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--.::li-.• •·. -·-----~:-· Biblioteca Sede Campus Chile Justiça política : fundamentação de uma filosofia critica Ac. 47841 -R 467826 Ex. 4 Compra - Livraria Curitiba , Nf.: 34735 R$ 39,81-04/01.1010 @ gaoça9 JUSTIÇA POLÍTICA Fundamentação de uma filosofia crítica do direito e do Estado Otfried Hõffe Tradução ERNILDO STEIN Martins Fontes CENTRO UNf~~hWf'q, •• _~9ttf CURITIBA UNI CURITIBA I ' >) ' . ' 15. Estratégias da justiça política- uma perspectiva Do ponto de vista prático-político, a legitimação subsidiá- ria do direito e do Estado levanta uma dificuldade que o discur- so político fuodamental não pode ocultar, mas cuja investiga- ção mais detida ultrapassa sua tarefa: para ajudar a justiça a se tomar realidade, o poder jurldico público recebe o monopólio do poder. Quem possui o monopólio do poder não tem apenas suficiente poder para impor a justiça; ele também possui sufi- ciente poder para recusá-lo. Para ficarmos com a imagem da Justiça: a eSpada que a Justiça carrega é apenas uma espada, portanto, uin instrumento do poder que não está obrigado à justiça, propriamente falando. Como qualquer instrumento de poder, a espada possui dois gumes; ela tem caráter técnico e po- de servir à justiça, mas também pô-la em risco. Mas a espada se converte em um instrumento da justiça quando perde sua duplicidade e, desde o inicio, está obrigada com a justiça. A tentativa de levar a sério esta obrigação prévia é o Estado plitico, no projeto político da modernidade. En- quanto a modernidade radicaliza, do ponto de vista teórico, o discurso da legitimação, ela, do p'onto de vista práticó-político, procura assumir o resultado \lo discurso, a justificação apenas subsidiária na estruturação concreta do poder de direito e de Estado e organizar os poderes públicos efetivamente, de modo que sua obrigação cQm a justiça não fique entregue ao arbítrio de cada setor do poder que aparece. Pois mesmo os detentores do poder não estão inteiramente a serviço da justiça, livres de todas as paixões. Eles também podem "esquecer" suas atribui- ções e buscar o poder por ele mesmo. Além disso, eles não i..;· ,.,...... 412 · JUSTIÇA POLlriCA estão situados além de qualquer co~. mas são, nos confron- tos sociais, eles mesmos interessadose podem então abusar de sua posição privilegiada. .. Pelo fato de os poderes legítimos do Estado não apenas pro- tegerem princípios de justiça, mas também os ameaçarem, fa- lha, de resto, Hobbes com sua teoôa do poder de Estado abso- luto e indiviso, meta fundamental de sua ítlosofia política; a garantia certa da autoconservação e da livre aspiração à felici- dade dos cidadãos. Reconhecer um soberano absoluto seria pois com Locke "considerar os seres humanos tão idiotas que buscam evitar o que podem fazer marmotas, mas são felizes e tomam por segurança serem engolidos por leões" (Second Treatise, § 93). Denomino estratégias de justiça política os múltiplos "mé- todos": os caminhos, forças e procedimentos para comprome- ter (o mais possível) os poderes públicos com a justiça. Visto sistematicamente, eles possuem uma dupla face, o lado volun- tário e o lado cognitivo; aquele se refere à tarelà do reconheci- mento, este à tarefa de determinação do poder jurídico público. Em correspondência, há dois tipos mutuamente complementa- res de estratégias de justiça. Com o auxilio das estratégias de positivação, os princípios da justiça encontram seu reconheci- mento histórico concreto; com o auxílio das estratégias de jul- gamento, as formas juridicas que devem ser reconhecidas são sempre determinadas novamente. A investigação sistemática de ambos os tipos de estratégia se resume numa pragmática moral-pragmática que se vincula à reflexão sobre os fundamentos éiicos do direito e do Estado, para cuja elaboração mais detida a filosofia não tem senão uma competência parcial delimitada. Pois são experiências históri- cas e considerações interdisciplinares que esclarecem de que modo os princípios dà justiça e sua condição de realidade, o poder juridico coletivo, se reàlizam adequadamente no mundo empírico. Por outro lado, a fundamentação do direito e do Esta- do que desenvolvemos poderia ser mal entendida se o proble- ma que leva a questão adiante não for ao menos assinalado (para aspectos parciais das estratégias da justiça, cf. Hõffe, 1979, cap. 14, e Hõffe, 1975). A JUSTIÇA POLiTI CA COMO P RINC/PIO 15.1 Tarefas de positivação a) Garante a democracia os direitos humanos? 413 A democracia, muitas vezes, na medida em que ela é com- preendida como forma de Estado, é valorizada como um mode- lo político em que é suprimida a ambivalência dos poderes do Estado e em que o poder público é organizado de modo a que, desde o começo, seja ela limitada à tarefa de proteção (deixa- mos aqui de considerar o outro aspecto de que a democracia mesma tem um significado de justiça já que os direitos demo- cráticos de co-participação fazem parte dos direitos humanos, portanto, dos princípios médios de justiça). São atribuídos par- ticularmente à influência de um parlamento eleito democrati- camente, à representação popular, à diferença das câmaras al- tas, o interesse e o poder, tanto de frear a dominação absolutis- ta como também de impedir novas formas de um Estado totali- tário, portanto, primeiro, conquistar a liberdade e as liberdades para todo o povo e, em. seguida, proteger imparcial e efetiva- mente o que foi conquistado contra o constante risco de atenta- dos ilegítimos do Estado. Entre os defensores de uma tal teoôa de democracia a ser- viço da justiça e da liberdade. está, por exemplo, Jean-Jacques Rousseau (O contrato social, I 6). Do modo mais incisivo se afirmou na Revolução Francesa que a democracia garante para todos a mesma liberdade. A tese que a democracia seria a úni- ca ou então a melhor forma de Estado para garantir aos homens sua liberdade é fundamentada no seguinte tipo de argumenta- ção (incluo a multidão de variantes definidas antes e depois de Rousseau). Se os parlamentos são eleitos por todo o povo, então sua constituição e legislação garantiriam, por isso, a mesma liber- dade para todos, porque, por um lado, todos colaboram com o mesmo direito na elaboração das leis (confira a regra democrá- tica fundamental one man, one vote) e porque, por outro lado, ninguém decidiria algo prejudicial a ele. Já que a mesma liber- dade de todos remete ao princípio fundamental da justiça, se- l! ,I 414 JUSTIÇA POLITICA gue que a democracia não é apenas, 'O caminho relativamente melhor, mas, até mesmo, o mais seguro para a justiça concreta, e, mais ainda: que a democracia é a forma exata de organiza- ção do Estado de justiça e que não são possíveis tensões entre democracia e justiça. Por mais belo que seja este resultado, a argumentação que a embasa representa uma falácia múltipla. Desconsiderando que também existe um "masoquismo político", a saber, a disposi- ção de assumir sobre si desvantagens, aquilo que não se julga prejudicial, nem sempre, "na verdade", deixa de ser prejudi- cial. Pois as representações momentâneas sobre o útil podem ser perturbadas por falta de informação, por erros sobre con- teúdos fáticos, por julgamento apressado, por expectativas ilu- sórias bem como por diversas barreiras emocionais. Além disso, uão existem apenas perturbações superficiais que po- dem ser controladas através de melhor informação bem como através de técnicas de controle interior (por autocontrole). Tam- bém existem perturbações profundas políticas, neuróticas, psi- cóticas e ideológicas que atuam por conta dos que decidem e deslocam alguns de seus interesses ao espaço de atenção para ele reprimir outros. Finalmente existem efeitos colaterais não previstos, talvez nem mesmo previsíveis, cujo prejuízoultra- passa as vantagens primárias. Em suma, com base nos limites cognitivos ou emocionais dos atores das decisões, pode o apa- rentemente não-prejudicial ser com certeza prejudicial. Afora isso, procedimentos democráticos de decisão são determinados por regras de maioria, mas decisões de maioria são, quando muito, vantajosas para a maioria, mas de modo al- gum, para todos. Mas a maioria pode impor seus interesses à minoria, de modo que a democracia pode se tomar uma varian- te do "direito do mais forte" já criticado por Platão (República, livro I) e por Aristóteles (Política, IV, 4, l29a 15 ss. e passim); devemo-nos proteger também - com Mill (Sobre a liberda- de, introdução)- contra uma "tirania da maioria". Por conse- guinte, devemos concordar com Rousseau, que no terceiro livro do Contrato social ( cap. 4) considera a democracia não simples- mente como a forma adequada de Estado, mas somente sob ' A JUSTIÇA POL/17CA COMO PRINCIPIO 415 condições suplementares. No caso, pode ficar como suposto que as condições de Rousseau são necessárias e suficientes: nenhum partido de Estado, uma assembléia popular em vez de uma representação popular, limitação de seu poder a uma legislação gera~ uma pequena coletividade bem como ampla igualdade dos cidadãos na sua função social e situação econô- mica. Em todo caso, a democracia não é nem uma condição necessária, nem suficiente para a introdução e a proteção dos direitos humanos. A questão dos limites da democracia, considerada do ponto de vista da história do direito e da constituição, não pode ser colocada em termos de como funciona a democracia como "guardiã da liberdade e da justiça" quer a democracia efetiva- mente garanta a liberdade de todos, quer se crie na garantia universal da liberdade pela democracia. Mas a experiência his- tórica provoca ceticismo. Ela nos mostra a escravatura nos Es- tados Unidos, o nacional-socialismo, que, ao mesmo tempo, se confessava adepto do princípio democrático, e -é claro bem menos contrastante - a Igreja do Estado na Suécia ou a proibi- ção dos jesuítas e dos mosteiros, revogada na Suíça apenas nos anos setenta de nosso século. Portanto a democracia apenas não pode abolir aquela "re- gra fundamental da gramática politica": quem possui suficien- te poder para impor a justiça, também tem poder suficiente para recusá-la. b) O Estado constitucional democrático Diante do possível abuso de poder por parte dos poderes democráticos do Estado, naturalmente não se precisa capitular. É, contudo, necessário também fixar limites claros a um poder jurídico democrático: Aristóteles viu os limites nas leis (Polí- tica, IV, 4), portanto, em determinações que não regulam casos individuais, mas certos tipos de casos, e com o auxílio de crité- rios que- sem consideração da pessoa- valem para cada caso que se subsume ao tipo. : -:· 416 JUSTIÇA POLiT1CA Os limites que devem ser postos p,.ra os poderes do Estado podem ser aiDda mais estreitos; também os critérios não po- dem ser escolhidos arbittariamente. )lles devem, pelo contrá- rio, ser conquistados segundo a medida das mesmas regras de segunda ordem, regras que devem satisfazer, por seu lado, ao princípio da justiça e seus princípios médios, os direitos huma- nos. Estes princípios de justiça têm, na democrncia, a função de proteção das minorias e garantem direitos iguais daqueles que não são das mesmas convicções econômicas, sociais, polí- ticas e religiosas ou lingilistico-culturais da respectiva maioria; eles formam um corretivo crítico contra os excessos da sobera- nia, mesmo de um soberano democrático. Para que esta medida seja reconhecida, não apenas em cir- cunstâncias acidentalmente favoráveis, mas, por princípio, é preciso consolidá-la, institucionalizá-la e fazê-la parte com- ponente do direito vigente aqui e agora. Por esta positivação, os direitos humanos não têm mais o ~ignificado de idéias, esperanças e posllilados que podem ser· até justificados, mas que em face da realidade dominante permanecem importan- tes. Também os direitos humanos não são mais simplesmente solenes declarações de intenção, mas, muito antes, uma parte obrigatória da ordem do direito e dQ Estado. Eles perderam o caráter de simples princípios de legitimidade e se tomaram princípios de legalidade. Nisto, se distinguem duas formas de legalização. Nos editos de tolerãncia da nascente modernida- de, direitos humanos, sobretudo a liberdade de religião, são reconhecidos somente por razões de oportunidade e foram no- vamente suprimidos quando a situação política mudou. Em oposição a esta legalização insuficiente, um sério reconheci- mento dos direitos humanos exige que eles .existam não ape- nas juridicamente na forma de tolerãncias gilrantidas gratuita- mente e a cada momento revogáveis. Seu lugar jurídico, siste- maticamente adequado, é a constituição (escrita ou não-escri- ta) e em seu âmbito, aquela parte que está protegida contra as decisões da maioria das colisões que se sucedem. A positiva- ção dos direitos humanos, própria do ponto de vista da teoria da legitimação, não acontece na democracia, mas somente no Estaâo democrático constitucional. ' -~ .I JUSTIÇA POLITICA COMO PRINCIPIO 417 Para destacar o novo, o positivo significado jurídico dos di- R:itos humanos, também se fala de direitos fundamentais. Se- zundo esta convicção terminológica, os direitos fundamentais designam, bem como os direitos humanos, pretensões jurídi- cas válidas pré e suprapositivamente. Apenas falta aos "puros direitos humanos" aquela força jurídica positiva que possuem como direitos fundamentais. Enquanto os direitos humanos e as direitos fundamentais são iguais, sob o ponto de vista de conteúdo, seu modo de existência é diferente. Os direitos hu- .anos são padrões morais, aos quais uma ordem jurídica se deveria submeter. Os direitos fundamentais ao contrário são os cireitos humanos, na medida em que efetivamente são reconhe- cidos por uma ordem jurídica dada. Lá se trata de postulados ético-políticos, os quais, do ponto de vista do tempo e do espa- ço, são universais. Aqui se trata de normas jurídicas que, limi- lldas à respectiva cóletividade, têm vigência positiva. Como mostram numerosas investigações de história e teo- õa das constituições (c( para muitas investigações Schur I 964 cKieinheyr, 1975), o desenvolvimento moderno representa um (lllpel particular no processo da positivação de direitos huma- ms. As primeiras declarações dos direitos fundamentais de lignificado para os direitos humanos se encontram apenas na &ogunda metade do século XVIII. A tradição da declaração de clreitos de liberdade certamente começa muito mais cedo. Mas as muitas cartas medievais de-alforria, como, por exemplo, a Jlagna charta liberta/um (1215) ou a Bula áurea de André 11 ela Hungria ( 1222), não assumem a proteção de direitos huma- DDS, mas garantem a certas cidades e classes direitos particula- RS, e, além disso, vêm "de cima", de um soberano. Esta situa- çio somente se modifica com a Virginia Bi/1 of Rights (I 776). Esta foi lançada "de baixo", pelos ''representantes do bom povo elo Virgínia", e deve, portanto, sua origem ao povo soberano e Diio atribui mais as liberdades a certos privilegiados, ·mas a to- dos os homens. Já que em poucas gerações a maioria dos Estados segue com sanelhantes declarações de direitos fundamentais, parece que Greconhecimento histórico dos princípios médios de justiça é . i I, l: ;~ ., I ... •• ~ ~I ~~ I I 1' 418 JUSTIÇA POUTICA wn processo tardio, mas rápido e, e~ua essência, eucerrado: wna história breve na história universal que dura milênios e centenas de milênios. Examinado mais de perto, deve-se, con- tudo, corrigir este ponto de vista pelos dois lados. A história dos direitos hwnanos não começa nemcom declaração de direi- tos fundamentais nem se encerra com ela. Na idéia de uma "breve história dos direitos humanos" se expressa uma tendên- cia da modernidade a exagerar em sua importãncia. Contra a tentativa de deslocar a história da positivação in- teiramente para a modernidade fala o fato de que o reconheci- mento dos direitos humanos como direitos fundamen1ais é, no melhor dos casos, a pedra que coroa o processo, que não pode- ria ser posta sem aquelas raízes da história do espírito e do direito que devem ser acompanhadas até o iluminismo europeu e as cartas de alforria e que recuam até a filosofia clássica dos gregos, o pensamento helenístico e as concepções religiosas dos judeus e do cristianismo. Apoiando-nos nwn célebre pensamento de Hegel (A razão na história, 62 ss. ), poderiamos ler a história universal como wn progressivo - mas lento - reconhecimento dos direitos hu· manos. Mas esta história, segundo Hegel, não começa com os grandes impérios orientais, nos quais apenas um, o déspota, era líder. Ela começa com a formação de um direito penal (pri- meiro consuetudinário), no qual se representam - ao lado do direito civil - as comunidades jurídicas, desde seu início. Por isso, a primeira grande "onda de justiça", a primeira "onda de positivismo dos direitos humanos" não começa na modernida- de, e tampouco na época do helenismo ou do cristianismo, mas com a formação (mais ou menos formal) de um direito penal que protege, pelas suas sanções, liberdades fundamentais como corpo e vida, honra e propriedade. Com os inícios de tim direi- to penal a positivação de direitos humanos não chegou certa· mente à sua consumação. Pois o direito penal contém determi- nações de séculos que, seja como conteúdos penais (por exem- plo, bruxaria e heresia), seja como tipos de punições (castigos corporais, até torturas), não se compatibilizam com os direitos hwnanos. ' ' ,I A JUSilÇA POL/TICA COMO PRINCIPIO 419 Como segunda etapa no desenvolvimento da justiça, pode- ríamos citar cidades-Estados gregas nas quais reside o poder jurídico público na comunidade de livres e iguais, na qual, contudo, por causa da instituição da escravidão e também da desigualdade jurídica da mulher, o ser humano enquanto ser humano não se tornou sujeito da coletividade jurídica e estatal. No helenismo bem como no judaísmo e no cristianismo se de- senvolve então a idéia da liberdade de todos os seres humanos, aliás, também apenas a idéia. Pois conseqüências jurídicas não são prnticamente tiradas. Paulo, por exemplo, não critica nem a instituição da escravidão, nem a submissão da mulher ao homem. Somente nas revoluções americana e francesa os di- reitos humanos são reconhecidos como princípios positivos do direito e assumidos, então, com maior ou menor rapidez pelos outros Estados. Neste seu reconhecimento jurídico positivo, os direitos hu· manos têm um duplo significado. Primeiro sistematicamente eles são pretensões dos seres humanos mas em face dos outros, secundariamente também são pretensões contra aquela instân· cia que deve proteger as pretensões do Estado. Pois os direitos humanos não são apenas ameaçados por parte dos seres. hurna· nos e, por isso, são protegidos pelo Estldo. Eles também são pretensões ameaçadas pelo próprio "poder de proteção", corpo e vida, por exemplo, por prisão arbitrária, por castigos exage· rados ("draconianos") ou também por medidas inteiramente injustificadas como a tortura E, ainda, um Estado ameaça a propriedade por desapropriação (arbitrária e sem indenização), a ho013 pelo tratamento desigual dos cidadãos, talvez também por exorbitãncia da burocracia, a liberdade de opinião por me- didas de censuras e a liberdade de religião por privilégios e discriminações. As discussões dos direitos humanos da modernidade até mesmo se acendem nestes problemas. Sob as condições do iní- cio da modernidade de urna união de Estado e da Igreja que du· rou por muito tempo, e nas tendências absolutistas dos poderes estatais, os direitos à .liberdade assumem a forma de direitos de· fensivos contra os poderes do Estado; de acordo com a moder- 420 JUSTIÇA POL/11CA na teoria constitucional, são eles dijoeitos públicos subjetivos nos quais o Estado não pode intervir (assim chamado status negativus). E no âmbito destes direitos de defesa, aparecem a liberdade de religião, a liberdade de opinião e a liberdade da pessoa.·( o direito fundamental do habeas corpus: a proteção contra a prisão arbitrária) como os direitos de liberdade mais importantes. Para a positivação destes direitos, a modernidade possui de fato um significado particular. Certamente a idéia de um direi- to de defesa é bem mais antiga, mas ela se articula, por exem- plo, na resistência de Antigona contra o rei Creonte. Mas Anti- gana apela a um direito não-escritivo (divino), enquanto no Es- tado constitucional moderno os direitos de defesa formam uma parte do direito positivo vigente. Assim, a modernidade traz uma segunda onda de justiça, sob o pano de fundo de um longo desenvolvimento da história do espírito e da constituição. Se tomarmos em consideração a longa pré-ltistória da ltis- tória do espírito e do direito das declarações do direito funda- mental, não mais se ·lê a ltistória dos direitos humanos como uma breve história mas como um romance, e particularmente como um romance de desenvolvimento, de progresso constan- te, como um romance de desenvolvimento; sem dúvida, que, desde algumas gerações, está, em princípio, encerrado. Essa maneira de ler é decisivamente mais diferenciada, mas ainda sempre imprecisa. Contra o ponto de vista de um romance li- near de desenvolvimento, fala o fato de que o desenvolvimento constitucional ocidental conhece, ao lado do crescente reco- nhecimento dos direitos humanos, também regressões delica- das. E nisto não é preciso apontar primeiro para as quedas na bárbarie, quedas em que nosso século é extremamente rico. Na assembléia popular e de julgamento, no Thing, por exemplo, todos os homens livres capazes de carregar armas eram iguais, enquanto na Idade Média a importância destes órgãos jurídi- cos democráticos foi enfiaquecida e no fim foi reprimida no começo da modertúdade pelo Estado territorial absolutista. De modo análogo, se lê a história de ROma, ao menos em parte, como uma perda de elementos republicanos eni favor de um ' A JUSTIÇA POLiTICA COMO PRINCiPIO 421 império central. E ainda o cristianismo luta primeiro pela li- berdade da religião, mas, uma vez arvorado à religião do Esta- do, ele abandona logo a tolerância religiosa. Nas situações de dependência dos camponeses novamente encontramos na mo- dernidade não apenas sua supressão, mas primeiro sua exacer- bação. Não em último lugar, tiveram os membros das socieda- des medievais e do começo da modernidade provavelmente mais direitos que os operários das grandes empresas dos pri- mórdios do capitalismo. Enquanto, portanto, por um lado, a história dos direitos hu- manos, de modo algum, mostra um processo de constante pro- gresso no reconhecimento, representa, por outro lado, as de- clarações de direito, de direitos fundamentais como os da Vir- gínia, apenas um aspecto parcial na positivação de princípios médios de justiça. São, por exemplo, compatíveis inteiramente com a continuação da escravidão; mais ainda: a Virgínia faz parte dos Estados nos quais a escravidão é permitida na consti- tuição até a declaração geral da libertação dos escravos ( 1862). Em outros lugares, são privilégios religiosos e discriminações ou a desigualdade de homem e mulher perante a lei, que em parte ainda persistem até hoje. Por isso, uma declaração dos direitos fundamentais é, sob diversos aspectos, primeiro um programa político e não a última pedra na positivação dos di- reitos do homem. As declarações expressas dosdireitos funda- mentais têm, muitas vezes, mais importância programática, por isso um documento constitucional como o Virgínia Bill of Rights, que decreta direito vigente de acordo com seu modelo, não é tão fundamentalmente diferente, como muitos teóricos da constituição crêem, da Déc/aration des droits de I 'homme et du citoyen (1789) da França revolucionária que foi pensada, primeiro, expressamente, como pragmática. Ainda que a positivação dos direitos humanos assuma mais a forma de wna declaração de direitos fundamentais que de um programa político constitucional -em ambos os casos, as pos- sibilidades de vincular tanto a entidade juridica como a entida- de do Estado, desde o começo, a princípios de justiça, não estão esgotadas. Para que a obrigação da justiça chegue a seu 422 JUSTIÇA POLITICA pleno desempenho, existe um instrl)lnental de etapas que co- meça com a garantia constitueional dos direitos humanos e continua na veiculação da legislação com a constituição, bem como o exame desta vinculação pela suprema corte, como um tribunal constitucional. E ainda, o governo e a administração devem estar submetidos à constituição e às leis conformes com a constituição, e esta submissão necessita novamente de exa- me, por exemplo, na forma de tribunais administrativos. Para que as diversas vinculações do poder estatal e seu exame funcionem, os poderes públicos devem ser divididos devendo sobretudo os tribunais ser independentes. Mesmo n~ interior dos poderes individuais se recomenda um controle para o que se faz importante uma ativa oposição, no âmbito d~ atividade legislativa e de governo. À limitação e ao controle do poder serve finalmente aquela "decisão vertical de poderes" que se reahza .nas instâncias de apelação dos tribunais, na es- trutura federalista de uma umdade de Estado e em comunas for- tes econõmica e politicamente. Enfim, é apenas pela rede de malha f' ma do Estado constitucional democrático que o poder público perde, na medida do possível, sua ambivalência. Em lugar da "gramática política" de um poder absoluto, segundo o qual aquele que possui suficiente poder de proteger a todos também possui suficiente poder de oprimir a todos, toma lu- gar, corno nova gramática, um sistema de "checks and balan- ces". Os direitos humanos só alcançam a plena realidade juri- dtca quando o monopólio de poder está com a coletividade, e quando ninguém, nenhuma instãocia, nenhum órgão estatal pos- sui poder ilimitado, mas o poder estatal tem uma múltipla arti- culação e se une numa rede de poderes públicos que se contro- lam reciprocamente. As indicações anteriores de estratégia de positivação da justiça não devem ser supervalorizadas. Elas se tomam muito sumárias não só porque apontam para além de reflexão sobre os fundamentos. Mas também são questões de uma "organiza- ção .de justiça" cuja resposta depende de condições marginais htstonco-culturats. Estas condições, porém, se tomam diferen- tes nas diversas sociedades e se transformam, porque existe A JUSTIÇA POLITICA COMO PRINCIPIO 423 mais de um modelo para converter os princípios médios da jus- tiça no direito vigente aqui e agora. c) Estado mínima/ ou Estado social Contra a legitimação subsidiária de direito e do Estado até agora desenvolvida, se poderia objetar que ela somente justifi- ca um Estado mínima! que se restringe a algumas funções es- treitamente delimitadas, como a proteção contra o poder, o roubo, a trapaça ou a efetivação de contratos (Nozick, 1974, IX), sendo por isso cega em face dos problemas específicos dos séculos XIX e XX, a saber, em face das questões sociais e da proteção do meio ambiente. Uma discussão mais detida desta objeção ultrapassa, certamente, o trabalho de fundamen- tação, sendo, no entanto, permitida uma breve indicação (so- bre a proteção do meio ambiente como tarefa do Estado, cf. pro- visoriamente Hõffer 1981 a, cap. 7). Para a fundamentação de uma responsabilidade social do Estado existem duas estratégias de argumentação. Enquanto uma argumentação absoluta procura demonstrar que a respon- sabilidade social como uma tarefa do Estado, válida, indepen- de dos outros princípios de uma coexistência justa, uma argu- mentação funcional continua a direção da legitimação sofrida até agora. Ela considera o Estado como uma condição de reali- dade da justiça e mostra que sem certos elementos de Estado social as liberdades fundamentais não encontram uma adequa- da realidade histórica. De acordo com a legitimação funcional, o Estado social é uma estratégia de justiça política. A possibili- dade de uma legitimação absoluta certamente se decide apenas após um detido exame dos diversos argumentos. Ela porém não sobressai; permanece, por isso, fora de consideração, no esbo- ço de legitimação que segÜe. A legitimação funcional põe valor .em compreender o Esta- do social não como Estado de bem-estar. Pois a expressão de bem-estar se situa muiio próxima do bem-estar e da.fulicidade. A opinião de que o Estado moderno poderia e deveria ajudar os 424 JUSTIÇA POLfTICA homens a alcançar sua felicidade é,:porém, uma expectativa, talvez até uma promessa de cujo cumprimento o Estado não é capaz, nem autorizado. A legitima~o funcional do Estado so- cial começa, por isso, com uma desmistificação; ela aponta para o fato de que ocasionalmente se insinua, no projeto políti- co da modernidade, um elemento que é, ao mesmo tempo, irreal e ilegítimo. Numa ordem de direito e de Estado, mesmo numa ordem inteiramente justa, somente se decide sobre possibilidades da aspiração humana à felicidade enquanto a escolha e o aprovei- tamento das possibilidades permanece entregue aos indivíduos e grupos. Aquilo por que por fim se vive- a felicidade, a auto- realização ou a humanidade pessoal- resulta apenas do enfren- tamento ativo ou também criativo com as condições que se encontram pela frente. Esta circunslância não sigo i fica certa- mente que as condições do direito e de Estado sejam sem im' portância em face da aspiração hwnana à felicidade. Ao con- tràrio, elas decidem sobre suas condições e limites, a saber, so- bre os possíveis empecilhos e barreiras, talvez até sobre espa- ços nos quais se tornam possíveis formações de identidade, vínculos afetivos e relações pessoais, nos quais se torna possí- vel o aperfeiçoamento da formação e da eticidade humanas, em suma: nas quais se torna possível uma existência com sen- tido. Mas mesmo quando uma ordem juridica e de Estado põe à disposição talvez até espaços de ação para a felicidade, auto- realização e solidariedade humanas, estamos apenas diante de suas condições básicas limitadoras e não de uma realização efetiva. Certamente a rejeição de um elemento mítico que se oculta em muitas esperanças políticas da modernidade não acontece indistintamente. Pois a felicidade por cuja aspiração (pursuit of happiness) os seres humanos têm até um direito, conforme reza a declaração americana da independência, não precisa ser entendida como a "felicidade privada", pela qual o Estado nem pode ser respoosável, nem o serve. Pode também significar uma "felicidade pública", a saber, o direito de poder falar e decidir nas questões da comunidade (confirma Arendt, 1963, p. 152). I .. A JUSTIÇA POLiTICA COMO PRINCiPIO 425 Então, este decreto se desloca para perto daqueles direitos de cooperação democrática que recebem, no âmbito de uma con- tinuação sistemática desta fundamentação, um lugar seguro na teoria da justiça política. Segundo o argumento da teoria da legitimação, de que não existe soberano nato, todos são cida- dãos (adultos responsáveis) ou imediatamente membros das corporações constituintes, legislativas e executivas ou então possuem o mesmo direito de eleger representantes para estas corporações e deixar-se eleger como tais. Os direitos democráticosà cooperação apenas não contêm ainda um elemento do Estado social, mas formam o ponto de partida para sua legitimação funcional-democrática. Assim, a coletividade arca com uma co-responsabilidade para aquelas condições definidoras econômicas, sociais, cultu- rais e políticas sem as quais os direitos à cooperação não po- dem ser realizados como tais ou então somente o podem em parte minima e com muita dificuldade. Analogamente é pensá- vel uma legitimação fimcional do Estado do direito, na qual certas tarefas sociais do Estado são destinadas, como condições definidoras, para o Estado de direito. Ambas as estratégias de legitimação, a estratégia democrática e a estratégia funcional do Estado de direito, não justificam o Estado social in globo, mas mostram que aspectos importantes fazem parte das condi- ções de realidade da justiça política. Não é na democracia constitucional, mas somente no Estado constitucional demo- crático e social que se completa a positivação da justiça. Contra a opinião de que somente no âmbito de uma legiti- mação subsidiària de justiça é defensável um Estado minimal, falam ainda argumentos da teoria das instituições. Assim, a coletividade política é uma instituição de segunda ordem que não apenas coordena instituições primàrias de família etc., mas as relativiza em sua autonomia, a saber, em seu direito e auto- ridade. Com a relativização das instituições primárias não ape- nas lhes diminui a responsabilidade, mas também lhes tira po- der, poder-se-ia exigir "indenização" pela diminuição de poder e exigir da coletividade de ao menos assumir responsabilidade por aquelas tarefas que as instituições como a famHia não mais 426 JUSTIÇA POLITJCA cumprem ou somente cumprem de niodo precário, por causa de sua discriminação de poder. Segundo esta fundamentação, o Estado social aparece como um dever de compensação e uma responsabilidade que não é assumida como tal, mas por consi- derações de justiça. Um outro argumento a favor do Estado social pode ser ex- traído da síntese de necessidade de instituições: como outras instituições, assim também o Estado enriquece, ao longo da his- tória, o núcleo de suas tarefas especificas com uma "roupa- gem" de outras funções. Este enriquecimento não é, ao menos aí, um crescimento ilegítimo, um desenvolvimento injustifica- do, onde consiste de pressupostos e efeitos que fazem parte do cumprimento da tarefa específica. Assim, por exemplo, com base em sua forma individual, uma eniidade de direito e de Es- tado se converte, com o tempo, ein uma comunidade de cultu- ra, sobretudo uma comunidade de destino. Mesmo observações sumárias sobre a positivação dos di- reitos humanos não podem ser interrompidas sem esta indica- ção: nas múltiplas estratégias de positivação é aumentada a chance para a justiça concreta, mas não lhe é dada gar.mtia al- guma. A justiça concreta permanece um objeto de discussão política que por sua vez depende de interesses particolares e potenciais de poder e ameaça. Por isso, pode-se dizer de deter- minadas estruturas constitucionais que são mais justas que ou- tras. Mas aquilo que o Estado, conforme seu conceito de justi- ça, pretende ser, a ilimitada "efetividade da idéia ética'" (Hegel, Filosofia do direito, § 257), não pode ser reclamado por ne- nhuma coletividade empírica, tampouco por qualquer Estado democrático e social. Desta reserva não se pode certamente deduzir que o Estado· se possa "desmascarar com'uma aparên: cia superficial de uma época burguesa". Bem ao contrário, se efetivam num tal Estado condições essenciais da justiça. As condições não são certamente nenhuma garantia para a justiça concreta. Como nenhum Estado empírico é a realidade da idéia ética, não se pode - como Sócrates no Criton ou mais tarde Kant (Rechtslehre, pp. 320ss.; cf. Gemeinspruch, pp.303 ss.) -excluir A JUSTIÇA POLITICA COMO PRINCIPIO 427 a priori um direito de resistência contra poderes do Estado ou, menos pateticamente, uma desobediência civil contra o Esta- do. É claro, contra o Estado da justiça cada resistência é basica- mente ilegítima. Nenhum Estado empírico, porém, ou "Estado natural" se pode denominar "Estado de justiça". Por outro lado, existem no Estado constitucional democrático e social múltiplas possibilidades de contradição, motivo pelo qual uma desobe- diência civil somente pode ser legítima como ultima ratio: em situações de exceção bem singulares e sob condições limito res- tritivas (das discussões recentes, vide Rawls, 1982, §§55 até 59. Dreier, 1985 e outros, também Hõffe, 1981 a, cap. 8). 15.2 Processo de avaliação a) Sobre a reabilitação da faculdade de julgar Tão logo os princípios médios da justiça são institucionali- zados na forma de um Estado constitucional democrático e so- cial apoiados juridica e politicamente por um sistema de deci- são de poderes, multiplamente articulado, se poderia conside- rar resolvida a tarefa das estratégias de justiça e encerrada, em princípio, sua pragmática ético-politica a que é obrigada. Em sociedades pouco diferenciadas e sobretudo estáticas, isto é de fato assim. É claro que ocorrem sempre novas controvérsias sobre como devem ser interpretados os direitos humanos posi- tivados e em geral as determinações juridicas em casos concre- tos. Para sua solução, os tribunais que cumprem sua tarefa conforme o modelo ou uma cultura servem de argumentação e decisão altamente desenvolvida e não, em último lugar, com o auxílio de princípios de justiça processual, como por exemplo audiatur et altera pars ou nemo est judex in causa sua. No Ocidente, contudo, desde a Alta Idade Média, se pôs em ação um processo de diferenciação social que se acelera ao longo da modernidade. As sitnações sociais, outrora relativa- mente homogêneas e estáveis, são dissolvidas e cedem sob mui- tos aspectos a uma sociedade pluralista e dinâmica. Nela a po- .. ·- 428 JUSTIÇA POLinCA sitivação da justiça se converte n~ processo inacabado. Já que as formas da justiça co.ncreta ; serem positivadas não se encontram prontas em lugar algum. a entidade do direito e do Estado, a saber, as manifestações do direito, têm a tarefa de sempre de novo encontrar as formas. Nesta tarefu, pode-se fa- lar de novas estratégias de justiça política; mas aqui não mais de estratégias de positivação mas de avaliação. Os princípios médios da justiça- os direitos à liberdade, os direitos à cooperação e o Estado social (em função da liberdade e da democracia) são facilmente vistos como plano ideal que se deveria se realizar passo a passo, ou como um modelo ideal que se deveria copiar fielmente. Uns, os realistas, acrescentam então - não sem resignação - que a plena realização, respecti- vamente a cópia fiel, não é possível; o que importa é assumir mais ou menos grandes compromissos com a realidade. Os ou- tros, ao contrário, os idealistas, consideram o plano como uma utopia concreta, e segundo seu modelo, todas as situações polí- ticas e sociais teriam que ser progressivamente instaladas. Na verdade, os princípios da justiça são pontos de vista re- lativamente gerais, segundo os quais as situações de direito e de Estado devem ser percebidas como específicas da área e adequadas à situação, avaliadas, projetadas e, fmahnente, re- conhecidas como válidas juridicamente. Os princípios da justi- ça são padrões de avaliação critica para uma faculdade ético- política de julgar. Enquanto sua investigação, na filosofia clás- sica, foi um terna importante- pense-se na justiça da phronesis de Aristóteles -,ela é fortemente descuidada na filosofia mo- derna. Em Maquiavel, por exemplo, a faculdade de julgar per- de sua dimensão ética e também Kant define a prudência como uma competência eticamente neutra que seria responsável pe- los imperativos pragmáticos e que, ao contrário do iinperativo ético oucategórico, tomava como objetivo o bem-estar pessoal ou social. No imperativo ético, ao contrário, ele atribui à facul- dade do juízo, sem dúvida, um certo papel, mas ela deve apli- car as convicções conquistadas moral-filosoficamente aos ca- sos que ocorrem na experiência. Mas como a Kant primeira- mente importa a fundamentação e então.a elabonição .sistemá- ~ A AJSTIÇA POLITICA COMO PRINCIPIO 429 tica de uma "metafísica dos costumes" pré-empírica, esta fa- c*lade de julgar não é examinada mais detidamente. O segundo tipo de estrntégia de justiça política tenta agora tomar nas mãos a tarefa da força do juízo numa esfera parcial da ação pública, a da legislação, não da jurisdição e desenvol- v<Ho, sob as condições contemporâneas de sociedade pluralis- ta e dinâmica. Nisto as estratégias de apreciação da justiça pdítica situam-se na tradição aristotélica da phronesis, na malida em que compreendem a faculdade de julgar, não num se.tido ético neutro ou num sentido não-ético (Aristóteles fala dedeinotes: astúcia, habilidade, de panourgia: astúcia, sapiên- cia). Como a expressão diz, as estrntégias se sentem devedoras denm ponto de vista ético, justamente da justiça política. A investigação das novas estrntégias da justiça inicia, pri- meiro, como :análise do déficit, como critica em uma concep- ção demasiado simples, mnna crítica do paradigma do cálculo de vantagens, assumida da tradição utilitarista e da teoria da ciê.cia. Segundo este paradigma, deve ser encontrada, em si- tuação de preferência de fins dados, uma solução com vanta- g.,.. máximas, a partir de possibilidades alternativas de ação. Mlllo, via de regra, são tratadas tanto as possibilidades alterna- tivas de ação como tambêm as necessidades e interesses dos afetados como dados prévios, com base nos quais se pode ai- caçar a possibilidade da máxima vantagem. Se olharmos para os ternas da política do direito que desen- cadearam no último ou nos dois últimos decênios as grandes pailões, veremos que este paradigma encurta perigosamente a es1rutura para encontrar decisões públicas. Em discussão estavam e estão ainda sempre a humanização do direito penal e do cumprimento da pena, os novos diagnós- tioos e possibilidades de terapia que a pesquisa médica abre ou vulnerabilidade da natureza através de intervenções tecnológi- case a ameaça que delas decorre para o meio ambiente huma- no. Em todas estas teses, estão em jogo, de um lado, certos di- reilos fundamentais ou outros princípios jurídicos já de há muito reconhecidos em princípio, como por exemplo questões da proteção da vida, da liberdade de pesquisa e da propriedade, i 430 JUSTIÇA POLITICA que têm o significado de dados pré;~~ios normativos e não per- mitem um cálculo de vantagens, deles independente. De outro lado, nem está claro o que signific:un, afinal, mais de perto, os direitos fundamentais nas esferns temáticas politicamente dis- cutidas. Em parte, entram em questão diversos direitos funda- mentais, motivo pelo qual é litigiosa a ponderação objetiva dos direitos fundamentais; em parte, o conteúdo dos direitos fun- damentais é demasiado geral para dar uma orientação jurídica suficiente, em face dos novos problemas, por exemplo, as des- cobertas médicas ou também a "sociedade do computador''. Ocasionalmente também devem ser interiormente desenvolvi- dos os princípios básicos normativos válidos até agora; assim, na proteção ao mundo ambiente, por exemplo, deve-se exigir uma justiça além das fronteiras nacionais e para as gerações vindouras ,ou, na proteção dos animais, urna redefirução do status jurídico-objetivo aceito até aqui. Não em último lugar, se trata de tarefas públicas de decisão que se levantam pela pri- meira vez ou aparecem numa ordem de grandeza antigamente inimaginável e que agora têm um efeito retroativo desconheci- do até agora sobre outras esferas de problemas. Por isso, nem as possibilidades alternativas de ações, nem a espécie e o peso dos interesses controversos são dados prévios em cuja base se poderia avançar para um cálculo da vantagem máxima. Como o paradigma do cálculo das vantagens encurta a es- trutura das tarefas públicas de decisão, eu defendo um contra- modelo estruturalmente mais complexo, um processo comum·- cativo de avaliação e também de decisão. Nele estão inseridos aspectos discursivos, como, por exemplo, científicos e, de mo- do secundário, também elementos de cálculo de vantagens. São características do modelo mais complexo de avaliação e decisão três elementos estruturais: um processo comunicati- vo se baseia, em primeiro lugar, numa deliberação que, em face de conflitos práticos (sobre "fins") e teóricos (sobre "meios"), procura um consenso. Como condição de possibilidade da for- mação de consenso, em segundo lugar, pressupõem-se nos par- ticipantes da deliberação a capacidade e a disposição para urna aprendizagem tanto teórica quanto prática, urna aprendizagem i ' A JUSTIÇA POÜTICA COMO PRINCfl'IO 431 que não se realiza pela medida de vantagem e desvantagem, de força e fmqueza. Como condição de possibilidade de comuni- cação e oomo pressuposto da disposição comunicativa de apren- der, deve-se, finalmente, aceitar um momento de reconheci- mento livre e recíproco. Nas diversas etapas dos direitos fun- damentais, nos direitos à liberdade, à cooperação e no Estado social fimcional (democrático e de direito), é desenvolvido mais detidamente este momento de reconhecimento livre e re- cíproco e tomado obrigatório, de ponto de vista do direito po- sitivo. Os processos de decisão comunicativa pensados como estratégias de justiça política pressupõem, por isso, tais princí- pios de justiça e, com eles, um alto nível de justiça concreta. Em face das sempre novas tarefas de decisão, eles procu- ram pelo caminho metódico, alternadamente, ou conservar ou continuar o desenvolvimento do nível de justiça alcançado. b) Discursos ético-políticos Os processos comurucativos de deliberação em favor da jus- tiça (concreta) podem ser denominados discursos da justiça ou "discursos ético-políticos" (Hõffe !98la). Nisto, as contribui- ções do discurso podem situar-se em ruveis distintos e assiunir formas literárias diversas. Não conta apenas a consideração científico-filosófica, mas também o ensaio político ou um pa- recer, nos meios de comunicação. Tematicamente os discursos da justiça naturalmente não es- tão restritos ao último nível da concretização, a "aplicação", adequada à situação dos princípios médios da justiça. Do pon- to de vista temático, iniciam com aquele discurso fundamental da justiça para o qual tentamos aqui um redimensionamento e continuam na determinação dos principias médios da justiça. Os disCUJSOS que se desenrolam no âmbito das estratégias da justiça se costroem, neste nível de discurso, e procuram inter- mediar sm garantia positiva como direitos fundamentais, res- pectivamente como fins normativos do Estado, com as sempre novas pravocações do mundo da vida social e política. '. 432 JUSTIÇA POLiTICA A mediação apresenta uma tare,tà complexa, pois importa interpretar as exigências gerais da função de cada setor especí- fico (por exemplo, a educação, a.saúde ou o meio ambiente natural) e as condições marginais especiais histórico-sociais (a nova siruação das necessidades e as novas possibilidades de ação) medindo-as pelos princípios médios da justiça. Para esta interpretação é necessária la minutie du savoir (Foucault 1971, p. 145), aquele cuidado do diagnóstico e da terapia que se com- promete escrupulosamente com os detalhes e sutilezas, sem o qual não se pode superar a diferença que subsiste entre a gene- rosidade dos princípios e a singularidade da vida. Neste momento do discurso de legitimação, pode-se dar ra- zão a filósofos como Lyotard (1979, cap. 1), quando se volta contraas diversas tendências de uniformização e sustenta uma defesa da pluralidade. Sem dúvida; a tendência à uniformiza- ção não está contida nos principias normativos a que se obrigam as estratégias de julgamento da justiça política, motivo pelo qual, sob este aspecto, a "Despedida do principal" de Marquardt (1981) é por demais apressada. Esta tendência passa a imperar quando se teme o esforço de contextualização, não mais procu- rando realizar diferenciadamente os princípios, através da fa- culdade de julgar, nas conjunturas variáveis das legalidades materiais e dos fatores situacionais. Mas no projeto político da modernidade, de fundamentação e positivação dos direitos hu- manos, não está contida uma renúncia à contexrualização. O voto a favor da pluralidade contra as tendências à uniformiza- ção é por isso legítimo, mas, apesar disso, não necessariamente "pós-moderno", quer dizer, não é nem um sinal nem uma ra- zão para abandonar as conquistas políticas da modernidade. Por causa da superdimensionada complexidade das condi- ções aruais de vida, a saber, por causa de seu alto grim de dife- renciação e sua constante transformação, se impõe elaborar metodicamente as legalidades materiais e suas respectivas con- dições marginais, numa parte essencial com o auxílio das ciên- cias particulares correspondentes. Pode-se aprender, com ore- curso do largo espectro das ciências do direito, da economia, da sociologia, das ciências da natureza, da medicina e da técni- ' A JUSTIÇA POLiTICA COMO PRINCiPIO 433 ca, sob que circunstâncias e condições se colocam hoje ques- tões da justiça e ainda que legalidades materiais determinam as esferas da vida nas quais emergem as questões, não por último, que possibilidades reais existem para resolvê-las. Nonet e Selznick (1978) sugeriram um modelo de desen- volvimento do direito no qual distinguem três estágios de evo- lução do direito. Num primeiro estágio repressivo, dizem, são legitimadas dominação e ordem política. Num segundo estágio autônomo e controlado, o poder e a garantia da integridade do direito. E num terceiro estágio "responsivo" o direito é entre- gue a instituições flexíveis e capazes de aprender que reagem de modo sensível às necessidades sociais e aspirações huma- nas, levam em consideração o saber das ciências sociais, reco- nhecem mecanismos participativos e "repolitizam" o direito. Os discursos ético-políticos aqui esboçados que interme- diam o princípio da justiça, reconhecidos com novos proble- mas jurídicos, têm seu lugar no terceiro estágio do modelo de desenvolvimento apresentado. Pois eles reconhecem o direito como objeto da política e procuram, com base no saber cienti- fico, responder de modo sensível a novas necessidades da so- ciedade. O que diferencia esses discursos do modelo de Nonet e Selznick é que eles comprometem o desenvolvimento do direito mais fortemente com os principias da justiça. Pois não basta reagir de modo sensível às necessidades sociais; também importa, e precipuamente, empreender esta reação de modo justo. Também não é suficiente respeitar o saber das ciências sociais, já que -em oposição a um tal tipo de privilegiar- são necessários outros conhecimentos científicos na política eco- nômica, por exemplo, o econômico, e na política energética, o saber das ciências naturais. E ainda fala contra Nonet e Selznick o fato de que simplificam excessivamente a história do direito e da constituição. E, finalmente, eles permanecem prisioneiros do modelo criticado (vide supra, cap. 14.2) de um poder de Es- tado primeiro selvagem e domesticado. Através do recurso aos conhecimentos empíricos, fogem os discursos ético-políticos de uma falácia normaJivista. Em vez de acreditar poder determinar formas concretas de justiça sem CENTRO UN!VERSlTARlO CURlTIIlA UN!CURITIBA n TDT uvrl<'.l' à ' I I I 434 JUSTIÇA POLITICA análises materiais detalhadas, a expçriência é reduzida em seu papel constitutivo nas estratégias da justiça política. Do mes- mo modo, se evita o erro oposto, a falácia ser-dever-ser, segun- do a qual cientistas particulares, a saber, da área das ciências sociais, crêem poder resolver as questões concretas da justiça somente com base no seu saber específico. Os discursos ético- políticos somente podem ter recurso quando acontece uma co- laboração dos dois lados, o que no nível científico significa um discurso ético interdisciplinar, uma cooperação da ética filosófica com as ciências particulares. Como o discurso fundamental da justiça, assim também os discursos ético-políticos não possuem um significado pura- mente teórico. São discursos práticos que se desencadeiam nos problemas sociais e políticos da época e que querem contribuir para sua adequada solução. Assim, os discursos, do ponto de vista empírico, não acontecem fora da história e de seus múlti- plos fatores determinantes, razão pela qual se desviam, sob diversos aspectos, de um "discurso ideal". Como na esfera aca- dêmica, com relação aos temas e às figuras de argumentação, exercem um certo papel o prestígio, o acesso à mídia, as esco- las e associações, e não em último lugar as modas, os discursos da justiça não estão, no pleno sentido da palavra, isentos de dominação mas pobres de dominação. Além disso, estão sub- metidos a condições de escassez, particularmente sob a pres- são de tempo e das urgências da ação. De acordo com a regra da experiência ars longa vita brevis, as discussões são tenden- cialmente infinitas. As coletividades, porém, esperam por re- sultados para que a justiça no aqui e agora do convívio real, e não no "constante amanhã e depois de amanhã" de uma coe- xistência potencial, desenvolva sua força determinadora. Nesta medida, os discursos ético-políticos não buscam uma "verda- de" por si mesma; eles devem antes resolver problemas que pressionam para a decisão. À urgência da ação do lado da prá- xis, por isso, correspondem, numa falta de evidências do lado da "teoria", os discursos ético-políticos. \ A JUSTIÇA. POLITICA COMO PRINCIPIO 435 c) Aconselhamento político-científico Pelo futo de os discursos da justiça sofrerem da falta de evi- dência e da urgência de ação, atribui-se, facilmente, à retórica, uma função mediadora entre os discursos em si teóricos e sua intenção prática. Pois a tarefa retórica, a arte múltipla de con- quistar alguém para a aceitação de uma opinião, é importante, sem dúvida, para processos de decisão pública. Para as estraté- gias de justiça política ela não é específica. Antes, representa um papel caracteristico a deliberação política. Ela é questiona- da, quando as condições de vida são tão complexas e dinâmi- cas, que nem todo cidadão ou mesmo nem todo político profis- sional pode ter urna visão abrangente delas, sob todos os as- pectos. Nesta situação, exige-se uma competência técnica e me- tódica que em muitos casós somente pode ser oferecida pela ciência. Os processos públicos de decisão podem e devem por isso se valer do apoio científico. Uma deliberação científica que se sitoa no contexto de estratégias de justiça deve preen- cher então certas condições, na infra-estrutura, na estrutura in- terna e na estrutura externa. Por mais variada que possa parecer, em seus detalhes, a infra- estrutura, seu princípio fundamental, é antes trivial: a delibera- ção política científica deve satisfazer aos conhecidos métodos e caracteristicas de qualidade da racionalidade científica. Me- nos trivial é o fato de que as ciências podem oferecer sugestões de decisão, que não são nem claras nem certas. As razões para esta situação residem, em parte, no próprio processo de inves- tigação científica, a saber, na falibilidade de todo conhecimen- tos humano. Em parte, se fundam na teoria particular de uma deliberação por via científica, como na novidade de seus pro- blemas e no caráter interdisciplinaraltamente complexo. Nas estratégias da justiça começam por isso muitas controvérsias, que um certo moralismo facilmente passa por alto - indepen- dentemente do reconhecimento de certos princípios normativos - no diagnóstico empírico da situação do problema, na "análi- se do déficit" e na apresentação neutra, no que respeita à justi- ça, das possibilidades reais de ação. li li 'I 436 JUSTIÇA POLiTICA Como todos os enunciados sobr~.IConhecimento empírico e legalidades, visto de modo principal, em última análise, não são outra coisa senão opiniões que se c;llocam com outtas opiniões e corno para esta disputa das opiniões não existem instãncias de arbitragem absolutas mas, quando muito, relativamente con- fiáveis, as ciências não representam nos processos de encontro de decisão pública, mesmo do ponto de vista imanente à ciên- cia, nenhum outro significado senão o de instãncias negativas. Elas possuem uma espécie de direito de veto, sem dúvida, não um direito de veto político, já que não estão autorizadas a excluir certas propostas de decisão da discussão política. Mas elás possuem uma espécie de "direito racional de veto": com base na multiplícidade de seus conhecimentos materiais e pro- cedimentos metódicos, elas podem eliminar todas as propostas de ação que não satisfazem às exigências científicas de forma- ção consistente de conceitos, de teste metódico na experiência etc. Este procedimento de eliminação conduz, via de regra, a um espaço de solução e somente em casos especiais a uma úni- ca solução. Mesmo nestes casos especiais, não têm as ciências a impor- tãncia de uma instância positiva de decisão. Pois as propostas que elas elaboram pressupõem certos fins e objetivos para os quais os cientistas não têm mais competências de decisão. Elas podem certamente submeter novamente os fms e ol!jetivos aos próprios critérios de qualidade, consistência e precisão, mas de- vem orientar-se nos princípios constitucionais vigentes, também em condições de discussão pública, para disso elaborar a re- presentação de fms que prometem fornecer o fundamento de um novo consenso sócio-político. Pela tarefa de elaborar um consenso de fins para o qual não tem competência de decisão, converte-se uma deliberação po- lítica científica exigente num experimento cujo resultado deve mostrar o que, em cada situação político-social, é possível em projetos de ação que podem valer como "esclarecidos" sob os pontos de vista da justiça, da racionalidade e da deliberação co- municativa. Segundo sua estrutura interna, a deliberação polí- tica é um consenso experimental: uma comprovação de um con- ~ A JUSTIÇA POLiTICA COMO PRINCIPIO 437 senso delimitado válido para a sociedade em seu conjunto, encontrado numa distãncÍll relativa das instâncias políticas, das controvérsias e querelas. Na terceira perspectiva, a estrutura externa, a deliberação política científica somente pode ter bons resultados quando os dois lados, ciência e politica, se aproximam reciprocamente sem um se apoderar do outro. Tanto uma presunção de domí- nio de cientistaS sobre a política como a análoga presunção de politicos sobre a ciência tornaria impossível a busca da tarefa de mediação. A deliberação política científica se volta, por isso, tanto contra uma marginalização da política como ela acontece na afirmação absoluta de discursos ético-políticos, como con- tra um decisionismo, segtmdo o qual as instâncias políticas to- mam sua decisão com livre soberania. Nem os cientistas tomam, assim, as decisões políticas, nem se deixam usar ou usar mal, como ãlibi. Situados sistematicamente entre tecnocracia e expedientes que não convencem, procuram ciência e política, num '"terceiro caminho", IDila cooperação de parceiros e inter- locutores com a preservação dos princípios de cada um. Também através da harmonia e confluência dos dois tipos de estratégia, das estratégias de positivação e das estratégias de deliberação, não se pode garantir a plena realização da justiça política. A convicção de que nenhum Estado natural pode cha- mar-se, nwn sentido irrestrito, "Estado da justiça", permanece válida. Através da articulação destes elementos: os princípios positivados da justiça com a racionalidade científica, com o consenso experimental e as relações de cooperação entre ciên- cia e política, recebem a coletividade uma chance competente de também encontrar e reconhecer, sob as condições atuais de so- ciedades complexas, as formas concretas de justiça política, em suma: de realizá-la historicamente. 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009 00000010 00000011 00000012 00000013 00000014 00000015 00000016 00000017 00000018 00000019 00000020 00000021 00000022 00000023 00000024 00000025 00000026 00000027 00000028 00000029 00000030 00000031 00000032 00000033 00000034 00000035 00000036 00000037 00000038 00000039 00000040 00000041 00000042 00000043 00000044 00000045 00000046
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