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História Antiga

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Aula: 01
Temática: A civilização do Indo
O oriente como construção do ocidente: o mito do “exótico” Um dos cuidados que devemos ter ao abordar a história de culturas como a indiana ou a chinesa, é o de evitar os preconceitos tipicamente ocidentais com relação ao mundo oriental. Um desses preconceitos é a esteriotipação das culturas orientais sob o rótulo do “exótico”. 
O homem ocidental sempre teve uma fascinação pelo oriente. Ele procurou em um oriente mítico aquilo que deixou num passado incerto: a relação com o sagrado, a sabedoria, a espiritualidade, o sentimento de totalidade com o cosmos etc. O oriente é o que o homem ocidental não é; ele é o inverso, o avesso do ocidente. Nessa perspectiva, o “oriente” não tem existência própria, ele é um produto do imaginário coletivo do homem moderno, burguês, branco e ocidental. 
O exotismo do oriente inspirou muitas obras de arte, romances e outras criações culturais, estimulando a imaginação, mas também justificou os projetos colonialistas das potências ocidentais. 
O historiador deve evitar toda abordagem mistificada das outras culturas e, por isso, deve rejeitar o exotismo. Da mesma forma que o antropólogo, o historiador deve abordar as culturas que estuda conforme o sistema de valores dessas culturas, evitando julgar o passado com os valores do presente, assim como julgar as outras culturas com os valores da sua própria cultura. 
As culturas do Indo
Para conhecer as civilizações pré-arianas, que floresceram no vale do Rio Indo e Sarasvati, os historiadores só contam com vestígios arqueológicos, já que as poucas fontes escritas que foram encontradas não puderam ser decifradas até agora. 
As duas principais cidades dessa antiga civilização, urbana e sofisticada, eram Harappae Mohenjo Daro. Elas foram descobertas em 1800 pelos colonizadores ingleses, mas foi somente em 1921 que começaram as escavações sistemáticas. Interrompidas durante a Segunda Guerra mundial e depois prejudicadas devido ao conflito entre a Índia e o Paquistão, as pesquisas arqueológicas foram retomadas apenas em 1986, com o HARP (Harappa Archeological Project), um projeto interdisciplinar que reúne pesquisadores de várias áreas de conhecimento e diferentes países.
Apesar de ter sido ocupado desde o período pré-histórico, foi entre 2600 e 1900 a.C. que o vale do rio Indo e a civilização que lá floresceu atingiram seu apogeu econômico e seu grau máximo de expansão urbana. Trata-se de uma civilização urbana, de sofisticação impressionante nos artesanatos em ouro, prata, bronze, marfim e pedras semipreciosas, nas cerâmicas, na construção de casas e edificações que contavam até com sistemas de esgoto, na dimensão do seu comércio e obras públicas, etc. Das primeiras civilizações – Egito, Mesopotâmia e China – a civilização do Indo é a que chegou a abranger a maior área geográfica, num território total que equivale à extensão da Europa. 
Os dois maiores mistérios que envolvem a civilização do vale do Indo são:
• A decifração de sua escrita, que se encontra em selos, tabletes de cerâmica e outros objetos. Até hoje não se encontrou uma pedra da Roseta, que estabelecesse a equivalência com outra escrita conhecida. É provável que falassem uma língua dravidiana, mas não se sabe até hoje sequer como se chamavam a si mesmos, nem os nomes verdadeiros das cidades (Harappae Mohenjo Daro são nomes posteriores).
• O declínio súbito da civilização do Indo entre 2200 e 1900 a.C. Há duas explicações para esse declínio: 1) A invasão de um povo estrangeiro, talvez os indo-arianos, que teria destruído com violência as cidades e submetido às populações autóctones; 2) Fatores endógenos explicariam o declínio, como mudança climática, secas, crise econômica e política.
Aula: 02
Temática:A Índia védica
A cultura védica
Do fim da civilização do Indo até o século II a.C., quase não há vestígios arqueológicos (cidades, construções, objetos) para documentar o período védico ou clássico da cultura indiana. Praticamente os únicos documentos que temos são os textos do Veda, o livro sagrado do hinduísmo, escrito em sânscrito. Veda significa saber ou conhecimento. O livro se divide em três conjuntos de textos: a Samhita (coleção de hinos sagrados), os Bramana (explicações e comentários dos Samhita) e os Upanishad (textos filosóficos, de caráter esotérico e metafísico). O Vedanta é o suplemento aos Vedas, de escritura permanente até hoje. 
Os hinos védicos foram escritos durante séculos, sendo obra de muitos autores. Eles foram transmitidos de geração em geração por tradição oral e por isso é difícil saber precisamente quando foram escritos. Eles são a base de toda a literatura e a filosofia indiana e podem ser considerados o corpus de conhecimentos mais antigo da história. O livro contém hinos, orações, prescrições rituais, fórmulas mágicas (mantras) e encantamentos que formam os alicerces do chamado bramanismo, a religião altamente ritualizada regida pelos sacerdotes (brahmanes).
O sistema de castas foi codificado lentamente, é provável que não existisse ainda no período védico antigo. A divisão tradicional inclui quatro castas (posteriormente apareceram várias outras castas e subcastas):
• Brahmanes (sacerdotes responsáveis pelo ritual)
• Kshatrias (guerreiros)
• Vaisyas (camponeses livres)
• Sudras (servos)
Somente as três primeiras castas têm direito a ouvir o Veda. A quarta casta seria constituída (de acordo com a teoria da invasão ariana) por não-arianos ou por arianos desclassificados. Por ser considerada impura, a quarta casta não podia ouvir o Veda, nem participar dos sacrifícios. Os sacrifícios rituais ocupam o centro da vida religiosa, influenciando todos os aspectos da vida. Isso dá à primeira casta, aos brahmanes, um imenso poder e prestígio na sociedade. Há uma estrita regulamentação dos deveres sociais de cada casta. As castas mais baixas, por exemplo, só podiam exercer funções infamantes e depreciadas como carrasco, lavador de cadáveres, carniceiro etc.
Para explicar o advento da cultura védica, recorreu-se à chamada “teoria da invasão ariana” (TIA). Segundo essa teoria, entre os séculos XVIII e XVI a.C., tribos de guerreiros nômades, conhecidos como arianos, teriam saído das estepes russas e invadido o Irã e o norte da Índia. As populações autóctones teriam sido escravizadas pelos invasores, que para distinguir os conquistadores brancos dos dominados de cor escura, teriam elaborado o sistema de castas (em Sânscrito, casta se diz varna, que significa “cor”). Porém, essa teoria não tem comprovação histórica e pode ter sido utilizada para legitimar o colonialismo europeu na Ásia, nos séculos XIX e XX, com base numa suposta superioridade racial do branco europeu sobre os povos colonizados. Porém o problema permanece. Hoje, há modelos alternativos à TIA. Alguns pesquisadores defendem que não houve uma invasão súbita e violenta dos guerreiros arianos, eles teriam vindo em várias ondas migratórias, talvez bem afastadas no tempo e, ao chegarem, teriam sofrido uma enorme resistência organizada das populações autóctones. Outros defendem que as invasões, se realmente existiram, foram pacíficas e levaram os arianos a se misturarem com as populações locais, produzindo uma fusão de culturas. Enfim, há os que defendem que nunca houve as invasões arianas e que a cultura védica provém da antiga civilização do rio Indo. Essa é uma questão que continua em aberto, que a continuação das escavações arqueológicas na região talvez ajude a esclarecer.
A ideologia das castas
O hinduísmo tradicional não conhece as idéias e céu ou inferno, ou seja, de um além-mundo para o qual a alma individual seria enviada após a morte. Em vez disso, existe a crença no ciclo de reencarnações, ou seja, a crença em que depois da morte a alma transmigra para um outro corpo, recomeçando o ciclo da vida. A reencarnação seria conseqüência dos atos (karman) praticados na vida anterior. Assim, quem nasceu nas castas superiores teria praticado boas ações na existênciaanterior, enquanto quem nasceu nas inferiores estaria pagando por suas más ações passadas. Cada casta tem o seu dharma (dever moral) e se cumpri-lo escrupulosamente e com paciência renascerá numa existência superior até que todo o seu karma se esgote e o ciclo de reencarnações termine. Assim, por exemplo, o sudra (servo) tem o dever de servir e obedecer às castas superiores, realizando com alegria os trabalhos mais degradantes. É a maneira dele pagar pelas más ações praticadas em vidas anteriores, purificando-se para a próxima encarnação. Desta forma, cumprindo a sua missão, ele tem a esperança de renascer numa casta superior numa próxima existência. 
Essa crença na recompensa ou castigo na próxima reencarnação se converteu numa ideologia que consolidou a ordem de castas vigente na Índia há mais de dois mil anos. Essa ideologia é tão forte que mesmo a Índia sendo hoje um Estado laico e moderno, a casta continua determinando o comportamento das pessoas.
ArianosPovo de origem indo-européia que se estabeleceu no planalto iraniano desde o final do terceiro milénio a.C. e que povoou a Península da Índia por volta de 1500 a. C.
Aula: 03
Temática: A cultura indiana pós-védica
Entre os séculos VI e V a.C., há um despertar espiritual com o advento do jainismo e do budismo, que constituem reações contra o domínio dos brahmanes e o enrijecimento do sistema de castas que estava ocorrendo na Índia dessa época. Há uma proliferação de escolas filosóficas, novas religiões e técnicas espirituais. 
Estudaremos neste capítulo, brevemente, o significado das técnicas espirituais do yoga, do budismo e do jainismo. A reação contra o sistema de castas
De um modo geral, podemos dizer que as tradições espirituais das grandes religiões foram todas, na origem, Revoluções culturais, revoltas contra sociedades estagnadas, enrijecidas, marcadas pela hierarquização social e o formalismo religioso. O Budismo, o Jainismo, o Taoísmo chinês, o Cristianismo e o Islamismo são exemplos dessas revoluções culturais que abalam culturas inteiras a partir do interior, fornecendo às pessoas novas esperanças e a possibilidade da libertação. Algumas (como o budismo e o taoísmo), não se chegaram a se tornar religiões institucionais, podendo ser definidos muito mais como uma ética pessoal ou uma filosofia de vida. Outras (como o cristianismo e o islamismo) se converteram em poderosas organizações institucionalizadas, hierarquizadas e com fortes laços com o poder secular. 
O Yoga
A palavra Yoga significa “união” (da raiz YUJ-, que deu jungere em latim, yoke em inglês e as palavras jugo, juntar e junção em português). O Yoga é uma técnica espiritual destinada a unir o Eu pessoal limitado, condicionado e finito ao Âtman (o Eu Superior) incondicionado, ilimitado e absoluto. Ou seja, é a união entre o indivíduo e a totalidade. Mas, o que impede essa união? Todos os condicionamentos materiais e sociais que modelam a personalidade de um indivíduo, tudo aquilo que os indianos chamam de Avidya (Ignorância, no sentido de desconhecimento da realidade última das coisas). Mas para chegar a essa união final é preciso atingir o domínio voluntário e consciente sobre o corpo e a mente. E isso só pode ser atingido pelastécnicas corporais e mentais de concentração. Segundo o historiador das religiões Mircea Eliade, o Yoga é o conjunto das técnicas espirituais que subjazem a todas as tradições orientais, das religiões do extremo oriente ao Sufismo islâmico. O objetivo final é a libertação (Moksa) e o conhecimento (Jnana), atingidos pelo descondicionamento mental e corporal do indivíduo. Essa libertação e conhecimento podem ser obtidos por qualquer pessoa, através de esforço disciplinado e da purificação, sendo independente da posição que a pessoa ocupa na sociedade. 
O Budismo e o Jainismo
O budismo foi fundado pelo príncipe Siddhartha Gautama (558-478 a.C.), pertencente ao importante clã dos S´akya, no norte da Índia (atual região do Nepal). Aos vinte e nove anos, deixou a família para tornar-se asceta itinerante e procurar a sabedoria. Após sete anos praticando mortificações e terríveis privações corporais, abandona o caminho ascético e atinge a iluminação debaixo da árvore Bodhi (Buddha, na língua pali, significa “o desperto” e Bodhi, a “[a árvore do] despertar”). Daí por diante, começou a pregar o Dharma (palavra que designa, ao mesmo tempo, a lei ou a ordem universal, e a doutrina que a ensina), reunindo muitos discípulos e adeptos em torno de si. Após a morte do Buda, seus adeptos de dividiram em duas escolas: a dos theravadin (os adeptos do “pequeno veículo”, Hinayana), para os quais só existe um Buda e o caminho da salvação depende de um esforço individual, e os adeptos do Mahayana (“grande veículo”), segundo os quais existem muitos Budas (bodhisatvas, avatares do Buda) que, por sua compaixão, zelam pela salvação de todos os seres. O budismo, de forma semelhante ao cristianismo, é uma religião universal, ou seja, não é exclusividade de uma ou outra categoria de pessoas. Ele apresenta um caminho para a salvação que consiste basicamente em práticas éticas e na adoção de uma filosofia de vida que procura compreender e afastar as causas do sofrimento humano e que é acessível a qualquer indivíduo, independente da sua condição social e do seu nascimento. Desta forma, o budismo ganhou multidões de seguidores principalmente no norte da Índia (região onde o Buda pregou) e no leste asiático. Posteriormente, o budismo expandiu-se para a China, a Indochina, a Coréia e o Japão, tornando-se uma das religiões mais populares do mundo. 
O budismo tem muitos pontos em comum com o jainismo, a religião fundada por Mahavira, que é contemporâneo do Buda e tem uma história semelhante à dele. Tal como o Buda, Mahavira descendia de uma família aristocrática da região de Vais´ali, abandonou a família aos trinta anos para buscar a sabedoria e a salvação como asceta itinerante e, após doze anos de meditação e penitência, obtém uma revelação. Não se sabe exatamente quando Mahavira nasceu, mas sabe-se que morreu por volta de 447 a.C.
Os adeptos do jainismo são chamados de jainas e, da mesma forma que os budistas, rejeitam a religião bramânica e o sistema de castas. A noção fundamental da filosofia de vida dos jainas é a não-violência (Ahimsa), ou seja, a renúncia a prejudicar de qualquer maneira que seja qualquer ser vivo, por mais ínfimo que ele seja. A prática da filosofia de vida jaina é igualmente acessível a todos, seu objetivo é a purificação da alma para libertá-la do ciclo das reencarnações e isso é obtido através da prática constante e cotidiana da não-violência. 
O jainismo não se tornou uma religião tão popular quanto o budismo, tendo se difundido somente entre um número restrito de adeptos. Ainda hoje há seguidores do jainismo na Índia e em outros países do mundo. É provável que o grande líder indiano Mahatma Gandhi tenha sido influenciado pela filosofia jaina da não-violência, tornando-a um instrumento de resistência à dominação colonial britânica.
Em nossa opinião, porém, o mais apaixonante dos traços do velho Egito é outro, que trataremos de ilustrar com um exemplo. Na tumba do chefe de polícia Mahu, em Akhetaton (Tell el-Amarna), que data do século XIV, vemos um mural representando tal funcionário ocupando-se da distribuição de víveres aos seus subordinados. (Ver a Figura 1.) A primeira vista, o que chama a atenção são as convenções da arte egípcia: as personagens de alta hierarquia (registro superior direito) são representadas em tamanho bem maior do que os homens comuns; as figuras humanas aparecem de perfil (embora com os olhos e os ombros de frente); inexiste qualquer efeito de perspectiva. E, no entanto, se observarmos mais de perto a parte direita do mural, no registro superior, entre Mahu e o outro dignatário (espécie de primeiro-ministro, acompanhado por um de seus altos funcionários) que, vestido de uma longa túnica, dá ao chefe de polícia a autorização para retirar os víveres dos depósitos do rei, notaremos no chão um braseiro, o que indicaque a cena tem lugar de manhã cedo e no inverno. Logo abaixo, o transporte dos alimentos inspira um quadro pitoresco de grande vivacidade. E no último registro, sempre à direita, estando as itualhas já entregues, vemos, entre outras figuras, uma camponesa confortavelmente instalada sobre um grande cesto, gesticulando e conversando com um tropeiro... É realmente fascinante tal mistura de convenção e naturalismo, a coexistência, que podemos seguir ao longo de milênios, de solenes cerimônias religiosas e monárquicas com cenas de felicidade doméstica, trabalho agrícola e artesanal, esportes e jogos - enfim, mil detalhes da vida quotidiana de nobres e plebeus.
Aula: 04
Temática: O Egito faraônico
Uma das teorias formuladas pelos pesquisadores para explicar o povoamento do Egito parte da ecologia do norte da África. Durante milênios, o atual deserto do Saara foi uma região de savanas, habitada por caçadores e pescadores e posteriormente por agricultores e criadores de gado. Uma mudança climática provocou o ressecamento do terreno, sendo responsável pela formação dos atuais desertos na região. Na medida em que a desertificação avançava, parcelas crescentes de populações, vindas de todos os quadrantes, instalavam-se nas margens do rio Nilo. O Nilo é um rio de águas perenes, encravado no meio do deserto. Suas cheias anuais fertilizavam as terras localizadas no seu delta e nas suas margens. 
O Egito pode ser considerado uma das chamadas “civilizações fluviais”, semelhante à civilização mesopotâmica, que cresceu no vértice formado pelos rios Tigre e Eufrates, à civilização chinesa que se concentrou em torno do rio Yang-tzu e à civilização do rio Indo no subcontinente indiano. 
Com freqüência, fala-se do Egito como um “milagre do Nilo”, como se toda a riqueza de sua cultura se devesse apenas ao favorecimento da natureza. Mas o Egito se assemelha a todas essas civilizações que puderam surgir e se desenvolver sob um governo centralizado graças não só a um grande rio, mas também aos milhares de homens que usaram seu engenho e sua força de trabalho para organizar os serviços agrícolas e resolver o problema humano da fome, sem o que nenhum desenvolvimento cultural é sequer imaginável. Sem a centralização administrativa e a divisão do trabalho isso seria impossível.
Para o vale do Nilo acorriam populações heterogêneas e de diversas procedências, compostas por saarianos brancos que abandonavam o nomadismo, semitas e proto-semitas vindos da Ásia ocidental e negros que adentravam o vale a partir da África subsaariana. A civilização egípcia é uma mistura, uma síntese cultural entre os valores dessas populações. 
Mas que explicação podemos encontrar para o fato desses grupos dispersos e heterogêneos de caçadores, pescadores e agricultores primitivos, que se estabeleceram nas margens do rio Nilo, terem dado origem a um único reino egípcio, com um estado centralizado e uma estratificação social complexa, embora persistentemente dual em caráter? 
A hipótese causal hidráulica
Uma das hipóteses para dar conta desse fato é a chamada “hipótese causal hidráulica”, teoria elaborada pelo historiador Karl A. Wittfogel (1896-1988). 
Segundo essa teoria, para garantir os serviços de irrigação, necessários à agricultura em larga escala, o estado tinha que organizar tiranicamente o trabalho compulsório das populações submetidas. Isso requeria uma complexa burocracia especializada, a serviço de um poder central, que exercia um comando despótico sobre a sociedade, inibindo qualquer manifestação de independência ou individualidade. Wittfogel cunhou o termo “despotismo asiático” para caracterizar esses “impérios hidráulicos”, caracterizados pelo imobilismo e a estagnação, por oposição à dinâmica e à mobilidade das sociedades ocidentais. 
Então, conforme essa teoria, a unificação do Egito se deveria à necessidade de uma administração centralizada das obras de irrigação para o funcionamento do complexo sistema agrícola num país de clima desértico. 
Haveria indícios de uma desertificação crescente no norte da África, o que teria levado vários povos a se concentrarem nas margens do Nilo, num período em que a pluviosidade decaía e obrigava a adoção de um sistema de agricultura irrigada controlada por um estado centralizador e despótico. 
Mas a hipótese causal hidráulica não resolve o problema. As pesquisas mais recentes mostraram que a agricultura irrigada era inicialmente apenas local, controlada pelas comunidades aldeãs, que sempre gozaram de uma relativa autonomia. Não se pode atribuir à centralização estatal e a formação da civilização egípcia exclusivamente a essa necessidade de obras públicas de irrigação. Esse sistema de irrigação surgiu como resultado tardio da existência de um estado forte. 
A hipótese causal hidráulica não é mais aceita pela comunidade dos pesquisadores. É sempre perigoso reduzir a complexidade dos processos históricos a esquemas rígidos, postulando hipóteses monocausais. Sem pesquisas concretas, Wittfogel reduziu toda a riqueza das civilizações orientais a um esquematismo econômico e seu conceito de “despotismo asiático” cheira a europocentrismo (as sociedades ocidentais, cujo modelo são os gregos, seriam dinâmicas e criativas, enquanto as sociedades asiáticas tenderiam ao despotismo e à estagnação). Muitas vezes, os preconceitos culturais transparecem flagrantemente nas hipóteses elaboradas pelos historiadores.
É por essa razão que a história é sempre uma disciplina em construção, que continuamente coloca seus próprios pressupostos em questão. Não existe teoria que explica tudo. Nosso saber sobre o passado é necessariamente fragmentário e somente a pesquisa concreta pode fazer nosso saber sobre o passado avançar.
Aula: 05
Temática: Egito antigo: economia e sociedade
Em pesquisas recentes, dois autores italianos, Liverani e Zaccagnini, elaboraram um outro modelo interpretativo para explicar a unificação do Egito faraônico. Eles mostraram, a partir de vestígios arqueológicos, que já em 7000 a.C. existiam no oriente próximo aldeias sedentárias, num processo chamado de “revolução neolítica” e que por volta de 3000 a.C., uma nova transformação, a “revolução urbana” fazia surgir cidades, estado centralizado e diferenciação social nessa região. 
Então vejamos qual é a explicação de Liverani e Zaccagnini e se ela pode nos ajudar a entender o nosso problema (a centralização do Egito). Acompanhe!
A revolução neolítica teria se baseado na estrutura das comunidades aldeãs autônomas, que viviam numa economia de subsistência, marcada pela ausência de divisão e especialização do trabalho e na propriedade comunitária da terra. Com a revolução urbana, surgiram complexos palaciais e templários como centros da nova organização social. Os excedentes agrícolas passaram a se concentrar nas mãos dos templos e palácios, que exigiam das comunidades aldeãs uma tributação em espécie. Em conseqüência, passou a haver uma divisão e especialização do trabalho e uma organização social hierarquizada. 
A transição dessas aldeias indiferenciadas a uma sociedade desigual e centralizada teria ocorrido devido a fatores internos e externos (comércio intercomunitário, invasões de povos visinhos, guerras, influências externas). Com o tempo, teria se estabelecido uma diferença essencial entre os que trabalham e os que dirigem o trabalho alheio, entre os que decidem e os que executam. Essas mudanças desembocam na urbanização e na organização estatal centralizada. 
Portanto, as comunidades aldeãs eram a base sobre a qual se desenvolveu o sistema centralizado de poder. As necessidades da produção e o novo sistema de poder fizeram com que as comunidades aldeãs e seu modo de produção fossem subordinados, adaptados e utilizados de acordo com os novos interesses. Mas, nesse processo, as comunidades aldeãs não perderam suas características principais, mantendo traços que as remetem à revolução neolítica.
Estrutura social e econômica
De acordo com o que dissemos antes, podemos dividir a sociedade egípcia em dois níveis interdependentes. No primeironível encontramos o palácio e os templos, responsável pela taxação, o recrutamento militar e a repressão de possíveis desordens sociais. No segundo nível, subordinado, encontramos as aldeias, que deixam de ser autônomas. As tensões e divergências de interesses entre esses dois níveis são ocultadas pela ideologia oficial, que difunde a imagem de uma sociedade homogênea, na qual todos são “servos” do Faraó, monarca supremo e detentor da justiça divina. 
No Egito faraônico, podemos reconhecer três setores sociais básicos:
• A maioria da população, que trabalha nas atividades agropecuárias e está excluída das decisões, além de ser obrigada a entregar o excedente produzido ao poder central.
• Um grupo minoritário formado por trabalhadores especializados - como os artesãos e embalsamadores - mantidos pelo excedente redistribuído.
• Um grupo ínfimo, que organiza o trabalho e decide por todos. Este poder de decisão tende a se personalizar numa pessoa única, que se impõe como soberano divino (faraó não era considerado humano no Egito, mas “irmão dos deuses”). 
Comparado à Mesopotâmia, o Egito tem um menor nível tecnológico. Demorou séculos para introduzir a fabricação de objetos feitos de bronze e de ferro. No entanto, não é correto aplicar-lhe a idéia da “estagnação oriental”, como fez Wittfogel. Esta idéia vem de uma projeção sobre o passado de comparações feitas entre a Europa industrializada e países como índia e China nos séculos XIX e XX de nossa era. 
A atividade agrícola era o setor fundamental da economia antiga. O ciclo básico da agricultura era de aproximadamente seis meses, pois as atividades agrícolas diminuíam durante a cheia do Nilo. Nesse intervalo, era possível dispor de abundante mão-de-obra para as atividades artesanais da aldeia, para trabalhar nas instalações de irrigação e para as grandes obras estatais, como a construção de pirâmides.
A atividade artesanal se desenvolvia em função das matérias-primas fornecidas pelo rio e pelas atividades agrícolas e de coleta. Esse artesanato se organizava em dois níveis: nas aldeias produziam-se utensílios mais rústicos para uso diário e nas oficinas dos templos, produziam-se produtos de luxo para consumo dos ricos. 
Havia também um pequeno comércio local. Mas a circulação de produtos entre as regiões era intermediada pela administração faraônica. O comércio exterior e a importação, assim como as atividades de mineração, eram feitas em grandes expedições organizadas pelo faraó. 
As transformações do Reino Novo
A partir do período conhecido como Reino Novo (século XVIII-XX a.C.), o Egito sofreu várias mudanças, resultantes de invasões externas, como a dos hicsos, povo que introduziu muitas inovações tecnológicas no Egito. 
Porém, essas mudanças não chegaram a destruir a estrutura essencial do país dos faraós. As mudanças tecnológicas tiveram um impacto sobre as comunidades aldeãs, que saíram enfraquecidas, mas não destruídas. Na verdade, a existência dessas comunidades e sua estreita ligação com as atividades de irrigação e as grandes obras estatais é uma estrutura de longa duração, tão tenaz que se manteve até o século XIX da nossa era.
LIVERANI, Mario. Antico Oriente. Storia, società, economia. Roma-Bari: Laterza, 
1988. ZACCAGNINI, Carlo. “Modo di produzione asiatico e Vicino Oriente antico. 
Appunti per una discussione”. Dialoghi di Archeologia (Roma). III, 1981: 3-65.
Aula: 06
Temática: Egito antigo: religião e cultura (I)
Neste capítulo falaremos da reforma religiosa do faraó Amenófis IV, também conhecido como Akhenaton, que pode ser considerado o criador do monoteísmo religioso. 
A religião egípcia
Os egípcios possuíam uma infinidade de deuses e mitos cosmogônicos. O panteão egípcio é um dos mais importantes da Antigüidade, constituído por deuses que personificam elementos ou forças naturais, atividades e acontecimentos da vida, sentimentos humanos etc. É característico da representação dos deuses egípcios nas pirâmides o zoomorfismo (quando os deuses assumem, parcial ou inteiramente, a forma de animais, tais como o gato, o chacal e a serpente).Na crença dos egípcios, não havia um além-mundo que tivesse a função de morada dos deuses. Os deuses habitavam a terra e sua morada eram os templos. Os homens deviam honrá-los através de cantos, danças, libações e oferendas para torná-los propícios e mantê-los sobre a terra. 
A reforma religiosa de Akhenaton
O Egito atingiu o apogeu como império e potência mundial durante o período do Reino Novo (do século XVIII ao século XX a.C.). Nessa época, o reino, seus valores e instituições foram abalados por uma reforma religiosa que ameaçava abolir crenças e verdades religiosas nos quais as pessoas acreditaram durante séculos. 
O faraó Amenófis IV ascendeu ao trono por volta de 1370 a.C. como coregente, governando ao lado de seu pai Amenófis III (1397-1360 a.C.). 
Tratava-se de um jovem inteligente, sonhador e frágil de corpo. Seu ímpeto iconoclasta e reformista o fez ser chamado por alguns pesquisadores como o “primeiro indivíduo completo” na história humana. Mas como muita coisa na Antigüidade, a vida de Amenófis IV está envolvida na lenda e no mistério e pouca coisa pode ser comprovada com documentos.
Nessa época se desenvolveu o culto ao deus Aton, provavelmente a partir do antigo culto ao deus-sol de Heliópolis, Rê. (Observamos que Heliópolis, cidade do sol, é o nome que os gregos deram à cidade egípcia de Onou, sede do culto ao deus Rê). Devido ao caráter sincrético da religião egípcia, o deus Rê incorporou características de outras divindades até tornar-se uma divindade única. 
Amenófis IV suprimiu o culto de todos os deuses, assim como suas representações mitológicas, com exceção do disco solar (Aton); mandou destruir as imagens das antigas divindades; mandou fechar os seus templos e aboliu os privilégios dos sacerdotes, confiscando as terras antes pertencentes aos templos. Amenófis assumiu o nome de Akhenaton (“aquele que é útil ao deus Aton”) e deixou a cidade de Tebas para fundar a cidade de Akhetaton (“horizonte de Aton”), atual Tell el-Amarna. Akhenaton instituiu o culto a Aton, o disco-solar, que projeta seus raios em direção à terra, tornando possível a vida e, com generosidade, repte seu périplo pelo horizonte todos os dias. O novo culto tinha implicações também de justiça social. Para instituir o culto a Aton, Akhenaton se opôs aos privilégios e à influêcia política dos sacerdotes. Para a nova crença, torna-se muito importante a idéia de “viver em Maât” (Maât representa a justiça ou a verdade, significando a ordem cósmica divinamente ordenada), ou seja, de viver na verdade e na justiça. 
Porém, Akhenaton não aboliu a divindade atribuída ao faraó. Na verdade, suprimindo o clero, ele ressaltou esse papel. O faraó é considerado a imagem terrestre de Aton. Akhenaton, com sua esposa real, Nefertiti, é o único intermediário entre a divindade e os humanos. 
Após a morte de Akhenaton, o novo culto não sobreviveu. Sob o reinado de Tutankhamon (1345-1327), o culto dos deuses foi restaurado e os sacerdotes readquiriram seu antigo prestígio e seus privilégios. Akhenaton foi considerado um faraó maldito e herético. É provável que sua reforma religiosa esteja na origem das grandes religiões monoteístas posteriores da história humana. 
É da autoria de Akhenaton o belo Hino a Aton, onde se lê:
“Ó deus único, outro não há como tu!/Sozinho criaste a terra de acordo com tua vontade:/Humanidade, gado e rebanhos,/Tudo na terra que anda com (seus) pés,/E o que está nas alturas, que voa com suas asas./Tu colocas cada homem em seu lugar e provês às /suas necessidades;/Cada qual tem seu alimento, e seu tempo de vida./Seus idiomas são de fala diversa;/Suas peles são diferentes, pois tu diversificas os povos./Fazes o Nilo nascer de sob o solo,/E o fazes subir à terra em teu desejo de cuidar dos /seres humanos,/Os seres humanos que os fazes para ti,/És o Senhor de todos eles, os quais te fazem fatigar,/Senhor de todos os reinos, que por eles te levantas,/És Aton do dia, grande é tua majestade”
Aula: 07
Temática: Egitoantigo: religião e cultura (II)
Neste capítulo estudaremos o mito egípcio da pesagem das almas, que é muito importante para entender a concepção egípcia da morte e seus ritos funerários, que incluem a mumificação dos cadáveres e a construção das pirâmides. Inicialmente esses ritos eram exclusivos do faraó e da sua família, mas a partir do período do Reino Novo, há uma “democratização” e eles passam a ser acessíveis também às famílias de comerciantes e escribas ricos. 
A pesagem das almas
Após a morte, um tribunal presidido por Osíris (deus do reino dos mortos) julga as boas e as más ações do morto, para saber se seu ka merece ou não obter a imortalidade. O ka é o duplo espiritual que nasce junto com o corpo da pessoa. Para que o ka possa aceder ao mundo dos mortos, é preciso que seu corpo terrestre esteja íntegro. Isso é o que justifica o embalsamamento dos cadáveres no ritual fúnebre egípcio. Mas o embalsamamento é uma primeira etapa no caminho da imortalidade. Após seu corpo ter sido embalsamado, o ka do morto é conduzido por Anúbis (deus ligado à proteção dos mortos, representado com cara de chacal e corpo humano) à sala do julgamento. O coração do morto é pesado numa balança. Do outro lado da balança, como contrapeso, é posta uma pluma, símbolo de Maât (a ordem divina, a deusa da justiça). Em seguida, o morto faz a chamada “confissão negativa”, recitando todas as faltas que ele não cometeu em vida. Se os dois lados da balança se equilibrarem, o morto poderá aceder ao reino dos mortos e obter a paz. Mas se seu coração era mais pesado que Maât, então o demônio Babai (a “devoradora de mortos”, representada com cabeça de crocodilo, juba de leão, patas posteriores de hipopótamo e anteriores de hiena) devora seu ka. O resultado do julgamento é transcrito por Thot (o deus dos escribas) num papiro para justificar a justiça divina e servir de exemplo aos vivos.
Em seguida, apresentamos a “confissão negativa” do Livro dos Mortos egípcio. Através das faltas que o morto diz não ter cometido podemos aprender muito não somente sobre a religião egípcia, mas também sobre a sociedade e o cotidiano.
Quando o morto entra no salão das deusas da verdade, ele diz
“Reverência a ti, ó grande deus, senhor da Verdade. Perante ti compareço para que eu possa experimentar tua misericórdia. Conheço a ti, conheço teu nome. Conheço os nomes dos Quarenta e Dois deuses que contigo estão neste salão de Maât, que vigiam aqueles que praticaram más ações e se alimentam do seu sangue no dia em que as vidas dos homens são avaliadas na presença de Osíris. Trouxe a ti apenas a verdade e para ti destruí toda maldade.
Não pequei contra os homens.
1. Não fiz mal a meus parentes.
2. Não pratiquei o mal em lugar da verdade.
3. Não conheci homens desprezíveis.
4. Não cometi atos abomináveis.
5. Não executei tarefas diárias além do que requer o dever.
6. Não fiz com que meu nome sobressaísse só para receber honrarias.
7. Não oprimi escravos.
8. Não pensei no deus com menosprezo.
9. Não lesei o pobre de seus bens.
10. Não pratiquei os atos que os deuses abominam.
11. Não fiz com que o escravo fosse maltratado pelo feitor.
12. Não provoquei sofrimento a nenhum homem.
13. Não permiti que nenhum homem passasse fome.
14. Não fiz com que nenhum homem chorasse.
15. Não assassinei nenhum homem.
16. Não dei ordem para nenhum homem ser assassinado.
17. Não causei dor à multidão.
18. Não roubei as oferendas dos templos.
19. Não furtei os bolos destinados aos mortos.
20. Não roubei as oferendas feitas aos espíritos.
21. Não tive relacionamento com pederastas.
22. Não me conspurquei nos lugares imaculados do deus de minha cidade.
23. Não trapaceei ao pesar cereais.
24. Não roubei terras nem ampliei as minhas por este meio.
25. Não usurpei os campos dos outros.
26. Não trapaceei no peso da balança.
27. Não tirei o leite da boca das crianças.
28. Não expulsei os animais de seus pastos.
29. Não capturei gansos nas reservas dos deuses.
30. Não apanhei peixes com iscas de seus corpos.
31. Não represei água quando ela deveria fluir.
32. Não abri nenhuma fenda no canal de água corrente.
33. Não apaguei nenhum fogo que devia ficar aceso.
34. Não aboli os dias destinados a presentear as oferendas escolhidas.
35. Não desviei gado de propriedade dos deuses.
36. Não rejeitei o deus em suas manifestações.
Sou puro. Sou puro. Sou puro. Sou puro.”
Preste especial atenção nas confissões que condenam a opressão dos escravos (8, 12), as que condenam a opressão aos pobres devidas à arrogância do morto (10,13,14,15,18), as que tratam de infrações religiosas como roubar dos templos e menosprezar os deuses (19,20,21,23 e 30), e finalmente as que se referem às trapaças nos trabalhos de armazenamento de cereais, na incorporação de propriedade alheia ou dos templos com os animais que elas contém (24, 25, 26, 27, 28, 32, 33, 35, 36).
Resumo – Unidade I
Nesta unidade abordamos duas sociedades que estão entre as mais antigas civilizações da história: o Egito faraônico e a Índia antiga. São civilizações que tiveram um forte impacto sobre o imaginário ocidental e até hoje estão associadas ao misticismo e ao esoterismo. 
Contudo, o historiador deve evitar o exotismo, que não é outra coisa senão uma variedade do anacronismo (que consiste em julgar o passado com os critérios do presente). 
No que se refere à civilização indiana, começamos estudando as culturas do vale do rio Indo, que só recentemente a arqueologia vem desvendando e cuja escrita até hoje é um mistério. 
Em seguida estudamos a cultura védica clássica e a estruturação do sistema de castas, característico da Índia. Quando se fala em castas, devemos ter cuidado com as conotações racistas da chamada “teoria da invasão ariana”, da qual não se tem comprovação arqueológica. Toda cultura é uma mistura de raças e povos e mesmo que tenha havido uma invasão de povos estrangeiros, eles terão se fundido com as populações autóctones. 
Por fim, estudamos o significado das técnicas espirituais do yoga, assim como o budismo e o jainismo, que representam um despertar espiritual e uma revolução cultural contra o sistema de castas e a rigidez cerimonial da sociedade védica. 
Nos capítulos sobre a civilização egípcia, começamos discutindo se o Egito é uma “dádiva do Nilo”, devendo seu desenvolvimento apenas à proximidade de um grande rio, ou se é uma civilização original e criativa. Para responder, tivemos que desmontar a chamada “hipótese causal hidráulica”, que estigmatizou culturas antigas como a egípcia, a chinesa e a mesopotâmica, que se oporiam às sociedades ocidentais pelo despotismo e o imobilismo. Mostramos como essa teoria está desacreditada hoje e quais explicações alternativas podemos propor para a centralização das grandes civilizações orientais.
Depois estudamos a estrutura sócio-econômica do Egito faraônico, até o período do Reino Novo e em seguida dedicamos dois capítulos à religião egípcia, enfatizando duas questões importantes: a reforma religiosa do faraó Amenófis IV ou Akhenaton, que pode ser considerada a origem do monoteísmo religioso, e o mito egípcio da pesagem das almas no além.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Emanuel. Escrito para a eternidade. A literatura no Egito faraônico. Brasília, UNB, 2000.
CARDOSO, Ciro F. O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1982.. Trabalho compulsório na Antigüidade. Rio de Janeiro, Graal, 1984.
ELIADE, Mircea. O conhecimento sagrado de todas as eras. São Paulo, Mercuryo, 1995.
. Yoga: Imortalidade e Liberdade. São Paulo, Editora Palas Athena, 1997.
EMBREE, Ainslie T. E WILHELM, Friedrich. India. História del subcontinente desde las culturas del Indo hasta el comienzo del dominio inglês. Madrid, Siglo Veintiuno, 1974.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo, Atual, 1996.
_____________. 100 textos de História Antiga. São Paulo, Global,1983.
Aula: 08
Temática: Mesopotâmia, o “berço da civilização”
Mesopotâmia é uma palavra que vem do grego e significa “entre rios” (mésos – potamós). Designa a região compreendida entre os vales do rio Tigre e do rio Eufrates. Esta regiãofaz parte do chamado Crescente fértil, uma área em formato de lua crescente, considerada excelente para a agricultura, embora esteja cercada por terras áridas. 
Esta região ficou conhecida como o “berço da civilização”, pois nela surgiram as primeiras sociedades dotadas de escrita e de uma estrutura social complexa no quarto milênio a.C. Ela está localizada na área do atual Iraque. 
Nos documentos, Sumer designava o sul da Mesopotâmia e Akkad a Babilônia. Apesar de aparecerem somente nos documentos escritos a partir do quarto milênio a.C., é provável que os sumérios já habitassem a região há muito tempo. Há indícios da migração de povos semitas, que falavam acadiano, para o vale mesopotâmico. Da fusão dessas duas populações surgiu à cultura mesopotâmica. 
As primeiras tabuletas escritas encontradas pelos arqueólogos datam de 3200 a.C. Entre 2900 e 2300 a.C., época das dinastias arcaicas, aparecem às primeiras inscrições ligadas à monarquia palaciana. 
A Mesopotâmia não era unificada politicamente. Tratava-se de uma série de cidades-estados independentes, que se agregaram ao longo do vale do Tigre e do Eufrates. Como o Egito, a Mesopotâmia dependia da agricultura irrigada, com o agravante de que o vale mesopotâmico era muito menos fértil e mais árido do que o vale do Nilo. 
Os mesopotâmicos atingiram um alto nível técnico para a época, principalmente na metalurgia. As tumbas da elite suméria e babilônica estavam repletas de objetos de cobre, bronze, ouro e prata, trabalhados com técnicas variadas e ricamente ornamentados. Atingiram também um alto desenvolvimento na astronomia e astrologia. Aliás, o céu e os símbolos associados ao céu são de extrema importância na cultura mesopotâmica. 
Os grandes templos mesopotâmicos, os zigurates, guardam uma analogia com o céu. Eles são considerados passagens entre o céu e a terra. Sobre isso, nos esclarece o historiador das religiões Mircea Eliade: “O ziggurat representa o cosmos. Seu topo é o ‘centro’ supremo, equiparado mais tarde ao Pólo. À medida que sobe os pisos de um ziggurat, o rei se aproxima do centro do universo. A cidade sagrada, que alberga o templo por trás de suas muralhas guarnecidas, se converte por sua vez num centro, o topo da montanha cósmica (em outras palavras, do mundo). Seus habitantes permanecem magicamente assimilados aos donos divinos do ‘centro’, aos deuses.”
Apesar de terem sido os inventores da escrita e de todo o seu desenvolvimento técnico, os mesopotâmicos viviam num cosmos religioso e cíclico. Eles tinham uma mentalidade mágica e pré-lógica. As contínuas guerras e invasões pelas quais passou a região eram vistas por eles como um destino inevitável. A destruição de reinos e impérios por povos invasores era considerada uma punição dos deuses pelos pecados acumulados pela comunidade. Uma visão racional e pragmática de mundo só nasceria na 
Grécia e depois em Roma após o desenvolvimento da filosofia e do pensamento científico. 
Ao abordar o passado, o historiador deve sempre tomar muito cuidado com o anacronismo, que é a projeção no passado dos valores do presente. Cada cultura deve ser vista, em seu período histórico, conforme os seus valores e o seu universo material e mental. É só assim que poderemos compreendê-la no seu contexto.
Aula: 09
Temática: O código de Hammurabi
Ao contrário do Egito, a Mesopotâmia não era um reino unificado e, durante muito tempo, a cidade-estado foi à estrutura política básica. A Mesopotâmia também esteve mais sujeita às invasões e imigrações vindas do exterior, como a dos povos nômades do deserto. Devido a esse maior intercâmbio com os outros povos, o comércio a longa distância e os interesses privados se desenvolveram muito mais na Mesopotâmia do que no Egito.
Isso explica porque, apesar de partir da mesma base econômica que o Egito – a agricultura irrigada – a história mesopotâmica seja mais variada e acidentada que a do Egito. 
Os códigos de leis mesopotâmicos
Os códigos de leis são os principais documentos que nos ajudam a entender melhor como funcionava a sociedade mesopotâmica, sua economia e seu cotidiano. 
Códigos mesopotâmicos:
• Código de Ur Nammu (3ª Dinastia de Ur)
• Código de Eshnunna (1825-1787 a.C.)
• Código de Lipit – Ishtar (1800 a.C.)
• Código de Hammurabi (1700 a.C.)
• Leis assírias (Teglat – Falasar I) (1114-1076)
• Leis hititas (1400-1225)
Não se tem notícia de textos jurídicos no Egito, ao passo que na Mesopotâmia encontramos todas essas codificações de leis. Como se explica essa discrepância? No Egito, o faraó era considerado um semi-deus e toda justiça emanava unicamente dele, ou seja, a lei é identificada à vontade e ao arbítrio do faraó. Já no caso da Mesopotâmia, o rei não era considerado divino, mas apenas alguém investido pelos deuses e que, por isso, não está acima das leis divinas, que valem para todos. 
Há muita influência desses códigos sobre o Pentateuco (Torah) do Antigo testamento, que contém as leis e obrigações morais fundamentais dos hebreus, como veremos depois nos capítulos referentes aos hebreus. 
O código de Hammurabi
O mais conhecido desses códigos de leis é o código de Hammurabi. No texto conhecido como “autopanegírico de Hammurabi”, o rei assim se descreve:
“Para que o forte não oprima o fraco, para dar direitos ao órfão e à viúva, na Babilônia [...] minhas preciosas palavras eu as escrevi sobre minha Estela e fixei-as frente à minha imagem de rei do direito, para julgar as (causas de) julgamento do país, para decidir as decisões do país, para fazer justiça ao oprimido. Eu sou o rei que transcende entre os reis, minhas palavras são escolhidas, minha inteligência não tem rival. [...]”
Trata-se de uma peça de marketing, destinada á auto-promoção e à formulação de uma imagem positiva de Hammurabi. Na verdade, Hammurabi não criou novas leis e seu código não é tão inovador, pois se baseia em práticas sociais comuns e se apóia nos vários códigos anteriores. O código de Hammurabi não é um “código de lei civil” no sentido moderno, mas apenas uma coleção de jurisprudência.Mas quem era Hammurabi? Hammurabi foi um chefe militar, que terminou a conquista de Sumer e Akkad, assegurando a hegemonia da Babilônia sobre a Mesopotâmia. Após as conquistas, Hammurabi tornou-se rei e sua preocupação principal era unificar as leis mesopotâmicas, para desta forma garantir a unidade do Império babilônico. 
Muitas das leis do código de Hammurabi podem parecer, a olhos modernos, cruéis e desumanas. Mas elas tiveram a função de impedir as vinganças privadas entre famílias e de concentrar a justiça nas mãos do soberano.
Do código de Hammurabi deriva a famosa “lei de Talião”, que reencontraremos nos textos do Antigo Testamento da Bíblia. A lei de Talião estabelece uma proporção considerada justa entre o crime cometido e a compensação devida à vítima. Vejamos dois exemplos. Se os filhos do proprietário de uma casa morrerem após a casa desmoronar, os filhos do arquiteto que a construiu deverão ser mortos. Se um médico fizer uma operação de catarata numa paciente e, acidentalmente, furar seu olho, ele deverá por sua vez ter seu olho furado para compensar o paciente lesado. O lema da lei de talião é: “dente por dente, olho por olho”. A lei não visa às intenções e circunstâncias sob as quais o crime foi cometido, como as leis modernas, ela visa exclusivamente o ato cometido. Para todo dano causado a alguém, deverá haver uma compensação proporcional. É provável que essa fosse a base de todos os antigos códigos de direito, anteriores ao direito grego e romano.
Aula: 10
Temática: Mesopotâmia: economia e sociedade
Estrutura social e econômica
Os códigos de leis são os documentos mais importantes para entender melhor como se desenvolveram a sociedade mesopotâmica, suas estruturas econômicas e o cotidiano dos seus habitantes.
Tomemos como exemplo as leis referentes aos escravos. 
Desde o código de Eshnunna (1825-1787 a.C.), há a preocupação em garantir os direitos dos proprietários de escravos. Havia punições e compensações devidas para aqueles que ocultavam escravos fugitivos, se apropriavamde escravos alheios, faziam empréstimos a escravos ou lesavam fisicamente os escravos de outros proprietários. 
Os escravos eram considerados objetos e não sujeitos de direitos. Fazer mal a um escravo que não é seu, significa danificar a propriedade de seu dono. Mas o código de Hammurabi já reconhece alguns direitos aos escravos, considerando-os como pessoas e não somente como propriedades. 
Temos como exemplos a proteção devida às mulheres escravas que tiveram filhos com seus senhores. Algumas vezes, os filhos nascidos das relações de um homem livre com mulher escrava eram livres e tinham direito inclusive a herdar as propriedades do pai, ao lado dos filhos legítimos.
Em geral, os escravos vinham do exterior, obtidos seja através da guerra, seja através da pirataria, seja através do comércio. Há documentos que indicam que crianças abandonadas podiam ser escravizadas. Em épocas de crise era comum as pessoas venderem a si mesmas ou a membros de sua família (mulher ou filhos) como escravos. 
Havia escravos pertencentes ao estado e aos templos, utilizados nas obras de irrigação, armazenamento e distribuição dês excedentes agrícolas e também escravos urbanos e domésticos pertencentes a particulares.
É provável que, na Mesopotâmia, os escravos não fossem a maioria da população, havendo uma massa de camponeses livres, cujo trabalho era apropriado pelo poder na forma de “corvéias” obrigatórias pagas ao estado.
Tal como no Egito, o poder e o regime econômico se apoiava nas comunidades aldeãs independentes. Muitas vezes, como indicam os documentos, os proprietários de escravos confiscavam terras comunais, transformando-as em propriedade privada (embora a propriedade privada não fosse reconhecida pelos códigos de leis).
Nos tempos pré-sargônicos, a economia dos templos era a estrutura econômica mais importante. Da mesma forma que no Egito, os templos não tinham somente função religiosa. Eles eram responsáveis pelos serviços de produção agrícola, estocagem de produtos, empréstimo e comércio. 
Um templo era uma cidadela habitada por toda uma população variada e dotado de uma vida própria: “Um templo da época pré-sargônica conta com depósitos para armazenar os produtos, mas também com centros de transformação e de distribuição. 
Uma população completa de padeiros, açougueiros, curtidores, carpinteiros, ferreiros, ourives, talhadores de pedra, vive em suas possessões. Os agricultores constituem só uma fração deste conjunto...Formam, porém, a massa mais considerável, porque neles se baseia principalmente a organização do domínio”
O templo era um complexo agrário-artesanal. Os trabalhadores recebiam lotes de terra para cultivar e rações de cereais para seu sustento, em troca do serviço prestado ao templo. Algumas extensões de terra eram cultivadas diretamente sob a administração do templo utilizando trabalhadores escravos.
Uma horda de burocratas e capatazes coordenava as atividades econômicas. Mas, com o tempo, a economia centrada nos templos sofreu um processo de decadência e, em compensação, tendeu a se fortalecer a posse privada da terra. 
É difícil saber com precisão como era a estrutura social babilônica. O código de Hammurabi menciona três categorias sociais básicas:
• Os awilu
• Os mushkenu
• Os wardu
Os wardu são escravos, porém a diferença entre os awilu e os mushkenu é incerta. É provável que os awilu sejam os nobres proprietários de terras e os funcionários da burocracia palaciana. Os mushkenu devem ser camponeses e trabalhadores não-escravos sob a dependência do palácio. 
Conta que apenas os awilu eram cidadoas com plenos direitos, tanto de propriedade quanto políticos. Eles realizavam assembléias periódicas e também possuíam um “conselho de anciãos” (instituições que depois reencontraremos na Grécia arcaica e que constituem os primórdios da participação política na Grécia). Os gurush eram trabalhadores sem família que cultivavam os lotes dos templos.
Há notícias sobre sublevações, greves, revoltas de escravos e recusa por parte dos camponeses de pagar a corvéia, principalmente após a queda da 3ª Dinastia de Ur, quando a desarticulação da economia centrada nos templos leva a um período de crise e anarquia.
Aula: 11
Temática: Mesopotâmia: escrita e literatura
A escrita cuneiforme
Os mesopotâmicos desenvolveram um dos primeiros sistemas de escrita no mundo. Por volta de 2300 a.C., temos os primeiros registros em tabuletas de argila de pictogramas (signos icônicos, ou seja, que guardam analogia com o objeto representado, como um desenho). Com o tempo, os sinais evoluíram para a escrita cuneiforme, tornando-se ideogramas (signos formados por vários traços, que deixam de guardar analogia com o objeto representado, tornando-se abstratos). Depois, a escrita cuneiforme evoluiu para representar sons, tornando-se uma escrita silábica. 
A escrita era usada para registrar informações como as atividades do templo, as trocas comerciais, os registros administrativos, para narrar mitos, lendas e até para escrever cartas pessoais. O cuneiforme era usado para representar as diferentes línguas faladas na Mesopotâmia, como o sumério, o acádio, o hitita, o elamita e o hurrita. 
Apenas uma ínfima parcela da população era alfabetizada. Aqueles que sabiam ler e escrever eram os escribas, funcionários especializados e muito hábeis na escrita cuneiforme. Os escribas eram preparados desde crianças em escolas de caligrafia para registrarem muitas das línguas faladas na Mesopotâmia. Eles eram peças-chave para todo o sistema de poder e o regime econômico-comercial mesopotâmico, que sem o registro escrito e os escribas não funcionaria. Os escribas registravam todas as transações comerciais, redigiam contratos, controlavam o fluxo de entradas e saídas de produtos agrícolas dos templos, faziam a crônica dos reis e das batalhas e serviam como diplomatas nas relações com outros povos. Por sua importância, os escribas tinham uma posição privilegiada na sociedade. 
Alguns deles foram verdadeiros eruditos e registraram textos literários, religiosos e científicos em tabuletas de argila. Graças à durabilidade da argila, que sobrevive mesmo a enchentes e incêndios, é que os textos em cuneiforme chegaram até nós, após as escavações dos arqueólogos. 
A biblioteca de Assurbanipal
Nas ruínas da antiga cidade mesopotâmica de Nínive, foi encontrado um conjunto de textos literários e eruditos que formam a que pode ser considerada a primeira biblioteca da história. Ela pertencia ao rei Assurbanipal (depois conhecido pelos gregos como Sardanapalo), que governou o Império Assírio no século VII a.C. Na sua biblioteca foram encontrados em tabuletas de argila documentos como o célebre poema de Gilgamesh, um dicionário sumério/acádio, além de textos de matemática, astronomia, astrologia, magia natural e alquimia. Parece que os textos mais importantes do patrimônio cultural mesopotâmico haviam sido reunidos num mesmo local por este rei refinado e erudito que era um dos raros monarcas da época que sabia ler e escrever. 
A lenda de Gilgamesh
Gilgamesh governava a cidade de Uruk, próxima das margens do Eufrates. Com seu amigo Enkidu, Gilgamesh empreendeu uma viagem para as montanhas, com o objetivo de trazer madeira da floresta dos cedros. Mas a floresta dos cedros era protegida pelo terrível demônio Humababa. Gilgamesh não ficou com medo, mas Enkidu sentiu um mau pressentimento. 
Os dois pretendiam vencer Humbaba numa batalha. Ao se depararem com o demônio, invocaram os treze ventos com a ajuda do deus-sol Shamash. Gilgamesh Cortou a cabeça do demônio com um só golpe de espada. Cortaram muitas árvores, que foram empilhadas, amarradas e transportadas numa canoa de volta para a cidade de Uruk. Junto com as toras de cedro, 
Gilgamesh e Enkidu levaram a cabeça cortada de Humbaba como testemunho de seu feito. 
Essa é, resumidamente, uma das versões do primeiro épico da história humana. Há várias versões diferentes, de várias épocas e em diferentes línguas (sumérico, acádio, assírio, hitita) do poema de Gilgamesh. A que apresentamos acima é a versão mais primitiva.A ela, com o tempo, seriam agregadas outras histórias, formando um verdadeiro ciclo centrado na figura do herói lendário Gilgamesh. O poema foi transmitido em forma oral durante muito tempo até ser fixado em forma escrita. Ele não tem um autor único, pois ao longo do tempo, diferentes autores deram sua contribuição, agregando novas passagens ao poema e desta forma enriquecendo-o
Aula: 12
Temática: Os hebreus antigos: das origens ao êxodo
Origens
Os hebreus eram tribos que se fixaram na região de Canaã, às margens do rio Jordão, por volta do II milênio a.C. As fontes egípcias e mesopotâmicas mencionam os habiru ou hapiru, que seriam populações semitas nômades, encontradas desde a região do Crescente fértil até o vale do Nilo. Os habiru/hapiru são descritos como elementos marginalizados, que sobreviviam negociando, pilhando, oferecendo-se como mercenários ou até contribuindo para sublevações e movimentos revolucionários. Eram grupos heterogêneos, dispersos, sem uma identidade cultural determinada e que levavam uma existência marginal e muitas vezes fora-da-lei nas franjas das sociedades instituídas. Os habiru/hapiru podem ser identificados com os hebreus, que na Bíblia são chamados de Ivriyym, significando “descendentes de Heber”, um patriarca lendário sobre qual não se sabe nada ao certo. 
O patriarca Abraão
Porém, se seguirmos o relato bíblico, o verdadeiro patriarca fundador dos israelitas e aquele que lhes deu a forte identidade cultural centrada no monoteísmo religioso foi o patriarca Abraão. Ele teria sido chamado por Deus da cidade mesopotâmica de Ur, onde morava, para a terra de Canaã, onde estabelece uma aliança com o deus Yahveh. Nesta aliança, Abraão devia reconhecer Yahveh como único deus e autoridade absoluta, e em troca Abraão seria abençoado com uma descendência inumerável, da qual nascerão nações inteiras, reis e povos. Mas Abraão e sua mulher, Sara, já eram muito velhos para ter filhos (segundo a Bíblia, Abraão teria 100 anos e Sara 90 anos, que obviamente não é uma idade real, mas um número simbólico). Como Sara não conseguira engravidar, Abraão havia tido um filho com uma de suas servas, a egípcia Agar. Ela deu à luz Ismael, que já tinha treze anos quando Yahveh chamou Abraão. Deus cumpre sua promessa e faz com que Sara dê a luz a Isaac. Mas Sara não queria que seu filho querido Isaac crescesse junto e dividisse a herança com Ismael e, por isso, mandou Abraão expulsar Agar e Ismael para o deserto. Abraão o faz a contragosto, após consultar Yahveh e os manda embora. De Isaac descendem todos os hebreus e de Ismael as doze tribos dos “povos do deserto”, ou seja, os árabes. Abraão (em hebraico, Avraham, em árabe Ibrahim) é considerado o pai fundador das três grandes religiões monoteístas da humanidade, por ter introduzido a idéia de um deus único e universal. Tanto o judaísmo, quanto o islamismo e o cristianismo podem ser considerados “religiões abraâmicas”, pois reconhecem na figura de Abraão e na sua história os mesmos elementos. Vejamos quais são essencialmente esses elementos comuns às três grades religiões monoteístas:
1) As três são religiões da aliança com um deus único, criador e universal, aliança que pode ser rompida e reatualizada;
2) As três são religiões baseadas na revelação divina contida num livro que é considerado sagrado (são “religiões do livro”): Torah, Corão ou Bíblia;
3) As três religiões envolvem a crença numa lei moral universal, emanada da divindade e codificada nos respectivos livros sagrados. 
Os hebreus no Egito
Como nos conta a Bíblia, Jacó e seus filhos se estabeleceram no Egito com o agraciamento de José, que era funcionário do Faraó. Temos poucos dados efetivos sobre essa época e esses fatos, não sabemos nem mesmo as datas exatas, mas essas histórias podem nos mostrar muita coisa que ajuda a entender a sociedade hebraica da época. A Bíblia nos diz:
“Então José disse a seus irmãos e à família de seu pai: “Vou subir para comunicar ao Faraó e lhe dizer: 
´Meus irmãos e a família de meu pai, que estavam na terra de Canaã, vieram para junto de mim. Estes homens são pastores – eles se ocupam com rebanhos – e trouxeram suas ovelhas e seus bois e tudo o que lhes pertence.´Assim, quando o Faraó vos chamar e vos perguntar: ´Qual é a vossa profissão?`, vós respondereis: ´Teus servos se ocuparam de rebanhos desde sua mais tenra idade até agora, tanto nós como nossos pais.` Deste modo podereis permanecer na terra de Gessen.”1
Vemos por este trecho da Bíblia que os hebreus eram no início pastores nômades e que foram para o Egito não como escravos, mas como homens livres que prestavam serviço ao Faraó em troca de lotes de terra para cultivar e criar animais. É provável que tenham saído de sua terra fugindo da fome e da seca. A ida ao Egito era sua chance de sobrevivência. Para lá imigraram famílias inteiras, junto com seus rebanhos.
A base da sociedade israelense arcaica é a família extensa, incluindo os parentes colaterais, os escravos e os servos. A partir da grande família, várias famílias se agregam formando um clã e mais tarde se agrupando em tribos. Nesse modelo de família, todos os poderes se concentram no patriarca, o pai, que administra o patrimônio familiar e também atua como sacerdote. As famílias e clãs possuem uma forte coesão comunitária que é dada pelos laços de sangue e de parentesco. O que leva a grandes conflitos entre famílias e clãs rivais. 
É sempre bom lembrar que a Bíblia é um documento religioso e, como tal, nos informa muito mais sobre os valores e crenças do povo hebreu do que sobre fatos realmente ocorridos. As genealogias dos patriarcas, famílias e tribos são, com freqüência, fantasiosas; datas e fatos podem ter sentido simbólico e não real; acontecimentos como o dilúvio e os milagres são apenas lendários. Enfim, o historiador tem a obrigação ética de abordar a Bíblia com distanciamento e espírito crítico, separando crença religiosa de conhecimento científico. O materialismo e o ceticismo são atitudes sempre saudáveis no historiador, que deve se esforçar por sempre colocar em questão verdades estabelecidas e falsas evidências
Aula: 13
Temática: Os hebreus antigos: sociedade e política
A invasão da Palestina e a monarquia
De acordo com a narrativa bíblica, os israelitas são descendentes dos escravos hebreus que deixaram a terra de Gessen (ou Goshen), no Egito, numa data incerta. Após o êxodo do Egito, os israelitas invadiram a região de Canaã, destruindo antigas cidades como Jericó e Harzor. Isso ocorreu entre por volta do século XIII a.C. (alguns pesquisadores fixaram a data entre 1230 e 1220 a.C.). Os hebreus não foram os únicos povos que invadiram a Palestina nessa época, tendo havido também as invasões dos filisteus e dos misteriosos “povos do mar”, que desarticularam o império hitita na costa Anatólia e ocuparam cidades litorâneas como Ascalon, Asdod e Gaza. 
Com a tomada de Jericó pelos israelitas liderados por Josué, se inicia um período que vai de 1220 a 1030 a.C., descrito no livro dos Juízes, da Bíblia. 
É um período em que se manteve a organização tribal, sem nenhuma autoridade instituída, a não em períodos de guerra, quando os juízes assumiam o comando das tribos federadas. Na sociedade dos juízes, não havia propriedade privada, nem cidades, nem trabalho compulsório. 
O advento da monarquia significa a passagem dessa sociedade tribal sem poder centralizado para uma monarquia centralizada, a passagem da estrutura aldeia para a estrutura da cidade. Porém, o estado centralizado traz vários inconvenientes, como veremos. A monarquia surgiu a partir da necessidade de enfrentar os ataques dos filisteus, que haviam se estabelecido na faixa de Gaza e ameaçavam os hebreus. Para isso se precisava de um exército e um poder centralizado. 
A Bíblia conta que os anciãos de Israel foram a Samuel, que havia sido um juiz respeitado, e lhe pediram “um rei, que exerça a justiça entre nós, como acontece em todas as nações”. Isso desagradou Samuel, que após consultar Yahveh expôs a todos os inconvenientes da monarquia: o rei mandará convocar os súditospara o seu exército, exigirá deles trabalho compulsório, enriquecerá às suas custas, transformará alguns em servos, cobrará taxas e dízimos para sustentar o seu governo, tomará para si as melhores terras e pastos, enfim, de algum modo todos serão servos do Estado, como ocorria nas sociedades palacianas da mesma época. 
Com o primeiro rei, Saul, escolhido por sorteio, há uma divisão entre as tribos de Israel (ao norte) e as tribos de Judá (ao sul). Israel e Judá entram em guerra, opondo os partidários de Saul e as tribos de Judá sob a liderança de Davi. O jovem rei Davi, com seu carisma e sua habilidade diplomática, conseguiu unificar as tribos rivais, derrotou os filisteus e conquistou a cidade de Jerusalém, que se transformou na capital do reino. 
Apesar de jovem, Davi é muito esperto e sabe usar a religião como fator de unidade política. Trazendo a arca da aliança, Davi cimenta a unidade do seu reino utilizando o prestígio religioso, dizendo-se ungido pela graça de Yahveh. As guerras levadas a cabo por Davi financiaram a construção do palácio e o luxo das construções de Jerusalém. Após a morte de Davi, seu filho, Salomão, levou a monarquia ao máximo esplendor, incentivando o comércio no lugar das guerras e adotando o luxo e o refinamento das realezas orientais. Seu longo reinado (971-931 a.C.) é marcado por um período de paz e prosperidade. Foi Salomão quem construiu o célebre templo de Jerusalém, com o que seguia o caminho de Davi ao selar o poder da monarquia recorrendo ao prestígio religioso. O templo era considerado a casa de Yahveh, que sagrou o rei Davi com seu poder, e cultuar Yahveh era contribuir com o templo. 
A perda da independência política
Após a morte de Salomão, não se conseguiu manter a unidade política da monarquia. As 10 tribos do Norte se separam formando o Reino de Israel (931-721 a.C.), com capital em Samaria. Ao sul, as outras duas tribos restantes formam o Reino de Judá (931-587), com capital em Jerusalém. 
As tribos do Norte acabam se dispersando devido ao domínio assírio e seu reino desaparece. Dessa dispersão surgiram os que na Bíblia são chamados de samaritanos, considerados inferiores pelos israelitas por serem mestiços com estrangeiros. O Reino de Judá sobreviveu por mais algum tempo, até que em 586 a.C. o rei babilônico Nabucodonosor destruísse o templo de Jerusalém, que era o símbolo do deus hebraico e da união entre as tribos. Os hebreus eram continuamente pressionados pelos povos vizinhos e pelos grandes impérios territoriais da época. Até a fundação do Estado de Israel no século XX de nossa era, não haveria um Estado forte e independente na região. A partir de 586 a.C., os hebreus viveriam sob a suserania do império Persa; com as conquistas de Alexandre Magno, que derrota os persas, a partir de 323 a.C. os hebreus passariam a viver sob o domínio do reino helenístico dos selêucidas e a partir de 69 a.C. passam para o domínio romano. 
Nesse caminho, as tribos de Israel acabaram assimilando hábitos, cultura e valores de outros povos, correndo o risco de perder totalmente sua identidade cultural dada pelo monoteísmo e a lei mosaica. A religião sempre foi a grande força da cultura hebraica, o seu fator de união. Daí a importância que para eles tem o livro, o conhecimento e a escrita. Na ausência de unidade política durável e com as diásporas pelas quais o povo hebraico passou no decorrer da história, havia a necessidade de escrever e documentar tudo, deixando uma memória como patrimônio cultural do povo judeu. É essa memória, que constitui um conjunto de tradições escritas e uma história comum que constitui a identidade cultural que caracteriza os demonstrar judeus até a atualidade
Aula: 14
Temática: Os hebreus antigos: religião e identidade cultural
A lei mosaica
Para entender a história dos hebreus, não poderíamos deixar de tratar daquilo que constitui a essência de sua identidade cultural, a saber, a sua religião. 
Agora leia com atenção o texto abaixo. Procure relacionar com o que você já aprendeu sobre as religiões das civilizações antigas:
“Então Deus pronunciou essas palavras: “Eu sou Yahveh teu Deus que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão.
Não eras outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. 
Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Iahveh teu deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e a quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”
Este é o começo do decálogo, que expõe os dez mandamentos fundamentais da lei mosaica. 
No Antigo Testamento, ficamos conhecendo uma nova concepção da divindade, apesar de ter antecedentes, como o culto ao deus-sol Aton no Egito antigo, como já estudamos num dos capítulos dedicados ao Egito. O texto bíblico nos desvela a “personalidade” de Yahveh, um deus irado, ciumento, às vezes cruel, mas que também sabe ser generoso, pródigo e zelar por seus filhos, tal como um bom patriarca hebreu. Trata-se de um deus novo, que tem que se afirmar acima dos outros muitos deuses do próximo oriente daquela época. O cativeiro no Egito é uma ocasião para medir forças e provar a superioridade de Yahveh em relação ao Faraó, que é ele próprio considerado um deus. Como nos mostra a narrativa do Êxodo, Yahveh endurece a vontade do Faraó para, ao mesmo tempo, o seu poderio e fazer o povo escolhido passar por uma provação. Yahveh é o deus que pune e que dá a lei, aquele que fixa uma norma universal de conduta a ser seguida e respeitada para atingir a redenção. O árido caminho de volta à terra prometida é também o caminho da purificação moral. Yahveh revela seus desígnios através da história e não se confunde mais nos fenômenos da natureza. A vontade soberana de Yahveh se manifesta nos dramas imprevisíveis da história dos povos. 
Com esta nova concepção de divindade, a natureza é desdivinizada; os homens são apenas homens e não mais encarnações divinas, o sol é apenas sol, as montanhas apenas montanhas, os ventos apenas ventos e não escondem nenhuma divindade. Yahveh é um deus criador; ele criou o homem, a natureza e tudo o que existe e, por isso, pode suspender as leis naturais conforme a sua vontade. 
Ele próprio é distinto da natureza criada, é o princípio e o fundamento de tudo o que existe. Esta é uma concepção da divindade que se diferencia radicalmente de todos os outros deuses e panteões da Antigüidade e que mais tarde ganharia o mundo, com a expansão do cristianismo e do islamismo, até hoje as maiores religiões monoteístas do mundo.
Resumo – Unidade II
Nesta unidade, estudamos duas civilizações do Oriente próximo: a Mesopotâmia e os hebreus. Muito importantes, pois estão na junção entre o oriente e o ocidente. 
A Mesopotâmia se desenvolveu na região do Crescente fértil (atual Iraque) e a tradição a considera o “berço da civilização”, pois foi lá por volta de 3300 a.C. que foram encontrados os primeiros documentos escritos na história da humanidade. Trata-se de uma civilização urbana e com nível técnico elevado para a época (técnicas de metalurgia). Aqui vale uma observação: do ponto de vista do historiador, não deixa de ter algo de simbólico o fato de haver uma das guerras contemporâneas mais sangrentas precisamente na região onde se acreditava ter nascido a civilização. 
A Mesopotâmia conheceu vários códigos de leis, que são documentos preciosos para que o historiador possa entender o cotidiano, as relações sociais e mentalidades. O mais importante dos códigos de leis foi o de Hammurabi, um monarca que tentou unificar as práticas jurídicas na região. Em seguida, a partir dos códigos, analisamos a estrutura sócio-econômica e a condição dos escravos. Por último, estudamos o desenvolvimento da escrita cuneiforme e a célebre Biblioteca de Assurbanipal, encontrada em 
Nínive e que continha textos como o épico Gilgamesh.Estudamos também a sociedade e a cultura dos hebreus antigos. O documento mais importante para conhecer a sua história é a Bíblia. Os hebreus foram muito influenciados pela cultura mesopotâmica (a Torah guarda semelhança com os códigos de lei mesopotâmicos, como a célebre “lei de Talião”) e egípcia. 
Por falta de um território fixo e de um estado centralizado, a identidade cultural dos hebreus está relacionada com o monoteísmo religioso (Yahveh como o Deus de Abraão, dos patriarcas e profetas) e com a tradição histórica narrada na Bíblia.
Referências Bibliográficas
CARDOSO, Ciro F. Sociedade do Antigo Oriente próximo, São Paulo, Ática, 1995. /Trabalho compulsório na Antigüidade, Rio de Janeiro, Graal, 1984./COOGAN, Michael (Ed.) The Oxford History of the Biblical World, Oxford University Press, 1999./ELIADE, Mircea. Cosmología y alquimia babilônicas, Barcelona, Paidós, 1993./ O conhecimento sagrado de todas as eras, São Paulo, Mercuryo, 1995./KRAMER, Samuel. A história começa em Sumer, Lisboa, Europa-América, 1963./LIVERANI, Mario. Antico Oriente. Storia, società, economia. Roma-Bari: Laterza, 1988. /ZACCAGNINI, Carlo. “Modo di produzione asiatico e Vicino Oriente antico. Appunti per una discussione”. Dialoghi di Archeologia (Roma). III, 1981: 3-65. /PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações, São Paulo, Atual, 1996 /100 textos de História Antiga, São Paulo, Global, 1983
Aula: 15
Temática: Por que estudar a Antigüidade clássica?
O historiador Jean-Pierre Vernant, um dos maiores especialistas em Grécia antiga, situa no texto abaixo o valor do estudo da Grécia antiga para a atualidade:
“Refletindo sobre a Antiguidade, é sobre nós mesmos que eu me interrogava, é nosso mundo que eu punha em questão. Se a Grécia constitui o ponto de partida de nossa ciência, de nossa filosofia, de nossa maneira de pensar [...] explicar historicamente o que se chama de o “milagre grego”, descobrir seu porquê e seu começo, é buscar situar nossa própria origem no lugar que lhe corresponde no curso da história humana, ao invés de fazer dessa origem um absoluto, uma revelação ao mesmo tempo universal e misteriosa [...] 
Esta tarefa científica nos obriga a tomar distância em relação a nós mesmos, a nos observar com o mesmo desapego, a mesma objetividade que teríamos face ao outro e, por isso mesmo, a melhor compreender o que nós somos” .
História Antiga e poder
Por permitir que possamos conhecer melhor a nós mesmos, através do estudo de nossas origens, como ressalta Vernant, é que o estudo da Antigüidade clássica é importante. Mas devemos tomar cuidado para não pensar nas civilizações clássicas como superiores às outras culturas antigas. Cada cultura tem suas especificidades e se constitui a partir do intercâmbio e da assimilação de técnicas, crenças e valores de outros povos. Mas no caso de Grécia e Roma, foi feita toda uma construção ideológica por parte de alguns pesquisadores do século XIX, a fim de legitimar o colonialismo europeu através dos estudos clássicos. De que forma isso aconteceu? 
No início do século XIX foi criada a disciplina acadêmica que se conhece como Altertumswissenschaft (ciência da Antigüidade) na Alemanha e simplesmente como Classics nos países anglo-saxônicos ou como Estudos Clássicos para os de língua portuguesa. A ciência da Antigüidade se instituiu devido ao desenvolvimento da filologia clássica e da arqueologia na Europa. 
O início do século XIX é um momento em que os Estados-nações europeus procuram se legitimar recorrendo ao seu passado histórico. É por isso que, com freqüência, o século XIX é conhecido como o “século da história”, pela importância que o conhecimento do passado adquiriu nessa época. 
É nesse contexto que se desenvolve o chamado “modelo ariano”, segundo o qual a Europa teria sido invadida por tribos de conquistadores brancos, que falavam línguas indo-européias. Esses invasores teriam submetido facilmente as populações autóctones que habitavam a Europa e dado origem às mitologias dos vários povos europeus (os mitos de vários povos – vikings, finlandeses, germanos, celtas, gregos e romanos – efetivamente possuem analogias formais e todos esses povos falam línguas derivadas do tronco indo-europeu). O “modelo ariano” fornece subsídios ao racismo e ao colonialismo ao sugerir que os arianos invasores eram “racialmente puros” e que sua superioridade natural os fez vencer facilmente as populações locais. 
O “modelo ariano” ajudou a legitimar o colonialismo europeu, defendendo através de supostas evidências históricas a superioridade dos brancos colonizadores sobre os nativos da Ásia e da África. Desta forma a exploração e a brutalidade a que estes povos estavam submetidos ficava disfarçada atrás da suposta “missão civilizadora” dos europeus; os nativos eram considerados o “fardo do homem “branco, responsável por lhes transmitir os valores da civilização.
Assim, as civilizações clássicas (Grécia e Roma) eram vistas como brilhantes e superiores, resultado dos conquistadores brancos, enquanto as civilizações orientais (Mesopotâmia, Pérsia, Fenícia) e norte-africana (Egito) eram vistas como estagnadas e decadentes, fadadas ao fracasso histórico. 
Já vimos nos capítulos anteriores como o “modelo ariano” contribui para legitimar o racismo e o sistema de castas na Índia e também como a chamada “hipótese causal hidráulica” estigmatizava civilizações como o Egito, a Mesopotâmia e a China rotulando-as sob o termo “despotismo asiático”. Hoje, essa hipótese, é altamente questionável e muitos pesquisadores a rejeitam totalmente. 
Como mostraram grandes antropólogos como Lévy-Strauss, não existem culturas puras ou racialmente homogêneas. A civilização é resultado das trocas culturais, da mistura de valores e da miscigenação étnica entre diversos povos diferentes, pois o homem é, acima de tudo, um ser social que se comunica e continuamente estabelece alianças e trocas com outros grupos humanos. Assim, as civilizações clássicas não poderiam ser exceções a essa regra. Grécia e Roma se desenvolveram a partir de intensos intercâmbios, durante séculos, com os egípcios, os mesopotâmicos, os hititas, os persas e muitos outros povos. Dessa mistura surgiram as grandes civilizações mediterrânicas que conhecemos. A Grécia antiga foi um verdadeiro caldeirão étnico no Mediterrâneo oriental. Se conseguiram construir uma civilização brilhante, que até hoje nos impressiona, foi por estarem abertos aos valores e contribuições dos outros povos e não por manterem uma suposta “pureza”. 
Enquanto historiadores, devemos tomar muito cuidado com os conteú-dos ideológicos que “sobredeterminam” o discurso do historiador sobre o passado. A disciplina de história sempre teve uma relação muito ambígua com o poder. 
A narrativa escrita pelo historiador, mesmo que seja sobre o passado mais remoto, sempre reflete o momento histórico em que o próprio historiador está escrevendo, os valores, preconceitos e preocupações de sua época. Por isso é muito importante que o estudante de história treine diariamente para analisar criticamente as obras históricas que fazem parte da sua formação, sabendo que nenhum discurso é expressão da verdade histórica.
Aula: 16
Temática: A civilização micênica (I)
No segundo milênio antes da nossa era, floresceram no Mediterrâneo oriental a civilização minóica, centrada na ilha de Creta, e a civilização micênica, na Grécia continental e na Ásia Menor. São civilizações da Era do Bronze (os primeiros vestígios da utilização do ferro nesta região datam de aproximadamente 1100 a. C.), portanto com um nível técnico ainda rudimentar, mas com uma cultura rica e original. 
Os pesquisadores costumam dividir a Grécia arcaica em três regiões diferentes, cada uma com sua periodização própria
Em Creta (Jônia) No Continente (Grécia continental)
2800-2100 Heládico Antigo 2500-1900
2100-1580 Heládico Médio 1900-1580
1580-1100 Heládico recente 1580-1100
Nas ilhas do Mar Egeu (Grécia insular)
Cicládico Antigo
Cicládico Médio
Cicládico Recente
A Península Balcânica, onde se situa a Grécia, é marcada por uma costa muito recortada

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