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1CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
A DIMENSÃO 
TÉCNICO-OPERATIVA 
NO SERVIÇO SOCIAL
Esta edição da Revista Conexão Geraes 
aborda alguns componentes da dimensão 
técnico-operativa da profissão, além de 
outros temas relevantes para a 
categoria profissional
Ilustração da capa e verso do livro Contribuições para o 
exercício profissional de assistente social - coletânea de 
leis, que tem lançamento previsto para outubro de 2013.
2 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
 
FOTO DE MARCOS PAULO DE JESUS HORÁCIO, VENCEDOR DA CATEGORIA EVENTOS E PAISAGENS E PRIMEIRO LUGAR GERAL 
DO CONCURSO “NOSSA HISTÓRIA E NOSSA MEMÓRIA: NÃO TIRE NADA ALÉM DE FOTOS”, REALIZADO EM MAIO DE 2013, 
PELO PROGRAMA PÓLOS DE CIDADANIA, DA FACULDADE DE DIREITO DA UFMG.
3CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Apresentação
Cara(o) Assistente Social,
Chegamos à terceira edição da revista Conexão 
Geraes. Neste número, destacamos o tema 
da dimensão técnico-operativa do Serviço 
Social. Fundamentalmente, o horizonte 
de preocupações emergentes no âmbito 
do Serviço Social exige novas respostas 
profissionais, o que movimenta significativas 
alterações nos campos do ensino, da pesquisa e 
da organização política dos assistentes sociais. 
Hoje, somos mais de 18.000 assistentes sociais 
em Minas Gerais e vivemos em um estado 
com grandes dimensões e muitas expressões. 
Queremos, a cada instante, romper com as 
amarras do conservadorismo que insistem em 
tentar nos parar.
Vivemos um cenário de lutas e de construção 
de um projeto ético-político profissional, que 
afirma a defesa intransigente dos direitos 
humanos e a opção profissional vinculada 
à construção de uma nova lógica societária. 
Vivemos, sim, as contradições impostas pela 
sociedade capitalista contemporânea, com a 
mercantilização da vida, com a promiscuidade 
das relações institucionais que confundem 
público e privado, reduzindo a esfera pública 
em favor da manutenção de interesses privados 
e privatistas. 
Reafirmar nossa condição de classe 
trabalhadora e enfrentar a luta de classe 
continuam mais atuais do que nunca. 
A história é construída cotidianamente por nós 
trabalhadores.
Realizamos em junho deste ano o 3º Simpósio 
Mineiro de Assistentes Sociais, em que foram 
usadas diferentes expressões - música, vídeo 
e poesia. Mas no evento, principalmente, 
palestras e debates afirmaram os nossos 
posicionamentos na luta pela direção 
estratégica da profissão em Minas Gerais, e em 
articulação com o Conjunto CFESS-CRESS e 
outros sujeitos coletivos, com objetivo de dar 
ao projeto ético-político fôlego, vida longa e 
munição na batalha das ideias e das ruas, ao 
lado daqueles que persistem nas lutas sociais 
em defesa de uma sociedade sem exploração 
e sem opressão. Estes são tempos que nos 
requisitam profunda reflexão e um balanço 
da nossa construção histórica, tendo em vista 
realimentá-la.
Nosso esforço coletivo tem buscado garantir 
espaços de debates e formação continuada a 
exemplo dos minicursos desenvolvidos, em que 
os profissionais têm a oportunidade de discutir 
temas importantes para fortalecer reflexões e 
qualificar a nossa intervenção profissional.
Devemos sempre nos comprometer com 
a consolidação e a ampliação dos direitos, 
especialmente para a parcela da classe 
trabalhadora empobrecida, marginalizada do 
acesso aos bens e serviços e destituída dos 
direitos humanos mais fundamentais: o direito 
à vida, à educação, ao trabalho, à moradia, 
ao lazer, à alimentação, para os quais a nossa 
prática profissional deve convergir com vistas 
à sua materialização. A não garantia desses 
direitos revela a violência social inaceitável 
da sociedade brasileira, que se expressa nas 
demandas que chegam cotidianamente ao 
nosso exercício profissional. Em qualquer 
dos espaços sociocupacionais em que nos 
situamos, deparamo-nos com demandas por 
alimentação, moradia, habitação, saúde, por 
direitos, por justiça e por dignidade, os quais 
 
FOTO DE MARCOS PAULO DE JESUS HORÁCIO, VENCEDOR DA CATEGORIA EVENTOS E PAISAGENS E PRIMEIRO LUGAR GERAL 
DO CONCURSO “NOSSA HISTÓRIA E NOSSA MEMÓRIA: NÃO TIRE NADA ALÉM DE FOTOS”, REALIZADO EM MAIO DE 2013, 
PELO PROGRAMA PÓLOS DE CIDADANIA, DA FACULDADE DE DIREITO DA UFMG.
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são cada vez mais negligenciados pela 
sociedade, sobretudo no momento em que 
vivemos.
Portanto, discutir a dimensão técnico-operativa 
do Serviço Social implica reconhecer a sua 
complexidade, o quanto ela é essencial para 
nós assistentes sociais, tendo em vista a 
diversidade de espaços sociocupacionais que 
transitamos; a própria natureza das ações nos 
diferentes âmbitos do exercício profissional, 
como por exemplo, a proposição e formulação 
de políticas sociais, o planejamento, gestão e 
articulação de serviços e programas sociais e o 
atendimento direto aos usuários em diferentes 
instituições e programas sociais. 
O processo interventivo do Serviço Social 
não se constrói, a priori, sem uma reflexão 
crítica e propositiva em torno da dimensão 
técnico-operativa da profissão. Ao contrário, 
é fundamental que no trajeto, esta construção 
seja apreendida no processo histórico e 
socioinstitucional, para que a categoria assimile 
as condicionantes dadas no curso das relações 
sociais junto aos atores, segmentos e classes, 
dentro dos campos de atuação profissional, 
os quais revestem as ações socioprofissionais 
de inúmeras determinações que desafiam 
a materialização do projeto ético-político 
no campo operativo da profissão. Sabemos 
que nossa prática profissional está sujeita às 
limitações impostas pelas instituições nas quais 
trabalhamos e que, para superá-las, precisamos 
nos unir e nos organizar politicamente.
O nosso grande desafio, hoje, é avançar 
nessa direção, o que impõe a necessidade de 
construção de condições intelectuais através 
da formação profissional, da pesquisa e da 
produção de conhecimento. Trata-se, ainda, 
de aprofundarmos o compromisso por meio 
do fortalecimento da organização política e da 
articulação das lutas no âmbito da profissão e 
junto às demais forças da sociedade, no intuito 
de contribuir para a construção de respostas 
adequadas às contraditórias demandas 
colocadas ao Serviço Social.
Temos muito para debater, trocar, articular 
e construir coletivamente. Certamente, 
esta revista contribuirá enormemente para 
aprofundar as reflexões sobre os desafios que 
se colocam ao Serviço Social, na perspectiva 
de reafirmação de nossos valores, princípios e 
projeto ético-político profissional.
Boa leitura!
CRESS 6ª REGIÃO
Serviço Social, linguagem e comunicação pública: desafios na 
contemporaneidade
página 5 
Sobre o financiamento das políticas sociais no Brasil
página 11
Avaliação de políticas, programas e projetos
página 16
Instrumental técnico e o Serviço Social, é preciso continuar o 
debate!
página 19
A dimensão técnico-operativa e os instrumentos e técnicas no 
Serviço Social
página 25
Cotidiano: produção social da existência humana
página 31
Breve reflexão em torno da educação popular e do 
Serviço Social
página 34
Autonomia profissional X trabalho assalariado:
exercício profissional do assistente social
página 37
Considerações sobre a fiscalização aos assistentes sociais que 
atuam na Nefrologia em Minas Gerais
página 43
O título correto do texto de Eunice Fávero publicado na segunda edição 
da Revista Conexão Geraes é “Serviço Social e proteção de direitos de 
crianças vítimas de violência sexual: considerações sobre a escuta 
profissional e o depoimento judicial”.
Índice
ERRATA
INSTITUCIONAL
5CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Há alguns anos o Conjunto CFESS-CRESS2 vemconstruindo uma identidade para o Serviço 
Social no debate das comunicações e, há cerca 
de duas décadas, tem construído meios para 
uma comunicação profícua com a categoria e a 
sociedade. A realização do 3º Seminário Nacional 
de Comunicação, com o tema “Serviço Social 
e Comunicação - Redes Sociais, Linguagem 
e Política”, em setembro de 2013, vem em 
momento oportuno e demonstra a ousadia 
e compromisso da categoria em decifrar a 
realidade, lutar pela democracia e pelos direitos 
humanos.
A comunicação do Conjunto CFESS-CRESS 
emergiu na década de 1990, em decorrência 
da necessidade de aprimorarmos nosso 
diálogo com a categoria e com a sociedade, 
de estabelecermos referenciais e instrumentos 
de comunicação comuns ao Conjunto, bem 
como estratégias articuladas de informação 
e divulgação. A realização de dois Seminários 
Nacionais de Comunicação (2006 e 2010), com 
aprovação de diretrizes para a área, possibilitou o 
desenvolvimento de um trabalho de comunicação 
articulado entre o CFESS e os CRESS, partindo 
de uma unidade na diversidade, uma vez que a 
autonomia, as particularidades e a capacidade 
criativa das entidades estão asseguradas.
Atualmente o CFESS, bem como muitos CRESS, 
já possuem uma Assessoria de Comunicação, 
sendo que alguns instrumentos de comunicação, 
a exemplo dos sites, possibilitam um trabalho 
em rede, ampliando possibilidades de acesso e 
troca de informações. Sem dúvida, a presença 
dos profissionais de Comunicação no Conjunto 
alterou a capacidade interventiva, por assegurar 
uma maior e melhor visibilidade da categoria 
e do projeto ético-político. O estágio alcançado 
aponta para o acerto nas estratégias deliberadas 
e implementadas ao longo desses anos, o que 
permite, na atualidade, a entrada no frenesi 
das redes sociais, já que, ao postar, provoca-se 
ali uma intensidade de manifestações a qual é 
preciso estar presente diariamente. 
O tema escolhido para ser debatido em 
encontros regionais, acumulando para o nacional, 
é um passo importante que está sendo dado na 
direção da utilização de um instrumento atual 
que são as redes sociais. Este momento registra 
o quanto se avançou em relação à política 
de Comunicação do Conjunto CFESS-CRESS, 
Assistente social graduada em 1988 pela PUC-MG. Professora de Serviço Social na UnB. Mestre em 
Serviço Social e Políticas Sociais pela Uerj. Doutoranda em Comunicação na FAC/UnB
KÊNIA AUGUSTA FIGUEIREDO
Serviço Social, linguagem e comunicação pública: 
desafios na contemporaneidade 1
Índice
INSTITUCIONAL
6 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
por ampliar possibilidades que vão para além 
da informação e divulgação de ideias e ações. 
As redes sociais colaboram para uma relação 
mais dialógica e dinâmica, promovendo uma 
maior aproximação e confiabilidade. 
No entanto, a abordagem da questão das “redes 
sociais” deve considerar os nexos existentes, a 
fim de percebê-la numa totalidade, decifrando 
as forças políticas em presença no debate sobre 
comunicação pública, principalmente no que 
tange à regulação da internet no Brasil e no 
mundo. Não há duvidas, como aponta Bianco 
(2005), de que a revolução tecnológica tem 
alterado a experiência de mundo, assim como 
a Revolução Industrial modificou as relações 
técnicas de produção, modificando as relações 
sociais e de poder. A adesão às redes pode 
colaborar com o que Freire, na Pedagogia do 
Oprimido, apontou: ser a comunicação - embora 
esta possa se dar por meio de muitas linguagens, 
um encontro entre os homens mediados 
pela palavra, a fim de dar nome ao mundo. É 
pelo diálogo que os homens transformam o 
mundo e, ao transformá-lo, humanizam para a 
humanização de todos. 
Na era das comunicações, o repasse de 
informações se dá de forma difusa. Antes 
bastava pagar um espaço no jornal impresso 
que a comunicação estava assegurada. Hoje 
os meios são variados, bem como o público. 
Hoje a categoria dos assistentes sociais está 
constituída por mais de 100 mil pessoas. 
Neste sentido, as redes devem estar inseridas 
na Política Nacional de Comunicação do 
Conjunto CFESS-CRESS, com todos os cuidados 
necessários à ética e à linguagem escrita. 
No entanto, existem questões relacionadas ao 
mundo das comunicações que os assistentes 
sociais não podem se omitir, a exemplo do 
debate sobre os marcos regulatórios da 
comunicação pública no Brasil e no mundo, 
já que vivemos em tempos de mundialização. 
Como temos acompanhado o debate sobre 
neutralidade da rede? Sabemos o que é isso? 
Conhecemos sobre o comitê gestor da internet 
no Brasil, sobre quem são seus componentes? 
E ainda, como é construída a governança 
sobre este assunto? Como tem se dado o 
desenvolvimento de políticas e leis voltadas 
para viver em rede, na internet brasileira? Temos 
estado presente nos debates sobre o Marco Civil 
da Internet?
O início dos debates sobre redes sociais deve 
considerar as normativas da área e em especial 
o acompanhamento do debate sobre o Marco 
Civil da Internet, em pauta no Congresso 
Nacional. Sem a perspectiva de totalidade 
e sem a mobilização de nossa capacidade 
articuladora e interventiva, corre-se o risco 
de daqui a pouco o acesso aos diversos tipos 
de linguagem totalmente disponíveis a todos 
serem escalonadas de acordo com a capacidade 
financeira de cada indivíduo. Ou seja, quem 
tem mais recursos acessará todas as formas de 
linguagem, quem tem menos acessará menos 
e etc. Estará instituído um aprofundamento da 
desigualdade refletida no mundo virtual e aí o 
sentido de rede social será outro. 
O Serviço Social tem um lugar no movimento 
pela democratização da comunicação, já que 
lutamos pela democratização da comunicação, 
pelo direito à informação, pela democracia 
plena. Então, se há disponibilidade política é 
preciso entender alguns conceitos, sendo um 
deles o da comunicação pública, tanto no que 
tange suas normativas quanto no seu aspecto 
filosófico.
CONCEITOS
O Artigo 5º, inciso XXXIII da Constituição de 
1988, assegura a todos o direito de receber dos 
órgãos públicos, informações de seu interesse 
particular ou de interesse coletivo ou geral, 
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sendo estas prestadas no prazo da lei, sob pena 
de responsabilidade, exceto aquelas cujo sigilo 
seja necessário à segurança da sociedade e do 
Estado.
Trata-se do direito à informação, que é um 
direito social, de acordo com Ramos (2005), 
que requer transparência e fidedignidade nas 
informações veiculadas pelo Estado, por meio 
de seus organismos e de seus agentes. Daqui 
tem derivado várias ações e normativas, dentre 
elas a Lei da Transparência Pública, nº 12.527, 
de 18 de Novembro de 2011. A comunicação 
pública é um elemento central para o Estado 
democrático, pois ocupa na comunicação 
da sociedade um lugar privilegiado ligado 
aos papéis de regulação, de proteção ou de 
antecipação do serviço público.
O direito à informação é uma liberdade 
democrática e condição para uma autônoma 
e igualitária participação dos indivíduos. 
A comunicação pública trabalha na lógica 
da informação como meio de construção da 
cidadania e pressupõe uma interlocução ativa 
com o receptor. Trata-se, portanto, de um 
processo que se instaura por meio de agentes 
entre o Estado, o governo e a sociedade, e 
que se propõe a ser um espaço privilegiado 
de negociação entre os interesses das diversas 
instâncias de poder constitutivas da vida 
pública social. 
Como se percebe, a luta pela comunicação 
pública tem uma relação muito estreita 
com o Serviço Social por estar permeada do 
mesmo espírito do Código de Ética e da Lei 
que regulamenta a profissão, bem como do 
projeto ético-político. Há ainda, na perspectiva 
da fundamentação teórico-metodológica, 
as contribuições de Iamamoto (1982), que 
apontamo conhecimento e a linguagem como 
instrumentos de trabalho do assistente social.
Neste sentido, é preciso indagar o que é 
linguagem? De acordo com Chalhub (1990), a 
linguagem participa de aspectos mais amplos 
que apenas o verbo. São várias as formas de 
comunicar: 
Costa (2004) aborda que o fenômeno linguístico 
pode ser considerado como parte do complexo 
social, entendendo-o como o conjunto de 
relações sociais. Essas possibilidades de 
produzir a vida estão vinculadas, de acordo com 
Marx, com a consciência, sendo a linguagem 
a exteriorização do individuo consciente. 
Portanto, a linguagem e consciência possuem 
uma relação dialética, uma implicação mútua, 
não podendo ser pensadas uma sem a outra. A 
linguagem como a consciência é essencialmente 
social, pois nasce da necessidade de interação 
entre os homens. Desta forma, linguagem é 
também o trabalho linguístico geral realizado 
pela humanidade em sua experiência histórica 
de comunicação. Por comunicação se 
compreende “a ação de tornar comum”. Sua raiz 
é o adjetivo communis, comum, que significa 
“pertencente a todos ou a muitos”. E o verbo 
comunicare, comunicar, que significa “tornar 
comum, fazer saber”.
“Fazer saber” está presente no trabalho do 
assistente social. Constitui parte de nossas 
atribuições, conforme indica a Lei que 
regulamenta a profissão - Lei 8662, de 7 de junho 
de 1993: prestar orientação social a indivíduos, 
grupos e à população (art. 4º, inciso III). Podemos 
dizer assim, que o uso da linguagem em nosso 
trabalho tem um valor de uso.
É no sentido de “fazer saber” que a deliberação 
“O corpo fala, a fotografia flagra, a arquitetura 
recorta espaços, a pintura imprime, o teatro encena 
o verbal, o visual e o sonoro, a poesia que é uma 
forma especificamente inédita de linguagem, a 
música irradia sons, a escultura tateia, o cinema 
movimenta e etc”. (Chalhub, 1990, p.6)
8 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
do 41º Encontro Nacional do Conjunto CFESS-
CRESS, realizado em 2012, em Palmas (TO), 
acerca do uso da linguagem não discriminatória, 
no caso a linguagem não sexista, deve ser 
analisada. A questão da não discriminação tem 
uma relação muito direta com o Código de Ética 
da profissão, sendo importante o seu destaque. 
Afinal, sem movimento não há liberdade3. Mas, 
igualmente, é preciso analisar o período atual, 
porque “quem erra na análise, erra na ação”4. 
Se a linguagem tem várias funções, tem um valor 
de uso e os canais que levam as mensagens são 
singulares e na atualidade são muitos, o que é 
prioridade para a categoria em termos do que 
comunicar e como comunicar.
No campo dos assistentes sociais, há presente 
no mínimo quatro grandes sujeitos para os 
quais a comunicação precisa ser estruturada 
com qualidade para se assegurar densidade, 
sejam: a categoria em si; as instituições - com 
ênfase para o Estado, as quais a categoria está 
vinculada; a sociedade em geral, tendo os meios 
de comunicação como os possíveis canais para 
essa aproximação; e os usuários. Destaca-se 
que a ordem aqui utilizada não reflete relação 
hierárquica entre os segmentos representados. 
Há quase duas décadas, o desafio que vem 
acompanhando o Conjunto é o de dar 
visibilidade ao Serviço Social de forma que 
seja superada a visão messiânica e voluntarista 
que no geral se tem da profissão. A busca é 
“fazer saber” a sociedade o Serviço 
Social reconceituado, capaz de produzir 
conhecimentos críticos e intervir com qualidade 
nas manifestações da questão social, pois 
possui ferramentas teóricas e metodológicas 
consistentes e comprometidas com a 
transformação da ordem estabelecida. O desafio 
enfrentado ao longo desses anos tem sido o 
de inserir na agenda da sociedade, a categoria 
como especialistas qualificados para análise e 
intervenção social. O que se quer comunicar, 
fazer saber, é que os assistentes sociais não são 
gestores da pobreza, mas uma profissão que se 
reformulou por ser, também, fruto dos “agentes 
que a ela se dedicam” (Iamamoto, 2012, p.39).
Comunicar isso em tempos de capital fetiche, 
de desmonte das profissões e precarização do 
trabalho é remar contra a maré, uma vez que 
existe todo um construto que culpabiliza a 
pobreza cotidianamente. Seja pela forma como a 
mídia estrutura sua mensagem ou pelas ações da 
sociedade organizada e pelos interesses contidos 
no Estado, a exemplo do retorno do debate 
para alteração na legislação sobre a redução 
da maioridade penal ou da contraofensiva 
burguesa neste momento representada pelos 
“Felicianos”, que disputam a permanência em 
espaços institucionais estratégicos ocupados 
nos últimos anos por representantes mais 
identificados com os movimentos sociais.
Além desse cenário político que aponta para 
limites e possibilidades da comunicação e, 
portanto, diz sobre linguagens, há também 
as Tecnologias da Informação e Comunicação 
(TICs), que podem ampliar as possibilidades 
de interação desde que sejam consideradas 
as características relacionadas ao perfil da 
linguagem de cada meio. São tempos de 
utilização de vários meios de comunicação, 
alguns acessíveis, outros não. O fato é que a 
deliberação sobre visibilidade da categoria 
já obteve avanços, mas não êxito, e ainda se 
mantém como carro-chefe das deliberações do 
setor, no Conjunto CFESS-CRESS. Neste sentido, 
é preciso indagar sobre o quanto é oportuno 
estabelecer como norma geral, a adoção de 
uma linguagem padrão para todo e qualquer 
tipo de meio de comunicação. A deliberação, 
da forma que foi aprovada, desconsidera 
a especificidade de cada instrumento de 
comunicação, a linguagem utilizada, bem como 
os interlocutores. É preciso mediar no sentido de 
construir uma linguagem que dê visibilidade ao 
9CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
compromisso dos assistentes sociais com uma 
sociedade de iguais, o que necessariamente não 
passa pela utilização indiscriminada da linguagem 
não sexista. É pouco provável que num release 
para a imprensa ou numa peça publicitária 
se consiga emitir a mensagem com sucesso, 
utilizando o artigo “o” barra, artigo “a”, ou vice e 
versa (o/a ou a/o).
Outro elemento contido na deliberação é 
sobre a “utilização da linguagem não sexista, 
incorporando a linguagem de gênero como uma 
ação pedagógica e critica à gramática machista, 
androcêntrica, heteronormativa e racista”. A ideia 
contida é muito pertinente e indica um diferencial 
estratégico no exercício profissional do assistente 
social: a função pedagógica. No entanto, duas 
questões precisam ser destacadas: i) as peças de 
comunicação de massa têm por objetivo destacar 
um assunto, chamar a atenção do público, divulgar 
produtos. Elas podem completar e servir de apoio 
a ações desencadeadas, no caso ações educativas, 
e não servir especificamente a este propósito, por 
ter em sua natureza outros propósitos. ii) sendo a 
linguagem uma ferramenta de trabalho e a tradição 
oral o recurso de comunicação mais utilizado pela 
categoria, como compatibilizar no uso da fala 
esta orientação? É certo que a deliberação está 
restrita à Comunicação do Conjunto CFESS-CRESS, 
mas todas as deliberações buscam uma interação 
com a categoria como um todo. Reflete nela e é 
refletido por ela.
Estas reflexões apontam para a necessidade 
de um aprofundamento a respeito da relação 
entre o Serviço Social e linguagem na era das 
comunicações. O tema do 3º Seminário Nacional, 
não poderia ser mais oportuno. Vem iluminar um 
aspecto da profissão muito pouco visitado pela 
categoria. Afinal, como o assistente social tem 
desenvolvido esta ferramenta de trabalho na era 
das comunicações? Quais reflexões o profissional 
tem acumulado sobre a linguagem e comunicação 
na relação com o empregador, a sociedade 
e com os usuários dos serviços prestados? 
Como oprofissional percebe a tradição oral 
como um dos principais recursos de linguagem 
no exercício profissional? Como o profissional 
tem incorporado as novas tecnologias de 
comunicação no trabalho? Elas colaboram para o 
desenvolvimento da ação pedagógica? Em sendo 
afirmativo, ela se dá de que forma? E por fim, quais 
são as linguagens mais requeridas pelo assistente 
social no cotidiano de seu trabalho e como ele as 
acessa e as produz?
Enfim, a deliberação do 41º Encontro Nacional 
demonstrou uma necessidade de a categoria 
abrir o diálogo com profissionais de outras áreas 
a fim de ampliar o conhecimento acerca de um 
elemento essencial ao trabalho do assistente 
social: a linguagem. Para o momento, com base 
nas aspirações que a categoria tem carregado 
ao longo de muitos anos, o de dar visibilidade ao 
seu papel reconceituado na divisão sociotécnica 
do trabalho e ainda, visto as particularidades 
dos instrumentos de comunicação, bem como a 
relação que o assistente social tem estabelecido 
com este instrumento de trabalho, importa a 
flexibilização da deliberação. Ou seja, a adoção 
da linguagem não sexista no lugar em que 
for considerado que não haverá prejuízos à 
mensagem. Desta forma, ela entra como uma 
recomendação para o Conjunto e deste para a 
categoria, e não no campo da deliberação que 
significa aplicação imediata da medida.
Este tempo de travessias constantes em densos 
nevoeiros, de “tempo que voa e escorre pelas 
mãos”, exige consistência teórico-metodológica 
e a capacidade de por meio do pensamento 
dialético ser capaz de deflagrar processos, 
com paciência histórica. As Assessorias de 
Comunicação foram instituídas no Conselho 
Federal e nos Regionais em decorrência da 
consciência de que, embora comunicar não seja 
privilégio de uma profissão, é certo que o uso 
dos instrumentos exige conhecimento técnico 
10 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
para os quais os assistentes sociais não possuem. 
Importa também o registro de uma deliberação já 
implementada recente, decorrente do acúmulo de 
experiência do Conjunto, de realizar ao inicio de 
cada gestão, cursos que orientam os conselheiros 
na relação com a mídia, a exemplo de como 
dar uma entrevista e etc. É corrente em toda a 
categoria a dificuldade de síntese do assistente 
social, visto o complexo universo de atuação. 
No entanto, também é corrente entre a categoria, a 
necessidade de encontrar meios de simplificar, ou 
melhor, de ajustar a linguagem a cada público com 
o qual o profissional se relaciona, seja o usuário, seu 
empregador, seus pares e a sociedade por meio da 
mídia.
A questão do Serviço Social e sua relação com a 
linguagem, bem como sua inserção no debate da 
comunicação pública precisa ocupar um espaço 
na formação profissional, como também junto 
aos profissionais, de forma mais direta, já que é 
fundamental à qualidade do serviço oferecido a 
extração do máximo de potencial que a linguagem, 
enquanto instrumento de trabalho, possa oferecer. 
Além disso, a presença da categoria na luta pela 
comunicação como bem público, em contraposição 
ao monopólio e à mercantilização, significa coerência 
com as normativas enquanto reflexo da visão de 
mundo da categoria. Afinal, como especialistas 
sabemos que a comunicação é um direito humano e 
a informação essencial para a autonomia e liberdade 
dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Lei que regulamenta a profissão de assistente social – 
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NOTAS
1 - Texto base do pronunciamento realizado na Roda de 
Conversa Serviço Social e Comunicação - Redes Sociais, 
Linguagem e Política, promovido pelo CRESS-MG, em 
26/04/2013. Texto ajustado para fins de publicação.
2 - Nomenclatura dada à articulação do Conselho Federal de 
Serviço Social (CFESS) e dos Conselhos Regionais de Serviço 
Social (CRESS). Anualmente ocorre o Encontro Nacional do 
Conjunto CFESS-CRESS, no qual é definida uma agenda política 
comum a ser cumprida ao longo de um ano.
3 - Campanha de Gestão do Conjunto CFESS-CRESS 2011-
2014, intitulada “No mundo de desigualdade, toda violação de 
direitos é violência”. Esta campanha, lançada em 10 dezembro 
de 2012, Dia Internacional dos Direitos Humanos, apresenta 
o slogan “Sem movimento não há liberdade”, divulgando à 
sociedade, de forma provocativa, por meio de dados e imagens, 
as múltiplas expressões da violência em nosso país.
4 - Frase recorrente utilizada pelo prof. José Paulo Neto em 
diversas palestras proferidas.
11CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Assistente social, mestre e doutora em Serviço Social pela UFRJ 
ELAINE ROSSETTI BEHRING 
Em 2003 fundamos, na Faculdade de Serviço 
Social da Uerj, o Grupo de Estudos e Pesquisas 
sobre Orçamento Público e Seguridade Social 
(Gopss). Hoje somos professores, doutorandos, 
mestrandos, bolsistas de iniciação científica 
e, mais recentemente, pós-doutorandos (18 
membros). Desde então viemos monitorando o 
orçamento público federal, com destaque para 
a Seguridade Social, mas também há pesquisas 
sobre o orçamento fiscal, outras políticas 
públicas e sobre os demais entes federativos 
(estados e municípios). Este acompanhamento 
vem permitindo chegar a algumas 
caracterizações da dinâmica político-econômica 
que envolve a alocação de recursos pelo Estado 
para as políticas sociais, com destaque para 
as políticas de Seguridade Social, seu núcleo 
duro, ao lado da Educação. Neste breve espaço 
vamos apenas sintetizar alguns desses pontos 
de chegada, que para a pesquisa são sempre 
pontos de novas partidas.
O monitoramento do desempenho do 
Orçamento da Seguridade Social (OSS) no âmbito 
do Orçamento Geral da União (OGU) entre os 
anos de 1997 e 2011, e o acompanhamento da 
produção sobre o assunto no nível nacional, 
permitem caracterizar a manutenção de uma 
espécie de crescimento vegetativo do OSS. Ele 
cresce quanto aos valores correntes ano a ano, 
mas abaixo do crescimento do Produto Interno 
Bruto (PIB), da carga tributária - a receita, e 
da demanda, com o que vislumbramos certa 
estagnação como percentual do PIB - entre 
Sobre o Financiamento das 
Políticas Sociais no Brasil
12 CRESS-MG| Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
11,7% em 2008, e 13% em 2012 - e também como 
peso percentual do OGU - entre 28,3% em 2008 
e 31,3% em 2012 - em valores constantes. Esta 
característica permite afirmar que apesar das 
mudanças de governo e de mudanças internas 
na orientação do gasto da Seguridade Social, 
a exemplo do destaque aos programas de 
transferência de renda, não houve nesse período 
um boom de investimento no núcleo central da 
política social brasileira, que envolve Assistência 
Social, Previdência, Saúde e Trabalho. 
Este crescimento pífio tem sido desigual entre as 
três políticas que compõem a Seguridade Social 
brasileira, sendo que o orçamento da Assistência 
Social sensivelmente é o que tem crescido 
com maior vigor. A Saúde tem sido a política 
mais atingida pela lógica de ajuste fiscal que 
ainda prevalece no Estado brasileiro, com seu 
orçamento estagnado ou em linha descendente, 
com o que esta política vem vivendo um 
verdadeiro processo de privatização induzida, 
a exemplo da implantação das Organizações 
Sociais (OS) e da Empresa Brasileira de Serviços 
Hospitalares (Ebserh). A Previdência Social sofre 
injunções da lógica do mercado de trabalho, 
onde houve crescimento da formalização do 
emprego, mas, de uma maneira geral, seu 
orçamento permanece pouco oscilante. 
Se nos referirmos ao financiamento, cabe 
acompanhar a despesa ou execução e a receita. 
Sobre esta última, tem-se que as fontes do 
OSS têm sido largamente utilizadas para a 
política econômica de ajuste fiscal no país, 
cuja persistência vem enevoada pelos ares 
neodesenvolvimentistas, ainda que sejam 
mantidos os parâmetros de alocação do fundo 
público constituídos desde o Plano Real. Assim, 
as fontes de recursos que sustentam o núcleo 
duro da política social, que é a Seguridade 
Social, são utilizadas para formar o superávit 
primário e para o pagamento de encargos, 
juros e amortizações da dívida pública, além 
da renúncia fiscal da Contribuição para o 
Financiamento da Seguridade Social (Cofins), 
por exemplo, que financia largamente ações do 
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A observação da questão tributária brasileira 
que repercute nas fontes de recursos, mostra 
que não houve nos últimos anos uma 
reorientação redistributiva desta política. 
Assim, o financiamento da Seguridade Social 
recai fortemente sobre os trabalhadores, 
considerando a composição da carga tributária 
brasileira. Por outro lado, deparamo-nos, nesse 
mesmo período, com tentativas explícitas 
de realizar uma contrarreforma tributária 
que aprofundaria ainda mais esse processo. 
É evidente que existe a necessidade inadiável de 
uma reforma tributária no Brasil, pois uma das 
principais características do sistema tributário 
brasileiro é a sua regressividade. Ele tem 
impacto sobre os trabalhadores, realizando uma 
punção dos salários e da mais-valia socialmente 
produzida e que se transforma em lucros, juros 
e renda da terra. 
A partir de nossa fundamentação na crítica 
da economia política, observamos que nesse 
âmbito se realiza uma superexploração do 
trabalho, já que dele já foi extraída a mais-valia 
que compõe o excedente, quando a tributação 
incide sobre o trabalho necessário. Assim, a 
exploração da força de trabalho na produção é 
acompanhada de uma espécie de exploração 
tributária (Cf. também Salvador, 2010 e Behring, 
2008, 2010 e 2012). Essa capacidade extrativa 
de trabalho excedente e necessário compõe 
o fundo público, cuja alocação será disputada 
no âmbito da correlação de forças entre as 
classes e seus segmentos na sociedade civil e no 
Estado. O fundo público no Brasil é composto 
por tributação indireta (impostos sobre o 
consumo) em 58,7%. Isso significa que apenas 
25,2% % incidem sobre a renda e 3,4% sobre o 
patrimônio (Salvador, 2010). Aqui cabe lembrar 
13CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
que a falta de correção na tabela do Imposto 
de Renda (IR) determina o seu pagamento por 
trabalhadores com renda acima de 3,9 salários 
mínimos. Em 1995 o limite era de 10,4 salários 
mínimos, sendo que a partir de 1998 a tabela 
do IR colocou como tributação mínima, 15% 
quando a faixa mínima correspondia em 1985 a 
5% (Salvador, 2007). A carga tributária brasileira 
cresceu desde o Plano Real, de 29% para 37% 
do PIB, o que mostra que o neoliberalismo não 
construiu no Brasil nenhum Estado mínimo e 
mais que isso, onerou pesadamente os salários. 
Os dados anteriores mostram a sua incidência 
principal sobre os trabalhadores. 
Para Evilásio Salvador (2008), vem ocorrendo já 
há alguns anos uma contrarreforma tributária 
silenciosa que desonera o capital e a propriedade 
e onera a renda, sobretudo as baixas rendas. 
Seu estudo revela que a carga tributária incidiu 
mais sobre as rendas de 1 a 3 salários mínimos 
do que sobre as rendas de 30 salários mínimos. 
É evidente que a reforma tributária que o Brasil 
precisa é aquela que vai redistribuir renda - 
no país de maior concentração de renda do 
mundo; financiar políticas sociais consistentes, 
universais e redistributivas; e atacar a 
desigualdade da distribuição funcional da 
renda, e não apenas o Coeficiente de Gini - 
usado para medir a desigualdade, cuja queda 
sutil foi tão comemorada, e que indica não a 
desigualdade entre a renda do capital e do 
trabalho, mas sim aquela entre os assalariados, 
revelados na Pesquisa Nacional por Amostra 
de Domicílios (Pnad). Na verdade, temos 
observado que são os benefícios previdenciários 
e assistenciais constitucionais, associados 
ao salário mínimo (aposentadoria rural, BPC, 
RMV), que vêm tendo impactos sobre o Gini, 
com diminuição das desigualdades entre os 
trabalhadores. Apesar desse processo não afetar 
a desigualdade funcional da renda, impor os 
princípios da equidade, da progressividade e da 
capacidade contributiva, no caminho da justiça 
fiscal e social, e não o da neutralidade, aquele 
que percebe o Estado como um ente que não 
deve invadir as relações de mercado, conforme 
o princípio neoclássico liberal.
No entanto, a proposta que esteve em discussão 
no Congresso Nacional (PEC 233/2008) segue 
noutra direção, mostrando um nítido caráter 
contrarreformista. Por quê? Porque seu principal 
objetivo é a simplificação tributária e não o 
enfrentamento das questões que apontamos, 
e porque não reverte recursos para as políticas 
sociais. Pelo contrário, atinge as fontes das 
políticas de Seguridade Social, de Educação e 
do Trabalho, colocando aquela numa condição 
de insegurança de financiamento ainda maior 
que a que vêm revelando nossas pesquisas. 
Vimos mostrando o quanto recursos da Seguridade 
Social estão sendo desviados para o pagamento 
da dívida pública e a formação do superávit 
primário, pilares da política macroeconômica 
em curso, desde 1999. No entanto, mesmo sob 
ataques constantes que vêm produzindo uma 
obstaculização do conceito de Seguridade 
Social e a propagação ideológica do malfadado 
déficit da previdência, há hoje determinações 
constitucionais a serem cumpridas e fontes 
de financiamento efetivas para as políticas de 
Assistência Social, Saúde, Previdência Social, 
Educação e Trabalho - ainda que sejam atingidas 
em 20% pela DRU. 
As medidas propostas pela PEC 233/2008 são: 
“a) a criação de um Imposto sobre Valor Adicionado 
(IVA-F), com a extinção de quatro tributos 
federais (Contribuição para o Financiamento da 
Seguridade Social - Cofins; contribuição para o 
Programa de Integração Social (PIS); a Contribuição 
de Intervenção no Domínio Econômico incidente 
sobre a importação e a comercialização de 
combustíveis - Cide; e a contribuição social 
do Salário-educação); b) a incorporação da 
14 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Contribuição Social do Lucro Líquido (CSLL) ao 
Impostode Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); 
c) a redução gradativa da contribuição dos 
empregadores para previdência social, a ser 
realizada nos anos subsequentes da reforma, 
por meio do envio de um projeto de lei no 
prazo de até 90 dias da promulgação da PEC; 
d) a unificação da legislação do Imposto sobre 
Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), a 
ser realizada por meio de lei única nacional e 
não mais por 27 leis das unidades da federação; 
e) a criação de um Fundo de Equalização de 
Receitas (FER) para compensar eventuais perdas 
de receita do ICMS por parte dos estados; 
f) a instituição de um Fundo Nacional de 
Desenvolvimento Regional (FNDR), permitindo 
a coordenação da aplicação dos recursos da 
política de desenvolvimento regional.” 
Portanto, as três fontes mais importantes para 
a Seguridade Social sofreriam modificações, 
com a extinção da Cofins e da CSLL e a 
desoneração da contribuição patronal sobre 
a folha de pagamento, por meio de legislação 
específica, após as mudanças constitucionais. 
A PEC destina para essa área, 38,8% do produto 
da arrecadação dos impostos sobre renda (IR), 
produtos industrializados (IPI) e operações 
com bens e prestações de serviços (IVA-F). 
Rompe-se, assim, definitivamente com o 
princípio constitucional da diversidade das 
bases de financiamento da Seguridade Social 
inscrita no Artigo 195 da Constituição de 1988, 
voltando a uma situação anterior na qual a 
seguridade disputava recursos com outros setores 
e entes federativos, caso a proposta avance. 
Dados da Associação Nacional dos Auditores 
Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) 
referentes ao ano de 2007 mostravam que o 
corte de R$ 36 bi em receitas da Contribuição 
Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão 
de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza 
Financeira (CPMF) mais a subtração de quase 
R$ 39 bi, pelos efeitos da Desvinculação de 
Receitas da União (DRU), extrapolam facilmente 
os R$ 61 bi do superávit realmente existente do 
Orçamento da Seguridade Social naquele ano. 
Os cinco tributos a serem extintos pela PEC 
(Cide, Cofins, CSLL, PIS, Salário-educação/FNDE), 
alcançaram aproximadamente um montante de 
R$ 154 bi em 2008. Essas receitas são vinculadas 
exclusivamente a fundos sociais que financiam 
as políticas da Seguridade Social, Educação 
e Trabalho. No contexto da crise do capital, 
essas tendências regressivas tendem a se 
ampliar, principalmente por mecanismos como 
a renúncia fiscal, para estimular investimentos 
e sob o argumento de proteger o emprego. 
O primeiro PAC já fazia isso, desfinanciando a 
Seguridade Social, a exemplo da alíquota 0% 
de Cofins para o setor de TV digital, dentre 
outros expedientes. Esse tem sido o caminho: 
desoneração dos automóveis, do material de 
construção, da linha branca de eletrodomésticos, 
etc. E esses são apenas os impactos para a 
Seguridade, mas ainda há fortes impactos 
para a Educação e o Trabalho. Diante dessas 
constatações, o Gopss passou a participar do 
Movimento em Defesa dos Direitos Sociais 
Ameaçados na Reforma Tributária. 
O discurso do déficit da previdência é 
persistente, reproduzido pelos governos 
e muito especialmente pela grande mídia, 
apesar da existência factual de um superávit da 
Seguridade Social, especialmente se a DRU não 
incidisse sobre suas fontes. Mas a ideia de déficit 
parte de um cálculo atuarial que desconsidera 
o conceito constitucional de Seguridade Social, 
bem como os impactos da DRU e do superávit 
primário - mecanismos perversos da política 
econômica em curso - sobre suas fontes de 
recursos, configurando-se como um forte 
mecanismo ideológico de deslegitimação da 
Seguridade Social brasileira e da Previdência 
15CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Social, em especial. Essa estratégia tem um 
objetivo político econômico evidente, que é 
fortalecer os fundos de pensão e os bancos, 
agentes importantes no mundo da finança e 
que operam neste âmbito com recursos dos 
trabalhadores, por meio da previdência privada 
fechada e aberta.
Pelos elementos acima sinalizados, constatamos 
que ideia de Estado mínimo, largamente 
difundida pelo pensamento neoliberal é de 
natureza ideológica, considerando que o Estado 
não diminuiu em sua intervenção, especialmente 
na garantia das condições gerais de produção. 
Pelo contrário, cresceu sua capacidade extrativa, 
expressa pela carga tributária, ainda que 
tenha ocorrido uma diminuição patrimonial 
expressiva com as privatizações. Temos 
chegado à conclusão de que se alteraram 
principalmente suas funções, modificando-se 
o chamado Estado Social na perspectiva da 
assistencialização, com prevalência das ações 
focalizadas, numa perspectiva de gestão da 
pobreza e não de seu combate ou erradicação. 
Neste passo, ampliou-se a função coercitiva do 
Estado, com crescimento do encarceramento 
e equipagem das polícias, com ampla 
criminalização dos pobres, dos movimentos 
sociais e extermínio de jovens. É possível afirmar 
que a perspectiva redistributiva e reformista 
contida limitadamente na Constituição de 
1988, inspirada no projeto social-democrata 
e beveridgeano e na teoria da cidadania em 
Marshall, foi posta de lado, seja em tempos de 
neoliberalismo explícito, seja sob a égide do 
projeto liberal periférico, que reivindica o novo-
desenvolvimentismo, caracterização bastante 
polêmica.
O fundo público, que tem crescido e não 
diminuído, vem se configurando como um 
suporte estrutural do processo de acumulação 
do capital, operando no circuito do valor, por 
meio de sua repartição (entre lucro e juro, por 
exemplo), da aceleração ou interferência na 
rotação do capital (realização do valor), e da 
gestão de contratendências à operação da 
queda tendencial da taxa de lucros, tendo em 
vista amortecer/controlar os ciclos de crise. 
Contudo, esse lugar do fundo público no 
circuito do valor é a expressão mais contundente 
da contradição entre o desenvolvimento das 
forças produtivas e as relações sociais de 
produção. Este é um desenvolvimento teórico 
que está em curso atualmente no Gopss, ou 
seja, analisar os processos de alocação do 
fundo público à luz da crítica da economia 
política e da correlação de forças na 
luta de classes que não tem favorecido 
um financiamento redistributivo e de 
cobertura ampliada da política social brasileira. 
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SALVADOR, Evilásio. Fundo Público e Seguridade Social no 
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16 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
Assistente social, graduada em Direito, mestre em Serviço Social pela UFPE, doutora em Sociologia 
pela Université La Sorbonne-Nouvelle e pós-doutora em Psicologia da Educação pela UnB
ANA CRISTINA BRITO ARCOVERDEA avaliação de políticas, programas e projetos 
tem se constituído, nas últimas décadas, 
em desafio incontornável e crescente para 
um número cada vez maior de gestores 
e pesquisadores envolvidos, direta ou 
indiretamente, com os rumos da política pública, 
tanto no Brasil, como no mundo todo.
No contexto brasileiro, o tema tem adquirido 
maior visibilidade na agenda pública, 
sobretudo a partir dos anos 1980, quando os 
movimentos sociais passaram a demandar um 
alargamento do horizonte das políticas públicas 
e, em particular, das políticas sociais, exigindo 
destas a universalização e a transparência na 
condução administrativa e financeira. 
Simultaneamente, desenvolve-se um 
movimento de pressão dos organismos 
financiadores, principalmente os internacionais, 
no sentido de dimensionar a política pública e 
inseri-la num contexto de maior racionalidade 
dos gastos públicos.
Assim, avaliar políticas, programas e projetos, 
sobretudo os públicos, ergue-se como condição 
essencial para obtenção de financiamentos, 
a partir de três lógicas de aferição: eficiência, 
efetividade e eficácia. 
O processo de redemocratização do país 
validou a avaliação de políticas públicas como 
uma necessidade de colocar os gestores 
públicos frente a um crescente patamar de 
responsabilidade com a chamada “coisa 
pública”, contribuindo para consolidar o debate 
democrático, na medida em que auxilia as 
tomadas de decisões sobre os fundamentos, 
as diretrizes e os rumos da política. Ao mesmo 
tempo, a redemocratização favorece maior 
aproximação com esses pontos, através dos 
diversos sujeitos sociais envolvidos na sua 
execução, impulsionando a superação da 
opacidade própria aos períodos ditatoriais. 
Portanto, a avaliação passa a ser incorporada à 
gênese, ao desenvolvimento e aos resultados 
das políticas públicas no Brasil. 
Política pública guarda coerência e pertinência 
com a relação construída entre Estado e 
“Entende-se por eficiência ou rentabilidade 
econômica, a relação entre os custos despendidos 
e os resultados do programa; por efetividade, a 
relação existente entre resultados e objetivos; 
e por eficácia, o grau em que objetivos e metas 
foram alcançados na população beneficiária, 
num determinado período de tempo.” (SILVA, 
2001, p.47).
Avaliação de Políticas, Programas e Projetos
17CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
sociedade no Brasil, que nasce sob o signo 
do autoritarismo, sob regimes políticos 
centralizadores, concentradores e excludentes. 
Historicamente, a política pública tem 
apresentado perfil paternalista, clientelista 
e autoritário, assumindo traços privatistas 
presentes na cultura política brasileira, que 
construiu um Estado aprisionado aos interesses 
de determinadas classes sociais. Razão pela 
qual o clientelismo e a corrupção, sem falar 
nos insucessos dos resultados no campo das 
políticas públicas, têm sido apontados como 
problemas cruciais na condução da política 
pública brasileira, e que colocam em evidência 
a imbricação entre o público e o privado, a 
supremacia do poder de determinadas classes 
e grupos sociais sobre os interesses universais.
É nesse âmbito que afirmamos a importância 
dos processos avaliativos como ferramentas 
capazes de conferir qualidade e visibilidade 
às demandas atendidas na esfera das políticas 
públicas. “A avaliação implica no exercício de 
importante direito democrático: o controle 
sobre as ações de interesse público.” (Gomes, 
2001, p.21).
A avaliação da política pública é concebida como 
ferramenta precípua para alargamento da esfera 
pública e da participação da sociedade civil, 
favorecendo ações substanciadas nos princípios 
da transparência e da democracia entendida 
como socialização da política. Avaliação é:
O substantivo ou a palavra “avaliação” possui 
ou é utilizado no sentido lato e significa 
“determinar a valia”, valor, preço, merecimento 
ou estima de algo, mas, a avaliação é feita sem a 
percebermos cotidianamente. No sentido 
estrito, ela é complexa, orienta-se pelo método 
científico e possui múltiplas dimensões, 
sejam: valorativa, cognitiva, comportamental. 
Dependendo da área de conhecimento, a 
avaliação procura dar conta de problemas, 
realizar mensurações e buscar instrumentos 
capazes de aferir cada dimensão. 
Avaliação inclui a dimensão técnica e 
metodológica, além da teórica e política. 
A avaliação de políticas públicas se trata de 
métodos e técnicas da pesquisa social, que 
darão sentido à busca de subsídios para afirmar 
da contribuição ou não das mesmas para a 
melhoria das condições de vida da população 
em geral, e para a intervenção do Estado na 
realização da “res” pública. 
Avaliação é também entendida como uma 
ação que produz conhecimento, embora seja 
mais reconhecida a importância da avaliação 
como modo de julgar processos ou ações. 
(Barreira, 2000, p.17). É importante reforçar que 
suas duas dimensões, a técnico-metodológica 
e a política, não estão isoladas, mas estão 
articuladas, e que, em ambas, lança-se mão 
de métodos e técnicas da pesquisa social 
aplicada, que conferem sentido quando for 
possível subsidiar decisões e ações concretas. 
(Gomes in Silva, 2001, p. 48). 
Cohen & Franco (1993) tipificam avaliação 
conforme o momento em que ela é realizada 
e seus objetivos, a saber: antes, durante e 
depois. Na avaliação ex-ante, são antecipados 
os aspectos a serem considerados no processo 
decisório para conferir racionalidade ao mesmo; 
ordenar a política, programas e projetos 
segundo a eficiência e até decidir se devem ou 
não ser implementados. Para tanto, requer-se 
a análise da relação entre custo e benefício e 
entre custo e efetividade. Na avaliação ex-post, 
“estratégia de construção da esfera pública 
como mecanismo de articulação entre Estado e 
sociedade civil numa perspectiva de crescente 
democratização da vida brasileira, em uma nova 
ordem social que valoriza a universalização dos 
direitos de cidadania.” (GOMES, 2001, p.31).
18 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
que é realizada durante ou após a execução do 
projeto ou ação, o objetivo é buscar subsídios 
para fundamentar decisões qualitativas de 
manter ou introduzir modificações. Trata-se 
de avaliação de processo ou concomitante 
e avaliação terminal ou do depois, que é a 
avaliação de impacto.
Browne & Wildavsky (1984), utilizando o critério 
do tempo de realização, classifica a avaliação 
como: retrospectiva, prospectiva, formativa, 
contínua e integrativa. Ainda, Cohen & Franco 
(1993) e Aguilar & Ander-Egg (1994), conforme 
quem realiza a avaliação, apontam para os 
tipos seguintes: externa, avaliação realizada 
por pessoas estranhas ao quadro da instituição, 
programa ou ação; interna ou auto-avaliação, 
realizada no interior da instituição por pessoas 
vinculadas ou não à formulação ou execução 
do programa. Ainda, falam de avaliação mista, 
que combina as modalidades interna e externa 
com a intenção de superar os limites de ambas 
e preservar as suas vantagens.
Quanto aos destinatários das avaliações, 
Silva (2001), baseada em Cohen & Franco, 
indica serem os dirigentes superiores, os 
administradores e os técnicos que executam 
o programa, o projeto ou realizam as ações, os 
destinatários das avaliações. Pouco se focaliza 
a população como participante e destinatário 
da avaliação. Saul (1998, p.97-98), tratando 
da avaliação no bojo da ação educacional, 
chama a atenção para os pressupostos teórico-
metodológicos e políticos que vão de encontro 
à avaliação de cunho positivista, e aponta para 
a avaliação emancipatória que se expressa 
como uma dimensão de prática social que 
influencia e é influenciada pelos contornos que 
a cercam. Assim, ao lado de decisões técnicas, 
uma proposta de avaliação, em especial a de 
políticas públicas,envolve decisões teóricas e 
políticas.
REFERÊNCIAS
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serviços e programas sociais. Petrópolis: Vozes, 1994.
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questão em debate. São Paulo: Cortez, Instituto de Estudos 
Especiais/PUC-SP, 1998.
ROCHE, C. Avaliação de impacto dos trabalhos de ONGs: 
aprendendo a valorizar as mudanças. 2 ed. São Paulo: 
Cortez, 2002.
SAUL, Elizabeth ET Melo, Ana Maria. Avaliação Participante: 
uma abordagem crítico - transformadora. In: Elizabeth 
Melo Rico (org.) - Avaliação de políticas sociais: uma 
questão em debate. São Paulo: Cortez, 1998.
SILVA, Maria Ozanira Silva e (Org.). Avaliação de Políticas e 
programas sociais teoria e prática. São Paulo: Veras, 2001. 
(Núcleo de Pesquisa, 6)
19CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
REFLEXÕES INICIAIS
É inegável o reconhecimento das profundas 
mudanças societárias em curso, mesmo que sob a 
égide de um modo de produção, o capitalista, que 
se tornou hegemônico e globalizado. 
Em particular, o conjunto de mudanças científicas 
e tecnológicas que após a revolução industrial, 
consolidaram ao longo do século XX, um sistema 
onde impera o fluxo de informações, a velocidade 
de transformações, e a concentração das decisões. 
Este sistema científico e tecnológico teve sua 
constituição com a reorganização do trabalho 
humano por meio da força da máquina, o que 
afetou intensamente o seu tempo e o espaço 
de trabalho, culminando com a presença da 
informática e a automação da sociedade. 
Esta sociedade tecnológica gerou um conjunto de 
mudanças que afetam todas esferas da sociedade, 
isto é, a esfera econômica (base material), a esfera 
cultural (simbólica, o campo das ideias), e a esfera 
política (as inflexões no mundo do trabalho, na 
distribuição da riqueza e na socialização do poder).
Inexoravelmente, própria do modo de produção 
capitalista, gesta-se um conjunto de contradições 
e crises por meio da reestruturação produtiva, da 
restauração econômica do capital e do ambiente 
de intervenção política entre Estado e sociedade, 
expressões das relações de classe, que revelam as 
faces da desigualdade e da violência no cotidiano 
daquelas esferas.
Cabe destacar que não são mudanças exógenas ao 
homem, ao contrário, é fundamental reconhecer 
que são todas realizadas, produzidas e gestadas 
por este, em sua constituição histórica. Mesmo 
quando em vários momentos e circunstâncias, 
o produto de seu trabalho (humano) e de suas 
relações no intercâmbio com a natureza e a 
sociedade, pareça autonomizar-se e afastar-se dele, 
como produto exterior a ele. Esta condição humana 
contemporânea, a nosso ver, traz duas questões 
importantes a serem destacadas acerca da ciência 
e da ética. 
No campo da ciência, vê-se com grande divulgação 
que os avanços científicos e tecnológicos 
contribuíram, ao longo do século XX e nesta 
primeira década do século XXI, para um conjunto 
de transformações cotidianas no âmbito das 
relações sociais e de produção impressionantes, 
aquilo que muitos autores têm denominado de 
transformações no mundo do trabalho. No entanto, 
é relevante lembrar que a ciência é parte das forças 
produtivas.
Isto é melhor compreendido se pensarmos 
que os avanços da ciência integraram-se com 
o desenvolvimento da tecnologia industrial e 
Professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de 
Santa Catarina – UFSC
HÉLDER BOSKA DE MORAES SARMENTO
Instrumental técnico e o Serviço Social, 
é preciso continuar o debate!
A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NO SERVIÇO SOCIAL
20 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
militar, e, recentemente para a esfera do mercado 
(financeiro e de serviços) e sua globalização. 
Aquilo que se colocava como “uma nova Atlântida” 
para lembrar Bacon (séc. XVI) ou como a fonte do 
progresso e de uma “nova humanidade” em Comte 
(séc. XIX) foi sendo reconhecido criticamente pelo 
cientificismo, e denunciado como uma concepção 
de domínio da natureza e da economia de forma 
destrutiva e exploradora. Muito mais do que isto, 
implicou uma forma de racionalidade que foi se 
enraizando no desenvolvimento econômico e 
sociocultural, base de legitimidade das sociedades 
modernas e contemporâneas.
Esta racionalidade tecnocientífica (instrumental), 
desdobrou-se em um pensamento autoritário, que 
implica a especialização e o controle para além da 
esfera produtiva da fábrica, mas acima de tudo 
para a esfera pública, inclusive estatal, reduzindo o 
campo da participação democrática. 
Na contemporaneidade, avançou ainda mais, 
penetrando na esfera da vida privada, ao ponto 
de recriar necessidades e manipular desejos, 
transmutando todos em consumidores de massa 
e, qualquer crítica a esta condição, é considerada 
irracional e sem qualquer valor.
O principal fator de embate do pensamento 
positivista, a neutralidade, torna-se inoperante, 
pois o desenvolvimento científico e tecnológico 
forja novas relações no campo da produção 
e da reprodução social, isto é, definiu uma 
nova moralidade no campo das organizações 
e instituições, da cultura e do poder. Com esta 
condição, as implicações morais, gestaram novas 
sociabilidades (questão ética).
O homem contemporâneo transformou-se. Aquele 
homem que construiu sua própria condição de 
fazer escolhas como sujeito moral, torna-se a cada 
dia, objeto, ou seja, perde sua condição de sujeito, 
compromete sua condição ética e política de fazer 
escolhas, decidir e agir/responder sobre sua própria 
vida, agora definida pelo mercado (esse grande 
regulador de nossas relações), capaz de produzir 
felicidade, na proporção direta em que consome a 
si mesmo.
O destaque desta breve incursão, não é o de retomar 
certo cientificismo que reforça o deslocamento da 
ciência da esfera sócio-histórica, e é preciso cuidado 
para não incorrer neste, nos dias atuais. A intenção 
aqui, vai na direção de afirmar que o homem 
contemporâneo parece perder sua posição central 
na vida societária. O desenvolvimento científico 
e tecnológico tem sido tão intenso e alcançou 
dimensões antes impensáveis, que o homem perde 
sua condição de sujeito, sua humanidade.
É esta confluência que nos deixa tão preocupados 
com as questões entre ciência e ética na sociedade 
contemporânea, dado que as esferas material 
(econômica), cultural (simbólica) e política (poder), 
imbricam-se mutuamente, se transformam e 
tornam-se mais complexas, porém, mantendo o 
trabalho alienado, o trabalhador em mercadoria, e o 
homem limitado ao consumo, e não potencializado 
em sua condição de ser sujeito das situações.
Recorrendoa Marx, na introdução de “Para a crítica 
da economia política”, ainda em sua primeira parte, 
ele nos dá pistas para pensar estas relações quando 
ao falar sobre a produção, consumo, distribuição, 
troca/circulação afirma “cada um não é apenas 
imediatamente o outro, nem apenas intermediário 
do outro: cada um, ao realizar-se, cria o outro”. 
(Marx, 1985, p. 111)
No mesmo texto, continua, 
Esta perspectiva de análise nos faz compreender 
que estas questões estão muito mais articuladas 
“a produção não produz, pois unicamente o objeto 
de consumo, mas também o modo de consumo, ou 
seja, não só objetiva, como subjetivamente. Logo, a 
produção cria o consumidor. (...) a produção não se 
limita a fornecer um objeto material à necessidade, 
fornece ainda uma necessidade ao objeto material. 
(...) a produção não cria somente um objeto para o 
sujeito, mas também um sujeito para o objeto”. (Marx, 
1985, p. 110)
21CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
e imbricadas, portanto, a reiteração da concepção 
de totalidade apontada de que “o resultado a que 
chegamos não é que a produção, a distribuição, 
o intercâmbio, o consumo, são idênticos, mas 
que todos eles são elementos de uma totalidade, 
diferenças dentro de uma unidade” (Marx, 
1985, p. 115) exposta na afirmação de que “o 
concreto é concreto porque é a síntese de muitas 
determinações, isto é, unidade do diverso” (Marx, 
1985, p. 116).
E O SERVIÇO SOCIAL?
Diante de tão profundas mudanças e contradições 
pergunta-se: o ser humano é o mesmo? Mudou 
apenas a sintaxe? Não. O que foi indicado aqui 
não é apenas uma forma de disposição, relação e 
combinação das palavras na frase e das frases no 
discurso. 
Estamos diante de uma diversidade de situações e 
ambiguidades de grande proporção, uma realidade 
contraditória e em movimento, na qual não parece 
ser possível controlar todas as suas variáveis. Tanto 
pela condição na qual se encontra o sujeito (objeto) 
como na proporção em que predomina o objeto 
(sujeito). 
Se o homem mudou e com ele suas formas de 
sociabilidade, suas relações sociais e de produção, 
não mudaram também os meios ou instrumentos 
com que ele transforma o seu mundo?
O que está sendo indicado é que novas 
configurações se fazem nos espaços de 
trabalho, nas formas de compreender este e nas 
intencionalidades que são impostas. Porém, cabe 
observar que esta indicação acerca do trabalho 
e das formas de pensar sobre ele seguem as 
condições sociais e históricas em que os indivíduos 
vivem, isto é, a forma como executamos e a maneira 
como pensamos. 
Nas atuais condições societárias, o trabalho 
não tem se tornado apenas um processo de 
alienação, também se expressa como sofrimento, 
desprazer e impossibilidade de realização humana. 
Isto é, sempre quando há comprometimento 
da possibilidade de emancipação, condição ou 
eliminação desta forma de compreensão crítica 
há descaracterização do trabalho e da condição 
humana.
As transformações em curso provocaram mudanças 
na realidade e, portanto, não teriam também 
modificado a forma e o conteúdo técnico, ético e 
político da intervenção humana?
Acredito que este movimento tem provocado 
profundo impacto nas práticas sociais que intervêm 
no processo de produção material e espiritual 
da força de trabalho. E consequentemente, tem 
chegado com a mesma intensidade nas práticas 
profissionais, por meio da divisão social e técnica 
do trabalho.
Isto pode ser melhor compreendido se refletirmos 
um pouco sobre as alterações no mercado de 
trabalho e nas condições de trabalho, por meio 
de uma refuncionalização de procedimentos e 
rearranjo do perfil profissional e suas atribuições, 
situações que impõem o surgimento de novas 
problemáticas e mobilizam novas competências.
Estas mudanças em curso têm gerado novas 
necessidades que são incorporadas pelas 
exigências dos sujeitos demandantes (e seus 
interesses de classe), expressadas em requisições 
socioinstitucionais e técnico-operativas, 
materializadas por meio do mercado de trabalho.
Esta questão, portanto, tem rebatimento direto 
no Serviço Social. É evidente que uma profissão e 
os seus profissionais não desfrutam em qualquer 
condição de plena autonomia, ela é sempre relativa. 
É importante reafirmar que o Serviço Social faz 
parte do trabalho coletivo, ou seja, produz efeito 
nas condições materiais e sociais daqueles que 
trabalham – reprodução da força de trabalho. 
Porém, o assistente social para seu exercício 
profissional, não dispõe de todos os meios 
necessários para efetivação do seu trabalho, 
sejam financeiros, técnicos e humanos, pois 
22 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
depende de recursos, programas e projetos. 
As instituições organizam o trabalho do assistente 
social, assim como, o profissional também 
organiza/operacionaliza as políticas institucionais 
e seus serviços, em suas distintas dimensões e 
em diferentes perspectivas (vale aqui reafirmar a 
posição de defesa dos direitos sociais, da liberdade 
e da democracia assumidos pela profissão).
Da mesma forma e consequentemente, o 
conhecimento, por si só, não determina os 
procedimentos particulares para a condução da 
intervenção profissional, e vice-versa. Ainda, a 
intervenção profissional remete efetivamente a 
um conhecimento que a profissão historicamente 
desenvolveu e assimilou na divisão social do 
trabalho, e que hoje, fazemos sua crítica.
Portanto, podemos afirmar que é impensável 
uma discussão metodológica sem uma reflexão 
teórica que lhe forneça suporte, portanto, teórico-
metodológica. E esta fundamentação teórico-
metodológica, diz respeito ao modo de ler, de 
interpretar e de se relacionar com o indivíduo 
social, com a sociedade presente que, é uma relação 
entre o sujeito cognoscente (que está buscando 
compreender e desvendar esta sociedade) e o 
objeto investigado (que ao ser compreendido é 
passível de ações que podem transformá-lo).
Um dos pontos de destaque apresentado pelas 
reflexões marxianas (Coutinho, 1990) é que, na 
sociedade, há uma articulação entre o momento 
da causalidade e o momento da teleologia, 
ou seja, entre o fato de que as ações humanas 
são determinadas por condições exteriores aos 
indivíduos singulares e o fato de que, ao mesmo 
tempo, a sociedade é constituída por projetos que 
os homens tentam implementar na vida social.
Nesta reflexão, parece-nos que os fenômenos 
sociais são formados simultaneamente por 
momentos de estrutura e de ação, ou por 
determinismo e liberdade. Por mais factual que seja 
a sociedade, a ação humana individual ou coletiva 
é sempre teleológica, para a qual a construção dos 
meios é fundamental, e o trabalho é constituinte 
deste processo, elemento indissociável desta 
construção.
Portanto, os processos de trabalho realizados pelo 
assistente social, não estão desconectados destas 
condições e contradições, destas determinações, 
e das questões da ciência e da ética, mas de 
que maneira tem se colocado para os próprios 
profissionais? 
Um primeiro ponto que é preciso indicar acerca 
destas questões refere-se ao fato que o estudo, 
pesquisa e sistematização acerca dos instrumentos 
e técnicas em Serviço Social não são meramente 
uma afirmação tecnicista de profissionais que 
abdicam de referenciais teóricos críticos e buscam 
meios de aplicação teórica. Muito menos há espaço 
para a neutralidade nesta discussão e definição de 
instrumentos e técnicas no exercício profissional. 
Da mesma maneira, não cabe a pobre crítica ao 
estereótipo de profissionais que buscam apenas 
aplicar técnicas em seu trabalho, como se elas 
fossem destituídas de sentido e interesses, sejam 
quais forem. 
Creio que colocar-se nos processos de trabalho 
é, também, pensar e construir meios de sua 
efetividade, isto é, posicionar-se e constituirinstrumentos que permitam a realização das 
intenções projetadas. E para esta construção, 
o exercício da crítica e da criatividade é 
imprescindível, o contrário, seria reforçar a negação 
de sujeito profissional. A crítica se realiza apenas 
com o esforço de uma razão que reconstrói o 
campo das mediações e vínculos entre o possível 
e o realizado. A criatividade é poder trazer à 
existência aquilo que não foi realizado (ALVES, 2013). 
No entanto, é um movimento que implica a razão, 
mas não apenas o intelecto. É fundamental que 
esta seja compreendida e articulada ao campo dos 
sentidos, do corpo, e da construção da linguagem 
em sua concepção ampliada.
Um segundo aspecto, é o fato de que novas 
formas de gestão do trabalho têm se efetivado 
em nosso cotidiano do exercício profissional 
no espaço público e privado. Novas formas de 
23CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
gestão, que trazem concepções de mundo, 
estratégias e objetivos muito bem definidos, 
compondo aos assistentes sociais, um espaço 
de atuação diferenciado, se não em sua essência 
(pois não indicam em sua intencionalidade novas 
sociabilidades), manifestam-se nas diferenciadas 
modalidades de racionalidade e de conhecimentos 
procedimentais acerca das políticas, programas e 
projetos em andamento.
Nesta direção podem ser indicadas algumas 
expressões de nossos espaços sócio-ocupacionais. 
No espaço do judiciário, hoje, no que se refere aos 
conflitos de paternidade, têm um componente 
que demarca o terreno biológico desta questão, 
que é o exame genético (mesmo que o conflito 
não se reduza a esta realidade). Nas áreas da 
assistência social ou da saúde, sem dúvida, nossas 
ações implicam e são acompanhadas pelos 
registros técnicos que fazemos nos sistemas 
de informação próprios destas políticas e seus 
respectivos programas informatizados. O processo 
de descentralização das políticas forçam os 
profissionais a uma atuação ampliada no campo 
da organização e implementação de políticas nos 
municípios e de seus mecanismos de participação 
e controle social. Estes exemplos indicam novas 
requisições aos profissionais, e por que não, novas 
racionalidades e consequentemente inovações 
instrumentais (mesmo que a racionalidade 
instrumental ainda seja predominante).
No entanto, não nos restringimos a este aspecto do 
espaço sócio-ocupacional, é preciso considerar as 
novas configurações “instrumentais” (racionalidade 
e procedimentos) que são trazidas por estas 
políticas e programas tais como o “acolhimento”, 
a “escuta qualificada” e a “busca ativa”. Por serem 
proposições aliadas as políticas governamentais e 
a política social, por meio de “normas operacionais 
básicas” são menos autoritárias e democráticas? 
Isto nos leva ao terceiro aspecto, os instrumentos 
são pensados e criados no marco de referências 
teóricas, são criados por meio de um conjunto de 
intenções éticas e políticas, portanto, não eram e 
nem são neutros e, por serem novos, não indicam 
necessariamente superação. Mesmo assim, quais 
análises têm sido feitas destas novas proposições 
instrumentais e qual a qualificação técnica e política 
realizada para subsidiar nossa formação e exercício 
profissional? Não creio que secundarizando esta 
discussão seja possível avanço em nossa atuação 
profissional1.
Há que se fazer de forma competente um conjunto 
de procedimentos que sejam articulados entre si, 
isto é, técnicos (no sentido de saber fazer e conduzir 
tecnologia e conhecimentos); políticos (tomar 
posição e fazer escolhas na articulação de sujeitos 
e movimentos sociais); teóricos (capacidade de 
análise, compreensão e projeção); ético (não basta 
querer, é preciso saber o que se quer conhecer 
os fundamentos dos princípios e valores que 
norteiam nossas ações, tais como igualdade, justiça 
e liberdade).
O seguinte aspecto, quarto, pode ser demonstrado 
em algumas dimensões objetivas que compõem os 
processos de trabalho dos assistentes sociais, são 
dimensões que se complementam e realizam no 
cotidiano do exercício profissional:
- a dimensão concreta, que se refere à tecnologia 
com a qual se pode contar para realizar o trabalho, 
e às condições materiais e/ou ambientais em que 
se realiza;
- a dimensão gerencial, que se refere ao modo pelo 
qual o trabalho é gerido, segundo o exercício das 
funções de planejar, organizar, dirigir e controlar.
- a dimensão socioeconômica que abrange a 
articulação entre o modo de realizar o trabalho e 
as estruturas sociais, econômicas e políticas da 
sociedade.
- a dimensão ideológica que consiste no discurso 
elaborado e articulado sobre o trabalho, no nível 
individual e coletivo, justificando o entrelaçamento 
das demais dimensões, especialmente, as relações 
de poder.
- a dimensão simbólica, quando abrange os 
aspectos subjetivos da relação de cada indivíduo 
com o trabalho e suas relações com os demais 
sujeitos.
E, por último, temos realizado poucos estudos 
acerca do sujeito profissional, em sua 
particularidade e singularidade. Não há dúvidas 
24 CRESS-MG | Revista Conexão Geraes | 2º semestre de 2013
no quanto avançamos acerca das reflexões 
sobre as condições objetivas do assistente social 
enquanto trabalhador. Agora, se o trabalho e suas 
condições são hoje tão alienantes e alienadoras, 
como o assistente social tem se percebido e 
colocado enquanto sujeito ético e político? Como 
ser um sujeito de direitos em uma sociedade que 
nos materializa enquanto objetos? Quais são as 
condições em que temos criado, recriado e operado 
nossos instrumentos de trabalho? 
É fundamental que o assistente social seja 
reconhecido como sujeito que pensa, sente, e age, 
que também sofre e vive, são razões e emoções 
que compõem um quesito fundamental para o 
exercício profissional e o domínio do instrumental 
técnico em Serviço Social. Mais uma vez, 
recorremos a Marx, nos Manuscritos Econômico-
Filosóficos quando nos diz 
E, ainda em Marx, mas outro texto, ele nos indica 
que a utilização da força de trabalho é o próprio 
trabalho ou capacidade de trabalho o 
É possível pensar e definir instrumentos e técnicas 
para o exercício profissional, desconectadas dos 
sujeitos profissionais que os operam, experimentam 
e vivenciam?
São aspectos para pensar, refletir com toda 
acuidade e atenção teórica, ética e política. 
Se dantes nos colocávamos em uma arena restrita 
de crítica ao tecnicismo, hoje, os avanços científicos 
e tecnológicos penetraram as tramas de nosso 
cotidiano profissional. O que sem dúvida, nos 
impõe condições em uma sociedade altamente 
tecnificada, mesmo assim, é fundamental a 
qualificação do debate científico e tecnológico, 
inclusive dos meios de trabalho, como pauta de 
uma área de conhecimento que ainda precisa 
consolidar-se.
Estes são apontamentos que nos inquietam e 
desafiam a continuar o debate sobre o instrumental 
técnico em Serviço Social.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Variações sobre o prazer: Santo Agostinho, 
Nietzsche, Marx e Babette. São Paulo:Planeta do Brasil, 2011. 
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci e as Ciências Sociais. In 
Revista Serviço Social e Sociedade. Ano XI, nº 34. São Paulo: 
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MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. In Marx, 
coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1985. 
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro 1, 
Parte III, Cap. 5.10ª ed. São Paulo:, Difel, 1985. 
SARMENTO, Hélder Boska de Moraes. Instrumentos e 
Técnicas em Serviço Social: elementos para uma rediscussão. 
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em 
Serviço Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 
São Paulo, 1994. 
SARMENTO, Hélder Boska de Moraes. Instrumental Técnico e 
o Serviço Social. In SANTOS, CM.; BACKX, S.; GUERRA, Y. (orgs) 
A dimensão técnico-operativa no Serviço Social: desafios

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