Buscar

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
1 
 História da Psicologia 
 William B. Gomes 
 Aula 1 
 
 
 INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
 DE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 
 
 
1.1. Definição 
Psicologia é a ciência da alma, ou da psique, ou da mente, ou do 
comportamento. Refere-se, na verdade, a um conjunto de funções que se distinguem 
em três grandes vias: a via ativa (movimentos, instintos, hábitos, vontade, liberdade, 
tendências, e inconsciente); a via afetiva (prazer e dor, emoção, sentimento, paixão, 
amor); e a via intelectiva (sensação, percepção, imaginação, memória, idéias, 
associação de idéias). Estas três vias articulam-se em grandes sínteses mentais, tais 
como: atenção, linguagem e pensamento, inteligência, julgamento, raciocínio e 
personalidade (Meynard, 1958). Estas funções também são conhecidas como 
cognitivas, afetivas e conativas. As cognições são as capacidades do intelecto, as 
afeições são os sentimentos e emoções, e a conação refere-se as nossas atividades, que 
são as respostas expressivas ou comportamentais. A conação como uma expressão de si 
para o outro traz sempre implicações, sejam boas ou más (Tabela 1). 
 
Tabela 1 
Manifestações Psicológicas 
 
Via Ativa Via Afetiva Via Cognitiva 
Movimentos 
Instintos 
Hábitos 
Vontade 
Liberdade 
Tendências 
Inconsciente 
Prazer 
Dor 
Emoção 
Sentimento 
Paixão 
Amor 
Ódio 
Sensação 
Percepção 
Imaginação 
Memória 
Idéias 
Grandes Sínteses 
Atenção 
Consciência 
Linguagem 
Pensamento 
Inteligência 
Julgamento 
Raciocínio 
Personalidade 
 
Sabemos que a nossa história de vida caracteriza-se por um longo 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
2 
desenvolvimento físico e mental. Este desenvolvimento pode encontrar, em sua 
trajetória, fatores favoráveis e desfavoráveis. Ele recebe influências dos grupos sociais 
que nos envolvem em diferentes camadas e de diferentes modos. O desenvolvimento 
psicológico consiste na formação gradativa de sínteses mentais. Estas sínteses 
expressam-se no nosso modo de ser e de agir que juntamente com nossas 
características herdadas constituem a personalidade. Pode-se dizer, então, que o estudo 
da psicologia organiza-se: no interesse do conhecimento das funções psicológicas 
básicas em suas três vias; no interesse de saber como estas funções se desenvolvem; no 
interesse de saber o que é facilitador ou impeditivo deste desenvolvimento (Seriam 
ambientais? Seriam neurofisiológicos? Seriam restrito a área dos afetos? Seriam 
problemas na formação de hábitos? Seriam existenciais? Seriam comportamentais? 
Seriam cognitivos? Seriam sócio-econômicos? Seriam ecológicos?); no interesse de 
saber como propor tratamentos para os fatores impeditivos do desenvolvimento em 
todas as fases da nossa vida (pré-natal, infância, adolescência, adulto jovem, adulto, 
envelhecimento e morte). A psicologia interessa-se ainda pelo ambiente em que 
vivemos, pelo arquitetura de nossa casa, pela organização da nossa cidade (vida 
comunitária, trânsito, ruídos, violência), por nosso desempenho na escola, pelo modo 
como os professores desenvolvem suas tarefas, pela nossa escolha profissional, pelo 
nosso relacionamento com a família e com os amigos, pela nossa adaptação e 
satisfação profissional, pela escolha de nossos parceiros afetivos (namoro, casamento, 
divórcio, relacionamento com os filhos) e pelos nossos desapontamentos e frustrações. 
O melhor modo de obter este conhecimento e de transformá -lo em ferramentas de 
atuação profissional é motivo de muita polêmica e inspiração para uma grande 
proliferação de teorias. Em outras palavras, ainda temos muito o que aprender sobre a 
complexidade deste homo sapiens sapiens. 
 O campo da psicologia é muito vasto. Inclui atividades consagradas como a 
psicologia clínica, escolar, atividades em pesquisas básicas como o estudo dos 
processos psiconeurológicos e memória, e um enorme conjunto de possibilidades 
aplicadas e de pesquisa que inclui matemática, física, informática, engenharia, 
enfermagem, trânsito, ecologia, psicofísica, genética, administração, comunidade, 
sociologia, antropologia, educação e marketing. Um estudante de psicologia que é 
naturalmente curioso, que gosta de desafios e que consegue antever os rumos do 
desenvolvimento social e econômico terá um papel destacado na profissão e muito 
sucesso. Na verdade, a psicologia é uma ciência aplicada mas também uma ciência 
básica de grande importância para qualquer campo de conhecimento. Uma maneira de 
entender o vasto campo da psicologia é distinguir suas duas grandes tradições. De um 
lado, o interesse em saber o que é o nosso intelecto, isto é, a nossa capacidade de 
conhecer (via cognitiva). Do outro, o interesse em saber como e porque somos 
diferentes uns dos outros e respondemos de modos diferentes as influências ambientais 
(via afetiva e conativa). Por exemplo, por que de uma mesma família sai um filho 
altruísta e dedicado às soluções dos grandes problemas da humanidade e um outro 
delinqüente e criminoso? Por que uma criança vai para a escola e aprende as lições com 
a maior facilidade e uma outra apresenta uma grande dificuldade no seu aprendizado? 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
3 
A psicologia que conhecemos hoje é o resultado da confluência de 
preocupações e métodos oriundos da filosofia e da fisiologia. Todas as funções 
psicológicas decorrem de processos orgânicos. Avanços nos campos da genética, 
neurofisiologia e bioquímica trouxeram importantes esclarecimentos sobre processos 
psicológicos básicos como, por exemplo, hereditariedade, agressividade, depressão e 
ansiedade. Por outro lado, o modo como formulamos perguntas, encaminhamos modos 
de resposta e organizamos nosso conhecimento é muito influenciado por toda a história 
da filosofia. Assim, o objetivo do Curso de História da Psicologia é percorrer, 
brevemente, alguns dos principais caminhos da psicologia, desde os antigos gregos até 
a criação dos cursos de psicologia no Brasil. 
 
1.2 A natureza do conhecimento histórico 
 Ao iniciar um curso de história da psicologia temos que considerar algumas 
questões básicas sobre o estudo de história e sobre a veracidade do conhecimento 
histórico. Neste sentido, vamos examinar quatro perguntas, são elas: 1) o que é um fato 
histórico? 2) que história da psicologia será apresentada nesta disciplina? 3) como se 
estabelecem relações entre fatos históricos? e 4) qual a importância do estudo da 
história da psicologia? 
O fato histórico refere-se a um episódio que aconteceu em algum lugar do 
passado e cuja a verificação é limitada. Esse fato permanece através de efeitos a ele 
atribuídos que podem ser verdadeiros ou não. São vestígios e pistas que podem indicar 
sua ocorrência e ensejar interpretações diversas. O problema é como interpretar estes 
vestígios para descrevê-los de tal modo que faça sentido e indique sua importância. 
Assim, a história é sempre parcial pois apóia-se na seletividade de quem reuniu os fatos 
ditos históricos e organizou a narrativa. O que temos são versões dos fatos que ganham 
credibilidade de acordo com as evidências apresentadas, como documentos da época 
ou fontes primárias. 
As relações entre os fatos históricos são sugestões interpretativas baseadas em 
argumentos que podem ser aceitos ou não. Neste sentido, uma pergunta clássica é: são 
os fatos históricos encadeados por si mesmos ou somos nós que oferecemos este 
encadeamento? Na verdade, os encadeamentos históricos são propostas analíticas de 
historiadores. Alguns impõem-se pelo consenso. Outros, são alvos constante de 
debates. Outros, sobrevivem como marcos referenciais na forma de consagração de 
heróis e na exaltação da sua contribuição histórica. Ainda, o relacionamento e 
contraste de fatos históricos envolve um debate importante sobre a naturezado 
desenvolvimento do conhecimento. A pergunta é: seria este desenvolvimento contínuo 
ou descontínuo? O que está relacionado a quê? O que sucede o quê? As respostas são 
sempre interpretações e conjecturas? 
Por fim, diante de tantas limitações, vale a pena estudar história? Apesar de 
todas estas limitações, a história é o melhor modo de se iniciar em um campo de 
estudo. É através da história que se identifica a origem dos conceitos e dos equívocos 
que muitas vezes atrasaram ou anteciparam grandes descobertas. É o melhor caminho 
para o conhecimento das diferentes tradições, e do desenvolvimento das principais 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
4 
idéias de uma determinada ciência. É bem verdade que o estudo da história de um 
campo ainda desconhecido é, de certa forma, árido e cansativo. Deve-se também 
alertar que a escolha da psicologia como objeto de estudo é, muitas vezes, 
contextualizado em entendimentos equivocados e míticos que causam grande 
desconforto e desencorajamento ao jovem estudante. No entanto, dê uma chance à 
história. Uma sugestão talvez caiba neste momento. Por que não colocar em suspensão 
suas teorias pessoais sobre psicologia? É como guardá-las bem cuidadosamente numa 
gaveta ou talvez num cofre para que ninguém a roube de você. Então, sem 
preconceitos, embarque nesta viagem às muitas possíveis origens da psicologia e 
principalmente aos diferentes modos de estudá-la. Depois, volte lá onde estão 
guardadas suas teorias, tente localizar suas origens e, porque não, levá-las adiante, 
sempre acompanhado de muito rigor crítico. Você pode ser o grande teórico da 
psicologia do próximo século. 
 
1.3 Diferentes modos para estudar a história da psicologia 
Existem muitos modos de estudar a história da psicologia. Um modo muito 
usual é a cronologia ou a crônica dos eventos. Trata-se da organização do relato 
histórico numa certa ordem temporal. É também a imposição do caracter diacrônico da 
narrativa, isto é, uma coisa atrás da outra na ordem de ocorrência. Dois importantes 
historiadores em psicologia, que deram aos seus relatos uma ênfase cronológica, foram 
Boring (1950) e (Murphy) 1949. 
O campo da psicologia é conhecido pela sua fragmentação e pelas disputas 
teóricas. No início deste século, a história da psicologia caracterizou-se por grandes 
escolas ou sistemas. Estas escolas eram formulações teóricas sobre o que é ou deve ser 
psicologia. Exemplo destas grandes escolas, algumas ainda persistindo até hoje, são: 
psicanálise, behaviorismo, Gestalt, e funcionalismo. Autores que organizam suas 
narrativas históricas em função destas escolas foram Heidbreder (1933), Woodworth e 
Sheedan, (1964), Wolman (1960), e Marx e Hillix (1963). 
Sabe-se que a psicologia não é um campo unitário. Há uma grande diversidade 
de teorias. Quando se diz que é psicólogo, logo a seguir, além de dizer qual a 
especialidade, se diz também qual é a abordagem preferida. Alguns autores 
contemplaram a história da psicologia do ponto de vista das diferentes teorias, como 
por exemplo as teorias de personalidade (Hall e Lindsey, 1957) e as teorias da 
aprendizagem (Hilgard, 1956). Estes dois livros são, atualmente, "clássicos" da 
literatura psicológica. 
Outro modo interessante de estudar história da psicologia é através da biografia 
dos grandes psicólogos. Um exemplo de um livro organizado em pequenas biografias é 
a History of Psychology de David Hothersall (1990). Uma antologia de textos clássicos é 
Herrnstein e Boring (1971). 
Existem também compêndios e artigos de história da psicologia que tratam do 
desenvolvimento desta ciência em diferentes regiões. Hilgard (1987) escreveu sobre a 
história da psicologia nos Estados Unidos, e Ardila (1986) sobre a história da 
psicologia na América Latina. Quanto ao livro de Hilgard, é interessante notar o modo 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
5 
como foram organizados os capítulos. Uma parte traz a história das grandes áreas de 
pesquisa básica em psicologia: sensação e ciência sensorial, percepção, aprendizagem e 
memória, cognição e ciência cognitiva (pensamento, linguagem, inteligência artificial), 
consciência (incluindo consciência subliminar e estados alterados da consciência), 
sentimentos e emoções, e ação - motivação - vontade. Outra parte traz a história das 
grandes subdivisões da psicologia: psicologia comparada enquanto biologia 
comportamental - evolução e genética; psicologia fisiológica enquanto neurociência; 
inteligência - medida e controvérsia; personalidade; desenvolvimento; social; clínica; 
psicologia e educação; e, por fim, psicologia do trabalho e das organizações. O último 
capítulo do livro de Hilgard contempla o dilema existencial da psicologia: psicologia - 
ciência natural ou humana? 
 
1.4 Revistas dedicadas aos temas históricos 
Os grandes momentos da história de uma ciência têm sido demarcados pela 
inauguração de laboratórios, lançamento de grandes manuais que sintetizam seu 
"estado da arte" e a fundação de Revistas Científicas. 
No caso da história da psicologia moderna, livros clássicos são Boring (1950) e 
de Murphy (1949). No entanto, o que vem indicando a importância do estudo da 
história da psicologia é o aparecimento de Revistas como Journal of the History of the 
Behavioral Sciences em 1964, e a criação da International Society for the History of the 
Behavioral Sciences em 1969 (Marx e Hillix, 1979). 
No Brasil, temos um grupo de pesquisadores interessados em história da 
psicologia. Marina Massimi (1990), que estudou a história da psicologia brasileira da 
época colonial até 1934, Isaias Pessotti (1975), escreveu um importante artigo 
intitulado "Dados para uma História da Psicologia no Brasil", Antônio Gomes Penna 
(1992) contou a história da psicologia do Rio de Janeiro, Regina H. F. Campos (1992) 
vem se dedicando ao estudo da história da Psicologia em Minas Gerais e Mitsuko A. 
M. Antunes (1998) escreveu um livro muito interessante sobre a História da Psicologia 
no Brasil abrangendo um período que vai de 1890 a 1930. 
No Rio Grande do Sul já existem algumas dissertações de mestrado e teses de 
doutorado sobre a História da Psicologia no estado como, por exemplo, Andrade, 
1990. Os pesquisadores envolvidos com História da Psicologia são Luiz Osvaldo 
Leite, William B. Gomes, Maria Lucia Nunes e Cristina Lhullier. 
 
1.5 Revistas Brasileiras de Psicologia que trazem artigos sobre História 
Textos de história da psicologia aparecem esporadicamente nas Revistas 
Científicas de Psicologia publicadas no Brasil. As mais importantes são: Arquivos 
Brasileiro de Psicologia criada e mantida durante muito tempo pela Fundação Getúlio 
Vargas do Rio de Janeiro e agora sob a responsabilidade do Departamento de 
Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Psicologia: Teoria e Pesquisa da 
Universidade de Brasília; Psicologia: Reflexão e Crítica da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul; Psico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e 
Cadernos de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. Para 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
6 
acompanhar os debates e o desenvolvimento da psicologia no Brasil consultar os anais 
das Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) com sede em 
Ribeirão Preto, estado de São Paulo e as coletâneas da Associação Nacional de 
Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia. A Editora da PUCSP vem lançando 
coletâneas de textos sobre historiografia em Psicologia e História de Psicologia no 
Brasil. 
 
1.6 As características da psicologia em diferentes regiões 
A psicologia assumiu características distintas em diferentes épocas e em 
diferentes regiões do mundo. Estas diferenças serão apontadas e também comparadas 
com as características que a psicologia temapresentado na América Latina, no Brasil e 
no Rio Grande do Sul. 
 
1.7 Objetivos da Disciplina 
A história da psicologia é a história do pensamento sobre a consciência, o 
inconsciente, e o comportamento humano. Temos, então, uma preocupação com os 
determinantes da racionalidade, da irracionalidade e da ação. Historicamente, temos 
uma psicologia aliada à filosofia para entender os processos da razão, pensamento, 
sentimento e percepção. Temos uma psicologia aliada a expressões artísticas, literárias 
e existenciais para entender a irracionalidade e a criatividade. E, temos também uma 
psicologia aliada com a fisiologia para entender o comportamento enquanto função da 
ação do sistema nervoso. 
Esta disciplina de história da psicologia tem o seu viés, a sua versão. Já que não 
se pode escapar do viés, tem-se a obrigação de explicitá-lo. O curso é, na verdade, uma 
introdução histórica e epistemológica (como se constitui e como se justifica um certo 
conhecimento) à psicologia. A principal preocupação é verificar quais são os 
argumentos que justificaram e justificam posições psicológicas em diferentes épocas e 
identificar as bases históricas e conceituais destes argumentos. Assim, quer saber o 
que é definido ou delimitado como psicológico (o que é psicologia) como se tem acesso 
e se justifica o conhecimento desta ciência, (epistemologia da psicologia) como se 
verifica se o que se sabe é falso ou verdadeiro (a lógica dos métodos de investigação 
psicológica) e quais as implicações morais disso que se descobre e que se sabe (qual a 
ética da psicologia). Curiosamente, as respostas para estas perguntas mudam de tempos 
em tempos. Quais são a respostas e justificativas do nosso tempo e até quando estas 
verdades estarão sendo aceitas? 
A demarcação das quatro perguntas (o que é? como é? por que é? e para que é?) 
estabelece o eixo central desta leitura da História da Psicologia. Define, também, o viés 
do professor, ou seja, uma leitura através das lentes da epistemologia. O termo 
epistemologia refere-se às regras e critérios de um conhecimento que é construído a 
partir de grandes sínteses e grandes rupturas entre o acervo de informações acumuladas 
e de crenças dominantes em determinadas épocas. A epistemologia alcançou, nos 
últimos decênios, grande popularidade entre estudiosos das ciências humanas e sociais 
no Brasil (filosofia, sociologia, ciência política, e psicologia). O apoio epistemológico 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
7 
foi evocado como um metasaber capaz de esclarecer e denunciar grandes equívocos nas 
teorias e aplicações destas ciência. Seus defensores mais radicais chegaram mesmo a 
considerá-la como a última garantia da crítica e do saber. Certamente, não será este o 
propósito desta leitura epistemológica da história da psicologia. O que se quer é 
revisitar os caminhos que levaram à psicologia que temos hoje. Neste percurso, 
observa-se as modificações conceituais decorrentes dos valores e teorias dominantes 
nos diferentes momentos da história. 
As quatro perguntas "o que é? como é? por que é? e para que é" servirão de 
guia para comparação entre os grandes pensadores da psicologia. Curiosamente, as 
perguntas referem-se, respectivamente, ao que se entende hoje como as quatro grandes 
áreas da filosofia. Então, "o que é" aponta para a necessidade de uma definição 
ontológica ou metafísica (o que é um fato psicológico), "como é" requer uma 
justificativa epistemológica (como posso conhecer um fato psicológico) "por que é" 
exige uma explicação lógica (por que um tal fato psicológico é assim) e "para que é" 
aponta para uma preocupação ética (quais as implicações morais do conhecimento e 
manipulação deste tal fato psicológico). As quatro grandes áreas da filosofia são: 
metafísica (ontologia), epistemologia, lógica, e axiologia. Por fim, outra constatação 
importante, ainda em relação as perguntas e sua identificação com as áreas filosóficas, 
é que elas correspondem ao que será consagrado, muito posteriormente, como as 
quatro questões fundamentais de qualquer investigação científica. 
 
1.8 Didática da Disciplina 
As aulas serão predominantemente expositivas. Espera-se que as exposições 
sejam uma variação didática capaz de auxiliar o desenvolvimento da atenção e da 
concentração do estudante. Ocasionalmente, estudantes serão convidados a expor ou 
debater algum tema. Para um bom aproveitamento recomenda-se o seguinte: 
a) Ler os textos recomendados para aula; 
b) Acompanhar a exposição prestando atenção ao esquema geral apresentado 
no início da aula e anotando as ênfases nos aspectos indicados; 
c) Interromper a exposição, a qualquer momento, "para perguntas de 
esclarecimento"; 
d) Trazer contribuições para debates que podem ocorrer no nos últimos 15 
minutos do período; 
e) Para evitar "achismos" recomenda-se que as perguntas para os debates 
estejam embasadas nas leituras recomendadas. 
 
 
 Referências 
 
 
Antunes, M. A.. M. (1999). A psicologia no Brasil. São Paulo: Unimarco Editora e Educ. 
Andrade, H. M. W. M. (1990). Psicanálise e psicologia escolar: A relação invisível. Dissertação de Mestrado não 
publicada, PUCRS, Porto Alegre. 
Ardila, R. (1969). La psicología en américa latina. Pasado, presente y futuro. México, Siglo XXI editores. 
Aulas de História da Psicologia do Prof. W. B. Gomes 
 
 
8 
Campos, R. H. F. (1992). Notas para uma história das idéias psicológicas em Minas Gerais. Em Conselho Regional 
de Psicologia/ 4ª Região (Org.) Psicologia: Possíveis olhares outros fazeres (pp.11-63). Belo Horizonte: CRP/4ª 
Boring, E. G. (1950). A history of experimental psycology. 2ª ed., Nova York, Appleton-Century-Crofts. 
Heidbreder, E. (1933). Seven psicologies. New York: Century. 
Hall, C. S. & Lindzey G. (1984). Teorias da personalidade. São Paulo, E.P.U. 
Herrnstein, R. J. & Boring, E. G. (1971). Textos básicos de história da psicologia. São Paulo: Herder. 
Hilgard, E. R. (1966). Teorias da aprendizagem. São Paulo: Herder. 
Hilgard, E. R. (1987). Psychology in america, a historical surve y. San Diego: Harcourt Brace Jovanovich. 
Hothersall, D. (1990). History of psychology . New York: McGraw -Hill 
Massini, M. (1990). História da psicologia brasileira: Da época colonial até 1934. São Paulo: Epu. 
Massini, M. (1990). História da psicologia brasileira. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária. 
Meynard, L. (1958). Psychologie. Paris: Librairie Classique Eugène Belin. 
Murphy, G. (1964). Introduccion historica a la psicologia contemporanea., vol. 2. Buenos Aires: Paidós. 
Penna A.. G. (1992). História da psicologia no Rio de Janeiro. RJ.: Imagno 
Pessotti, I. (1988). Notas para uma história da psicologia brasileira em Conselho Federal de Psicologia. Quem é o 
psicólogo brasileiro (pp. 17-31). São Paulo: Edicon. 
Wolman, B. B. (1968). Teorias y sistemas contemporaneos en psicologia. Barcelona: Martinez Roca. 
Woodworth R.S., & Sheedan, M. R. (1964). Contemporary schools of psychology. New York: Ronald Press.

Outros materiais