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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MAR E PETRÓLEO ENGENHARIA DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO ANA KAROLINA LACERDA LOBO BEATRIZ DOS SANTOS SANTANA LORENA CARDOSO BATISTA ENERGIA LIVRE DE GIBBS Salinópolis, Pará Junho, 2018 2 Ana Karolina Lacerda Lobo Beatriz dos Santos Santana Lorena Cardoso Batista ENERGIA LIVRE DE GIBBS Trabalho apresentado como requisito para avaliação da disciplina Química Geral II da Universidade Federal do Pará. Orientador: Dra. Cleide Samara Mescouto. Salinópolis, Pará 2018 RESUMO Nas reações químicas, existem diversos métodos para medir o trabalho realizado no procedimento, um deles é conhecido como energia livre de Gibbs, a qual se caracteriza por ser uma das grandezas da Termodinâmica, e tem como uma das principais funções calcular o total da energia ligada a um sistema disponível. Ademais, tal energia está atrelada à temperatura e às variações de entalpia e entropia; dependendo destas três grandezas para ser calculada. Desse modo, algumas características da energia livre de Gibbs são discutidas de forma mais aprofundada, a fim de se obter um melhor entendimento sobre o assunto. Palavras-chaves: Química; Reações, Energia; Variação; Cálculo. Química Geral II Energia livre de Gibbs 4 1. INTRODUÇÃO Em cada substância existe uma quantidade de energia armazenada, conhecida como energia química. Esta energia é consequência das forças de atração e repulsão entre os átomos que a compõem e de suas ligações. Além disso, existe a energia proveniente das reações químicas que ocorrem, muitas vezes, de forma espontânea. Desse modo, são denominadas reações espontâneas aquelas que acontecem naturalmente, ou seja, sem nenhuma adição de energia externa, podendo ocorrer de forma lenta ou rápida, já que sua espontaneidade não está associada à velocidade de reação. Este método, na maioria das vezes, se caracteriza pela liberação de calor, acarretando em um processo exotérmico; um exemplo desse tipo de reação é a transformação do carbono na forma de diamante em grafite. Assim sendo, existem algumas formas de descobrir se uma reação acontece de forma espontânea, uma delas é usando a teoria da Energia livre de Gibbs, que foi determinada pelo cientista fundamentador da Termodinâmica Química, Josian Willard Gibbs, a qual é uma função da termodinâmica quel determina o total de energia disponível, com o objetivo de realizar um trabalho útil em condições de pressão e temperatura constantes. Ademais, esta teoria é muito utilizada para presumir se o processo de uma reação é espontâneo ou não espontâneo. 2. ASPECTOS TEÓRICOS 2.1. Variação da energia livre padrão A energia de Gibbs relaciona-se, também, com outras grandezas termodinâmicas: a variação de entalpia, a qual determina a parcela de energia liberada ou absorvida por um sistema e a variação de entropia, a qual mede o grau de desordem em uma reação. Além disso, afirmava-se que, se a variação de entalpia fosse negativa (∆H < 0, reação exotérmica) e a variação de entropia fosse positiva (∆S > 0, sistema com grande desorganização atômica), a reação seria espontânea. Química Geral II Energia livre de Gibbs 5 Entretanto, Gibbs esclareceu que no momento em que uma reação química espontânea acontece, uma parcela da energia liberada (reação exotérmica) sempre é aproveitada para reorganizar o sistema químico. Essa parcela de energia torna-se sujeita à temperatura (T) e ao grau de desordem dos átomos (∆S). Portanto, por meio da combinação dessas grandezas químicas, Gibbs tornou viável estabelecer uma equação adequada para afirmar se uma dada reação é espontânea ou não espontânea. Para um processo realizado à temperatura constante, a variação de energia livre padrão de Gibbs (∆G) é dada pela expressão abaixo: ∆𝐆 = ∆𝐇 − 𝐓. ∆𝐒 Sendo: ∆𝐇: variação de entalpia; 𝐓: temperatura; ∆𝐒: variação de entropia. Unidades da energia livre de Gibbs: Joule (J); Quilojoule (KJ): 1 KJ = 1000 J; Caloria; Quilocaloria (Kcal): 1 Kcal = 1000 cal = 4,18 KJ . A seguir, veremos exemplos da energia livre padrão: Exemplo 1 A reação de formação da amônia, NH3(g), que se encontra esquematizada logo a seguir, possui variação de entalpia igual a −11,0 Kcal/mol e variação da energia livre de Gibbs igual a − 4,0 Kcal/mol a 27o C. Calcule a variação de entropia (ΔS) dessa reação, nessa temperatura, em cal/K. mol. 𝐍𝟐 + 𝟑 𝐇𝟐 → 𝟐 𝐍𝐇𝟑 Química Geral II Energia livre de Gibbs 6 Dados: 𝚫𝐇 = − 11 Kcal/mol; 𝚫𝐆 = − 4 Kcal/mol; 𝐓 = 27°C. Resolução: Como estão em unidades diferentes, transformaremos o ΔS de Kcal para cal, multiplicando por 1000. Além disso, a temperatura deve estar em Kelvin e, para isso, devemos somar o valor em Celsius com 273. Portanto, ΔH = − 11000 cal/mol ; ΔG = − 4000 cal/K. mol; T = 300 K. Desse modo, utilizam-se os dados fornecidos e transformados na equação de Gibbs: 1) ΔG = ΔH – T. ΔS 2) − 4000 = − 11000 − 300. ΔS 3) − 4000 + 11000 = − 300. ΔS 4) 7000 = − 300. ΔS (−1) 5) ΔS = −7000 300 6) ΔS = − 23,33 cal/mol Exemplo 2 (UFCE) A 25° C, a transformação isotérmica N2O(g) → N2(g) + 1/2O2(g) apresenta ΔH = − 19,5 Kcal/mol e ΔS = 18 cal/K. mol. Qual é o valor do ΔG desse sistema em Kcal/mol? Dados: ΔH = − 19,5 Kcal mol ; ΔS = 18 cal K . mol; T = 25o C. Como estão em unidades diferentes, transformaremos o ΔS de cal para Kcal dividindo por 1000. Além disso, a temperatura deve estar em Kelvin e, para isso, devemos somar o valor em Celsius com 273. Portanto, ΔH = − 19,5 Kcal/mol; ΔS = 0,018 Kcal/K. mol; T = 298 K. Desse modo, utilizam-se os valores fornecidos e transformados na equação de Gibbs: Química Geral II Energia livre de Gibbs 7 1) ΔG = ΔH – T. ΔS 2) ΔG = − 19,5 – 298.0,018 3) ΔG = −19,5 – 5,364 4) ΔG = − 24,864 Kcal mol 2.2. Energia livre e temperatura Visto que em um processo químico a energia nunca é convertida totalmente em trabalho, pode-se considerar a energia livre como a fração de energia útil do sistema, e, assim, faz-se necessário saber a temperatura (T) em que o processo está ocorrendo para calcular essa grandeza, devido à sua dependência das variações de entalpia (∆H) e entropia (∆S), portanto é de suma importância o conhecimento da relação entre elas. A temperatura define os efeitos das variações de entropia e entalpia na mudança de energia livre completa da reação. Ademais, vale lembrar, ainda, que no cálculo da energia de Gibbs, a unidade de temperatura é Kelvin (K) e para a expressão da energia livre ser aceita, é necessário que a reação esteja sendo realizada sob pressão e temperatura constantes. Com isso, observa-se um exemplo de como calcular a temperatura necessária para que um processo ocorra espontaneamente. Exemplo 3: Apresentando a reação a seguir: 𝐈𝟐(𝐠) + 𝐂𝐥𝟐(𝐠) → 𝟐 𝐈𝐂𝐥(𝐠) Considerando os valores de ∆H = 8,4 Kcal mole ∆S = 37 cal mol.K . Calcule a partir de que temperatura o procedimento será espontâneo? Solução: As unidades estão diferentes, portanto, deve-se mudar o ∆S de cal para Kcal, para isso basta dividir por 1000. Química Geral II Energia livre de Gibbs 8 Assim os valores de ∆H e ∆S são: ∆H = 8,4 Kcal mol ∆S = 0,037 cal mol. K Na questão, pede-se o processo espontâneo e, por isso, se deve imaginar que a energia livre é negativa (∆G < 0). Dessa forma, como temos somente os valores de ∆H e ∆S é possível aplicar a expressão do cálculo de ∆G da seguinte forma, para encontrar a temperatura: 1) ∆G < 0 2) ∆H − T. ∆S < 0 3) 8,4 − T. 0,037 < 0 4) −T. 0,037 < −8,4 . (−1) 5) T > 8,4/0,037 6) T > 227,02 K 2.2.1. Espontaneidade das reações As variações de entalpia, entropia e temperatura possibilitam que a energia livre de Gibbs tenha como uma de suas características, mostrar se uma reação ocorre de forma espontânea ou não. Um processo espontâneo pode, muitas vezes, depender da temperatura e todo esse procedimento deve acrescer a entropia do universo, assim como é dito na segunda lei da termodinâmica. Além disso, para que um processo aconteça espontaneamente, a energia livre deve ser negativa. Por exemplo, um processo exotérmico que apresenta um alto valor negativo de entalpia, a qual é eficiente na determinação da energia livre, é beneficiado por um valor positivo e pequeno de variação de entropia e temperatura. Na tabela 01 podemos observar como obtém-se a espontaneidade em diferentes situações. Química Geral II Energia livre de Gibbs 9 Tabela 01 - Espontaneidade de uma substância em diferentes condições de entalpia, entropia e temperatura. Situação Efeito Exemplo de processo ∆H < 0 e ∆S > 0 Processo ocorre espontaneamente sob qualquer temperatura Diluição de substâncias ∆H < 0 e ∆S < 0 Há liberação de energia e o processo é espontâneo em baixas temperaturas Solidificação e condensação das substâncias ∆H > 0 e ∆S > 0 O processo é espontâneo sob altas temperaturas Fusão e vaporização das substâncias ∆H > 0 e ∆S < 0 O processo não é espontâneo, porém a reação inversa é espontânea em qualquer temperatura. Formação de corpo de fundo em uma solução insaturada Abaixo, observaremos um exemplo relacionando temperatura e espontaneidade: Exemplo 4 Determinar a variação da energia livre de Gibbs (∆G) para o gelo em fase de derretimento. Nesta situação, é possível observar a implicação da temperatura na determinação da espontaneidade de um procedimento. Dados os seguintes valores da entalpia de fusão (∆Hf) e a entropia de fusão (∆Sf) da água: Química Geral II Energia livre de Gibbs 10 ∆Hf = 6,01 KJ mol ∆Sf = 22,0 J mol.K Quanto vale o ∆𝐆 para a fusão do gelo a 𝟐𝟎℃? O que caracteriza este processo é a mudança de fase da água, que passa do estado sólido para o estado líquido. H2O(s) → H2O(l) A expressão que será usada é da variação da energia livre: ∆G = ∆H − T∆S Para fins de cálculo, é necessário converter a temperatura para Kelvin (K), tendo então: T = 20℃ + 273 = 293 k Substituindo os valores de ∆H, ∆S 𝑒 T na equação, obtém-se: ∆G = 6,01 KJ mol − (293 K)(0.022 KJ mol. K ) ∆G = 6,01 KJ mol − 6,45 KJ mol ∆G = −0,44 KJ mol Observando que ∆𝐆 é negativa, então presume-se que o gelo derrete espontaneamente a 𝟐𝟎℃. 2.3. Energia livre e constante de equilíbrio. A constante de equilíbrio é um valor que relaciona as concentrações dos reagentes e do produto no momento em que ocorre o equilíbrio. Onde Kc representa o valor das constantes de equilíbrio em uma temperatura determinada , em função da concentração da espécies em mol L -1 ou [ ] mol L-1 . Em Química Geral II Energia livre de Gibbs 11 caso da ocorrência da reação em fase gasosa, a constante é comumente expressa Kp, em função das pressões parciais das espécies presentes no equilíbrio. 2.3.1. Relação da constante de equilíbrio e grandezas da Termodinâmica A alteração de energia livre (ΔG) de um sistema representa a energia requerida para que seja executado trabalho útil, em sua troca de estado. Com o transcorrer da reação observamos que a capacidade de realização de trabalho útil vai gradativamente diminuindo, com o consumo dos reagentes e formação de produto deste modo o sistema atinge o equilíbrio dinâmico, o que mostra que a ΔG tanto dos produtos quanto dos reagentes são iguais fornecendo ΔG=0. De acordo com o diagrama abaixo se conclui que: Tabela 02 – Diagrama temperatura segundo ΔG Então quando, ΔG° se aproxima de zero em uma célula eletroquímica, esta atingiu o equilíbrio. Onde, os reagentes e os produtos encontram-se na mesma quantidade e a bateria descarregou sua carga dizemos que este sistema encontra- se em equilíbrio. Devido isso um cientista chamado Nernest deduziu uma equação capaz de fornecer a força eletromotriz (fem) através da energia livre, “por que a Química Geral II Energia livre de Gibbs 12 energia livre é proporcional a fem que depende da concentração dos reagentes na célula.” Essa relação é mais bem expressa através da equação: 𝐀𝐆º = − 𝐑𝐓𝐥𝐧𝐊 Sendo: AG = Energia Livre. R = a constante de Boltzman, ou seja, R= 0,082 L atm-1 T = Temperatura em Kelvin K = Equilíbrio A seguir, veremos exemplos da constante de equilíbrio: Exemplo 5 (ITA-SP) As espécies químicas A e B reagem segundo a reação representada pela seguinte equação química: Em uma temperatura fixa, as espécies são colocadas para reagir em um recipiente com volume constante. A figura abaixo mostra como a pressão das espécies químicas A, B e C varia com o tempo. Química Geral II Energia livre de Gibbs 13 A partir da análise dessa figura qual valor correto da constante de equilíbrio, Kp, para essa reação. Solução: Para calcular o Kp do processo, devemos realizar os seguintes procedimentos: 1) Determinar os valores das pressões parciais de cada participante da equação, que são obtidos no gráfico. pA = 0,4 atm pB = 0,1 atm pC = 0,8 atm 2) Determinar a expressão do Kp dividindo a pressão do produto elevada a 4 pela multiplicação das pressões parciais dos reagentes elevadas a 2 e 1, respectivamente. Kp = (pC)4 (pA)2.(pB)1 Kp = (0,8)4 (0,4)2.(0,1)1 Kp = 0,64 0,16.0,1 Kp = 0,64 1,6 Kp = 0,4 Exemplo 05 A pressão total de um sistema gasoso constituído por H2, I2 e HI e em equilíbrio é de 4 atm em uma dada temperatura. Sabendo que existem 40% de H2 e 10% de I2 e volume, qual é o valor da constante desse equilíbrio em termos de pressão? Química Geral II Energia livre de Gibbs 14 Solução: Para determinar o valor do Kp do sistema, devemosrealizar os seguintes procedimentos: 1) Determinar os valores das pressões parciais de cada gás multiplicando a pressão total pela porcentagem. Para o H2: pH2 = 4.0,4 pH2 = 1,6 atm Para o I2: pI2 = 4.0,1 pI2 = 0,4 atm Para o HI: pHI = 4.0,5 pHI = 2,0 atm 2) Determinar o valor do Kp. Kp = (pHI)2 (pH2) 1.(pI2) 1 Kp = (2)2 (1,6)1.(0,4)1 Kp = 4 1,6.0,4 Kp = 4 0,64 Kp = 6,2 Química Geral II Energia livre de Gibbs 15 3. CONCLUSÃO Portanto, de acordo com Gibbs, sempre que um fenômeno físico ou químico ocorre, uma parte energia liberada ou produzida por ele é utilizada para reorganizar os átomos e moléculas presentes no sistema. A energia livre de Gibbs é totalmente dependente da energia absorvida ou liberada pelo sistema (entalpia), do nível de organização dos átomos e das moléculas (entropia) e da temperatura em que o processo está ocorre. Assim, por meio da energia livre de Gibbs, podemos afirmar se um processo físico ou químico ocorre de forma espontânea ou não. Química Geral II Energia livre de Gibbs 16 4. REFERÊNCIAS ATKINS, Peter William; JONES, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. JONES, Loretta. Princípios de Química – questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001. MACHADO, Andrea Horta, MORTIMER, Eduardo Fleury. Química volume único. São Paulo: Scipione, 2005.
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