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MORADORES DE RUA: A IMOBILIDADE QUE IMPEDE A TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE
A questão referente aos moradores de rua chama minha atenção por inúmeros fatores. Minhas indagações sobre esses sujeitos e suas histórias de vida tiveram início durante minha infância. Ao sair às ruas e encontrar um ou outro homem dormindo em uma calçada ou banco de praça, parava a observá-lo e ficava intrigada, buscando em meus pensamentos uma razão que se encaixasse naquela condição de vida. 
Um ponto forte em minhas indagações era não conceber a idéia de estas pessoas serem culpadas por estarem vivendo nas ruas. Hoje percebo que a simplicidade de minhas reflexões sobre estes sujeitos, já anunciavam um inconformismo para além do simbolismo da pobreza econômica, da tristeza, da embriaguez e dos simples desentendimentos no ambiente familiar. 
A solução que os órgãos públicos buscam para o enfrentamento dessa questão que envolve os moradores de rua não pode ser simplista. Não pode se resumir como a oferta de esmolas que transformam a condição de pedinte em hábito ou de alimentos que também reforçam essa condição de não sair das ruas. 
Também não pode ser de caráter higienista em atenção aos reclamos dos cidadãos que efetuam certas ações na ilusão de ajudar o morador de rua, mas oferecem reforços negativos e em geral as mesmas pessoas que dão esmolas, depois sentem incomodo com a presença desses sujeitos nas ruas, nas marquises, praças, entre outros. 
Hoje tenho a condições de visualizar essas questões, que o inconformismo com o morador de rua em na calçada, nos estabelecimentos comerciais, não trazem aos munícipes dimensões de sua responsabilidade para com a instalação daqueles sujeitos em diversos locais da cidade. 
Por muito tempo, em minhas reflexões, também pensava que colaborando com moedas, pães ou sobras de comidas, estaria ajudando estes sujeitos. Atualmente reconheço que, essas atitudes eram paliativas e apenas amenizadoras do sofrimento, sendo necessário mais do que isso para que a realidade desses sujeitos fosse transformada e eles obtivessem o reconhecimento de verdadeiros sujeitos de direitos.
Moradores de rua é um tema que fervia a minha mente desde a infância despertando-me maior curiosidade nos dias atuais, onde a indignação levou-me a buscar a compreensão do que poderia ter acontecido na vida desses sujeitos para que chegassem ao ponto de morar nas ruas. Desta forma, pretendia conhecer a imobilidade que os impede de mudar o rumo de suas histórias e sair definitivamente dessa condição.
Essa questão não pode estar unicamente atrelada a mais um resultado da miséria, da pobreza, do crescimento da economia. Minhas indagações indicam que deve ser algo que pode ir muito além dessa percepção, do que podemos apenas ver, talvez falte o verdadeiro sentir desses sujeitos em suas realidades.
A questão é ampla e requer atenção de um olhar também ampliado, embasado de forma teórica e prática também no ponto de vista da vulnerabilidade do sujeito que foi trabalhador e que na medida em que encontrou sua mão de obra precarizada e com falta de capacitação, se viu inclinado ao mercado informal.
Por conseguinte estando esse mercado abarrotado de trabalhadores que não dispõe de condições favoráveis ao ganho mínimo e sem condições de enfrentar a competitividade do meio acabam por perder mais. Neste caso muitos ficam fora desse círculo também criador de renda mínima que é o mercado informal e muitos moradores de rua estão atrelados á este contingente fragilizado, que acumulando perdas vive em situação de miséria, são mais um fruto da pobreza que faz o crescer da desigualdade social. 
Aprendi que fragilizado na questão do morador de rua não é apenas um adjetivo de enfraquecido, debilitado, nesse caso e para condição de pobreza representa mais do que isso, é a perda da auto-estima, da moradia, do emprego, da qualificação profissional, entre outras. 
Tentar pesquisar e apresentar um entendimento dessa população de rua significa também buscar uma melhor compreensão para o avanço no combate da desigualdade social. Pretendo ampliar o foco de visão sobre estes sujeitos para possibilitar um olhar além das aparências com apropriação teórico-histórica e metodológica, apreendendo no estudo as diversas formas de expressão da evolução das diversificadas representações destes sujeitos.
Esta pesquisa tem por objetivo compreende as questões norteadoras que causam a imobilidade, impedindo o morador de rua de sair dessa condição e mudar sua realidade de vida. 
Essa imobilidade deve estar embutida nos fatores que determinaram os sujeitos da pesquisa que engrossaram o mundo da população de rua com uma mobilidade que o leva de um lugar a outro, mas apresentam apenas mudanças em sua condição de vida nas ruas. 
A escolha do tema foi impulsionada pela minha atuação na condição de estagiária de Serviço Social dentro do Albergue Municipal José Calherani, único equipamento da rede pública da cidade que atende população de rua. 
Reforçando meu interesse no assunto trabalhei essa observação na tentativa de buscar um possível entendimento dessa imobilidade para aproximação das repostas ás questões que tanto ecoaram em minha mente desde a infância.
Na escuta da população de rua atendida no albergue tive contato com histórias de vidas surpreendentes, que mesmo contadas de formas desordenadas traziam uma grande riqueza de conteúdos, mostrando que a questão não está simplesmente restrita às formas de pobreza absoluta que os impedem de abandonar o hábito das ruas. 
Os relatos dos sujeitos indicavam múltiplas determinações a serem desveladas para que mudanças positivas pudessem vir acontecer na direção dessa população e incidissem fortemente na vida destes sujeitos. Compreendi que as questões que envolvem esse segmento são muito diversificadas, pois nas ruas encontramos moradores que ficam, estão ou são das ruas. 
Todos se apresentam de formas diversas onde, muitos são do município e outros provenientes de qualquer parte do país. Possuem diferentes faixas etárias, gêneros, profissões e escolaridades, tendo inclusive entre eles indivíduos que possuem nível técnico ou curso superior. 
A proposta dessa pesquisa foi reforçada também com leituras, observações, pesquisas e reflexões. Tornando maior a possibilidade de observar o grau de cumplicidade e a forma específica com que estes sujeitos se organizam e buscam o encontro de um movimento próprio no espaço das ruas. 
A experiência obtida enquanto estagiária permitiu o aperfeiçoamento de meu olhar sobre essa demanda bem como, constatar a falta de um atendimento humanizado por grande parte dos setores públicos que oferecem atendimento.
A mobilidade que os leva de um lugar para outro não reflete o sentido de transformação da realidade. Muitos buscam esse olhar ampliado em sua direção e não sabemos ao certo como reagirão ou que atitudes terão ao se deparar com uma oferta concreta de oportunidade que proponha perspectiva de mudança da sua realidade.
Minhas inquietações vão muito além e tentam suprir a necessidade de fazer dessa pesquisa um estudo preliminar que venha primeiramente contribuir com o impulsionamento da cidade de Guarujá para possibilidade de um aprofundamento teórico-prático-politico e social objetivando a construção de uma política pública municipal voltada exclusivamente para o atendimento da população de rua. 
Obtendo maior conhecimento contributivo para aflorá-lo de minhas indagações sobre a importância de pesquisar a vida dessa população terei mais chances de explanar o resultado proposto. 
Efetuando observações para aplicação da pesquisa em alguns pontos da cidade e acompanhando esse movimento em que mudam de lugares, pontos, abrigos, mas não mudam suas atitudes, percebi que muitos estão engessados, imobilizados interiormente. Reafirmo que é necessário entender de fato a barreira que existe entre o tentar sair e o querer verdadeiramente viver fora das ruas. 
O estudo pretende com isso possibilitar aos técnicos, políticos e comunidade em geral uma reflexão maior sobre o tema “Moradorde Rua”. O título se direciona a identificar a imobilidade desses sujeitos do tema. Essa imobilidade que impede, ou melhor, anula qualquer ação em direção de si mesmo e essas histórias muitas vezes podem coincidir com a nossa ou com a de alguma pessoa de nosso convívio. 
Já foram efetuados muitos trabalhos de pesquisa sobre o assunto, porém poucas iniciativas de atenção ao assunto foram apresentadas. Essa população excludente está presente nos diversos locais do país e até mesmo fora no contexto Nacional, neste trabalho será possível conhecer alguns exemplos de cidades que iniciaram seus movimentos em busca de respostas direcionadas à solução ou amenização desse problema, porém serão simples exemplificações, pois o objeto de estudo concentra-se no Município de Guarujá.
Através das representações na vida desses sujeitos na rua serão apresentados estudos que constituirão um breve perfil dos moradores de rua da cidade de Guarujá. Esses pontos permitirão um avanço para o conhecimento não só dos fatores desencadeantes que desestruturaram e determinaram estas trajetórias, mas também contextualizarão as relações que imobilizam a saída definitiva e que reforçam a permanência nas ruas. 
Este trabalho de monografia está dividido em quatro capítulos.
O Capítulo 1 será direcionado a dimensão de um fenômeno social que é a população de rua. 
Serão apresentados dados sobre os levantamentos populacionais efetuados em diversas cidades do país, fundamentados em pesquisas efetuadas e avaliadas por profissionais da área e assistentes sociais, onde será possível traçar um parâmetro com o levantamento efetuado na cidade de Guarujá e oferecer subsídios que reforcem o objeto proposto. 
Outro ponto que fará parte deste contexto refere-se às cidades não assumirem o papel de possíveis transformadores de um quadro social de exclusão que cresce ao longo do tempo. Essas cidades possuem alguns gestores que ainda resistem à necessidade de reformulação na política e tentam esconder a sujeira debaixo do tapete, acrescentando nesse indivíduo uma dose a mais de revolta e indignação. 
Por esse motivo a política higienista será abordada com um pouco mais de profundidade, pois continuar aplicando essa velha e violenta técnica de exclusão e não refletir sobre os erros e conseqüências dessas ações desumanas e ineficazes é no mínimo ignorar muitas perdas de sujeitos com potenciais ocultos pelo medo, preconceito e a exclusão.
O poder público em geral acaba por deixar de fazer a sua parte e assumir sua responsabilidade nesse processo de transformação para reforça a negação desse sujeito que já está vivendo em um espaço incerto e que acaba em muitos casos sendo até marginalizado.
O Capítulo 2 permitirá conhecimento mais próximo da realidade do ser humano que elege a rua como moradia e busca estabelecer-se em uma sociedade paralela ao desenvolvimento. 
Esse capítulo expressa em seu contexto alguns fatores de desestruturação da família, do ser social e do local do qual foram retirados muitos moradores de rua. Neste segundo capítulo será possível também dimensionar o grande quantitativo que vive em processo de exclusão. Os dados apresentados servirão de parâmetro para entender algumas falas dos moradores entrevistados.
Evidencia a questão que deixa de ser apenas econômica e passa a apresentar um conjunto de problemas identificados em algumas pesquisas efetuadas na cidade de Guarujá. 
De acordo com o mencionado anteriormente os resultados serão associados às pesquisas analisadas no âmbito nacional.
O desemprego será notado nesse capítulo como ponto crucial de desestruturação e está entre os muitos fatores identificados. Por conta do desemprego evidencia-se o aumento da pobreza interligado ao fator desigualdade social. Saberemos de que forma alguns autores observam essa questão. 
Beber na fonte de conhecimento de alguns autores permitirá os esclarecimentos que divide essa população como foi citado anteriormente entre os que ficam nas ruas, estão nas ruas ou são das ruas. 
Conhecer suas essências mesmo que subjetivas fornecerá um melhor entendimento dessa questão e ao trazer o tema morador de rua para o contexto da cidade de Guarujá serão obtidos outros subsídios para o enfrentamento na mudança desse parâmetro identificado.
O Capítulo 3 retratará a cidade do Guarujá em sua historicidade e no contexto do qual está inserida sua população de rua e o que oferece de meio para atender essa demanda. Essa cidade com belezas inigualáveis possui também seu lado de pobreza extrema e exclusão, onde a desigualdade social é fator agravante desse quadro. 
No relato de abordagem histórica da cidade, desde a origem, veremos os avanços econômicos e sociais da cidade enquanto referência de pólo turístico, mas também detentora de grandes contradições que resultam em desigualdade social.
Serão apresentados idealistas que deixaram contribuições mais significativas para a cidade, onde um tinha a visão voltada para o crescimento turístico da cidade, com empreendimentos que a deixaram esse símbolo de beleza e o outro com olhos voltados para o social e que também contribui para esse crescimento com Hospital, Creche, Faculdade.
Será notado ao longo do texto que assim como, em muitas cidades, a população de rua migrante chega ao Guarujá com expectativas de empregos iguais ou maiores do que as demais cidades. Isso se dá a uma grande aparência de oferta no espaço de trabalho por ser litorânea e turística e também foi abordada a questão do boom imobiliário que contribuiu para o surgimento e crescimento das inúmeras favelas na cidade.
O boom imobiliário é outro assunto abordado nesse capitulo, para que reforce o entendimento de outro ponto gerador desses sujeitos que moram nas ruas de Guarujá.
A ruptura da oferta de empregos na década de 80 na cidade de Guarujá causou grande impacto nos munícipes levando alguns á procura de alternativas informais de trabalho e outros à escolha da rua como moradia.
Entender a cidade em seu desenvolvimento com questões onde o desemprego é fator principal, e o crescimento do apelo social e da necessidade de uma política de atenção à população de rua consistente, será fundamental para questionamentos de como os gestores tratam seus moradores de rua. 
O desprendimento dos descasos e preconceitos sofridos em outras cidades pelos migrantes que chegam todos os dias será necessário abordar. Sem fechar os olhos para política higienista que muitas vezes foram aplicadas também em Guarujá. O foco de observação e interrogação será o tratamento oferecido e de que forma a cidade busca respostas aos problemas que se apresentam iguais ou piores que outras cidades de nosso país.
Nesse capítulo será analisada a falta de interesse público para criação de políticas direcionadas verdadeiramente ao atendimento dessa demanda. A falta de humanização em alguns setores será abordada e reforçará a ausência política - administrativa que faz com que essa demanda sem atendimento adequado busque suprir algumas de suas necessidades em órgãos assistenciais da sociedade civil, ou até mesmo assumindo a condição de pedinte nas ruas e residências.
Através da leitura e observação de dados colhidos em levantamentos anuais do setor de atendimento social será notado o grande fluxo de migrantes e munícipes que estão vivendo nas ruas da cidade. Efetuando observação na realidade dos sujeitos da pesquisa e nos dados fornecidos pelo MDS será possível reforçar a necessidade dos órgãos competentes assumirem a realidade da população de rua e criarem estratégias que incidam no atendimento adequado dessa demanda será possível amenizar esse quadro.
O Capítulo 4 direciona-se às determinações que imobilizam o morador de rua e apresenta os resultados obtidos na pesquisa efetuada com alguns moradores de rua em determinados pontos da cidade de Guarujá. 
Dez moradores de rua foram entrevistados, sendo que foram selecionados devido ao acompanhamento deles entre a grande demanda de moradores de rua atendidos. Cabe informar que foram muitos atendidos na condição de estagiária doAlbergue Municipal acompanhada por supervisão e muitos outros observados em acompanhamentos e abordagens efetuadas em alguns locais da cidade.
Essa limitação mesmo reduzida permitiu uma observação e ofereceu subsídios para fundamentar pontos delicados com relação a esses sujeitos.
O capítulo é gratificante na produção que permiti uma reflexão do trabalho aplicado pela ampliação do olhar na direção dos moradores de rua e pelo entendimento do sofrimento partilhado por eles ou vivido isoladamente. 
Surgem então subsídios que reforçam a necessidade da critica a uma reformulação política de atenção e administrativa para o atendimento dessa população pelos setores públicos da cidade. 
Os entrevistados ofertaram riquezas de informações que serão percebidas ao longo das interpretações mesmos nas respostas simples. Nota-se em falas, gestos, e olhares a busca pela ruptura do que impede a movimentação por mudança interior e exterior.
Nas considerações finais será apresentada a explanação com observação nos estudos adquiridos para conclusão desse trabalho e o resultado alcançado com a busca pelo conhecimento do que imobiliza esses moradores de rua no desejo por mudança e na tentativa de mudar essa realidade. 
Por fim será incluso neste trabalho as referências teórico-bibliográficas que foram necessários ao conhecimento teórico utilizado para reforçar a importância dessa monografia no âmbito da pesquisa social e políticas públicas para população de rua.
1 – MORADORES DE RUA: A DIMENSÃO DE UM FENÔMENO SOCIAL.
Há alguns anos movimentos da sociedade civil vem questionando sobre a necessidade imediata da construção de uma política nacional para o atendimento da população de rua. 
Essa política deveria apresentar interesse e capacidade em articular serviços, programas e projetos voltados à estruturação de mecanismos de emancipação para a inclusão social destes sujeitos.
Segundo a Secretaria Nacional de Monitoramento e Avaliação de políticas Públicas, no ano de 2005 durante o primeiro encontro nacional sobre população de rua, planejou-se a realização de um levantamento nacional que apontasse informações sobre acesso a serviços, condições socioeconômicas e formas de sustentação da população de rua.
O levantamento surgia com perspectivas de permitir a construção de um conhecimento capaz de contribuir com a elaboração de políticas públicas no âmbito das três esferas de governo, assistência, saúde e segurança. Junia Quiroga menciona que este trabalho nunca foi feito no Brasil, 
Enfatiza que o levantamento responde a uma demanda de instituições ligadas às pessoas em situação de rua feita durante primeiro encontro nacional sobre o assunto, realizado em 2005. "Havia um pedido para que tivéssemos mais informações sobre esse público, para que as políticas públicas sejam mais adequadas a ele". Disponível em <http://www.congemas.org.br/evmemoria160.html> acessado em 11/Nov/08 
Desta forma o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome-MDS realizou no ano de 2007 uma Pesquisa Nacional para identificar o perfil dos moradores de rua no contexto do país. Essa ação surgiu na tentativa de elaborar de um diagnóstico nacional que permitisse conhecer as características desses sujeitos em todo o território nacional, localizando essa população nas cidades de maior concentração destes sujeitos.
Por não haver garantias de localização desses sujeitos, os pesquisadores optaram por visitar cidades com mais de 300 mil habitantes e no período noturno. As equipes estavam formadas por pesquisadores e assistentes sociais e os entrevistados deveriam ter mais de 18 anos. 
Os pesquisadores efetuaram abordagens em diversos pontos das cidades como praças, viadutos, calçadas, praias, prédios abandonados, lixões, albergues, e outros locais utilizados como habitação pelos moradores de rua.
Segundo as argumentações de técnicos do MDS, a pesquisa organizada e efetivada nas grandes cidades para o enfrentamento dessa questão teve como objetivo de entender as características destes sujeitos, para implantar mecanismos de atendimentos a esses sujeitos.
Os profissionais responsáveis pelo sucesso da pesquisa nacional tentaram localizar o maior número de indivíduos possíveis, colhendo informações que viabilizassem dados valiosos sobre a população de rua. 
Os resultados foram apresentados em 29 de abril de 2008, e constatou que no país existia um total aproximado de 32 mil moradores de rua, um enorme contingente desprotegido das políticas públicas, indicando a necessidade da realização de uma análise despretensiosa sobre os dados apresentados, para a concretização de propostas efetivas com vistas à superação da problemática da rua. 
1.1 – O Censo nacional sobre população de rua
O 1º Censo Nacional sobre população de rua apresentado pelo MDS revelou pontos que já se faziam notar em algumas cidades. Com um questionário aplicado composto por 20 questões, revelou ser o sexo masculino (82%), a figura de maior presença no contexto da rua. 
Constatou-se que 74% desses sujeitos eram alfabetizados, dominando a leitura e a escrita, com 50% de conclusão do ensino fundamental. Mais da metade desta população tinha a idade superior a 20 anos (52%). Os dados mostraram que 27,9% destes sujeitos eram de origem negra.
Quanto aos locais que utilizavam para dormir, mais de 50% dos entrevistados revelaram que utilizavam às ruas e 8,3% procura os albergues ou outras instituições da sociedade civil alternando com a vida na rua. 
Aproximadamente 48% dos entrevistados estavam longe do convívio familiar a mais de dois anos , quando questionados sobre os principais motivos que direcionaram suas vidas para a rua, alegaram o desemprego e os conflitos familiares e o envolvimento com álcool e/ ou drogas.
Dentre as três determinantes o índice de alcoolismo e /ou drogas atingiu 35,5% maior percentual entre todos indicadores. Em segundo lugar ficou a questão do desemprego com 29,8% e por último lugar, os conflitos familiares na ordem de 29,1%.
Em análise sobre o fator resultante do deslocamento migratório, revelou-se que 45,3% saíram de suas cidades em busca de emprego e um quantitativo de 18,4% abandonaram os seus familiares por desentendimentos.
Quanto a essa questão 58%%, um pouco mais da metade identificaram-se como oriundos da mesma cidade em que foram encontrados no momento da pesquisa ou de locais próximos, uma vez que 51,9% migraram de uma cidade para outra e mencionaram estar naquele local por terem familiares e/ou parentes residentes no município pesquisado.
Na questão de como fazem para sobreviver, quase 20% deles estavam vivendo de esmolas e da ajuda de organizações da sociedade civil com aproximadamente 80% deles exercendo umas atividades com remuneração. 
Interessante observar que a pesquisa revelou que os moradores de rua em geral são pessoas saudáveis. Apenas um terço do total dos entrevistados informou ter problemas de saúde. Quanto à discriminação os entrevistados disseram que são freqüentemente barrados em locais, como shopping e transporte coletivo.
Em um total de 71 cidades onde foi efetuado o levantamento nacional a cidade de São José dos Campos/SP deteve o maior número de moradores de rua (0,3%), em seguida a cidade de Curitiba com o índice de 0,2% e Juiz de Fora - MG, ocupando a 3º posição com 0,15% de moradores. Importante mencionar que os percentuais foram calculados com base no total de habitantes de cada cidade.
Outra informação inserindo no contexto Censitário refere-se à cidade do Rio de Janeiro que se comparado com a quantidade de habitantes possui a maior quantidade de moradores de rua, pois se identificou uma população de 4.585 mil moradores de rua para um total de seis milhões de habitantes.
1.2 – As contagens independentes do Censo Nacional
Os dados do MDS não foram abrangente às cidades de Belo Horizonte, Recife. Porto Alegre e São Paulo estas cidades ficaram fora do levantamento nacional, por já possuírem levantamentos próprios sobre a demanda de rua. 
O Censo de moradores de rua realizado no ano de 2005 emBelo Horizonte - MG apresentou estimativa de 916 indivíduos morando nas ruas com características semelhantes ás de outras cidades. Porém Meguerditchian ao falar em seu artigo sobre o aumento do tempo desses sujeitos nas ruas de Belo Horizonte e outras cidades menciona que o tempo passa e não saem das ruas, esses sujeitos estão envelhecendo sem deixar as ruas.
Segundo a pesquisadora, chamou a atenção o aumento do tempo que as pessoas permanecem nas ruas. Entre 1995 e 2000, 63% dos entrevistados nas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo estavam a até cinco anos nas ruas. Já entre 2000 e 2005, o número cresceu. "Isso pode ser uma forte indicação de que essas pessoas estão envelhecendo nas ruas, sem trabalho digno e proteção social", diz. Em Belo Horizonte, por exemplo, o percentual de pessoas com mais de cinco anos nas ruas cresceu mais de 3%. Disponível em < http://aprendiz.uol.com.br/content/uejewreveg.mmp> acessado em 20/nov/08.
Em Recife o levantamento realizado no ano de 2005 mostrou um total de 888 adultos morando nas ruas da cidade. Em Porto Alegre apontou um cadastro de 2700 moradores de rua, sendo 2000 adultos.
O Censo municipal da cidade de Fortaleza realizado em 2004 intitulado de “Moradores de Rua da Cidade de Fortaleza” revelou que na cidade existiam 2040 moradores de rua. Segundo artigo de Maciel no ano de 2000 a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS),
Efetivou um estudo objetivando traças o perfil desse grupo, ela nos fornece alguns dados, como a existência de 2040 moradores de rua na cidade, na faixa etária entre 21 a 40 anos. As causas apontadas pelos moradores foram o desemprego e a dificuldade de se relacionarem com a família. Destes, 88%%, nove são cearenses (SMDS, 2000). Disponível em < http://www.politicasuece.com/mapps/arquivos/materias/mapps_6%20valney_89.> acessado em 23/ago/2008.
Nesse contexto a cidade de Fortaleza também é um cenário de grande fluxo de moradores de rua que estando na condição de excluídos, transformam a rua em espaços coletivos e privados com seus modos e costumes visíveis na sociedade.
Outra cidade que priorizou a contagem da população de rua para melhor entendimento e formulação de propostas a esses sujeitos foi à cidade de São Paulo. Através da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) realizou dois Censos sobre população de rua. 
O primeiro censo realizado no ano de 2000 permitiu através da contagem e avaliação identificarem 8.088 moradores de rua na cidade. Um pouco mais da metade destes moradores foram encontrados nas ruas e o restante em albergues. 
O segundo censo realizado no ano de 2003 indicou que existiam em São Paulo 10.399 mil pessoas morando nas ruas, e desta vez o processo apresentou dados invertidos, com cerca de seis (59,49%) moradores de rua localizados em albergues e 4.213(40,51%) restantes nas ruas. 
Maciel revela uma preocupação com o crescimento do contingente populacional de rua, e reforça a urgência no atendimento desses sujeitos desprovidos pelos mínimos sociais vítimas do descaso e da exclusão social. Segundo a autora,
O termo exclusão social embora seja empregado nos mais diversos estudos e em países diferentes, tem o seu significado intimamente ligado ao grau de desenvolvimento da economia e das políticas sociais adotadas em cada um deles. Desta forma, o conceito de exclusão social é extremamente diversificado e heterogêneo. Disponível em < http://www.politicasuece.com/mapps/arquivos/materias/mapps_6%20valney_89. pdf> acessado em 23/ago/2008.
O terceiro Censo realizado em 2006 mostrou a existência de mais de 12.000 homens em situação de rua, sendo 7.000 (57%) dormindo em albergues e 5.000 (43%) nas ruas.
Diante dos dados constatou-se que entre o segundo o terceiro censo realizado em um período de três anos, a demanda de moradores de rua da cidade de São Paulo cresceu 13.4%. 
1.3 - A mobilidade espacial da vida nas ruas.
Um leque de leituras sobre moradores de rua se faz necessário para entendimento de suas demandas, possibilitando traçar um perfil definitivo desses sujeitos. Alguns autores alertam sobre a importância de se conhecer estas demandas no âmbito como elemento gerador da desigualdade onde estes sujeitos são aprisionados e vítimas de preconceito.
Meguerditchian explica em artigo que a pesquisadora Silva após traçar o perfil do morador de rua brasileiro em sua tese de mestrado desperta atenção para os dados apresentados, pois são adultos, possuem escolaridade, entre outros fatores que não são diferentes do contexto mencionado na pesquisa nacional. “Todas as pesquisas que utilizei conceituam o morador de rua como sendo uma pessoa que vive em uma situação de pobreza extrema, que tem os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e que não tem moradia”. Explica,
Diante da análise dos números chegou-se a conclusão que quase 80% são adultos homens, entre os quais 72% já tiveram uma profissão, mas que hoje vivem de atividades ligadas a carros (lavar, vigiar ou limpar pára-brisa), coleta de materiais recicláveis e mendicância. Cerca de 70% deles sabem ler e escrever e tem escolaridade entre 1ª e 8ª série do ensino fundamental. Segundo a pesquisadora, chamou a atenção o aumento do tempo que as pessoas permanecem nas ruas. Isso pode ser uma forte indicação de que essas pessoas estão envelhecendo nas ruas, sem trabalho digno e proteção social. Além disso, a quantidade de pessoas em situação de rua provenientes da própria cidade ultrapassou o número daqueles que se originam de outras. Disponível em <http://aprendiz.uol.com.br/content/uejewreveg. mmp> acessado em 04/nov/2008.
Muitos tiveram estudo, profissão e perderam ou abandonaram suas vidas em família para se direcionar a vida nas ruas. As transformações sofridas economicamente ao longo do tempo com os avanços do mundo globalizado fizeram aumentar ainda mais esse quadro de desempregados.
Estes sujeitos ao se depararem com exigências do mercado de trabalho e estando sem condições de capacitação e preparações perderam as perspectivas de realização profissional, passando a mudar constantemente de atividades e lugares e a constituir um contingente significativo. Segundo Cleisa,
Vai deslocando-se para diferentes atividades e diferentes lugares, alternando trabalho e desemprego. Essa diversidade e segmentação impedem a criação de vínculos estáveis com o trabalho, a família, os lugares. Sua vida está sempre recomeçando. Quase nada é permanente, a não ser a procura cotidiana da sobrevivência, o que torna sua vida extremamente fragmentada. (CLEISA, 2005:36)
Sem corresponder as necessidades atuais do mercado, entram no aglomerado do trabalho informal que cresce a cada dia e se fecha na competitividade diminuindo para muitos a chance de autonomia e sobrevivência. Sem condições esse trabalhador fica a mercê dos amparos paliativos. 
Esse grupo representa uma imagem deprimente e sufocada também pelo alto índice de desemprego que assola o país. Escrever sobre vida nas ruas permitiu a Cleisa explicar a importância de se compreender essa demanda no contexto nacional e mencionar a fraqueza das e políticas públicas direcionadas ao tratamento da questão.
Falar da população de Rua no Brasil, hoje, é falar também de atraso histórico, descaso, ineficiência e até mesmo ausência de políticas publicas e de direitos de setores empobrecidos e oprimidos da sociedade brasileira. Constata-se que, com a crise do Estado, sua parcela de responsabilidade vem se reduzindo. Isto faz que parte da questão social passe a ser enfrentada pela sociedade civil, por meio das organizações não governamentais e fundações, entre outras. (CLEISA, 2005:38).
Os estudos sobre população de rua mostram estes sujeitos morando nas ruas e dormindo nas praças, marquises de lojas, em baixo de pontes, entre outros. Pertencem a um quadro populacional diversificado que aumenta e se altera rapidamente devido a sua frágil mobilidade. 
Com formas próprias de viver fazem da vida na rua uma ligação muito frágil, o pertencer ao espaço da rua é muito vago, não há local definidocomo moradia, apenas como ponto de referência. 
O local se modifica na medida em que saem na busca de segurança para o repouso e também para a alimentação e a higienização. 
Muitos acabam instalando-se nas ruas de outro município devido às tentativas frustradas em conseguir um emprego. Desta forma, a mobilidade pela busca na busca de realização na perspectiva de manter
Um trabalho aceitando condições extremamente precárias para garantir o sustento da família perde a razão de ser para o indivíduo isolado, o que pode reforçar sua mobilidade de um trabalho para outro, de um lugar para outro. As condições de vida desses trabalhadores temporários sem residência fixa e sem família tendem a se deteriorar rapidamente. (VIEIRA, BEZERRA ROSAS, 1994:24)
Constituem uma relação territorial regida pela instabilidade que os obriga a mudar constantemente dos locais habitados, em busca de espaços que representam à possibilidade de sobrevivência. Nessa mobilidade muitos chegam a outras cidades em busca de transformação de sua realidade.
Ao se deslocarem para outra cidade levam as marcas do conflito familiar, da falta de capacitação, da pouca experiência profissional, do preconceito, da alienação e do processo de exclusão social. 
A migração representa uma expectativa de realização e na maioria das vezes desencadeiam processos contínuos de perdas que fortalecem a fixação no espaço da rua.
A ação de migrar é uma escolha feita diante das alternativas que vislumbram, frente às dificuldades que enfrentam. Dentre os objetivos e expectativas esperadas, está associado, prioritariamente, o projeto de sobrevivência, como o definidor da ação. Não se abandona o lugar onde estão fincadas raízes, se ali existem condições para uma vida digna e a satisfação das necessidades materiais para tanto. Como não encontra resposta, o migrante sai em busca de melhores condições de vida no urbano. (BAPTISTA, 1998:27)
A questão torna-se mais grave na medida em que não constroem alternativas suficientemente fortes para desconstruir as alternativas paliativas para o enfrentamento da pobreza genitora do crescimento dessa demanda notada em diversos locais.
Esses sujeitos que não conseguem viabilizar mudanças em suas vidas, circulam em infinitos espaços, vivem em um processo de mobilidade permanente dificultando a mensuração da questão no território nacional. 
1.4– As iniciativa em torno da reversão de um quadro social 
Em 1997, mesmo sem uma diretriz nacional para o enfrentamento da questão, o Município de São Paulo implantou a Política Pública Municipal para população de rua.
São Paulo deu o primeiro passo efetivo na busca de soluções para a problemática dos moradores de rua com a iniciativa da então vereadora e assistente social Aldaíza Sposati.
Aldaísa criou a Lei Nº 12.316/97 visando possibilitar a inclusão social dos moradores de rua.
A Lei foi sancionada objetivando romper com a filantropia, a benevolência, o assistencialismo e a dependência das relações mantidas entre estes sujeitos e a sociedade. Segundo Braga (2006),
A lei e sua regulamentação propõem uma rede de serviços para a reinserção social e a reconstrução da autonomia dos moradores de rua. Segundo artigo 4º da lei, a política de atendimento à população de rua compreende a implantação e manutenção pelo poder público municipal nos distritos da cidade de São Paulo, de serviços e programas com respectivos padrões de qualidade, sendo que o item VIU, do mesmo artigo, cita as Moradias Provisórias, destinadas às pessoas em situação de rua, em processo de reinserção social inseridas nas relações de trabalho formal e informal, porém sem condições de assumir financeiramente os gastos com moradia. Disponível em < http://www.sermelhor.com/artigo.php?artigo=8&secao=espaco> acessado em 02/mai/08
O artigo 4º da referida lei num entendimento básico e expressa que, através do poder público devem ser implantados nos distritos da cidade diversos serviços e programas com respectivos padrões de qualidade para atender os moradores de rua, na perspectiva de emancipá-los socialmente.
Instituem a implantação de moradias provisórias como as chamadas casas de acolhimento, onde uma vez alojados, os moradores de rua são acompanhados e inseridos nas relações de trabalho formal e informal, através do programa da frente de trabalho. 
O mesmo artigo reforça a necessidade de esses sujeitos estarem abrigados devidamente em moradias provisórias. Essas moradias seriam para oportunizar tempo de recuperação e capacitação, bem como, segurança para aguardar condições favoráveis que lhes permitam assumir financeiramente os gastos com sua própria vida e moradia.
O Padre Júlio Lancellotti lidera em São Paulo um movimento atuante na questão da defesa dos direitos da população de rua. Seu trabalho direciona-se na defesa da dignidade, do respeito e no reconhecimento destes sujeitos na sociedade. 
Seus depoimentos retratam que os investimentos do poder público no atendimento a população de rua são frutos dos movimentos sociais encabeçados por grupos e ONGs dispostas na defesa dos direitos destes sujeitos. 
O trabalho efetuado pela equipe de sua Pastoral é dedicado a atender moradores de rua que enfrentam diariamente uma série dificuldades em relação também a falta de empregos, mostrando que não importa nesse momento o caráter assistencialista, pois a fome não é ilusória e muitos moradores de rua necessitam desse atendimento.
Sua ação não é solta no ar. A Pastoral que ao mesmo tempo é parceira do poder público desenvolvendo atividades que deveriam ser assumidas tecnicamente pelo estado, também atua como organismo de controle social junto às autoridades do poder público.
Esta pressão é necessária para exigir do Poder Público, a construção de uma política pública eficaz para o resgate da cidadania desses sujeitos, na pactuacão de estratégias que resultem em experiências concretas, positivas e propositivas no sentido de envolver a sociedade na discussão deste fenômeno social.
Na explicação de Vieira, Bezerra e Rosa a necessidade dessa parceria entre poder público e organizações não governamentais é de extrema importância
O trabalho conjunto do poder público e das ONGs significa hoje possibilidades reais de trabalho uma vez que é resultado da consciência de profissionais e agentes pastorais comprometidos com a realidade social e de uma administração pública interessada em ações inovadoras. (VIEIRA, BEZERRA E ROSA, 1994:156)
A questão da parceria apresenta uma preocupante fragilidade. Nesta relação o poder público transfere suas funções para as ONGs na terceirização dos serviços. As instituições que assumem a prestação de serviços passam por sua vez a executar medidas de atendimento paliativas. 
As ações são positivas, porém inseguras na medida em que não podem oferecer acesso a direitos que dependem unicamente do poder do Estado, pois envolvem questões de saúde, segurança, educação, habitação, transporte.
A cidade de Bauru-SP que possui cerca de 80 moradores de ruas (SEBES) decidiu após estudos, investir na construção da cidadania destes sujeitos, implantando uma casa de referência social. 
Neste equipamento a população de rua receber suas correspondências, tendo acesso à alimentação, cuidados de higiene, inserção em benefícios sociais e apoio psicossocial para construir o processo de mudança em suas vidas.
1.5 – A timidez dos resultados obtidos.
Quando o assunto é em torno do tema "moradores de rua", toca-se em pontos delicados como resgate de cidadania e baixa-auto-estima e assim, somos direcionados a tantas outras reflexões. 
Desta forma, é reforçada a necessidade de se fazer uma leitura direcionada a verificação das possibilidades para a busca de uma ação efetiva e emancipadora no atendimento dessa demanda.
Verifica-se que em geral os resultados são tímidos, uma vez que não é fácil construir uma política pública com capacidade de enfrentamento do processo de exclusão econômica-politica e social.
O que é possível verificar é que muitas cidades já tentaram e continuam tentando amenizar essequadro, mas a questão exige mais do que estratégias de intervenção técnica. Pensar na mudança requer reconhecer o paradigma do direito, constituir a vontade política para emancipar, alocar investimentos financeiros e técnico-operativos para instituir novas práticas sociais.
1.6- A contradição da Política Higienista
Algumas cidades promovem ações simplistas, amenizadoras e imediatistas que resultam em encaminhamentos programados ás redes de serviços sem uma abordagem sobre as relações constituídas nas histórias de vida destes sujeitos.
Outros municípios efetuam ações mais duras visando à erradicação do problema social transferindo esses sujeitos para outras cidades pensando estar resolvendo o problema realizando ações de forma autoritária e desumana.
As questões que envolvem a política higienista é um assunto muito delicado, não só por se tratar de uma prática antiga, desumana e ultrapassada que ainda persiste em nosso cotidiano, mas também por propiciar uma transgressão social, a expressão da violência, onde não existe gentileza e nem respeito humano.
A questão da política higienista, adotada por muitos municípios vem desrespeitando os moradores de rua, em todos os aspectos relevados aos direitos humanos e sociais. 
Para estes casos não existe uma associação entre os moradores de rua e os direitos sociais que a eles deveriam ser atribuidos. Segundo Giorgetti,
Esse tipo de atitude é uma conseqüência direta do predomínio dos interesses privados sobre tudo o que é coletivo. Trata-se da negação dos sentimentos de solidariedade e de respeito. Na sua forma absoluta, constitui a eliminação total do outro e de tudo o que ele contém de diferente, pelo recurso à violência; é o não-reconhecimento da sua existência e de seus direitos. Defini-se, sobretudo, por seu alto grau de radicalismo: os adeptos desse tipo de comportamento querem a eliminação a qualquer custo daquele(s) que, transformando o espaço público em moradia, destrói (em) a harmonia natural da cidade, sujando, enfeando e contaminando tais espaços com todo tipo de doença. (GIORGETTI, 2006:85)
As maiorias das cidades não conseguem esconde a sujeira em baixo do tapete. Reforçam o desinteresse por oferecer condições favoráveis, que incidam em bom atendimento ao morador de rua. 
Assumem a incapacidade de atuar diretamente na questão desses sujeitos efetuando um processo de exclusão, onde o ponto crucial é uma abordagem despreparada e violenta em que a oferta é um transporte obrigatório para outras cidades. 
As falas dos moradores de rua revelam o peso do higienismo. Mostram que estes sujeitos foram expulsos dos municípios em que por muitos anos contribuíram ativamente passando a carregar entre suas trajetórias de vida as marcas das frustrações, das lembranças dos momentos de rejeição e vergonha que lhes imputaram o receio pela volta ao local de origem. Giorgetti menciona que,
Uma concepção autoritária orienta os projetos de lei por políticos adeptos ao higienismo apresentado, cuja principal finalidade é controlar, inspecionar, averiguar e disciplinar a vida dos moradores de rua. Seus horários de circulação na cidade serão fiscalizados e, para exercerem o “direito ao trabalho”, eles devem comprovar sua identidade, seus bons antecedentes e o cumprimento de seus deveres cívicos. (GIORGETTI, 2006,91)
Não há dúvida de que os tempos são outros e os avanços fizeram o país conquistar um respeito de nível mundial nunca visto antes, mas a sociedade brasileira ainda se comporta regressiva quanto à questão social e trás em sua essência as raízes do período escravocrata. 
1.7 – O processo histórico da política higienista.
O processo histórico social mostra que o movimento sanitarista do início do século XX denotava a expressão da desigualdade social. 
Com o passar dos anos o movimento sanitarista deu conta de mudar a concepção higienista no avanço do tratamento das doenças infectocontagiosas estendendo esta visão no combate a desigualdade social. 
Conforme Giorgetti (2006) entre 1910 e 1920 a reprodução das doenças infecto contagiosas estavam associadas às péssimas condições de higiene e saúde sendo interpretadas pelas elites como uma expressão da pobreza.
Demorou muito para que essas propostas de tratamentos fossem aplicadas efetivamente, mas a conquista nesse sentido foi uma batalhada vencida no dia a dia. Os sanitaristas atribuíam a responsabilidade do estado de abandono da população à ausência de políticas sociais. 
As ações coercitivas e repressoras daquela época estavam focadas no intuito de evitar a transmissão de doenças, tendo em vista que não existiam tratamentos e medicamentos disponíveis. Estes procedimentos carregavam uma alta dose de preconceitos e atitudes discriminatórias para com os mais pobres. 
Desta forma, o higienismo absoluto e intransigente tratava de tirar desumanamente o sujeito das ruas, pela coerção física e sem qualquer assistência*, visando apenas limpar a cidade. 
O higienismo relativo, pouco existia e não usava a violência, mas fazia parte de um conjunto permissivo e dissimulado aceitando táticas que apresentavam na aparência propostas direcionadas na resolução do problema, entretanto, na essência apenas sutil de camuflavam sutilmente a questão. Giorgetti explica claramente.
Trata-se de um consentimento dissimulado, carregado de contra-sensos: se aceita a presença dos moradores de rua, destituindo-os de seus direitos. Há um desejo de manter a ordem social e de preservar o status quo prevalece entre aqueles que se enquadram. (GIORGETTI, 2006,91)
Essa abordagem de relatividade é tão prejudicial quanto à outra, pois o higienismo relativo é uma permissão repleta de hipocrisia. 
Desta forma, o morador que está na rua é pressionado de todas as maneiras a abandonar o espaço da rua sem apoio para atender suas expectativas fora da rua. 
Por sua vez, quando institucionalizados a pressão é a mesma, pois sair ou não de um equipamento social por conta da inadequação ás suas normas administrativas também é uma forma higienismo relativo. 
Nesta ótica o discurso do livre arbítrio é contraditório, pois este sujeito tem o direito de partilhar todos os espaços públicos, desde que não permaneça em local proibido, ou melhor, não transforme em moradia a rua, a calçada, o banco da praça, a praia, as marquises, entre outras.
É complexa a relação entre moradores de rua e demais setores da sociedade, inclusive por essa questão higienista, pois com certeza alguém sempre conhecerá uma pessoa que caridosamente doa alimento e/ou roupas usadas a um pedinte que bate em sua porta.
Com o passar dos tempos essa doação é transformada em hábito por ambas as partes e num dado momento passa a causar incômodo. Essa atitude despretensiosa e puramente assistencialista causa muitos transtornos.
Quando o munícipe resolve parar de oferecer o que aparentemente sustenta o pedinte o quadro deixa de ser solidário, pois a ação de cancelar a oferta cria desconforto. 
Nesse instante o pedinte passa a ser um incômodo e o munícipe que em uma atitude assistencialista iniciou o elo de ligação percebe o quanto é difícil romper com esse compromisso, restando apenas à alternativa de recorre aos órgãos públicos para que solucionem o caso. 
A sociedade em geral tem sua parcela de responsabilidade, pois na tentativa de amenizar o sofrimento humano reforça a permanência desses sujeitos nas condições em que se encontram. A sociedade como um todo não tem consciência de seu poder de pressão para transformação da realidade social.
2- MORADORES DE RUA: A EXPRESSÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL.
A questão social que envolve a população de rua é mobilizadora e impossível de ser abordada sem considerar a contextualização do processo sócio-histórico-econômico-cultura que deu corpo a este fenômeno social.
2.1 – Quem são esses sujeitos?
Os moradores de rua constituem um grupo heterogêneo que de forma homogenia carrega o peso da condição absoluta da miséria, estando à margem da sociedade e expressando o fiel reflexo da extrema exclusão social.
Em geral a aparência pessoaldo morador de rua reflete a naturalização e banalização de suas vidas estando visíveis na precariedade de seus trajes, seus cobertores, seus sapatos velhos, quando não estão descalços, além do estado de seus pertences danificados.
São sujeitos pertencentes a uma realidade que expressa fisicamente à imagem de um ser desprovido de direitos sociais, sofrendo cotidianamente preconceitos e violência, aspectos enraizados culturalmente na realidade do país. Segundo Escorel, a população de rua está constituída, em sua maioria, por homens sós.
A vida solitária nas ruas indica a existência de algum distanciamento, ou até um rompimento com o grupo familiar. O afastamento da família, elemento fundamental de apoio material, de solidariedades e de referências no cotidiano, permite uma primeira e basilar configuração da população de rua: é um grupo social que apresenta vulnerabilidades nos vínculos familiares e comunitários (eixo sócio-familiar). (ESCOREL, 2006:103)
A era industrial apresentou marcas crescentes da repressão especificada na difusão de atividades ligadas ao processo de industrialização alargando a dimensão da questão que se tornou ainda maior.
O surgimento das máquinas em substituição ao trabalhador constituiu uma imensa fila de desempregados, que sem perspectivas de sobrevivência se colocaram na condição de permanente de excluídos sociais. 
Ao longo do processo histórico, os avanços econômicos em paralelo aos agravos da questão social levaram as novas configurações e o espaço público, tornou-se um espaço opcional, acolhedor, a única opção para muitos trabalhadores excluídos. 
Isso significa que apesar de ser um acúmulo de contradições, a questão deixa de ser econômica para configurar um quadro de problemas multifacetários na vida destes trabalhadores que sem emprego, excluído da relação de produção entre capital-trabalho, deixaram de ser reconhecido em sociedade na qual tinha um valor de contribuição. 
A questão do desemprego tornou-se o ponto principal da desestabilização destes indivíduos, que sem acompanhar o crescimento econômico sofreram a pressão da falta de qualificação profissional. 
O Trabalhador estando na condição de desempregado, enquanto conduz sua vida precisa se adaptar a uma nova realidade, fica a mercê do trabalho informal, onde muitas vezes não consegue suprir o mínimo necessário para manter sua família, acabando por entrar de forma gradativa à condição de estar nas ruas.
Desempregado o quadro muda e esse trabalhador sem perspectivas profissionais, cada vez mais distantes do mercado de trabalho formal, passa a sentir-se pressionado pelos familiares que se tornam automaticamente os responsáveis pelo sustento familiar. 
Não podendo cumprir com o papel de provedor familiar, aos poucos vai perdendo o seu espaço e liderança dentro do lar. Desta forma, este homem não suporta as pressões e cobranças dos membros da família e acaba por perder a auto-estima, rompendo em seguida com todos os seus vínculos, saindo em busca de outras formas de viver. 
Estando na rua o tratamento que ele recebe não é o esperado, passa a fazer parte de um novo contexto social, onde sua condição coincide com a de muitas outras vitimas de uma sociedade geradora da desigualdade social.
Na medida em que, esses sujeitos encontram formas de permanecerem nas ruas, vão construindo novos vínculos, e em muitos casos acabam por substituir a família em diversos aspectos, seja no companheirismo na hora de beber, seja na proteção na hora de dormir, seja na solidariedade em dividir o alimento e até mesmo o dinheiro obtido no trabalho informal. 
Alguns acabam por se envolver com contextos nocivos, como os envolvimentos com as drogas, o alcoolismo, a violência, a marginalidade e a prostituição. 
No processo de adaptação acabam substituindo as relações familiares por relações amigáveis constituídas no espaço da rua. Esse convívio resulta no processo de fixação no espaço publico e de conformação em viver com o mínimo possível.
Os moradores de rua trazem na intimidade uma bagagem de sentimentos deixados para trás. As rupturas são muitas, as perdas são enormes marcando suas trajetórias de vida imobilizando-os subjetivamente para a construção de novas perspectivas de vida.
Estes sujeitos estão vivendo nas ruas por muito tempo e transmitem a imagem de que desejam permanecer nas ruas, mas em suas historias de rua demonstram o desejo pela mudança de vida. Alguns conseguem vencer o medo, o preconceito, a exclusão e ainda ensinam com a vida nas ruas, o que é existir mesmo sendo ignorado. 
Os moradores de rua são sujeitos reconhecidos por parte da cidade como indesejáveis e tratados de forma desumana, mas são na verdade exemplos de superação da adversidade. Nesta forma de viver mostram o verdadeiro significado de viver nas ruas.
2.2- As formas e o significado de viver nas ruas.
Viver na rua pode tem vários significados para estes sujeitos. Para viver da rua eles escolhem locais que permitam sua busca por subsistência, tentam reorganizar o espaço e acabam por se comportar como se aquela fosse de fato a sua moradia. A apropriação dessas áreas,
Configura um duplo uso: espaço de moradia e de trabalho. Pode-se dizer que ocorre um reorganizar, um reinventar do espaço público e comum, tornando-o quarto/cozinha/oficina, onde a concepção tradicional de casa ceder à outra, que explicita, em certos aspectos, a condição em que vivem a maioria da classe trabalhadora. (VIEIRA, BEZERRA, ROSA, 1994:103)
Uma das formas pelas quais estes sujeitos vivem nas ruas é através da adaptação ao local escolhido para dormir, ficam sozinhos ou se envolvem em um grupo já estabelecido. 
Alguns nessas condições não conseguem trabalho e tentam adquirir meios de suprir suas necessidades mais urgentes, como cigarro, álcool. Acabam por se tornar catadores de recicláveis e efetuam a coleta objetivando apenas manutenção de seu vício.
Tentam encontrar o emprego formal, mas estando sem qualificação e sem documentação (muitos perdem os documentos estando nas ruas) acabam por trabalhar na informalidade efetuando inclusive pequenos serviços além de conseguir extrair pequenos valores com trabalhos através do chamado “lixo limpo”. Nessa situação o
Trabalhador vai se apropriando dos recursos considerados como lixo pela sociedade; é o caso, por exemplo, do catador de papelão e de outros materiais reaproveitáveis. A rua oferece ainda a possibilidade de realização de pequenos expedientes, como carregamento de caminhão em áreas cerealistas, a guarda e lavagem de carros e mesmo pequenos roubos. . (VIEIRA, BEZERRA, ROSA, 1994:104)
Ao contrario da imagem social de que estes sujeitos são pedintes e não gostam de trabalhar, grande parte dos moradores de rua executam pequenos serviços informais, como forma de sustentação individual ou familiar. 
Querem ter a dignidade restabelecida mostrando com isso que buscam o próprio sustento evitando a mendicância.
Uma das questões também presentes nas ruas são os pequenos roubos que podem ou não serem realizados por indivíduos que não são necessariamente moradores de rua causando na sociedade a mercantilização do medo. 
Estas ações acabam por prejudicar aqueles sujeitos que mesmo morando nas ruas tentam ganhar seu dinheiro com dignidade. Sem oportunidade para sair dos eles acabam por buscar a mesma adaptação na tentativa de sobreviver à margem da sociedade e desenvolvem condições específicas para viver nas ruas.
Os autores Vieira, Bezerra e Rosa (1994, p 93-95) esclarecem que essas condições de vida determinam três movimentos entre as situações nas quais se enquadra o morador de rua: eles podem ficam nas ruas, ou estar nas ruas ou serem das ruas. 
De certa forma define-se a questão de ficar nas ruas como um fator circunstancial, estar nas ruas como fator situacional e ser das ruas como fator frequêncial ou referencial. Essas condições aparentemente não apresentam distinção, mas quando compreendidas mostram a sutileza essencial que as diferencia.
Ficar na rua é um processo circunstancial porque apresenta uma condiçãocontrária a vontade da pessoa. Em muitos casos este indivíduo chegou à cidade em busca de emprego, ou para um tratamento médico para si ou algum familiar e não tendo para onde ir recorreu ao espaço da rua aumentando sua vulnerabilidade.
Nesta condição este sujeito efetua tentativas de ficar na rua, mas não gostando da idéia de se adaptar a vida na rua, rejeita a condição de um morador de rua, evitando aproximar-se de outros moradores de rua por sentir-se desvalorizado e com medo tenta dormir em espaços públicos, terminais rodoviários, albergues.
Como tentativa de evitar a rua, procura fazer um trabalho informal (bico) que lhes permita pagar um quarto para dormir ou busca auxílio nos plantões sociais do município em que se encontra. 
No caso da condição de estar na rua trata-se de um fator situacional por esse sujeito estar se colocando de acordo com a situação que lhe é apresentada. Quem está na rua busca adaptação ao meio e não se preocupa tanto com os perigos estabelecendo relações e vínculos com outros moradores de rua como estratégia de sobrevivência. 
Indivíduos com essa característica freqüentam órgãos assistenciais em busca de alimentos, mas ainda assim, buscam meios para mostrar-se apenas estando e não sendo da rua.
Apresentam-se como trabalhador temporariamente desempregado e efetuando pequenas tarefas, também tenta buscar rendimento para encontrar um local para dormir, ou até mesmo vaga nos albergues do município em que se encontra. Ex: Coletores de materiais recicláveis e guardadores de carros.
No tocante ao fator ser da rua, a condição é mais fria e dura, pois estando há muito tempo nas ruas e passando por situações anteriores passivas de alternâncias como os que ficam muito tempo na busca por soluções, sofrem uma degradação entrando em depauperamento físico e mental. Esse desgaste é devido ás precárias condições de higiene, alimentação, incluindo em muitos dos casos o uso contínuo de álcool ou até mesmo o consumo de drogas ilícitas. 
Passando muito tempo nas ruas, esses sujeitos ficam expostos a toda forma de violência. E mesmo usando o discurso de que é um trabalhador desempregado e não possui documentos, ficam cada vez mais longe da possibilidade de um emprego.
Constituem uma nova forma de viver, um movimento que torna a rua seu lar e os companheiros moradores de rua sua nova família. Estes sujeitos não estão mais acostumados à rotina de viver em baixo de um teto e mesmo que sejam encaminhados a um equipamento social, como um albergue acabam por voltar para a rua.
3 – A CIDADE DE GUARUJÁ E SEUS MORADORES DE RUA
Belíssima em diversos aspectos, porém sua beleza não foi brinde, e sim uma conquista natural que ao longo do tempo, se consolidou com a sua formação expressa no mapa da cidade, onde se encontra visível à imagem de um dragão.
As maravilhas de nossa Ilha são partes de um processo de transformação geológica, do qual obtivemos o melhor resultado, ou seja, um local onde a vista torna-se encantadora a cada dia. 
3.1- Guarujá, a pérola que brilha ao sol e seu contexto histórico.
No livro “Pérola ao Sol” há registros de informações riquíssimas sobre a historicidade dessa linda cidade que também é conhecida como “Pérola do sol” e/ou “Pérola do Atlântico”. 
Registros sobre a história da cidade mostram que anteriormente a figura do dragão a formação rochosa das ilhotas próximas lembrava a imagem de uma cobra. A explicação sobre a simbologia é a mais clara definição encontrada até o momento, expressando de forma delicada a origem da imagem que se assemelha a um dragão: 
A imaginação sempre nos leva a identificar um réptil na ilha que nasceu para ser um templo do sol. Mas a verdade é que o processo iniciado há cinco milênios, por intermédio do qual o mar, em seu movimento incessante, uniu várias ilhas rochosas da região, acabou por transformar a cobra e seus filhotes em um imenso dragão alado (DAMASCENO&MOTA, 1988:13)
Sem dúvidas as transformações ocorridas através do tempo deram origem também ás belas praias que surgiram muito depois dessa formação dragonal. O assunto é pouco comentado, mas se observarmos a questão da cobra e seus filhotes, ou seja, se observarmos as ilhotas afastadas perceberemos que é possível identificar o belíssimo Morro da Península como um desses filhos desgarrados e que a mãe “Ilha de Santo Amaro” acolheu juntando-o aos outros.
Este breve conhecimento da origem e constituição da cidade do Guarujá requer um retrocesso histórico mais amplo. É necessário conhecer a cidade para se entender os problemas que ela apresenta em sua totalidade. 
O levantamento histórico permitirá uma aproximação maior do contexto pelo qual se iniciou a caminhada na construção de uma cidade, cujo entendimento de sua importância ao longo do tempo servirá de base que possibilitará a identificação de pontos fundamentais e fatores contributivos para a questão da população de rua em Guarujá. 
3.2 – O retrocesso histórico
A história de Guarujá iniciou-se por volta do ano de 1560. Período este, em que a primeira tentativa de trazer civilização a essas terras deu-se por intermédio do Padre José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. O tempo passou e muitos fatos ocorreram e enriqueceram essa trajetória. 
Anchieta e Nóbrega não entendiam as dificuldades encontradas por Pero Lopes de Souza e outros donatários em iniciar essa colonização e consideravam poucos os esforços para tal feito, ou seja, no inicio haviam capitães desinteressados por essas terras. 
A princípio era apenas “Ilha de Santo Amaro” e teve uma série de administradores. Passaram por essas terras nomes conhecidíssimos da história brasileira como, Martim Afonso, Pero Lopes, Lopo de Souza, Conde de Monte Santo, mas o fato é que, nem mesmo os mais conhecidos que eram também determinados, nem eles obtiveram sucesso nas tentativas de colonização, conforme relato de Damasceno,
As polêmicas se sucediam e, enquanto isso, o processo de colonização sequer engatinhava. Uma fazendinha aqui, outra lá; pequenas plantações de cana, alguns moinhos precários. E passaram Martin Afonso (1535a1571); Pero Lopes (1571a1586); Lopo Lopes de Souza (1587-1610); condessa de Vimieiro (1621-1623); Conde de Monsanto (1623-1679), todos os administradores fugazes de uma terra que insistia em não crescer. (DAMASCENO&MOTA, 1988:33).
Os autores explicam que a Ilha de Santo Amaro confundia-se em alguns pontos com São Vicente, principalmente por interesses particulares. As brigas pela posse da Ilha eram violentas e ultrapassavam fronteiras. 
Esses desentendimentos reforçaram o fracasso na tentativa de colonização, pois ao invés do progresso os investimentos financeiros se perdiam, enfraqueciam e eram reduzidos. 
No ano de 1552 foi construída a mais antiga Fortaleza da Ilha de Santo Amaro, sobre penhascos e diante do mar que dava para o canal de Bertioga. Tratava-se da construção do Forte São Felipe, com a intenção de proteção ás terras santistas, de qualquer invasor pelas margens do canal. A determinação da obra foi por ordem de Brás Cubas, também Fundador da cidade de Santos.
Povoar a Ilha não foi possível e no ano de 1560, Nóbrega e Anchieta já estavam cientes de não obter sucesso na tentativa de civilizar as terras de Santo Amaro. Um dos motivos do fracasso se dava pela resistência dos índios que traumatizados pela perseguição dos portugueses rejeitavam qualquer aproximação. 
A Ilha de Santo Amaro até o ano de 1605 era povoada apenas pelos militares do Forte São Filipe que quase duzentos anos depois (1765) passou por restauração e mudou de nome três vezes, forte São Luiz; Forte São João da Bertioga e São Felipe da Paciência. Atualmente é protegido por dois órgãos, mas o abandono desse patrimônio já foi duramente criticado.
Essas edificações, responsáveis, no passado pela proteção das áreas colonizadas do Litoral Centro-Sul Paulista, não conseguem, no presente, proteger-se da ação do tempo ou de atos de vandalismo. Tais monumentos estão sob proteção oficial da União (Já que são tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,Artístico e Arquitetônico – Condephaat ou pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN). Porém, além da mera medida burocrática visando à sua preservação, os fortes não contam, sequer, com vigilantes. (DAMASCENO&MOTA, 1988:41).
O descaso com o que restou do Forte São Felipe foi motivo de críticas dos fotógrafos da época, pois se tratava de um monumento histórico que carecia de cuidados especiais.
Outro Forte que também é uma das obras de grande importância para historicidade de Guarujá é o Forte da Barra construído no ano de 1584. Essa obra foi feita após a assinatura do Tratado de Tordesilhas e pelo Governo Espanhol que dominava a colônia nesse período. 
O objetivo da construção era evitar a invasão de piratas, e o termo pirataria nessa época, empregava-se realmente aos invasores vindos de longe, com grandes embarcações, e que tentavam através das águas dominarem povoados para saquear alimentos, armas e objetos de valor. Damasceno explica que o primeiro pirata a invadir a baixada foi o inglês Edward Fenton, 
Em área oposta à do Forte São Filipe, encontra-se a Fortaleza da Barra Grande, que ainda está com 80% de sua estrutura intacta, mas que continua sendo vítima de um processo contínuo de destruição, por mãos humanas e pela ação do tempo. A edificação foi projetada após invasão de Santos pelo pirata inglês Edward Fenton. O objetivo era evitar novos atos de pilhagem na região. Não evitou: anos depois, aqui estiveram Thomas Cavendish e Von Spilberguen, entre outros. (DAMASCENO, MOTA, 1988:41)
O Forte da Barra Grande foi construído por receio de novos ataques, porém não deu muito certo e outros ataques vieram.
Aproximadamente em 1670 foi construído outro Forte a Itapema visando proteger a margem oriental de Santos, situado em Vicente de Carvalho. 
Foi utilizado durante todo o século XVIII como unidade militar, centro de orientação naval e também virou depósito de pólvora. Em 1905 foi restaurado e adaptado com um imenso holofote. 
Ficou conhecido até hoje como Farol do Itapema. Seu tombamento se deu no ano de 1981. Porém o início tímido do crescimento econômico está bem atrás desses anos de restauração do Famoso Farol.
3.3- As primeiras atividades econômicas.
Com data aproximada do ano 1700 marcou-se o inicio das primeiras atividades econômicas com o surgimento da Armação das Baleias, que foi a primeira indústria da região construída próximo da estrada de ligação Guarujá-Bertioga.
O local servia de ponto de transformação e envio de produtos extraídos das baleias que eram caçadas em atividades pesqueiras. 
A função da fábrica contribuía economicamente para o desenvolvimento do Brasil Colônia. No extremo norte da ilha, apesar de todas as dificuldades,
Desenvolvia-se uma atividade que seria de grande importância para economia do Brasil Colônia. Tratava-se do beneficiamento dos produtos obtidos da baleia, que era caçada com intensidade no litoral do país. A chamada “armação das baleias” foi construída entre os anos de 1699 e 1700 e até hoje ainda podem ser vistas ruínas, a pouco mais de 100 metros do inicio da Estada Guarujá-Bertioga. (DAMASCENO &MOTA, 1988:33)
Os denominados “grandes cetáceos” depois de abatidos eram levados com ampla utilidade, deles extraía-se a carne, para consumo imediato e o óleo, que foi fonte de luz e iluminou São Paulo, a Baixada Santista e outros centros urbanos do País. 
A fábrica também adquiria a matéria prima para produção de pentes, broches, agulhas de teares e outros objetos utilitários feitos de ossos. 
Essas atividades seguiram até o ano de 1830 e quando perdeu importância os equipamentos de produção foram leiloados. Na fase Colonial surgiam os primeiros desempregados da história de Guarujá. 
Nessa época, de alguma se iniciou um processo de avanço onde surgia o primeiro povoado, só muito tempo depois à cidade adquiriu condição de vila. 
No ano de 1832 foi assinado o decreto imperial e em 1833 chegavam os novos moradores. Foi preciso transcorrer mais de um século,
Para quer surgissem algumas atividades econômicas na região. Ente 1699 e 1700 instalaram-se a armação das baleias, indústria de beneficiamento dos subprodutos daqueles cetáceos. A existência dos engenhos; as indústrias, representadas pela armação das baleias e atividades pesqueiras artesanais, contribuíram para o surgimento de um pequeno povoado, mas transcorreram muitos anos até que Guarujá alcançasse a condição de vila. Isso ocorreu no dia 10 de julho de 1832, através de um decreto imperial. (DAMASCENO &MOTA, 1988:67)
A partir do ano 1833 começou o povoamento da cidade. Entre esses novos habitantes destacavam-se os vindos de Santos, porém os escritores observam que os números de escravos no povoado era maiores do que os colonos. Importante mencionar que já nessa época a cidade atraía muitos estrangeiros. 
As plantações de cana de açúcar eram valorizadas e surgiram engenhos de cana-de-açúcar que juntos com a fábrica favoreceram o surgimento do povoado.
3.4- Referência de progresso.
Quase 60 anos depois do inicio do povoamento de Guarujá, chega Fausto Pacheco Jordão que se tornaria referência de progresso em Guarujá com sua característica idealista. 
Sua percepção permitia identificar avanços gratificantes além da beleza que já era ponto de absoluta admiração e ao verificar as possibilidades de investimentos colocou ótimas idéias em ação. Quando percorria os espaços tranqüilos da ilha,
Elias Fausto fixava-se no belo conjunto formado por águas de cor de esmeralda, areias claras e limpas e um azul de céu de pigmentação inexplicável. O engenheiro enxergava o paraíso. E imaginava que muitas pessoas, de posses, estavam dispostas a conquistarem e um espaço nesse Éden Litorâneo. Elias conhecia outras regiões balneárias. Nascera em Rio Claro, interior de São Paulo, mas estudou no Rio de Janeiro (seu curso de engenharia foi concluído nos Estados Unidos). Tinha condições de comparar paraísos e dar ganho de causa à “Ilha do Sol” (DAMASCENO&MOTA, 1988:68).
Os moradores da ilha conhecidos como Ilhéus observavam discretamente a construção de um hotel, uma igreja, um cassino e 46 chalés, esses empreendimentos despertavam no imaginário do povoado o interesse em oferecer sua mão de obra. 
O idealista Fausto Pacheco Jordão que era presidente da Companhia Prado Chaves e os companheiros, que também faziam parte de sua equipe de trabalho iriam atuar nas ações de progresso da cidade.
Entre os colaboradores de Fausto estava Valêncio Augusto Teixeira Leomil, uma pessoa ilustre que fez história, foi o homem que colaborou, investiu, projetou e deu origem a Guarujá Moderna. Leomil recebeu justa homenagem com seu nome dado á avenida principal do centro da cidade. 
A Companhia Prado Chaves foi responsável pela instalação da linha férrea que conduziria a população entre Pitangueiras (Município) e o Itapema (atual Vicente de Carvalho). Aqueles que se utilizaram do transporte usufruíram de imensa beleza no trajeto.
A via férrea idealizada por Elias Fausto Pacheco Jordão funcionou até 13 de julho de 1956. Nesta época já estava modernizada, com novas composições e sua função não era mais conduzir os elegantes veranistas da Paulicéia. Agora, era o meio de transporte de que se utilizava a população local para locomover-se entre a sede do Município e o Distrito de Vicente de Carvalho. (DAMASCENO &MOTA, 1988:84)
As pessoas desejavam o crescimento econômico tanto quanto os investidores e esses populares desenvolviam funções em qualquer espaço oferecido pelos barões da época que invadiram a ilha. 
Toda a rotina do povoado estava sendo alterada e muitos viam no empreendimento grandes chances de emprego. 
A mão de obra do povoado foi amplamente utilizada e quem tinha uma experiência profissional tinha garantia de trabalhar quando o hotel, o cassino e os chalés estivessem em funcionamento.
A vila balneária iria mudar os destinos da cidade. A começar pela corrida a empregos oferecidos no cassino, no hotel e na estrada de ferro. Não havia, porém, mão de obra suficiente muita gente veio dointerior do Estado, dando inicio, assim, ao processo migratório à Ilha de Santo Amaro. (DAMASCENO &MOTA, 1988:71)
Outro quadro dessa época que remete á reflexão refere-se ao povoado que tinha um contingente pequeno e nem todos tinham qualificação e, desta forma a cidade de Guarujá começou a receber populares em grande quantidade e que vieram de diversos locais do Estado. Iniciava-se então o primeiro processo migratório em busca de emprego para Ilha de Santo Amaro. 
Muitos queriam trabalhar no hotel que impressionava por sua beleza arquitetônica e imagem européia. Porém, quatro anos depois de sua inauguração, a edificação foi completamente tomada por um incêndio. 
Contudo, o povoado e os migrantes não perderiam o prazer de ver esse problema realmente resolvido, pois a Companhia com seus colaboradores construíram outro Hotel, mais seguro e bonito, superando o antigo com todo o luxo e conforto. 
Em 1893 era inaugurada a Vila Balneária com um passeio especial do trem repleto de convidados ilustres. Fausto Pacheco Jordão não parou sua jornada de investimentos na estruturação da cidade que viria a ser exatamente como ele desejava uma das mais visitadas do país. 
Tendo em vista que grande parte do acesso era pelo mar a Companhia Prado Chaves iniciou seu investimento no acesso hidroviário. Em 1911 a empresa encomendou um estaleiro holandês com duas barcas movidas a vapor, conhecidas como Itapema e Paquetá, mas apenas sete anos depois em 1918 surgiram balsas para transportes pesados e de veículos.
Infelizmente a Companhia que tanto contribui para o crescimento inicial encerrou suas atividades em 1926, mas Elias Fausto Pacheco Jordão tornou-se símbolo de perseverança e o verdadeiro exemplo de alguém que acreditou num ideal e tornou possíveis os avanços que o seguiriam dando inicio concreto á cidade do Guarujá. 
Na medida em que a cidade crescia, aumentavam também o interesse de muitos empresários em reforçar seus ganhos. 
No ano de 1927, a linha férrea virou estatal e um tempo depois foi desativada. Antes de encerrar as funções para qual foi destinada, recebeu reforma modernizada para esse período e não com intenção de conduzir os veranistas de São Paulo, mas sim os moradores do Centro até Vicente de Carvalho.
Após parar suas funções a locomotiva que tanto sucesso fez virou atrativo turístico e está até hoje exposta entre as esquinas das avenidas Leomil e Puglise e a frente da maquina em exposição está o busto construído em homenagem ao Fausto Pacheco Jordão.
A partir 1934 encerrava-se a subordinação da Ilha de Santo Amaro para com a cidade de Santos com a emancipação política que se deu na data de 19 de junho de 1934 pelo decreto lei nº6501 e apenas 14 anos depois a cidade seria independente da Comarca de Santos e também elevada á categoria de Município. 
A emancipação da Ilha de Sano Amaro foi resultado da união das elites da época com os moradores da cidade de Guarujá que gerou um movimento discreto configurando essa emancipação conforme explica Damasceno&mota,
Essa união de forças levou à emancipação administrativa, ocorrida em 30 de junho de 1934, por intermédio de decreto assinado pelo então presidente do Estado Armando Sales de Oliveira. A emancipação política viria somente em 1948, quando a cidade passa a ter direito de eleger seu primeiro prefeito, que foi Abílio dos Santos Branco. (DAMASCENO &MOTA, 1988:94)
Outro marco histórico trata-se do “Forte dos Andradas” construído em 1940. Era a principal defesa de entrada para Baía de Santos, cujo nome foi dado em homenagem aos irmãos Andradas (José Bonifácio, Antônio Carlos e Martim Francisco). 
Foram personagens importantes na história brasileira do período imperial e marcaram época na cidade de Guarujá.
No ano de 1946, era construído na cidade o primeiro prédio de apartamentos. Um empreendimento ousado para época e o prenúncio de grandes transformações socioeconômicas e políticas. 
3.5 – As mudanças políticas que marcaram época.
Até o ano de 1947 o prefeito era escolhido pelo presidente do Estado (governador) e na época bastava ser amigo do Governante Estadual Armando Salles de Oliveira para ser nomeado prefeito. 
Alguns que assumiram até preocuparam-se com o desenvolvimento da cidade, um fez calçamento em extensão de praia, outro pavimentou bairro (no centro). 
Renata Crespi foi à única mulher nomeada prefeita, mas seus grandes planos com pretensão e idéias mirabolantes de cuidar da cidade, foram interrompidos.
Ela veio com grandes planos. Mostraria para todos a sua capacidade administrativa. Cuidaria da limpeza de Guarujá, tornando-a mais bonita ainda do que já era. Não foi à toa, portanto, que sua primeira grande providência foi adquirir uma vassoura mecânica. Tratava-se de uma engenhoca, cheia de rolos e roldanas, a qual, acoplada a um veículo, circulava pelas ruas, recolhendo poeiras, ciscos e folhas de árvores caídas. (DAMASCENO &MOTA, 1988:115)
O Presidente Eurico Gaspar Dutra ao assumir sua gestão cortou as chances de Renata Crespi com a intervenção que antecedeu a emancipação política da Ilha de Santo Amaro consolidada em 1947. 
Renata Crespi a prefeita da faxina, governou a cidade por pouquíssimo tempo, pois era apenas uma perfeita representante da camada fina da sociedade que não conseguiu gerir e não suportando a pressão acabou por abandonar a prefeitura em menos de dois meses. 
A primeira grande crise surgia, pois uma cidade onde um dos fatores de geração de renda era o Cassino, não poderia ficar sem esse empreendimento e muitos sofreram, o desemprego se abateu em garçons, cozinheiras, entre outras. 
Alguns pontinhos da desigualdade começavam a surgir, pois essa crise não atingia a burguesia existente e ao contrário eles ficavam mais ricos e aumentavam suas posses. Nesse mesmo ano de 1947, pela Lei Orgânica dos Municípios, em 18 de setembro a cidade de Guarujá tornou-se Municipalizada de fato e, ocorreu então, a primeira eleição para o período que compete entre 1.948 e 1.951, sendo eleito para prefeito o Sr. Abílio dos Santos Branco. 
Durante esses três anos outros avanços ocorreram e no ano de 1949 instalou-se a Câmara Municipal de Guarujá.
Quatro anos depois (1953) era é criado o Distrito de Vicente de Carvalho (antigo Itapema), que viria a ser a área mais importante do comércio da cidade. 
No período que compete à década de 50, muitos fatos ocorreram e deram dimensão de pólo empregatício gerando um grande fluxo migratório. Os moradores que já estavam na cidade traziam seus familiares para engrossamento da camada que povoava o Distrito de Vicente de Carvalho e região. Muitos viam no local a possibilidade de progresso abandonando a situação de miséria que tantos jornais noticiavam sobre cidades do nordeste.
Ao escolher Itapema, ou melhor, atual Vicente de Carvalho, esses migrantes ingressavam também no comércio local e desta forma, o aumento e o desenvolvimento desse setor fazia crescia ainda mais o Distrito e o Município. 
A importância dessa movimentação freqüente na área central do Itapema demandou um pouco de autonomia à cidade, pois o governo do Estado transformava em Distrito municipal de Guarujá, mudando o seu nome de Itapema para Vicente de Carvalho. Damasceno (1988) explica essa autonomia,
O processo migratório intensificou-se nas décadas de 40 e 50. A ponto de a Itapema passar a ter uma população maior que a da sede do Município. Isso propiciou um desenvolvimento maior do comércio e o surgimento de novos núcleos, como, por exemplo, o Parque Estuário. Ser um simples bairro de Guarujá era um status insuficiente para o velho Itapema. E, em 30 de dezembro de 1953, um decreto do Governo do Estado criava o Distrito de Vicente de Carvalho, passando o núcleo a ter direito a um cartório de paz e certa autonomia administrativa. O ato, se por um lado era a confirmação do desenvolvimento da região, de outra forma acabou contribuindo para que ela crescesse mais ainda. (DAMASCENO &MOTA, 1988:105)
Vicente de Carvalho continuava crescendo e entre os avanços da década e com a pobreza sendo identificada, surge

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