento à garantia constitucional do devido processo legal. Ainda que pendente de julgamento de recurso, não pode ser usada para o agravamento da pena-base). O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento sumulado segundo o qual é proibida tal utilização. Calca-se no postulado da presunção de inocência. Verbete nº 444 – Súmula do STJ É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena ‑base. Argumenta, ademais, o STJ que se fazem as anotações porque, primeiramente, todo fato deve ser registrado, no que se incluem as anotações feitas na Folha Penal2 quando determinado indivíduo é indiciado em dado inquérito policial. Em um segundo ponto, remete-se ao instituto do sursis processual, cuja proposta por parte do Ministério Público está condicionada, dentre outros requisitos legais, à inexistência de outras ações penais deflagradas contra o denunciado. Registre-se que ações penais e inquéritos policiais em andamento também não podem ser utilizados para descrever como negativa a conduta social do agente. Tanto assim que o enunciado sumular fala em “impossibilidade de agravamento da pena-base”; não, “caracterização como maus antecedentes”. c. Conduta social & Personalidade do agente Será avaliada no momento interrogatório, quando o juiz terá a oportunidade de extrair sua impressão pessoal do réu. É a orientação do princípio da identidade física do juiz, o qual sabidamente comporta exceções (ex. carta precatória, remoção, promoção, afastamento por licença de saúde, etc.) e, se desobedecido, pode acarretar nulidade. Também no interrogatório tem o magistrado a oportunidade de perquirir acerca da personalidadedo réu. Por óbvio, caso permaneça em silêncio, cuja interpretação em seu desfavor é vedada, não conseguirá obter a convicção sobre qualquer desses elementos. Veja-se o artigo 187 do CPP: CPP, Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. 2 Recentemente, decidiu o STF, arrimado no princípio da presunção de inocência, que anotações na Folha de Antecedentes Criminais (FAC) não servem de base, quando da fase de investigação social, para impedir candidato de prosseguir em concurso público. Nem mesmo nas carreiras policiais. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br § 1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais. § 2º Na segunda parte será perguntado sobre: I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita; II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela; III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta; IV - as provas já apuradas; V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido; VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração; VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa. Outra maneira de descobrir informações sobre a conduta social do réu são as declarações de caráter, carreadas pela defesa, na qual pessoas atestam ser o réu pessoa trabalhadora, estudiosa, de boa reputação, bem conhecida na comunidade onde mora, etc. Observação: a assinatura falsa dessa declaração de caráter pode fazer com que o agente incorra no crime de falsidade ideológica. Em relação à personalidade, o só-fato de cometer o delito sob apuração não significa que o acusado possui personalidade voltada para o crime. Quando interrogado, onde terá chance de apresentar sua versão, se não demonstrar qualquer arrependimento e afirmar que, caso houvesse oportunidade, cometeria novamente o delito, sua personalidade, provavelmente, estará inclinada para o crime. Entretanto, evidenciado o arrependimento e havendo, até mesmo, a confissão, não poderá ter essa circunstância judicial valorada negativamente em seu desfavor. Observação: no TRF da 2ª Região, existe posicionamento segundo o qual anotações criminais (ações penais e inquéritos) devem ser valorados negativamente, sob pena de mácula ao princípio da isonomia.3 3 À época em que estava no STF, a Ministra Ellen Gracie, sempre vencida, era simpática a esse argumento. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br Na opinião do professor, esse argumento não se sustenta no sistema constitucional vigente. É que impera o princípio da individualização da pena e, ante isso, como poderia um indivíduo ter julgamento mais desfavorável a si pelo fato de, em comparação com outras pessoas, haver contra si deflagradas ações penais e/ou inquéritos policiais? d. Motivos De plano, indaga-se: qual seria o motivo para a prática do estelionato? O ganho fácil; a vantagem indevida em prejuízo alheio. Ante essa resposta, alerta-se que é preciso ser cauteloso, porquanto não se pode taxar de circunstância judicial desfavorável os motivos inerentes ao próprio crime. Nesse contexto, pergunta-se: a torpeza bilateral descaracteriza o estelionato? Não. Ainda que a vítima estivesse mal intencionada, a sua torpeza não elimina o dolo do agente, a intenção em praticar a fraude. Os motivos do crime podem ser altruístas, torpes, fúteis, etc. Nalguns crimes, a motivação poderá ser qualificadora, majorante, etc. Caso o tipo penal não preveja nada, inclui- se o motivo na circunstância judicial (pena-base) ou na circunstância atenuante (2ª fase). Exemplo1: homicídio qualificado por motivo fútil e torpe (artigo 121, §2º, incisos I e II, CP). Exemplo2: homicídio privilegiado cometido por motivo de relevante valor social ou moral (artigo 121, §1º, CP). e. Consequências do crime Um estelionato previdenciário que, por exemplo, perdure por vários anos e ocasione um prejuízo no valor de 1 milhão de reais ao INSS, reconhecidamente, gerou consequências mais gravosas que o usual, razão pela qual merece maior reprovação. Pode-se aumentar a pena-base. Cabe lembrar que o estelionato perpetrado contra o INSS, conforme diretriz do artigo 171, §3º, do CP, terá a pena aumentada em 1/3. Por esse motivo, vedada resta a ampliação da pena-base ao argumento de que o delito foi praticado contra entidade da administração pública, sob pena de bis in idem. Sendo o indivíduo primário e de pequeno valor o prejuízo, poderá ter em seu favor aplicado o redutor do artigo 171, §1º, do CP. Não vê o professor qualquer vedação a que se aplique essa redução aos casos em que houver o aumento de 1/3 do §3º, porquanto este dispositivo cuida de circunstância objetiva. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br e. Comportamento da vítima Concerne à atitude desafiadora, à injusta provocação da vítima. Observação1: aclare-se não ser preciso, na sentença, mencionar todas as circunstâncias judiciais. Apenas aquelas sobre as quais se quer aumentar, pois deverão ser fundamentadas. Observação2: inexiste compensação entre as circunstâncias na primeira etapa. Logicamente, obsta-se a que se ultrapasse o limite máximo e que se fique aquém do mínimo legal. 1.1.1.2 2ª Fase (Pena-intermediária) Ater-se-á, nesse ponto, às circunstâncias legais. Agravantes (artigos 61 a 64, CP) e atenuantes (artigos 65 e 66, CP), as quais carecem de previsão legal acerca de seu percentual, que é sugerido no valor de 1/6 pela doutrina e acatado pelos tribunais superiores. Usa-se esse valor (1/6) porque é o mínimo de que se tem notícia no ordenamento. Com efeito, contanto que seja a decisão fundamentada, o magistrado pode fazer exasperação em percentual maior. A vantagem da utilização desse critério é a coerência na aplicação da pena, haja vista ser ele eminentemente objetivo. Nessa fase, existe compensação. É dizer, agravantes e atenuantes equivalentes admitem compensação, resultando na manutenção da pena no mesmo patamar obtido na primeira fase. a. Concurso entre agravantes e atenuantes Há, entre as circunstânciaslegais, aquelas preponderantes em relação às demais, quais sejam, os motivos determinantes do crime, a personalidade do agente e a reincidência. Veja- se o artigo 67 do Código Penal. CP, Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar‑se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo‑se como tais as que resultam dos [1ª] motivos determinantes do crime, da [2ª] personalidade do agente e da [3ª] reincidência. a.1. Personalidade do agente Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br Note-se que todas as circunstâncias preponderantes são subjetivas. Exemplifica-se com a idade do indivíduo (menor de 21 ou maior de 70 anos de idade), que, de acordo com a doutrina, é traço da personalidade (art. 65, I, CP). CP, Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; O argumento para tanto é a política criminal escolhida pelo legislador, para o qual a imaturidade do menor de 21 anos pode ser fator determinante no cometimento do crime, de cujas consequências, em virtude de tal imaturidade, não tem ainda o pleno conhecimento. Por isso, seu tratamento deve ser mais benéfico. Outro benefício conferido ao menor de 21 anos é a redução do prazo prescricional à metade. Aos maiores de 70 anos, a benesse é direcionada em virtude do aspecto humanitário da pena, porquanto, nesta idade, há maior fragilidade do indivíduo. Ademais, de acordo com o artigo 117 da LEP, quando condenado a regime aberto, poderá cumprir a pena em recolhimento domiciliar. Lei 7.210/84, Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I - condenado maior de 70 (setenta) anos; Caso o indivíduo possua mais de 70 anos (atenuante), mas seja reincidente (agravante), essas circunstâncias se compensarão. Observação: há quem entenda que a reincidência sempre será preponderante. Confissão Embate interessante relaciona-se à confissão espontânea. Sabidamente, é uma circunstância subjetiva. Agora, indaga-se: é traço da personalidade? Parte da doutrina e da jurisprudência tem afirmado que, malgrado subjetiva, a confissão não é traço da personalidade. Inclusive, o fato de o indivíduo confessar não necessariamente demonstra arrependimento, pois que pode ela, a confissão, ser propalada até mesmo por questões utilitárias. Em sentido contrário, assevera-se que a confissão é traço da personalidade, e por isso preponderante, porque ela vai contra a natureza humana, haja vista a tendência natural e instintiva do ser humano ser a de negar os fatos que lhe são imputados. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br Ainda no que toca à confissão, consigna a lei a expressão “confissão espontânea”, a qual é diferente da voluntária. Enquanto esta é obtida sem coação, a primeira emana do agente sem qualquer tipo de provocação; ele toma a iniciativa de confessar. CP, Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; No ponto, ruma-se à Lei 12.850/2013 para debruçar-se sobre a colaboração premiada. Lei 12.850/2013, Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. Essa lei aplica-se às organizações criminosas, prevalecendo mesmo sobre crimes previstos em legislação especial. Desvelam-se como consequências da colaboração premiada: (i) PERDÃO JUDICIAL: causa de extinção de punibilidade, entalhada no artigo 107, inciso IX, do Código Penal; (ii) REDUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM ATÉ 2/3; (iii) SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS, INDEPENDENTEMENTE DA PENA APLICADA, MESMO EM SE TRATANDO DE CRIME VIOLENTO. Ainda de acordo com o artigo 4º, §4º, pode o MP abdicar do oferecimento da denúncia, grande novidade carreada pelo novel diploma. Lei 12.850/2013, Art. 4º, § 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br O legislador, na redação do §4º, copiou o sistema do plea bargaining4, oriundo do common law, no qual o Ministério Público negocia diretamente com o indiciado e propõe-lhe um acordo. Representa uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade. Visto isso, pergunta-se: a colaboração é voluntária ou espontânea? É voluntária. Diz- se que está implícita à colaboração premiada a confissão. Voltando ao Código Penal, após essa análise da Lei 12.850/2013, afirma-se que a confissão voluntária já seria suficiente para a atenuação da pena. O posicionamento, contudo, não é pacífico. Confissão qualificada Dá-se quando o acusado reconhece a autoria do fato, porém, alega algo em sua defesa. Alguns entendem que a confissão qualificada não seria atenuante da pena, porquanto a ela estaria agregada tese defensiva. Sobre o tema, não fez qualquer ressalva quanto a eventual arguição defensiva. Observação1: no STF, o Ministro Marco Aurélio tem restrições quanto à confissão. Junto com outros ministros, aceita somente a confissão de fato cuja autoria é desconhecida e que não seja qualificada. Argumenta-se que inexiste proveito na confissão sobre fato de autoria conhecida, para a qual estão direcionadas as provas dos autos. Não poderia, pois, o agente dela beneficiar-se. Observação2: curiosamente, o Código Penal Militar pontifica a necessidade de a confissão ser espontânea de fato cuja autoria é desconhecida. Observação3: para o preso em flagrante, hipótese em que a autoria é evidente, sua confissão em nada lhe ajuda, exceto para os que advogam a tese de que a confissão (traço da personalidade) sempre beneficiará o agente. Nesse contexto, pergunta-se: e se o flagrante for presumido ou impróprio? Na opinião do professor, eis que inexiste certeza na autoria, apenas pressuposição, a hipótese deve ser analisada com cautela.Poderá, então, a confissão ser levada em consideração. 4 Nota do monitor: o plea bargaining é instituto de origem na common law e consiste numa negociação feita entre o representante do Ministério Público e o acusado: o acusado apresenta importantes informações e o Ministério Público pode até deixar de acusá-lo formalmente. O réu no sistema norte-americano pode confessar ou não confessar. Se confessar, pode reivindicar a negociação ou não. Quando faz o pedido de negociação é que ocorre o plea bargaining. Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2011/09/27/o-que-se- entende-por-plea-bargaining/>. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br a.2. Motivos determinantes Podem ser positivos (ex. motivo de relevante valor social ou moral) ou negativos (ex. motivos torpe e fútil). a.3. Súmulas do STJ Circunstância atenuante e mínimo legal Verbete nº 231 – Súmula do STJ A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. O verbete nº 231 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, que reflete, também, o pensamento do Supremo Tribunal Federal, pontua a impossibilidade de a presença de circunstâncias atenuantes não tem o poder de conduzir a pena intermediária para aquém do mínimo legal. Exemplo: em certo caso concreto, há duas atenuantes e uma agravante, tendo a pena- base sido fixada no mínimo legal. Operada a compensação, obstada a condução da pena intermediária abaixo do mínimo pela incidência da atenuante. Interpretação em sentido contrário do presente enunciado leva à conclusão de que a presença das agravantes não podem implicar uma pena intermediária acima do máximo cominado. A reincidência e o verbete nº 241 da Súmula do STJ Verbete nº 241 – Súmula do STJ A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. Intentou-se, quando da edição da presente súmula, evitar do bins in idem. Isto é, usar a mesma circunstância duas vezes em fases diferentes. Imagine-se indivíduo cuja FAC contenha três anotações. Uma delas aponta para uma reincidência. Outra possui, em que houve o trânsito em julgado e o integral cumprimento da pena, mais de 15 anos. A terceira diz respeito a fato posterior, em que ocorreu a condenação e o trânsito em julgado, ao fato sob apuração. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br Pois bem. Na dosimetria, a segunda anotação pode ser utilizada para aumento da pena-base (primeira fase), haja vista caracterizar-se como maus antecedentes. A primeira anotação, a saber, a reincidência, consubstancia-se em causa legal de aumento de pena (agravante), que se situará na segunda fase (pena intermediária). No entanto, a terceira anotação, inobstante condenação e trânsito em julgado, por ser posterior, não será considerada, sequer, maus antecedentes; quiçá, reincidência. Nada obstante, pode representar uma conduta social do agente (circunstância judicial). 1.1.1.3 3ª Fase (Pena definitiva) Na fixação da pena definitiva, ruma-se à análise das causas de aumento e de diminuição, cuja previsibilidade legal ocorre tanto na parte geral quanto na parte especial do Código Penal. De pronto, precioso revela-se distinguir majorante de agravante. TRAÇOS DISTINTIVOS MAJORANTE/MINORANTE AGRAVANTE/ATENUANTE Incide na terceira etapa do critério trifásico Incide na segunda etapa do critério trifásico Possui valor previamente fixado pela lei Não possui valor previamente fixado pela lei Prevista na parte geral e na parte especial Apenas na Parte Geral do Código Penal e, conforme o caso, nas leis especiais (ex. Lei 9.605/98) Possibilita a extrapolação dos limites mínimo (minorante) e máximo Não possibilita a extrapolação dos limites mínimo e máximo Passemos à análise de alguns verbetes da súmula do STJ: Verbete nº 443 – Súmula do STJ5 5 Esse verbete serve como parâmetro para qualquer crime. Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes. Na terceira fase da dosimetria da pena do crime de roubo, cuja variação da majorante é de 1/3 até ½, o julgador, ao estabelecer o patamar da sanção aplicada, não pode, simplesmente, se valer da quantidade de majorantes presentes para aumentar ou diminuir o quantum fixado. Antes, a exasperação deve ser determinada com base na gravidade concreta do delito. Exemplo: roubo perpetrado com emprego de uma metralhadora .50 não pode receber a mesma reprimenda que o indivíduo que cometeu idêntico delito utilizando pedaço de pau (arma imprópria). Traz-se outro exemplo. Imagine-se furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (artigo 155, §4º, inciso I, CP) praticado durante o repouso noturno (majorante prevista no artigo 155, §1º, do CP). Pergunta-se: essa majorante influirá no quantum da sanção penal? Resposta negativa se impõe, tendo em vista que, como está ela prevista antes da qualificadora, tem de haver respeito a essa posição topográfica, o que resulta na não aplicação da majorante. Sem embargo, poderá ser utilizada no aumento da pena-base no que se refere às circunstâncias do crime. Mais um exemplo. Roubo qualificado pelo resultado morte (artigo 157, §3º, CP) com emprego de arma de fogo. Essa causa de aumento insculpida no artigo 157, §2º, I, CP, ante sua posição topográfica, não incidirá no caso do latrocínio. Entretanto, funcionará como circunstância judicial e servirá de aumento da pena-base. Caso a qualificadora venha antes da majorante, esta será aplicada sobre a pena qualificada. Exemplo: artigo 121, §2º, do CP (homicídio qualificado), sobre o qual podem incidir as majorantes dos §§4º e 6º do mesmo artigo. É dizer, qualifica-se o crime e em cima da pena daí resultante calcula-se a majorante. Homicídio qualificado CP, Art. 121. [...] § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena -reclusão, de doze a trinta anos. CP, Art. 121. [...] § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) CP, Art. 121. [...] § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) Exemplo1: chacina da candelária, na qual vários menores de 14 anos, foram assassinados por grupo de extermínio. In casu, presentes duas majorantes. Daí, questiona-se: ambas são aplicadas? Não. A resposta é fornecida pelo artigo 68 do Código Penal, o qual determina, em havendo concurso de causas de aumento, a aplicação de apenas uma, qual seja, a que proporcione o maior aumento (art. 121, §6º). A outra (crime praticado contra menor de 14 anos) pode ser utilizada como agravante, conforme o caso. CP, Art. 68. [...] Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. Exemplo2: Malfoy foi condenado por crime de tráfico internacional. Na pena-base, fixou-se a pena no mínimo, a saber, 05 anos. Na segunda fase, reconheceu-se circunstância agravante a pena intermediária foi aumentada em 1/6, chegando ao patamar de 6 anos. Operou-se, ainda, o aumento de 1/6, inserto no artigo 40, inciso I, da Lei 11.343/2006, em razão da transnacionalidade do tráfico, gerando o quantum de 7 anos. Por derradeiro, em virtude de inexistirem provas de que Malfoy se dedicasse à atividade criminosa, além de lhe serem favoráveis outras circunstâncias, o redutor do artigo 33, §4º, da Lei 11.343/2006, Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br alcançou seu percentual máximo: 2/3. A sanção final imposta a Malfoy será, portanto, 2 anos e 4 meses. Observação: a última coisa a ser considerada é o concurso de crimes. Isto é, apenas fixar a(s) pena(s) aplicada(s) ao(s) crime(s), o magistrado realizará a exasperação (concurso formal e continuação delitiva) ou a soma (concurso material). Registre-se, uma vez mais, que na terceira fase, as causas incidem umas sobre as outras (“juros sobre juros”), sendo obstada a compensação, exceto na hipótese delineada no artigo 68, parágrafo único, do Código Penal, como visto acima. Exemplo: (art. 250, §1º, CP) incêndio cometido com a finalidade de obter vantagem pecuniária tem a pena aumentada de 1/3. Se desse incêndio alguém sofrer lesão corporal grave, a pena poderá ser aumentada até a metade (artigo 258 do CP). Trata-se de mais uma hipótese em que o magistrado terá de aplicar apenas uma das causas de aumento (repita-se: a que mais aumente – art. 258), de acordo com a orientação do artigo 68, parágrafo único, do Código Penal. A outra causa de aumento (obtenção de vantagem) poderá ser usada como agravante, eis que se caracteriza como motivo torpe. Diante da lógica exposta ao longo do presente resumo, o magistrado, na definição da pena, ao debruçar-se sobre as circunstâncias do caso concreto, a fim de definir a natureza de tais circunstâncias (se legais, judiciais, qualificadoras, etc.), percorrerá o caminho a seguir: 1. (Tipo penal específico) – Busca-se a qualificadora ou o privilégio (já na pena- base); 3. (Terceira etapa) – Majorantes ou minorantes, se houver previsão; 2. (Segunda etapa) – Circunstâncias agravantes e atenuantes; 1. (Primeira etapa) – Circunstâncias judiciais do artigo 59 do CP. Exemplo: homicídio cometido por motivo torpe, com emprego de meio insidioso, e à traição (artigo 121, §2º, incisos II, III e IV, do CP), contra pessoa menor de 14 anos e em atividade de grupo de extermínio. Aqui, o julgador escolherá um dos incisos do artigo 121 para utilizá-lo como qualificadora. Após, procederá à causa de aumento do grupo de extermínio. As demais qualificadoras, bem como a causa de aumento decorrente da idade, farão a função de agravantes ou circunstâncias judiciais e alocar-se-ão conforme a ordem acima. Tráfico privilegiado Debrucemo-nos sobre o artigo 42 da Lei 11.343/2006: Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br Lei 11.343/2006, Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a [1] natureza e a [2] quantidade da substância ou do produto [caráter objetivo], a [3] personalidade e a [4] conduta social do agente [caráter subjetivo]. Externa o artigo 42 da Lei 11.343/06 que, tendo esse dispositivo prevalência sobre o artigo 59 do Código Penal, as circunstâncias delineadas em seu bojo podem conduzir a pena- base acima do mínimo legal. Sendo tais circunstâncias positivas, a pena-base permanece no mínimo legal. Lei 11.343/2006, Art. 33, § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) Os tribunais superiores têm afirmado que o tráfico privilegiado é crime hediondo, porquanto o artigo 33, §4º, da Lei 11.343/06, consiste numa mera causa de diminuição de pena. Insta salientar que esse redutor somente será aplicado se o acusado preencher os quatro requisitos cumulativamente. Pois bem. Indaga-se: pode-se utilizar a natureza e a quantidade de droga para exasperar a pena-base e, na terceira fase, determinar o percentual de redução do artigo 33, §4º? De acordo com a primeira turma do Supremo Tribunal Federal, não há se falar em bis in idem no uso da quantidade/variedade de droga para aumento da pena-base (art. 42 da Lei 11.343/2006) e para diminuição do percentual de redução do artigo 33, §4º, Lei 11.343/06. EMENTA HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INOVAÇÃO DE FUNDAMENTOS E REFORMATIO IN PEJUS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. TESES NÃO VENTILADAS NO STJ. DOSIMETRIA DA PENA. BENEFÍCIO DO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE ILEGALIDADE OU ARBITRARIEDADE. 1. Inviável a apreciação de questões não examinadas pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de indevida supressão de instância. 2. A dosimetria da pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não estabelece rígidos esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas para a fixação da pena. Cabe às instâncias ordinárias, mais próximas dos fatos e das provas, fixar as penas. Às Cortes Superiores, no exame da dosimetria das penas em grau recursal, compete apenas o controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, com a correçãode eventuais discrepâncias, se gritantes e arbitrárias, nas frações de aumento ou diminuição adotadas pelas instâncias Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br anteriores. 3. A quantidade e a espécie da droga apreendida, como indicativos do maior ou menor envolvimento do agente no mundo das drogas, constituem elementos que podem ser validamente sopesados no dimensionamento do benefício previsto no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006. Não se trata de bis in idem, ainda que tais elementos já tenham sido considerados no dimensionamento da pena-base na condição de circunstâncias do crime. 4. Inocorrência de bis in idem. 5. Habeas corpus parcialmente conhecido, e, nesta extensão, denegado. (HC 117024, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 10/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-188 DIVULG 24-09-2013 PUBLIC 25-09-2013) Em sentido contrário, a segunda turma do STF, por unanimidade, pontificou que “não agiu bem o magistrado de primeiro grau, uma vez que fixou a pena-base acima do mínimo legal, com preponderância na natureza e na quantidade da droga apreendida, e, em seguida, aplicou a fração de 1/6 (um sexto) na redução prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, utilizando-se dos mesmos fundamentos, em flagrante bis in idem”. Veem-se posicionamentos claramente conflitantes. É preciso, portanto, estar atento a isso. Ementa: PENAL. CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE INDEFERIU LIMINARMENTE WRIT MANEJADO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA. FLAGRANTE ILEGALIDADE. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE. APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI DE DROGAS NO PATAMAR MÍNIMO. UTILIZAÇÃO DO MESMO FUNDAMENTO. NATUREZA E QUANTIDADE DO ENTORPECENTE APREENDIDO. BIS IN IDEM. REGIME INICIAL DIVERSO DO FECHADO. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. I – No caso sob exame, verifica-se que a decisão impugnada foi proferida monocraticamente. Desse modo, o pleito não pode ser conhecido, sob pena de indevida supressão de instância e de extravasamento dos limites de competência do STF descritos no art. 102 da Constituição Federal, o qual pressupõe seja a coação praticada por Tribunal Superior. II – A situação, neste caso, é absolutamente excepcional, apta a superar tal óbice, com consequente concessão da ordem de ofício, diante de um evidente constrangimento ilegal sofrido pelo paciente. III – Não agiu bem o magistrado de primeiro grau, uma vez que fixou a pena-base acima do mínimo legal, com preponderância na natureza e na quantidade da droga apreendida, e, em seguida, aplicou a fração de 1/6 (um sexto) na redução prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, utilizando-se dos mesmos fundamentos, em flagrante bis in idem. IV – O Plenário desta Corte, no julgamento do HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990 (redação dada pela Lei 11.464/2007), que determinava o cumprimento de pena dos crimes hediondos, de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes e de terrorismo no regime inicial fechado. V – Habeas Direito Penal – Parte Geral O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 18 www.cursoenfase.com.br corpus não conhecido. VI – Ordem concedida de ofício para: (i) determinar ao juízo das execuções que proceda a nova individualização da pena, respeitadas as diretrizes firmadas pelo Plenário desta Corte, ou seja, considerando a natureza e a quantidade do entorpecente apreendido em poder do paciente em apenas uma das fases da individualização da reprimenda, bem como a quantidade de pena fixada na sentença, sob pena de reformatio in pejus; e (ii) fixar o regime de cumprimento da pena de forma fundamentada, afastando a regra do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990, declarado inconstitucional pelo Plenário desta Corte. (HC 119357, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 11/03/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-059 DIVULG 25-03-2014 PUBLIC 26-03-2014)
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