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1 Estrutura e Arquitetura (2010.2) Mauro César de Brito e Silva1 1.1 - Estrutura na arquitetura dos edifícios Muitos fatores, sejam eles de caráter ideológicos ou práticos, podem influenciar um projeto final de arquitetura de um edifício. E a estrutura é de fundamental importância, pois sua principal finalidade é dar forma e integridade a um edifício, e sua contribuição pode ser crucial na realização de uma arquitetura de alto nível. A relação entre elementos estruturais e não estruturais pode variar muito, mas em todos os casos a estrutura será responsável por dar suporte aos elementos não estruturais. Em alguns edifícios as paredes, pisos e telhado também podem ser elementos estruturais, capazes de resistir e conduzir cargas. Em outros edifícios com grandes áreas de vidros nas paredes externas, a estrutura pode ser totalmente separada das paredes, pisos e telhado. A estrutura de um edifício pode estar sujeita a grandes variações. O edifício sede do HSBC em Hong Kong, projeto de arquitetura elaborado por Foster Associates (1979-84), é um exemplo onde a estrutura do edifício, externamente na figura 1.1 e internamente na figura 1.2, está visível. Este exemplo mostra claramente quando o sistema estrutural é parte importante do vocabulário arquitetônico. Figura 1.1 1 Professor Assistente III, Departamento de Artes e Arquitetura, PUC Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil. 2 Figura 1.2 A estrutura também pode contribuir muito pouco na aparência externa do edifício como é o caso mostrado na figura 1.3. O edifício da Staatsgalerie em Stuttgart na Alemanha projetado pelo arquiteto James Stirling (1980-83) tem o sistema estrutural de concreto armado que não é evidente. E apesar da estrutura ter um papel vital na criação de todo complexo, ela não é significativa no vocabulário arquitetônico do edifício. Figura 1.3 Portanto, a estrutura vai exercer papel fundamental e sua necessidade, não importando se ela é visível ou não, deve ser sempre considerada pelo arquiteto nos projetos dos edifícios. 1.2 - Requisitos necessários de uma estrutura Normalmente as ações (cargas) que são consideradas e avaliadas nas edificações são: Gravitacionais ou permanentes: são aquelas causadas pelo peso próprio dos elementos da estrutura e de todos os elementos de caráter permanente ao longo da vida da estrutura; Variáveis ou acidentais: são as sobrecargas decorrentes do uso e ocupação da edificação, tais como: pessoas, móveis, equipamentos, sobrecarga nas coberturas, pressão hidrostática, empuxo de terra, variação de temperatura, e outras; 3 Vento ou variável: são aquelas decorrentes da ação do vento, que podem atuar em qualquer direção e que normalmente tem uma componente horizontal significativa; Excepcionais: são aquelas causadas por explosões, choques de veículos, efeitos sísmicos, etc. Uma estrutura deve ser projetada de tal forma que seja capaz de absorver todas as ações em qualquer direção e se manter em estado de equilíbrio. E, além disso, também deve ser estável. A figura 1.4 mostra a diferença entre equilíbrio e estabilidade das estruturas. A estrutura “A” esta em equilíbrio, mas não esta estável. Entretanto pode se estabilizar a estrutura “A” com a simples inserção de uma diagonal, como esta mostrada na estrutura “B”, e desta forma o sistema estrutural vai estar em equilíbrio e estável. É importante ficar atento para o fato que muitos sistemas estruturais, normalmente estruturas de aço e de madeira, necessitam de um sistema de estabilização tal qual o da estrutura “B”. Figura 1.4 A estabilidade da estrutura da figura 1.4 pode ser obtida de três formas indica a figura 1.5. É claro que todas as soluções têm vantagens e desvantagens. A estrutura com nós rígidos, ilustrado na figura 1.5a, é mais conveniente do ponto de vista arquitetônico, pois oferece espaço livre para o planejamento interno, entretanto do ponto de vista estrutural, ela se torna estaticamente indeterminada, exigindo um conhecimento mais profundo sobre mecânica das estruturas. É possível também obter a estabilidade com a criação de um diafragma rígido, como mostra a figura 1.5b, no entanto o planejamento interno ficará comprometido, pois o diafragma obstrui todo o vão interno, como a diagonal inserida em B da figura 1.4, que obstrui parte do vão. (a) (b) (c) Figura 1.5 A utilização das soluções que obstruem o vão, diafragma e a diagonal, dependerá do projeto arquitetônico. Pois nos arranjos em que múltiplos pórticos são utilizados, como mostrados na figura 1.6, o profissional responsável pela idealização do projeto de arquitetura poderá optar por um 4 dos vãos, porque normalmente não existe a necessidade de que todos os vãos sejam estabilizados. Figura 1.6 Uma simples edificação é mostrada na figura 1.7, a qual também ilustra os carregamentos atuantes na edificação e alguns de seus elementos estruturais: vigas, lajes, colunas e tesoura de cobertura e não estruturais: parede-divisória que são ilustrados na figura 1.8. Os elementos estruturais devem estar devidamente conectados de tal forma que seja possível transmitir as ações (cargas) aplicadas às fundações e conseqüentemente todo sistema alcance o equilíbrio desejado. Figura 1.7 Figura 1.8 É importante entender que o sistema estrutural só será eficiente na medida em que todos os seus elementos estruturais tenham resistência necessária e suficiente para resistir aos esforços solicitantes. A resistência dos elementos estruturais depende da resistência dos seus materiais e da forma de sua seção transversal. Normalmente os elementos estruturais mais resistentes são aqueles compostos de materiais de alta resistência mecânica e uma grande seção transversal, entretanto é possível ter um elemento estrutural muito resistente composto de materiais com pouca resistência mecânica e seção transversal muito grande. Não menos importante que as propriedades que uma estrutura deve possuir: equilíbrio, estabilidade e resistência, uma adequada rigidez é quarta propriedade que deve ser levada em consideração no desenvolvimento do projeto de uma edificação. Todos os materiais estruturais deformam quando solicitados aos esforços internos, causados pelo carregamento externo da estrutura. Portanto, é necessário que a estrutura seja suficientemente rígida para que não ocorram deslocamentos excessivos. Então como a resistência, 5 a rigidez de uma estrutura depende das propriedades do material e da forma de sua seção transversal, e ela deve ser grande o suficiente para evitar deslocamentos excessivos na estrutura. Em suma, os requisitos básicos de um determinado sistema estrutural são: Equilíbrio do sistema estrutural requer a determinação adequada de todos os seus elementos e a consideração de todas as possíveis formas de carregamento, externo ou interno; Estabilidade normalmente obtida através de um sistema adequado de contraventamentos, que é determinado através da analise da geometria do sistema estrutural; Resistência e Rigidez são obtidas através das especificações dos elementos estruturais, e que devem ter materiais e seções transversais adequadas. 1.3 - Tipos de sistemas estruturais 1.3.1 - Viga-coluna (quadro) – a maioria dos sistemasestruturais usados nos projetos de arquitetura de edificações é do tipo viga-coluna ou em quadro, que consiste de um elemento horizontal, a viga, suportado por elementos na vertical, as colunas. A característica deste sistema é que o elemento horizontal, devido às ações gravitacionais, estará submetido a esforços internos do tipo momento, ou seja, estará flexionada. A principal conseqüência quando do uso deste sistema é que o material da viga seja capaz de resistir tanto tração quanto compressão, e neste caso o material recomendado é o aço, o concreto armado, a madeira ou outro material que ofereça as mesmas propriedades. A grande vantagem deste tipo de estrutura é sua maneira simples de ser executada e normalmente um baixo custo de construção. Neste tipo de sistema estrutural os elementos que compõem a estrutura ocupam um volume relativamente pequeno e esta é sua principal vantagem. Este sistema oferece ao arquiteto uma liberdade muito grande em termos de planejamento porque tanto as paredes internas quanto as externas não são estruturais, ou seja, grandes espaços livres podem ser criados internamente e ainda é possível criar diferentes espaços em cada pavimento. A escolha no tratamento externo dos edifícios é muito ampla, e materiais como o vidro podem ser utilizados em diversos locais sem muitas restrições. A principal conseqüência na utilização deste tipo de sistema estrutural é que as cargas estão concentradas nas colunas, que normalmente são esbeltas, e nas vigas, portanto, sendo necessária a utilização materiais resistentes como aço e concreto armado. A figura 1.9 mostra um sistema estrutural composto de vigas e colunas em aço. As vigas dos pavimentos recebem as lajes de piso, que são normalmente de concreto armado e as paredes que não são estruturais. As vigas superiores receberão o sistema de cobertura ou simplesmente lajes impermeabilizadas. A configuração da malha de vigas deste sistema vai depender da forma geral do edifício, sua estética, dos requisitos internos e principalmente do tipo de material utilizado na estrutura, ou seja, aço, concreto armado, madeira, etc. 6 Muitas combinações de diferentes materiais são possíveis de serem utilizadas neste tipo de sistema. Materiais estruturais de baixa e moderada resistência, tais como: alvenaria e madeira, são, portanto materiais que podem ser utilizado neste tipo de estrutura. Figura 1.9 As paredes estruturais na figura 1.10, são normalmente construídas utilizando alvenaria, concreto ou madeira, e impõem algumas limitações à liberdade de planejamento do que o sistema de viga-coluna equivalente porque alguns requisitos estruturais e de planejamento do espaço devem ser levados em consideração na determinação do posicionamento das paredes. Entretanto, as paredes estruturais são mais simples de construir do que a maioria dos sistemas de viga-coluna e consideravelmente mais barato. Figura 1.10 Os edifícios que utilizam paredes estruturais são sistema onde as paredes e os pisos são responsáveis pela condução das cargas, tanto as gravitacionais quanto as de vento, às fundações. O planejamento das paredes deve ser tal que seja garantida um bom desempenho estrutural a todo sistema e obviamente a localização das paredes deve ser mantida em todos os pavimentos. E conseqüentemente o arquiteto deve entender que estas são limitações necessárias deste tipo de estrutura no planejamento interno do edifício. 7 1.3.2 - Abóbodas e cúpulas são estruturas em que os esforços internos são predominantemente axiais de compressão, pois os esforços de tração são muito pequenos. E obviamente elas podem ser construídas utilizando materiais que se comportam muito bem a compressão, tais como o concreto e alvenaria. Duas conseqüências importantes estão associadas a este tipo de estrutura. A primeira delas seria permitir os grandes vãos, dando ao arquiteto liberdade de criação de grandes espaços utilizando alvenaria por exemplo. E esta foi a principal razão da utilização deste material neste tipo de estrutura antes da utilização de modernos materiais como o aço e concreto armado. A segunda e talvez a mais importante na criação de edifícios modernos usando este tipo de estrutura, seria a grande eficiência estrutural comparada aos sistemas onde a flexão é o principal resultado da aplicação das cargas. Figura 1.11 Em se tratando de modernas estruturas, as abóbodas e cúpulas são normalmente usadas em edificações onde se busca a alta eficiência estrutural, tanto em edifícios que requerem grandes vãos como aqueles que precisam ter uma estrutura muito leve. As cúpulas do congresso nacional em Brasília (figura 1.11), projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, são exemplos de estruturas de concreto armado com grandes vãos, e o edifício da “IBM Europe Travelling Exhibition” projetado pelo Arquiteto e engenheiro Enzo Piano, mostrado na figura 1.12 (vista externa) e na figura 1.13 (vista interna) é um exemplo de sistema estrutural que busca a leveza. As justificativas da escolha de materiais como a madeira e o plástico para compor a estrutura foram a leveza e a facilidade de transporte, além da sensibilidade do projetista. Figura 1.12 Figura 1.13 8 1.3.3 - Tensionadas ou suspensas são as estruturas tracionadas equivalente as abóbodas e cúpulas. O esforço interno de tração é o tipo de solicitação que acontece neste tipo de estrutura. Este tipo de sistema estrutural é equivalente as abóbodas e cúpulas, que são estruturas comprimidas como foi visto anteriormente. Os sistemas estruturais tensionados ou suspensos resistem às ações com grande eficiência, e eles são usados em situações onde uma alta eficiência estrutural é desejada. Estas estruturas também são usadas onde os grandes vãos são necessários e a leveza do sistema estrutural é um requisito, como as abóbodas e cúpulas estudadas anteriormente. Um exemplo do sistema estrutural tensionado é o Mercado Aberto de Goiânia, localizado na Avenida Paranaíba, como ilustra a figura 1.14. Figura 1.14 O “Olympic Stadium, Munich, Germany, projetado pelo arquiteto Behnisch & Partner e pelo engenheiro Frei Otto (1968-72)(foto: Ben Van Tongeren, Cruquius.)” mostrado na figura 1.15, é uma estrutura suspensa que consiste em uma rede de cabos de aço que formam uma malha quadrada fina suportada por um sistema de mastros e cabos. Este exemplo deixa claro que o arquiteto pode tirar proveito da eficiência estrutural deste tipo de estrutura quando grandes vãos for um requisito. Figura 1.15 9 1.4 - Materiais estruturais As propriedades dos materiais estruturais influenciam de maneira significativa a forma e o planejamento arquitetônico dos sistemas estruturais nas edificações. E para determinar qual material é recomendado para um determinado sistema estrutural, um estudo individual e detalhado de cada um deles, levando em consideração sua propriedade física e método de fabricação, se faz necessário. E levando isto em consideração é que nestas notas só serão apresentados apenas os aspectos mais gerais de cada um deles. As principais propriedades dos principais materiais estruturais, o aço, o concreto armado, a alvenaria e a madeira, que afetam o desempenho dos elementos que compõem os sistemas estruturais são resistência, elasticidade, durabilidade, seja ela de ordem física ou química, e resistência aos efeitos do fogo. Outras propriedades que não são físicas, mas são relevantes e devem ser consideradas na escolha do material estrutural são: custo, disponibilidade e impacto ambiental. A depredação dasreservas e fontes naturais, poluição e saúde do operário são questões relativas ao impacto ambiental e podem surgir do uso, fabricação e instalação de determinados materiais. Considerando a desempenho estrutural, a resistência provavelmente deve ser a mais importante das propriedades citadas anteriormente. Entretanto as relações resistência-peso e resistência-elasticidade são também significativas porque determinam a eficiência do uso de um determinado material. Dos quatro materiais estruturais, o aço e o concreto armado podem ser considerados materiais de alta resistência enquanto a madeira e a alvenaria são os de baixa resistência. Cada um deles tem propriedades próprias e conseqüentemente tem seu melhor desempenho em determinados sistemas estruturais. Figura 1.16 A fabricação e o acabamento são outros fatores que vão influenciar na escolha do material apropriado para um determinado sistema estrutural. Estes fatores determinam em que tipo de produto determinado material vai estar disponível. A estrutura de aço nasce da montagem de um conjunto de elementos, os perfis e as chapas, produzidos nas unidades laminadoras das usinas siderúrgicas. São transformados em elementos estruturais nas fábricas de estruturas e finalmente montados na obra, compondo a estrutura 10 propriamente dita. A estrutura de concreto moldado “in loco” é inteiramente diferente das estruturas de aço. O concreto é semilíquido e a estrutura toma forma na obra, sendo predominante monolítica e fortemente hiperestática. O mais forte dos materiais estruturais é o aço, cerca de 20 vezes mais forte que a madeira e 10 vezes mais forte que o concreto, e isto faz com que ele tenha um ótimo desempenho em edifícios altos e pontes de grandes vãos. Sendo esta uma das principais características do aço, é possível conseguir edificações com elementos estruturais muito esbeltos e com baixo volume de material estrutural. Fazendo dele um material de grande versatilidade e muito utilizado em estruturas do tipo viga-coluna (quadro) como mostrado na montagem da estrutura na figura 1.16. A maioria das estruturas de aço tem geometria regular e retilínea, e são formadas por perfis laminados ou soldados, sendo “ ” e “H” os tipos que são muito utilizados como vigas e colunas dos edifícios. Outro tipo de perfil muito utilizado neste tipo de estrutura são os perfis de chapa dobrados que normalmente são usados em estruturas leves e de cobertura. A figura 1.17 mostra um detalhe de encontro entre uma coluna, em perfil soldado tipo “H” e as vigas, em perfil soldado do tipo “ ”. Figura 1.17 Apesar dos perfis em aço terem geometria retilínea é possível fabricá- los também em formas curvas. Entretanto levando-se em consideração o sistema de pré-fabricação utilizado neste tipo de construção, faz-se necessário a utilização de elementos estruturais regulares e repetitivos, apesar de algumas edificações serem irregulares e curvilíneas. Assim uma estrutura de aço de um edifício tem uma forma relativamente simples, e o arquiteto terá uma liberdade muito grande no que diz respeito ao planejamento do interior e do tratamento externo da edificação. O interior pode ser subdividido com paredes não estruturais e ainda pode existir um planejamento individualizado por pavimento. Portanto as estruturas que utilizam o aço como material estrutural tem como grande vantagem a alta resistência do material, e que com sua alta relação resistência-peso fazem dele um material de utilização muito ampla. O aço é um material produzido nas siderúrgicas, que permite que suas dimensões e controle de qualidade sejam cuidadosamente controlados. As estruturas de aço utilizam componentes pré-fabricados que 11 conseqüentemente faz da montagem delas um processo rápido e simples mesmo em locais em que as condições de trabalho não são apropriadas. E devido ao desempenho do aço como elemento estrutural as estruturas que utilizam este material oferecem ao arquiteto a possibilidade de obterem-se edificações muito elegantes, pois são estruturas de grande precisão com elementos estruturais muito esbeltos. Normalmente o custo básico das estruturas de aço são maiores do que as equivalentes em madeira ou concreto armado, entretanto o tempo de construção reduzido pode ser um fator compensatório. Outra desvantagem é que a maioria dos aços não estáveis quimicamente fazendo dele um material em que a proteção contra corrosão seja uma necessidade. O aço perde sua capacidade de receber cargas quando a temperatura é maior que 500oC o que significa que a estrutura entrará em colapso na eventualidade de incêndios, ou seja, a necessidade de prover uma proteção contra fogo a estrutura pode se torna problemática se existe uma intenção de ter a estrutura exposta como parte da expressão arquitetônica. O concreto é outro material estrutural muito versátil. Ele tem uma boa resistência à compressão e uma baixíssima resistência a tração. Mas tem uma excelente resistência ao fogo e uma boa durabilidade. O concreto é disponibilizado na forma semilíquida e esta característica faz com este material permita uma grande variedade de formas e também permite que outros materiais sejam incorporados ao elemento de concreto. O mais importante deles é o aço, que em forma de barras circulares de pequeno diâmetro é normalmente o material que é incorporado, sendo o conjunto formado por concreto e aço denominado por concreto armado. O concreto armado tem menor resistência mecânica que o aço, os elementos em concreto armado equivalentes ao de aço são geralmente mais volumosos. E como as estruturas de aço, as estruturas de concreto armado são muito usadas como estruturas do tipo viga-coluna (quadro) de geometria regular e, portanto oferecem vantagens similares as estruturas de aço no que diz respeito ao planejamento interior e tratamento exterior do edifício. (a) (b) Figura 1.18 O concreto pode tanto ser moldado no local definitivo da edificação e neste caso a estrutura então é conhecida como concreto moldada “in loco”. O concreto também pode ser moldado numa fabrica e assim como as peças das estruturas de aço, elas são transportadas até o local final da edificação e montadas. Neste caso a estrutura é conhecida por concreto protendido. As peças de concreto protendido podem ser pré-tensionadas quando a tensão das barras de aço ocorre numa fabrica, ou pós-tensionada quando as barras 12 de aço são tensionadas no local da obra, ou seja, “in loco”. Na figura 1.18 é possível visualizar os dois tipos de elementos protendidos. Em (a), no sistema pré-tensionado, as barras de aço são tensionadas, o concreto então é moldado e na seqüência as barras de aço são cortadas resultado em um elemento curvo pré-tensionado. Já em (b), no sistema pós-tensionado, a peça de concreto é moldada na fabrica como dito e são deixados dutos no interior da viga pré-moldada, onde as barras de aço são colocadas e então tensionadas “in loco” As estruturas de concreto armado permitem que o arquiteto possa elaborar projetos de edificações de formas complicadas. E diferentemente das estruturas de aço, continuidade entre os elementos estruturais é facilmente conseguida resultando em estruturas hiperestáticas. Em suma, geometrias irregulares podem ser exploradas, tanto no plano quanto na seção transversal das peças, com lajes em balanço, e elementos com formas afiladas e curvilíneas podem ser construídos mais facilmente em concreto armado do que em aço. Como exemplo a figura 1.19 mostra o complexo que forma a prefeitura de Toronto no Canadá. O projeto arquitetônico foi concebido pelo Finlandês Viljo Revelle o projeto estrutural por John B. Parkin Associates. Esses edifícios demonstram como a arquitetura e a engenharia podem em conjunto desenvolver edificações usando uma das vantagens do concreto armado que é a moldagem “in loco” de estruturas não lineares. Figura 1.19 Portanto, apesar do concreto ser um material versátil e permitir diversas formas, tais como as curvilíneas, a construção das estruturas de concreto armado é geralmente complicada porque envolve a construção de outra estrutura de madeira que deve ser montada no local da obra para que os elementos sejam moldados. Outra desvantagem é a necessidade de espaço para armazenamento das fôrmas de madeira e das armaduras de aço, e isto pode ser um problema se o local da obra for pequeno e congestionado. A alvenaria é outro material estrutural que tem sido utilizado na construção de edificações antigas e a história do seu uso compreende edifícios em quase todos os estilos arquitetônicos. É um material composto por materiais sólido tais como: tijolos, pedras, blocos de concreto e azulejos de argila que quando assentados em argamassa formam o sistema estrutural 13 conhecido por alvenaria estrutural. A alvenaria não é um material elástico e tem uma resistência moderada a tensões de compressão, mas pouquíssima resistência a tensões de tração. Portanto é um material estrutural que deve ser utilizados em estruturas onde os seus elementos são predominantes solicitados a compressão axial, tais como as paredes, pilares, arcos, abóbodas e cúpulas. Estes elementos estruturais que tem baixíssima resistência a tensões de tração romperam quando submetido a tensões axiais de tração provenientes de tração, pura ou causada por flexão. E em casos que seja necessário projetar elementos que são solicitados a cargas que provocam tensão de flexão, estes devem ser projetados com adoção de dimensões generosas da seção transversal do elemento estrutural e vãos muito pequenos no seu sistema estrutural devem ser adotados, de tal forma que as tensões de tração do material sejam muito baixas. E se o elemento estrutural é solicitado a cargas que provoquem uma combinação de tensão de flexão e tensão de compressão, ele deve ser modelado de tal forma que sua tensão de tração devido à flexão nunca exceda as tensões de compressão. E isto geralmente é feito com adoção de elementos de grande espessura. As alvenarias também podem ser utilizadas onde a intensidade de cargas que provocam flexão é razoavelmente alta, tais como as paredes altas ou longas sujeitas a cargas de vento ou paredes altas que suportam abóbodas ou cúpulas. Nestes casos varias medidas podem ser tomadas de tal forma que seja possível manter um volume de alvenaria em níveis aceitáveis. Normalmente, outros elementos estruturais, como o aço, podem ser utilizados com o objetivo de dar condições às inovações arquitetônicas e obviamente fazer com que a estrutura de alvenaria tenha um funcionamento estrutural adequado. É importante entender que formas que são apropriadas as estruturas de alvenaria são também aquelas que podem ser idealizadas utilizando qualquer material com propriedades similares, ou seja, materiais com moderada resistência as tensões de compressão e com baixíssima resistência as tensões de tração ou flexão, e o concreto é um exemplo de tais materiais. Finalmente as alvenarias exibem uma combinação de boas propriedades que produzem edificações de boa aparência e duráveis. É razoavelmente de alta resistência a compressão, de baixo custo, de boa resistência aos efeitos do fogo e com desempenho muito bom no que diz respeito a isolamento térmico e acústico, o que faz deste tipo de material ideal para paredes estruturais, sendo um material estrutural muito utilizado em diversos tipos de edificações residenciais. Figura 1.20 14 Como exemplo de edifícios que utilizam este tipo de estrutura, a figura 1.20 mostra a “Casa Pfaffli, Lugano, Switzerland, projetada pelo arquiteto Mario Botta (1980-81), foto: E & F McLachlan”, que consiste de paredes de alvenaria estrutural suportando elementos horizontais de concreto armado. Outro exemplo de edificações utilizando alvenaria estrutural é o edifício de múltiplos andares do “St. Paul’s Hospital” em Vancouver, BC no Canadá ilustrado na figura 1.21, que foi projetado por “Gardiner & Mercer”. Figura 1.21 O quarto material estrutural que tem propriedades similares ao aço e ao concreto armado é a madeira, e com boa resistência tanto a tração quanto a compressão ela é capaz de ter bom desempenho estrutural assim como aço e o concreto armado. E, portanto é capaz de resistir a cargas que provocam flexão, fazendo da madeira um material estrutural que pode ser utilizado em quase todos os tipos de sistemas estruturais. O aço e concreto armado são materiais estruturais muito mais resistentes do que a madeira, e sendo assim maiores seções transversais são necessárias aos elementos estruturais de madeira comparados aos equivalentes utilizados nas estruturas de aço e concreto armado. Na pratica as grandes seções transversais de madeira são raras e os edifícios que usam a madeira como elemento estrutural são edificações de baixa altura e obviamente de pequenos vãos. Figura 1.22 A madeira é um material onde sua estrutura interna é fibrosa e quimicamente seus componentes internos tem um baixo peso atômico. Isso é 15 uma grande vantagem da madeira sobre outros materiais estruturais, pois faz dela um material estrutural leve, o que resulta em um material de relação resistência-peso de valor elevado. A durabilidade é outra boa propriedade da madeira assim como um bom desempenho ao fogo, apesar de ser um material combustível. A madeira é comumente usada como elementos horizontais de pisos e estrutura de telhados. Ela também pode ser usada como elementos inclinados suporte de cobertura de fibra de vidro como ilustrado na figura 1.22. A figura mostra uma cobertura central da galeria Burrell na cidade de Glasgrow na Escócia projetada pelo arquiteto Barry Gasson. Kingston Craftsmen foi o fabricante das vigas de madeira laminada. Outro uso muito comum da madeira, principalmente nos Estados Unidos da América e Canadá, é o de paredes em painéis que são capazes de suportarem cargas. Este tipo de edificação é feito inteiramente de madeira, no qual os painéis são compostos de folhas externas de madeira, com elementos de madeira na vertical e elementos também de madeira na parte inferior e superior dos painéis como é mostrado na fig. 1.23. É importante ressaltar que todos os elementos nessa edificação são estruturais, e tanto o piso quanto as paredes consistem em elementos de madeira, na horizontal e vertical, que serão revestidos com folhas de madeira. Nesta figura também é possível ver os contraventamentos provisórios de madeira, que dão estabilidade ao conjunto até as paredes que não são estruturais serem inseridas no edifício. Apesar deste tipo de edificação ser simples, leve e de fácil execução é raro o seu uso em edifícios com mais de dois pavimentos. Figura 1.23 Portanto a madeira é um material que oferece ao arquiteto uma combinação de propriedades que permite a criação de estruturas leves e de construção simples. Entretanto devido sua resistência que é relativamente baixa, com peças de dimensões pequenas e as dificuldades associadas com o fato de se obter boas junções estruturais limitam o tamanho das estruturas que utilizam madeira, sendo elas normalmente de pequenos vãos e com poucos pavimentos. 16 1.5 – O projeto estrutural e o projeto “arquitetônico” da estrutura O projeto estrutural é também uma forma de arte de criação e como todos outros tipos de projetos, depende de variasdecisões que são inter- relacionadas com outras áreas da construção e que tem como o único objetivo o de criar um espaço edificado. O projeto estrutural e o projeto arquitetônico da estrutura podem ser divididos em duas categorias de atividades que são bem amplas: a primeira, de invenção da forma e arranjo da estrutura e a segunda a de definir e detalhar as especificações, geometria e dimensões de todos os componentes da estrutura e as conexões entre eles. No caso do projeto de arquitetura da estrutura, ambas as atividades, mas principalmente a primeira, são conectadas as decisões que devem ser tomadas objetivando um projeto duma edificação. A forma global da estrutura deve ser compatível, e às vezes até idêntica, aos elementos que vão dar suporte ao edifício. O estagio preliminar destes projetos é, portanto inseparável da definição do edifício como um todo. Sendo assim é o momento de todo processo construtivo, onde os projetos de arquitetura e o de estrutura estão mais próximos. E o arquiteto e o engenheiro estrutural são diferentes pessoas ou diferentes facetas de um mesmo individuo que devem trabalhar o mais próximo possível. O segundo estagio destas atividades e principalmente do projeto estrutural é relacionado à determinação, dimensionamento e detalhamento dos elementos e conexões que vão compor a estrutura, e obviamente este é o estagio onde o engenheiro estrutural tem uma atuação relevante. Fica muito claro então que o ato de projetar a arquitetura de uma estrutura é aquele que vai influir de maneira decisiva nos fundamentos do sistema estrutural que vai ser analisado e detalhado no projeto estrutural. 2 - Estruturas no projeto de arquitetura 2.1 – Relação entre estrutura e arquitetura Figura 2.1 17 Como foi visto anteriormente existe uma complexa relação entre os projetos de arquitetura e estrutural, fazendo do arquiteto um elemento muito importante e decisivo nessa relação. É preciso entender então que, conscientemente ou inconscientemente, o arquiteto é também um projetista da estrutura. Esta afirmação fica claramente demonstrada no esboço inicial mostrado na figura 2.1 do edifício sede do HSBC em Hong Kong (ver figura 1.1) feito pelo arquiteto Norman Foster. Este desenho mostra uma de suas idéias da edificação, e nele fica claro que a estrutura suspensa em forma de ponte, que é uma das características relevantes deste edifício já fazia parte da concepção inicial idealizada por ele. O projeto do suporte do edifício, a estrutura, é identificado e parte discreta do processo global deste projeto, que pode ter sua fase de decisões dividida em quatro categorias: Qual o tipo de relação vai existir entre os projetos de arquitetura e estrutural; Seleção genérica do tipo de estrutura; Seleção do material estrutural e; Determinação detalhada da forma e layout da estrutura da edificação. É importante notar que nem sempre é possível estabelecer esta seqüência de decisões nesta exata ordem. Por exemplo, a relação entre os projetos, talvez nem seja uma decisão consciente, mas necessariamente elas vão ser tomadas pelos projetistas durante o processo de elaboração dos projetos dos edifícios. Fica entendido então que o projeto estrutural detalhado de um determinado edifício é normalmente feito por um engenheiro estrutural ou por uma equipe de engenheiros responsável pelo projeto estrutural. E fica claro também que forma global da arquitetura de uma estrutura é determinada principalmente por um arquiteto ou por uma equipe de arquitetos responsável pelo projeto de arquitetura do edifício em questão. É possível então estabelecer a natureza da relação entre os projetos estrutural e de arquitetura se houver consciência das atividades em que os profissionais estão envolvidos. E alguns estudiosos têm sugerido que esta relação pode assumir um numero de diferentes formas que são: Estrutura ignorada determina a forma sem considerar as implicações estruturais. O arquiteto que desejar menosprezar as considerações estruturais quando estiver determinando a forma de uma determinada edificação deve ficar consciente do custo e dificuldades de execução do edifício. Seria de muita imprudência por parte deste profissional usar a metodologia da estrutura ignorada em edificações de grandes espaços internos ou longos vãos livres, por exemplo; Estrutura aceita tem como objetivo fundamental produzir uma edificação onde todos os aspectos do edifício têm mais ou menos uma igualdade durante todo processo de execução dos projetos. O arquiteto que deseja observar os aspectos técnicos, estéticos e programáticos deve selecionar um tipo de estrutura que é realmente apropriada para os vãos e cargas envolvidas. E 18 provavelmente esta decisão vai ter um profundo efeito na forma global do edifício e neste caso as definições estéticas e técnicas devem ser compatíveis. Porque o numero de opções de sistemas estruturais pode ser limitado, particularmente em função dos vãos envolvidos, a estética do edifício deve ser flexível. O objetivo fundamental desta metodologia não é fazer com que a estrutura seja visual, mas garantir com que a estrutura seja bem projetada e integrada a todos os aspectos do edifício; Estrutura simbolizada é tratada como um conjunto de motivos e decisões que são relativos à dimensão, forma e arranjo dos elementos estruturais influenciados tanto por aspectos visuais quanto por critérios técnicos. O desempenho técnico da estrutura é secundário nesta metodologia e o resultado da qualidade do projeto estrutural é normalmente comprometido, sendo esta é uma inevitável conseqüência deste método e que deve ser absorvida pelos profissionais quando a estrutura simbolizada é usada. Onde a estrutura simbolizada é usada é essencial que o arquiteto tem claro qual o tipo de linguagem arquitetônica é desejada. A estrutura deve ser alterada e exagerada para fazer com esta linguagem seja bastante clara porque em caso contrario o resultado será uma arquitetura pobre; Estrutura “High tech” trata a estrutura como um elemento de alta prioridade dentro do processo de elaboração do projeto de uma edificação. Permitindo que a forma do edifício e a natureza da linguagem arquitetônica sejam completamente determinadas. Esta metodologia é a mais direta possível de todas. O projeto preliminar do edifício é simplesmente o projeto do arranjo estrutural o qual é apropriado com os vãos e cargas envolvidas. A estética, o planejamento do espaço e outras considerações têm um papel secundário e não podem comprometer a integridade da solução estrutural. 2.2 – Relação entre forma e eficiência estrutural Muitos pesquisadores têm estudado o tema sobre as estruturas no projeto de arquitetura, e tem definido eficiência estrutural como sendo a capacidade da estrutura resistir a um determinado carregamento em termos do peso do seu material estrutural. A conclusão desses estudos é que a eficiência será alta se a razão resistência-peso da estrutura for alta. A eficiência estrutural será afetada por diversos fatores conectados a forma e a configuração geral da estrutura. Mas somente um aspecto relativo à eficiência será considerado nesta notas: a relação da forma estrutural e o tipo de forças internas que ocorrem num determinado sistema. Os esforços internos que normalmente os elementos estruturais definidos no projeto de arquitetura de uma estrutura são do tipo axial, flexão e uma combinação entre eles. É importante, portanto fazer uma distinção entre 19 eles, porque uma estrutura pode ser mais eficiente aos esforços internos do tipo axial do que esforços internos de flexão. Figura 2.2 Na figura 2.2 é mostrada a distribuição das tensões internas num determinado elemento,e fica claro que o elemento carregado axialmente tem uma distribuição de tensões quase constante. E esta é principal razão da melhor eficiência dos elementos com este tipo de esforço interno, pois é necessário somente que a resistência ruptura dele seja ligeiramente maior que tensão que a seção da peça esta solicitada. Portanto, este será um material muito eficiente porque o valor de sua resistência será total no que diz respeito ao seu peso. Nos elementos solicitados a flexão pura, ou seja, quando a carga é normal ao eixo longitudinal do elemento estrutural, a intensidade das tensões varia ao longo de sua seção transversal. Considerando as tensões numa determinada seção transversal, ela vai ser mínima próxima a sua linha neutra e máxima nos seus extremos. E daí será considerado somente partes resistentes aquelas com maiores tensões, fazendo dele então um elemento com menor eficiência estrutural. A figura 2.3 mostra que o tipo de esforços internos que existe num determinado elemento estrutural dependerá da relação entre seu eixo principal, ou longitudinal, e o eixo em que a carga é aplicada. Os elementos estruturais retos serão solicitados a esforços internos do tipo axial quando a carga aplicada for paralela ao eixo longitudinal deles. No caso em que a carga esteja aplicada numa direção perpendicular ao eixo longitudinal do elemento, este estará solicitado a esforços internos de flexão. E obviamente 20 o caso mais comum e geral é aquele em que os casos anteriores são combinados, ou seja, a carga estará numa direção inclinada ao eixo longitudinal do elemento. Figura 2.3 No caso (a) a direção do eixo da carga coincide com o eixo principal do elemento, e daí será uma situação onde somente um esforço interno do tipo axial acontecerá. Já no caso (b) a direção do eixo das cargas é perpendicular ao eixo longitudinal ou principal do elemento estrutural, caracterizando então esforços internos do tipo flexão. E finalmente, o caso (c), onde os eixos das cargas externas são inclinados ao eixo longitudinal do elemento estrutural, e neste caso, os esforços internos serão combinados do tipo flexão e axial. É muito importante entender que quando um elemento não esta em linha reta, ele inevitavelmente estará solicitado a uma combinação de esforços internos do tipo axial e flexão, mas existem algumas exceções que são mostradas nas figuras 2.4 e 2.5. Estes elementos estruturais são: cabos flexíveis que são suportadas em suas extremidades e com varias cargas suspensas. E porque o cabo tem uma rigidez muito pequena, ele só é capaz de suportar cargas que resultem em esforços internos de tração axial pura. 21 Estas forças então vão dar forma à estrutura e ela é chamada de estrutura de forma ativa. A figura 2.4 mostra que a forma que o cabo assume depende dos pontos de aplicação das cargas. Ela terá linhas retas se as cargas forem concentradas em determinados pontos e curva se a carga for distribuída ao longo do cabo. Figura 2.4 Um material flexível, tais como os cabos de aço, automaticamente assumirá a forma ativa em função da carga que é aplicada. Portanto, os materiais flexíveis são incapazes de assumir uma forma diferente do que um elemento de forma ativa. Mas se o material estrutural é rígido, e a forma ativa é um requisito, ele deve ser executado de tal forma que a estrutura assuma a forma ativa das cargas aplicadas, ou seja, uma estrutura solicitada a compressão, como mostrado na figura 2.5. Estas formas são espelhos das estruturas mostradas na figura 2.4. É importante notar que no caso das estruturas não assumirem a forma ativa, o esforço axial interno deixará de ser puro e ocorrerão também esforços de flexão. Figura 2.5 Na figura 2.6 são mostrados alguns exemplos que são uma mistura de estruturas de forma ativa e de estruturas de forma não ativa. As figuras da coluna (a) são estruturas onde o eixo das cargas é perpendicular ao eixo principal ou longitudinal do elemento e conseqüentemente os esforços internos são do tipo flexão pura. Notar que não é possível que ocorra esforços axiais, pois não existe nenhuma componente de carga com eixo paralelo ao eixo longitudinal ou principal da peça. Nos elementos mostrados na coluna (b) são aqueles em que suas formas são exatamente as assumidas segundo a linha ativa das cargas, ou seja, são as estruturas de forma ativa com tensões axiais somente. Na coluna (c) são mostradas as estruturas com tensões de flexão mais tensões axiais combinadas. Nenhuma delas tem esforços internos puros, sejam eles axiais ou flexão. 22 É possível então classificar os elementos estruturais em três categorias: forma ativa (b), massa ativa (a) e forma-massa ativa (c) segundo a forma dos seus eixos longitudinal ou principal. Figura 2.6 2.3 - Seleção genérica do tipo de estrutura É importante reconhecer que o processo que determina o projeto de uma estrutura é muito mais que uma invenção, uma seleção e uma adaptação. A maioria das novas estruturas são de fato versões de forma que envolvem na pratica o melhor arranjo considerando um determinado material estrutural. E considerando os materiais estruturais é possível obter as seguintes estruturas: de aço, de concreto armado, de alvenaria e de madeira. E elas representam as formas que o projetista deve começar o processo de seleção e adaptação do sistema estrutural. Um importante fator que influi na seleção do tipo de estrutura de um edifício é a natureza da relação entre os projetos de arquitetura e de estrutura. Se a forma da “estrutura ignorada” for adotada, então a forma geral da edificação pode ser determinada sem considerar os requisitos estruturais, e levando em consideração que as estruturas de formas ativa e não ativa tem geometrias que são únicas e são determinadas em função do carregamento, é muito provável que uma estrutura do tipo semiforma ativa seja selecionada. E obviamente isto faz o trabalho do projetista estrutural ficar mais complicado, pois as opções de escolha do sistema estrutural são limitadas. Neste caso o material estrutural é quase certo que será aço ou concreto armado porque a estrutura semiforma ativa requer que o material tenha uma capacidade significativa de resistência à flexão. A escolha de um dos dois materiais será determinada pela natureza da edificação. O concreto resulta em estrutura de maior massa, mas permite facilmente a criação de formas curvas, já o aço é mais resistente e capaz de produzir estruturas mais leves, mas deve ser utilizado em estruturas retilíneas e regulares. Mas se a relação entre os projetos de arquitetura e estrutural for diferente a forma da “estrutura ignorada” será então necessário selecionar 23 um sistema estrutural que seja compatível com a estética e os aspectos programáticos do edifício, não se esquecendo que esta seleção deve também ser sensível aos requisitos estruturais. Os fatores que influenciaram a escolha do tipo da estrutura serão: O efeito da escala: o vão de uma estrutura definido pelo projeto de arquitetura é determinado conforme requisitos técnicos e programáticos considerando os espaços que esta estrutura vai ocupar. O vão tem um efeito significativo tanto no tipo genérico da estrutura quanto na seleção do sistema estrutural. O principio subjacente que governa a relação entre o vão e o tipo de estrutura é que a razão entre o peso próprio da estrutura e o carregamento a que ela esta submetida deve ter um valor satisfatório determinado por dados obtidos nas diversas edificações. Para um dado tipo de estrutura à medida que o vão aumenta a tendência da razão resistência-peso próprio é se tornar menos favorável. Os tipos de estruturas mais eficientes são aqueles que usam vãos quemantêm a relação resistência-peso próprio em níveis aceitáveis. Assim, elementos com seções transversais simples e solidas como vigas de madeira e de concreto armado têm vãos máximos que são relativamente pequenos. Já as vigas metálicas, laminadas, soldadas ou treliçadas, tem maiores vãos. Os vãos de dimensões muito longas (em torno de 200 m) são obtidos pela alta eficiência das estruturas em casca de concreto armado, cabos e treliças metálicas espaciais. Em suma, do ponto de vista do projetista, a escolha do tipo da estrutura é grande se os vãos são pequenos e se tornam progressivamente mais limitados à medida que os vãos aumentam. As estruturas do tipo viga-coluna (quadro) suportada por paredes estruturais de alvenaria com vigas de madeira ou vigas e lajes de concreto armado são indicadas para vãos pequenos de 5 m até 10 m. Os vãos podem ser maiores com o uso de estruturas horizontais mais eficientes tais como as treliças de madeira ou aço. Em edifícios de andares múltiplos suportado por colunas de concreto armado ou aço é possível conseguir vãos maiores que os suportados por alvenaria, digamos de 5 m até 20 m. Vãos maiores que 20 m não são comuns, mas com o uso de outros tipos de estruturas mais eficientes, ou seja, vigas treliçadas, é possível obter vãos que giram em torno de 25 como as do “Centro Pompidou, Paris, França, projetado pelos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers; e pelos Engenheiros Ove Arup & Partners, (1971-1977)” mostrado na figura 2.7. Em estruturas de edificações de um pavimento com vãos variando de 20 m até 30 m são possíveis de ser obtidos com a mudança das formas estruturais básicas para estruturas mais eficientes, tais como estruturas de pórticos espaciais ou estruturas de forma semiforma ativa. Sendo assim quando as estruturas de pórticos espaciais ou estruturas de forma semiforma ativa são utilizadas seria muito fácil especificar vãos de 20 m utilizando 24 vigas soldadas de aço enquanto as vigas treliçadas de aço poderiam ser usadas até vãos de 50 m. Figura 2.7 O efeito do custo: é outro fator que influencia a escolha do tipo da estrutura. A eficiência estrutural é obtida normalmente pela complexidade da estrutura, que determina o custo de execução. As estruturas de vãos longos são geralmente de alto custo, porque neste caso as estruturas complexas são opções disponíveis. A razão para a escolha de sistemas estruturais de forma complexa talvez seja por simples desejo da ter uma edificação complexa ou exagerada. E dependendo das prioridades do cliente, o custo pode ser um fator determinante na escolha do tipo da estrutura. O planejamento interno: do edifício e sua natureza normalmente influencia a escolha do tipo da estrutura. O principal fator que influencia o planejamento é o grau pelo qual o interior da edificação é subdividido, que prevê dentro de um espaço determinado um requerido grau de regularidade. A extensão de compartimentos que existe num edifício normalmente tem uma influencia considerável na escolha do tipo da estrutura. Quando o edifício é celular e os compartimentos não são de grandes dimensões é possível adotar estruturas do tipo parede estrutural de alvenaria ou madeira. Este tipo de estrutura também pode ser utilizado nos edifícios de múltiplos andares de baixa altura se o planejamento interno do edifício for mais ou menos o mesmo igual em todos os pavimentos, mas se alguma destas condições não for atendida, estruturas do tipo viga-coluna (quadro) será uma boa opção. A estrutura de viga-coluna (quadro) também pode ser utilizada em edifícios onde grande área de espaços livre é uma necessidade mesmo que este espaço seja interrompido por elementos verticais-colunas, por exemplo. E obviamente esta estrutura também pode acomodar melhor edificações onde existe variação de planejamento entre pavimentos. No caso onde a continuidade das colunas for impossível, as vigas de transição serão uma opção de alto custo e talvez inevitável. 25 E é claro que quando a forma, as elevações e as seções do edifício são de irregularidade muito elevada uma estrutura não muito convencional será necessária, e neste caso as estruturas de concreto armado ou aço talvez sejam as mais indicadas. O tratamento externo: que é previsto para o exterior de um edifício pode afetar a escolha do tipo da estrutura, especialmente se grandes áreas de paredes envidraçadas ou feitas de algum material que seja incapaz de funcionar com elemento estrutural. Edifícios que tem fechamento externo feito de vidro, normalmente são associados às estruturas de viga-coluna (quadro). 2.4 - Seleção do material estrutural A escolha do material estrutural é outra decisão fundamental, tanto estética quanto técnica, no planejamento da estrutura. O aço, o concreto armado, a alvenaria e a madeira produzem distinta qualidade visual num determinado edifício. O tipo genérico da estrutura também afetará a escolha do material e conseqüentemente estas duas questões são freqüentemente solucionadas ao mesmo tempo. Nas edificações de pequeno porte onde as paredes são estruturais os materiais como alvenaria e madeira provavelmente serão as opções mais indicadas. Lembrar que no passado estes dois tipos de materiais foram utilizados com muita freqüência, especialmente em cidades do norte da Europa, em edificações de até sete pavimentos. O concreto armado e o aço provavelmente serão as opções mais indicadas nas edificações em que sua estrutura seja do tipo viga-coluna (quadro). Outras considerações tais como a disponibilidade local do material, velocidade de ereção ou qualquer outro requisito como pré-fabricação da estrutura, podem influenciar a escolha do material mais do que sua resistência mecânica. As estruturas do tipo viga-coluna (quadro) podem ser construídas em aço, concreto armado ou até mesmo utilizando madeira como material estrutural. E apesar da madeira ser muito pouco utilizada como material estrutural nos edifícios de andares múltiplos, ela é associada com as edificações térrea de um pavimento no qual a madeira é exposta assumindo também então um caráter estético. O concreto armado é também um material estrutural utilizado em edificações térrea de um pavimento, entretanto devido ao seu peso próprio muito alto e também porque as cargas impostas são pequenas ele não é muito recomendado. Esta também é a razão pela qual raramente ele é usado nas estruturas de telhado dos edifícios de andares múltiplos exceto nas lajes de cobertura, onde o acesso é permitido, terraços ou jardins, e as cargas são maiores que as que normalmente acontecem nas coberturas. O aço é recomendado para ser utilizado como material estrutural tanto nos edifícios de andares múltiplos como nas edificações térrea, entretanto no Brasil este tipo de material é pouco utilizado em edificações térreas. 26 A seleção do aço como material estrutural tem como razões: a alta resistência mecânica do material, a aparência principalmente em “estruturas simbolizadas” e a velocidade de construção. A primeira delas é obviamente a mais importante se a edificação requer longos vãos ou se existe a necessidade de produzir uma estrutura com elementos esbeltos de baixo volume de material. Aparência é freqüentemente a razão para se escolher a madeira como elemento estrutural, apesar de que a leveza do elemento pode ser outro fator. A madeira também pode ser selecionada devido a sua durabilidade. Lembrar que em ambientes onde a corrosão é alta, tais como edifícios com piscinas de natação, ela pode ser o material mais recomendado. O concreto armado pode ser selecionado por varias razões. Ele proporciona uma estrutura de baixo custo principalmente porque ele não exige nenhum material de acabamento oude resistência a fogo. A sua boa durabilidade é outra considerável vantagem, e por ser um material que pode ser moldável ele pode ser uma boa opção na construção de elementos curvilíneos. Não esquecer que a continuidade estrutural dos elementos pode ser uma grande vantagem do concreto armado, pois ele permite a construção de estruturas de geometrias complexas. Todos os materiais estruturais impõem certas limitações como também podem ser convenientes. Assim, a menos que a relação entre os projetos de arquitetura e de estrutura seja o da estrutura ignorada, a limitação do material escolhido deve necessariamente ser reconhecida pelos profissionais envolvidos no processo de elaboração dos projetos. A natureza destas limitações ou conveniências deve ser levada em consideração durante a escolha do material estrutural para que seja garantida a compatibilidade dele com as intenções arquitetônicas. 2.5 – Determinação da forma da estrutura A forma final e geral do arranjo da estrutura é normalmente uma adaptação de uma das formas estruturais que cada material determina. Basicamente este processo de adaptação é determinado com o objetivo de produzir edifícios nos quais os requisitos arquitetônicos e estruturais são harmonizados. Existem vários fatores globais que são significativos e influenciam na decisão do tipo da estrutura que deve ser assumido. E talvez o mais importante deles seja os objetivos arquitetônicos estabelecidos pelo arquiteto ou pelo time de arquitetos. A relação entre os projetos de arquitetura e estrutura, discutida anteriormente no item “2 - Estruturas no projeto de arquitetura” é provavelmente outro fator que influencia a forma final da estrutura no projeto de arquitetura. Os fatores particulares, tais como as condições do local, a escala e as características do layout interno do edifício obviamente exercerão um influencia decisiva na escolha da forma final da estrutura. Todos os fatores descritos anteriormente influenciarão a escolha tanto do material estrutural quanto o tipo de estrutura. E a determinação da forma da estrutura então é feita em função de um vocabulário que cada tipo de material estrutural estabelece. Portanto, uma vez que o tipo da estrutura tenha sido escolhido o 27 processo de adaptação e modificação deve ocorrer de tal forma que satisfaça os requisitos individuais do edifício em questão. 3 – Exercícios Propostos 1 – “Quando uma estrutura esta equilibrada necessariamente ela estará estabilizada”. Esta afirmação é correta? Se não, explique por que. 2 – “A resistência e a rigidez de um determinado elemento estrutural são grandezas que sempre são proporcionais.” Esta afirmação é correta? Explique. 3 – Por que os materiais estruturais como: aço, concreto-armado e a madeira são os mais utilizados nos sistemas estruturais do tipo viga-coluna (quadro)? 4 – O concreto é um material estrutural que poderia ser utilizado em qualquer sistema estrutural de viga-coluna (quadro). Explique. 5- Por que nos edifícios que utilizam paredes como estrutura o arquiteto perde a flexibilidade de planejamento que o sistema de viga-coluna oferece? 6- As estruturas em abóbodas e cúpulas são equivalentes as tensionadas e suspensas. Faça um paralelo entre elas. 7 – Qual o material estrutural entre o aço, o concreto armado e a madeira tem a melhor desempenho ao fogo e por quê? 8 – Se um arquiteto tivesse que desenvolver um edifício que utilizasse barras longas e esbeltas e que também resistisse à tração, qual seria o material adequado e por quê? 9 – Por que os materiais estruturais como: aço, concreto-armado e a madeira são os mais utilizados nos sistemas estruturais do tipo viga-coluna (quadro)? 10 – Qual seria o material estrutural adequado se o sistema de estabilização do exercício 11 fosse composto por barras longas e esbeltas, e também tivessem que resistir tanto à tração quanto à compressão? 11 - A estrutura da figura 3.1 dá forma a uma edificação, e do ponto de vista arquitetônico o espaço compreendido entre os pontos “BEFC” não deve conter qualquer tipo de obstrução. Sabe-se que este sistema estrutural está equilibrado, mas não está estabilizado. Esquematize um sistema de estabilização adequado para esta estrutura. Figura 3.1 28 12 – Sabendo-se que a estrutura da figura 3.2 dá forma a uma edificação e que do ponto de vista arquitetônico o espaço compreendido entre os pontos “BFGC” deve ser livre de qualquer tipo de obstrução, esquematize um sistema de estabilização adequado para esta estrutura. Indique se a (s) barra (s) é (são) flexível (eis) ou rígida (s). Figura 3.2 13 – Quais os tipos de relações que podem existir entre a estrutura e a arquitetura de uma determinada edificação? 14 – Por que um elemento tracionado é mais eficiente que outro flexionado? 15 – Explique e exemplifique por que o tipo de esforço interno depende da relação entre o eixo de aplicação da carga e seu eixo principal. 16 – Por que a seleção do tipo de estrutura depende do material estrutural? 17 – Quais os fatores que exercem ação na estrutura de uma edificação? 18 – Por que a escolha do material estrutural influência tanto a estética quanto a técnica na idealização do sistema estrutural? 19 – Quais os fatores que influenciaram a forma estrutural de uma estrutura? 4 – Referencias bibliográficas 1 – Rebello, Y.C.P., Estruturas de Aço, Concreto e Madeira – Atendimento da Expectativa Dimensional, Zigurate Editora, São Paulo, 2005. 2 – Kulak G.L. and Grondin G.Y., Limit States Design in Structural Steel, Quadratone Grafics Ltd., Canada, 2002. 3 – Drysdale, R.G., Hamid A.A. and Baker L.R., Masonry Structures Behavior and Design, The Masonry Society, Boulder Colorado, 1999. 4 – MacDonald, A.J., Structural Design for Architecture – Second edition, Reed Educational and Professional Publishing Ltd., Great Britain, 2001. 5 – MacDonald, A.J., Structural Design for Architecture, Reed Educational and Professional Publishing Ltd., Great Britain, 1997. 6 – Robbin, T., Engineering a New Architecture, Yale University Press, New Haven and London, 1996. 7 – McCormac, J.C., Structural Steel Design-LRFD Method, Harper Collins College Publishers, New York, 1995. 8 – Thornton, C. H., Exposed Structure in Building Design, McGraw-Hill Inc., U.S.A., 1993.
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