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Piaget, Wallon e Vygotsky algumas contribuições no ensino aprendizagem

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ALGUMAS REFLEXÕES
 SOBRE O ENSINO MEDIADO POR COMPUTADORES
 
Cíntia Maria Basso
 
 
1. INTRODUÇÃO
 
As rápidas mudanças ocorridas na sociedade e o grande volume de informações estão refletindo-
se no ensino, exigindo, desta forma, que a escola não seja uma mera transmissora de
conhecimentos, mas que seja um ambiente estimulante, que valorize a invenção e a descoberta,
que possibilite à criança percorrer o conhecimento de maneira mais motivada, crítica e criativa,
que proporcione um movimento de parceria, de trocas de experiências, de afetividade no ato de
aprender e desenvolver o pensamento crítico reflexivo.
 
A integração dos computadores nas escolas, vista como uma dinâmica de interação, como um
ambiente rico para a mediação entre sujeitos, oferece condições para envolver as crianças e
estimular a investigação, além de possibilitar paradas e retornos para interpretação, análise,
atendendo o ritmo de cada criança.
 
Enfatiza-se, através da informática educativa, a descoberta e a invenção, possibilitando a
formação de alunos capazes de construir seu próprio conhecimento, tornando-se pesquisadores
autônomos à medida que descobrem novas áreas de seu interesse. O professor precisa
transformar-se em um guia, capaz de estimular seus alunos a navegarem pelo conhecimento,
fazerem suas próprias descobertas e desenvolverem sua capacidade de observar, pensar,
comunicar e criar.
 
Neste artigo, sistematizarei alguns pressupostos básicos das teorias do desenvolvimento de
Piaget, Wallon e Vygotsky. Após, farei algumas reflexões sobre a integração de computadores nas
escolas e as contribuições da teoria do desenvolvimento de Vygotsky, a qual explica a
interatividade e a construção coletiva do conhecimento em um meio sócio-histórico cultural,
propiciada pela mediação aluno/aluno; aluno/professor; aluno/computador; enfim,
aluno/conhecimento.
 
2. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE JEAN PIAGET
 
Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos estudos do conhecimento humano, concluindo
que, assim como os organismos vivos podem adaptar-se geneticamente a um novo meio, existe 
também uma relação evolutiva entre o sujeito e o seu meio, ou seja, a criança reconstrói suas
ações e idéias quando se relaciona com novas experiências ambientais. Para ele, a criança
constrói sua realidade como um ser humano singular, situação em que o cognitivo está em
supremacia em relação ao social e o afetivo.
 
Na perspectiva construtivista de Piaget, o começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o
objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto.
Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, é algo que se
dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer são
construídas nas trocas com os objetos, tendo uma melhor organização em momentos sucessivos
de adaptação ao objeto. A adaptação ocorre através da organização, sendo que o organismo
discrimina entre estímulos e sensações, selecionando aqueles que irá organizar em alguma forma
de estrutura. A adaptação possui dois mecanismos opostos, mas complementares, que garantem
o processo de desenvolvimento: a assimilação e a acomodação. Segundo Piaget, o conhecimento
é a equilibração/reequilibração entre assimilação e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os
objetos do mundo.
 
A assimilação é a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito, é o
processo pelo qual as idéias, pessoas, costumes são incorporadas à atividade do sujeito. A
criança aprende a língua e assimila tudo o que ouve, transformando isso em conhecimento seu. A
acomodação é a modificação dos esquemas para assimilar os elementos novos, ou seja, a
criança que ouve e começa a balbuciar em resposta à conversa ao seu redor gradualmente
acomoda os sons que emite àqueles que ouve, passando a falar de forma compreensível.
 
Segundo FARIA (1998), os esquemas são uma necessidade interna do indivíduo. Os esquemas
afetivos levam à construção do caráter, são modos de sentir que se adquire juntamente às ações
exercidas pelo sujeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos conduzem à formação
da inteligência, tendo a necessidade de serem repetidos (a criança pega várias vezes o mesmo
objeto). Outra propriedade do esquema é a ampliação do campo de aplicação, também chamada
de assimilação generalizadora (a criança não pega apenas um objeto, pega outros que estão por
perto). Através da discriminação progressiva dos objetos, da capacidade chamada de assimilação
recognitiva ou reconhecedora, a criança identifica os objetos que pode ou não pegar, que podem
ou não dar algum prazer à ela.
 
FARIA (op.cit.) salienta que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento, segundo Piaget, são:
maturação; experiência física e lógico-matemática; transmissão ou experiência social;
equilibração; motivação; interesses e valores; valores e sentimentos. A aprendizagem é sempre
provocada por situações externas ao sujeito, supondo a atuação do sujeito sobre o meio,
mediante experiências. A aprendizagem será a aquisição que ocorre em função da experiência e
que terá caráter imediato. Ela poderá ser: experiência física - comporta ações diferentes em
função dos objetos e consiste no desenvolvimento de ações sobre esses objetos para descobrir
as propriedades que são abstraídas deles próprios, é o produto das ações do sujeito sobre o
objeto; e experiência lógico-matemática – o sujeito age sobre os objetos de modo a descobrir
propriedades e relações que são abstraídas de suas próprias ações, ou seja, resulta da
coordenação das ações que o sujeito exerce sobre os objetos e da tomada de consciência dessa
coordenação. Essas duas experiências estão inter-relacionadas, uma é condição para o
surgimento da outra.
 
Para que ocorra uma adaptação ao seu ambiente, o indivíduo deverá equilibrar uma descoberta,
uma ação com outras ações. A base do processo de equilibração está na assimilação e na
acomodação, isto é, promove a reversibilidade do pensamento, é um processo ativo de auto-
regulação. Piaget afirma que, para a criança adquirir pensamento e linguagem, deve passar por
várias fases de desenvolvimento psicológico, partindo do individual para o social. Segundo ele, o
falante passa por pensamento autístico, fala egocêntrica para atingir o pensamento lógico, sendo
o egocentrismo o elo de ligação das operações lógicas da criança. No processo de egocentrismo,
a criança vê o mundo a partir da perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu próprio
ponto de vista, estando o pensamento e a linguagem centrados na criança.
 
Para Piaget, o desenvolvimento mental dá-se espontaneamente a partir de suas potencialidades e
da sua interação com o meio. O processo de desenvolvimento mental é lento, ocorrendo por meio
de graduações sucessivas através de estágios: período da inteligência sensório-motora; período
da inteligência pré-operatória; período da inteligência operatória-concreta; e período da
inteligência operatório-formal.
 
 
3. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE HENRY WALLON
 
A criança, para Wallon, é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um
ser sócio-cognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no
conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência.
 
Segundo GALVÃO (2000), Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros
são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo
cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três
anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano,
sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos
formato e expressão.
 
Antes do surgimento da linguagem falada, as crianças comunicam-se e constituem-se como
sujeitos com significado,através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo
suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva. Estes processos
comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imitação. Imitando, a criança
desdobra, lentamente, a nova capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se
diferenciará dos outros) formando sua subjetividade. Pela imitação, a criança expressa seus
desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio.
 
Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da idéia
de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise,
isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se
desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica
de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso.
 
No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e após o social adquire
maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a
linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social
é muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso,
sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento.
 
De acordo com GALVÃO (op.cit.), no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida
pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança
em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os significados
próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo.
 
Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação,
exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a
subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste
estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo
como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do
pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão.
 
Na gênese da representação, que emerge da imitação motora-gestual ou motricidade emocional,
as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se” do
outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos, tornando-se habilitada à
representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a
representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma
ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de representação.
Essa é a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a
inteligência verbal ou representativa.
 
Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os
significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está
voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num
mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz
com que as idéias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo
de formação da personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo
avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais,
morais, predominando a afetividade. Ainda conforme GALVÃO, é nesse estágio que se intensifica
a realização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta
redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no
qual está inserida a criança.
 
4. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE LEV S. VYGOTSKY
 
Para Vygotsky, a criança nasce inserida num meio social, que é a família, e é nela que estabelece
as primeiras relações com a linguagem na interação com os outros. Nas interações cotidianas, a
mediação (necessária intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se
estabeleça) com o adulto acontece espontaneamente no processo de utilização da linguagem, no
contexto das situações imediatas.
 
Essa teoria apóia-se na concepção de um sujeito interativo que elabora seus conhecimentos
sobre os objetos, em um processo mediado pelo outro. O conhecimento tem gênese nas relações
sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por condições culturais, sociais e
históricas.
 
Segundo Vygotsky, o homem se produz na e pela linguagem, isto é, é na interação com outros
sujeitos que formas de pensar são construídas por meio da apropriação do saber da comunidade
em que está inserido o sujeito. A relação entre homem e mundo é uma relação mediada, na qual,
entre o homem e o mundo existem elementos que auxiliam a atividade humana. Estes elementos
de mediação são os signos e os instrumentos. O trabalho humano, que une a natureza ao homem
e cria, então, a cultura e a história do homem, desenvolve a atividade coletiva, as relações sociais
e a utilização de instrumentos. Os instrumentos são utilizados pelo trabalhador, ampliando as
possibilidades de transformar a natureza, sendo assim, um objeto social.
 
Os signos também auxiliam nas ações concretas e nos processos psicológicos, assim como os
instrumentos. A capacidade humana para a linguagem faz com que as crianças providenciem
instrumentos que auxiliem na solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para um problema
e controlem seu comportamento. Signos e palavras são para as crianças um meio de contato
social com outras pessoas. Para Vygotsky, signos são meios que auxiliam/facilitam uma função
psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.), sendo
capazes de transformar o funcionamento mental. Desta maneira, as formas de mediação
permitem ao sujeito realizar operações cada vez mais complexas sobre os objetos.
 
Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudanças qualitativas no uso dos signos: o processo de
internalização e a utilização de sistemas simbólicos. A internalização é relacionada ao recurso da
repetição onde a criança apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os sistemas simbólicos
organizam os signos em estruturas, estas são complexas e articuladas. Essas duas mudanças
são essenciais e evidenciam o quanto são importantes as relações sociais entre os sujeitos na
construção de processos psicológicos e no desenvolvimento dos processos mentais superiores.
Os signos internalizados são compartilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da
interação social e a comunicação entre os sujeitos. As funções psicológicas superiores aparecem,
no desenvolvimento da criança, duas vezes: primeiro, no nível social (entre pessoas, no nível
interpsicológico) e, depois, no nível individual (no interior da criança, no nível intrapsicológico).
Sendo assim, o desenvolvimento caminha do nível social para o individual.
 
Como visto, exige-se a utilização de instrumentos para transformar a natureza e, da mesma
forma, exige-se o planejamento, a ação coletiva, a comunicação social. Pensamento e linguagem
associam-se devido à necessidade de intercâmbio durante a realização do trabalho. Porém, antes
dessa associação, a criança tem a capacidade de resolver problemas práticos (inteligência
prática), de fazer uso de determinados instrumentos para alcançar determinados objetivos.
Vygotsky chama isto de fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-
intelectual no desenvolvimento da linguagem.
 
Por volta dos 2 anos de idade, a fala da criança torna-se intelectual, generalizante, com função
simbólica, e o pensamento torna-severbal, sempre mediado por significados fornecidos pela
linguagem. Esse impulso é dado pela inserção da criança no meio cultural, ou seja, na interação
com adultos mais capazes da cultura que já dispõe da linguagem estruturada. Vygotsky destaca a
importância da cultura; para ele, o grupo cultural fornece ao indivíduo um ambiente estruturado
onde os elementos são carregados de significado cultural.
 
Os significados das palavras fornecem a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo, ou seja,
como diz VYGOTSKY (1987), é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em
pensamento verbal. Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando
pela fala egocêntrica, atingindo a fala interior que é pensamento reflexivo.
 
A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de
comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e pessoais. No início do
desenvolvimento, a fala do outro dirige a ação e a atenção da criança. Esta vai usando a fala de
forma a afetar a ação do outro. Durante esse processo, ao mesmo tempo que a criança passa a
entender a fala do outro e a usar essa fala para regulação do outro, ela começa a falar para si
mesma. A fala para si mesma assume a função auto-reguladora e, assim, a criança torna-se
capaz de atuar sobre suas próprias ações por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da fala
egocêntrica indica a trajetória da criança: o pensamento vai dos processos socializados para os
processos internos.
 
A fala interior, ou discurso interior, é a forma de linguagem interna, que é dirigida ao sujeito e não
a um interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve mediante um lento acúmulo de
mudanças estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina, tornem-se
estruturas básicas de seu próprio pensamento. A fala interior não tem a finalidade de
comunicação com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo
fragmentada, abreviada.
 
A relação entre pensamento e palavra acontece em forma de processo, constituindo-se em um
movimento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra e vice-versa. Esse processo passa
por transformações que, em si mesmas, podem ser consideradas um desenvolvimento no sentido
funcional. VYGOTSKY (op.cit.) diz que o pensamento nasce através das palavras. É apenas pela
relação da criança com a fala do outro em situações de interlocução, que a criança se apropria
das palavras, que, no início, são sempre palavras do outro. Por isso, é fundamental que as
práticas pedagógicas trabalhem no sentido de esclarecer a importância da fala no processo de
interação com o outro.
 
Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento
do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem,
incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre eles. Ele explica esta conexão
entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância
entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço
dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento
real) e os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento, para em
seguida, chegar a dominá-los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial).
 
5. O INTERACIONISMO E A MEDIAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO ESCOLAR
 
A integração de novas tecnologias nas escolas precisa dar ênfase na importância do contexto
sócio-histórico-cultural em que os alunos vivem e a aspectos afetivos que suas linguagens
representam. O uso de computadores como um meio de interação social, onde o conflito
cognitivo, os riscos e desafios e o apoio recíproco entre pares está presente, é um meio de
desenvolver culturalmente a linguagem e propiciar que a criança construa seu próprio
conhecimento. Segundo RICHTER (2000), as crianças precisam correr riscos e desafios para
serem bem sucedidas em seu processo de ensino-aprendizagem, produzindo e interpretando a
linguagem que está além das certezas que já tem sobre a língua.
 
Vygotsky valoriza o trabalho coletivo, cooperativo, ao contrário de Piaget, que considera a criança
como construtora de seu conhecimento de forma individual. O ambiente computacional
proporciona mudanças qualitativas na zona de desenvolvimento proximal do aluno, os quais não
acontecem com muita freqüência em salas de aula “tradicionais”. A colaboração entre crianças
pressupõe um trabalho de parceria conjunta para produzir algo que não poderiam produzir
individualmente.
 
A zona de desenvolvimento proximal, comentada anteriormente, possibilita a interação entre
sujeitos, permeada pela linguagem humana e pela linguagem da máquina, força o desempenho
intelectual porque faz os sujeitos reconhecerem e coordenarem os conflitos gerados por uma
situação problema, construindo um conhecimento novo a partir de seu nível de competência que
se desenvolve sob a influência de um determinado contexto sócio-histórico-cultural. Wallon
também acredita que o processo de construção do conhecimento passa por conflitos, momentos
de crises e rupturas.
 
A colaboração em um ambiente computacional torna-se visível e constante, vinda do ambiente
livre e aberto ao diálogo, da troca de idéias, onde a fala tem papel fundamental na aplicação dos
conteúdos. A interação entre o parceiro sentado ao lado, entre o computador, os conhecimentos,
os professores que seguem o percurso da construção do conhecimento, e até mesmo os outros
colegas que, apesar de estarem envolvidos com sua procura, pesquisa, navegação, prestam
atenção ao que acontece em sua volta, gera uma grande equipe que busca a produção do
conhecimento constantemente. Através disso tudo a criança ganhará mais confiança para produzir
algo, criar mais livremente, sem medo dos erros que possa cometer, aumentando sua auto-
confiança, sua auto-estima, na aceitação de críticas, discussões de um trabalho feito pelos seus
próprios pares.
 
As novas tecnologias não substituem o professor, mas modificam algumas de suas funções. O
professor transforma-se agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por
pesquisar, por buscar as informações. Ele coordena o processo de apresentação dos resultados
pelos alunos, questionando os dados apresentados, contextualizando os resultados, adaptando-os
para a realidade dos alunos. O professor pode estar mais próximo dos alunos, receber
mensagens via e-mail com dúvidas, passar informações complementares para os alunos, adaptar
a aula para o ritmo de cada um. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem ganha um
dinamismo, inovação e poder de comunicação até agora pouco utilizados.
 
As crianças também podem utilizar o E-mail para trocar informações, dúvidas com seus colegas e
professores, tornando o aprendizado mais cooperativo. O uso do correio eletrônico proporciona
uma rica estratégia para aumentar as habilidades de comunicação, fornecendo ao aluno
oportunidades de acesso a culturas diversas, aperfeiçoando o aprendizado em várias àreas do
conhecimento.
 
O uso da Internet, ou seja, o hiperespaço, é caracterizado como uma forma de comunicação que
propicia a formação de um contexto coletivizado, resultado da interação entre participantes.
Conectar-se é sinônimo de interagir e compartilhar no coletivo. A navegação em sites transforma-
se num jogo discursivo em que significados, comportamentos e conhecimentos são criticados,
negociados e redefinidos. Este jogo comunicativo tende a reverter o “monopólio” da fala do
professor em sala de aula.
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Desta forma, a implantação de novas tecnologias na escola deve ser mediada por atitudes
pedagógicas que permitam formar o cidadão que ocupará seu lugarneste novo espaço. As
tecnologias, dentro de um projeto pedagógico inovador, facilitam e estimulam o processo de
ensino-aprendizagem. Neste sentido, a hipermídia introduz a interatividade no aprendizado,
propiciando o diálogo ativo com o mundo do conhecimento, apresentando informações através de
um contínuo canal de escolhas individuais. Ela nos permite navegar e determinar os caminhos a
seguir de acordo com nossos interesses e nosso próprio ritmo. Enfim, é descoberta, é pesquisa, é
conhecimento, é participação, sensibilizando assim, para novos assuntos, novas informações,
diminuindo a rotina e nos ligando com o mundo, trocando experiências entre si, conhecendo-se,
comunicando-se, enfim, educando-se.
 
RICHTER (op.cit.), ao referir-se ao interacionismo, observa a necessidade de se dar ênfase
à interação conversacional entre as crianças, para terem, com isso, acesso a input significativo e
compreensivo (agir sobre uma mensagem para verificar o que entendeu sobre determinado
assunto), com vistas à chegarem à negociação de sentidos (expressar e esclarecer intenções,
pensamentos, opiniões). Através dessa negociação de sentidos, a criança poderá produzir uma
nova mensagem sobre o que realmente entendeu (output).
 
Portanto, é no ensino fundamental que deve começar o processo de conscientização de
professores e alunos no sentido de buscar e usar a informação, na direção do enriquecimento
intelectual, na auto-instrução. Isso significa que não podemos admitir, nos tempos de hoje, um
professor que seja um mero repassador de informações. O que se exige, é que ele seja um
criador de ambientes de aprendizagem, parceiro e colaborador no processo de construção do
conhecimento, que se atualize continuamente.
 
BIBLIOGRAFIA :
 
CASTORINA, JOSÉ ANTÔNIO. "O debate Piaget-Vygotsky: a busca de um critério para sua
avaliação". In: Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 1988.
pp.7-50
CORRÊA, MÁRCIA AMARAL. "As relações existentes entre os pressupostos teóricos da 
epistemologia genética piagetiana e a utilização da produção textual no espaço escolar". In:
Ciências e Letras. Porto Alegre, N.26, pp.79-96, jul./dez. 1999.
DAVIS, CLÁUDIA. "O construtivismo de Piaget e o sócio-interacionismo de Vygotsky". In: Anais:
I Seminário Internacional de Alfabetização & Educação Científica. Ijuí: UNIJUÍ, 1993.
FARIA, ANÁLIA RODRIGUES DE. Desenvolvimento da criança e do adolescente
segundo Piaget. 4ª. ed. São Paulo : Ática, 1998. Capítulos 1 e 3.
GALVÃO, IZABEL. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 
7ª.ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2000.(Educação e conhecimento). 134 p.
LA TAILLE, YVES DE; OLIVEIRA, MARTA KOHL DE. Piaget, Vygotsky, Wallon : teorias
psicogenéticas em discussão. São Paulo : Summus.
ANA LUÍSA SMOLKA, MARIA CECILIA RAFAEL DE GÓES(orgs). A linguagem e o
outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. 4.ed. Campinas
:Papirus, 1995. (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico). 177p.
MOLL, LUIS C. Vygotsky e a educação: implicações pedagógicas da psicologia
sócio- histórica. Porto Alegre : Artes Médicas, 1996.
OLIVEIRA, MARTA KOHL DE. "O pensamento e a linguagem na perspectiva sócio-histórica". In:
Anais: I Seminário Internacional de Alfabetização & Educação Científica. Ijuí : UNIJUÍ, 1993.
________________________. Pensar a educação: contribuições de Vygotsky. In:
Piaget- Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo:Ática, 1988. pp. 51-83.
________________________. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo
sócio- histórico. Scipione. Série Pensamento e Ação no Magistério.
PRETTO, NELSON DE LUCA. "A educação num mundo de comunicação". In: Uma escola
com/sem futuro. Campinas: Papirus, 1996. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico). pp. 97-120.
RICHTER, MARCOS GUSTAVO. Ensino do português e interatividade. Santa Maria: Ed.
UFSM, 2000.136 p.
SCHAFFER, MARGARETH. "O construtivismo-interacionista e as novas intersecções". In: Anais:
I Seminário Internacional de Alfabetização & Educação Científica. Ijuí : UNIJUÍ, 1993.
MARIA CECÍLIA GÓES; ANA LUIZA SMOLKA (orgs.) A significação nos espaços 
educacionais: interação social e subjetivação. Campinas: Papirus, 1997. (Coleção 
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). 179 p.
SMOLKA, ANA LUIZA B. et al. Leitura e desenvolvimento da linguagem. Porto Alegre :
Mercado Aberto, 1989. (Série Novas Perspectivas). 69p.
TAJRA, SANMYA FEITOSA. Informática na educação: novas ferramentas pedagógicas
para o professor da atualidade. 2ª.ed. São Paulo: Érica, 2000. 143 p.
VERÍSSIMO, MARA RÚBIA ALVES MARQUES. "O materialismo histórico e dialético nas
abordagens de Vygotsky e Wallon acerca do pensamento e da linguagem". In: Educação e
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VYGOTSKY, LEV S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 135 p. 
(Coleção Psicologia e Pedagogia).
VYGOTSKY, LEV S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. 3ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168p. (Coleção Psicologia e
Pedagogia. Nova Série).

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