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Aula Melanie klein

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Melanie klein
Prof.ª: Rhanielle Rodrigues
Melanie Klein (1882-1960)
Uma das primeiras mulheres psicanalistas (1882-1960)
Incentivada por S. Ferenczi após ser atendida por ele.
Ela comunicou suas observações sobre o desenvolvimento de um menino à Sociedade Psicanalítica de Budapeste e se tornou membro dela. 
Ela identificara desde muito cedo, na conceituação de seu trabalho com crianças, a seguinte contradição: os princípios essenciais do tratamento são os mesmos para todos os pacientes, por um lado; por outro, o psiquismo dos pacientes muito pequenos é diferente, e essa diferença se manifesta pelo brincar. Melanie Klein circunscrevera essa contradição no que denominou de técnica do brincar, ou Play-Technique.
A técnica psicanalítica do brincar e suas descobertas
O que é a técnica psicanalítica do brincar? Comecemos pelo que ela não é em seu princípio. Primeiramente, a técnica do brincar não se reduz à ludoterapia (Play-Therapy), cujo princípio consiste em oferecer ao paciente uma possível ab-reação, uma descarga emocional pela qual ele se libere de um afeto desagradável, por estar ligado à lembrança de um acontecimento traumático que ele repetiria inconscientemente. 
Se existe ab-reação num tratamento de criança, é exatamente da mesma forma que num tratamento de adulto, onde a fala também tem esse efeito de alívio propriamente ab-reativo. 
Isso implica que, no tratamento, o brincar não é uma satisfação das pulsões, como pretendia Hermine von Hug-Hellmuth: “somente o brincar oferece à criança a possibilidade de chegar impunemente até o fim de suas pulsões”. 
Em segundo lugar, a técnica psicanalítica do brincar não se reduz à “observação analítica” (voyeur). Graças a um conhecimento do que seria o papel significativo conferido às pulsões no brincar — por exemplo, brincar de papai-e-mamãe daria à criança a oportunidade de satisfazer a pulsão erótica anal, segundo H. von Hug-Hellmuth —, a observação minuciosa da criança que brinca permitiria compreender seu comportamento. 
O essencial da técnica do brincar está noutro lugar. Segundo Melanie Klein: “Se os meios de expressão das crianças diferem dos adultos, também a situação analítica é diferente com uns e com outros. Mas ela se mantém, nos dois casos, essencialmente idêntica. As interpretações consequentes, a redução progressiva das resistências e o remontar da transferência a situações mais antigas constituem, tanto nas crianças quanto nos adultos, a situação analítica tal como deve ser”.
Qual é, então, a especificidade do psiquismo das crianças pequenas?
Não existe associação verbal: a criança não pode fazer associações livres, como é a regra no tratamento de adultos. Não porque as crianças não saibam falar — às vezes, elas comentam muito bem suas brincadeiras — ou porque não queiram associar. É “que elas não podem fazê-lo, não porque lhes falte a capacidade de traduzir seus pensamentos em palavras (...), mas porque a angústia opõe uma resistência às associações verbais.
O brincar num tratamento adquire o estatuto de cristalização, de compressão metafórica: tem a dignidade do sonho, tem sua configuração, lugar de condensação por excelência: “No brincar, as crianças representam simbolicamente fantasias, desejos e experiências. Para isso empregam a linguagem, o modo de expressão arcaico, filogeneticamente adquirido, com que os sonhos nos familiarizaram”
Para levar o brincar ao estado de formação do inconsciente, para escutá-lo como o analista escuta um sonho, e portanto, para que haja interpretação, o analista deve levar em conta diversos parâmetros, que Melanie Klein expõe de maneira rigorosa.
É preciso guardar os detalhes mais ínfimos do brincar; assim, os encadeamentos aparecerão e a interpretação será efetiva. É necessário levar em conta o material que as crianças fornecem durante a sessão: brinquedo, dramatização, água, recorte ou desenho; a maneira como brincam; a razão por que passam de uma brincadeira para outra; e os meios que escolhem para suas representações. “Todo esse conjunto de fatores, que muitas vezes parece confuso e desprovido de significação, afigura-se-nos lógico e repleto de sentido, e suas fontes e os pensamentos que lhe são subjacentes revelam-se a nós, quando o interpretamos exatamente como um sonho
Uma interpretação gera a ocorrência de outra brincadeira, que por sua vez é interpretada, e assim sucessivamente. Então, a angústia diminui, na criação de uma nova simbolização.
Para Melanie Klein, as condições práticas e teóricas da interpretação são as mesmas na análise dos adultos. Não é a idade do paciente que é determinante, mas é a atitude, a convicção interna do analista que descobre a técnica necessária e apropriada.
A formação arcaica do supereu ou o dever de gozo
Classicamente, o supereu é definido como herdeiro do complexo de Édipo: são as proibições parentais que permanecem inscritas no sujeito após o declínio da relação edipiana. O supereu constitui-se por volta dos 4-5 anos, através da internalização das exigências e proibições.
 Melanie Klein constatou que os pequenos pacientes neuróticos de menos de quatro anos sofriam a influência de um supereu que ela descreveu como feroz, caprichoso, de uma severidade tirânica e implacável.
É que Freud evocou explicitamente o nascimento de um supereu arcaico em 1923, em O Eu e o Isso: por trás do nascimento do supereu esconde-se não a identificação com os pais depois do Édipo, mas “a primeira e mais importante identificação do indivíduo: a identificação com o pai da pré-história pessoal”, ou seja, com o pai-mãe indiferenciado de antes do reconhecimento da diferença entre os sexos, com os pais combinados da cena primária, além dos quais perfila-se a figura do Pai da Horda, aquele que goza com tudo. 
Essa identificação primordial é direta, imediata e mais precoce do que qualquer investimento objetal. A exigência incorporada é esta: “tens que ser como o pai”, como o Pai da Horda, ou seja, “tens que viver, tens que gozar com tudo”.
Depois, as escolhas objetais pertencentes ao primeiro período da sexualidade infantil, que concernem ao pai e à mãe da relação edipiana, vêm reforçar a identificação primária, porém inversamente. O resultado é o supereu edipiano, que vem contrariar energicamente a exigência do supereu arcaico, dizendo: “Não tens o direito de ser como o pai, não tens o direito de fazer tudo o que ele faz, de gozar com tua mãe; tens que viver, mas em outro lugar.” 
Teoria das relações objetais
A teoria das relações objetais deriva da teoria das pulsões de Freud.
 Está relacionada:
A impulsos biológicos (necessidades)
A posição maternal
E o contato nos relacionamentos
As relações objetais são as relações que a criança tem com os objetos ligados à satisfação dos desejos e necessidades, ou seja, pessoas, parte de pessoas (seio) e coisas inanimadas.
Isto estaria ligado ao principio básico da busca do individuo na redução de tensão provocada por desejos insatisfeitos
A vida psíquica da criança 
Como vimos Klein afirma que viemos ao mundo pré-dispostos à aliviar a ansiedade, que resultado do conflito entre as pulsões de vida e de morte.
Isto causa a caracterização das fantasias do bebê entre o bom e o mau - relação com o seio clivado que, ora alimenta, ora deixa de alimentar – isso perdura para o resto da vida.
Posição esquizoparanóide
No começo, era o seio. E o sujeito era o seio. O sujeito só vivia através do seio, sendo o seio (“seio” em seu sentido pleno: a um tempo mítico e salvador em relação ao desamparo do recém-nascido). Mas o bebê, o sujeito, corre o risco de ser aniquilado pelo seio: ou desaparece no seio quando este se acha presente, já que ele é o seio, isto é, existe o nada ou a satisfação alucinatória que o anula como sujeito, quando o seio está ausente. Trata-se de um estado de angústia extrema, primitiva, uma angústia que é sentida como o medo de ser aniquilado e que assume a forma do medo da perseguição. 
Identificamos então uma defesa primária e radical, pela clivagem que divide o seio em bom, ou seja, presente,e mau, isto é, ausente. Mas, ao mesmo tempo que se instala a clivagem, instauram-se os mecanismos da introjeção e da projeção.
Posição depressiva
Com efeito, por volta dos seis meses, o eu da criança vê-se diante da necessidade de reconhecer tanto a realidade psíquica quanto a realidade externa; de reconhecer que os objetos reais e os personagens imaginários, sejam eles externos ou internos, estão ligados uns aos outros. A criança passa a conhecer a mãe como uma pessoa inteira e então se identifica com uma pessoa completa, real e amada. 
A posição depressiva caracteriza-se, inicialmente, pelo lugar, pela posição que o sujeito ocupa em relação à mãe, a quem apreende como uma totalidade, uma forma completa. A criança investe libidinalmente essa forma completa, que se torna objeto de amor, e não mais apenas objeto dos desejos; é o narcisismo secundário.

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