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História da psicoterapia infantil Prof(a) Dra. Deyseane Lima deyseanelima@yahoo.com.br www.deyseanelima.com.br Concepção de infância Qual a concepção de criança na Idade Média? “Em História social da criança e da família, Philippe Ariès faz um estudo na Europa, no período compreendido entre a Idade Média e o século XX, para demonstrar a definição de criança se modificou no decorrer do tempo de acordo com parâmetros ideológicos”. (COSTA, 2007, p.7) Concepção de infância No livro Emílio, escrito por Rousseau, a criança era designada como o infans – o infante, aquele que não fala e é desprovido de sexualidade, compondo assim o imaginário social sobre a infância na época. Etimologicamente, a palavra infância vem do latim, infantia e refere-se ao indivíduo que não é capaz de falar. Concepção de infância - > Que mudanças forjaram o sentimento de infância no contexto histórico e social? Surgimento da noção de família: ambiente afetivo, de proteção e de cuidado com as crianças; Foco no interesse psicológico e preocupação moral; Preocupação com a educação das crianças. Concepção de infância para a psicanálise A criança é um perverso-polimorfo, ou seja, que o seu corpo é pulsional, corpo do desejo. Etiologia das neuroses dos adultos em experiências sexuais traumáticas ocorridas durante a infância, que eram provenientes de fantasias impregnadas de desejos. Psicanálise com crianças Quem é essa criança da psicanálise? Como se constitui? É possível uma psicanálise com crianças? Caso Pequeno Hans A primeira análise Infantil foi realizada por Freud (1909) de maneira indireta; o Max Graf (pai do menino) relatava seus sintomas, comportamentos, sonhos e verbalizações e Freud os analisava e orientava o pai a conversar com a criança, realizando desta forma o tratamento da fobia do menino – o pequeno Hans. Caso Pequeno Hans Demanda: É formulada pelo pai Max Graf, que percebeu os sintomas fóbicos do seu filho. Transferência: Junção da autoridade paterna (educação) com a autoridade médica (análise). Interpretação: A fobia de cavalos com medo da retaliação paterna por causa dos desejos eróticos pela mãe possibilitou a cura da neurose. Brincar A importância do brincar na abordagem analítica foi realizada inicialmente por Freud (1920), ao observar seu neto de um ano e meio. Na brincadeira mostra o quanto elabora a situação da separação da mãe jogando e trazendo de volta seu carretel infinitas vezes encenando, assim, o seu desaparecimento e retorno, acompanhados da verbalização das palavras Fort e Da – fora e aqui. A brincadeira da criança corresponde à fantasia no adulto. Hermine Von-Hellmuth Professora da Educação Infantil. Fez análise com Isidor Sadger, em 1913. Fez diversos estudos em psicanálise com crianças. Dirigiu um serviço psicanático de ajuda à educação em Viena, que a consagrou – juntamente com suas publicações e o grande respeito que Freud tinha pelo seu trabalho – como pioneira da psicanálise com crianças. Hermine Von-Hellmuth Na análise com crianças, utilizava jogos e desenhos afirmando que com esse material as crianças elaboravam as situações difíceis e traumáticas. Em seu método, a interpretação do material inconsciente combinava-se com a influência pedagógica direta. Desaprovava a ideia de realizar análise com crianças muito pequenas, pois ainda não haviam passado pelo complexo de Édipo. Criação da psicoterapia infantil Em alguns escritos, a Psicoterapia Infantil foi criada por Melanie Klein em 1924, seguidora dos ensinamentos de Freud. Em alguns estudos, há que foi Anna Freud a idealizadora da análise infantil. O termo ludoterapia foi criado por Virginia Axline, na abordagem centrada na pessoa. Análise infantil Anna Freud; Melanie Klein; São também conhecidas as controvérsias neste campo entre Anna Freud e Melanie Klein sobretudo no que concerne às técnicas psicoterapêuticas com as crianças. Anna Freud Anna Freud Nasceu em Viena no dia 03 de dezembro de 1895. Anna era a mais jovem dos seis filhos de Sigmund e Martha Freud. Durante a sua formação, teve uma íntima associação com a teoria psicanalítica e a sua prática. Ainda jovem, ensinou a escolaridade primária, o que lhe permitiu a observação diária de crianças, fator que precipitou o seu interesse pela psicologia infantil. Esteve associada à Sociedade Psicanalítica de Viena de 1925 a 1928, publicando em 1927 um artigo que a aproximou ainda mais da psicologia infantil. Em 1937 participou das conferências de ensino de Viena e dirigiu uma escola maternal experimental para crianças oriundas dos meios mais desfavorecidos de Viena. Anna Freud Em 1927, fundou a sua obra principal, “o tratamento psicanalítico das crianças”. Recebeu influências de Hermine von Hug-Hellmuth, e nesse livro, expõe os princípios da análise infantil. Fundou em Londres no ano de 1940 uma instituição que acolhia órfãos e crianças cujos pais estavam ausentes. Em 1952 passa a dirigir uma clínica especializada na formação e pesquisa no âmbito da psicanálise infantil. Anna Freud morreu a 9 de outubro de 1982, em Londres. Anna Freud Papel de educador e o Papel de analista - Há uma impossibilidade de se estabelecer uma relação puramente analítica com uma criança em função de sua imaturidade e dependência do meio ambiente. A criança não têm consciência de sua doença, necessitando do adulto para enunciá-la. Falta o elemento fundamental para a entrada uma paciente na análise, que é o mal-estar em relação a seus sintomas e sua necessidade de tratamento. Anna Freud Necessidade de um período de preparação para análise com entrevistas preliminares para produzir artificialmente a demanda para a análise. É necessário mostrar à criança que, na realidade, ela é muito infeliz, que sofre e há um desgaste excessivo em sua luta interna contra “seus demônios”. Anna Freud As crianças não têm capacidade de transferência, portanto, necessário um trabalho prévio não analítico, com finalidade de prepará-las para o tratamento, proporcionando-lhes consciência da enfermidade, dando-lhe confiança na análise e no analista, criando uma transferência positiva que faça interna a decisão externa de analisar-se. Anna Freud Criar um vínculo forte e positivo com a criança – Estabelecimento da confiança. Utilizava de medidas pedagógicas e analíticas com a criança. Papel do analista/educador: Lugar do Saber (autoridade em relação a criança). Anna Freud Não se pode falar de uma neurose de transferência na análise infantil, embora se estabeleça entre ela e o analista uma relação na qual expressa muitas das situações vividas com os pais. A maior dificuldade na análise da criança continua sendo para ela o fato de não haver associação livre. Anna Freud Jogo era importante para o processo pedagógico, embora não seja um instrumento técnico comparável a associação livre. Melanie Klein Melanie Klein Nasceu em Viena em 1882. Foi a quarta filha de um casal de judeus. Sua irmã faleceu aos oito anos de idade, quando Melanie tinha apenas cinco. Seu pai faleceu quando ela tinha 18 anos. Desde esse período, apegou-se ao seu irmão mais velho Emmanuel, que também faleceu com apenas 25 anos. Em 1903, casou-se com Arthur Klein e em 1910 mudaram-se para Budapeste. Teve três filhos: Melitta, Hans e Erich Klein. Melanie analisou os seus três filhos. Melanie Klein Melitta viria torna-se psicanalista e membro da Sociedade Britânica de Psicanálise. Melanie participou de atividades da Sociedade Psicanalítica de Budapeste e, em 1919, apresentou seu primeiro caso clínico, que abordava a análise do seu filho Erich, com pseudônimo de Fritz. Melanie Klein Publicado em 1932, o livro "A Psicanálise de Crianças" é uma de suas principais obras. Para Melanie Klein, antes de se tornar uma profissão ou um interesse intelectual, a psicanálise foi uma experiência de crescimento e um caminho de cura pessoal.Melanie Klein Para Freud, inicialmente era impossível a análise de crianças muito pequenas, pois as mesmas não possuíam uma estrutura de linguagem suficientemente desenvolvida para a elaboração e livre verbalização de idéias. Sua maior opositora nesse campo foi Anna Freud, que na época também trabalhava com crianças. Melanie Klein morreu de câncer no dia 22 de setembro de 1960, em Londres. Melanie Klein Afirma que a diferença entre análise de criança e análise de adulto era de técnica e não de princípios. Na análise infantil tem-se os mesmos resultados que a de adultos. Melanie Klein Transferência é espontânea na criança e que deve ser interpretada, tanto a positiva como a negativa. Ela interpretava a transferência negativa, sem o cultivo de afetos positivos do paciente. Percebeu a intensa angústia que os sentimentos agressivos despertaram nas crianças e, caso não fossem interpretados, impossibilitariam a continuidade da análise. Melaine Klein Fundou a técnica da análise pela atividade lúdica com crianças. Brincar – atividade natural das crianças – foi considerada por ela a expressão simbólica das fantasias do inconsciente. Melanie Klein Papel do analista: Analista. Não deveria ser um educador. É essencial a interpretação do brincar da criança pelo analista. - > Brincar: Compulsão a repetição; Projeção da realidade psíquica; Forma de acesso a inconsciente infantil; Um modo de tornar a realidade psíquica interna real. Melanie Klein Foram as fantasias das crianças, seus desejos e vivências através de jogos e brinquedos, isto é, suas expressões simbólicas, que serviram de fundamento para a elaboração de uma técnica diferente da técnica do adulto. Nessa técnica, as associações livres eram substituídas por jogos. Melanie Klein “Em minha experiência, aparece nas crianças uma plena neurose de transferência, de maneira análoga como surge nos adultos. Quando analiso crianças, observo que seus sintomas mudam, que se acentuam ou diminuem de acordo com a situação analítica”. Livro: Introdução à obra de Melaine Klein Autor: Hanna Segal Capítulo 1: A obra inicial de Melaine Klein Melanie Klein Um dos conceitos básicos dessa teoria é exatamente a relação objetal que o bebê inicia com a mãe, relação essa que resulta das primeiras experiências da amamentação do bebê e da presença da mãe. A fantasia de um seio ideal (produto do desejo de gratificação ilimitada), assim como de um seio devorador e perigoso (produto da ansiedade persecutória), fazem parte da mente da criança. Melanie Klein Melanie Klein observou que o Complexo de Édipo acontecia por volta dos 2 anos de idade. Podendo iniciar com 6 meses a 1 ano de idade. Enquanto Freud, afirmava que era em torno de três ou quatro anos de idade. O superego apareceu mais cedo do que se deveria esperar a partir da teoria clássica. Melaine Klein Conceito de posição: Tem função evolutiva, não usa o termo fase de desenvolvimento como algo estático. Algo flexível, que flutuava dinamicamente. Presença de ansiedade e defesas contra essa ansiedade. Relações objetais internas e externas, e impulsos. Melanie Klein A posição esquizoparanóide e a posição depressiva são dinâmicas psíquicas que, alternando-se ao longo da vida, geram uma maneira de ser e de experienciar o mundo. É desta alternância das posições que resultará a estruturação do sujeito. POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE Divisão do ego: Bom-gratifica-idealização/introjeção; Mau-frustra-projeta; Não percebe o objeto como uma unidade - desenvolve o amor e o ódio isoladamente; Predomina a onipotência; Não reconheço o que é ruim como sendo meu (projeção). Cisão do objeto interno. O ego é fragmentado. A ansiedade é paranóide/persecutória, pois o ego é frágil para lidar com o desconforto, com o ódio e com a frustração. São fantasias usadas como forma de proteção e organização da mente feita pelo ego. POSIÇÃO DEPRESSIVA Reconhece a realidade interna e externa Mãe como objeto total (completa e real) Ambivalência-culpa-reparação Possibilita viver a subjetividade Reconheço a dependência Diminuição da onipotência Reconhecimento da própria hostilidade Dor ao perceber os sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto A ansiedade é depressiva Suporta a não exclusividade Elabora a culpa-responsabilidade Percebe que o objeto não está sob o seu controle Inicia-se a vida simbólica a partir do brincar. Melanie Klein Psicose - Criança que tem sua formação simbólica totalmente impedida, como resultado a criança deixou de dotar o mundo à sua volta de qualquer interesse. Em seu caso, a análise revelou que o ataque do corpo da mãe levou uma ansiedade tão intensa, que a criança negava o interesse por ela e não podia, portanto, simbolizar esse interesse em outros objetos ou relações. - > Livro: A criança e o seu mundo Donald Wood Winnicott Capítulo 22: Por que as crianças brincam? Biografia - Winnicott Nasceu em sete de abril de 1896, em Plymouth na Inglaterra. Filho de John Frederick Winnicott e Elizabeth Martha Woods Winnicott. Em 1923, trabalhou como pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista. Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein. Entre 1939 e 1962, Winnicott participu de diversas conferências e falou em diversos programas de rádio sobre a relação mãe e criança. Mãe suficientemente boa Uma mãe dedicada para suprir as necessidades fisiológicas e emocionais da criança. - > O terapeuta deve ser suficientemente bom; Demonstra o vínculo entre o bebê e a sua mãe: amor é o nome desse vínculo. O amor da mãe é algo semelhante a uma força primitiva. Há a necessidade de proteger a mãe e o bebê de tudo que pretenda interferir no vínculo entre eles, que é fundamental na própria natureza do cuidado materno. Mãe suficientemente boa A mãe deve agir intuitivamente para gerar as bases para o desenvolvimento dos seus filhos. Em que deve descobrir a plenitude da maternidade em si própria; O bebê dar-se conta da mãe como pessoa e o que fez ter certeza, nesse momento emocionante, de que vocês eram duas pessoas comunicando-se mutualmente. E o filhinho é digno de ser reconhecido como pessoa. Objeto transicional É um mediador entre mãe e filho, eu e não-eu, mundo interno e mundo externo. É um objeto ou espaço que facilita a criança a lidar com a falta da mãe. Winnicott remonta ao primeiro vínculo da criança com o mundo externo, a relação com o seio materno. Brincar É uma experiência criativa que tem como característica essencial o desejo de comunicar; O espaço e o tempo da psicoterapia tornam-se reais para a criança; O brincar psicoterapêutico é passível de se tornar assustador para a criança; A limitação da atividade lúdica está no fato de que se encontra na linha teórica entre o subjetivo e o que é objetivamente percebido; Fornece uma organização para a iniciação das relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais; Promove a unificação e a integração geral da personalidade; É fundamental a interpretação do brincar da criança pelo analista; Brincar Elementos constitutivos do brincar: Prazer: Experiências de brincadeira física e emocional. São capazes de encontrar objetos e inventar brincadeiras com facilidade. Adquire experiências internas e externas brincando, em que podem evoluir por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas por outras crianças e por adultos. Brincar Elementos constitutivos do brincar: Agressividade e angústia: As crianças brincam para dominar suas angústias, controlar ideias, ou impulsos que conduzem à angústia, se não forem dominados. A angústia é um fator fundamental na brincadeira infantil. A ameaça de um excesso de angústia conduz à brincadeira compulsiva, ou à brincadeira repetida, ou uma busca exagerada dos prazeres que pertencem à brincadeira.
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