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Em busca de uma melhor explicação sobre o conhecimento
do conhecimento, do homem e da realidade.
Georgeocohama D. A. Archanjo *
Introdução
	Este texto é um texto ainda em construção. Vem ao longo do tempo se fazendo. Agora, inclusive, com a colaboração explicativa do jovem Tiago Saboia, em alguns trechos, considerados herméticos para alunos neo-universitários.
	Pelo título já se percebe a preocupação do autor sobre a necessidade do estudante não só de filosofia, mas como de todo e qualquer conhecimento específico, compreender como é possível o conhecimento humano, assimilando a idéia de que esse fenômeno se dá concomitantemente com a construção do homem e da realidade.
	Por ora, é o que se pode considerar como uma introdução também em construção.
I. – A perplexidade do cosmos
	O universo está aí, sempre esteve e sempre estará. Não há princípio nem fim. É essa totalidade eterna e infinita. É a luta incessante dos seus elementos 
stava vivo morrer, e a primavera transmutar-se em inverno.
Parece, assim, que as coisas tendem a se transformar, e com isso tornar-se o contrário do que eram. Não é espantoso?! Como a mesma coisa que estava viva, agora, é o seu oposto? Como a claridade do dia se transforma na treva da noite? O mesmo objeto passa a ser o contrário do que era. Porém, continuaria ainda sendo o mesmo?
Este espanto inicial com a mudança das coisas para o seu oposto é que deu origem ao pensamento filosófico. Aristóteles dizia, por exemplo, que “a filosofia nasce do espanto”. O que preocupava os primeiros filósofos era a explicação de como a variedade de coisas na natureza podia seguir um rumo que terminava no polo contrário ao que começara. Como encontrar uma explicação para tamanha perplexidade?
O começo da história da filosofia surge com esta tomada de consciência. Isto é dito porque para perceber esta complexidade é necessário que se tenha consciência dela, que só é possível, na vida. 
Na vida, há a consciência da vida. A consciência da consciência, a razão. A partir da consciência de algo, do que existe é que a consciência se dá conta de si. Ë, no processo de conscientização-construção do real que a consciência se dá conta de si. É sabendo algo, apreendendo-o, construindo-o, que se sabe que se sabe. Eis a razão. É na práxis, na atividade que a razão se constituirá como razão humana, quando ocorre a superação do conhecimento sensorial, do conhecimento natural, do intuir (um saber sem saber como sabe), num saber racional, um saber construtivo, um saber que constrói o conhecimento, conhecimento que representa o conhecido, mas não é o conhecido, é a sua abstração. É, mas não é. É o significado do significante, mas não é o significante. O saber sensorial é o sentir, é um saber concreto. É um mundo objetivo concebido “sob a forma de objetos ou de dados sensoriais, e não como atividade humana, como práxis”. Daí a dificuldade para se aprender a conhecer racionalmente. Este conhecimento, esta nova forma de conhecer requer ações sistemáticas, metódicas, ordenadas, em resumo, esta nova forma de conhecer requer estudo, diferentemente do conhecer espontâneo, abrupto, sensorial. Esse modo de conhecer produz um novo ser, o ser humano, um animal que transcende a animalidade, um ser abstrato-concreto, espiritual-material que, conseqüentemente, produz um novo mundo, um duplo mundo, um mundo real e um mundo conceitual. Daí as dificuldades, as incapacidades, os empecilhos, os obstáculos, as lutas, as resistências, os enliços, toda uma indústria de falsas realidades no sentido de impedir a proximidade com o real, com o concreto. Daí a necessidade do estudo, do estudar para compreender tudo. Daí o sentir e o perceber para conceber, para criar. Daí a inevitabilidade da reflexão, do estudo.
II. – Sobre a reflexão humana
Se estudar fosse uma atividade espontânea, toda a humanidade seria estudiosa, cientista, filósofa, sábia, constituída de artistas. Os desconhecedores do real, das coisas e da realidade, praticamente não existiriam. Como não é assim, o que se vê, o que existe é um mundo de poucos estudantes e de menos estudiosos ainda. E raros são os cientistas e filósofos. Principalmente pelos modos de produção econômico-sociais ocorrentes, ao longo da história da desigualdade social e econômica, pela injusta distribuição de renda, o que gera, consequentemente, a ignorância, a incultura ou o que se denomina cultura vulgar, de massa, instrumentalizada, industrializada. São “prisioneiros guardados sob ferros em uma caverna”. É a maioria da humanidade condenada ao limite das sombras, a perceber somente sombras, a viver eternamente no mundo das aparências, das trevas, alienados. E para SE LIBERTAR, para ter conhecimento, para CONHECER LUCIDAMENTE, CLARAMENTE, tem que pagar. O conhecimento deixa de ser público para ser privado. É o tolhimento da transcendência. Isso tudo implica a existência de diversos graus e espécies de conhecimento humano e que este conhecimento está subordinado a diversas classes e categorias de pessoas, ainda mais que o homem se define e se reconhece como um ser de conhecimento, embora, ainda se veja, como HOMO ECONOMICUS. E quanto mais profundo o conhecimento mais desenvolvido o homem, mais amplo o real, mais avançada a realidade, porque o homem, o conhecimento e a realidade são uma única e só existência, uma coisa só que se apresenta nessa diversidade. A unidade na sua diversidade.
Daí não existir violência mais monstruosa do que se condenar o inominado pré-humano a pagar para estudar, para evoluir, tornar-se humano ou condená-lo a permanecer eternamente na pré-humanidade. Esta é uma lei do capitalismo, este modo de produção recentemente considerado como natural (F. Fukuyama-1989). É como se o homem não fosse um ser cultural, mas é o que ele é, embora resultante de um processo evolutivo natural, de uma luta incessante, ele só se constitui como ser humano culturalmente! É um ser que não é uma ferramenta, ao contrário, “ele faz suas próprias ferramentas, e desempenha todas as diferentes funções usando máquinas e ferramentas separadas” (John Lewis, 1968). O homem não é um ser especializado como os outros animais porque ele se autoconstrói, se autoproduz, é um vir-a-ser, não nasce dado, não surge pronto e acabado, não é uma ferramenta.
E é nesta luta evolutiva que surge a necessidade de estudar como um modo de prosseguir a evolução, agora como uma evolução dotada de consciência, direcionada, um desenvolvimento em dois mundos, no mundo da natureza e no mundo da cultura.
Assim é que, quando um ser humano começa a estudar, estudar qualquer assunto, qualquer coisa, física, história, matemática, filosofia, religião, arte, qualquer conhecimento específico, significa que ele alçou um grau acima dos demais, portanto passa a ser diferente, a ser um acadêmico, universitário, ou um autodidata, um ser de nível superior, sensível, cientista, artista, sábio. Um ser de racionalidade. E esta pretensa ou não superioridade se encontra no fato de deixar de ser apenas um ser sensorial, em não pensar ou agir de modo vulgar, fragmentariamente, mecânico, ao nível do senso comum, dito popular, mas em agir criticamente, ir às raízes das coisas, dos objetos dos fenômenos, do real, da realidade, ser intuitivo/analítico, reflexivo, articulado, coerente, intencional, enfim um estudioso. Isso demanda dedicação lúdica, sensibilidade do artista-cientista, do artista-filósofo (ciência, arte e filosofia, uma coisa só, marcada pela teleologia da ratio humana, de que é isso aí).
Eis o milagre! O milagre da humanidade! O milagre da razão conceitual!
Einstein dizia que “há duas formas de encarar a vida: uma, é acreditar que milagres não existem, a outra é acreditar que tudo que existe é milagre”. 
Para Millor Fernandes, “milagre é o espantoso que se encontra com o inacreditável”. 
 Para nosotros milagre é a estupefação diante da maravilha, do prodígio. Milagre é a tomada de consciência daquilo que não se conhece, a percepção de que desconhecemos algo, de que a realidade, ao menos, sob certoaspecto, ainda é ignorada por nós. Logo, é a consciência da inconsciência.
Milagre é a perplexidade intuitiva de McLuhan quando afirmava que “o mundo em que vivemos é de faz-de-conta, que nossas fábricas, empregos, bancos e bolsas não são mais reais do que castelos imaginários... Vivemos neste mundo como sonâmbulos, em repetições de um pesadelo em looping”.
Milagre é o que destaca o intolerante escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, criador do Padre Eusébio e do Sargento Getúlio, o mais contemporâneo discípulo de Gregório de Matos e de Jorge Amado, quando, ao escrever uma crônica dominical chamada “a realidade, essa desconhecida”, se espanta com o fato de muita gente acreditar piamente que existe uma realidade: “É evidentíssimo que não existe realidade nenhuma, ou pelo menos existem diversas realidades, infelizmente nem sempre à escolha do freguês”. 
	E é nesta linha de miraculosa intuição humana que John Brockman, no seu interessante livro (Einstein, Gertrude Stein, Wittgenstein e Frankenstein – reinventando o universo), da Companhia das Letras, estica o insight do pensador canadense, destacando que:
	“O homem cria instrumentos e depois se molda à imagem deles. A realidade é fabricada pelo homem. O universo é uma invenção, uma metáfora.”
	“O coração é uma bomba” é uma declaração que todos aceitamos como um truísmo. O cérebro é um computador é um enunciado que muitos agora começam a aceitar. Isaac Newton criou uma metodologia mecanicista A metodologia de Newton influenciou a perspectiva reducionista que levou a medicina a examinar corações, pulmões e fígados - em suma, a compreender o corpo humano principalmente em termos de suas partes constitutivas. 
Agora, em conseqüência da tecnologia de computadores, um médico retira uma amostra de sangue, analisa-a com o auxílio de computador e recebe um relatório cifrado com centenas de informações para diagnóstico. Em vez de máquinas, nós nos vemos como um processo de informação. A metáfora muda continuamente.
Seja qual for a linguagem descrita a que tenhamos chegado, o compreender a realidade torna-se realidade. Não dizemos que o coração parece uma bomba. Ele é uma bomba.
	A idéia de que a realidade não é mais que a rede imaterial e transitória de nossa linguagem descritiva já foi formulada de vários modos por vários pensadores importantes. Um dos mais iminentes dentre eles foi o físico Werner Heisenberg que, em seu famoso princípio de incerteza, demonstrou que a realidade em seu nível mais fundamental, ou subatômico, é mais “criada” do que “observada” pelos físicos. 
Da mesma forma, o lingüista Benjamin Lee Whorf assinalou que nenhum indivíduo pode fazer uma descrição absolutamente imparcial da realidade, colocando-se acima das restrições de sua linguagem. 
O poeta Wallace Stevens escreveu extensamente sobre o primado da teoria da descrição. A esse respeito, ele considerava o mundo como sendo, ao mesmo tempo, a ficção suprema e a única coisa sobre a qual valia a pena refletir. Ele escreveu que “a crença última é a crença numa ficção, que sabemos ser ficção, nada mais havendo. A extraordinária verdade é a de saber que ela é uma ficção e que nela cremos de bom grado”. 
	Em 1973, Brockman expôs, numa conferência, em Big Sur, na Califórnia, a ideia geral do universo como invenção, como ficção última, a partir do quadro conceitual sugerido pelo artista James Lee Byars sobre a importância dos “Steins” na base da consciência pós-moderna. 
Para Brockman, os “Steins” são o físico Albert Einstein, a escritora Gertrude Stein, o filósofo Ludwig Wittgenstein e o Dr. Frankenstein – Norbert Wiener – certamente o inventor da primeira inteligência artificial, das idéias cibernéticas.
 Na palestra, cada Stein simbolizava, resumidamente para nós, o seguinte:
“Einstein representava a revolução ocorrida na física do século vinte e que culminou num universo em que a realidade é a teoria, onde espaço e tempo não existem salvo em relação ao observador, onde todas as representações da natureza são de ordem matemática, onde há um limite fundamental do conhecimento físico na forma do meio pelo qual o percebemos. A idéia da curvatura do espaço, um espaço que não pode ser experimentado diretamente por nossos sentidos, é talvez o exemplo mais óbvio em que o universo deixa de ser percebido e passa a ser mais claramente um ato mental. O universo não é. Ele apenas está”.
	Gertrude Stein foi a primeira escritora a integrar em sua obra a idéia de um universo indeterminado e descontínuo. A linguagem era uma recriação intelectual. Ela usava a linguagem para negar preocupações com o significado ou com a representação. Como ela mesma ressaltou: “queria escrever como se todo instante de escrita fosse completo em si mesmo, não como se estivesse conduzindo a alguma coisa”. Uma rosa é uma rosa. E um universo é um universo.
	Ludwig Wittgenstein afirmava que “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”; “o fato místico não está no modo como as coisas são no mundo, mas em que haja mundo”.
 	As teorias cibernéticas de Norbert Wiener ampliaram nossa compreensão dos sistemas auto-organizados, sejam eles máquinas, idéias, sistemas ecológicos ou relações humanas. O universo de Wiener interatua infinitamente consigo mesmo. Se a física newtoniana nos ensinava que o importante eram as partes, Wiener demonstrou a importância dos padrões que articulam as partes. Ele assentou as bases para o advento da revolução da inteligência artificial.”
Ou seja, as teorias influenciam de tal modo a visão que o homem possui da realidade, que para a maioria de nós a ela se confunde com o próprio real. As concepções explicativas do real, ou seja, as teorias, são instrumentos que melhor permitem o conhecimento do mundo, mas isto não significa que a teoria explique cristalina e completamente o complexo universo que nos envolve.
Exemplo primoroso nos é fornecido pela cartografia. Por mais que um mapa seja perfeito, indicando todos os recortes do litoral, e marcando com perfeita exatidão os limites entre as regiões, este mapa nunca será o próprio território, mas será sempre uma reprodução gráfica do que retrata. Para que o mapa fosse exatamente igual ao território mapeado teria de possuir as mesmas dimensões daquilo que representa, o que não faz qualquer sentido.
Da mesma forma, por mais que seja eficaz uma teoria, ela jamais se confundirá com a própria realidade, assim como o mapa do Brasil não é o Estado Brasileiro. Uma teoria sempre terá respeitado seu lugar de eficaz instrumento para compreensão da realidade, assim como o mapa nos auxilia a compreender os aspectos geográficos do território, mas esta importante ferramenta não pode alcançar a primazia de se substituir ao próprio real. É como querer navegar nos rios de um mapa hidrográfico. 
De qualquer sorte, as teorias que almejam explicar o real foram produtos de um espanto inicial, como resposta ao espanto da multiplicidade de fenômenos que envolvem o ser humano, conforme já assinalado. A teoria representa, por este aspecto, uma criação humana para responder às exigências da complexidade do real.
III. – O despertar para a Filosofia
	Isso é criação e é o milagre da cognição, a natureza que se conhece a si mesma, por uma de suas peças, de suas partes, a unidade na sua diversidade. O surgimento das concepções racionais, lógicas (ou seja, diferentes de uma visão mítica ou religiosa) do universo, se inicia com Tales de Mileto, no século VI a.C., quando inaugura a ciência filosófica ou a filosofia científica, na hélade, o maravilhoso mundo grego, ao afirmar: “a água é a origem e a matriz de todas as coisas”, “tudo é um”. A abstração metafórica lógica (?).
Na lição de Nietzsche, “a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar,porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: “Tudo é um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”.
Pela primeira vez na história das civilizações, na história da humanidade prescinde-se dos deuses, do sobrenatural para explicar o real, para demonstrar o porquê das coisas, construir, elaborar a representação abstrata do real, criar a realidade conceitual. É uma nova razão, um logos, uma ratio, um nous, um novo e efetivamente modo, método humano de se representar o real, de se construir a realidade, de se fazer o universo, de se demonstrar o conhecimento, construindo-se a si mesmo, o objeto e o próprio conhecimento lógico, concomitantemente, simultaneamente, dialeticamente. Eis o milagre!
Portanto, as raízes da ciência ocidental estão entranhadas no período inicial da filosofia grega do século VI a.C., provocando o despontar, o nascimento de uma nova razão, a razão científica que se revela na demonstração racional (uma propriedade intrínseca ao próprio homem, desprovida de um poder sobrenatural).
Ou seja, enquanto que nas explicações míticas não há questionamentos ou demonstrações seguidas por regras estritas de validade formal, no pensamento filosófico-racional toda e qualquer convicção tem de estar aparada em razões suficientemente demonstradas. Com isso não se quer dizer que o pensamento mítico-religioso seja desprovido de “razão” ou não faz qualquer sentido. Pelo contrário. Porém, a maneira em que tal pensamento se estrutura obedece a outras “regras”. Já o pensamento filosófico segue os princípios básicos da lógica, sendo eles, o da identidade, o da não-contradição, o do terceiro excluído e o da razão suficiente.
	O princípio da identidade diz que todo objeto é igual a si mesmo. Apesar de parecer absurdamente óbvio, é este princípio que nos permite distinguir as coisas umas das outras, diferenciando-as. Ademais, este princípio é a base do raciocínio matemático, já que uma equação é uma expressão algébrica que possui um sinal da igualdade no meio.
	O princípio da não-contradição afirma que uma coisa não pode ser e não-ser ao mesmo tempo, sob o mesmo modo e mesma circunstância. Este papel que você tem em suas mãos, não pode ser uma árvore ao mesmo tempo em que você o lê, por exemplo. Assim, se um enunciado que diz “o céu é azul” é verdadeiro, seu oposto (“o céu não é azul”), necessariamente será falso. Aqui se vê uma nítida diferença entre o pensamento mítico e o racional, pois nas mitologias, é comum vermos seres mágicos que são várias coisas ao mesmo tempo. “A contradição existe para a afirmação e negação simultâneas, mas não para uma afirmação que poderá ser negada num outro tempo”.
	O princípio do terceiro excluído diz respeito ao fato de que nenhuma afirmação pode ser mais do que verdadeira ou falsa. Todo enunciado, ou é verdadeiro, ou falso. Não há terceira possibilidade (daí o nome “terceiro excluído”). Se digo “a maça é vermelha”, esta proposição só pode ou ser verdadeira, ou seu contrário. Não há meio termo. Contudo, alguém poderia dizer “e as questões de múltipla escolha?”. Mesmo nestes casos, ao se deparar com várias escolhas, apenas uma delas é verdadeira, e as outras são falsas, o que não foge do binômio caracterizado pelo princípio do terceiro excluído.
	Por fim, há o princípio da razão suficiente. Alguns não o consideram como princípio lógico, tal como os outros três, porém, em virtude de sua importância para a história da filosofia, teceremos um breve uma breve definição deste princípio. Segundo sua interpretação, tudo o que acontece se dá por uma razão para haver acontecido desta forma, e não de outra. Por mais improvável ou mesmo impossível que seja a realização de um evento qualquer, sua aparição sempre pode ser explicada por uma razão suficiente. Logo, tudo que acontece tem uma razão suficiente para ser assim e não de outro modo. Um célebre filósofo que se notabilizou, entre outras coisas, pela larga utilização deste princípio, foi o alemão Gottfried Leibniz (1646-1716). “O princípio da razão suficiente costuma ser chamado de princípio de causalidade para indicar que a razão afirma que para tudo o que existe ou acontece há uma causa (nada é sem causa, costuma-se dizer para referir-se ao princípio de razão suficiente)”.
	Estes princípios são como que as pedras angulares do pensamento filosófico ao longo dos seus milênios de existência. Os filósofos pré-socráticos romperam com a tradição mitológica que os precedia exatamente pelo fato de respeitarem esses princípios ao explicar a realidade.
Daí em diante, isto é, desde os pré-socráticos é possível considerar algumas linhas de pensamento, de compreensão do real, de explicação do conhecimento, de filosofias: estas concepções estão impregnadas de história, e se manifestam na história, configurando-se segundo a divisão estabelecida pela historiografia iluminista nos períodos antigos, medieval, moderno e contemporâneo. Assim, o racionalismo transcendental socrático-platônico e o realismo-moderado de Aristóteles, são exemplos da filosofia antiga; as concepções de Santo Agostinho, São Bernardo de Clairvaux, Alberto Magno, Duns Scoto, Nicolau de Cusa e Tomás de Aquino são expressões da filosofia medieval; o empirismo inglês (Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, George Berkeley, J. Stuart Mill); o racionalismo moderno de René Descartes; o criticismo de Immanuel Kant, a monadologia de Gottfried W. Leibniz, a dialética de George W. Hegel, Karl Marx e Friedrich Engels, eis os principais movimentos intelectuais que compõem a filosofia moderna; a filosofia analítica e o positivismo lógico (os lógicos-matemáticos e os neopositivistas em geral), a fenomenologia de Edmund Husserl/Martin Heidegger/Merleau-Ponty/Jean Paul Sartre, o estruturalismo de Levi-Strauss, Ferdinand de Saussure e Trubetzkoy, o pragmatismo de Charles Sanders Peirce/William James e John Dewey, são grandes expoentes do fenômeno da pós-modernidade, que vai da “desconstrução” dos dogmas modernos, ao neopragmatismo, configurando o que se conhece por filosofia contemporânea.
IV. – A construção do conhecimento
 A representação abstrata, a explicação, a compreensão, a construção do mundo, do real pelo próprio real, já que a consciência faz parte do próprio real, não é de maneira alguma pacífica, simples. Ao contrário, parece ser profundamente complexa. No entanto, embora essa complexidade epistemológica se dê ao nível do entendimento, como diria Kant, não deixa de ser uma operação da razão, que é terraqueamente universal. De um modo geral o mundo se reconhece, explica-se, isto é, tem tomado consciência de si mesmo através dessas correntes filosóficas ou epistemológicas, por assim dizer.
Essas reflexões, todas elas, justificam-se pelo desejo de se conhecer o que for possível sobre o conhecimento: questões gnosiológicas, epistemológicas ou ontológicas.
De um modo geral, os filósofos consideram que “a essência do conhecimento nos conduz para o coração da metafísica, pois o seu estudo envolve a consideração da natureza e da estrutura ontológica do sujeito e do objeto, isto é, da consciência e do mundo”.
E Sartre é mais contundente quando afirma que: “Se, de fato, toda metafísica presume uma teoria do conhecimento, toda teoria do conhecimento presume uma metafísica”.
Numa de suas belíssimas crônicas inteligentes e plenas de proficiência, publicada na Folha de São Paulo, o tricampeão mundial de futebol, médico e ex-professor universitário, hoje um diletante comentarista esportivo, Tostão, observa que “Freud dizia que tudo que seus pacientes descobriam após anos de análise, eles já sabiam. O mesmo acontece com os grandes craques. Eles realizam jogadas surpreendentes, belíssimas, mas não sabem como e porquê. Há um saber que antecede o pensamento e o raciocínio lógico. Numa fração de segundos, o craque percebe osmovimentos e a posição do corpo dos companheiros e dos adversários, calcula a velocidade e a trajetória da bola, sabe o ponto exato onde ele vai chegar e decide o que fazer. Tudo isso sem pensar”.
O neurolinguista Dr. Lair Ribeiro, num de seus primeiros livros, considerados como de auto-ajuda “O SUCESSO Não Ocorre por Acaso”, RJ, Ed. Objetiva, 1993, p. 97, explica que “o conhecimento pode chegar ao mundo de várias formas” e ressalta que “há muitas centenas de anos, em algumas regiões da África, as mulheres grávidas que estivessem com o parto atrasado bebiam o esperma do marido, e isso desencadeava o trabalho de parto. Quem ensinou isso às mulheres africanas? Hoje, sabe-se que o esperma é rico em uma substância chamada prostaglandina, e por isso tem a propriedade de estimular a contração interina”. E continua: “Nossos avós nos aconselhavam a tomar canja de galinha antes de deitar quando estávamos resfriados ou com alguma infecção. A canja de galinha é rica em ornitina e arginina, dois aminoácidos essenciais que estimulam a liberação do hormônio de crescimento (GH), liberado três horas após dormirmos. O GH não nos faz crescer mais depois de adultos, mas ajuda na transformação de gordura em músculos e estimula o sistema imunológico”.
Vale acrescentar o fato de macacos na Ásia que após ingerir os alimentos freqüentemente roubados dos aldeões e se sentirem mal iam comer carvão vegetal que aliviava a sua indisposição estomacal. O carvão fazia um efeito similar ao sal de fruta.
Há inumeráveis exemplos de conhecimento que pressupõem tudo menos a razão analítica que resulta do agir pré-humano.
No entanto, não há o homem, nem a realidade (objeto) e nem o conhecimento sem a relação-interação intencional-inconsciente (instintiva) que se estabelece entre o ser animal e a coisa que se tornam nesta relação-interação, ao longo do tempo, do mesmo modo, (embora nunca igual), sujeito e objeto, respectivamente, e que neste ato (relação-interação) nasce também o conhecimento, a consciência, a consciência da consciência, isto é, o conhecimento se torna, portanto, a abstração no momento em que se evidencia pela repetição símile da ação não-consciente.
Isto quer dizer que o homem não nasce pronto, cheio de habilidades, dominando o mundo com seu conhecimento e ciência. Nasce, sim, com capacidades. É só observar como as crianças no começo de suas vidas mal dominam as palavras, sua relação com o conhecimento vai se formando ao longo do tempo. 
Ora, o conjunto dos conhecimentos adquiridos permite uma interpretação da realidade. Porém, todo novo conhecimento adquirido e acoplado ao já existente permite que se veja a realidade de uma nova forma, o que por sua vez dá a oportunidade de conhecê-la por outro ângulo. 
É como aprender uma língua. Ao aprender palavras novas de um idioma, amplia-se o conhecimento sobre as coisas naquela língua. E este novo conhecimento apresenta uma faceta do real que antes se desconhecia. Esta novidade abre novas portas do conhecimento.
É por isto que o ser humano está em contínuo movimento, num incessante percurso dialético que permite que conheça as coisas e seja influenciado por elas, num constante jogo de influências recíprocas. É por isto que o ser humano não possui uma natureza pronta e acabada.
O homem é um animal quadrúpede nenhum, ou um “terceiro chipanzé”. Nasce, ou melhor, surge como um animal inominado, um vir-a-ser, um ser que só será se se autoconstruir, se auto-gestar, ao se tornar um “bípede implume”, um ser que se tornará racional através da ação existencial, adquirindo a consciência de si, no processo de tudo conhecer, de tudo construir-reconstruindo. Enquanto os outros seres, os animais, os outros animais, mamíferos ou não, já nascem sendo leão, lobo, equinos, bovinos, suínos etc., o homem é um ser que se torna homem, que se transforma em homem, e ao se tornar homem, ao se perceber no mundo, compreenderá o mundo num processo de construção-compreensão, fundado no trabalho e, conseqüentemente, na comunicação.
Paulo Freire, após lhe ser conferida a medalha de Libertador da Humanidade, na Assembléia Legislativa do nosso Estado, por iniciativa da deputada e professora Maria José Rocha, destacou, interpretando um texto de Ciência e Existência, de Álvaro Vieira Pinto, que:
“Na história nossa, dos homens e das mulheres, remotíssima, em determinado momento da experiência no mundo, os seres humanos começaram a inventar a possibilidade de fazer alguma coisa a mais do que estar no mundo. Os outros animais não deram esse salto. Ficaram no mundo e sequer, possivelmente, perceberam que nós, seus companheiros de história, ao iniciarmos algo mais do que estar no mundo, começamos a experimentar uma forma diferente de estar no mundo, porque uma forma acrescida de estar no mundo, que era estar com o mundo.”
“E, no momento em que nós começamos, estando no mundo, a ficar com o mundo, demos um salto extraordinário, porque o estar no mundo, que se alonga ao ficar com o mundo, implicou, necessariamente, o começo da presença do ser humano como presença histórica. Agora, mais do que estar no mundo, ficando com o mundo criamos o tempo, quer dizer, começamos a nos refazer. E foi exatamente, isso que, durante um processo bastante longo, gestou a possibilidade de termos consciência do mundo e uma consciência de nós. Quer dizer, não seria possível pular de “no mundo” para “com o mundo” sem transar o tempo. E a transa do tempo gera história que, por sua vez, nos regesta, nos recria.”
“Isso seria inviável se não fosse possível, ou se não tivesse sido possível que um não-eu de todos, um não-eu, que era o mundo, nos constituísse como um eu. Ou seja, foi exatamente o mundo, como contrário de mim, que disse a mim: “Você é você”. E foi exatamente este eu que ficou eu, pela contradição do mundo como um tu-meu, que me fez dizer que o mundo é este, o mundo é isso. “Então, a consciência do mundo, a consciência da presença do contrário, criou em mim a consciência de mim”.
Isso só ocorre por conta da organização evolutiva resultante de uma complexidade de variáveis, condicionantes inumeráveis que contribuem para a conscientização, inclusive e fundamentalmente, das ações ainda inconscientes, mas no caminho da construção da consciência.
Não fora assim, como se explicar os casos de meninos-lobo, na Índia; do garoto selvagem encontrado numa floresta francesa; e o enigma de Kaspar Hauser, na Alemanha?
Assim, o conhecimento é a construção, ao mesmo tempo, do sujeito de conhecimento - o homem; da realidade (significado abstrato-concreto), fundada no mundo real (significante), objeto a conhecer; e dele próprio, conhecimento, abstração orgânica, significado-simbólico. O conhecimento é assim um ato múltiplo, triplo, a um só tempo, indivisível que se faz em três – trigêmeos. É uma interação.
O um e o dois fazem do três tudo. Isto é, o um e o dois é um só, porque o dois, o homem, é do um, o real (o mundo-natureza-coisa) que se faz em três, para ser de si conhecido. Tudo é um. É o nascimento de tudo, embora o tudo aí já existisse sem sê-lo, por não saber de si. Embora, o em-si somente possa ser apreendido por mim, portanto, na minha individualidade, porque ele o é na sua totalidade.
Que isto significa? Que a relação de conhecimento é composta por três partes, o homem (sujeito que conhece), o mundo (objeto que é conhecido), e o conhecimento, que é o produto da interação entre o homem e o mundo. Os “três se fazem um” significa a união indissolúvel entre as três partes elementares e essenciais que compõem a relação de conhecimento. Assim, não há conhecimento sem uma consciência pensante (o homem), bem como este não seria possível sem um objeto ou sobre um objeto. É por isto que esta tríade é inseparável da produção do conhecimento. 
Somos uma coisa só: o homem, o real (o mundo) e o conhecimento. Somos uma realidade co-inciente. Isto é, um animal que se conhece na relação com o outro e com a natureza. A mãe “vive” no filho que gesta.
Ao conhecer, como já mencionado, o homem constrói uma relação dialética com o mundo,que é a fonte do seu conhecimento, ao tempo em que é o objeto deste mesmo conhecimento. Assim, não há conhecimento “dado”, no sentido de ser pronto e acabado, algo estático. Contrariamente, o saber se porta de modo dinâmico, pois muda as coisas e é mudado por elas. Porque o conhecimento não é o reflexo do mundo em mim, mas a construção da realidade no mundo.
A realidade é a cultura construída na natureza como uma nova natureza, a natureza cultural. Ou seja, o homem cria a realidade, ao interpretá-la produz símbolos, crenças, arte, ciência tecnologia, e tudo isto integra o nosso real. Daí, quando o homem altera a natureza que encontra, impregna a mudança com toda a sua cultura.
Para Hegel, Georg Hegel (1770-1831), o filósofo mais famoso da Alemanha na primeira metade do século XIX, “a razão não é apenas o entendimento da realidade como queria Kant, mas a própria realidade: o racional é real e o real é racional”. É fato que o conhecimento não se dá fora do real embora se constitua numa abstração, porque o conhecimento é a representação abstrata do real. É uma questão teórica, apesar de o conhecimento ser um fenômeno práxico. 
Cabe, no entanto, entender que “nem tudo que é real é racional”, como nos esclarece Herbert Marcuse (1898-1979), em Razão e Revolução. Pois, para Marcuse “essa era uma idéia perigosa, pois nos leva a pensar que coisas reais – como o sistema político existente – são necessariamente racionais”. “E nos lembrou que aquelas coisas que aceitamos como racionais podem ser muito mais irracionais do que gostaríamos de admitir”.
A vida humana é, portanto, uma vida cultural, consciente, histórica, extraída do mundo natural, no processo de construção tríplice acima explicado. 
V. – As relações epistemológicas entre o homem e o mundo
O mundo é uma coisa, é um nada que é tudo, algo a ser conhecido-construído, que se torna objeto conhecido-construído. Isto é, a praia nunca foi praia, o mar nunca foi mar, a floresta, a montanha, o rio, o lago, o sistema geocêntrico etc. etc. nunca foram senão a partir da construção do homem como recorte da sua existência intencional, da existência humana, como concepção dada no existir, na necessidade dada e criada, no mundo da cultura, que faz do homem produto e produtor do seu próprio insight, no mundo o seu mundo, insight que é abstração, conhecimento, representações/construções míticas, religiosas, artísticas ou científicas e filosóficas, gradativamente como verdades, cópias do real.
O homem “cria” a realidade na relação que se dá entre ele e o real. Quando se diz “o copo está sobre a mesa”, ocorre uma relação entre dois objetos que não está neles, mas em quem os relaciona na sua consciência, no seu pensamento. Os enunciados que são feitos sobre o real, quando se diz “isto é uma floresta”, ou “aquilo é um rio”, revelam o nosso modo de recortar o real, construindo a floresta ou o rio, como objetos para a consciência humana, para nós. Por isso pode-se dizer que a “praia nunca foi praia”, ou seja, nossa visão conceitual do que é a praia é a realidade humana sobre o real, é o mundo cultural, transcendental.
Embora tudo exista, sempre tenha existido e sempre existirá, nada existe sem uma consciência da própria existência, isto é, o real existe, sempre existiu e existirá, sempre em transformação, em mudanças, mas se não houver uma consciência dessa existência, consciência de si, do ser parmenídico, do Uno, do Todo, é como se nada existisse. Isto porque as coisas só passam a existir para nós, depois que nos apercebemos dela, que tomamos consciência de que elas existem. Obviamente que a existência precede a essência, a consciência, consciência esta que se gesta na própria existência, num modus vivendi.
É um “cogitamus” não-cartesiano, resultado do fato histórico, social, objetivo de que “nós pensamos”, o auto-conhecimento do ser, não inato, não conato nem congênito, mas resultante da estrutura orgânica que cresce e se complexifica ao longo do processo filogenético e sócioeducacional. Uma consciência construída existencialmente numa estrutura dada, a própria natureza socializada, humanizada, dialética, “não por uma evidência interior, mas por uma experiência exterior, social, histórica que engloba tanto a experiência objetiva do “eu conhecer os outros” como a experiência que eu não posso deixar de ter, do “eu sou conhecido pelos outros”“.
É essa consciência que ilumina o silêncio infinito do Universo, criando a natureza cultural, ou melhor, a cultura da natureza, os deuses, os símbolos, as palavras, as metáforas, os cantos, os mundos do Mundo, o mundo platônico, aristotélico, cartesiano, kantiano, hegeliano, marxista, budista, taoísta, e haja mundo, e haja idéia de mundo, Filosofia é que não falta nem faltará, enquanto houver Mundo com CONSCIÊNCIA DE MUNDO.
Álvaro Vieira Pinto ensina que:[1: No seu famoso livro de 537 páginas, Ciência e Existência. Editora Paz e Terra - RJ, 1969. Resultado das aulas ministradas em Santiago do Chile, no Curso Avançado, no Centro Latino Americano de Demografia, durante o ano de 1967.]
“A teoria do conhecimento tem de ser construída partindo não da subjetividade humana, que, como tal, já é um produto secundário do processo da realidade, mas da objetividade absoluta, da existência concreta do mundo em evolução permanente, da vida, como dinamismo em expansão e complexidade crescente”.
O conhecimento é, em toda a sua escala, um modo de atuar do ramo do processo da realidade material que se especializou em forma de vida, e se constitui pela evolução biológica. Por isso o grau que o conhecimento atinge em cada etapa dessa evolução, ou seja, nas diversas espécies que se sucedem, representa sempre a característica mais saliente da realidade de cada espécie, na posição evolutiva em que se encontra. 
A possibilidade de dominar a natureza, transformá-la, adaptá-la às suas necessidades, este processo chama-se “conhecimento”.
O conhecimento existe desde que a organização da matéria começa a tomar o caráter que a diferenciará, enquanto sistema vivo, do restante da natureza.
A largos traços, distinguimos três grandes etapas no processo do conhecimento: a) a fase dos reflexos primordiais; b) a do saber; c) a da ciência. Em todas elas, a natureza intrínseca do conhecimento, a essência lógica que exprime a sua realidade como fato objetivo, é sempre a mesma: é a capacidade que o ser vivo possui de representar para si o estado do mundo em que se encontra, de reagir a ele conforme a qualidade das percepções que tem, e sempre no sentido de superar os obstáculos, de solucionar as situações problemáticas, que se opõem à finalidade, a princípio inconscientes, de sua sobrevivência como indivíduo e como espécie, mais tarde tornada plenamente consciente na representação do mais desenvolvido dos seres vivos, o homem.”
A teoria crítica do conhecimento deve, portanto admitir estas duas premissas fundamentais: o conhecimento é uma propriedade geral da matéria organizada nas condições de matéria viva; e, ademais, em todas as suas modalidades se trata sempre de uma reação da matéria viva em face do mundo circunstante.
Para alguns autores, porém, mais radicais, o conhecimento é algo inerente a qualquer ser no mundo, orgânico ou inorgânico, vivo ou morto, animado ou inanimado. Para ilustrar tal hipótese, pode-se recorrer ao interessante exemplo da mineralogia. Ora, quem quiser aprender um pouco de mineralogia deve examinar os livros que tratam da matéria. Mas, se perguntássemos: “de onde vêm os conhecimentos que estão nos tratados de mineralogia?”, a resposta seria simples: nos minerais, pois foram extraídos deles as informações constantes nos livros. Assim, para alguns, todas as coisas refletem o conhecimento, e em algum nível, mesmo o mais elementar, constituem-se como portadores de conhecimento.
VI – O Marxismo
Escorado na obra de Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo surge no séc XIX e apóia-se em três grandes tradições intelectuais: a filosofia alemã (sobretudo em Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Ludwig Feuerbach), a economia políticainglesa e o materialismo francês do séc. XVIII. Delas, Marx recebe grandes influências que as mescla para fundar uma nova teoria, centrado no conceito de materialismo histórico. 
E o que significa esta teoria? Basicamente, o fato de que a história é feita pelos homens, e segue uma lógica, uma ordem subjacente ao montante das ações humanas. Bom, isto já significa, de imediato, que não é Deus quem faz a história, nem apenas os heróis ou grandes homens, poderosos políticos, embaixadores ou filósofos, mas todos os homens. Implica também, que todo evento histórico tem a sua razão de ser pelo fato de estar imerso numa lógica intrínseca à história. Ou seja, toda mudança na organização de uma sociedade (a história), a princípio, poderia ser explicada pela alteração da organização econômica de uma sociedade. Daí o “materialismo”. Para Marx, antes dos homens constituírem algum nível de “consciência social”, eles necessitam organizar-se para produzir os bens que são necessários às suas sobrevivências. Antes de tudo, precisamos sobreviver, diz-nos Marx. E a forma pela qual vencemos as dificuldades que a natureza nos impõe é a formação de uma organização social para a produção de bens, que, sendo necessários para a perpetuação da espécie humana, condicionam todas as outras instituições sociais.
Daí, alguns considerarem o fato de que a filosofia de Marx é uma filosofia do “concreto”, pois toma por base as relações básicas e concretas nas quais os homens vivem para daí deduzir alguma coisa sobre a realidade. Esta é uma das críticas que Marx dirige a Hegel. Para este, o pensamento é o “ser”, ou seja, é a fonte da realidade, seu fundamento último. A realidade, é apenas o reflexo da Razão, do Espírito Absoluto. Marx, contrariamente, acredita que o “ser” é que determina o pensamento, sendo este o reflexo das condições materiais nas quais o ser humano se encontra. Se assim não fosse, como explicar a mudança na psicologia das massas (um dos atributos da superestrutura), toda vez que se sucede uma alteração nas relações de produção?
O conhecimento, portanto, estaria centrado no dado empírico, concreto, material. No entanto, não no sentido que entendiam os empiristas, como Hume. Para Marx, o concreto não são necesariamente as coisas que tocamos, cheiramos, ouvimos e experiementamos de maneira geral. Concretas são as relações entre os seres humanos numa sociedade. Numa palavra, concreta é a práxis humana. Nos diz Marx que a idéia de concreto no sentido de Hume, nos leva ao paradoxo solipsista, onde ignoraríamos a consciência das relações intersubjetivas, acredidando apenas na existência do nosso proprio “eu”. Isto é um profundo engano, na medida em que as relações intersujbetivas constituem o âmago da práxis, pois os homens precisam uns dos outros para sobreviverem. Não podemos nos esquecer que a organização da produção é sempre social. Sozinho, um homem não é homem. Não realiza as suas potencialidades. Por isso o concreto estaria fulcrado na prática humana, constituída, obviamente, pelos homens e por seus semelhantes.
Isto nos leva à construção do método da economia política de Marx. Esta se assenta nas idéias acima mencionadas, que devemos partir do empírico para almejarmos a realidade concreta, tomando um caminho pelo qual nos cruzaremos com o abstrato. Daí a noção de que a lógica dialética supera a distinção entre lógica concreta e lógica formal (abstrata), pois ambas são sintetizadas num mesmo processo através do qual conceitualizamos certas relações concretas extraídas do empírico.
Vemos assim, portanto, que a práxis é o fundamento da filosofia marxista. É por ela que atingimos a superação das contradições entre matéria e espírito, ação e contemplação, teoria e prática. Na ação, o homem altera o seu objeto de conhecimento, na mesma medida em que o constitui e o conhece. Por isso somos históricos. A historicidade caracteriza-se pela mudança, pelo devir, por aquilo que “é” num momento, e depois já não é mais. Toda esta dialética do real é plasmada, em sua dimensão social, pelo homem. A dialética da natureza encontra o seu fundamento da teoria da evolução das espécies. Daí Gheorghi Plekhanov, grande teórico marxista russo, o “pai do marxismo russo”, dizer-nos que o marxismo é a realização nos estudos historio-sociológicos, da teoria darwninana da evolução.
VII - Conclusão: as concepções pós-modernas sobre o conhecimento
A filosofia de Kant, por mais revolucionária e importante que tenha sido, não colocou um ponto final na história das ideias sobre o conhecimento. Também, as ideias de Marx foram aceitas por uns, e refutadas por outros, dando continuidade ao debate sobre o tema. Assim, é interessante perceber como a teoria do conhecimento modificou-se ao longo da história da filosofia. Depois destes filósofos, outros pensadores continuaram a debruçar-se na tarefa de compreender o conhecimento humano.
 Para muitos historiadores da filosofia, atualmente vivemos num período histórico-filosófico chamado de pós-modernidade. Este conceito designa o período que os historiadores conhecem por contemporaneidade, que situa-se aproximadamente entre o meado do séc. XIX e prolonga-se até os nossos dias. Bem, mas então o que caracterizaria, no sentido filosófico, todo este período? O que há de comum entre as mais diversas escolas filosóficas surgidas neste tempo?
Em uma palavra, poderíamos dizer que todas elas, cada uma por meios distintos, criticam vários pressupostos contidos no pensamento moderno (período anterior à pós-modernidade). Alguns destes pressupostos seriam a racionalidade, a crença na possibilidade de um conhecimento objetivo da realidade, a acumulação progressiva de conhecimento, a crença no progresso histórico, econômico, social, moral, intelectual, dentre outras crenças.
Dados os pressupostos e o contexto nos quais estão inseridas estas escolas, destacaremos as principais filosofias pós-modernas (sob o nosso ponto de vista), e falaremos sucintamente sobre cada uma delas: filosofia analítica, estruturalismo, pragmatismo, fenomenologia, existencialismo, entre outras.
A filosofia analítica surge entre o final do séc. XIX e começo do séc. XX, e tem por fundadores os filósofos George Moore e Bertrand Russell. O nome pelo qual esta corrente é conhecida advém de um dos seus principais conceitos, o de “análise”. Mas análise de quê? A análise da linguagem. Isto significa que, quando procuramos descobrir o significado de algum termo, devemos observar a forma pela qual ele é utilizado comumente. Esta é uma crítica, de certa forma aos metafísicos, quando estes insistiam na busca pelo “Ser” suas complicadas significações. A resposta para os problemas filosóficos, portanto, não seria encontrada num fundamento “abstrato-metafísico”, mas sim nas análises das proposições que constituem os enunciados dos discursos. Dada a ênfase na linguagem que esta escola permite, alguns a alcunham de filosofia da linguagem.
O estruturalismo, por sua vez, é um produto do séc. XX. Surge na teoria linguística de Ferdinand de Saussure e encontra apoio em toda a escola sociológica francesa (pelo menos até a metade de séc. XX). A idéia básica desta “escola” nos diz que a cultura humana e os seus atributos (linguagem, instituições sociais, enfim), organiza-se como um sistema, cuja alteração da posição de um elemento neste sistema, implicará na mudança ou reorganização de toda a estrutura. Um simples exemplo pode ser dado com a organização das letras numa palavra. Temos a palavra “boba” (um adjetivo formado pelas letras b/o/b/a) e “babo” (verbo babar no presente da 3ª pessoa no singular). Vemos como a alteração da posição das letras na palavra, pode alterar todo o sentido da frase. Assim também acontece com as estruturas fundamentais da cultura: cabe aos estruturalistas encontrar, pois, os nexos que regulam as permutas entre os elementos. Lévi-Strauss, um dos representantes desta corrente na antropologia, acredita que o incesto é uma “norma” cultural que regula a permuta entre mulheres de uma família, por exemplo. No campo filosófico, têm-sedestaque para as obras do francês Michel Foucault. Ainda que ele não se reconheça como estruturalista, alguns especialistas em historiografia contemporânea, como Peter Burke, por exemplo, o classificam como um “membro marginal” da 3ª fase da “Escola dos Annales”, que foi um marco na historiografia do séc. XX, de influência estruturalista. As carcterísticas “estruturalistas” nas obras de Foucault são mais reconhecidas nas suas obras “históricas”, tais como “A História da Sexualidade”, onde a noção de história apresenta-se como um conjunto de estruturas, ou seja, configurações culturais, que não possuem relação de linearidade e/ou dependência com as suas subseqüentes. Assim, passa-se a não mais fazer sentido a tríplice articulação do tempo em “passado-presente-futuro”, pois não há continuidade na apreensão do tempo. 
O pragmatismo surgiu nos Estados Unidos, no séc. XX, e tem por principais representantes os filósofos Charles Sanders Pierce, William James e John Dewey. A concepção básica desta escola filosófica nos diz que a verdade de uma idéia, enunciado, teoria, ou pensamento qualquer só pode ser verificado pelas conseqüências práticas que é capaz de gerar. Ou seja, verdadeiro é aquilo que é prático e útil para o todo social. A verdade, pois não estaria localizada “no fundamento último da realidade”, mas sim na possibilidade que alguma idéia possua algum grau de contribuição ao “progresso” de uma determinada sociedade. Uma nova concepção reformulada desta abordagem filosófica, batizada de “neopragmatismo”, irrompe após à 2ª Guerra com vários filósofos (John Rawls, Davidson, Putnam, etc), sob a “liderança” de Richard Rorty. Atualmente, destaca-se o papel de Jurgen Habermas, que apesar de ser considerado um “frankfurtiano”, enveredou-se pelas concepções pragmatistas na sua fase mais “atual”.
A fenomenologia advém dos trabalhos de Franz Brentano no séc. XIX, e busca responder a pergunta acerca da natureza da consciência. Para os idealistas, a consciência é uma forma pura, que condiciona a forma pela qual enxergamos a realidade. A consciência, portanto, teria a sua essência num conjunto de estruturas que condiciona o pensamento. Para o realismo, no entanto, a consciência é um reflexo da própria realidade, com a qual entramos em contato através dos sentidos. A fenomenologia refuta ambas as teorias para conceber a idéia de que a consciência define-se pela sua intencionalidade. Isto significa que a consciência tem a sua essência em atos, não em substancias. Mas quais seriam estes atos? Imaginação, especulação, volição, percepção, por exemplo. A essência da consciência caracterizaria-se pelo que ela “faz” (por assim dizer), e não pelo que ela “é”. Um grande nome da história da fenomenolgia foi o alemão Edmund Husserl. Uma das suas contribuições consiste na inserção da própria consciência enquanto participante do mundo fenomênico. “Os trabalhos de Husserl influenciaram decisivamente a filosofia heideggeriana, onde encontramos várias noções que foram trabalhadas, inicialmente, por Hursserl.” Martin Heidegger, em sua principal obra, Ser e Tempo, esboça o projeto de uma fenomenologia da presença, mostrando os vínculos indissolúveis postos entre a fenomenologia e o existencialismo. Para este, a resposta à pergunta do sentido do Ser, só se atinge quando completada uma análise existencial da presença (a Analítica), ou seja, uma compreensão do ser humano pela perspectiva existencial. A fenomenologia, deste modo, contribuiu de maneira significativa para os trabalhos de Sartre, considerado o maior nome do existencialismo francês.
O existencialismo surge no final do séc. XIX, tendo os seus germes nas teorias de Friedrich Nietzsche, Sören Kierkegaard, e Martin Heidegger, “reverte” toda a tradição racionalista centrada em René Descartes. O existencialismo encontra no séc. XX na figura de Jean Paul Sartre um dos seus principais representantes. Influenciado pela fenomenologia, sobretudo no que toca aos trabalhos de Heidegger, Sartre concebe que o ser humano só pode definir-se, ou seja, encontrar a sua essência, depois de existir (o que nos reporta à concepção heideggeriana do primado ôntico/ontológico da “Analítica Existencial”). Isso, que talvez nos pareça bastante óbvio, representa a negação do “penso, logo existo” cartesiano, onde o homem só existe, porque antes pensa. Sartre inverte a situação ao dizer que o viver, é anterior ao pensamento. Como as vivências são individuais, cada um encontrará a sua essência no caminho particular da sua existência, o que nega a ideia de uma essência humana universal.
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