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•f Heidegger e a hermenêutica l IO Q£*11T\E POSIÇÕES E ATITUDES POLÍTICAS JL>^ dO WJLJL JL QUESTIONÁVEIS, O FILÓSOFO ALEMÃO POR JOÃO IBAIXE JR.* MARTIN HEIDEGGER FOI UM DOS MAIS IMPORTANTES PENSADORES DO SÉCULO 20. Este ano completam-se 35 anos damorte do filósofo alemão MartinHeidegger. Nascido em Messkirchaos 26 de setembro de 1889 e falecido aos 26 de maio de 1976 em Freiburg, ele é um dos principais filósofos do século 20, a par de ser um dos teóricos mais complexos e uma per- sonalidade das mais controvertidas. Sua obra principal é Ser e Tempo, publicada em 1927. Heidegger é alguém cujo pensamento não pode ser separado de sua própria existência, pois a leitura de sua biografia em paralelo à sua Filosofia acaba por se complementar e formar uma rede te- órica que, uma vez entendida em seus pontos prin- cipais, desenha uma totalidade que pode funcionar como fundamento para compreensão e crítica do século 20 e deste inicio do século 21. Vale dizer, o pensamento heideggeriano pode funcionar como uma chave de compreensão de toda nossa vivên- \a neste momento fluido e indefinido, para o qual; os autores não conseguem alcançar um consenso, modernidade ou pós-modernidade. O pensamento heideggeriano permeia não só a Filosofia, como a Psicologia, as Ciências Sociais e até mesmo o Direito, incluindo alguns estudos sobre ciência da religião. Obviamente, seus críti- cos são muitos e isto também acresce interesse à sua obra, pois a discussão sempre aprofunda os 581 Conhecimento Prático | FILOSOFIA pontos de debate. Para uma apresentação de seu pensamento, o livro Ser e Tempo deve ser utili- zado como fio condutor. Nele, Heidegger traz o que se pode chamar de ^ j| hermenêutica do Dasein, porque o autor evoca essa perspectiva para demonstrar a possibilidade de entender o ser humano. Como obra, Ser e Tempo é um livro que se compõe da análise de um fenómeno e de duas estruturas que constituem tal fenómeno. Dasein é o fenómeno, e as duas estruturas são a historici- dade e o cuidado. O livro é a conceituação e expli- / cação dessa dinâmica assim constituída. ' SIGNIFICADO DE DASEIN Dasein (pronuncia-se dá-zain) é uma palavra, da forma como utilizada por Heidegger, propria- mente intraduzível em português, mas alguns au- tores fazem uma tentativa, normalmente usando a expressão "ser aí". Aqui a questão se refere mais ao ofício do tradutor-filósofo do que propriamente ao conceito. Alguns consideram um fracasso não { traduzir o termo e outros entendem que efetuar a tradução é perder a força de seu vigor semântico, pois, uma vez mantida no alemão, a palavra obriga o leitor a um exercício de reflexão diferenciado, o objetivo de Heidegger. Nós preferimos manter a expressão no original por esse motivo. Outros ter- mos que podem ser encontrados são "existir", "rea- lidade humana", "ser-lá", "ser-no-mundo". No texto brasileiro, a tradução é "presença", mas essa escolha é muito criticada, pois ela remete a uma dinâmica etimológica não pretendida pelo autor e rejeitada por ele. Se a opção for pela tradução, o melhor ter- mo é "ser-aí" (sein=ser e da=aí). Vilém Flusser, em seu livro Língua e realidade, diz que a melhor tradução para Dasein é "estar aí", pois em alemão não existe o verbo "estar", como existe em português. "Sein" faz os dois papéis: "ser" e "estar". Esta é a primeira chave para a compreen- são do ser humano como Dasein: humano é algo que é ou está em algum lugar, aí. Esse pequenino advérbio faz toda a diferença e se verá por quê. p- Na língua alemã, quase toda substancialídade conceituai pode ser feita por aglutinação. A lín- ,gua portuguesa, por sua índole, já tende a subs- tancializar os conceitos, dando a eles essência, por assim dizer, quase natural. O verbo "estar" normalmente "dessubstancializa" ações e concei- ' tos, retirando sua carga essencialista, que a tradi- ção filosófica do ocidente tende a manter. Assim, nesse sentido, o "estar aí" representa melhor o sig- nificado de Dasein. A professora ^g Dulce Critelli, no seu livro Analítica do sentido, vai dizer que se pode enten- der o Dasein como sendo sinónimo de homem. Só que, ao longo do livro, ela vai mostrando como o conceito se distancia dessa ideia comum que / se tem de ser humano. O Dasein, na verdade,_é| o homem na condição ontológica primordial,) / ou, mais ainda, na sua condição pré-ontóTógkcL Dasein é uma forma de compreender o ser humiT |'no, distinta de toda metafísica ocidental, princi- / palmente do ^ | ílumínismo, o_qual acabou por | definir o homemlfoTnc^ainTmal racional e a razão " como sua essência. Segundo Foucault, a figura do homem como sujeito nasce com o racionalísmoT porãúé~ãntes _i~-_- ---- — - r ^, . — ^ não se tinha essa preocupação, se bem que, no medieyo^ojiomem era definido j:omo ser dotado f l y jUrnfl e com capacidade de conhecer a verda- 1 l de, o que signitoraj^mhecer .PJf5s, um percurso j l único. Havia uma concepção de natureza huma- na definida pela alma, derivada do divino. Da mesma forma, na Grécia Antiga não havia essa preocupação de definir o que é o homem porque importava a ação humana diante do ambiente po- lítico. Já se tinha uma condição humana, não ha- i via necessidade de se perguntar o que é o homem, f mas o que faz o homem. Havia a investigação pela racionalidade, mas ela não colocava unicamente a razão como ponto fundamental da constituição do humano. No iluminismo a natureza humanaj^defini-'j da_Dela^razão. Tod^e^râciajiumana é racional. } Com Kant, essa razão vai ser a síntese da percep- • cão, e isto é um passo além de Descartes. Para Descartes, o ser humano é uma coisa que pensa, mas o homem não é só uma coisa que pensa, se- } gundo Kant, pois é um ser que tem a capacidade j de perceber antes mesmo de pensar, ou seja, tem a capacidade, por meio da razão, de perceber o seu próprio pensar. Com Descartes e Kant, nasce < a figura da subjetividade e do sujeito, respectiva- ] mente, as quais não existiam antes na Filosofia. 5 RAZÃO HUMANA E CIÊNCIA Para Heidegger, a linha advinda dessa me- tafísica ocidental bateria numa única questão: a razão humana estaria diretamente ligada à ideia de ciência. Tudo que é humano é relacionado a Q HERMENÊU- TICA No campo da Filosofia, a hermenêutica ocupa-se de compreendera natureza humana e interpretar 3 produção escrita, seus sen- tidos profundos e teias de significados. É basicamente uma análise de linguagem e da comunicação, tanto que sua palavra, segundo alguns historiadores, vem da figura de Hermes, figura da mitologia grega que, entre outros atributos, seria o mensageiro dos deuses. Outra corrente defende que a palavra "hermenêutica" deriva de um verbo grego cuja acepção é interpretar, declarar. O certo é que a hermenêutica penetrou em várias áreas do conheci; mento, como a Literatura, o Direito e a Antropologia. ®DULCE CRITELLI Professora de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP) e terapeuta existencial, Dulce Mara Critelli coor- dena o Existentia, Grupo de Orientação e Estudos da Condição Humana. É autora de diversos livros e artigos. FILOSOFIA | Conhecimento Prático | 59 OUTRO ENFOQUE < t V r l ^GRANDES GUERRAS Por Grandes Guerras entende-se as duas con- flagrações mundiais ocor- . ridas na primeira metade do século 20. Ou seja, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945), cujas consequên- cias agiram diretamente na história da humanidade, na geopolítica, nas culturas, no Direito, nas relações internacionais etc. conhecimento científico, e toda ação humana é feita para adquirir ou produzir ciência, no senti- do desse conhecimento. Esse conhecimento, por ser fruto da razão, como essência do humano, produziria ciência e tecnologia, ou seja, sob a fi- nalidade de se construir uma vida melhor para o homem, o conhecimentodeveria agregar tecno- logia à ciência. E a razão passa a ser meramente instrumental. O homem é senhor de sua razão, que serve de instrumento para construir sua feli- cidade, por meio de conhecimento, cujo objetivo é transformar-se em ciência tecnológica. Esse modelo de racionalidade nasce num] espaço que Heidegger chama de Ocidente, j Ocidente não é um lugar específico, não é a \, não é o norte da Ásia ou um pedaço / da África ou da América do Sul. O Ocidente é f um espaço onde foi construída a racionalidade,! onde a racionalidade funciona como funda-1 mento da definição da subjetividade. Descobrir esse espaço é, ao mesmo tempo, descobrir seu percurso, porque esse foi um per- curso problemático, já que não trouxe boas solu- ções. Apesar de a racionalidade ser fundamento l da construção do real e ter o sujeito como ator da realidade, os reflexos da realidade não são tão < bons quanto se projetava que seriam. Apesar do í desenvolvimento da ciência, apesar do esclare- ícimento, apesar da luz que foi jogada na razão e \a razão, o ser humano ficou incompleto. Apesar do grande desenvolvimento tecnoló- gico, do grande desenvolvimento de todas as ci- ências, duas * Grandes Guerras envolveram todo o mundo conhecido. E isso já foi um golpe contra a ideia de racionalidade. Por quê? Porque se a razão permite conhecimento e esse conhe- cimento permite desenvolvimento que só faz o melhor para o homem, a tendência seria que a vida política, que é o laço das relações entre os homens, fosse o mais perfeito possível. Mas não foi. E as duas guerras mostraram isso. Heidegger vai buscar uma resposta. Mas ele opta por uma crítica profunda e radical. Essa crí- tica ele chama de "destruição". Destruição não é o rompimento absoluto com todo o passado, mas a implosão das tradições por dentro, preservan- do as bases nas quais elas foram construídas. Destruição heideggeriana não é explosão do ve- lho para simples instauração do novo; é uma re- tomada do Antigo e uma releitura desse Antigo para se verificar os erros que culminaram na Modernidade iluminista. Heidegger identifica um problema e ten- ta um recomeço. Mas como se realiza esse re- começo? Em termos históricos, não se muda o passado, não há volta ao passado, mas há a pos- sibilidade de releitura desse passado, visando aplicar isso ao presente para alcançar o futuro. Esse é o projeto de Heidegger: destruir o passa- do e remontá-lo até conseguir, no aspecto posi- tivo, uma projeção positiva de futuro. Há uma reconstrução constante. Já se escapa, assim, do plano metafísico, pois não há ideal essencialista, não há um absoluto. Como erri Hegel, que se projeta, não há formas perfeitas, não há essência, tem-se uma recons- trução histórica de algo que já foi feito. História é evento, não_ se muda. Logo, essa reconstrução histórica, é uma releitura, portanto^jjmareinter- gretaç_ão._Eis o primeiro ponto da hermenêutica na metodologia heideggeriana. Heidegger propõe a destruição por meio de uma releitura, uma desconstrução por outro me- canismo de interpretação. Um retorno ao mo- o_ _ ^pjrod^zjr_aracionali3adèrQueTnbmento é esse? A Antiguidade! Heidegger volta os olhos ao pensa- mento da Antiguidade e tenta verificar onde nas- ceu a raiz que poderia gerar essa racionalidade. E, ao refazer o percurso de volta, encontra a raiz de tudo na ideia de lagos. Heidegger vai mostrar que a razão ocidental, noção hoje transformada em razão instrumental, é incorreta compreensão da expressão logos. Logos não é razão. A tradução original do grego significa "discurso .^ Discurso: mais uma vez hermenêutica, agora aliada à questão da linguagem. Com efeito, ao fa- lar de discurso, fala-se em troca de comunicação. Ora, se ao se falar de uma tradição de pensado- res com os quais não se conviveu, a comunicação ocorre por meio de leitura. Ao falar em leitura, fala-se necessariamente em interpretação. Ao se falar em discurso, fala-se assim em interpreta- ção. No trjomentqejn queexiste o discursoexiste interpretação. Se existe uma interpretação cons- tante é porque existe um discurso constante, tem que haver um ser que consiga realizar todo tempo essa interpretação. Esse ser é o ser humano. Mas ele faz isso por ser racional, com o uso do mecanismo da razão? Pode-se entender que o ser 60 | Conhecimento Prática | FILOSOFIA ; humano, definido como ser racional, é quem tra- balha com discursos? Heidegger dirá "não". A ra- cionalidade não trabalha com discurso, mas com construção lógica de unidades de; percepção "dg_ ^^^^^^r^^^^comrjõemzGênàa. Para Hêldligger, isto é inválido. / O que está errado é a compreensão do ser hu- í mano como ser racional. Dessa forma, a pergun- ( ta passa a ser: o que é o ser humano? Mas seria / esta a pergunta certa? Adianta perguntar o que é l o ser humano como essência? Se a pergunta for l colocada dessa forma, chegar-se-á ao caminho de *• Descartes. A pergunta tem de ser outra. , Heidegger lembra que ao se fazer uma pergun- / t a tem-se certa noção da resposta. Só se pode per- l > A j -- ^ --- 1 — j__ -- £ - j guiTta£j>d)rejiajrjloj^^ /"Essacapãcidade de ter noção sobre as coisas, de Apoder fazer perguntas, é a capacidade fundamental jdo ser humano. O ser humano é o ser que indaga e, l ao indagar, busca respostas. Logo, ser humano é o i — X / ser que compreende o que pode indagar e compre- / ende as respostas que tem de buscar. ESPAÇO-TEMPO O fundamento do ser humano está ligado e não à de razão. O ser humano é aquele ser dotadode possibili- dade de compreensão e não de pensamento. Pensamento é veículo da compreensão. Mas o ser humano compreende por estar em um lu- gar, em um tempo, num determinado lugar e num determinado tempo. Ser humano é o ser que é, num lugar e num tempo, é o ser que é "aí", num lugar e tempo. É o Dasein. Porém, o ser do humano não é possuir uma ra- zão, antes, é ser enquanto está num espaço e tem- po, questionando sobre seu lugar e seu momento. Questionando e respondendo, o ser humano com- preende a si, enquanto habita um espaço, durante um tempo. Dasein, o ser que está aí, mergulhado na compreensão de si e do todo que o cerca. Não é a coisa que pensa, não é o animal raciona, mas o \ser que vive e compreende: o ser vivente no discur- (so, o ser vivente na hermenêutica, em sua própria /hermenêutica, aquela do Dasein. Dasein habita um mundo, aquele que sinte- tiza sua compreensão de seu espaço-tempo, co- abitado por outros. Logo, o Dasein não é indi- vidualista, seu /o£05 não é a razão instrumental, mas a possibilidade de compreensão de tudo que o cerca a partir de seu ser, com seu ser e de volta a seu ser, nunca de forma individualis- ta. O Dasein é comunitário, pois convive num espaço-tempo com outros e com uma tradição herdada, decorrente de todo espaço-tempo da humanidade. Eis a historicidade. Não é um ponto cronológico nem umã^níése da unida- de da razão, mas o resultado de complexo pro- cesso humano, de toda humanidade, que faz o Dasein ser o que é e construir-se enquanto é, agindo como célula de construção e reconstru- ção constante da própria humanidade. Para mergulhar nesse processo, o Dasein precisa liberar-se do véu da realidade, pu seja, do plano ôntico que habita e que lhe apresen- ta todos os fenómenos, dirigindo-se ao plano ontológico do ser de todas as coisas, vistas não mais como portadoras de essências, mas como sínteses de processos de compreensão. A partir da realidade, o Dasein busca o ser das coisas, não mais suas essências, porém, a adequada maneira de compreendê-las, a partir da tradi- ção em que se encontra e utilizando os meios de que no momento e na atualidade dispõe. O Dasein busca no plano do discurso (plano on- tológico) a compreensão (hermenêutica) do ser das coisas que estão no mundo e para ele se fa- zem aparecer como fenómenos (plano ôntico). Essa busca somente se oferece ao Dasein se elese propõe a isso. Aqui entra a estrutura do cuidado. Cuidado é a situação do Dasein, na qual ele dire- ciona a si mesmo para buscar o ser de si e de todas as coisas que a ele colocam como fenómenos. Apenas no plano do discurso isso é possível, porque toda perspectiva ôntica, que apresenta o ente (as coisas, sejam objetos físicos ou intelec- tivos) são traduzidos por meio de interpretação para o plano do Dasein, o qual é unicamente on- tológico, pois ocorre na e mediante compreensão. Assim, Heidegger propõe a hermenêutica do Dasein, uma alternativa para se conceituar o ser humano não mais como sujeito, não mais como senhor da razão, mas como um ser que habita, dentre outros, um mundo no qual para sobrevi- ver e existir exige sempre o cuidado. • ÇllLUMINISMO Iluminismo (Esclarecimento ou Ilustração) foi um movi- mento filosófico, político, artístico, científico e corn- portamental surgido na Eu- ropa entre o final do século 17 e início do 18. Com a ideia do homem e da razão acima do obscurantismo, os iluministas são consi- derados os inspiradores das revoluções burguesas que deram origem ao que denominamos de mundo moderno. São autores cate- gorizados de iluministas lohn Locke, Kant, Voltaire (foto acima), Rousseau, entre outros. CRITELLI, Dulce. Analítica do sentido. São Paulo: Brasiliense, 2006. FLUSSER,Vilém. Língua e realidade. .São Paulo: Annablume, 2007. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 2006. * JOÃO IBAIXEJR., É PROFESSOR, ESCRITOR, ADVOGADO E COLUNISTA DA REVISTA ELETRÔNICA ÚLTIMA INSTÂNCIA. PÓS-GRADUADO EM FILOSOFIA E MESTRE EM FILOSOFIA DO DIREITO. COORDENADOR DO GRUPO DE ESTUDOS EM DIREITO, ANÁLISE, INFORMAÇÃO E SISTEMAS DA ÁREA DE FILOSOFIA DO DIREITO DO PROGRAMA DE PÕS- GRADUAÇÃO DA PUC-SP/CNPQ. PRESIDE O INSTITUTO CULTURAL ANTÓNIO IBAIZE E EDITA OS BLOGS PALAVRAS TRANSGREDIDAS í POR DENTRO DA LEI- UM ESPAÇO PARA CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CIDADANIA FILOSOFIA | Conhecimento Prático 161
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