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Revelia 1º Conceito Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir- se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. A doutrina conceitua a revelia como um estado de fato, gerado pela ausência jurídica de contestação, nos termos do artigo 344 do CPC. O fato de a revelia surgir da ausência jurídica de contestação possui um grande efeito na prática. Isso porque em alguns casos, ainda que a contestação exista faticamente, haverá revelia quando essa contestação não existe no mundo jurídico, como nos casos de contestação intempestiva. Por fim, não se pode confundir a revelia com seus efeitos. A ausência jurídica de contestação já é suficiente para acarreta a revelia do réu, mas nem toda revelia terá como consequência, por exemplo, a presunção de veracidade dos fatos, conforme se verá adiante. 2º Efeitos da revelia A doutrina aponta três efeitos para a revelia, são eles: a) Presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor A ausência jurídica de contestação do réu faz com que o juiz repute como verdadeiros os fatos alegados pelo autor. A doutrina afirma que esse é o efeito material da revelia. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Cumpre ressaltar, contudo, que a presunção de veracidade atinge apenas os fatos alegados e não suas consequências jurídicas, sendo possível, assim, que haja o julgamento de improcedência do pedido do auto em face de réu revel, já que a presunção de veracidade não atinge a matéria jurídica. Ademais, conforme a doutrina pátria, a presunção de veracidade dos fatos em questão é relativa, podendo ser afastada no caso concreto. Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais: Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade quanto aos danos narrados na petição inicial. No entanto, esta presunção de veracidade não alcança a definição do quantum indenizatório indicado pelo autor (Resp 1.520.659-RJ). O próprio CPC previu algumas hipóteses em que a revelia não vai gerar a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor: Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; A primeira situação regulada pela lei é a do litisconsórcio passivo, quando um dos litisconsortes contestar a demanda. Caso o litisconsórcio formado na demanda seja unitário, inexiste dúvida de que a contestação de um dos réus aproveitará aos demais, impedindo a presunção de https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ veracidade, já que aqui a decisão deverá ser a mesma para todos os litisconsortes. Por sua vez, em sendo o litisconsórcio simples, em que a decisão poderá ser diferente para os litisconsortes, somente haverá o afastamento da presunção de veracidade se houver, no caso concreto, identidade de matéria defensiva, é dizer, quando a contestação trouxer matérias de defesa que possam ser aproveitadas pela outra parte. Caso contrário, se a contestação trouxer matéria de interesse exclusivo de um dos réus, somente aquele que apresentou a contestação terá a presunção de veracidade contra si afastada. II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; O afastamento aqui é uma decorrência dos direitos discutidos na ação. Como se tratam de direitos não patrimoniais, a lei proíbe o magistrado de reputar verdadeiros as alegações do autor. III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; Aqui a lei proíbe que sejam reputados verdadeiros os fatos quando a inicial não estiver acompanhada dos documentos que a lei considere indispensável à prova do ato. Como a própria lei exige o documento para a prova do ato, o comportamento omissivo do réu não pode afastar essa exigência legal. IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Por fim, o inciso IV consagra duas hipóteses em que a revelia não vai produzir o seu efeito material: a) quando as alegações de fatos formulados pelo autor forem inverossímeis ou; b) quando as alegações do autor estiverem em contradição com prova constante dos autos. b) Desnecessidade de intimação do réu revel Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. Conforme estabelece o “caput” do artigo 346 do CPC, os prazos para o réu revel que não possua advogado constituído nos autos vão fluir da data de publicação no diário oficial, dispensando a intimação do réu. Cumpre ressaltar que para que haja a geração desse efeito não basta que o réu seja revel, exigindo a lei também que ele não possua patrono nos autos. A doutrina considere esse efeito como um efeito processual da revelia. c) Julgamento antecipado do mérito Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. Finalmente, o último efeito da revelia é o julgamento antecipado do mérito, o qual, contudo, somente poderá ocorrer nos casos em que houver presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor e ainda assim quando não houver https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ requerimento de prova. A doutrina entende que também se trata de um efeito processual da revelia. 3º Ingresso do réu revel no processo Art. 346. (…) Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar. O réu revel poderá, nos termos do parágrafo único do artigo 346 do CPC, intervir no processo em qualquer fase. Contudo, irá receber o processo na fase em que ele se encontra. Assim, terá o réu revel participação nos futuros atos do processo, mas todos aqueles atos praticados sem sua presença são válidos e, se atingidos pela preclusão, não poderão ser repetidos. 4º A revelia nas ações contra a Fazenda Pública Conforme já esclarecido, a revelia não se confunde com seus efeitos. Dessa forma, considerando que a revelia ocorre tão somente com a não apresentação de contestação, a Fazenda Pública poderá ser revel. Contudo, mesmo revel, o STJ entende que a revelia, em regra, não produz seu efeito material de presunção de veracidade dos fatos nos litígios contra a Fazenda Pública, uma vez que ele versa sobre direitos indisponíveis (AgRg no AREsp 358826/RJ). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Ademais, atualmente a doutrina afirma que em algumas situações a Fazenda se equipara ao particular na relação jurídica. Assim, nos casos em que o litígio não versar sobre direitos indisponíveis, é plenamente possível a produção do efeito material da revelia, mesmo contra a Fazenda. Ressalta-se, por fim, que o TST possui entendimento diverso do STJ, entendendo ser aplicável a fazenda os efeitos materiais da revelia: TST – OJ nº 152: Pessoa jurídica de direito público sujeita-se à revelia prevista no artigo 844 da CLT. Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para aprofundamento do tema: - Manual de Direito Processual Civil: Volume Único – Daniel Amorim Assumpção Neves; - O Poder Público em Juízo – Guilherme Freire de Melo Barros; – Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/
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