Buscar

Cartilha - Filósofos da América Latina

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 65 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 65 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 65 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Capa e editoração virtual: Léo Pimentel 
Interior: Rafael Alves 
Correção: Julio Cabrera 
 
 
 
 
2013, textos de Julio Cabrera e Rafael Alves 
2013, edição do FIBRAL. 
http://fibral.blogspot.com 
 
 
Cabrera, Julio e Alves, Rafael 
Cartilha de Filósofos da América Latina :Pensamento desde América Latina e 
Filósofos latino-americanos - 1a ed. - Brasília :FIBRAL, 2013. 
65 p. ; 29x21 cm. - (FIBRAL) 
ISBN 978-85-916170-0-5 
 
ÍNDICE 
 
Introdução ...p. 05 
 
Antiguidade: Pensamento indígena ...p. 10 
 
Pensadores do período colonial (Séculos XVI a XVIII) ...p. 18 
 
Pensadores do século XIX ...p. 29 
 
Passagem do século XIX para o XX ...p. 34 
 
Século XX – Primeira metade ...p. 40 
 
Século XX – Segunda metade ...p. 49 
 
Referências bibliográficas ...p. 63 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Oferecemos ao leitor brasileiro uma relação comentada de pensadores latino-
americanos, pouco ou nada conhecidos, por estarem quase sistematicamente excluídos 
ou ignorados nos currículos de filosofia do Brasil, exclusivamente centrados em autores 
europeus. A principal fonte de consulta foi o livro do espanhol Carlos Beorlegui, 
Historia Del Pensamiento Filosófico Latino-americano (Universidad Del Deusto, 
Bilbao, 2006), mas outras fontes foram consultadas, segundo consta na lista final de 
referências. 
Antes de passar para a relação de pensadores latino-americanos, alguns 
esclarecimentos preliminares. O primeiro concerne à própria denominação “América 
Latina”, que provém de uma reordenação do mundo colonial moderno (Cfr. Mignolo 
Walter. La Idea de América Latina, capítulo 2). Melhor seria utilizar a denominação 
“Ibero-americano”. Entretanto, nesta cartilha manteremos a expressão “latino-
americano” por ser um termo mais utilizado nas discussões sobre a temática. 
Os outros esclarecimentos têm a ver com a noção mesma de “filosofia”. 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a6
 
FILOSOFIA 
 
 
Já desde os primórdios do pensamento filosófico em América Latina, aparecem 
dois tipos de reflexão, diferenciados, porém vinculados: 
(a) O pensamento acadêmico das instituições de ensino, baseado 
fundamentalmente na exposição do pensamento europeu dominante, a Escolástica, o 
Aristotelismo, mais adiante o cartesianismo, depois o positivismo, a fenomenologia e 
atualmente todas as correntes. 
(b) O pensamento da emancipação, surgido não apenas dos livros, mas da 
própria situação que estava sendo vivida pelos países latino-americanos: chegada dos 
europeus, choque de culturas, colonização, conquistas, escravidão, resistências, 
submissão de culturas a outras, etc, situação de dependência e exploração que atravessa 
os tempos e chega até os dias de hoje. 
O primeiro tipo de pensamento aceita a situação de colonização como um fato e 
simplesmente tenta implantar e desenvolver o pensamento filosófico europeu tentando 
inserir-se e destacar-se dentro dele; o segundo tipo de pensamento não aceita a situação, 
desenvolve resistências e pensa a emancipação. Estas duas formas de filosofar se 
mantêm até os dias de hoje, embora mais vinculados, já que a enorme maioria dos 
filósofos que pensam na emancipação e tentam superar a condição de dependência, são 
também catedráticos profissionais da filosofia e ensinam filosofia hegemônica. 
Os pensadores aqui relacionados foram escolhidos pelo fato deles – escrevendo 
sobre ética, lógica, estética, política ou metafísica – pertencerem ao segundo tipo de 
reflexão filosófica, por refletirem sobre a situação de dependência e as condições da 
emancipação, e também sobre as condições e possibilidades de um filosofar desde 
América Latina. Não teria muito interesse elaborar uma listagem de profissionais 
universitários latino-americanos especializados em pensamentos europeus (em filosofia 
grega ou em Nietzsche ou Wittgenstein), por mais meritórios que sejam estes trabalhos. 
O pensamento latino-americano terá que ser aquele que surja da circunstância latino-
americana, mesmo que se utilize de pensamentos europeus para formular seus projetos. 
 
 
P
ág
in
a7
 
Nesta relação, parte-se da convicção de não haverem filosofias universais não 
situadas; o que hoje consideramos como sendo “problemas filosóficos universais” 
constitui, na verdade, uma universalidade pensada desde Europa, e não algo universal 
em sentido absoluto. Nesse sentido, não se considera aqui que existam “problemas 
universais da filosofia” que comporiam um conjunto duro e objetivo de problemas, mas 
que os pensamentos universais são sempre pensados desde algum lugar. O fato de hoje 
considerar-se o universal como idêntico ao pensamento europeu, é o resultado de uma 
ação política específica e não algo “natural”. 
 É claro que não existe uma lógica europeia ou uma lógica latino-
americana; existe, simplesmente, lógica. Mas um pensador uruguaio de início do século 
XX, Carlos Vaz Ferreira, (que está presente na relação de autores), escreveu um livro de 
lógica chamado “Lógica Viva”, uma apropriação originalíssima do tema das falácias 
que um europeu dificilmente escreveria. Esse livro não é sobre “lógica uruguaia”, mas 
simplesmente um livro de lógica escrito desde o Uruguai. 
Muitas pessoas podem estar aguardando que os filósofos latino-americanos 
apresentem teorias do conhecimento que possam competir com a teoria de Kant, teorias 
éticas que possam confrontar-se com Spinoza ou Habermas, ou ontologias que possam 
comparar-se com Heidegger. Bom, não existem tais teorias na história do pensamento 
latino-americano, de maneira que será inútil esperá-las dos pensadores desta lista. Pois a 
própria noção de “filosofia” tem que ser reformulada quando feita desde América 
Latina, em lugar de adotar sem crítica a visão predominante e pensar que estamos 
obrigados, para valer como filósofos, a apresentar “contribuições” à filosofia europeia. 
Dada a sua inicial situação de dependência e de saber imposto, o problema da 
emancipação plena pode ser um problema filosófico – teórico-prático – que tenha 
prioridade sobre, por exemplo, o estudo da situação atual do pensamento kantiano na 
Ética, ou o atual desenvolvimento das lógicas não clássicas, embora estas questões 
possam continuar interessando. Filosofar desde América Latina nunca foi apenas pura 
contemplação; praticamente a totalidade dos pensadores mencionados a seguir não 
apenas escreveram obras filosóficas teóricas, mas foram também jornalistas, ou 
desempenharam atividades políticas, desde a diplomacia até a militância direta; ao 
escreverem seus textos, não procuravam uma “verdade” puramente objetiva que não 
estivesse vinculada com as análises da dependência e as lutas pela emancipação. 
 
 
P
ág
in
a8
 
Contra uma “objeção” muito corriqueira – de que seria uma contradição pensar 
contra o pensamento europeu utilizando pensamento europeu – trata-se de entender que 
a filosofia europeia continuará sendo estudada; apenas o euro-centrismo e o 
exclusivismo europeu será rejeitado, e a nossa própria relação com Europa deverá 
mudar. 
De todas maneiras, devemos trabalhar para que, num futuro próximo, não 
tenhamos mais que aludir à nacionalidade dos filósofos. Infelizmente, ainda não chegou 
esse momento, pois somente quando somos excluídos é que nos lembramos das nossas 
origens. Enquanto vivermos numa comunidade que estuda a questão da vaidade dos 
homens e conheça apenas os escritos de Hume sobre essa questão mas não tenha ouvido 
falar de Matias Aires, teremos que continuar falando em nacionalidades. 
 
 
ACERCA DA PRESENTE SELEÇÃO 
 
Nesta cartilha introdutória, tentamos relacionar alguns dos marcos principaisdo 
pensamento desde América Latina, começando com rudimentos do pensamento 
indígena – onde ainda não existe a rigor a categoria de autor – focando depois os 
pensamentos oriundos do choque cultural com o invasor europeu no período colonial, 
de 1500 a 1820, aproximadamente; logo, o período de reação contra esse passado – de 
1820 a 1940 aproximadamente - e finalmente o período contemporâneo. 
Mas aqui tem que ter uma cautela; as “reações” contra a Escolástica do primeiro 
período são constituídas, em América Latina, seguindo pautas europeias: por exemplo, 
pela “modernidade” cartesiana, pelo “Iluminismo” alemão e escocês, pelo positivismo, 
pela atual crítica contra a Metafísica, etc. Muitos destes referenciais europeus servem de 
apoio teórico para as “independências formais” dos países latino-americanos, quase 
todas acontecidas nas primeiras duas décadas do século XIX. Mas numa história do 
pensamento filosófico desde América Latina, ainda deveriam ser descobertas as 
genuínas reações contra a hegemonia do pensamento europeu colonizador, além das 
reações internas a esse pensamento. 
 
 
P
ág
in
a9
 
Essas genuínas reações desde América Latina acontecem somente quase um 
século depois das independências formais, na passagem do século XIX para o XX, com 
o pensamento americanista (José Marti, de Cuba, José Enrique Rodó do Uruguai, José 
Carlos Mariátegui, do Perú), logo depois com o pensamento da emancipação (Leopoldo 
Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da 
libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne, Horacio Cerutti Gulberg). 
No Brasil, o pensamento da emancipação se da principalmente através das 
ciências sociais: pela Antropologia (Darcy Ribeiro, Eduardo Viveiros de Castro), a 
Sociologia (Gilberto Freyre), a história (Sérgio Buarque de Holanda), a Educação 
(Paulo Freire), a teologia (Leonardo Boff) ou a literatura (Oswald de Andrade), mais do 
que pela filosofia. 
Uma última observação: embora os títulos das obras escritas em espanhol 
estejam traduzidos para o português, para melhor entendimento do leitor brasileiro, 
quase nenhuma delas foi nunca traduzida no Brasil. Além do mais, as obras latino-
americanas mencionadas, com raras exceções, nunca foram reeditadas, apenas sendo 
encontradas em sebos em péssimo estado. Algumas exceções são a publicação em 
português do clássico argentino do século XIX, “Facundo” de Domingo Sarmiento; as 
obras do positivista argentino José Ingenieros, alguns livros do pensador mexicano 
Leopoldo Zea, os de Enrique Dussel e algumas poucas mais. O resto permanece 
desconhecido. Isto já é um fato político importante, indica para uma estratégia editorial 
e uma lógica da visualização (e não visualização) da produção filosófica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a1
0
 
PENSAMENTO INDÍGENA 
 
 
Pensamento americano milenar 
A inclusão das culturas indígenas na história do pensamento latino-americano 
tem o efeito imediato de derrubar o conhecido argumento das nossas tradições serem 
“recentes”, ao lado das tradições milenares da China, da Índia ou da Grécia. Isto decorre 
de estabelecermos o início do pensamento latino-americano no século XIX ou inclusive 
no XX, como querem as ideologias oficiais, que identificam filosofia com 
“modernidade” ou com “filosofia profissional”; mas algumas culturas indígenas são 
muito antigas; a suposta “brevidade” das tradições americanas não é, pois, um dado 
“objetivo” ou cronológico, mas algo politicamente construído. 
A história da filosofia não começa, desde América Latina, com os pré-
socráticos; é a cultura do dominador que começa com eles. O começo do filosofar desde 
América Latina é o pensamento indígena milenar, a invasão, exclusão e destruição das 
suas culturas e a imposição de uma cultura que começa com os pré-socráticos; os pré-
socráticos não fazem parte da circunstância latino-americana, a não ser como objetos 
culturais inicialmente impostos pela força, e, hoje, junto com o resto do acervo europeu, 
como objetos de interesse intelectual e eventual aproveitamento para um pensamento da 
emancipação. 
Existem três atitudes a respeito das culturas indígenas: (a) Pretender voltar a 
essas culturas sem as mediações atuais; trata-se de uma postura romântica insustentável. 
(b) Esquecer totalmente o passado indígena como culturas perdedoras e ultrapassadas; 
esta parece uma postura conformista e superficial; (c) Estudar os pensamentos indígenas 
em interação com nossa circunstância atual, tentando implantar uma relação de 
igualdade e intercâmbio entre ambas (precisamente o que não houve no século XVI e 
seguintes, e possivelmente não há até hoje). Esta terceira parece a atitude mais 
adequada. 
 
 
 
P
ág
in
a1
1
 
Problemas metodológicos no estudo dos pensamentos indígenas. 
 
Em primeiro lugar, não há algo como “o pensamento indígena”, mas 
pensamentos indígenas em plural, muito diversificados em comunidades diferenciadas, 
com culturas e línguas diversas. (O problema da DIVERSIDADE). Em segundo lugar, a 
persistente tendência – mesmo nos indigenistas de mente aberta, como o mexicano 
Miguel León Portilla - a definir “filosofia” da maneira ocidental europeia – como 
indagação racional, teórica, argumentativa, objetiva - e ver os pensamentos indígenas 
como não sendo “filosofia” em absoluto ou como sendo “quase filosofia”, no sentido de 
“quase racional”, “não puramente mítica”, etc. (O problema do REDUCIONISMO). Em 
terceiro lugar, as tremendas dificuldades no estudo das fontes de pensamentos que 
foram e são ainda ignorados ou marginalizados, e que têm que ser desenterrados, até o 
ponto de nunca termos a certeza de estarmos realmente estudando pensamentos 
indígenas, e não alguma das suas muitas deturpações. (O problema do 
ENTERRAMENTO). Quarto, o risco de, mesmo conseguindo dados razoavelmente 
fidedignos sobre pensamentos indígenas, que eles representem para nós algo de 
totalmente outro, dificilmente compreensível, ou talvez definitivamente inescrutável. (O 
problema da ININTELIGIBILIDADE). 
Por estes motivos, tudo o que se dizer sobre pensamento indígena será hoje 
unilateral, incompleto e em muitos pontos incompreensível. Nestas condições precárias, 
os pensamentos indígenas terão que entrar na perspectiva latino-americana aceitando-se 
estas opacidades insuperáveis; jamais teremos acesso a esse pensamento tal como foi 
existido pelos indígenas, mas já numa interação complexa com as culturas do 
dominador e, no caso do Brasil, também com a cultura africana, que entra na 
circunstância latino-americana num outro viés. 
A abertura ao pensamento indígena não significa considerar o universo indígena 
como uma espécie de “paraíso” que teria sido maculado pela invasão espanhola e 
portuguesa; trata-se de sistemas simbólicos a serem considerados e estudados, mas não 
de “milagres” a serem idealizados (no viés de um Montaigne ou, sobretudo, de um 
Rousseau, visão criticada por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “Visão do 
Paraíso”, de 1959) ou adotados atualmente sem mediações como sendo melhores que 
outros sistemas simbólicos. 
 
 
P
ág
in
a1
2
 
Pensamentos indígenas 
 
Existe uma boa dose de arbitrariedade na escolha oficial das “principais” 
culturas indígenas como sendo as mesoamericanas (nahuas, maias) e as andinas (incas); 
critérios como, por exemplo, as construções de pedra, o sedentarismo, ou mesmo a 
escrita, não são absolutos, e muitas culturas indígenas consideradas “menores” podem 
trazer elementos muito importantes para entender pensamento indígena. A presente 
cartilha, pelas suas características introdutórias, limita-se a essaescolha padrão, com o 
acréscimo de algumas culturas indígenas brasileiras (não tratadas no livro de Beorlegui 
que em parte seguimos), mas deixando abertura para o estudo futuro de muitos 
pensamentos indígenas considerados “de menor importância”. 
 
 
Nahuas 
 Os nahuas são grupos de índios da América Central (mesoamericanas) que 
falam a língua náhuatl, sendo os principais os aztecas ou mexicas. As primeiras 
comunidades nahuas remontam a 2000 anos a.C., as mais notáveis sendo de 
aproximadamente 1200 anos a.C. (cultura olmeca), do século XV a.C. (toltecas) e 
finalmente os aztecas, que floresceram a partir do século XIV d.C, com a fundação de 
Tenochtitlán (1325), nome que significa “Lugar das tunas sobre as pedras”. Os aztecas 
foram submetidos por Hernan Cortez em 1521. A fonte principal de estudo da cultura 
nahua são os escritos de Frei Bernardino de Sahagún (1499-1590), um missionário 
franciscano que se ocupou com historiografia e etnografia mexicana. 
1000 anos antes da invasão espanhola, predominava a cosmovisão tolteca, cujo 
centro era Quetzalcóatl, a serpente emplumada, uma das principais deidades do panteão 
nahua. Quetzalcoatl representa as energias telúricas que ascendem, a abundância da 
vegetação, o alimento físico e espiritual para o povo. Durante a conquista, os indígenas 
acreditaram que Hernán Cortez era Quetzalcóatl e essa parece ter sido uma das razões 
pela qual os espanhóis dominaram tão facilmente estes povos. Estes indígenas tinham 
uma ideia do Ometéotl, que era um princípio dual, deidade que se inventa a si mesma e 
 
 
P
ág
in
a1
3
 
não precisa nenhum outro fundamento ontológico; nele se reúnem os opostos e o caos, 
mas também os princípios ordenadores; espírito/matéria, branco/preto, vida/morte, 
masculino/feminino, criação/destruição. Teoltl é uma força vivificante e destruidora, 
incansável, uma espécie de devir instável que não é agentiva, pessoal ou intencional; 
Ela não é, ela devém, transforma-se e transforma; diferentemente da cultura ocidental, 
que considera o essencial como imóvel, os nahuas consideram o essencial como em 
perpétuo movimento. Segundo os nahuas, o mundo é um lugar muito perigoso para 
humanos; o equilíbrio é facilmente perdido; a pergunta fundamental é: “Como podem 
os humanos caminhar e florescer na terra?”. 
Os sacrifícios humanos tinham a ver com tentativas de estabelecer certos 
equilíbrios cósmicos e compensar os deuses. Há um forte sentimento de acabamento, do 
risco de acabar de maneiras calamitosas. Muitas das práticas indígenas são maneiras de 
demorar ou evitar essas calamidades, de maneira de estabelecer um elo entre o destino 
do mundo e as ações dos homens. Uma preocupação básica é se todos os esforços 
humanos conferem algum sentido à vida, ou se tudo é absurdo e não merece a pena, 
dado que morremos. Três preocupações básicas dos nahuas: o destino humano, a 
linguagem adequada aos deuses e a questão da morte e o além. 
Os “tlamatinime” são os sábios nahuas, “aqueles que conhecem as coisas por 
experiência”, capazes de enfrentar os problemas de acabamento e falta de sentido e 
tentar orientar as ações para seu tratamento ou resolução em ações e atitudes. Algumas 
das funções dos tlamatinime são: tornar sábios os rostos alheios, por um espelho diante 
dos outros, humanizar o querer dos homens, confortar os corações. Bernardino de 
Sahagun registrou uma interessante e intensa polêmica entre os sábios nahuas e os 
frades conquistadores, se queixando aqueles de ter sua cultura devastada e pedindo 
morrer uma vez que seus deuses foram mortos. 
 
 
Maias 
Os Maias são também mesoamericanos, ocupando os atuais territórios de 
Honduras e El Salvador. Muito antigas; nascem em torno de 1000 a.C, sendo seu 
período clássico entre 300 e 900 d.C. Continuaram ao longo dos séculos, mas já não 
 
 
P
ág
in
a1
4
 
eram florescentes na época da invasão espanhola. Para este povo, as forças da natureza e 
as diversas vicissitudes da vida, esforçada e difícil, são vistas como ações e lutas entre 
os deuses; a própria passagem do tempo, seu efeito demolidor, é também endeusada. Os 
maias desenvolveram um pensamento sofisticado e complexo sobre a temporalidade; 
organizaram o espaço da vida em 3 andares: deuses, mundo e homens. O próprio 
conflito interior humano, entre seus desejos animais e sua inteligência superior, é vista 
como uma luta entre forças favoráveis e desfavoráveis (não como bem ou mal, 
conceitos ocidentais); a atitude dos maias diante dessas forças não é de amor ou 
devoção, mas de reverência e temor, de incerteza e cautela. Aqui também aparece a 
deidade da serpente emplumada, mas com outros nomes; como nos astecas e incas, o 
Sol aparece como um deus (pela sua relação com o tempo, a luz, a vida, os ciclos); a 
matemática maia, a sua medição do tempo e seus calendários, estão a serviço da lida 
com a vida, do ameaçador e dos deuses protetores. 
Os maias não falaram uma única língua, chegaram a ter até 28 línguas diferentes, 
a diferença das culturas nahuas, que estiveram fortemente ligadas a uma única língua, a 
nahuatl. Mas houve na cultura maia mais textos escritos importantes, que atravessaram 
os tempos, em parte transmitidos oralmente, depois escritos e desaparecidos, e tornados 
a escrever depois da invasão espanhola, alguns deles transcritos e protegidos pelos 
próprios frades. O mais importante texto maia é o Popol Vuh (Livro do Conselho, ou da 
Comunidade); foi primeiro desenhado, pintado, transmitido oralmente, reescrito no 
século XVI, por um indígena, chegando às mãos de Francisco Ximenez, um padre da 
Guatemala, no século XVII ou XVIII. O livro está perpassado por influências cristãs 
frutos da invasão. 
O Popol Vuh está escrito em língua quiché, e é um livro sobre o nascimento, do 
mundo e dos humanos; contam-se 3 tentativas de criar o humano: de barro, de madeira e 
de milho (maíz). Os deuses dispensam as duas primeiras tentativas porque esses seres 
criados não têm memória nem capacidade de adorá-los e servi-los. “Nossa adoração é 
imperfeita se vocês não nos invocais” (Popol Vuh, 3). Também temos os livros do 
Chilam Balam, de tom profético, escrito muito tempo depois da invasão, durante o 
século XVIII; as suas profecias são retrospectivas e alguns intérpretes consideram que 
previram a invasão europeia; narram também um mito originário onde os deuses do 
inframundo – que aparecem no Popol Vuh – dominavam e tinham o universo cativo; no 
viés apocalíptico típico de muitas culturas indígenas, este escrito relata a destruição e 
 
 
P
ág
in
a1
5
 
renascimento dos níveis do inframundo, o desmoronamento do céu e o afundamento da 
terra. 
 
 
Incas 
Os Incas são comunidades sul-americanas; viveram na região da Cordilheira dos 
Andes nos atuais Peru, Chile, Bolívia, Argentina e Equador. No século XIII fundaram a 
cidade sagrada de Cusco. Falavam a língua quechua. Foram submetidos por Francisco 
Pizarro. Não conheceram a escritura, mas construíram os Kipú, espécies de contas 
entrelaçadas que constituem uma espécie de registro. Não houve apenas incas na região 
andina, de maneira que deveria falar-se de andinos incas e não incas; mas incas e não 
incas partilham numerosos temas sobre o mundo, o humano e o não humano. 
Tawatinsuyu era o nome da região inca; significa “as quatro partes juntas, 
unificadas”. A realidade inca compõe-se de deus (Wiracocha), mundo (Pacha) e homem 
(Runa). Os “amautas” eram os sábios incas, ou poetas filósofos, ou sacerdotes. Temas 
muito semelhantes aos nahuas aparecem nas filosofias andinas: consideram o cosmos e 
tudo o que há nele como vivificado por uma força vital única; tudo é dinâmico, em 
fluxo e emconstante circulação. Esta força assume a forma de dualidades 
complementares, não de dualismos antagônicos de tipo ocidental, pois trata-se de forças 
que se opõem mas não se excluem nem destroem. O cosmos consiste na contínua 
alternância destas dualidades; às vezes, esta complementariedade rompe-se provocando 
um desequilíbrio, uma desintegração cataclísmica (pachacuti), marcando etapas; o 
cosmos tem passado já por quatro etapas, ou “soles”. Mas o cosmos andino é aberto, no 
sentido de sujeito a ações humanas transformadoras, que contribuem a manter o mundo 
funcionando; mesmo os deuses estão em constante mudança, e a participação humana é 
absolutamente necessária; existe uma sabedoria em apreender a interagir com o mundo 
ao qual se pertence. 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a1
6
 
Indígenas brasileiros 
 
Existe ainda um elevado número de tribos indígenas no Brasil, aproximadamente 
128 comunidades espalhadas na Amazônia, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, 
Acre, Tocantins, Goiás, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa 
Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro,Ceará, Alagoas, Amapá, Minas Gerais e Bahia. Há 
outros censos que registram em torno de 200 tribos com quase 200 línguas diferentes. 
As tribos brasileiras remetem a 4 troncos linguísticos fundamentais: tupi (litoral), 
macro-jê (interior), karib e aruak. A denominação “tapuia” não indicava uma etnia, mas 
um termo depreciativo, como “bárbaro”, que o grupo tupi utilizava para denominar 
todas as outras tribos (o que prova que a discriminação e o etnocentrismo também 
vigoravam entre indígenas). Os invasores espanhóis contribuíram para esta 
simplificação entre tupis e tapuias, considerados rebeldes à evangelização e ao 
“processo civilizatório”. 
Afirma-se que não houve no Brasil grandes culturas indígenas comparáveis às 
incas, maias e astecas, mas isto também é relativo a critérios controversos, como o 
considerar “superiores” as culturas urbanas e edificadoras, portanto, sedentárias. Não 
obstante, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro escreve, no início de seu 
texto “Xamanismo e sacrifício”, falando das práticas sacrificiais nos Araweté: “Eles não 
diferem, enquanto a isso, da maioria dos povos das terras baixas sul-americanas, onde 
se encontram aqui ou ali práticas que poderiam talvez ser ditas de „tipo sacrificial‟, 
mas que jamais atingem a elaboração sociológica, a formalização ritual e a densidade 
cosmológica alcançada, por exemplo, nos sistemas religiosos das culturas andinas ou 
mesoamericanas” (Em: A inconstância da alma selvagem, p. 459). 
Nas populações indígenas brasileiras, os sábios são os pajés (ou xamãs), que 
poderiam ser postos ao lado dos tlamatinime nahuas, dos amautas incas e dos 
philosophoi gregos; cada cultura possui algum tipo de sábio que lida com o 
desconhecido que tem que se esclarecer, algum tipo de sacerdote, de líder espiritual 
capaz de fornecer um domínio sobre as forças ameaçadoras, ou de colocar-se em 
perspectivas diversas, ou de ver além das aparências, etc. Segundo Viveiros de Castro, 
as culturas indígenas brasileiras estão caracterizadas por certa fragmentação, por uma 
rejeição de toda acumulação, de qualquer tentativa de centralização (na forma de um 
 
 
P
ág
in
a1
7
 
Estado, por exemplo); em certa forma, cada humano, cada ser vivo, cada coisa, é um 
Estado, uma perspectiva sobre o mundo; não há ponto privilegiado, mas uma 
horizontalidade dispersa, uma destruição cerimonial do excedente a través da guerra 
perpétua, da vitória sobre o inimigo não pela destruição mas pela incorporação de sua 
perspectiva, nunca uma eliminação total, mas uma deglutição, uma assimilação ritual. A 
metafísica tupinambá, por exemplo, é uma metafísica perspectiva, caleidoscópica, 
múltipla e descentrada; não há nenhuma “fusão de horizontes”, nenhuma compreensão 
universal das coisas, nenhuma verdade objetiva e única. 
Para o ocidental, conhecer é despojar de subjetividade, des-subjetivizar, ver o 
objeto nu como ele seria em si mesmo; é des-animar o objeto, tirar-lhe qualquer alma, 
des-encantar. Para o indígena tupinambá, é o contrário, conhecer é atribuir uma 
intencionalidade, uma perspectiva, é animar; algo impessoal lhe seria totalmente 
ininteligível. Em certa forma, para eles tudo é humano, os animais já foram humanos, 
ou podem ser alternadamente humanos e animais; e é por isso que tudo é perigoso, por 
ser humano, por ter uma intencionalidade, em geral maligna; há um fundo comum que é 
humano (a diferença do ocidental que pensa a humanidade como um desdobramento de 
um fundo animal). Este perspectivismo fragmentado está intimamente ligado com os 
rituais antropofágicos, como assimilação ritual de outras perspectivas, desvinculada da 
função nutritiva. Morrer devorado era, por sua vez, uma morte digna e personalizada 
para o tupinambá; não apenas devorar, mas ser devorado, acolhido pelo humano; morrer 
“naturalmente” – de uma peste, por exemplo - interromperia a cadeia simbólica das 
vinganças, e seria uma morte sem qualquer sentido. 
 
 
Mapuches 
Os Mapuches (que significa “gente da terra”) são um povo indígena da região 
centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina, também chamados araucanos, nome 
possivelmente colocado pelos espanhóis ou pelos incas. Com os sucessivos fracassos de 
submetê-los, os espanhóis se viram obrigados, no ano 1641, a firmar com eles o Tratado 
de Quilín, declarando as terras austrais ao rio Bio-Bío “território autônomo Mapuche". 
Essa persistente resistência, que sacrificou três quartos da sua população, fez com que, 
 
 
P
ág
in
a1
8
 
dentre todos os grupos indígenas de América Latina, os Mapuches fossem os únicos a 
conseguir autonomia territorial frente ao império espanhol. Após a “independência” 
chilena em 1818, embora o Estado chileno formalmente ratificasse o “território 
autônomo Mapuche”, a existência deste povo era um obstáculo para o projeto de 
“modernização” do país. A partir de ali, diversas políticas nacionais foram reduzindo 
gradativamente os territórios mapuches, ocasionado a morte de milhares de indígenas e 
o despojo de grande parte de seus territórios. A resistência mapuche persiste ainda hoje, 
e é por isso que o estudo deste povo e sua cultura merece destaque especial. 
 
 
Pensamento indígena hoje 
 
Alguns dos pontos mais promissores para uma possível interação com as 
culturas indígenas, através da mediação europeia, podem ser os seguintes: (a) A ideia de 
um pensar não conceitual, ou conceitual através de imagens e narrativas, pensar fluído, 
temporal, poético; (b) A ideia de um pensar como sobrevivência diante dos rigores e 
agruras da natureza e da sociedade humana e animal; admiração, curiosidade ou dúvida 
seriam tributárias de um sentimento mais básico, sem as transcendências puramente 
teóricas e pretensamente “desinteressadas” do pensamento ocidental; (c) Aprender a ver 
os próprios mitos sacrificiais das nossas culturas, tudo o que é sacrificado para a 
“civilização” moderna continuar a se desenvolver; (d) Visualizar a espantosa 
persistência da religiosidade e o sentimento do sagrado nos povos através das épocas até 
hoje, o que sugere um vínculo profundo com os povos originários; (e) Visualizar o 
sentido atual das resistências indígenas contra um sistema de organização da vida 
humana que está levando o planeta a uma situação de inevitável destruição. 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a1
9
 
PENSADORES DO PERÍODO COLONIAL (Séculos XVI a XVIII) 
 
 
Observação preliminar: A visão americana da filosofia é aqui concebida como 
um evento histórico-existencial, não como mero fato geográfico ou nacional. Isto 
significaque quando europeus assumem, mesmo que de maneira limitada, o ponto de 
vista americano, por exemplo, na questão da resistência indígena, não interessa que, 
geograficamente, esses pensadores tenham nascido na Europa. Para os efeitos da relação 
desta cartilha, pensadores do período colonial nascidos em Portugal ou na Espanha que 
pensaram o problema americano, fazem parte do pensamento americano em sentido 
histórico-existencial. 
 
Fray Antón de Montesinos (1482, local desconhecido – 
1540, Venezuela). Frei dominicano espanhol; chegou em 
1510 à Espanhola (atual República Dominicana) junto com a 
primeira comunidade de sua ordem. Em 1511 Montesinos fez 
o primeiro sermão de denúncia dos abusos e crimes contra os 
índios, diante dos colonos espanhóis, incluindo o governador 
Diego Colombo, filho de Cristovam Colombo. Bartolomé de 
Las Casas foi um dos ouvintes deste famoso sermão, ficando 
profundamente impressionado. Montesinos foi acusado pelos 
colonos e pelo próprio Diego Colón de professar uma 
“doutrina nova” e colocar em perigo o governo espanhol nas 
Índias. Acredita-se que foi envenenado por colonos na 
Venezuela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
0
 
Francisco de Vitoria (1483, Burgos – 1546, Salamanca), foi 
um filósofo, teólogo católico e jurista espanhol que lecionou 
na Universidade de Salamanca. Foi notável principalmente 
por suas contribuições a teoria da “guerra justa”. Tem sido 
considerado por alguns acadêmicos como o pai do direito 
internacional e fundador da filosofia política global. Foi 
educado em Paris no Collège Saint-Jacques e em 1504 
tornou-se dominicano. Principais obras: De potestate civili, 
1528, Del Homicidio, 1531, De potestate ecclesiae I and II, 
1532, De Indis, 1532, De Jure belli Hispanorum in barbaros, 
1532, Relectiones Theologicae, 1557, De Indis et De Jure 
Belli (1917). 
 
Bartolomé de las Casas (Sevilha, 1484 - Madri, 1566). 
Sacerdote dominicano, cronista, teólogo, bispo de Chiapas. 
Em 1510 foi ordenado primeiro padre das Américas. Em 
1511, ouve um sermão de Antonio de Montesinos contra as 
atrocidades contra os índios, mas só em 1514 convence-se da 
injustiça das ações espanholas na colônia, começa a pregar 
em defesa dos nativos e abdica de seus privilégios. Seus 
posicionamentos levaram-no a ser perseguido pelos 
colonizadores. Em 1527 começa a escrever a Historia de las 
Índias, reportando seu testemunho dos anos da conquista. Em 
1550-51, envolve-se num debate na cidade de Valladolid com 
Juan Ginés de Sepúlveda, que defendia a tese de que os 
indígenas deviam ser pacificados à força. Em 1552, 
publica Brevísima relación de la destrucción de las Indias, 
relatando as atrocidades cometidas nos primeiros anos da 
conquista. 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
1
 
 Juan Ginés de Sepúlveda (Pozoblanco (Espanha), 1489 - 
1573). Bacharel em Artes e Teologia. Membro da Ordem 
Dominicana, conhecido por sua fluência em línguas clássicas. 
Tradutor de Aristóteles, a passagem da Política onde o autor 
discorre sobre a escravidão por natureza exerceria grande 
influência em seu pensamento. Foi crítico das reformas 
eclesiásticas e da ideia de livre-arbítrio defendida por Erasmo 
e Lutero. Considerado o defensor oficial da conquista, 
colonização e evangelização dos indígenas da América. Em 
1550, participou da famosa Controvérsia de Valladolid com 
Bartolomé de Las Casas a questão da humanidade dos 
indígenas. Obras principais: De rebus hispanorum gestis ad 
Novum Orbem Mexicumque, De justis belli causis apud 
índios, Democrates, sive de justi belli causis. 
 
Bernardino de Sahagún (Sahagún, Espanha, 1499 - México, 
1590). Foi um frade franciscano que desembarcou na “Nova 
Espanha” (México) em 1529, onde estudou por mais de 50 
anos a história e cultura astecas, além de contribuir para o 
conhecimento da língua nahuatl, sendo por isso considerado 
como o primeiro etnógrafo. Sua obra principal é Historia 
General de las Cosas de la Nueva España, escrita entre 1540 
e 1585, célebre por apresentar a história do choque de 
culturas na visão dos indígenas. Ajudou a fundar uma das 
primeiras escolas europeias da América, o Colegio Imperial 
de Santa Cruz de Tlatelolco, centro de recrutamento de 
nativos para estudos do evangelho e lugar de estudo da 
língua nahuatl. 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
2
 
Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro (Portugal) 1517 – 
Rio de Janeiro, 1570) foi um padre jesuíta português, o 
primeiro provincial da sociedade de Jesus no Brasil colonial. 
Ao lado de José de Anchieta, esteve muito presente no 
começo da história do Brasil, participando da fundação de 
muitas cidades, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São 
Paulo, e de vários colégios e seminários jesuíticos. Nóbrega 
foi contra a escravização dos índios e essa postura gerou 
graves confrontos com os habitantes e autoridades da nova 
colônia. Principais obras: Cartas do Brasil (1549-70), 
Diálogos sobre a Conversão do Gentio (1557), Caso de 
Consciência sobre a Liberdade dos Índios (1567) e Tratado 
Contra a Antropofagia (1559). 
 
Pedro da Fonseca (Cortiçada, Portugal,1528 - Lisboa, 
1599). Filósofo e teólogo jesuíta português, profundo 
conhecedor da filosofia de Aristóteles, dedicou-se com afinco 
aos c omentários pormenorizados deste filósofo, 
especialmente em seus “Comentários à Metafísica de 
Aristóteles”, obra que teve mais de 50 reedições. Também 
escreveu “Instituições dialéticas”. Mas, como Suarez, 
pensava que comentar Aristóteles não era suficiente, que 
havia que adaptá-lo aos tempos novos. Também participou 
das controvérsias sobre liberdade e graça divina. Em 
Coimbra, promoveu a ideia de um Cursus Conimbricencis, 
que depois foi realizado pelos jesuítas. Morando em Roma, 
participou da elaboração da famosa Ratio Studiorum, 
posteriormente adotada pela Companhia de Jesus. 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
3
 
Felipe Guaman Poma de Ayala (San Cristóbal de Suntuntu, 
1534 – Lima, 1615). Cronista peruano, de ascendência nobre, 
autor da narrativa Nueva Crónica y Buen Gobierno, escrita 
entre 1600 e 1615, considerada como o primeiro depoimento 
da conquista espanhola feita desde a perspectiva de um 
indígena. A obra está escrita numa língua mista, de espanhol 
e línguas indígenas, ilustrada com desenhos do próprio autor, 
na forma de uma carta ao rei da Espanha, Felipe II. O 
manuscrito da obra foi perdido durante séculos e somente foi 
encontrado em 1908 em Copenhague. O autor elogia as 
formas de governo indígenas anteriores à invasão, 
considerando-as mais adequadas ao espírito cristão. Junto 
com Las Casas, Poma é um dos grandes representantes da 
chamada “visão dos vencidos”. 
 
 
 Luis de Molina (Cuenca (Espanha), 1535 – Madri, 1600) foi 
jesuíta, teólogo e jurista espanhol. Estudou Direito em 
Salamanca e teologia em Coimbra. A doutrina defendida em 
sua obra De Concordia é conhecida como molinismo. Nela, 
procura conciliar a liberdade humana com a graça divina. 
Defende a capacidade do homem, servindo-se de sua razão 
natural, de realizar os atos de acordo com a fé cristã, sem 
necessidade de revelação divina, Deus intervindo nas ações 
humanas pela ciência media, que lhe garante conhecimento 
prévio de todas as possíveis ações de cada indivíduo. As 
ideias dessa obra geraram uma polêmica com os dominicanos 
conhecida como Polêmica de auxiliis. Em De Iustitia et Iure, 
Molina nega que a superioridade cultural e civilizacional 
fossem justificativas para a dominação de outros povos, por 
mais bárbaros que fossem. 
 
 
 
 
P
ág
ina2
4
 
 Francisco Suárez ( Granada, 1548 – Lisboa, 1617) foi um 
padre jesuíta, filósofo e teólogo espanhol, tido como um dos 
maiores escolásticos. Participou do famoso método da Ratio 
Studiorum. Escreveu uma Defesa da fé católica e apostólica 
contra os erros da seita anglicana que foi queimada em 
público em Inglaterra e França. Participou da disputa de 
auxiliis sobre o livre arbítrio e a graça divina, entre 
dominicanos e jesuítas, iniciada por Molina. Suas posturas 
jurídicas são avançadas, incluindo o direito de gentes de 
derrocar o mal governante; criou um sistema filosófico coeso 
magistralmente exposto nas célebres Disputações Metafísicas 
de 1597. Outras obras: Disputatio ultima de bello (1584), 
Quaestiones de iustitia et iure (1585), De homicidio in 
defensionem propriae personae (1592), De Legibus tractatus 
(1601-1603), De triplice virtute theologica (1621, obra 
póstuma). 
 
Antônio Rubio (La Roda, Espanha, 1548 – Espanha, 1615). 
Estudou filosofia na Universidade de Alcalá, e, antes de 
concluir o curso, entrou na Companhia de Jesus. Viaja ao 
México na primeira leva de jesuítas às Américas em 1575. A 
partir de então se dedica à docência. Foi grande admirador de 
Aristóteles, tornando-se conhecido pelos seus volumosos 
comentários a esse autor. Porém, sua maior contribuição à 
filosofia se deu em lógica com seu livro “Lógica Mexicana” 
de 1605, um livro tão importante que filósofos como 
Descartes aprenderam lógica com ele. Escreveu também “De 
Physico Auditu”, (1605), e comentários ao “De Ortu et 
Interitu Rerum Naturalium”, (1609), ao “De Anima”, (1611), 
e ao “De Caelo et Mundo”, (1615). 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
5
 
Francisco Sanches (Tuy ou Braga, Espanha, 1550 - França, 
1622). Filósofo e médico, judeu sefardita, nasceu na Espanha 
mas foi batizado como cristão-novo em Braga (Portugal). 
Aos 12 anos, mudou-se para Bordeaux e em seguida foi 
estudar medicina em Roma. Em 1575, tornou-se professor de 
filosofia e medicina em Toulouse, onde praticou durante 30 
anos dedicando-se a investigar em cadáveres. Além de 
médico, foi eminente filósofo, crítico declarado do 
aristotelismo e da Escolástica, e defensor de um tipo de 
ceticismo radical, pelo qual é considerado um precursor de 
Hume. Em sua obra mais famosa Que nada se sabe (1581), 
afirma que o conhecimento humano é meramente provável, 
só alcançando aparências, nunca essências; contra a “dúvida 
metódica” de Descartes, declara que os sentidos são o único 
que pode nos dar algum tipo de conhecimento seguro. 
 
Antônio Vieira (Lisboa, 1608 – Salvador, 1697). Jesuíta, 
filósofo e orador luso-brasileiro. Aos 6 anos faz a sua 
primeira viagem ao Brasil. De imediato impressionam seus 
extraordinárias dotes de orador e pregador. Em 1661, teve 
que enfrentar o Tribunal da Inquisição por causa de algumas 
das suas teses. Foi autor de numerosos Sermões, que ele 
muitas vezes elaborava de acordo com circunstâncias 
específicas, textos notáveis por sua retórica, beleza e 
contundência, versando sobre temas como a questão 
indígena, a escravidão dos negros, a condição humana, 
religião, moral e política. Também merecem destaque suas 
obras proféticas, entre as quais a História do Futuro (iniciado 
em 1649, mas publicado postumamente em 1718). 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
6
 
Sor. Juana Inês de La Cruz (San Miguel Nepantla, México, 
1651 – Cidade de México, 1695). Talvez a escritora mais 
importante do século XVII, pensadora católica, poetisa e 
dramaturga. Possuía um desejo insaciável de compreender 
tudo; mesmo num meio adverso, acometeu estudos em 
filosofia clássica e medieval, defendendo o direito da mulher 
de fazer investigação. Parece ter escolhido a vida religiosa 
mais para preservar seu espaço de estudo do que por genuína 
vocação; sua cela se converteu em ponto de encontro de 
intelectuais e até em lugar de experimentos científicos. Suas 
reflexões estão perpassadas pela dúvida no poder dos 
sentidos e do intelecto para atingir verdades profundas. 
Grande parte da sua obra foi perdida; se conservam sua 
Resposta a sor Filotea de la Cruz, sobre críticas que Sor Inés 
tinha feito ao sermão do Mandato de Antonio Vieira; e o 
poema filosófico Primer Sueño. 
 
Nuno Marques Pereira (Bahia ou Portugal, 1652 - Lisboa, 
em torno de 1733). Foi um padre e escritor luso-brasileiro de 
cunho moralista. A única produção que nos deixou é uma 
obra de moral religiosa, chamado Compêndio narrativo do 
peregrino de América, escrito “contra os abusos introduzidos 
pela malícia diabólica no Estado do Brasil”. Este livro teve 
enorme sucesso editorial no século XVIII; trata-se de um 
manual de educação piedosa incluindo narrativas, parábolas e 
meditações filosóficas, escrito em forma de diálogo, 
destacando a condição dos humanos no mundo como 
peregrinos. Em muitos momentos da obra o tom é pessimista 
e moralista, mas o escravagismo e anti-semitismo são 
justificados usando categorias religiosas. 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
7
 
 Matias Aires (São Paulo, 1705 – Portugal, 1763) foi filósofo 
luso-brasileiro, passando apenas os primeiros 11 anos da sua 
vida no Brasil, tendo estudado com os jesuítas. Em 1716 
mudou-se com a família para Portugal e nunca mais voltou 
para o Brasil. Matias formou-se em direito em Coimbra e 
morou um tempo em París. Levou uma vida de estudo e 
reclusão. Autor de Reflexões sobre a vaidade dos homens e 
Carta sobre a fortuna. A primeira obra teve muito sucesso no 
Brasil. Nela, Matias faz uma análise sobre o comportamento 
humano que se vê fundamentado na vaidade, paixão que 
ganha status metafísico na sua fina reflexão de fundo cético e 
pessimista. 
 
 
Javier Clavijero (Veracruz, 1731 – Bolonha, 1787). Jesuíta, 
historiador e pensador mexicano, figura eclética que cultivou 
uma escolástica modernizada. Viveu em várias regiões quase 
todas com forte presença indígena, chegando a aprender a 
língua náhuatl ainda criança. Ensinou em México e Puebla 
para alunos indígenas e em Valladolid e Guadalajara, até a 
expulsão dos jesuítas em 1767. Depois refugiou-se na Itália, 
onde faleceu. Pensou diversas questões sobre a sua pátria, 
além de criticar o barroquismo na linguagem e preconizar a 
modernização da escolástica. Escreveu uma Física 
particular, parte de um Curso de Filosofia que tinha 
projetado, uma Historia antigua de México, onde recupera o 
passado indígena e os defende das acusações da historiografia 
oficial, De las colonias de los tlaxcaltecas, Diálogo entre 
Filaletes y Paeófilo, entre outros. 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
8
 
 Juan Benito Díaz de Gamarra (Zamora, México, 1745 - 
1783). Figura representativa da ilustração no continente 
americano. Sua obra mostra uma atitude científica e anti-
aristotélica, bom exemplo do ecletismo ilustrado hispânico – 
de influência cartesiana e leibniziana - que tenta conciliar 
sistemas aparentemente incompatíveis. Considerado 
precursor das ideias da independência mexicana. Escreveu 
Elementos de filosofía moderna e Academias filosóficas 
(ambas de 1774), Errores del entendimiento humano (1781) e 
Memorial ajustado (1790). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a2
9
 
PENSADORES DO SÉCULO XIX 
 
Silvestre Pinheiro Ferreira (Lisboa, 1769 - 1848). Filósofo 
e político português que ocupou importantes cargos. No 
início do século XIX teve oportunidade de ir à Alemanha e 
acompanhar o debate pós-kantiano e as conferências de 
Fichte e Schelling. Foi figura importante para o Brasil, talvez 
acidentalmente,pois acompanhou a família real na sua 
viagem ao Brasil fugindo das invasões napoleônicas, e 
acabou morando no Brasil entre 1810 e 1821, onde desen 
volveu grande parte da sua obra mais importante, as 
Preleções Filosóficas, publicadas em 1813, resultado de suas 
lições de filosofia ministradas no Real Colégio de São 
Joaquim, no Rio de Janeiro, obra de forte influência na 
formação filosófica brasileira. Autor de Noções elementares 
de filosofia e suas aplicações às ciências morais e políticas, 
de 1839. 
 
 Andrés Bello (Caracas, 1781 – Santiago de Chile, 1865). 
Filósofo, filólogo, pedagogo e jurista humanista venezuelano; 
de formação fortemente autodidata, desenvolve reflexões de 
estética, filosofia da linguagem e filosofia da lógica, e sobre 
filosofia em Hispano-américa. Foi professor de Simón 
Bolivar e precursor da independência. Morou em Londres por 
muitos anos e depois no Chile, onde desenvolve intensa 
atividade política e jornalística. Com seu apoio cria-se a 
Universidade do Chile em 1842, da qual seria reitor. Obras: 
Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los 
americanos y los esclavos españoles, Principios del derecho 
de gentes e a Filosofia del entendimiento (publicação 
póstuma). 
 
 
P
ág
in
a3
0
 
Juan Bautista Aberdi (Tucumán, Argentina, 1810 – França, 
1884). Jurista, diplomata e pensador argentino, o primeiro a 
utilizar o termo “filosofia americana” e a colocar o problema 
de um pensar próprio. Em 1835 se ligou com o Salão 
Literário, um grupo de jovens liberais, continuadores da 
revolução de maio. Em 1837 redige o Fragmento preliminar 
ao estudo do direito, onde faz um diagnóstico da situação 
nacional. No início partidário de Rosas, o controverso 
governador de Buenos Aires, mais tarde torna-se seu 
opositor, o que o leva a exilar-se em Uruguai e mais tarde em 
Paris. Após a queda de Rosas em 1852, Alberdi redige Bases 
y Puntos de Partida para la Organización Política de la 
República Argentina, que seria o esboço da constituição 
argentina de 1853. Diante de um país despovoado, 
popularizou a frase: “governar é povoar”. Teve polêmica 
memorável com Sarmiento nas Cartas quillotanas. Sua obra 
O crime da guerra foi publicada póstuma. 
 
Nísia Floresta (Rio Grande do Norte, 1810, Rouen (França), 
1885). Pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, educadora, 
escritora e poetisa potiguar. Uma importante representante do 
positivismo no Brasil, amiga pessoal de Auguste Comte. 
Considerada pioneira do feminismo no Brasil, Nísia Floresta 
escreveu, em 1831, uma série de artigos de jornal sobre a 
condição feminina numa publicação pernambucana 
chamada Espelho das Brasileiras. Em 1853, vivendo na 
França, escreveu Opúsculo Humanitário, uma coleção de 
artigos sobre a emancipação da mulher que teria sido 
elogiada pelo próprio Comte. Sua obra mais conhecida é 
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), tida 
como a primeira obra feminista da América Latina. Também 
escreveu Conselhos à minha filha (1842) e A lágrima de um 
Caeté (1849). 
 
 
P
ág
in
a3
1
 
Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio de Janeiro, 
1811 – Roma, 1882) Escritor, diplomata e filósofo, 
conhecido por ter inaugurado o romantismo brasileiro com a 
publicação de seus Suspiros poéticos e saudade (1836). Sua 
obra poética trata de temas como a pátria, a religião e a 
natureza e às vezes exprime um amargo pessimismo. 
Enquanto filósofo e psicólogo escreveu obras como A alma e 
o cérebro, Comentários e pensamentos, e sua obra mais 
importante, Os fatos do espírito humano (1865), publicada 
primeiramente em Paris e considerado o texto inaugural da 
filosofia moderna no Brasil, dialogando com filósofos 
europeus tais quais Descartes, Condillac e Locke. 
Considerado um representante do ecletismo brasileiro, seu 
pensamento é marcadamente espiritualista. 
 
 Domingo Faustino Sarmiento (San Juan (Argentina), 1811 
– Asunción (Paraguai), 1888). Escritor e político argentino, 
de origem humilde, foi autodidata e chegou a ser presidente 
da Argentina. Durante o governo de Juan Manuel de Rosas, 
de quem foi forte opositor, foi no exílio no Chile onde 
escreveu sua obra mais famosa, Facundo: civilização e 
barbárie (1845), uma biografia do caudilho Facundo Quiroga 
mas que visava indiretamente Rosas, e onde coloca o 
dualismo civilização (Europa) e barbárie (índios, gaúchos), 
como categoria filosófica, sendo um dos propulsores da 
ideologia “civilizatória”. Fez parte do Exército Grande que 
derruba Rosas em 1852. Foi governador da sua cidade natal, 
embaixador nos EEUU e presidente entre 1868 e 1874. 
Durante sua presidência, abriu numerosas escolas públicas e 
bibliotecas, incentivando a imigração. Recuerdos de 
provincia (1850) é outra das suas obras mais notáveis, ao 
lado de Las ciento y uma (1853), na sua famosa polêmica 
com Alberdi. 
 
 
P
ág
in
a3
2
 
Francisco Bilbao (Santiago de Chile, 1823 – Buenos Aires, 
1865). Filósofo espiritualista, teórico da filosofia hispano-
americana e militante político. Com um grupo de amigos 
formou um movimento radical, a Sociedad de la Igualdad, 
que foi depois fechada, obrigando Bilbao a trabalhar na 
clandestinidade. Seus textos críticos contra a religião católica 
lhe valeram uma excomunhão; em Paris, utilizou pela 
primeira vez, numa de suas conferências, a expressão 
“América Latina”. Autor de Sociabilidad chilena (1844), 
onde criticava o sistema autoritário e a igreja, La ley de la 
historia (1858), La América en peligro (1862), onde critica as 
invasões europeias de Santo Domingo e México, e El 
evangelio americano (1864). 
 
Tobias Barreto (Vila de Campos, Sergipe, 1830 - 1899). 
Jurista, filósofo e poeta, membro-fundador da Escola de 
Recife; estuda o positi vismo na sua vertente teórica, sem os 
elementos religiosos dos antecessores, transformando-se mais 
tarde em crítico dessa corrente desde uma posição metafísica 
de corte monista e evolucionista, influenciado pelo 
espiritualismo francês e por Haeckel. Tobias era um orador 
notável e estudioso autodidata da filosofia. Aprofundou seus 
estudos de alemão para poder ler os filósofos em seus textos 
originais. De fato, contribuiu para a difusão do pensamento 
alemão no Brasil, redigindo inclusive um jornal em alemão, o 
"Deutscher Kampfer" (O lutador alemão), e escrevendo 
depois os Estudos alemães (1883). Autor de Estudos de 
Filosofia (1868-1882), Menores e loucos (1884) e o Discurso 
em mangas de camisa (1887), entre muitos outros discursos. 
 
 
 
 
P
ág
in
a3
3
 
José Martí (La Habana, Cuba, 1853 – Dos Ríos, Cuba, 
1895). Político revolucionário, pensador, jornalista e poeta, 
Partido Revolucionário Cubano e organizador da chamada 
“guerra necessária” de 1895 contra a dominação espanhola. 
Muito novo, foi preso e processado pelo governo espanhol 
por distribuir panfletos revolucionários e condenado a 6 anos 
de trabalhos forçados, dos que foi dispensado pela sua má 
saúde, sendo deportado para Espanha; lá ele escreveu El 
presídio político em Cuba, onde denunciava os horrores da 
prisão. Seu estilo era predominantemente o ensaio, de estilo 
vigoroso e idealista. Em 1895, comandando um grupo de 
patriotas cubanos, foi atingido morrendo na hora. Com 
apenas 42 anos de vida escreveu uma obra de 28 volumes, 
contendo reflexões entre romantismo e positivismo e o 
caráter prático e político da filosofia. Um dos principais 
ensaios de Martí é Nuestra América. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a3
4
 
PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XXEnrique José Varona (N. Camagüey, 1848 – La Habana, 
1933). Nascido em Cuba, Varona exerceu grande influência 
no pensamento da época, com obras e ensaios marcados pela 
filosofia, política e pedagogia. É considerado um dos 
principais representantes do positivismo cubano do período, 
tendo alguns de seus trabalhos de juventude sido 
caracterizados por uma influência do pessimismo. 
Posteriormente, seus textos de maturidade passam a refletir 
sobre educação e os movimentos estudantis contrários à 
ditadura de Gerardo Machado. Dentre suas obras, podem ser 
citadas: La metafísica en la Universidad de La Habana, De 
la Colonia a la República e El imperialismo a la luz de la 
sociología. 
 
Alejandro Deustúa (Huancayo, Perú, 1849 – Lima, 1945). O 
mais longevo dos pensadores americanos (96 anos), o que faz 
com que atravesse várias faces do processo: de positivista a 
antipositivista convicto e pensador espiritualista; educador e 
diplomata; filósofo da liberdade, de forte influência no 
pensamento peruano das três primeiras décadas do século 
XX. Envolvido na discussão sobre o estatuto das ciências do 
espírito; era em favor da educação das elites dirigentes e 
contra a cultura popular, considerando as culturas indígenas 
definitivamente derrotadas e ao índio como intelectualmente 
inferior. Autor de As ideias de ordem e liberdade na história 
do pensamento humano (1922), Filosofia moral, e de uma 
importante Estética Geral (1923). 
 
 
P
ág
in
a3
5
 
Silvio Romero (Lagarto (Sergipe)- Brasil, 1851 – Rio de 
Janeiro, 1914) Crítico, ensaísta, folclorista, filósofo e 
historiador da literatura brasileira, fez parte da escola de 
Recife junto com Tobias Barreto, que pretendia uma 
renovação da mentalidade brasileira. Inicialmente se 
identificou com o positivismo, porém se afasta da influência 
de Comte e aproxima-se da filosofia evolucionista de Spencer 
em seu propósito de construir uma análise crítica do texto 
literário. Em 1878 publica Cantos, obra poética. Também 
escreveu uma série de perfis políticos. Na obra 
Zeverissimações Ineptas da Crítica polemiza com José 
Veríssimo. Interessava-se pela cultura popular, e escreve em 
1878 uma Filosofia no Brasil. Em 1882 publica sua obra 
prima A História da Literatura Brasileira. 
 
 Miguel Lemos (Niterói (Brasil), 1854 – Petrópolis (Brasil), 
1917). Filósofo brasileiro de orientação claramente 
positivista. Criador, com Teixeira Mendes e Benjamin 
Constant, da Sociedade Positivista de Rio de Janeiro em 
1876. Em Paris relaciona-se com discípulos de Comte, 
especialmente Émile Littré e Pierre Lafitte, que 
representavam respectivamente a versão filosófica e a 
religiosa do positivismo, e com o chileno Jorge Lagarrique. 
No Brasil militou ativamente em favor do positivismo 
religioso em questões sociais, políticas e religiosas, como o 
abolicionismo, os direitos trabalhistas e o pacifismo, 
transformando a sociedade positivista na igreja positivista do 
Brasil. Autor do Resumo histórico do movimento positivista 
no Brasil, a Ortografia positivista (1888) e o Apostolado 
positivista no Brasil (junto com Teixeira Mendes). 
 
 
 
P
ág
in
a3
6
 
Raimundo Teixeira Mendes (Caxias (Brasil), 1855 – Rio de 
Janeiro, 1927). Filósofo, matemático e ativista político de 
orientação positivista; igual que seu colega Lemos, primeiro 
aderiu apenas a versão filosófica do positivismo comtiano, 
mas depois se envolveu na “religião da humanidade” e a 
igreja positivista. Ambos tentaram uma interpretação da 
realidade brasileira desde o positivismo, defendendo a 
abolição da escravatura e a proclamação da república. 
Teixeira apresentou ao novo governo um projeto de bandeira 
nacional, com as palavras – de nítido corte positivismo – 
“ordem e progresso”, que foi aceito. Envolveu-se em 
questões sociais (separação da igreja e o Estado, limites 
territoriais, legislação trabalhista, direitos da mulher). Autor, 
com Miguel Lemos, dos livros Circulares anuais do 
Apostolado positivista no Brasil (1881) e A nossa iniciação 
no Positivismo (1889). 
 
Alejandro Korn (San Vicente, Buenos Aires, 1860 – La 
Plata (Argentina), 1936). Filósofo, médico psiquiatra e 
político, pensador da reação antipositivista, o mais importante 
filósofo argentino deste período. Graduou-se em medicina em 
1882 com uma tese sobre Loucura e Crime, trabalhando em 
diversos hospitais. Ocupou diversos cargos (intendente, 
deputado provincial), afiliando-se ao partido socialista 
argentino em 1931. Vinculou-se aos movimentos da reforma 
universitária, feita dentro de uma reação contra o positivismo. 
Reivindica o pensamento metafísico com influências 
marcantes de Ortega y Gasset e Kant; reflete sobre a natureza 
do filosofar e a situação da filosofia na Argentina e em 
América. Autor de: A liberdade criadora (1922), Axiologia 
(1930), Apuntes filosóficos, Filosofia argentina, Novas Bases 
(alusão ao livro clássico Bases, de Alberdi) (1935), e Sistema 
filosófico (1959). 
 
 
P
ág
in
a3
7
 
Raimundo de Farias Brito (São Benedito, Brasil, 1862 – 
Rio de Janeiro, 1917). Jurista e filósofo, pensador 
espiritualista, existencial, pessimista e anti-positivista, o mais 
importante filósofo brasileiro deste período. Formou-se em 
direito na Faculdade de Direito de Recife, onde foi aluno de 
Tobias Barreto. Trabalhou como advogado e ocupou cargos 
públicos. Venceu o concurso para a cátedra de Lógica no 
Colégio Pedro II, mas o presidente da República escolheu o 
segundo colocado, Euclides da Cunha; tendo este sido morto 
num duelo, Farias Brito assumiu a cátedra. De forte espírito 
religioso, combateu o materialismo e o evolucionismo, em 
favor de um Deus fundamento da natureza. Autor da 
ambiciosa obra Finalidade do Mundo (em 3 volumes 
publicados em 1894, 1897 e 1905), A base física do espírito, 
A verdade como regra e O mundo interior (1914). 
 
Graça Aranha (São Luis de Maranhão (Brasil), 1865 – Rio 
de Janeiro, 1931). Romancista, pensador da estética e 
diplomata, graduou-se em direito em Recife, onde foi aluno 
de Farias Brito. Nas suas viagens diplomáticas teve contato 
com os movimentos vanguardistas europeus, sendo um dos 
organizadores da famosa Semana da arte moderna de 1922, 
onde proferiu a conferência “A emoção estética na arte 
moderna”, rompendo logo depois (em 1924) com a Academia 
brasileira de letras, à que acusou de passadismo e imobilismo 
literário. Buscou inspiração em diversos municípios 
brasileiros, especialmente em Espírito Santo, para escrever 
seu romance mais famoso, Canãa, publicado em 1902, 
apresentando nele uma visão filosófica peculiar. Autor de 
Estética da vida (1921), um curioso livro de estética 
metafísica e de Viagem maravilhoso (1929). 
 
 
P
ág
in
a3
8
 
José Enrique Rodó (Montevideu, Uruguai, 1871 – Palermo, 
Itália, 1917). Escritor, historiador e político uruguaio, 
desenvolveu atividades como jornalista e publica suas 
primeiras obras. Apesar de ter vivido apenas 46 anos, escreve 
volumosa obra literária e filosófica, sendo um dos autores 
ibero-americanos indispensáveis. Retratou com estilo 
modernista o mal-estar hispano-americano de passagem de 
século, com forte inspiração clássica, num estilo 
espiritualista. Embora não tendo acabado seus estudos 
formais de literatura, sua fama lhe permitiu ser professor de 
literatura na universidade de Montevidéu. Em seu clássico 
Ariel (1900), obra literário-filosófica, muito lida na época e 
ainda hoje, defende o americanismo e dirige uma crítica 
poética contra o materialismo individualista, especialmente 
norte-americano; a partir dessa obracria-se o movimento 
chamado “arielista” em todas as nações de Hispano-américa. 
Outra obra importante de Rodó é Motivos de Proteu (1909). 
 
 Enrique Molina Garmendia (Chile, 1871 – 1956). Filósofo 
espiritualista crítico do positivismo, mas ao mesmo tempo 
pensador imanentista, atento à precariedade da vida humana. 
Também pedagogo de vasta influência em seu país e em 
América. Fundador da Universidad de Concepción, em 1919. 
Sua filosofia é uma espécie de ontologia espiritualista onde 
são estudadas as relações entre o ser e a consciência. 
Escreveu: Do espiritual na vida humana (1936), Para os 
valores espirituais (1939), Confissão filosófica (1941), A 
filosofia em Chile na primeira parte do século XX (1951), 
Tragédia e realização do espírito (1952). 
 
 
 
 
P
ág
in
a3
9
 
José Ingenieros (Palermo, 1877 – Buenos Aires, 1925). 
Médico psiquiatra, psicólogo, filósofo e sociólogo, o mais 
importante positivista argentino; desempenhou diversos 
cargos em instituições médicas argentinas, completou seus 
estudos em Paris, Genebra e Heidelberg, e proferiu muitas 
conferências em universidades europeias. Em 1919 renuncia 
a seus caros docentes e dedica-se plenamente à política 
progressista e anti-imperialista, colaborando depois com 
periódicos anarquistas. Autor da trilogia ético-sociológica, de 
viés positivista: O homem medíocre, Para uma moral sem 
dogmas e As forças morais. Escreve Proposições relativas ao 
porvir da filosofia e Evolução das ideias argentinas, tendo 
forte influência na reforma universitária ibero-americana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a4
0
 
SÉCULO XX – PRIMEIRA METADE 
 Carlos Vaz Ferreira (Montevidéu, 1872 - 1958). Filósofo e 
sociólogo uruguaio, formou-se em direito em 1903, ocupando 
cargos inclusive de reitor da universidade da República. Como 
pensador, se forma no positivismo dominante no Uruguai do 
final do século XIX, mas depois recebe as influências de Henri 
Bergson, William James e José Enrique Rodó, mudando de 
orientação. Ocupa-se com questões de linguagem, lógica 
informal e argumentação. Considera a filosofia como capaz de 
cultivar um saber inclusivo inatingível para as ciências positivas. 
Na ética, defende uma abordagem empírica e aplicada. Vaz tem 
abundante produção filosófica, entre as principais obras estão: 
Moral para intelectuais (1909), Lógica viva (1910), e Os 
problemas da liberdade e o determinismo (1957). 
 
José Vasconcelos (Oaxaca, México, 1882 – Cidade de México, 
1959). Um dos mais importantes e prolíficos pensadores de 
Ibero-américa. Filósofo, jurista e militante político, pensador 
antipositivista, e grande escritor. Graduado em direito, foi 
ministro de educação de seu país desenvolvendo vasta obra 
pública (criação de escolas, bibliotecas). Em 1909 fundou o 
Ateneo de la Juventud; foi partidário da revolução mexicana e 
candidato a presidente da República mas foi derrotado pelo 
candidato oficial; denunciou fraude nas eleições chegando a 
organizar uma revolta armada, pelo qual foi preso exilando-se 
mais tarde em Paris. Influenciado pelo pensamento de 
Schopenhauer, lutou contra o positivismo e o utilitarismo. Autor 
de Prometeu vencedor (1916), O monismo estético (1918), A 
raça cósmica (1925), Tratado de Metafísica (1929), Lógica 
Orgánica (1945). Esteve sempre preocupado com a questão da 
unidade ibero-americana, escrevendo textos históricos e 
biográficos sobre Hernán Cortés e Simón Bolívar. 
 
 
P
ág
in
a4
1
 
 
Antonio Caso (Cidade de México, 1883 - 1946). Fundador, 
junto com Vanconcelos, de El Ateneo de la Juventud, em 1908, 
grupo antipositivista propulsor dos estudos filosóficos no 
México; defensor de uma filosofia espiritualista, voluntarista e 
anti-racionalista. Participou da fundação da revista literária 
Savia Moderna junto com Pedro Henriquez Ureña. Autor de A 
pessoa humana e o estado totalitário, O perigo do homem, A 
existência como economia, como desinterés e como caridad, o 
Ensayo sobre la esencia del cristianismo e El peligro del 
hombre (1942). Caso ocupou-se intensamente da questão do 
americano, em obras como Discurso a la nación mexicana 
(1922) e El problema de México y la ideologia nacional (1924), 
temática que depois será desenvolvida por Samuel Ramos e 
Leopoldo Zea. 
 
Pedro Henriquez Ureña (Santo Domingo, República 
Dominicana, 1884 – Buenos Aires, 1946). Filósofo e crítico 
literário, fortemente influenciado por Eugenio Maria de Hostos, 
reformador porto-riquenho do ensino, desenvolveu suas 
atividades intelectuais em México, Argentina e EEUU. Jorge 
Luis Borges considerou Henriquez Ureña injustiçado na 
Argentina, onde nunca conseguiu ser professor titular. Vincula-
se especialmente com Alejandro Korn na Argentina e com 
Vanconcelos no México. Pensador anti-intelectualista e vitalista, 
realiza uma crítica interna ao positivismo. Sua obra crítica 
abrange imenso universo de assuntos e está perpassada pela 
preocupação pela unidade e independência cultural e espiritual 
de América. Autor de Seis ensayos em búsqueda de nuestra 
expresión (1928) e de As correntes literárias na América 
hispana (1945). 
 
 
 
P
ág
in
a4
2
 
Coriolano Alberini (Milão, Itália, 1886 – Buenos Aires, 1960). 
Nascido na Itália e criado na Argentina, onde passa toda a sua 
vida, teve destacada labor docente e política na época da 
reforma universitária. Estuda na Faculdade de Filosofia e Letras 
e de Direito. Autor precoce de Amoralismo subjetivo (1908, com 
22 anos), uma crítica contra o formalismo na ética e o 
imperativo categórico. Apresenta seu exame de finalização, anti-
positivista, mostrando um pensamento da intuição influenciado 
por Bergson e Meyerson (aos que conhecerá pessoalmente 
depois na França), diante de uma banca toda ela composta de 
positivistas (Korn, Ingenieros, Francisco Quesada, etc). Na 
Europa, faz contato com Gentile, Hartmann, Gilson, Croce, 
Husserl e Heidegger. Escreve Introdução à axiogenia (1921), 
um livro de tendência vitalista sobre a origem dos valores, e 
Problemas de la historia de las ideas filosóficas em la 
Argentina. 
 
Alfonso Reyes (Monterrey, México, 1889 – Cidade de México, 
1959). Filósofo, crítico literário e diplomata, de estilo ensaísta. 
Participa de El Ateneo de la Juventud, junto com Henriquez 
Ureña, Caso e Vasconcelos. Em 1911, aos 21 anos, publica seu 
primeiro livro Cuestiones estéticas. A revolução mexicana não 
favorece a família Reyes, que tinha boas relações com o 
presidente Porfírio Diaz. Alfonso exilou-se na Espanha, entre 
1914 e 1924. Publica trabalhos sobre Góngora (Cuestiones 
gongorinas), Sor Juana Inés de la Cruz, a sua breve obra-prima, 
Visão de Anáhuac, e O suicida (1917). Escritor notável, a sua 
candidatura ao Nobel de Literatura foi bloqueada pelo 
movimento nacionalista mexicano que achava que Reyes 
escrevia muito sobre os gregos e muito pouco sobre os aztecas. 
 
 
 
P
ág
in
a4
3
 
Oswald de Andrade (São Paulo, 1890 – 1954), escritor e 
ensaísta brasileiro, um dos principais organizadores da Semana 
de Arte Moderna de 1922, autor dos manifestos modernistas, 
“Manifesto pau Brasil” (1924) e “Manifesto antropofágico” 
(1928). Trabalha e polemiza com Mário de Andrade, outro 
escritor importante da Semana (autor de Manunaíma). Ele se 
interessa por filosofia em seus ensaios A crise da filosofia 
messiânica e A marcha das utopias, e mesmo de maneira 
diletante, Oswald estabelece um marco na constituição da 
identidade cultural brasileira, na busca de formas de expressão 
próprias que vinculam,de maneira criativa, o mais moderno e 
inovador com o mais primitivo, a tecnologia e a antropofagia, no 
que se chamou “vanguarda primitiva”. Esta atitude não teve 
influência apenas na arte, mas também na filosofia, na medida 
em que propõe uma nova relação do pensamento nacional com a 
cultura europeia. 
 
 Jackson de Figueiredo (Aracaju, Sergipe (Brasil), 1891 – 
1928). Pensador espiritualista cristão, de tendência fideísta, 
estuda direito na Faculdade de Direito da Bahia. Publica seu 
primeiro livro, Algumas reflexões sobre a filosofia de Farias 
Brito (1916, com 25 anos). Depois de ler uma carta pastoral, se 
converte ao catolicismo. Em 1922 funda o Centro Dom Vital, 
irradiador do pensamento católico, onde participaram Alceu 
Amoroso Lima, Gustavo Corção e outros. Jackson tinha uma 
personalidade forte e avassaladora mostrando um envolvimento 
vital em suas indagações metafísicas e religiosas. Entusiasmou-
se enormemente pela obra metafísica de Farias Brito. Morreu 
afogado quando pescava junto com seu filho e um amigo. Em 
apenas 37 anos de vida, publicou A questão social na filosofia 
de Farias Brito, Humilhados e luminosos, Do nacionalismo na 
hora presente e Pascal e a inquietação moderna (1922). 
 
 
P
ág
in
a4
4
 
Francisco Romero (Sevilla (Espanha), 1891 – Buenos Aires, 
1962). Nascido na Espanha, mas radicado na Argentina, 
influenciado por Alejandro Korn e Ortega y Gasset, ambos 
interessados numa “razão histórica”, e pelo pensamento alemão, 
sendo conhecedor profundo da língua alemã e tradutor muito 
competente. Considerado um dos primeiros pensadores da toma 
de consciência de um pensar desde América. Romero é autor da 
ideia de uma evolução das atividades filosóficas latino-
americanas em etapas, superando o autodidatismo e chegando 
numa filosofia profissional, “normalizada” como exercício 
cultural pleno. Autor de: Sobre a filosofia em ibero-América 
(1940), Filosofia de ontem e de hoje (1947), Filosofia da pessoa 
(1944) e Teoria do homem (1952). 
 
 José Carlos Mariátegui (Moquegua (Peru), 1894 - Lima, 
1930). Escritor, jornalista, sociólogo e ativista político, 
destacou-se como um dos primeiros e mais influentes 
pensadores do marxismo latino-americano. Em seu livro 
conhecido internacionalmente, Sete Ensaios de Interpretação da 
Realidade Peruana, traça uma história econômica do Peru sob a 
perspectiva materialista. Também publicou A cena 
contemporânea. Fundou em 1928 o Partido Comunista 
Peruano e a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru. Foi 
um autodidata, rejeitando a educação formal, viajando pela 
Europa com auxílio de bolsas e se vinculando de maneira direta 
com escritores e políticos. Na sua atividade jornalística, fundou 
em 1926 a revista El Amauta (em quechua, significa "sábio" ou 
"professor"), por seu grande interesse pelos povos indígenas 
peruanos. Por causa de uma antiga doença teve uma perna 
amputada, mas continuou suas atividades políticas em cadeira de 
rodas, falecendo aos 36 anos. 
 
 
 
P
ág
in
a4
5
 
Carlos Astrada (Córdoba, Argentina, 1894 – Buenos Aires, 
1970). Pensador de tendência marxista dialética e existencial, 
estudante presencial de Husserl, Heidegger, Scheler e 
Hartmann durante os anos 20. Desenvolveu uma peculiar 
filosofia da existência onde a noção de “jogo” é fundamental, 
exposta em obras como O jogo metafísico: para uma filosofia 
da finitude (1942), O jogo existencial (1933), Idealismo 
fenomenológico e metafísica existencial (1936), Ser, 
humanismo, existencialismo (1949) e A revolução 
existencialista (1952). Em seu viés marxista dialético escreveu 
Hegel e a dialética (1956), O marxismo e as escatologias 
(1957), A dupla face da dialética (1962) e Dialética e história 
(1969). De suas preocupações metafísicas com a questão 
argentina e americana surge O mito gaúcho. Martin Fierro e o 
homem argentino (1948). 
 
Samuel Ramos (Zitácuaro, México, 1897 – Cidade de 
México, 1959). Estudioso da situação da filosofia mexicana e 
ibero-americana, influenciado por Ortega y Gasset e Antonio 
Caso, fez parte do grupo Hiperion em torno de uma 
investigação em torno da alma mexicana e os valores 
nacionais, denunciando o “complexo de inferioridade” do 
mexicano desde a conquista espanhola. Autor de O perfil do 
homem e da cultura no México (1934), onde critica o 
mimetismo cultural dos mexicanos diante do europeu. Outras 
obras: Para um novo humanismo (1940), História da filosofia 
em México (1943) e Filosofia da vida artística (1950). 
 
 
 
 
 
 
P
ág
in
a4
6
 
José Gaos (Gijón, Espanha, 1900 – Cidade de México, 1959). 
Um dos importantes exilados (ou “transterrados”, em seus 
próprios termos) espanhóis, radicado no México depois da 
guerra civil espanhola. Obtém a nacionalidade mexicana em 
1941. Sofreu influências de Husserl, Heidegger, Ortega y 
Gasset, Hartmann, García Morente e Javier Zubiri. Autor de 
uma copiosa obra filosófica, entre as quais: Da Filosofia, 
Filosofia da filosofia (1947) (uma reflexão sobre a natureza da 
filosofia diante do fato de cada filosofia apresentar-se como 
verdade absoluta), Em torno da filosofia mexicana (1952), A 
filosofia na universidade (1956), Confissões profissionais 
(1958), além de traduzir ao espanhol mais de 70 obras 
filosóficas, entre elas Ser e Tempo de Heidegger. 
 
Mário Ferreira dos Santos (Tietê, 1907 – São Paulo, 1968). 
Foi um filósofo brasileiro, criador de um sistema filosófico a 
que chamou Filosofia Concreta. Escreveu muitos livros sobre 
Filosofia, Psicologia, Oratória, Ontologia, Lógica, etc, 
publicados com sua própria editora, muitos dos quais 
compunham sua "Enciclopédia de Ciências Filosóficas e 
Sociais". Mário nunca teve vínculos acadêmicos, mas se 
dedicava inteiramente à filosofia, dando aulas particulares para 
grupos pequenos. Teve enorme sucesso durante a década de 
60. Algumas obras: Lógica e Dialética (1954), Análise 
Dialética do Marxismo (1954), Tratado de Simbólica (1955), 
Filosofia da Crise.(1955), Noologia Geral (1956), Filosofia 
Concreta (3 volumes) (1956), Filosofias da Afirmação e da 
Negação.(1957), Invasão Vertical dos Bárbaros (1967,) e A 
Sabedoria das Leis Eternas (póstumo), 2001. 
 
 
 
 
P
ág
in
a4
7
 
Arturo Ardao (Minas, Lavalleja (Uruguai), 1912 – 
Montevidéu, 2003). Pensador dedicado principalmente a 
história do pensamento latino-americano, analisado naquilo 
que tem de original, e a construção de uma filosofia própria, 
em que concilia dois extremos antagônicos: a valorização dos 
feitos e a valorização das ideias, entre razão e afetividade, 
instituições e indivíduos. Promove esta tarefa não recorrendo 
ao discurso estritamente argumentativo, mas por meio de uma 
longa procura por documentos e testemunhos, que servem 
como reveladores das circunstâncias culturais produtoras de 
reflexões, ideias, sentimentos, juízos, desejos, valores, 
aspirações, etc. Suas principais obras: Espaço e Inteligência, 
Espiritualismo e Positivismo no Uruguai, Espanha na Origem 
do Nome América Latina, e Lógica e Metafísica em Feijoo. 
 
Vicente Ferreira Da Silva (São Paulo, 1916 - 1963). 
Começou como estudioso da lógica matemática, publicando 
um dos primeiros livros sobre a área, Elementos de lógica 
matemática (1940), sendo o assistente de Willard Quine na sua 
visita ao Brasil em 1942. Mas depois sofreu uma 
transformação e se tornou um dos mais importantes pensadores 
existenciais e metafísicos do Brasil, com uma reflexão em 
torno de mitologias fundantes inspirada em Schelling e 
Heidegger. Autor de: Exegese da ação (1949), Dialética das 
consciências

Outros materiais