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3º PERÍODO ARTES VISUAIS Eduardo Junio Santos Moura Igor Hemerson Coimbra Rocha ARTE E EDUCAÇÃO Montes Claros - MG, 2010 ARTES VISUAIS 3º PERÍODO Eduardo Junio Santos Moura Igor Hemerson Coimbra Rocha ARTE E EDUCAÇÃO 2010 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 REITOR Paulo César Gonçalves de Almeida VICE-REITOR João dos Reis Canela DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota Andréia Santos Dias Bárbara Cardoso Albuquerque Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Gisele Lopes Soares REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Jéssica Luiza de Albuquerque Maria Leda Clementino Marques Karina Carvalho de Almeida Rogério Santos Brant REVISÃO TÉCNICA Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida IMPRESSÃO, MONTAGEM E ACABAMENTO PROJETO GRÁFICO E CAPA Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Alcino Franco de Moura Júnior - Coordenação CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Aécio Neves da Cunha Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Paulo César Gonçalves de Almeida Vice-Reitor da Unimontes João dos Reis Canela Pró-Reitora de Ensino Maria Ivete Soares de Almeida Coordenadora da UAB/Unimontes Fábia Magali Santos Vieira Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor de Documentação e Informações Giulliano Vieira Mota Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Mércio Coelho Antunes Chefe do Departamento de Artes Coordenadora do Curso de Artes Visuais a Distância Maria Elvira Curty Romero Christoff AUTORES Eduardo Junio Santos Moura Especialista em História da Arte pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), graduado em Educação Artística / Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professor do Departamento de Estágios e Práticas Escolares da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Desenvolve pesquisas sobre “Os espaços para o Ensino da Arte na Educação Básica em Montes Claros - MG” e sobre “Mostras, Salões e Exposições de Artes Visuais em Montes Claros – MG 1960-2006”. Coordenador Didático do Curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Igor Hemerson Coimbra Rocha Mestre em Etnomusicologia pela UFPB; Especialista em Arte-educação e Graduado em Música (Licenciatura) pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes; Técnico em Violão-Clássico pelo Conservatório Lorenzo Fernandez; Professor do Departamento de Artes/Musica – Unimontes, Coordenador do Curso de Extensão em Música, integrante da Camerata de Violões da Unimontes, do Curso de Artes - Licenciatura em Música da Unimontes; Desenvolve pesquisa em Manifestações Tradicionais da Cultura Montes-clarense e em Música Brasileira Popular. Na UAB já atuou como professor formador das disciplinas Arte e Cultura Popular e Metodologia Científica do Curso de Licenciatura em Artes Visuais. SUMÁRIO DA DISCIPLINA Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 UNIDADE I – História da Arte-educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.1 Refletindo sobre a Arte na Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 História da Arte-educação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3 Principais tendências pedagógicas no Ensino da Arte no Brasil. 19 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 UNIDADE II – Teorias e Práticas da Arte-educação Contemporânea . 25 2.1 A Proposta Triangular no Ensino da Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2 O Ensino de Arte e a Cultura Visual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3 O Ensino de Arte e a Interculturalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.4 O Ensino de Arte e as Tecnologias Contemporâneas . . . . . . . . 33 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 UNIDADE III – Arte-educação e o inter-relacionamento com outras áreas de ensino e a comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.1 Arte-educação retomando o debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.2 Arte-educação e a Multiculturalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.3 Arte-educação e o inter-relacionamento com outras áreas. . . . 43 3.4 Arte-educação e a sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 UNIDADE IV – Pesquisa em Arte-educação no Brasil . . . . . . . . . . . . 53 4.1 A Pesquisa em Arte-educação: Desafios e Realizações. . . . . . . 53 4.2 Contribuições da Pesquisa na Reformulação e Democratização do Ensino de Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 4.3 Linhas de Pesquisa em Arte-educação e Artes Visuais . . . . . . . 60 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . . . . 73 Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 APRESENTAÇÃO 7 Prezado(a) Acadêmico(a), Seja bem-vindo aos estudos do conteúdo da Disciplina ARTE- EDUCAÇÃO do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Aberta do Brasil – UAB/Unimontes. A disciplina que iniciaremos terá uma carga horária de 75 horas e buscará uma reflexão sobre os aspectos históricos, sociais, políticos, psicológicos e estéticos da Arte-educação no Brasil, discutindo as pesquisas em Arte-educação, bem como a inter-relação entre esta e outras áreas do conhecimento, comparando ideias de Arte-educadores e suas concepções. Para uma melhor compreensão dos temas em estudo, dividimos o conteúdo em Unidades Didáticas que nortearão as nossas discussões nas ramificações acerca do tema Arte-educação. Na Unidade I, conheceremos sobre a história da Arte-educação, fazendo um passeio pela evolução desta área de conhecimento e os reflexos sociais e políticos desta na educação brasileira. Na Unidade II, iremos aprofundar estudos acerca das teorias e práticas que fundamentam a Arte-educação na Contemporaneidade, onde conheceremos alguns Arte-educadores e suas ideias acerca do ensino da arte hoje, comparando estas ideias e buscando compreendê-las de maneira crítica e reflexiva. Na Unidade III, buscaremos relacionar o campo de conhecimento da Arte com outras disciplinas do currículo da Educação Básica, de forma a compreender a interdisciplinaridade existente entre estas. E, finalmente, na Unidade IV, faremos uma investigação sobre a evolução da Arte-educaçãono Brasil, levantando as pesquisas realizadas na área como meio de produção de conhecimento científico, refletindo sobre as contribuições da pesquisa para a reformulação e democratização do ensino de arte. Como em outros momentos dessa nossa trajetória, no Curso de Artes Visuais (Licenciatura) estaremos pautados por uma abordagem dos conteúdos aqui apresentados de forma a aliar produção de conhecimento e reflexão sobre essa produção, sempre tentando construir um caminho para a melhor compreensão dos temas em estudo. Dessa forma, uma postura crítica e reflexiva será imprescindível ao longo dessa nossa jornada. 8 Buscaremos encaminhar teoria e prática harmoniosamente de forma a proporcionar um maior rendimento na construção dos conhecimentos pertinentes à disciplina, que tem como objetivos: Geral: Propiciar uma visão crítica e reflexiva acerca da Arte-educação, compreendendo sua evolução e seus mútiplos aspectos na contemporaneidade. Específicos: Conhecer a evolução histórica da Arte-educação no Brasil e as tendências pedagógicas que a marcaram; Analisar criticamente e refletir sobre as teorias e práticas que fundamentam a Arte/Educação contemporânea; Relacionar o campo de conhecimento da Arte com outras áreas de conhecimento de forma a compreender a interdisciplinaridade; Identificar a relevância da pesquisa em Artes, considerando as especificidades das investigações em Artes Visuais. Os ícones abaixo acompanham todo o texto, tendo cada um deles uma importância ao indicar uma ação a ser realizada ou uma de nossas sugestões durante nossos estudos, veja: Textos, livros, vídeos, filmes e páginas da internet serão indicados ao longo dos nossos estudos, pois estes são de grande importância e contribuirão significativamente para nossas discussões. Essas dicas são recursos que podem ser explorados individualmente ou em grupos de estudo, de modo que promovam a investigação dos temas em estudo. Isso faz uma grande diferença na aprendizagem. Após essa apresentação do caminho que i remos explorar, esperamos que você esteja estusiamado pelo início de nossos estudos. Vamos lá! Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período DICAS ATIVIDADES PARA REFLETIR C F E A B GGLOSSÁRIO 9 Lembre-se sempre que em todos os momentos estaremos juntos com você para o que precisar, afinal de contas somos parceiros nessa aventura que está apenas começando. Bons estudos e conte com a nossa colaboração, sempre! Prof. Eduardo Moura Prof. Ms. Igor Coimbra Arte e Educação UAB/Unimontes 11 1 INTRODUÇÃO Ao pensarmos na formação inicial do Arte-educador, consideramos de suma importância conhecer a história e a evolução de seu campo de atuação, acreditando que, ao saber o que veio antes, será possível refletir sobre tais acontecimentos e poder se posicionar criticamente frente aos desafios que a área encontra atualmente. A Arte-educação é uma área de conhecimento em ascensão e se encontra num momento de efervescência que permite debater sobre sua evolução identificando as dificuldades, bem como as possibilidades de crescimento da área. Em face do exposto, buscaremos nesta unidade conhecer sobre a História da Arte-educação, identificando aspectos de ordem social, política, estética e psicológica ao longo dessa evolução e as principais tendências pedagógicas que marcaram o ensino da arte no Brasil. Dessa forma a Unidade I tem como objetivo: Objetivo específico: ?Conhecer a evolução histórica da Arte-educação no Brasil e as tendências pedagógicas que a marcaram; 1.1 REFLETINDO SOBRE A ARTE NA EDUCAÇÃO Para darmos início a essa nossa incursão pelo mundo da Arte na Educação escolar, consideramos importante refletirmos sobre alguns questionamentos que certamente rondam nossa mente, quando pensamos nas relações entre Arte e Educação. Você já parou para pensar nas relações existentes entre Arte e Educação? Você já pensou por que ensinar Arte na Escola? Por que nossas crianças e jovens precisam aprender Arte na Escola? Qual a importância da Arte na Educação? Ou simplesmente: O que é Arte? O que é Educação? Esses, bem como outros questionamentos, servirão de base para nossas discussões ao longo dessa nossa jornada e para a compreensão de algumas dessas perguntas devemos conhecer um pouco do histórico do Ensino da Arte na Educação. 1UNIDADE 1HISTÓRIA DA ARTE-EDUCAÇÃO 12 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período 1.2 HISTÓRIA DA ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL A Arte-educação no Brasil vive um período de efervescência e transformações de ordem metodológica, filosófica e conceitual. Mas, para que chegássemos a esse ponto, alguns fatos nessa merecem ser relembrados e discutidos neste curso. A retomada aqui, mesmo que brevemente, do histórico da Arte- educação no Brasil será importante para que possamos compreender as transformações verificadas na contemporaneidade. Os primeiros indícios de ensino de arte, em um espaço de educa- ção formal, verificamos ainda no início do século XIX, em 1816, com a vinda para o Brasil da Missão Artística Francesa. Dom João VI (Figura 1) criou no Rio de Janeiro a Academia Imperial de Belas Artes que, após a Proclamação da República (Figura 2), em 15 de novembro de 1889, passou a ser chamada de Escola Nacional de Belas Artes. DICAS Para as discussões acerca destes questionamentos sugerimos que você leia o texto: “Como a Arte Educa?” do livro ‘Fundamentos Estéticos da Educação’ do autor João Francisco Duarte Jr. ATIVIDADES Antes de iniciarmos nossa viagem pelo histórico do ensino da Arte no Brasil, solicitamos que você faça uma viagem pela sua história relacionada ao ensino da Arte em particular e relate em nosso Ambiente de Aprendizagem - Virtualmontes, respondendo à pergunta: Como foram as suas aulas de Arte na educação básica? A partir dos relatos postados faremos uma discussão sobre a evolução da Arte na educação escolar. Figura 01: Dom João VI e Carlota Joaquina. Retrato de Manuel Dias. Fonte: Domínio Público Figura 02: Benedito Calixto. Proclamação da República, 1893. Óleo sobre tela. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Fonte: www.pinacoteca.org.br 13 Arte e Educação UAB/Unimontes Artistas europeus que vieram para o Brasil ensinavam desenho e pintura na Academia Imperial pautando-se pela cópia fiel de modelos vindos da Europa, conforme atestam os autores abaixo: (...) em Minas Gerais, vivia naquele tempo a explosão do Barroco, mas o Neoclassicismo trazido pelos franceses é que foi assumido pelas elites e classes dirigentes como o que havia de mais "Moderno". A arte adquiriru a conotação de luxo, somente ao alcance de uma elite privilegiada que desvalorizava as manifestações artísticas que não seguiam esses padrões. (MARTINS, PISCOSQUE, GUERRA, 1998, p. 11) Ainda em meados do século XIX, verificam-se matérias com caráter artístico no currículo das escolas públicas brasileiras, como por exemplo, em 1854 um Decreto Federal que institui o ensino de música na escola, enfo- cando noções básicas de música e canto. A história do ensino de arte no Brasil é marcada pelo ensino do desenho com valorização do produto em detrimento do processo e tendo o professor como aquele que tudo sabe, detentor de todo o conhecimento e o aluno como aquele que nada sabe e está relegado a produzir cópias de paisagens européias sem qualquer preocupação com a cultura pátria. Nessa mesma época surgiram algumas disciplinas que se dividiam em aulas para meninos e aulas para meninas. De forma pejorativa, precon- ceituosa e excludente, eram ensinadas para as meninas Artes Domésticas - trabalhos manuais como bordado, tricô, e aulas de etiqueta - e para os meninos, Artes Industriais - marcenaria, carpintaria e serralhe- ria. A partir do século XX e,principalmente, com a Semana de Arte Moderna de 1922 (Figura 3), o ensino da arte começa a escrever uma nova história com base nas ideias dos teóricos do movimento denominado Escola Nova, vindo dos Estados Unidos e Europa, que por lá já era difundido desde o final do Século XIX, mas que por aqui só chegara em meados do século XX, décadas de 50 e 60. Figura 3. Cartaz de Di Cavalcante para a Semana de Arte Moderna de 1922. Fonte: www.itaucultural.org.br 14 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período As ideias de teóricos como John Dewey tiveram forte influência sobre os educadores brasileiros que por aqui desenvolviam trabalhos com o ensino de arte, como: Nereu Sampaio (Rio de Janeiro), Artus Perrelet (Minas Gerais), José Scarameli (Pernambuco). Vêm desse período as primeiras investigações sobre a criança em sua expressão at ravés do desenho. A arte infantil passa a ser explorada como livre expressão, para que se busque compreender seus processos mentais, inteli- gência e psicologia. Nessa corrente de pensamento, em 1948 é criada no Rio de Janeiro a primeira “Escoli- nha de Arte”. O número de instituições desse tipo no Brasil chegou a 32 escolas. A n i t a M a l f a t t i (Figura 4), artista participan- te da Semana de Arte Moderna de 22, dirigiu cursos para crianças onde tentava desenvolver métodos de desenho influenciados pelas ideias de John Dewey: uma pedagogia centrada no aluno e na valorização do processo do trabalho. Dewey tinha como tema: “a criança aprende a fazer, fazendo”. A década de 1970 é marcada por dois fatos de grande relevância para a Arte-educação no Brasil. Primeiro, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 5692/71 que determina que a Educação Artística deva ser componente curricular obrigatório na Educação de 1° e 2° Graus, criando assim a figura de um professor de arte que deveria abordar, em suas aulas, conteúdos de Artes Plásticas, Música e Teatro, dominando-os de forma competente. Essa inserção do ensino de arte na educação não favoreceu muito a área, pois não existia no Brasil um curso superior que formasse professores para atuação nas escolas. Daí vem o segundo fato importante, que é justamente a criação do primeiro curso de Graduação em Educação Artística. Um curso insuficiente, denominado de “Licenciatura curta em Educação Artística” que veio, segundo Barbosa: (...) produzindo professores inócuos, uma vez que os administradores pretendem em dois anos um professor que Figura 04: Anita Malfatti. Auto-retrato. Pastel sobre papelão. Coleção Universidade de São Paulo - USP. Fonte: www.mac.usp.br PARA REFLETIR Retome seu material da Disciplina História da Educação e busque conhecer mais sobre as LDB no Brasil e reflita sobre suas contribuições para a educação. 15 Arte e Educação UAB/Unimontes por lei (5692/71) ensinará, obrigatoriamente e ao mesmo tempo, Artes Visuais, Música e Teatro a alunos de primeira a oitava séries e até mesmo no segundo grau. Esse fato é, contudo um exemplo bastante claro da cópia de modelo estrangeiro. A chamada polivalência é, na verdade, uma visão reduzida e incorreta do princípio da interdisciplinaridade ou artes relacionadas, muito popular nas escolas americanas nos últimos dez anos (BARBOSA, 2001, p. 48). O legado da reforma educacional da década de 1970 para a Arte- educação no Brasil é desastroso. Ainda hoje as aulas de arte são confundidas com o horário do passatempo, da terapia, hora de relaxar, momento de descansar das matérias ‘pesadas’, o momento de decorar a escola para as datas comemorativas, de colorir os desenhos mimeografados, de confeccionar o presente do dia das mães e pais, etc. Na década de 1980, veremos a retomada de movimentos de organização de educadores, em especial o Movimento de Arte-educadores. O movimento, que havia surgido ainda na época da repressão, buscava discus- sões conceituais e estruturação de forças para a promoção da Arte-educação escolar. O termo Arte-Educação, a meu ver, foi introduzido naquele momento como forma de diferenciação da nomenclatura "educação artística" utilizada pela LDB, e com intuito de aglutinar as pessoas com formação nas diferentes linguagens artísticas em torno de uma bandeira comum: a defesa da qualidade no ensino da arte e a luta contra a chamada ‘polivalência’ (RICHTER, 2008, p. 323). Em 1980, a Professora Ana Mae Barbosa promoveu a primeira Semana de Arte e Ensino, realizada em São Paulo, com o objetivo de discutir os desafios para o ensino da arte no Brasil. Ana Mae Barbosa é a primeira Doutora em Ensino de Arte no Brasil e quem iniciou as pesquisas nesse campo, buscando elaborar uma proposta para o ensino de arte que levasse em conta as necessidades educacionais e, principalmente, culturais de nosso país. No final da década de 1980, Barbosa elabora a chamada, inicialmen- te, Metodologia Triangular para o Ensino da Arte, com focos no fazer arte, leitura da obra de arte e contextualização. Aprofundaremos nesse tema, quando estudarmos as propostas contemporâneas para o ensino da arte. Ainda na década de 1980, exatamente em 18 de setembro de 1987, foi fundada a FAEB - Federação de Arte-educadores do Brasil, realizando até hoje, anualmente, o maior encontro de profissionais da área, o CONFAEB - Congresso Nacional da Federação de Arte-educadores do Brasil e que colocou em pauta as discussões sobre a obrigatoriedade do ensino da arte nas escolas. 16 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Em 20 de dezembro de 1996, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, que estabelece em seu Artigo 26, Parágrafo 2°: “O ensino de arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.” E logo em seguida, em 1998, foram elaborados os PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais - Arte (Séries Iniciais do Ensino Fundamental, Ensino Fundamental e Ensino Médio), além do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Iniciados ainda na década de 1980 e com maior fôlego na década de 1990, as preocupações com o ensino da arte buscam suportes conceitua- is e metodológicos para se fundamentar e ocupar um espaço legítimo na educação básica escolar. Os PCN identificam a Arte no currículo escolar como área de conhecimento com metodologias, didática, conteúdos e avaliação próprios, desfazendo a ideia de que esta seria apenas uma atividade e reconhecendo a arte como ‘conhecimento fundamental’ para a educação escolar. A manifestação artística tem em comum com outras áreas de conhecimento um caráter de busca de sentido, criação, inovação. Essencialmente, por seu ato criador, em qualquer das formas de conhecimento humano, ou em suas conexões, o homem estrutura e organiza o mundo, respondendo aos desafios que dele emanam, em um constante processo de transformação de si e da realidade circundante (BRASIL, 1998, p. 30). (...) arte é importante na escola, principalmente porque ela é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem e através de tempos, arte é um patrimônio Figura 05: Site da FAEB - Federação de Arte-Educadores do Brasil. Fonte: www.faeb.art.br DICAS Para conhecer melhor a FAEB e o CONFAEB acesse: http://www.faeb.art.br 17 Arte e Educação UAB/Unimontes cultural da humanidade e todo ser humano tem direito de acesso a esse saber (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998, p. 13). Uma das preocupações dos PCN/Arte foi exatamente pensar o ensino de arte em uma perspectiva de articulação dos três eixos ou campos conceituais, preconizada por Barbosa (1989): o fazer artístico / criação / produção; a leitura da obra de arte / apreciação / percepção / analise; e o conhecer arte / contextualizar históricoe culturalmente. Esses três eixos se articulam ao longo da proposta dos PCN/Arte, sendo denominados de produção, fruição e reflexão. Podemos destacar alguns pontos-chave da proposta dos PCN/Arte: 1. Identificação da área por "Arte", substituindo o termo Educação Artística utilizado até então; 2. Classificação da Arte como disciplina com conteúdos, metodolo- gia, didática e avaliação própria e não como uma atividade curricular; 3. Inclusão da educação estética, ou seja, o desenvolvimento da capacidade de analisar criticamente a cultura e seu entorno; 4. Estudo de diferentes códigos culturais - multiculturalismo - e não somente os códigos dominantes; 5. Integração do fazer artístico, a leitura da obra de arte e sua contextualização. Apesar de seus mais de 10 anos de elaboração, os PCN/Arte ainda são uma polêmica por vários motivos. Ao ler o documento, inicialmente, muitos Arte-educadores não o compreenderam e não sabiam o que fazer com ele. Outros ignoraram completamente vendo-o como mais uma imposição governista à escola. Alguns teóricos não deram a importância devida ao documento, alegando que o governo brasileiro convidara um espanhol - César Coll - para elaborar uma proposta para uma realidade cultural avessa à do autor. Além de outros comentários, como: o documento não leva em conta a realidade da escola brasileira; esse documento é obrigatório?; o que as escolas podem fazer com este documento?; como seguir o que propõe o documento considerando a realidade da escola brasileira?; permanece no documento a tão combatida polivalência?; etc. Por um lado podemos afirmar que os PCN/Arte foram um avanço para a Arte-educação no sentido em que coloca a Arte no currículo escolar como área de conhecimento e em pé de igualdade com todas as outras disciplinas escolares. Já por outro lado, podemos perceber que as políticas educacionais brasileiras ainda são mesquinhas e a luta pelos espaços é acirrada, pois de nada vale colocar a Arte em pé de igualdade com as outras disciplinas escolares - no documento - e não garantir o espaço real para a Arte na escola com estrutura adequada e professores com formação específica; é o mínimo que a disciplina pode exigir e que é um direito legítimo. DICAS Leia o documento PCN - Arte na íntegra no endereço: http://www.mec.gov.br Figura 06: PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais Fonte: www.mec.gov.br 18 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Atualmente as propostas curriculares têm se estruturado de forma que, baseados nos PCN/Arte, cada Estado tem apresentado uma proposta, guardando as características e a realidade específicas. Em Minas Gerais, desde 2004, vêm sendo realizadas discussões com professores de Arte e gestores, que culminaram na Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais, que vem sendo implantada desde 2006, priorizando os CBC - Conteúdos Básicos Comuns - Arte (Ensino Fundamental e Ensino Médio), como parte do PDP - Programa de Desenvolvimento Profissional. Segundo os autores/colaboradores da proposta, a Professora Drª. Lúcia Gouvêa Pimentel, o Professor Dr. Evandro José Lemos da Cunha e o Professor José Adolfo Moura, ao elaborar a proposta duas ordens de preocu- pação se evidenciaram: 1° Colocar o ensino da arte no seu verdadeiro caminho em que a criação ordenada e ordenadora contribua para o desenvolvimento integral dos jovens, enriquecendo todo indivíduo que dela fizer uso; 2° Propor um programa exequível, disposto de maneira simples, mas capaz de sintetizar em diferentes módulos as inúmeras possibilidades da criação artística frente às novas tecnologias disponíveis no mundo contempo- râneo. A Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais vem sendo implantada ainda, com discussões entre os professores de arte e os autores da proposta através do CRV - Centro de Referência Virtual do Professor, um ambiente dinâmico que proporciona o debate produtivo e a troca de experiências. Talvez ainda falte um pouco mais de envolvimento dos profissionais numa mudança cultural em que se perceba que esta e, consequentemente, as melhorias no ensino da arte dependem de cada um fazer a sua parte com empenho e competência. DICAS Para conhecer melhor a Proposta Curricular para o Ensino de Arte do Estado de Minas Gerais visite o sítio: http://crv.educacao.mg.gov.br Figura 07: CRV - Centro de Referencia Virtual do Professor. Fonte: www.educacao.mg.gov.br 19 Arte e Educação UAB/Unimontes 1.3 PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DA ARTE NO BRASIL Como vimos no tópico 1.2 História da Arte-Educação no Brasil, tal histórico nos mostra que a Arte-educação passou por grandes transforma- ções, principalmente no que diz respeito às tendências pedagógicas, ou seja, no modo com que os professores desenvolvem sua prática docente em Arte. Através desse histórico podemos identificar que até hoje alguns resquícios da ‘Educação Artística’ ainda se faz presente nas práticas de muitos professores. Conheceremos aqui as principais tendências pedagógicas no ensino da Arte no Brasil apontadas por alguns autores como Fusari e Ferraz (1993), Barbosa (1978) e Lavelberg (2003). 1.3.1 O Ensino de Arte e a Escola Tradicional Esta é a mais antiga das tendências pedagógicas no ensino da arte e traz consigo as marcas da República, bem como de toda a tradição da Academia Imperial de Belas Arte. Presente nas primeiras décadas do século XX, essa tendência apresenta o ensino da arte como Desenho (decorativo, geométrico e do natural) baseado na cópia e repetição de modelos, valorizando traços e contornos. ATIVIDADES Antes de prosseguirmos, solicitamos que você reveja o relato que postou em nosso ambiente sobre suas aulas de Arte e, ao longo de nossos estudos, sobre as principais tendências pedagógicas. Procure perceber em qual ou quais das tendências pedagógicas que veremos, está presente na prática pedagógica do professor de arte que você teve em sua trajetória escolar na educação básica. Figura 08: Academia Imperial de Belas Artes. Fonte: Foto: Marc Ferrez, 1891. 20 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Nessa concepção, o professor de arte é detentor de todo o saber e seu aluno é mero receptor das informações que ele ‘transmite’ através de atividades pautadas pelo ‘fazer’ e que buscam um produto final do trabalho. O objetivo das aulas era exercitar a visão, a memória, mãos e inteligência, sendo os conteúdos tratados como verdades absolutas. A música era trabalhada através do canto e o teatro era feito em datas comemorativas do calendário escolar. Essa concepção de Arte-educação ainda persiste nas escolas brasileiras, sendo comum vermos a utilização de desenhos mimeografados, livros para colorir, desenho de ornamentos, desenhos geométricos, peças teatrais onde os alunos decoram textos em separado e nas apresentações cada um espera sua ‘hora de entrar’, etc. Existe já nessa tendência uma inclinação para a formação de mão de obra e preparação para o mundo do trabalho. 1.3.2 O Ensino de Arte e a Escola Nova Nessa tendência perceberemos uma concepção modernista de Arte-educação, influenciada pelo Movimento da Escola Nova, que tem origem nas ideias educacionais vindas da Europa e Estados Unidos. A Escola Nova se dissemina no Brasil nas décadas de 1950 e 1960 e no ensino da arte parte da ideia de livre-expressão, preocupação com o processo do trabalho e não com o produto e, ainda, o inicio das pesquisas sobre a psicologia da aprendi- zagem tendo o seu foco na criança. Augusto Rodrigues (Figura 10), arte-educador brasileiro, criou a Escolinha de Arte do Rio de Janeiro (1948) influenciado pela ideias de John Dewey (Figura 9), Viktor Lowenfeld e Herbet Read. Estruturada nos modelos e princípios da ‘Educação Através da Arte’, AugustoRodrigues buscava compreender a criança em seu aspecto global, “basea- do na expressão da liberdade criadora individual e no papel do indivíduo na sociedade.” Iavelberg (2003, p. 113). Figura 09 John Dewey, Filósofo e Educador Americano (1859-1952) Fonte: www.encarta.msn.br 21 Arte e Educação UAB/Unimontes O professor, nesta concep- ção, era aquele que iria orientar os seus alunos em seus interesses, liberando sua expressividade com ênfase no processo. Professor e aluno aprendem juntos e definem juntos os conteúdos a serem estudados. (Figura 11) No Brasil, essa proposta não foi bem compreendida e muitas vezes foi confundida com o pensamento errôneo de que, se o aluno quer aprender tem um professor para facilitar e se não quer, o professor não tem estratégias para incentivá-lo e, em muitos casos, a aula de arte, nessa perspectiva, era um fazer por fazer sem fundamentos teóricos, deturpando a ideia preconizada por Dewey de ‘aprender a fazer, fazendo’, baseado na experiência. 1.3.3 O Ensino de Arte e a Escola Tecnicista Esta tendência surge com a aprovação da LDB 5692/71 que inclui a arte no currículo escolar como ‘atividade educativa’. A falta de embasamento conceitual e metodológico faz com que professor e aluno e seus interesses educacionais fiquem em segundo plano, sendo apoiados por livros didáticos de má qualidade que visavam a prepara- ção dos indivíduos para o mercado de trabalho. O papel do professor é neutro, cabe a ele ensinar as técnicas do ‘fazer’, utilizando-se de recursos tenológicos e audiovisuais, copiando modelos prontos, com objetivo de exercitar as habilidades manuais, coordenaçao motora e o saber construir. Figura 10: Augusto Rodrigues. Recife - PE, 1913-1993. Fonte: www.museus.art.br Figura 11: Dewey School, Chicago. Fonte: The Bettmann Archive / Corbis. 22 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período É perceptível aqui o emprobrecimento da proposta de ensino de arte nesta perspectiva, em relação à concepção modernista de ensino de arte, adotando a arte na escola como um momento de atividade de recreação e descanso das disciplinas ditas ‘sérias’. 1.3.4 O Ensino de Arte na contemporaneidade A partir da década de 1980, com as pesquisas da arte-educadora brasileira Ana Mae Barbosa e sua Proposta Triangular para o ensino da arte, muitas discussões foram sendo feitas, buscando novas concepções da arte e seu ensino. Muitos são os conceitos associados às diferentes terminologias e trajetória histórica, segundo Barbosa (2002, p. 22): “Arte-educação, Educa- ção Artística, Educação Através da Arte, Ensino da Arte ou Ensi- no/Aprendizagem da Arte, Arte, Artes Plásticas, Artes Vsuais ,etc.”; porém o que é importante ressaltarmos nesse campo é que o foco das ações no ensino da arte na contemporaneidade passa da superficial educação artística para uma educação artística e estética com o objetivo de formar sujeitos mais críticos, sensíveis, conscientes de seu papel de cidadão e transformador na sociedade em que vive. Na década de 1990, a LDB 9394/96 define a arte como compo- nente curricular obrigatório; os PCN/Arte definem as quatro lingua- gens da arte: artes visuais, dança, música e teatro como objetos de estudo a partir dos três eixos de aprendizagem: produzir, apreciar e refletir, colocando ainda os temas transversais (meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, orientação sexual, ética, trabalho e consumo), como temas a serem trabalhados de forma interdisciplinar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram propostos como diretrizes pedagógicas e considerados um referencial importante para a educação escolar no país, por seu compro- misso de assegurar a democratização e um ensino de qualidade para todos os estudantes. Analisando os documen- tos e observando o cuidado com seu detalhamento, vê-se que o texto em geral engloba ideias, premissas, procedimen- tos e conteúdos condizentes com as teorias e práticas contemporâneas, e tem como direcionamento tanto os conhecimentos próprios das áreas componentes do currícu- lo, como os saberes considerados fundamentais para o fortalecimento da identidade e formação do cidadão (FERRAZ , FUSARI, 2009, p. 57). Figura 12: Ana Mae Barbosa, Arte-educadora. Fonte: www.poseca.fapesp.br 23 Arte e Educação UAB/Unimontes Atualmente, graças a essas mudanças ocorridas no ensino da arte ao longo desse processo histórico, muitos são os conceitos e métodos adotados, sempre levando em consideração os eixos da aprendizagem (produção, fruição, reflexão) que estão presentes nos PCN/Arte e preconizados por Barbosa (1989). Barbosa (1989) que, inicialmente, chamou sua Proposta de ‘Metodologia Triangular’, em 1998 em seu livro ‘Tópicos Utópicos’ assim justifica a mudança na nomenclatura de sua ideia: Foi no esforço dialogal entre o discurso pós-moderno global e o processo consciente de diferenciação cultural também pós-moderno que, no ensino da arte, surgiu a abordagem que ficou conhecida no Brasil como Metodologia triangular, uma designação infeliz, mas uma ação reconstrutora. Sistematizada no Museu de Arte Contemporânea da USP (87/93), a Triangulação Pós-Colonialista no Ensino da Arte no Brasil foi apelidada de ‘metodologia’ pelos professores. Culpo-me por ter aceitado o apelido usando a expressão- Metodologia Triangular em meu livro A imagem no Ensino da Arte. Hoje, depois de anos de experimentação, estou convencida de que metodologia é construção de cada professor em sua sala de aula e gostaria de ver a expressão Proposta Triangular substituir a prepotente designação Metodologia Triangular. Em arte e em educação, problemas semânticos nunca são apenas semânticos, mas envolvem conceituação (BARBOSA, 1998, p. 33). Em síntese, a educação escolar em arte na contemporaneidade tem se valido da diversidade de conceitos, métodos; da interculturalidade e da interdisciplinaridade; do uso das tecnologias contemporâneas e da forma- ção de professores cada vez mais comprometidos com uma educação que busque a inclusão com propostas pedagógicas consistentes e que estejam voltadas para a recuperação de valores humanos fundamentais. REFERÊNCIAS ARSLAN, Luciana Mourão; IAVELBERG, Rosa. Ensino de Arte. São Paulo: Thomson Lerning, 2006. (Coleção Ideias em Ação) BARBOSA, Ana Mae T. B. Arte-Educação no Brasil. Das Origens ao Modernismo. São Paulo: Perspectiva. Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1978. ______. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Editora Cortez, 2002. p. 113-121. 24 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período ______. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. ______. John Dewey e o Ensino da Arte no Brasil. 3.ed. revista e aumenta- da. São Paulo: Cortez, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental 3° e 4° cilcos - Arte. Brasilia: MEC/SEF, 1998. DUARTE JR, João Francisco. Porque Arte-Educação. São Paulo: Papirus Editora, 2001. FERRAZ, Maria Heloísa C. T.; FUSARI, Maria Filisminda de Resende. Metodoloia do Ensino de Arte: fundamentos e proposições. 2.ed. rev. e amp. São Paulo: Cortez, 2009. IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. RICHTER, Ivone Mendes. Histórico da FAEB: Uma Perspectiva Pessoal. In: BARBOSA, Ana Mae T. B. (org.). Ensino da Arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008. Sites para consulta http://www.artenaescola.org.br http://www.revista.art.br http://crv.educacao.mg.gov.br http://www.itaucultural.org.brhttp://www.mec.gov.br http://www.faeb.art.br http://www.mac.usp.br http://www.museus.art.br http://www.pinacoteca.org.br 25 2 I NTRODUÇÃO Acreditamos que a visão acerca do histórico do ensino da arte, que mostramos na Unidade I, será de grande importância para que você compreenda os temas que estudaremos aqui na Unidade II. Você poderá continuar relacionando as práticas de seus professores de arte e até mesmo suas práticas, se já for um docente, com as teorias e práticas que iremos abordar aqui, refletindo sobre como eram suas aulas de arte ou como são as possibilidades atuais, bem como, o que mudou no enfoque dado. Durante muitos anos, o ensino da arte no Brasil esteve carente de consistência teórica e se valia de práticas pouco diversificadas, com modelos estereotipados, baseados na auto-expressão sem que se levasse em conside- ração o ensino /aprendizagem de conteúdos e saberes de arte, contribuindo para um empobrecimento do universo cultural dos alunos. Ainda hoje, nas escolas, encontramos professores com práticas clichês e utltrapassadas que pouco ou nada acrescentam sobre o conheci- mento em arte, ao aluno. Já por outro lado, vemos muitos professores se atualizando e buscando acompanhar as transformações no ensino da arte, adotando concepções teóricas e práticas contemporâneas como: visitas à exposições de arte, museus e casas de cultura, integração da escola com artistas/artesãos da comunidade e valorização das culturas, realidade e interesse de seus alunos nos campos das artes visuais, dança, música e teatro. Dessa forma a arte é encarada como uma área de conhecimento que deve ser valorizada como uma necessidade humana dentro e fora da escola. A seguir apresentaremos as principais e mais recorrentes teorias que fundamentam as práticas pedagógicas contemporâneas no ensino da arte. Objetivo específico: ?Analisar criticamente e refletir sobre as teorias e práticas que fundamentam a Arte-educação contemporânea. 2UNIDADE 2TEORIAS E PRÁTICAS DA ARTE-EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 26 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período 2.1 A PROPOSTA TRIANGULAR NO ENSINO DA ARTE Na unidade I, comentamos em alguns momentos sobre esta proposta que inicialmente fora chama de ‘Metodologia Triangular’ (Barbosa, 1989) e que depois fora corrigida pela própria autora e denominada ‘Proposta Triangular’ (Barbosa, 1998). A Proposta Triangular surgiu das pesquisas da arte-educadora brasileira Ana Mae Barbosa, quando esta era diretora do Museu de Arte Contemporânea - MAC da Universidade de São Paulo - USP (Figura 13), a partir de suas experiências com o setor educativo do museu, bem como do Projeto Arte na Escola da Fundação IOCHPE. Os estudos realizados por Barbosa a partir das ‘Escuelas Al Aire Libre’ no México; o ‘Critical Studies’ na Inglaterra e a ‘Discipline Based Arte Education (DBAE)’ nos Estados Unidos, foram o ponto de partida para que daí surgisse a proposta. Segundo Barbosa (1998), a Proposta Triangular deriva de uma dupla triangulação. Uma, trata-se da gênese da própria sistematização da propos- ta, originada pela influência de outras três propostas, quais sejam: ?Escuelas Al Aire Libre (México): ensino de arte modernista que adota em seu programa a ideia de arte como expressão e cultura; ?Critical Studies (Inglaterra): utiliza a apreciação da obra de arte como possibilidade de leitura; ?Discipline Based In Art Education - DBAE (Estados Unidos): tem como proposta a produção de arte, crítica de arte, estética e história da arte. Figura 13: MAC - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Fonte: www.mac.usp.br DICAS Conheça o MAC - USP através do endereço: www.mac.usp.br Conheça o Projeto Arte na Escola através do endereço: www.artenaescola.org.br 27 Arte e Educação UAB/Unimontes Nesse sentido, a Proposta Triangular, segundo RIZZI: ...postula que a construção do conhecimento em arte acontece quando há o cruzamento entre experimentação, codificação e informação. Considera como seu objeto de conhecimeno a pesquisa e a compreensão das questões que envolvem o modo de inter-relacionemento entre arte e público” (RIZZI, 2008, p. 337). Ainda segundo Barbosa (1998): A Proposta Triangular é construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista e é pós-moderna por tudo isso e por articular arte como expressão e como cultura na sala de aula, sendo esta articulação o denominador comum de todas as propostas pós-modernas do ensino de arte que circulam internacionalmente na contemporaneidade” (BARBOSA, 1998, p. 41). 2.1.1 As três ações básicas da proposta A outra triangulação está na natureza epistemológica, designando as três ações básicas ou componentes que se articulam na Proposta Triangular: O Fazer Artístico: desenhar, pintar, esculpir, gravar, fotografar, performar, conceituar, fazer instalações, criar novas mídias... diz respeito aos procedimentos e técnicas do fazer artístico, desde os modos tradicionais como as práticas em ateliê até a utilização das diversas tecnologias contem- porâneas. A Leitura da Obra de Arte: diz respeito à apreciação da obra de arte envolvendo, seus aspectos críticos e estéticos através de questionamentos e descobertas. É importante ressaltar que o objetivo é a obra de arte e não o artista com a ‘descoberta de suas intenções’. A Contextualização: diz respeito ao contexto, tanto nos aspectos da História da Arte, quanto da História Geral, da Antropologia, Psicologia, Arqueologia, Educação, Política, Medicina, Física, Química, Biologia, Ecologia e outras. Ao se analisar os três momentos que envolvem a proposta não se pode pensar em uma sequência lógica, do tipo: contextualizar - ler - fazer, pois a posposta triangular não indica um pensamento ou procedimento hierarquizante, podendo variar as sequências de abordagem das ações, sem que se dê maior importância a alguma delas, pois todas devem ocupar um espaço significativo coerente com os objetivos iniciais. 28 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período ATIVIDADE Elabore um plano de aula, conforme o modelo (Tabela 1), em que você escolherá uma tema em Artes Visuais e desenvolverá as três ações básicas da Proposta Triangular. Seu plano deverá ser postado em nosso ambiente de aprendizagem e discutido com os colegas. 2.2 O ENSINO DA ARTE E A CULTURA VISUAL A proposta de ensino de arte a partir de estudos da cultura visual é relativamente nova (década de 1980) e parte de ideia do trabalho com diferentes imagens (Figura 14), vindas dos mais variados meios como: revistas, outdoors, cartazes, vídeo-games, cinema, desenho animado, internet, celular, televisão, histórias em quadrinhos (HQ), ilustrações, etc. e não somente das imagens da arte historicamente estabelecidas. Neste campo, podemos considerar como grande teórico e defen- sor, o espanhol Fernando Hernandez, que publicou, entre outros livros: ‘Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho’ (2000) e ‘Catado- res da Cultura Visual’ (2007), importantes obras para a compreensão do ensino da arte como estudos da cultura visual. Tema Objetivos Conteúdo ProcedimentosMetodológicos Recursos Avaliação Quadro 01: Modelo para Planejamento. Figura 14: Banksy. Feeling. Grafite, Londres. Fonte: <www.banksy.co.uk> 29 Arte e Educação UAB/Unimontes Segundo Hernández: Trata-se de expor os estudantes não só ao conhecimento formal, conceitual e prático em relação às Artes, mas também à sua consideração como parte da cultura visual de diferentes povos e sociedades. Esse enfoque compreensivo trata de favorecer neles e nelas uma atitude reconstrutiva, ou seja, de autoconsciência de sua própria experiência em relação às obras, aos artefatos, aos temas ou aos problemas que trabalham na sala de aula (e fora dela). Para realizá-lo, torna-se necessárioo desenvolvimento de estratégias de compreensão [...] o núcleo deste enfoque são as diferentes manifestações da cultura visual não só dos objetos considerados canônicos, mas sim dos que se produzem no presente e aqueles que fazem parte do passado; os que se vinculam à própria cultura e com as de outros povos, mas ambas desde a dimensão de “universo simbólico”; os que estão nos museus e os que aparecem nos cartazes publicitári- os e nos anúncios; nos videoclips ou nas telas da Internet; os realizados pelos docentes e pelos próprios alunos. Explorar o que implica a presença de um cânone, de uma norma, de determinados autores e obras seria uma fase desse processo de compreensão (HERNANDEZ, 2000, p. 50). Em uma abordagem de ensino das artes visuais a partir dos estudos da cultura visual, Hernandez (2000, p. 140) propõe alguns critérios para selecionar as representações ou imagens que merecem atenção a partir desta perspectiva, devendo ser levadas em conta as seguintes características: 1. Ser inquietantes. 2. Estar relacionadas com valores compartilhados em diferentes culturas. 3. Refletir as vozes da comunidade. 4. Estar abertas a múltiplas interpretações. 5. Referir-se às vidas das pessoas. 6. Expressar valores estéticos. 7. Fazer com que o espectador pense. 8. Não ser herméticas. 9. Não ser apenas a expressão do narcisismo do artista. 10. Olhar para o futuro. 11. Não estar obcecadas pela ideia de novidade. Muitas são as críticas em torno da proposta de ensino da arte como estudo da cultura visual. Alguns autores como Elliot Eisner (2001) e Imanol Aguirre (2004) consideram que, nesta perspectiva “as artes visuais na educação deixariam de orientar-se no sentido de falar de arte para valorizar a educação estética e centrar-se na prática artística. Além do mais, a expe- riência em arte seria substituída por ‘falar’ sobre artes visuais e cultura 30 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período popular”. Outros consideram que, se uma das propostas da educação é maximizar o potencial cognitivo dos alunos, é preciso trabalhar com formas mais complexas de arte. 2.3 O ENSINO DA ARTE E A INTERCULTURALIDADE Você já deve ter estudado sobre interculturalidade ou multiculturalidade ou pluriculturalidade na disciplina Arte e Cultura Popular. O que você sabe sobre esses termos? Em nossos estudos em Arte- educação utilizaremos o termo interculturalidade, pois segundo Barbosa: Alguns falam sobre multiculturalismo, outros sobre pluriculturalidade, temos ainda o termo mais apropriado - interculturalidade. Enquanto os termos “multicultural” e “pluricultural” significam a coxistência e mútuo entendimen- to de diferentes culturas na mesma sociedade, o termo “intercultural” significa a interação entre as diferentes culturas. (1998, p. 14) No campo da educação, a interculturalidade ganha importância na medida em que proporciona ao educando o conhecimento da própria cultura, da cultura do outro, da cultura local e da cultura de outras nações, bem como os elementos e códigos que identificam as diferentes culturas. Pensando a partir desta afirmação, você percebe porque é impor- tante que o professor de arte promova, com seus educandos, o debate sobre as diferenças culturais? Vejamos que a própria sala de aula é um espaço que abriga as diferenças culturais: de etnia, de gênero, de raça, de religião, de orientação sexual, etc. Vários grupos culturais: negros, índios, brancos, mulheres, homossexuais... convivem no mesmo espaço e interagem entre si, portanto essas culturas com seus códigos que conferem identidade a elas possuem pontos de interesse comuns e um desses pontos é o nosso objeto de estudos: a Arte. Reflita sobre: ?Como a Arte está presente na vida de cada um desses grupos culturais? ?Qual o papel da arte e do artista em cada uma dessas culturas? PARA REFLETIR Você considera importante o ensino de arte inserir em seus estudos imagens advindas de outros meios e não somente da Arte? ATIVIDADES Realize uma pesquisa, observando seu cotidiano e perceba as imagens que estão ao seu redor, refletindo sobre as influências que estas exercem em sua vida. Vale buscar as imagens da TV, de outdoors, de revistas, de cartazes, as imagens no seu celular, etc... Selecione algumas dessas imagens (impressas, fotocópias, fotografias, páginas de revistas) em um portfólio, observando os critérios de seleção destacados por Hernandez e relate como você poderia utilizar cada uma dessas imagens em uma aula de arte / artes visuais. Figura 15: Capa do Livro Catadores da Cultura Visual. Fonte: www.editoramediacao.com.br 31 Arte e Educação UAB/Unimontes ?De que formas a arte encontra ligação interculturas? São esses questionamentos que importam para o professor de arte e é a partir destes que ele poderá desenvolver um ensino de arte que objetiva o desenvolvimento cultural do educando, bem como a ampliação do seu universo cultural, objetivos estes expressos na LDB 9394/96 e nos PCN (1998). Para uma educação crítica em arte, é preciso levar em consideração as diferenças e a diversidade cultural (Figura 16), para tanto Barbosa (1998, p.91-92), destaca alguns pontos a serem pensados para uma ação pedagógi- ca significativa: ?Promover o entendimento de cruzamentos culturais, através da identificação de similaridades, particularmente nos papeis e funções da arte, dentro e entre grupos culturais. ?Reconhecer e celebrar a diversidade racial e cultural em arte em nossa sociedade, enquanto também se potencializa o orgulho pela herança cultural em cada indivíduo. ?Incluir em todos os aspectos do ensino da arte (produção, apreciação e contextualização) problematizações acerca de etnocentrismo, estereótipos culturais, preconceitos, discriminação e racismo. ?Enfatizar o estudo de grupos particulares e/ou rninoritários do ponto de vista do poder como mulheres, índios e negros. ?Possibilitar a confrontação de problemas, tais como racismo, sexismo, excepcionalidade física ou mental, participação democrática, paridade de poder. ?Examinar a dinâmica de diferentes culturas. ?Desenvolver a consciência acerca dos mecanismos de manuten- ção da cultura dentro de grupos sociais. PARA REFLETIR Após refletir sobre os questionamentos propostos, que tal postar seus comentários em nosso ambiente virtual e promover um debate com os colegas? A troca de ideias enriquece a aprendizagem. Figura 16: Glauco Rodrigues. Abaporu, 1981. acrílica s/ tela. 130 x 195 cm. Coleção Particular. Fonte: www.itaucultural.org.br 32 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período ?Incluir o estudo acerca da transmissão de valores. ?Questionar a cultura dominante, latente ou manifesta, e todo tipo de opressão. ?Destacar a relevância da informação para a flexibilização do gosto e do juízo acerca de outras culturas. A proposta de ensino de arte para a valorização das diferenças culturais também está destacada nos PCN na parte de Temas Transversais sob a denominação “Pluralidade Cultural”. O tema da pluralidade cultural tem relevância especial no ensino de arte, pois permite ao aluno lidar com a diversidade de modo positivo na arte e na vida. Na sala de aula interrelacionam-se indivíduos de diferentes culturas que podem ser identificados pela etnia, gênero, idade, localização geográfica, classe social, ocupação, educação, religião. o estudo pluriculturalista considera como os diversos grupos culturais encontram um lugar para arte em suas vidas, entendendo que tais grupos podem ter necessidades e conceitos de arte distintos. O sentido pluriculturalista amplia a discussão sobre a função da arte e o papel do artista em diferentes culturas, assim como o papel de quem decide o que é arte e o que é arte de boa qualidade.Essas discussões podem contribuir para o desenvolvimento do respeito e reconhecimento de diferenças. O pluriculturalismo no ensino de arte tem como objetivos: promover o entendimento de cruzamentos culturais pela identificação de similaridades, particularmente nos papéis e funções da arte, dentro e entre grupos culturais; reconhecer e celebrar a diversidade étnica e cultural em arte e em nossa sociedade, enquanto também, se potencializa o orgulho pela herança cultural em cada indivíduo, seja ela resultante de processos de erudição ou de vivências do âmbito popular, folclórico ou étnico; possibilitar problematizações acerca do etnocentrismo, estereótipos culturais, preconceitos, discriminação e racismo nas ações que demarcam os eixos da aprendizagem; enfatizar o estudo de grupos particulares e/ou minoritários (do ponto de vista do poder) como mulheres, índios e negros; possibilitar a confrontação de problemas, como racismo, sexismo, excepcionalidade física ou mental, participação democrática, paridade de poder; examinar a dinâmica de diferentes culturas e os processos de transmissão de valores; desenvolver a consciência acerca dos mecanismos de manutenção da cultura dentro de grupos sociais; questionar a cultura dominante, latente ou manifesta e todo tipo de opressão; destacar a relevância da informação para a flexibilização do gosto e do juízo acerca de outras culturas. (PCN / Arte, 1998, p. 41-42.) DICAS Conheça mais sobre Pluralidade Cultural e os Temas Transversais dos PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais no endereço: http://portal.mec.gov.br 33 Arte e Educação UAB/Unimontes 2.4 O ENSINO DE ARTE E AS TECNOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS As tecnologias contemporâneas têm avançado cada vez mais em todos os setores da sociedade e a escola não poderia permanecer estática em um contexto social tão mutante. As escolas têm sido instrumentalizadas especialmente com a informática: computadores e internet. E os profissio- nais da educação, o que têm feito para aproveitamento dessas tecnologias em favor da Educação? No que diz respeito às Artes Visuais, temos visto um mundo com a presença cada vez maior das imagens visuais e sua supervalorização. Neste sentido, podemos perceber ainda as contribuições da tecnologias para a criação e produção de obras de arte em suportes cada vez menos tradiciona- is (Figura 17). A escola não foge à essa regra, pois nela vemos nossos alunos consumindo imagens de toda natureza e advindos dos mais variados meios: celular, câmeras digitais, internet, etc... O Professor de Arte deve proporcio- nar ao seu aluno a exploração, vivência e experimentação dessa tecnologia com atividades diversas, utilizando os diversos meios para construção dos conhecimentos pertinentes às Artes Visuais. O uso das tecnologias contemporâneas aliadas à educação e à Arte- educação devem proporcionar a alunos e professores o pensamento artístico. Assim como nos meios tradicionais, o ensino da arte nesta perspec- tiva deve contribuir para o conhecer, refletir e produzir arte. ATIVIDADES Faça uma pesquisa sobre diferentes grupos culturais. Aqui sugerimos que você conheça grupos indígenas brasileiros, mexicanos e americanos, e perceba como a Arte está presente na vida de cada um desse grupos e suas diferenças culturais. Você pode buscar, também, conhecer as influências dos africanos nas culturas brasileira e norte-americana. Pode, ainda, pesquisar sobre o uso das máscaras em diferentes culturas: africana, mexicana, oriental. Socialize suas investigações com seus colegas através do ambiente virtual de aprendizagem: Virtualmontes. Figura 17: Ultra-Nature, de Miguel Chevalier (México, 2008). Vídeo instalação apresentada na 4ª Bienal Internacional de Arte e Tecnologia: Emoção Art.ficial 4.0 (2009). Fonte: www.itaucultural.org.br 34 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Quando pensamos nesta possibilidade pode ser que venha logo a ideia de trabalhos utilizando o computador e a internet, mas não só estes proporcionam um trabalho com tecnologias na escola; podem-se utilizar, além destes, o celular, a máquina fotográfica (digital ou tradicional), filmado- ras, máquinas copiadoras. O uso de equipamentos que possam gerar imagem, bem como criar novas imagens e a manipulação de imagens exitentes, colaboram para que o aluno elabore um pensamento artístico consistente. No trato com as tecnologias contemporâneas na escola, muitas vezes, não se trata de desinteresse do aluno ou falta de acesso aos instrumen- tos tecnológicos para realização de um trabalho aliado com o ensino de arte, “é a resistência do professor que impede esse acesso; outras, é o contexto discriminatório que o faz” (PIMENTEL, 2002, p. 116). A arte-educadora mineira, Drª. Lúcia Gouvêa Pimentel, é uma grande defensora do uso das tecnologias contemporâneas na escola aliada ao ensino de arte, neste sentido afirma que: O uso de novas tecnologias possibilita a/@s alun@s desenvolver sua capacidade de pensar e fazer Arte contemporaneamente, representando um importante componente na vida d@s alun@s e professor@s, na medida em que abre o leque de possibilidades para seu conheci- mento e expressão (PIMENTEL, 2002, P.120). ATIVIDADE Observe a imagem e reflita sobre como as tecnologias contemporâ- neas podem contribuir para um ensino/aprendizagem significativo em arte e relate como você utilizaria essas tecnologias no ensino das Artes Visuais. Poste o seu relato no ambiente de aprendizagem. Figura 18: Charge de Agner, 2008. Fonte: Revista Pátio ANO XI n° 44 NOV 2007 / JAN 2008 35 Arte e Educação UAB/Unimontes BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte: Anos Oitenta e Novos Tempos. SP: Perspectiva, 1981. ______. (org .) Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Editora Cortez, 2005. ______. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. ______. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007. PIMENTEL, Lúcia Gouvêa. Tecnologias contemporâneas no ensino da arte. In: BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Editora Cortez, 2002. p. 113-121. ______. (Org.). Som, Gesto, Forma e Cor: Dimensões da Arte e seu Ensino. Belo Horizonte: C/Arte, 1996. (Coleção Arte e Ensino) RIZZI. Maria Christina de Souza Lima. Reflexões sobre a Abordagem Triangular do Ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae (org.). Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008. Sites para consulta http://www.artenaescola.org.br http://www.revista.art.br http://crv.educacao.mg.gov.br http://www.itaucultural.org.br http://www.portalmec..br http://www.faeb.art.br http://www.fav.ufg.br http://www.banksy.co.uk http://www.anpap.org.br REFERÊNCIAS 37 3 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), A unidade que se inicia têm como proposta discutir as relevâncias da Arte-educação na nação brasileira, partindo do princípio que a disciplina propõe, não só o entendimento em torno do objeto artístico, mas também reflexões a respeito da sociedade que a produz. A arte não pode ser entendi- da como uma atividade isolada, desconectada com outras áreas de conheci- mento que compõem uma determinada nação. Objetivo Específico: ?Relacionar o campo de conhecimento Arte com outras áreas de conhecimento de forma a compreender a interdisciplinaridade; Através da criação humana percebe-se a relação social, física e psicológica do artista expressa na obra exposta. Além disso, é possível aplicar em outras áreas de ensino intervenções artístico-pedagógicas que proporci- onem maior fluidez na absorção de conhecimento evice-versa. A sociedade, em geral, é carente de intervenções artísticas de diversas naturezas. Apesar de oferecer diversos subsídios para que isto aconteça, torna-se necessário melhor preparação dos profissionais que atuam em espaços destinados à Arte-educação. 3UNIDADE 3ARTE-EDUCAÇÃO E O INTER-RELACIONAMENTO COMOUTRAS ÁREAS DE ENSINO E A COMUNIDADE Figura 19: Autorretrato e desenhos de Leonardo Da Vinci. Fonte: www.theartgallery.au 38 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Nos textos a seguir serão apontados alguns questionamentos latentes na Arte-educação contemporânea, tais como: ?discussões relacionadas à aplicação dos PCN em Artes, conside- rando as suas relevâncias práticas e teóricas, tendo como base argumento de autores de opiniões diversas a respeito da validade e benefícios trazidos através desta reformulação “pedagógica”; ?A relação interdisciplinar, tendo as Artes Visuais como eixo de conexão com diversas áreas de conhecimento como a Geografia, Matemática, Português, entre outras. ?Por fim, trataremos da relação social de trabalhos artísticos, considerando as especificidades dos profissionais que atuam em espaços não-formais e informais de ensino, e ainda a preparação pedagógica, psicológica para a sua atuação. 3.1 ARTE-EDUCAÇÃO RETOMANDO O DEBATE De acordo com o que vimos na Unidade I, os PCN para o ensino de Arte passaram a denominar como Artes Visuais o campo anteriormente designado como Artes Plásticas. Esta alteração teve como propósito agrupar, em um núcleo comum, tanto as formas tradicionais (desenho, pintura, escultura) quanto os diversos tipos de produção artística que resultam dos avanços tecnológicos (fotografia, vídeo, instalação, objeto, performance). Um dos princípios desta reformulação curricular é proporcionar maior interação entre o aluno, a escola, a comunidade de modo geral, favorecendo, assim, um respeito mútuo. Além da relação humana, o ensino de Artes proporciona o desenvolver cultural, crítico e reflexivo em torno do objeto artístico e dos elementos socioculturais que envolvem direta ou indiretamente a produção em Arte. Em uma visão específica, Ana Mae Barbosa afirma que, dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima, torna possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos. A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instru- mento para a identificação cultural e o desenvolvimento (BARBOSA, 1998). Partilhando deste mesmo pensamento, a Arte-educadora Lívia Marques Carvalho acrescenta que, os Arte-educadores devem trabalhar em todos os ciclos com produção, compreensão e apreciação de manifestações artísticas em: pinturas, escultura, desenho, gravura, arquitetura, cerâmica, fotografia, artes gráficas, moda, cinema, televisão, performance, vídeo, holografia, arte em computador, etc (CARVALHO, 2001). Por meio destas atividades “o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles” (BRASIL, 1998). ATIVIDADES ?Que relação você consegue estabelecer entre os conteúdos ministrados nas aulas de Arte e os conteúdos de outras áreas de ensino? ?Em sua trajetória escolar na educação básica, relate como outras disciplinas (Português, Literatura, História, Ciências, Geografia, Matemática...) faziam uso dos processos inerentes à Arte-educação para o ensino/aprendizagem de seus conteúdos. Poste o seu relato no ambiente de aprendizagem e debata com seus colegas. Nessa troca de experiências você enriquecerá seus conhecimentos. 39 Arte e Educação UAB/Unimontes Esta busca por melhor qualificação de todos os envolvidos no ensino-aprendizagem em Artes provocou diversos questionamentos no meio escolar. Alguns autores entendiam que as propostas advindas da nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96) eram consideradas fundamentais para o progresso da disciplina, porém esbarram na falta de estrutura física, capacitação humana e maior articulação com as questões culturais brasilei- ras para que os objetivos apresentados surtissem efeitos. A busca por novas propostas de ensino em Arte era, até então,lou- vável e urgente, uma vez que a “Educação Artística” vinha perdendo o espaço, a razão e o sentido na sua concepção prática e teórica. Era preciso que as atividades na escola passassem a ter um significado maior para o educando, deixando de ser uma atividade incompreendida ou mero passatempo. Diante da urgente necessidade de mudança ocorreu então o uso em exaustão da “Metodologia Triangular”, criada por Ana Mae, tentando a sua aplicação como um método fixo a todas as áreas de Arte. Um verdadeiro equívoco que provocou várias críticas e reformulações quase que instantâ- nea no meio acadêmico. Como vimos na Unidade I, a própria Ana Mae em seu livro Tópicos Utópicos veio a público desfazer o mal-entendido, mudando a concepção para “Proposta Triangular”. Entretanto, não adianta mudar as leis de ensino se não preparar aqueles que ensinam. É de se considerar que professores atuantes no ensino fundamental e médio já atuavam há mais de dez anos antes da sistematiza- ção e da divulgação da Proposta Triangular. Devido à sua implementação, poucos foram os que se familiarizaram com as orientações do ensino de arte. Diante da falta de capacitação dos professores e, principalmente, por considerar que muitos dos que lecionam nas séries iniciais não têm formação específica na área de Arte, tornou-se visível a falta de conhecimen- to e domínio técnico-teórico diante da ampla gama de modalidades artísticas. De acordo com Lívia Marques, “parte dos educadores desconhe- cia os fenômenos artísticos em seus vários aspectos e o modo de interagir pedagogicamente com eles” (CARVALHO, 2001, p. 86). Para Fusari (2001), em vista disso, a vivência dos processos artísticos dependerá da forma de orientação dos profissionais que atuam nas áreas específicas (Artes Plásticas, Desenho, Música, Artes Cênicas, Dança, Vídeo, Cinema, Televisão, Desenho Industrial etc.). Por essa razão, deve-se estar atento para que o processo artístico se oriente pelas múltiplas oportunidades que deverão aparecer no andamento dos trabalhos escolares. O novo profissional que se formará deveria se desprender de conceitos e pré-conceitos adquiridos de maneira equivocada nos cursos de Artes que vigoravam no Brasil nas décadas anteriores à criação dos PCN. Tal profissional deve buscar um olhar contextualizado com a realidade existente no país, por valores em outras formas de artes, não somente a valorização do objeto artístico “eruditizado” propagado pelos livros de História da Arte. 40 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período A reformulação dos conceitos em torno do Belo, do que é Arte, das técnicas e do fazer artístico advindos de manifestações artísticas tradicionais, considerando a diversidade cultural formadora da nação Brasileira, era a nova busca, por parte dos educadores, proposta pelos PCN. O entendimento dos elementos culturais que constituem uma determinada sociedade se tornou necessário para uma aplicação posterior nas atividades artísticas. 3.2 ARTE-EDUCAÇÃO E A MULTICULTURALIDADE O ensino de Arte parte em busca de concepções que possam agregar a multiculturalidade pelas inquietações e descasos ocorridos no curso da história do ensino no Brasil. Agregar valores raciais e sócio-culturais é a nova ordem na democratização proposta pelos PCN nas diversas linguagens. Para Ana Mae Barbosa, esta visão multiculturalista parte também das seguintes inquietações: ?Como diferentes grupos culturais podem encontrar um lugar para a Arte em suas vidas? ?Entender que grupos culturais diferentes têm também necessi- dade da Arte, mas que o próprio conceito de Artepode diferir de um grupo cultural para outro. Ainda de acordo com Barbosa, Multiculturalidade não é apenas fazer cocar no "Dia do Índio", nem tampouco fazer ovos de Páscoa ucranianos ou dobraduras japonesas ou qualquer outra atividade clichê de outra cultura. O que precisamos é manter uma atmosfera investigadora na sala de aula acerca das culturas comparti- lhadas pelos alunos, tendo em vista que cada um de nós participa no exercício da vida cotidiana de mais de um grupo cultural (BARBOSA, 2002, p. 4). Por ser a cultura um elemento cíclico, em constante transformação, e o fazer artístico, produto das relações sociais, é necessário, segundo Almeida e Carvalho, que a Proposta Triangular para o ensino de arte também seja imaginada em movimentos, também, constantes: que a adaptem à realidade e a tensões culturais que promovam questionamentos e incitem à ação, à busca de novas propostas metodológicas (ALMEIDA, CARVALHO, 2009, p. 3). No entanto, ao analisar as propostas para Artes Visuais nos dois documentos do PCN – Artes I, 1º e 2º Ciclos (1ª a 4ª séries) e PCN – Artes II 3º e 4º ciclos (5ª a 8ª séries), Lívia Marques aponta para a falta de estruturação 41 Arte e Educação UAB/Unimontes física das escolas para proporcionar a interação e práticas artísticas sugeridas pelo documento. Segundo a autora: A idéia de propor uma prática educativa que favoreça a interação dos alunos com os diversos meios de expressões existentes na atualidade é pertinente, uma vez que [...] a proliferação de técnicas, principalmente as derivadas dos avanços tecnológicos, vem produzindo um vasto leque de possibilidades expressivas e uma transformação nos referenciais estéticos. Entretanto, não podemos deixar de considerar que a grande maioria das escolas não dispõe de infra-estrutura necessária: ateliês e oficinas minimamente providos de equipamentos, como máquinas fotográficas, vídeos, computadores, aparelhos para reprografia. Tais condições materiais são indispensáveis para que o professor possa desenvolver um trabalho adequado, empregando a diversidade de técnicas propostas (CARVALHO, 2001, p. 86). Um caminho inverso também ocorre, onde os espaços existentes para a aplicação das atividades artísticas eram ocupados erroneamente por Educadores que usufruíam dos recursos e espaços disponíveis para a Arte- educação, para ensinarem outras disciplinas que não tinham necessaria- mente atividades artísticas. Ao verificar a aplicação da Arte-educação no ensino médio, com base nas propostas impostas pelo PCNEM (Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio), Maura Penna descreve que: Como componente curricular do ensino médio, a Arte tem tido, muitas vezes, os seus objetivos distorcidos. Principalmente em localidades onde a fiscalização é pouco rigorosa, escolas particulares apropriam-se indevidamente do espaço escolar da aula de Arte, que passa, por exemplo, a ser utilizado pelo professor de Matemática para dar Geometria, de modo que a Arte só existe formalmente no boletim escolar. Acreditamos que a arte, em suas várias linguagens, tem um importante papel a cumprir na formação do cidadão [...] um ensino de arte realmente efetivo acarreta mudanças no modo como os alunos se relacionam com as manifestações artísticas em sua vida cotidiana, permitindo- lhes uma participação mais ampla e ativa na sociedade (PENNA, 2001, p. 39). No que se refere ao ensino médio, as três linhas de ação – produzir, apreciar e refletir - são também pertinentes a este público. Segundo Maura Penna, o campo derivado das reflexões não deve ser desenvolvido à parte, mas sempre relacionado e articulado aos dois outros campos, ou seja, “em cada momento do produzir e apreciar” (PENNA, 2001, p. 50). C F E A B GGLOSSÁRIO Reprografia: é o conjunto dos processos de reprodução que não utilizam os métodos tradicionais de impressão, mas recorrem às técnicas de fotocópias, eletrocópias, termocópias, microfilmagens, heliografia, xerografia, etc. Você aprenderá melhor sobre estas técnicas na disciplina Gravura. 42 Artes Visuais Caderno Didático - 3º Período Assim a Proposta Triangular é aplicada a todos os públicos, porém é preciso considerar as mudanças de hábitos e comportamentos ocorridos com os alunos durante o período de adolescência. Ao contrário das crianças, as novas descobertas físicas, psicológicas e comportamentais ocorridas no período provocam certo desprendimento com o fazer artístico praticado nas escolas. Para Fusari e Ferraz (2001), a herança cultural deve ser apresentada aos estudantes gradualmente, em tal qualidade e seleção que possa ser melhor apreendida, entendida e apreciada em cada fase do desenvolvimen- to. É necessário entender que as atividades artísticas praticadas nas oficinas e salas de aulas descerram o mundo da arte para os alunos, desem- penhando uma função importante na constituição de sentimentos e pontos de vista estéticos, desde que metodicamente trabalhados. De acordo com Almeida e Carvalho: É preciso ter em mente que o trabalho do professor não é simples transmissão de conhecimentos produzidos por outros; nem se resume a ter competência técnica para adequar conteúdos ao que deve ser aprendido pelos alunos. Os métodos não podem ser vistos como receitas, ‘tábuas de salvação’ (2009, p. 4). Neste sentido, a aplicação metodológica vai ao encontro com a necessidade de cada grupo ou indivíduo trabalhado. É o aluno que dita qual a metodologia adequada e não o contrário. O professor precisa se conectar com a realidade do aluno em todos os âmbitos, para que a aulas de artes não se tornem uma atividade cansativa, rotinei- ra, de caráter reprodutivo, isolado da formação intelectual e moral do mesmo. Não é cabível, que o professor aplique somente metodologias e propos- tas de ensino, muitas vezes sem refletir, tendo como base avaliações, currículos, estratégias de controle disciplinar do aluno, livros didáticos, programas e outros elementos componentes de um programa institucional escolar. É conveniente que as atividades estejam de acordo com a realidade dos alunos, os anseios que estes apresentam, bem como a capacidade de cada um para o fazer artístico (ALMEIDA, CARVALHO, 2009). PARA REFLETIR Veja o filme “Filhos do Paraíso” e reflita sobre a importância de o professor conhecer a realidade de seu aluno para a proposição de atividades geradoras de interesse. Figura 20: Cartaz do Filme “Filhos do Paraíso” (1997) Fonte: www.adorocinema.com.br 43 Arte e Educação UAB/Unimontes Para Leão, “esta maneira de propor o ensino da arte rompe barreiras de exclusão, visto que a prática educativa está embasada não no talento ou no dom, mas na capacidade de experienciar de cada um". Ainda segundo o autor, “dessa forma, estimula-se os educandos a se arriscarem a desenhar, representar, dançar, tocar, escrever, pois trata-se de uma vivência, e não de uma competição” (2001, p. 3). Os alunos envolvidos nas atividades se identificarão como partici- pantes e construtores dos seus próprios caminhos, criando estratégias apropriadas com base na vivência e criatividade de cada um. A arte não deve ser apreendida como algo elitista e que, necessariamente apresente um objeto artístico como produto final. O processo de criação é que deve ser valorizado, pois é neste momento que se percebe o envolvimento cognitivo, criativo, perceptivo, e humano do aluno. 3.3 ARTE-EDUCAÇÃO E O INTER-RELACIONAMENTO COM OUTRAS ÁREAS A Arte, através dos seus objetos e manifestações é o elemento que mais representa uma realidade social independente de qual período ela foi criada. Através da pintura, da música, da dança, da escultura e de uma representação teatral, conseguimos perceber o estilo, a relação econômica, filosófica, geográfica,
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