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Arbitragem e Litisconsórcio - Ada Pellegrini

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2017	-	02	-	10
Revista	de	Arbitragem	e	Mediação
2016
RARB	VOL.	50	(JULHO	-	SETEMBRO	2016)
DOUTRINA	NACIONAL
Doutrina	Nacional
1.	Arbitragem	e	litisconsórcio
The	joinder	in	arbitration
(Autor)
ADA	PELLEGRINI	GRINOVER
Professora	Titular	de	Direito	Processual	na	Faculdade	de	Direito	da	USP.
Sumário:
1	Arbitragem	e	garantias	constitucionais	no	sistema	jurídico	brasileiro
1.1	A	garantia	do	devido	processo	legal	na	Constituição	Federal	brasileira
1.2	Processo	arbitral	e	limites	à	convenção	das	partes:	garantias	constitucionais	e	regras	de	ordem
pública
2	As	partes	no	processo	arbitral
2.1	Limites	subjetivos	da	convenção	de	arbitragem	(e	da	sentença	arbitral)
2.2	Sobre	o	litisconsórcio
2.3	Litisconsórcio	e	arbitragem
3	Conclusões
Área	do	Direito:	Processual
Resumo:
A	 arbitragem	 é	 submetida	 às	 regras	 do	 devido	 processo	 legal	 e	 aos	 limites	 da	 convenção	 de	 arbitragem.
Ninguém	pode	ser	compelido	a	integrá-la.	O	litisconsórcio	é	o	fenômeno	de	pluralidade	de	pessoas	nos	polos
ativo	ou	passivo	da	relação	jurídica	processual.	No	litisconsórcio	facultativo,	o	juízo	arbitral	prosseguirá,	mas
a	sentença	não	poderá	prejudicar	o	 terceiro	que	não	participou	do	processo.	No	 litisconsórcio	necessário,	a
arbitragem	deverá	encerrar-se	sem	julgamento	do	mérito,	sob	pena	de	nulidade	e	ineficácia	da	sentença.
Abstract:
Arbitration	 is	 subject	 to	 the	 rules	 of	 the	 Due	 Process	 of	 Law	 and	 to	 the	 limits	 imposed	 by	 the	 arbitration
convention.	Nobody	can	be	compelled	to	join	it.	Joinder	of	parties	is	the	phenomenon	in	which	several	parties
join	as	plaintiffs	or	defendants	in	legal	proceedings.	In	a	permissive	joinder,	the	arbitral	tribunal	will	proceed,
but	 the	 judgment	will	 not	 be	 able	 to	 harm	 the	 third	 one	who	 did	 not	 participate	 in	 the	 proceedings.	 In	 a
compulsory	joinder	of	parties,	the	arbitration	must	be	concluded	without	a	trial	on	the	merits,	under	penalty
of	nullity	and	invalidity	of	the	judgment.
Palavra	Chave:	Arbitragem	-	Convenção	arbitral	-	Limites	-	Devido	processo	legal	-	Litisconsórcio
facultativo	-	Litisconsórcio	necessário.
Keywords:	Arbitration	-	Arbitration	Convention	-	Limits	-	Due	process	of	law	-	Permissive	joinder	-
Compulsory	joinder.
1.	Arbitragem	e	garantias	constitucionais	no	sistema	jurídico	brasileiro
1.1.	A	garantia	do	devido	processo	legal	na	Constituição	Federal	brasileira
O	processo	civil	moderno	–	quer	seja	instrumento	de	atuação	da	jurisdição	estatal,	quer	seja	meio	de	atuação
da	 arbitragem	 –	 é	 banhado	 pela	 cláusula	 do	 devido	 processo	 legal,	 assegurada	 expressamente	 no
ordenamento	jurídico	brasileiro	pela	Constituição	da	República	(art.	5.º,	LIV).	Tal	disposição,	conforme	já	tive
oportunidade	 de	 afirmar,	 deve	 ser	 vista	 e	 entendida	 não	 apenas	 sob	 o	 enfoque	 individualista	 da	 tutela	 de
direitos	 subjetivos	 das	 partes,	 mas,	 sobretudo,	 como	 conjunto	 de	 garantias	 objetivas	 do	 próprio	 processo,
como	fator	que	legitima	o	exercício	da	jurisdição, 1	quer	estatal,	quer	arbitral.
Assim	 é	 que	 “A	 expressão	 ‘devido	 processo	 legal’,	 oriunda	 da	 Magna	 Carta	 de	 1215,	 indica	 o	 conjunto	 de
garantias	processuais	a	serem	asseguradas	à	parte,	para	a	tutela	de	situações	que	acabam	legitimando	o	próprio
processo”.	Do	ponto	de	vista	do	autor,	 que	pede,	 e	do	 réu,	que	 se	defende,	o	 ‘devido	processo	 legal’	 tutela	 a
posição	 dos	 litigantes	 perante	 os	 órgãos	 jurisdicionais.	 Mas	 do	 ponto	 de	 vista	 do	 Estado	 (ou	 do	 árbitro),
obrigado	 à	 prestação	 jurisdicional,	 esse	 mesmo	 conjunto	 de	 garantias	 vai	 legitimar	 toda	 a	 atividade
jurisdicional.	(1).
Nesse	 contexto,	 para	 efeito	 da	 análise	 do	 litisconsórcio	 no	 processo	 arbitral,	 têm	 especial	 relevância	 as
garantias	do	contraditório	e	da	ampla	defesa.
Como	já	afirmei	em	sede	doutrinária,
é	 inquestionável	que	é	do	contraditório	que	brota	a	própria	defesa.	Desdobrando-se	o	contraditório	em	dois
momentos	–	a	 informação	 e	 a	 possibilidade	 de	 reação	 –	 não	 há	 como	 negar	 que	 o	 conhecimento,	 ínsito	 no
contraditório,	é	pressuposto	para	o	exercício	da	defesa. 2
Ainda	 anotei	 ser	 “clássico,	 entre	 nós,	 o	 conceito	 de	 Joaquim	 Canuto	 Mendes	 de	 Almeida,	 no	 sentido	 de
constituir	o	contraditório	expressão	da	ciência	bilateral	dos	atos	e	termos	do	processo,	com	a	possibilidade	de
contrariá-los”,	 lembrando	 que,	 na	 Itália,	 La	 China	 também	 viu	 no	 contraditório,	 de	 um	 lado,	 “a	 necessária
informação	 às	 partes	 e,	 de	 outro,	 a	 possível	 reação	 aos	 atos	 desfavoráveis.	 Informação	 necessária,	 reação
possível” 3	(grifei).
Consoante	também	observaram	Rogério	Lauria	Tucci	e	José	Rogério	Cruz	e	Tucci,
ninguém	pode	ser	privado	da	liberdade	ou	de	seus	bens,	sem	que	se	lhe	propicie	a	produção	de	ampla	defesa
(nemo	inauditus	damnari	potest),	e,	por	via	de	consequência,	esta	só	poderá	efetivar-se	em	sua	plenitude	com	o
estabelecimento	 da	 participação	 ativa	 e	 contraditória	 dos	 sujeitos	 parciais	 em	 todos	 os	 atos	 e	 termos	 do
processo 4	(grifei).
E,	 como	 desdobramento	 das	 garantias	 acima	 examinadas,	 decorre	 a	 regra	 conhecida	 do	 direito	 processual
segundo	a	qual	a	sentença	produzida	entre	as	partes,	justa	ou	injusta,	não	pode	prejudicar	terceiros.
À	 luz	do	exposto,	não	se	afigura	 legítimo	–	diante	das	cláusulas	da	ampla	defesa,	 contraditório	e	do	devido
processo	 legal	 ( CF,	 art.	 5.º,	 LIV	 e	 LV)	 –	 submeter	 as	 partes	 aos	 efeitos	 de	 decisões	 proferidas	 em
processos	dos	quais	elas	não	participaram.
1.2.	Processo	arbitral	e	limites	à	convenção	das	partes:	garantias	constitucionais	e	regras	de	ordem	pública
Não	há	dúvida	de	que	a	arbitragem	é	uma	das	mais	importantes	das	manifestações	da	autonomia	da	vontade
no	 âmbito	 processual.	 Seus	 atributos	 de	 celeridade,	 combate	 ao	 ritualismo	 e	 preservação	 relativa	 do	 sigilo
entre	as	partes,	entre	outros,	revelam	que	o	instituto	se	conforma	à	necessidade	de	uma	resposta	jurisdicional
rápida.
Contudo,	 é	 também	 universalmente	 reconhecido	 que	 a	 autonomia	 da	 vontade	 –	 própria	 da	 arbitragem	 –
encontra	limites	nos	direitos	fundamentais	e	em	normas	de	ordem	pública.
Como	bem	observou	Carlos	Alberto	Carmona:
Ao	incentivar	a	utilização	da	justiça	privada,	ampliando	o	Estado	o	próprio	conceito	de	jurisdição,	o	legislador
não	 pretendeu	 abrir	 mão	 de	 um	 certo	 controle	 sobre	 a	 arbitragem.	 Com	 efeito,	 em	 todo	 o	 texto	 da	 Lei
9.307/1996	percebe-se	a	preocupação	do	legislador	em	evitar	abusos	e	iniquidades,	garantindo-se	às	partes	o
devido	processo	legal(em	sentido	processual	e	em	sentido	material).	Eis	aí	a	 limitação	à	autonomia	concedida
aos	litigantes,	que	não	poderão	exceder	as	raias	dos	interesses	que	o	Estado	quer	preservar,	já	que	a	garantia
da	igualdade,	da	legalidade	e	da	supremacia	da	constituição	são	inerentes	à	democracia	moderna 5	(grifei).
De	 forma	 semelhante,	 Antonio	 Corrêa	 assinalou	 que	 “também	 é	 causa	 de	 nulidade	 a	 transgressão	 aos
princípios	do	art.	21	da	lei	especial”.	Segundo	referido	autor,
a	nossa	Constituição	consagrou	como	garantia	do	cidadão	o	princípio	do	devido	processo	legal	ou	due	process	of
law	em	processos	 judiciais	ou	administrativos.	 (...)	A	 lei,	 como	corolário	da	garantia,	 trouxe	 também	o	devido
processo	para	a	arbitragem 6	(grifei).
Dentre	essas	garantias,	avultam	em	importância	aquelas	pelas	quais	se	asseguram	às	partes	o	contraditório	e	a
ampla	 defesa,	 com	 os	 correspondentes	 conteúdos.	 e	 significados.	 Tais	 garantias	 devem	 estar	 presentes	 no
processo	 arbitral,	 sendo	 rigorosamente	 certo	 que	 a	 validade	 da	 sentença	 dos	 árbitros	 está	 condicionada	 à
rigorosa	observância	do	devido	processo	 legal.	 Isso	não	apenas	pela	supremacia	das	normas	constitucionais,
mas	 também	 porque,	 nos	 termos	 da	 legislação	 brasileira	 que	 regula	 a	 arbitragem,	 se	 reputa	 inválida	 a
sentença	 arbitralproferida	 em	 desrespeito	 aos	 princípios	 de	 que	 trata	 o	 art.	 21,	 §	 2.º	 daquele	 texto	 legal;
precisamente	os	princípios	que	integram	o	devido	processo	legal.
Conforme	mais	uma	vez	bem	lembrou	Carmona:
Como	 garantia	máxima	 para	 as	 partes	 de	 que	 não	 serão	 submetidas	 a	 processo	 injusto,	 prevê	 a	 Lei	 sejam
sempre	respeitados	os	princípios	do	contraditório,	da	igualdade	das	partes,	da	imparcialidade	do	árbitro	e	do
seu	 livre	 convencimento.	 Viola	 o	 princípio	 do	 contraditório,	 portanto,	 a	 decisão	 que	 leva	 em	 consideração
apenas	os	argumentos	de	um	dos	litigantes,	sem	dar	à	parte	contrária	o	direito	de	apresentar	razões	em	sentido
contrário.	 Garante	 o	 princípio	 a	 informação	 de	 todos	 os	 atos	 processuais,	 com	 a	 possibilidade	 de	 reação 7
(grifei).
Dessa	forma,	de	acordo	com	observação	de	Joel	Dias	Figueira	Júnior:
A	sentença	arbitral	estará	eivada	de	nulidade	absoluta	e,	portanto,	será	atacável	por	meio	de	ação	anulatória
ajuizada	pelo	interessado	perante	o	órgão	do	Poder	Judiciário	competente,	quando	(...)	forem	desrespeitados	os
princípios	do	contraditório,	da	igualdade	das	partes,	da	imparcialidade	do	árbitro	e	de	seu	livre	convencimento
ou,	 em	outros	 termos,	 inobservado	o	 devido	processo	 legal.	 Sendo	nula	 de	 pleno	direito,	 a	 sentença	 arbitral
maculada	de	qualquer	desses	vícios	insanáveis	não	gera	nenhum	efeito	no	mundo	jurídico.	Por	isso,	pode	ser
impugnada	através	de	ação	autônoma	de	natureza	declaratória	aforada	perante	o	órgão	do	Poder	Judiciário
ou,	ainda,	em	embargos	à	execução	de	sentença,	caso	se	trate	de	sentença	arbitral	condenatória	não	satisfeita
espontaneamente 8	(grifei).
Assim	também	Humberto	Theodoro	Jr.	consignou	que
A	garantia	do	devido	processo	legal	com	os	consectários	do	contraditório	e	ampla	defesa	são,	modernamente,
direitos	assegurados	no	plano	constitucional,	o	mesmo	ocorrendo	com	a	exigência	de	motivação	de	todas	as
decisões	judiciais	( CF,	arts.	 5.º,	LIV	e	LV,	e	93,	IX).	Por	isso,	qualquer	que	seja	o	procedimento	a	prevalecer
no	juízo	arbitral	esses	preceitos	fundamentais	nunca	poderão	ser	descurados	pelo	árbitros,	sob	pena	de	nulidade.
A	matéria	é	de	ordem	pública	e	não	se	sujeita	à	disponibilidade	negocial	na	convenção	de	arbitragem.	Sobre	o
tema,	 a	 lei	 brasileira	 é	 expressa:	 “Serão	 sempre	 respeitados	 no	 procedimento	 arbitral	 os	 princípios	 do
contraditório,	da	 igualdade	das	partes,	da	 impessoalidade	do	bitro	e	de	seu	 livre	convencimento”	 (art.	21,	§
2.º)” 9	(grifei).
Edoardo	Flavio	Ricci,	jurista	italiano	que	examinou	o	sistema	brasileiro,	anotou	que
A	 Lei	 9.307,	 de	 23.09.1996,	 evidencia	 com	 particular	 destaque	 a	 necessidade	 de	 respeitar-se	 o	 princípio	 do
contraditório	 na	 arbitragem.	 O	 art.	 21,	 §	 2.º,	 menciona	 que	 serão	 “sempre	 respeitados,	 no	 procedimento
arbitral,	 os	 princípios	 do	 contraditório”;	 e	 o	 art.	 32	 estabelece	 que	 a	 sentença	 arbitral	 é	 nula	 se	 “forem
desrespeitados	os	princípios	de	que	trata	o	art.	21,	§	2.º	desta	Lei”.	Tem,	portanto,	razão	a	doutrina	brasileira
ao	 defender	 que	 o	 princípio	 do	 contraditório	 é	 uma	 das	 regras	 fundamentais	 do	 procedimento	 arbitral” 10
(grifei).
A	propósito,	J.	E.	Carreira	Alvim	asseverou	ser	“também	causa	de	nulidade	o	desrespeito	aos	princípios	de	que
trata	 o	 art.	 21,	 §	 2.º,	 da	 Lei	 de	 Arbitragem,	 quais	 sejam,	 do	 contraditório,	 da	 igualdade	 das	 partes,	 da
imparcialidade	 do	 árbitro	 e	 de	 seu	 livre	 convencimento”; 11	 no	 que	 é	 secundado	por	Álvaro	Villaça	Azevedo,
para	quem,
No	procedimento	arbitral	devem	ser	observados	os	mesmos	princípios	do	procedimento	judicial,	tais	como	o	do
contraditório,	o	da	igualdade	das	partes	e	o	do	livre	convencimento	do	árbitro,	como	se	assenta	no	§	2.º	do	art.
21. 12	(grifei).
No	direito	 espanhol,	 Luis	Muñoz	 Sabaté,	 embora	 ressaltando	 a	 operatividade	 como	principal	 elemento	 das
previsões	processuais	contratuais	(por	ele	denominadas	“ppc”),	reconheceu	que	seus	limites
lo	constituyen	los	diferentes	segmentos	del	marco	constitucional,	particularmente	aquellos	que	se	encuadram
en	el	art.	24	CE,	debiendo	evitarse	todo	cuanto	sea	fruto	de	la	resignación	del	débil	frente	al	podereroso	o	 la
conculcación	de	los	llamados	derechos	fundamentales 13	(grifei).
Nesse	mesmo	contexto,	referido	autor	observa	que
la	constitucionalización	del	proceso	civil	significa	respetar	 la	proyección	en	él	de	 los	derechos	 fundamentales
(principio	de	audiência,	de	contradicción,	de	oralidad,	publicidad	y	motivación,	evitar	la	indefesión,	velar	por
el	derecho	a	un	Juez	predeterminado	etc.). 14
Portanto,	sendo	a	arbitragem	uma	forma	de	solução	de	controvérsias	na	qual	o	árbitro	desempenha	função
quando	menos	análoga	ao	do	juiz	–	e	hoje	considerada	jurisdicional	–,	inegavelmente	no	processo	arbitral	hão
que	se	observar	as	garantias	do	contraditório	e	da	ampla	defesa.
Além	de	se	submeter	aos	ditames	da	Constituição	Federal,	cujas	regras	têm	absoluta	supremacia	perante	os
demais	preceitos	normativos	 contidos	no	ordenamento,	 a	 sentença	a	 ser	proferida	pelos	árbitros,	para	que
seja	 válida	 e	 exequível	 no	 Brasil,	 também	 deve	 atentar	 para	 regras	 processuais	 cogentes	 e	 que,	 portanto,
escapam	ao	poder	de	disposição	das	partes;	ainda	que	se	tratando	de	arbitragem.
A	arbitragem	significa	 talvez	a	mais	 importante	forma	de	convenção	das	partes	em	matéria	processual.	Em
matéria	 de	 interesses	 patrimoniais	 disponíveis,	 podem	 as	 partes	 afastar	 a	 jurisdição	 estatal	 e	 atribuir	 a
solução	da	controvérsia	ao	árbitro.	Contudo,	ainda	que	essa	liberdade	possa	se	estender	às	regras	processuais
aplicáveis	ao	processo	arbitral,	a	autonomia	da	vontade	não	pode	chegar	ao	ponto	de	afastar	a	aplicação	de
regras	cogentes,	imperativas	e	que,	antes	de	tudo,	tutelam	a	ordem	pública.
Sustento,	portanto,	que	as	regras	processuais	que	se	entendem	cogentes	para	a	 jurisdição	estatal,	ao	menos
em	 princípio,	 também	 devem	 ser	 qualificadas	 como	 imperativas	 para	 a	 jurisdição	 arbitral,	 não	 havendo
margem	para	sua	alteração	ou	derrogação	pela	vontade	das	partes	envolvidas.
2.	As	partes	no	processo	arbitral
μμ_5spp:S:J2.1.	Limites	subjetivos	da	convenção	de	arbitragem	(e	da	sentença	arbitral)
Para	a	 instituição	da	arbitragem	é	necessária	uma	convenção	privada	por	meio	da	qual	as	partes	pactuam
submeter	 a	 decisão	 do	 conflito	 a	 um	 terceiro	 (árbitro).	 Tal	 convenção	 apresenta-se	 sob	 duas	 formas,
verificadas	em	diferentes	momentos	da	evolução	da	 relação	entre	as	partes:	 a	cláusula	compromissória	 e	o
compromisso	arbitral.
A	cláusula	compromissória	consiste	na	previsão	de	que	futuros	e	eventuais	 litígios	envolvendo	determinada
relação	serão	resolvidos	por	meio	da	arbitragem.	É	uma	avença	prévia	à	existência	do	próprio	conflito,	pela
qual	 as	 partes	 se	 comprometem	 a	 celebrar	 o	 compromisso	 arbitral	 e	 instituir	 o	 juízo	 arbitral	 quando	 da
verificação	de	alguma	divergência	em	relação	ao	negócio	realizado.	Já	o	compromisso	arbitral	é	ato	solene	por
meio	 do	 qual	 as	 partes	 instituem	 o	 juízo	 arbitral	 para	 decidir	 sobre	 o	 conflito	 verificado,	 definindo	 o(s)
árbitro(s),	seu	âmbito	de	competência,	o	objeto	do	litígio,	além	de	outros	dados,	como	o	prazo	em	que	deve	ser
proferido	o	laudo	arbitral	e	a	autorização	para	julgamento	por	equidade.
Conquanto	o	direito	 italiano	apresente	disciplina	um	pouco	diversa	do	brasileiro	em	matéria	de	arbitragem
(distinguindo-se	o	arbitrato	rituale	do	arbitrato	irrituale), 15	pode-se	afirmar	com	Proto	Pisani	que:
Fonte	dell’arbitrato	rituale	è	un	accordo	con	cui	due	o	più	parti	convengono	di	fare	decidere	da	arbitri	una	o	più
controversie.	Tale	accordo	può	essere	stipulato	quando	la	controvérsia	è	già	insorta,	ed	in	tal	caso	si	chiama
compromesso	 (art.	 806),	 oppure	 prima,	 in	 occasione	 della	 stipulazione	 di	 un	 contratto,	 le	 parti	 possono
convenire	 nello	 stesso	 contratto,	 oin	 atto	 separato,	 che	 le	 controversie	 future	 eventualmente	 nascenti	 dal
contratto	medesimo	siano	decise	da	arbitri,	in	tal	caso	si	parla	di	clausola	compromissoria	(art.	808) 16	(grifei).
Nesse	 contexto,	 é	 fácil	 perceber	que	a	 convenção	de	arbitragem	encontra	 limite	 subjetivo	nas	pessoas	que,
declarando	 expressa	 vontade,	 se	 submeteram	 a	 essa	 forma	 de	 solução	 de	 controvérsias,	 subscrevendo	 a
cláusula	compromissória	e/ou	o	compromisso	arbitral.	É	que,	nas	palavras	de	Carmona,
como	acordo	de	vontades,	[a	convenção	de	arbitragem]	vincula	as	partes	no	que	se	refere	a	litígios	atuais	ou
futuros,	obrigando-as	reciprocamente	à	submissão	ao	juízo	arbitral;	como	pacto	processual,	seus	objetivos	são
os	de	derrogar	a	jurisdição	estatal,	submetendo	as	partes	à	jurisdição	dos	árbitros. 17	(grifei).
Assim	também	Humberto	Theodoro	Jr.	observou	que
É	de	se	ressaltar	sempre	que	a	justiça	desempenhada	pela	arbitragem	é	originariamente	uma	justiça	privada
instituída	 pelos	 contratantes	 para	 excluir	 seus	 litígios	 da	 jurisdição	 pública.	 São	 eles,	 os	 contratantes,	 que
afastam,	 nos	 termos	 do	 contrato,	 a	 função	 estatal	 e	 a	 substituem	 pela	 jurisdição	 de	 particulares	 que,	 nas
circunstâncias	negociais,	assumem	a	missão	de	julgar.
Daí	por	que	essa	limitação	subjetiva	naturalmente	se	projeta	em	relação	à	decisão	do	árbitro:	“Porque	se	trata
de	uma	renúncia	ao	direito	de	confiar	seu	litígio	à	justiça	pública,	a	submissão	ao	juízo	arbitral	só	obriga	às
partes	que	o	contrataram”	. 18
Essa	mesma	lição	se	extrai	do	pensamento	de	J.	E.	Carreira	Alvim,	para	quem
A	sentença,	 como	ato	de	autoridade	do	Estado,	proferida	por	órgão-ente	 (juízo	estatal)	ou	por	órgão-pessoa
(juízo	 arbitral),	produz	 em	 geral	 efeitos	 para	 as	 partes	 as	 quais	 é	 dada,	 não	 beneficiando	 nem	 prejudicando
terceiros;	igual	extensão	tem	a	qualidade	que	ela	adquire,	traduzida	no	fenômeno	a	que	se	denomina	de	“coisa
julgada”.
E	ainda:
Entre	as	partes	e	seus	sucessores,	a	sentença	produz	os	mesmo	efeitos	da	sentença	proferida	pelos	órgãos	do
Poder	 Judiciário	 (art.	 31,	 parte	 inicial,	 LA),	não	 alcançando,	 porém,	 terceiros	 que	 não	 tenham	 sido	 parte	 na
convenção	arbitral,	ou	que	não	tenham,	nessa	qualidade,	participado	do	processo 19	(grifei).
Aliás,	limitação	dessa	ordem	é	rigorosamente	harmônica	com	as	garantias	constitucionais	antes	examinadas,
que	impedem	que	alguém	tenha	sua	esfera	jurídica	afetada,	por	decisão	imutável,	sem	a	oportunidade	de	ser
ouvido. 20
2.2.	Sobre	o	litisconsórcio
Como	se	sabe,	e	já	tivemos	oportunidade	de	observar	no	âmbito	doutrinário,	o	litisconsórcio	“é	um	fenômeno
de	pluralidade	de	pessoas,	em	um	só	ou	em	ambos	os	polos	conflitantes	da	relação	jurídica	processual”. 21	A
esse	propósito,	a	conjugação	de	mais	de	um	autor,	ou	mais	de	um	réu,	para	litigar	em	um	mesmo	processo,
pode	ter	origem	em	razões	de	conveniência	e	economia	processual.	É	o	chamado	litisconsórcio	facultativo,	em
que,	de	um	modo	geral,	ao	autor	“cabe	deliberar	sobre	a	formação	do	litisconsórcio	ou	coligando-se	com	outro
ou	outros	para	propor	a	ação,	ou	propondo	a	ação	contra	mais	de	um	réu”,	conforme	lição	de	José	Frederico
Marques. 22	Nesses	casos,	a	 lei	admite	como	possível	 (e,	às	vezes,	até	recomendável)	a	união	das	partes,	em
qualquer	ou	em	ambos	os	polos	do	processo,	mas	não	impõe	–	como	condição	de	eficácia	da	sentença	–	que
assim	o	seja.
Em	casos	outros,	é	a	própria	lei	que	determina	a	obrigatoriedade	de	que	diferentes	autores	ou	diferentes	réus
sejam	 reunidos	 para	 a	 propositura	 da	 demanda	 ou	 para	 que	 suportem	 os	 efeitos	 da	 sentença.	 Trata-se	 do
litisconsórcio	 necessário	 por	 força	 de	 lei,	 em	 que	 se	 estabelecem,	 de	 antemão,	 todos	 aqueles	 que
necessariamente	deverão	compor	o	processo,	independentemente	da	vontade	do	autor,	ou	de	quem	quer	que
seja.
E	há	hipóteses	em	que,	pela	natureza	da	relação	jurídica	debatida,	é	necessária	a	participação	de	mais	de	um
réu	ou	mais	de	um	autor	no	processo.	Nas	ações	que	tenham	por	objeto	uma	relação	plurilateral	ou	mesmo
nas	ações	propostas	por	 terceiros,	que	 tenham	por	alvo	 relações	bilaterais	ou	plurilaterais,	 a	 comunhão	de
interesses	que	 justifica	a	 reunião	de	pessoas	em	um	mesmo	polo,	 ensinou	Amaral	 Santos,	 “se	 depreende	 da
relação	jurídica	material	posta	em	juízo.	Quando	esta	é	una	e	incindível	quanto	aos	sujeitos	ativos	ou	passivos,
todos	eles	deverão	necessariamente	participar	da	relação	processual,	porquanto	a	sentença	a	todos	atinge” 23
(grifei).
Nesses	casos,	devem	figurar	no	processo	todos	os	que	são	titulares	de	um	mesmo	direito	subjetivo	ou	de	uma	só
obrigação	, 24	sendo	a	obrigatoriedade	do	litisconsórcio	definida	não	pelo	direito	processual,	mas	pelo	direito
material	em	debate,	que	determina	os	titulares	e	os	possíveis	afetados	pela	sentença.	É	a	estrutura	interna	da
relação	 jurídica	 –	 um	 estado	 jurídico	 único	 –	 formada	 pela	 ligação	 entre	 várias	 pessoas,	 que	 torna,	 senão
impossível,	 ao	 menos	 ilegítima	 a	 formação	 de	 um	 processo	 em	 que	 apenas	 uma	 ou	 algumas	 delas	 esteja
presente. 25
Mas,	ao	lado	dos	casos	de	litisconsórcio	designados	pela	lei	existem	outras	hipóteses	em	que	era	necessário	o
ingresso	 de	mais	 de	 um	 participante	 nos	 polos	 do	 processo,	 em	 decorrência	 das	 características	 do	 direito
material	controvertido.
É	justamente	o	direito	material	que,	regulando	a	interação	entre	os	indivíduos,	ordena	quem	compõe	e	como
são	 formadas	 essas	 relações.	 É,	 portanto,	 problema	 de	 direito	 material	 determinar	 quando	 há	 relações
compostas	por	vários	sujeitos,	vinculados	por	obrigações,	deveres,	faculdades	ou	direitos	de	tal	forma	conexos
que	não	possam	ser	modificados,	extintos	ou	exercitados	sem	que	produzam	efeitos	diretos	e	imediatos	uns
sobre	os	outros. 26	Paralelamente,	o	direito	processual,	quando	estas	relações	vão	a	juízo,	ordenará	a	presença
de	 todos	 os	 interessados,	 pois	não	poderá	desrespeitar	 a	 determinação	que	o	direito	material	 lhe	 impõe.	 E
assim	 é	 porque	 o	 processo	 atingirá	 (ou,	 ao	menos,	 deverá	 atingir)	 a	 todos	 e	 perante	 todos	 produzirá	 seus
efeitos.
Nesse	contexto,	é	o	direito	material	que	cria	a	unitariedade,	no	tocante	aos	direitos	e	obrigações	substanciais
dos	indivíduos,	e	essa	unitariedade	vai	se	refletir	na	lide,	determinando	a	formação	de	litisconsórcio	unitário.
Naquele	 plano	 se	 estabelece,	 portanto,	 não	 apenas	 a	 necessidade	 de	 que	 todos	 os	 participantes	 da	 relação
compareçam	 ao	 processo,	 mas	 de	 que	 a	 decisão	 para	 todos,	 no	 tocante	 a	 essa	 relação,	 seja	 a	 mesma.	 A
incindibilidade	da	questão	jurídica	(incindibilidade	do	direito	material)	passa	a	produzir	a	incindibilidade	do
processo,	e,	conforme	palavras	de	Gabriel	de	Rezende	Filho	“o	que	é	uno	a	respeito	de	mais	de	uma	pessoa	não
pode	judicialmente	cessar	ou	modificar-se	senão	a	respeito	de	todos	os	interessados” 27	(grifei).
O	pedido	que	se	faz	e	os	efeitos	buscados,	com	relação	a	um	dos	litisconsortes,	de	igual	modo	–	e	com	igual
eficácia	–	deve	ser	feito	para	os	outros,	o	que	levou	a	doutrina	ao	entendimento	de	que,	nestas	hipóteses,	se
está	diante	não	de	um	cúmulo	subjetivo	de	demandas,	mas	de	uma	ação	única,	que	somente	pode	ser	exercida
em	face	de	todos	os	envolvidos.	Apesar	da	pluralidade	de	pessoas	interessadas	como	autores	ou	réus,	estes	e
aqueles	surgem	como	partes	únicas,	tal	como	se	fosse	o	caso	de	um	processo	simples,	com	um	só	autor	e	um	só
réu. 28
Enrico	 Tullio	 Liebman	 chegou	 à	 mesma	 conclusão,	 afirmando	 que	 a	 ação,	 única,	 tem	 cabimento	 apenas
conjuntamente	contra	os	vários	legitimados	passivos	necessários,	e	isso	quer	dizer	que	não	tem	cabimento	só
contra	 um	 ou	 alguns	 deles	 (um	 bem	 pertencente	 a	 três	 pessoas	 não	 pode	 ser	 dividido	 entre	 duas	 delas
apenas);	movida	a	 alguns,	 a	 ação	não	poderá	 ser	 julgada	pelo	mérito	 e	 a	 rigor	 deveria,	mesmo	de	 ofício,	 serdeclarada	inadmissível 29	(grifei).
A	invalidade	da	sentença	decorre	da	impossibilidade	“quase	mecânica”	de	produzir	efeitos	unicamente	quanto
a	 um	dos	 litisconsortes,	 ignorando	 a	 situação,	 que	 continua	 válida	 e	 produzindo	 efeitos,	 daqueles	 que	 não
participaram	do	processo.	Na	 lição	de	Ovídio	Baptista	da	Silva,	 a	ofensa	atingiria,	 talvez	até	mais	do	que	o
processo,	a	própria	relação	de	direito	material. 30
Nesse	particular,	não	será	demasiado	reiterar	a	incompatibilidade	entre	a	garantia	do	devido	processo	legal	e
o	fato	de	que	pessoas	que	não	participaram	do	litígio	–	por	sequer	terem	sido	chamadas	a	integrar	o	processo
–	 possam	 ser	 submetidas	 aos	 efeitos	 da	 extinção	 ou	 modificação	 dessa	 relação	 material.	 Não	 se	 decide	 a
relação	jurídica,	sem	que	os	interessados	se	manifestem,	também	pelas	garantias	do	contraditório	e	da	ampla
defesa,	que	não	permitem	a	expedição	de	provimentos	sem	a	prévia	oportunidade	de	defesa	e	participação
daqueles	que	serão	por	eles	afetados	(a	expedição	de	provimento	assim,	violador	dessas	garantias	do	Estado
de	Direito,	será	sempre	ilegítima).
2.3.	Litisconsórcio	e	arbitragem
Como	visto,	no	processo	de	arbitragem	vigoram,	com	toda	plenitude,	as	garantias	constitucionais	que	tutelam
o	processo	e,	por	consequência,	as	normas	que,	no	plano	infraconstitucional,	regulam	tais	garantias	e	que,	por
isso,	se	afiguram	como	normas	de	direito	público,	cogentes	e	não	derrogáveis	pelas	partes	e	 tampouco	pelo
árbitro;	ainda	que,	como	se	verá	adiante,	 isso	represente	um	óbice	à	solução	arbitral,	 impondo,	como	única
forma	de	superação	da	controvérsia,	a	solução	judicial.
Sob	um	prisma	genérico,	é	correto	dizer,	com	Cândido	Dinamarco,	que:
Não	 observadas	 as	 regras	 do	 litisconsórcio	 necessário,	 ou	 seja,	 faltando	 na	 relação	 processual	 algum
colegitimado	que	a	 lei	 considera	 indispensável,	 não	 se	poderá	 chegar	ao	provimento	 jurisdicional	demandado
(no	processo	de	 conhecimento,	 sentença	de	mérito).	 Sem	a	presença	 coletiva	de	 todos	que	participaram	da
mesma	legitimidade	necessariamente	conjunta,	o	sujeito	que	está	no	processo	sem	coligação	com	os	demais
considera-se	parte	 ilegítima	ad	causam	 e,	 em	virtude	disso,	o	caso	é	de	carência	de	ação	 (como	em	 todas	as
hipóteses	em	que	esteja	ausente	uma	das	condições	desta).	Por	isso	é	que	tem	o	juiz	o	poder-dever,	de	natureza
inquisitiva,	de	fiscalizar	a	observância	das	regras	do	litisconsórcio	necessário 31	(grifei);
lição	que,	mais	uma	vez,	remete	às	garantias	constitucionais	das	quais	aqui	se	tratou:
Ao	 princípio	 do	 contraditório	 repugna	 que	 possa	 ser	 ordinariamente	 atingida	 pela	 sentença,	 seus	 efeitos	 e
imutabilidade	destes,	pessoa	que	não	participou	do	processo	nem	teve	como	influir	nos	seus	rumos	e	no	teor
do	 provimento	 com	 que	 culminou.	O	 princípio	 do	 contraditório	 é	 o	 fundamento	 mais	 sólido	 das	 regras	 de
legitimidade	 ad	 causam	 e,	 especificamente,	 dessa	 segundo	 a	 qual	 em	 certos	 casos	 a	 sentença	 só	 será	 eficaz
quando	 todos	 os	 titulares	 da	 relação	 ou	 situação	 jurídica	 controvertida	 hajam	 sido	 partes	 no	 processo
(necessariedade	do	litisconsórcio) 32	(grifei).
Ora,	se	isso	é	certo	e	se	vigora	para	o	processo	judicial,	igualmente	se	aplica	ao	processo	arbitral;	mas	com	um
diferencial:	 havendo	 litisconsórcio	 necessário	 –	 quer	 pelo	 caráter	 unitário	 da	 relação	 jurídica	 de	 direito
material,	quer	por	força	de	disposição	legal	–	e	não	estando	todos	os	litisconsortes	sujeitos	ao	juízo	arbitral,
forçoso	 será	 reconhecer	 a	 inviabilidade	 jurídica	 da	 própria	 arbitragem,	 visto	 que,	 como	 já	 examinado	 à
saciedade,	 só	 são	 atingidos	 pela	 eficácia	 da	 convenção	 de	 arbitragem	 e	 pela	 sentença	 do	 árbitro	 aqueles
sujeitos	que,	expressa	e	voluntariamente,	declararam	sua	vontade	para	tal	finalidade.	Aí,	portanto,	também	se
aplica	a	conclusão	da	“carência”	de	ação	acima	explicada	por	Dinamarco.
Assim,	conforme	lição	de	Humberto	Theodoro	Jr.,
Uma	das	figuras	do	processo	civil	ordinário	que	deve	refletir	sobre	o	processo	arbitral	é	a	do	litisconsórcio,	já
que,	 frequentemente,	 se	verificará,	 também	no	 juízo	particular,	o	 concurso	de	 sujeitos	num	ou	em	ambos	os
polos	da	relação	processual.
Na	lição	desse	processualista:
A	 formação	do	 litisconsórcio	não	pode	 ser	 banida	do	 campo	do	 juízo	 arbitral,	 visto	 que	 ali,	 tanto	 como	no
processo	comum,	poderão	estar	em	jogo	situações	em	que	a	lei	exige	a	observância	do	cúmulo	subjetivo.	Basta
ressaltar	 os	 frequentes	 negócios	 plurissubjetivos	 e,	 principalmente,	 os	 completos	 negociais	 formados	 por
cessão	de	direitos	ou	pelos	contratos	conexos	(ou	complexos).	É	bom	lembrar	que	o	litisconsórcio	necessário	é
requisito	de	validade	e	eficácia	da	prestação	jurisdicional,	envolvendo,	pois,	questão	de	ordem	pública. 33
De	fato,	confirmando	tudo	quanto	foi	dito	aqui	a	propósito	dos	limites	subjetivos	da	convenção	de	arbitragem,
Theodoro	Jr.	bem	ressaltou	que
Como	a	arbitragem	repousa	nos	vínculos	contratuais	entre	as	partes	e	entre	estas	e	o	árbitro,	seus	liames	não
se	manifestam	senão	entre	os	contratantes.	A	legitimidade	de	parte	para	o	procedimento	arbitral,	por	isso,	só
se	 estabelece	 entre	 os	 sujeitos	 contratuais.	 A	 única	 via	 de	 legitimação,	 ativa	 ou	 passiva,	 para	 quem	 queira
participar	 ou	 seja	 chamado	 a	 participar	 da	 arbitragem	 condiciona-se	 à	 própria	 convenção	 arbitral.	 Pouco
importa,	portanto,	 seja	necessário	ou	 facultativo	o	 litisconsórcio.	Sua	 formação	só	 será	admissível,	de	 forma
cogente,	entre	os	que	celebraram	a	convenção	arbitral	. 34
Assim,	prossegue	referido	autor,
Se	 todos	 os	 que	 devem	 ser	 litisconsortes	 são	 aderentes	 à	 convenção	 arbitral,	 tudo	 se	 desenvolverá
naturalmente	dentro	da	força	contratual.	Se,	contudo,	o	terceiro,	que	se	deseja	incluir	no	processo,	não	firmou
o	ajuste,	sua	inserção	no	litisconsórcio,	ainda	que	necessário,	somente	se	tornará	possível	se	ele	consentir	em
aderir	ao	compromisso.	Havendo,	pois,	recusa	de	sua	parte	o	árbitro	não	terá	força	para	submetê-lo	à	relação
processual.	Se	o	caso	for	de	litisconsórcio	facultativo,	o	procedimento	da	arbitragem	terá	de	prosseguir	só	com
as	partes	vinculadas	à	convenção	arbitral.	Se	 for	necessário	o	 litisconsórcio,	 só	 restará	ao	árbitro	 encerrar	o
procedimento	sem	julgamento	de	mérito,	por	falta	de	integração	da	convenção	de	arbitragem.	Proferirá	sentença
terminativa	 na	 esfera	 arbitral,	 para	 que	 a	 lide	 possa	 ser	 resolvida	 pelo	 Poder	 Judiciário.	 Diante	 do	 caráter
voluntário	da	arbitragem,	falece	à	parte	e	ao	árbitro	o	poder	de	impor	ao	terceiro	toda	e	qualquer	espécie	de
arbitragem	forçada.	Em	relação	a	quem	não	é	parte	da	convenção,	cabe	ao	árbitro	ouvi-lo,	mas	não	convocá-lo
a	se	submeter	a	um	imperium	que	não	existe.
E	mais:
A	não	figuração	do	litisconsórcio	necessário	dentro	da	força	da	convenção	arbitral	torna-a,	por	isso	mesmo,
incompleta	e	impotente	nos	moldes	do	art.	20,	§	2.º,	da	Lei	9.307/1996.	Faltará	condição	de	procedibilidade	na
via	 especial	 da	 jurisdição	 convencional,	 porquanto	 ineficaz	 é	 o	 julgamento	 que,	 em	 qualquer	 processo,	 seja
proferido	sem	a	presença	na	relação	processual	de	litisconsorte	necessário	( CPC,	art.	 47,	parágrafo	único).
A	 jurisprudência	 brasileira	 já	 teve	 a	 oportunidade	 de	 enfrentar	 o	 problema	 e	 assentou:	 (a)	 a	 convenção
arbitral	vinculante	“somente	é	válida	e	eficaz	em	relação	às	partes	contratantes”;	 (b)	em	havendo	 litisconsorte
que	 não	 subscreveu	 a	 convenção	 arbitral	 não	 pode	 ser	 constrangido	 a	 aderir	 ao	 “negócio	 de	 que	 não
participou” 35	(grifei).
Nessa	mesma	linha,	J.	E.	Carreira	Alvim	observou	que:
O	tema	que	mais	chama	a	atenção	em	termos	de	litisconsórcio	na	arbitragem	é	o	que	se	liga	ao	litisconsórcio
do	 tipo	necessário,	 especialmente	do	 tipo	unitário,	porquanto,	nessa	hipótese,	 o	processo	arbitral	não	pode
formar-see	desenvolver-se,	validamente,	sem	a	participação	de	todos	os	interessados.
E	bem	concluiu:
Na	 prática,	 cumpre	 distinguir	 as	 diversas	 espécies	 de	 litisconsórcio	 e	 a	 potencialidade	 que	 tem	 a	 sentença
arbitral	de	afetar,	ou	não,	diretos	de	terceiros,	fora	da	convenção	de	arbitragem.	Se	o	litisconsórcio	for	do	tipo
necessário-unitário	–	aquele	que	impõe	a	participação	de	todos	os	litigantes,	com	sentença	uniforme	para	todos
–,	ou	o	terceiro	aceita	integrar	o	processo,	possibilitando	a	sentença,	sujeitando-se	aos	seus	efeitos,	ou	não	aceita
e	permanece	fora	dele,	inviabilizando	com	a	sua	ausência	o	processo	arbitral 36	(grifei).
De	forma	semelhante,	Antonio	de	Pádua	Soubhie	Nogueira	observa	que	as	regras	aplicáveis	ao	litisconsórcio
necessário	 deverão	 incidir	 no	 juízo	 arbitral,	 “mesmo	 que	 o	 compromisso	 arbitral	 ou	 os	 mecanismos
predeterminados	 eleitos	 pelas	 partes	 não	 contenham	 tal	 regra	 de	 organização	 do	 processo”,	 uma	 vez	 que
inúmeras	circunstâncias	instarão	a	convocação	de	terceiros	a	lide,	para	figurar	como	litisconsorte,	pois	não	se
pode	admitir	valha	a	sentença	para	uns	e	não	para	outros,	quando	se	cuidar	da	mesma	relação	jurídica	e	que
deva	 ser	 decidida,	 na	 maioria	 das	 vezes,	 uniformemente.	 Diante	 disso,	 anotamos	 que,	 havendo	 ou	 não
expressa	 previsão	 de	 convocação	 de	 terceiros,	 o	 árbitro	 não	 desprezará	 essas	 necessárias	 intervenções	 da
parte,	 até	 para	 manter	 a	 eficácia	 de	 sua	 decisão,	 concluindo	 que:	 na	 hipótese	 de	 a	 parte	 litisconsorcial
discordar	do	processamento	do	litígio	(o	qual	deve	integrar)	perante	o	juízo	arbitral,	deverá	o	árbitro	extinguir
o	processo	de	imediato,	sem	julgamento	de	mérito,	proferindo	sentença	terminativa	para	que	a	lide	seja	resolvida
pelo	Poder	Judiciário 37	(grifei).
Na	 doutrina	 italiana	 recente,	 o	 tema	 foi	 enfrentado	 por	 Elio	 Fazzalari,	 que	 figurou	 a	 hipótese	 em	 que	 o
terceiro	seja	 litisconsorte	necessário,	relativamente	à	res	 in	 iudicium	deducta,	 caso	em	que	pode	 intervir	no
processo	para	integrar	o	contraditório.	Nesse	caso,	verificando	o	árbitro,	de	ofício	ou	a	requerimento	da	parte,
que	 ocorre	 o	 litisconsórcio	 necessário	 de	 um	 terceiro	 estranho	 ao	 pacto	 compromissório,	 deve	 convidar	 o
terceiro	 a	 intervir,	 mas	 sem	 as	 consequências	 que,	 em	 sede	 judicial,	 resultam	 dessa	 recusa.	 Se	 o	 terceiro
declina,	 expressa	 ou	 implicitamente,	 do	 convite,	 não	 pode	 ser	 havido	 como	 participante	 da	 arbitragem,
permanecendo	 livre	 para	 deduzir	 a	 relação	 plurissubjetiva,	 de	 qua	 agitur,	 no	 juízo	 ordinário,	 envolvendo	 as
partes	na	arbitragem.	Recusado	o	convite	pelo	 litisconsorte	convidado,	qualquer	das	partes	originárias	pode
também	 dirigir-se	 ao	 juízo	 estatal,	 sem	 que	 a	 outra,	 ou	 o	 terceiro,	 possa	 impedi-la	 através	 da	 exceptio
compromissi.	Se	as	partes,	apesar	da	recusa	do	 terceiro,	não	desistem	da	arbitragem,	deve	o	árbitro	–	dada	a
relação	plurissubjetiva	incindível	que	envolve,	inevitavelmente	e	ilegitimamente,	o	terceiro	litisconsorte	que	não
quis	demandar	–	extinguir	o	processo	sem	julgamento	de	mérito 38	(grifei).
3.	Conclusões
Com	fundamento	na	observância	das	garantias	do	devido	processo	legal	e	dos	limites	da	vontade	das	partes,
apresentamos	as	seguintes	conclusões:
1.	Os	sujeitos,	ativos	e	ativos,	do	 juízo	arbitral	 só	podem	ser	as	pessoas	que	convencionaram	se	submeter	à
arbitragem;
2.	Se	aparecer	um	terceiro,	 litisconsorte	 facultativo,	ou	bem	ele	adere	à	convenção	arbitral,	ou	bem	o	 juízo
arbitral	prossegue	sem	sua	presença,	não	podendo	a	sentença	arbitral	prejudicá-lo	(art.	506	do	NCPC);
3.	Havendo	litisconsórcio	necessário	e	não	sendo	possível	compelir	os	litisconsortes	ao	processo	arbitral,	este
está	 irremediavelmente	 fadado	à	extinção	 sem	 julgamento	do	mérito,	 sob	pena	de	nulidade	e	 ineficácia	da
sentença	arbitral.
Pesquisas	do	Editorial
©	edição	e	distribuição	da	EDITORA	REVISTA	DOS	TRIBUNAIS	LTDA.
ARBITRAGEM	E	TERCEIROS	-	LITISCONSÓRCIO	FORA	DO	PACTO	ARBITRAL	-	OUTRAS
INTERVENÇÕES	DE	TERCEIROS,	de	Humberto	Theodoro	Júnior	-	RDB	14/2001/357
A	ARBITRAGEM	E	AS	PARTES	NA	ARBITRAGEM	INTERNACIONAL,	de	Gilberto	Giusti	-	RArb
9/2006/120
ARBITRAGEM	E	INTERVENÇÃO	VOLUNTÁRIA	DE	TERCEIROS:	UMA	PROPOSTA,	de	Pedro	A.
Batista	Martins	-	RArb	33/2012/245
INTERVENÇÃO	DE	TERCEIROS	EM	PROCESSO	ARBITRAL,	de	José	Lebre	de	Freitas	-	RePro
209/2012/433
NÃO	SUJEIÇÃO	DO	TERCEIRO	ANUENTE	À	CLÁUSULA	DE	COMPROMISSO	ARBITRAL	PREVISTA
EM	CONTRATO,	de	Teresa	Arruda	Alvim	Wambier	-	Pareceres	-	Teresa	Arruda	Alvim	Wambier
1/123
CLÁUSULA	COMPROMISSÓRIA	ESTATUTÁRIA	E	LITISCONSÓRCIO	FACULTATIVO	UNITÁRIO:
UMA	NECESSIDADE	IMPOSTA	PELA	REALIDADE,	de	Antonio	Pedro	De	Lima	Pellegrino	-
Doutrinas	Essenciais	Arbitragem	e	Mediação	2/2014/43

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