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Dos Municípios Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: 1º Aspectos Gerais Os municípios somente passaram a ser considerados entes federados após a edição da Constituição de 1988. Em sendo entes federados, gozam de autonomia, sendo regidos por suas respectivas leis orgânicas. A opção de inserir os municípios como entes federados é muito criticada pela doutrina, pelos seguintes motivos: a) nenhuma outra federação o faz; b) eles não participarão da formação da vontade nacional (pois não terão membros na Casa Legislativa que representa os entes da federação); c) tampouco serão objeto de intervenção federal acaso afrontem o princípio da indissolubilidade do pacto federativo (são passíveis somente de intervenção estadual). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ De todo modo, os municípios possuem autogoverno, o qual decorre da capacidade de elegerem a chefia do Executivo (os Prefeitos Municipais) e os integrantes do Poder Legislativo (Vereadores). I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País; @direitodiretoblog – Aplica-se o princípio da simetria em caso de dupla vacância do Chefe do Poder Executivo Municipal? O tema proposto aqui gira em torno de saber se o disposto nos artigos 80 e 81 da Constituição Federal são normas de reprodução obrigatória nos Municípios? Os aludidos dispõem o seguinte: Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice- Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ § 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores. Ao analisar o tema, o STF entendeu que os aludidos dispositivos não são de observância obrigatória pelos municípios, não se aplicando aqui o princípio da simetria, competindo as respectivas leis orgânicas a disciplina do procedimento a ser adotado no caso de dupla vacância do chefe do Poder executivo, uma vez que se trata de assunto de interesse local (Art. 30, I, CF). Inclusive, o tema não poderá sequer ser disciplinado de forma subsidiária pela Constituição Estadual. Assim, por exemplo, em relação a ordem das autoridades a serem chamadas em caso de vacância (Art. 80, CF), nada impede que a Lei Orgânica do Município determine que o primeiro substituto ao cargo de Chefe do poder Executivo seja o vereador mais votado nas últimas eleições, ao invés do presidente da Câmara de Vereadores Local. De igual modo, nada impede que a Lei Orgânica discipline que havendo vacância nos três primeiros anos de mandato, haverá eleições diretas, ao contrário dos dois primeiros anos previsto na CF. II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores; https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ 2º Competência Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; a) Competência para fixar o horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais O STF entendeu que os Municípios são competentes para fixar, por meio de lei, o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, uma vez que se trata de assunto de interesse local. STF - Súmula Vinculante 38: é competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. Como cada cidade tem suas peculiaridades, tem seu modo de vida, umas são mais cosmopolitas, com estilo de vida agitado, muitos serviços, turistas. Por outro lado, existem aquelas menos urbanizadas, com costumes mais tradicionais etc. Assim, o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais deve atender a essas características próprias, análise a ser feita pelo Poder Legislativo local. Contudo, esse entendimento possui uma exceção, que ocorre no caso do horário de funcionamento dos bancos. Tanto o STF quanto o STJ entendem que as leis municipais não podem estipular o horário de funcionamento dos bancos. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ A competência para definir o horário de funcionamento das instituições financeiras é da União. Isso porque esse assunto (horário bancário) traz consequências diretas para transações comerciais intermunicipais e interestaduais, transferências de valores entre pessoas em diferentes partes do país, contratos etc., situações que transcendem(ultrapassam) o interesse local do Município. Enfim, o horário de funcionamento bancária é um assunto de interesse nacional (STF RE 118363/PR). O STJ possui, inclusive, um enunciado que espelha esse entendimento: STJ – Súmula 19: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União. Contudo, em que pese as legislações municipais não possam legislar sobre o horário de funcionamento dos bancos, a Legislação municipal poderá tratar sobre outros aspectos relacionados com os serviços bancários disponibilizados aos clientes Nesse sentido, o STF já entendeu que os Municípios podem legislar sobre medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários (ARE 691591 AgR/RS). Exs: tempo máximo de espera na fila (“Lei das Filas”), instalação de banheiros e bebedouros nas agências, colocação de https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ cadeiras de espera para idosos, disponibilização de cadeiras de rodas, medidas para segurança dos clientes etc. Tais assuntos, apesar de envolverem bancos, são considerados de interesse local e podem ser tratados por lei municipal. Resumindo. Lei municipal pode dispor sobre: a) Horário de funcionamento de estabelecimento comercial: SIM (SV 38). b) Horário de funcionamento dos bancos (horário bancário): NÃO (Súmula 19 do STJ). c) Medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários: SIM c) Inconstitucionalidade de lei municipal que disciplina a instalação de empreendimentos comerciais: STF – Súmula Vinculante 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área. II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber @direitodiretoblog – Os municípios podem legislar em matéria ambiental?: em uma análise literal da Constituição, somente a União, os Estados e o DF teriam legitimidade para https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ legislar sobre Direito Ambiental, de forma concorrente, nos termos do art. 24, VI. O STF, contudo, fazendo uma interpretação sistemática Constituição entendeu (ARE 748.206 AgR/SC) que os Municípios podem legislar sobre matéria ambiental, uma vez que lhe foioutorgada a competência para legislar sobre assuntos de interesse local, bem como para suplementar a legislação federal e estadual no que couber. Assim, pode-se afirmar que os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam fundamentadamente, respeitado a disciplina estabelecida pelos demais entes. b) Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana: Vimos que o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, em conjunto a União, os Estados e o DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art.30, I e II, da CF/88). O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas. Entendeu- se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo. Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art.40) e Decreto 2.661/98. (RE 586224/SP). III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. CE não pode impor obrigações para servidores municipais: É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe obrigações relacionadas com servidores municipais. Há, no caso, violação à autonomia municipal. A Constituição do Estado do Rio Grande do Norte previa o seguinte: Art. 28 (...) § 5º Os vencimentos dos servidores públicos estaduais e municipais, da administração direta, indireta autárquica, fundacional, de empresa pública e de sociedade de economia mista são pagos até o último dia de cada mês, corrigindo-se monetariamente os seus valores, se o pagamento se der além desse prazo. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O STF entendeu que o dispositivo é inconstitucional porque a Constituição estadual não pode impor obrigações relacionadas com servidores municipais. A competência para dispor sobre os servidores municipais é do próprio município por meio de sua Lei Orgânica e demais leis. Logo, essa previsão violou a autonomia municipal, consagrada nos arts. 29 e 30 da CF/88 (ADI 144/RN). Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 1º - O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. § 2º - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. @direitodiretoblog - Qual a natureza do parecer emitido pelo Tribunal de Contas acerca da prestação de contas anuais dos prefeitos?: Veja que, pela redação da Constituição, a prestação de contas do prefeito deverá ser julgada pela Câmara Municipal. O parecer técnico do Tribunal de Contas, é meramente opinativo, https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ podendo ser afastado, desde que haja um quorum qualificado de 2/3 dos vereadores. Ocorre que, na prática, após receberem o parecer do Tribunal de Contas, as Câmaras Municipais levam muitos anos para julgar as contas dos prefeitos. Em razão disso, passou-se a questionar acerca da natureza jurídica do parecer: 1ª Corrente: em função de a própria Constituição ter afirmado que o parecer prévio do TC só deixará de prevalecer por decisão de 2/3 dos membros da Câmara Municipal, ele produzirá efeitos até que haja decisão expressa da Câmara pela aprovação das contas do prefeito. A consequência prática dessa corrente é que, enquanto não fosse julgada pela Câmara, o prefeito permaneceria com as contas reprovadas e, com isso, estaria impedido de concorrer em função da Lei da Ficha Limpa (LC 64/90). 2ª Corrente: o parecer técnico do Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa. Logo, enquanto não houver o julgamento pela Câmara municipal rejeitando as contas do Prefeito, não existe nenhum impedimento para que ele concorra às eleições. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O STF adotou a 2ª Corrente. Segundo a Corte Suprema, o parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo (RE 729.744/MG). § 3º - As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei. § 4º - É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais. 3º Formação dos municípios No tocante aos municípios, a Constituição estabelece as seguintes regras: Art. 18.(…) § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei Assim, em primeiro lugar, exige-se a edição de lei complementar, estabelecendo o período dentro dos quais tais hipóteses poderão ocorrer. Cumpre ressaltar que, até hoje, essa lei complementar não foi editada, não sendo cabível a criação de municípios. A segunda exigência consiste na elaboração de uma lei ordinária federal, contendo divulgação dos estudos de viabilidade municipal. O terceiro requisito é a consulta prévia as populações municípios envolvidos,ou seja, não apenas dos eleitores da circunscrição do novo município, mas também daqueles que fazem parte do município originário. Cumpre ressaltar aqui que o STF já entendeu a manifestação plebiscitária deverá ser conduzida pelo TRE e não pode ser substituída por pesquisas de opinião, abaixo-assinados ou declarações de organizações comunitárias (ADI 2.994/DF). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O quarto requisito consiste na elaboração da lei ordinária estadual criando novo município. Assim, como na criação dos Estados, o plebiscito é condição de procedibilidade para o processo legislativo da lei estadual. Se favorável, o legislador estadual terá discricionariedade para aprovar ou rejeitar o projeto de lei de criação do novo município. Em igual sentido, mesmo que aprovada a lei pelo legislador estadual, o governador poderá vetá-lo. Inconstitucionalidade da criação de Municípios sem Lei Complementar federal disciplinando o tema: Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados. Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos Municípios serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18 (ADI 4992/RO). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ EC 57/2008: A exigência de que a formação de novos Municípios depende de Lei Complementar Federal foi imposta pela EC 15/96. Pela redação originária da CF/88, bastava Lei Complementar estadual. A fim de regularizar a situação de muitos Municípios criados sem o advento de Lei Complementar mesmo após a EC 15/96, o Congresso editou a EC 57/2008, acrescentando o art. 96 ao ADCT e prevendo a convalidação desses Municípios. Veja a redação: Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação. Assim, os Municípios criados até 2006, mesmo sem a existência de LC federal, foram convalidados. Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para aprofundamento do tema: – Curso de Direito Constitucional – Marcelo Novelino. - Manual de Direito Constitucional – Nathalia Masson. – Dizer o Direito (www.dizerodireito.com.br/). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/
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