Buscar

Apostila Prática Jurídica 2014

Prévia do material em texto

1 
 
GILBERTO CARLOS MAISTRO JUNIOR 
Advogado. Mestre em Direito (UNIMES-Santos/SP). Especialista em Direito e Relações do Trabalho (Faculdade de 
Direito de São Bernardo do Campo/SP). Professor Titular de Estágio II (Processo do Trabalho) na Faculdade de 
Direito de Sorocaba (FADI). Professor Contratado de Prática Jurídica Trabalhista na Faculdade de Direito de São 
Bernardo do Campo. Professor de Processo do Trabalho no Proordem ABC. Professor Convidado em diversos 
Programas de Pós-Graduação “Lato Sensu” (Escola Superior da Advocacia – ESA-OAB/SP, Escola Paulista de 
Direito, Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, Faculdade LEGALE, UNISAL-Lorena, Proordem ABC, 
dentre outros). 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDO TEÓRICO E PRÁTICO DA PETIÇÃO INICIAL NO PROCESSO DO 
TRABALHO 
 
 
 
 
Parte II do Curso de Prática Jurídica Trabalhista 
 
 
 
 
 
 
 
Sorocaba/São Bernardo do Campo 
2014 
A
r
t
.
id14743968 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com 
2 
 
SUMÁRIO 
Parte I – A petição inicial no processo do trabalho: um estudo propedêutico da 
“reclamação trabalhista”, 3 
 
Parte II – Roteiro para elaboração da petição inicial da reclamação trabalhista, 45 
 
Parte III – Casos para elaboração de peças profissionais, 60 
 Caso 1: enunciado, 60 
 Caso 2: enunciado, 61 
 Modelo, caso 2, 61 
 Caso 3: enunciado, 66 
 Caso 4: enunciado, 67 
 Casos 5 e 6: enunciados, 68 
 Caso 7: enunciado, 69 
 Modelo, caso 7, 69 
 
ANEXO I – Seguro-desemprego, 74 
ANEXO II – Aviso Prévio, 81 
ANEXO III – Comissão de Conciliação Prévia, 82 
ANEXO IV – Tutela Antecipada/Liminares, 87 
 Modelo de Tópico (causa de pedir), 88 
 Modelo de redação (requerimento), 89 
ANEXO V – Supressão do intervalo intrajornada, 90 
 Modelo de Tópico (causa de pedir), 91 
ANEXO VI – Súmula do TST, verbetes 244 e 378, 92 
 
SEMINÁRIOS, 93 
Tema A, 93; Tema B, 94; Tema C, 95; Tema D, 96. 
3 
 
PARTE I – A PETIÇÃO INICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO: 
UM ESTUDO PROPEDÊUTICO DA “RECLAMAÇÃO TRABALHISTA”1 
Gilberto Carlos Maistro Junior 
Introdução 
 No presente estudo, tratar-se-á da petição inicial no processo do trabalho. Objetiva-se, 
aqui, traçar singelas reflexões acerca do tema, com destaque para a sua relevância no que toca 
à salvaguarda dos direitos do autor e, consequentemente, a toda a devida atenção devida a 
cada um dos detalhes pertinentes à sua redação. Assim, o presente trabalho é apresentado 
como convite ao estudo do tema, de modo a servir, por si só, quando muito, como reunião de 
lições propedêuticas. 
 
1. A vedação da autotutela e o princípio da inércia da jurisdição 
 A natureza gregária que caracteriza a pessoa humana impõe a cada um de nós o 
sacrifício de liberdades individuais e, assim, o controle de vontades pessoais, tudo no intuito de 
viabilizar a vida em sociedade. E tal se dá pelo fato de que as diferentes formas de vislumbrar o 
mundo e, principalmente, a multiplicidade de interesses pessoais faz com que, não raro, nos 
deparemos, no âmbito do grupo, com conflitos intersubjetivos que, não fosse a existência de um 
regramento voltado à organização do corpo social, provavelmente teria sua solução relegada à 
senda da força física, política ou moral – sem qualquer apego ao que se pudesse ter por “justo”. 
Aliás, o próprio sentido de “justiça” seria afastado, como que deixado no âmbito da mera 
abstração ou conceito filosófico, de forma a nada representar no cotidiano das pessoas. 
 Assim, se a natureza humana justifica a criação das “sociedades” (ou a vida em 
sociedade), essas justificam o advento do Direito, como instrumento viabilizador da vida em 
coletividade. Disso, o brocardo: ubi societas, ibi jus. 
 Corolário do Direito moderno, pode-se afirmar que a vedação à autotutela, em regra, 
decorre do mesmo senso de justiça. Ora, a inegável parcialidade do envolvido no conflito 
intersubjetivo certamente faria com que esse buscasse, pelas próprias mãos, a “sua justiça”, ou 
seja, a consagração do que lhe interessa, e não propriamente o que a coletividade entende, 
como um todo, como adequado. Subverteríamos, de fato, a ideia do “dar a cada um o que é 
seu”, substituindo-a pelo “dar a cada um o que esse puder impor a outrem”, o que é inaceitável, 
afinal, se o poder emana do povo, como justificar que o ideal coletivo restasse maculado pelo 
ideal individual (em razão de um poder individual) ? 
 
1 Artigo elaborado na primeira quinzena de abril de 2013. 
4 
 
 Disso, surge a noção de jurisdição, no sentido de atribuir a alguém, terceiro imparcial, o 
poder2 de “dizer o direito”. Atualmente, à luz do direito brasileiro, podemos afirmar que a 
atividade jurisdicional, já afirmada como “monopólio do Estado”, pode ser exercida tanto por esse 
(hipótese na qual temos a chamada Jurisdição estatal), quanto por particulares, nos termos da lei 
(casos nos quais temos a Jurisdição Privada ou não-Estatal, o que se dá no âmbito da 
Arbitragem). Tem-se, assim, a figura dos juízes3. 
 
2 Poder, dever, função e atividade. 
3 Inclusive no que toca à arbitragem, ex vi do art. 18 da Lei 9.307/1996, que, claramente, afirma tratar-se o 
árbitro de “juiz de fato e de direito”. Não bastasse isso, a mesma lei pontua que a decisão proferida pelo árbitro se 
trata de “sentença” arbitral (arts.23 e seguintes) e que é título executivo “judicial” (vide art.31). Seguem transcritos, 
abaixo, os referidos dispositivos, para facilitar o estudo dos leitores desse singelo trabalho. 
 “Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a 
homologação pelo Poder Judiciário” – negrito meu. 
 “Capítulo V 
 Da Sentença Arbitral 
 Art. 23. A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido 
convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou 
da substituição do árbitro. 
 Parágrafo único. As partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo estipulado. 
 Art. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito. 
 § 1º Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se não houver acordo 
majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral. 
 § 2º O árbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em separado. 
 Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se 
que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à 
autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral. 
 Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou acórdão transitados 
em julgado, terá normal seguimento a arbitragem. 
 Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral: 
 I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; 
 II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se, 
expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade; 
 III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o 
prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e 
 IV - a data e o lugar em que foi proferida. 
 Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao 
presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a 
sentença, certificar tal fato. 
 Art. 27. A sentença arbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acerca das custas e despesascom a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de má-fé, se for o caso, respeitadas as 
disposições da convenção de arbitragem, se houver. 
 Art. 28. Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o árbitro ou o 
tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentença arbitral, que conterá os requisitos 
do art. 26 desta Lei. 
 Art. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro, ou o presidente do 
tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, 
mediante comprovação de recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo. 
 Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença 
arbitral, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral 
que: 
 I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral; 
 II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre 
ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão. 
5 
 
 Ocorre que os referidos juízes, para fim da prestação de sua atividade, dependem da 
provocação por parte dos interessados. Assim, os juízes – essa é a regra no nosso sistema – 
não podem, “de ofício”, dar início a qualquer processo. Trata-se do chamado “princípio da inércia 
da jurisdição”, também positivado nos arts.2º 4 e 2625 do Código de Processo Civil em vigor. 
 A referida provocação deve resultar do regular exercício de um direito fundamental: o 
direito de ação. 
 Mas quando se considera proposta uma ação ? Essa pergunta também encontra 
resposta no Código de Processo Civil, que, na parte inicial do art.263, claramente, esclarece: 
“Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou 
simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. [...]”. 
 
 Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá, no prazo de dez dias, aditando a sentença arbitral 
e notificando as partes na forma do art. 29. 
 Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença 
proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo. 
 Art. 32. É nula a sentença arbitral se: 
 I - for nulo o compromisso; 
 II - emanou de quem não podia ser árbitro; 
 III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; 
 IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; 
 V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; 
 VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; 
 VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e 
 VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei. 
 Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da 
nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. 
 § 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum, 
previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da 
notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento. 
 § 2º A sentença que julgar procedente o pedido: 
 I - decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e VIII; 
 II - determinará que o árbitro ou o tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais hipóteses. 
 § 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser argüida mediante ação de 
embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial. 
4 Art.2º. “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado o requerer, nos 
casos e formas legais”. 
5 Art.262. “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial”. Antonio 
Claudio da Costa Machado, sobre o disposto nesse dispositivo, ensina: “A regra consagra o princípio dispositivo ou 
princípio da iniciativa da parte, segundo o qual o processo para nascer depende de provocação do interessado 
mediante ação (o art.2º expressa o aspecto negativo do mesmo princípio, afirmando que o juiz não presta a tutela 
jurisdicional de ofício”. Mas, se para se formar a relação processual exige provocação, para se desenvolver o 
processo conta com a atuação espontânea do próprio magistrado (o impulso oficial). Expressão do impulso oficial, 
por outro lado, é o poder que tem o juiz para determinar provas (art.130), o que é, da mesma maneira, exceção ao 
princípio dispositivo”.(Código de Processo Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 9.ed. São 
Paulo: Manole, 2010, p.278). 
6 
 
 Dessa forma, a petição inicial consiste na peça processual indispensável ao exercício do 
direito de ação, pelo autor, quando esse o faz pela via escrita6, quer por assim optar quando lhe 
autorizado pelo sistema, quer por exigência legal. 
 Vale lembrar que alguns procedimentos permitem a propositura de ação de forma oral. 
Exemplos conhecidos mas que merecem ser aqui relembrado são o “procedimento sumaríssimo” 
do Processo Civil (ou seja, o rito previsto na Lei 9.099/1995), para os feitos que tramitam perante 
os Juizados Especiais, e a “Reclamação” Trabalhista7. 
 Assim, proposta a ação, terá início o processo. Isso em razão do fato de que “processo é 
movimento”, ou seja, um conjunto de atos processuais praticados por seus sujeitos, havidos no 
propósito da prestação da tutela jurisdicional e tendente à pacificação social com justiça (ou seja, 
à qualificação do acesso à justiça para dele fazer ou concretizar o que se pode chamar de 
“acesso à ordem jurídica justa”). Trata-se, desse modo, de “instrumento da jurisdição”, por servir 
ao ente dotado de jurisdição para fim de guiar a sua atividade. Disso, explica-se a passagem do 
estado de inércia para o impulso oficial (“movimento”), havido a partir da propositura da ação. 
Com isso, ao mesmo tempo em que concretiza o exercício do direito de ação, a distribuição ou 
despacho primeiro da petição inicial (CPC, art.263) assume o posto de ato processual de origem, 
ou seja, do qual resulta o início do próprio “processo”, no caso específico. A petição inicial é, 
nota-se, o primeiro ato do procedimento8, sendo, por isso, considerada pressuposto de 
constituição válida e regular9 do processo. 
 
6 Alguns autores vislumbram a existência de petição inicial mesmo na chamada reclamação verbal (vide 
CLT, art.840, “caput” e §2º). Por exemplo, cite-se a lição de Cleber Lúcio de Almeida: “Prevendo a CLT que no 
termo da reclamação verbal devem ser observadas, no que couberem, as exigências relativas à reclamação escrita 
(art.840, §2º), no processo do trabalho pode-se falar em petição inicial estrito sensu (correspondente à reclamação 
escrita) e petição inicial lato sensu (termo a que é reduzida a reclamação verbal) – (Direito processual do 
trabalho. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey: 2009, p.469). Com o máximo respeito, ousa-se divergir desse 
posicionamento. Petição inicial somente existe quando a “reclamação” é proposta valendo-se o reclamante de peça 
escrita, distribuída ou despachada na forma do CPC, art.263. Na hipótese de reclamação verbal (melhor seria, aqui, 
também, aludir-se a reclamação “oral”), o que se tem é o chamado “termo inicial”. 
7 Na forma da CLT, art.840, “caput”, que traz: “A reclamação poderá ser escrita ou verbal”. Quanto à 
reclamação verbal, vale ressaltar que não se considerará propostaa partir da distribuição de uma petição inicial (ou 
despacho primeiro dessa). Nesse caso, sequer haverá, propriamente, uma “petição inicial”. Ocorre que , aqui, os 
relatos orais havidos pelo “reclamante” deverão ser “reduzidos a termo” na Secretaria da Vara. Assim, o “termo 
inicial” substituirá a “petição inicial”. Nesse sentido, fixa a CLT, art.840, §2º: “Se verbal, a reclamação será reduzida 
a termo, em duas vias datadas e assinadas pelo escrivão ou diretor de secretaria, observado, no que couber, o 
disposto no parágrafo anterior”. Sobre o referido “parágrafo anterior” (art.840, §1º), tratar-se-á adiante. 
8 Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad Castello Branco afirmam que a 
petição inicial “se constitui no primeiro ato processual, do qual derivam todos os outros. [...] Enfim, é a petição inicial 
a manifestação concreta do desejo do Reclamante de invocar a tutela jurisdicional” (Curso de direito processual 
do trabalho. 6.ed. São Paulo: LTr, 2008, p.504). 
9 Trata-se de pressuposto de existência (petição inicial) e validade (petição inicial apta) do processo. 
Antonio Claudio da Costa Machado afirma: “Petição inicial é o instrumento ou veículo formal da ação (ação em 
sentido constitucional como demanda ou direito ao processo ou em sentido processual como direito a uma sentença 
de mérito). É o meio processual pelo qual o autor deduz em juízo uma causa, fazendo assim nascer um processo. 
7 
 
 Passemos, então, ao breve estudo da petição inicial no processo do trabalho. 
 
2. A petição inicial 
2.1. Conceito 
 José Frederico Marques ensina: “Petição inicial é o ato processual com que se inicia a 
ação e em que se formaliza o pedido de prestação jurisdicional formulado pelo autor”10. 
Assim, trata-se do instrumento formal de que se vale o autor para fim de exercer o seu 
direito de ação e, com isso, retirar o Estado-juiz de sua condição principiológica de inércia, 
obrigando-o a prestar a atividade jurisdicional e apreciar os pedidos deduzidos pelas partes, 
desde que reunidas as condições legais de viabilidade para tanto (condições da ação e 
pressupostos processuais, em especial)11. 
 
2.2. Denominação 
 Diversas são as formas pelas quais, na praxe forense, se faz referência à petição inicial: 
petição (ou peça) inicial, exordial, preambular, vestibular, proemial, prefacial, incoativa, de 
ingresso, dentre outros. O Código de Processo Civil utiliza “petição inicial”. No âmbito do direito 
processual do trabalho, notamos que o texto do art.840, “caput” e, depois, §1º, da CLT, utiliza 
“reclamação” no sentido da própria inicial (ao trazer que a reclamação escrita reunirá os 
requisitos formais claramente destinados ao texto da exordial). Considera-se, aqui, como 
evidente manifestação de atecnia do legislador, talvez provocada pela então ainda pendente 
integração da Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário verificada nos tempos da elaboração do 
texto consolidado12. 
 
 
E justamente sob este ponto de vista é que se diz que a petição inicial corresponde ao primeiro ato da relação 
processual e do procedimento, tendo, portanto, a natureza de pressuposto de constituição ou formação do processo 
ou primeiro pressuposto processual objetivo positivo” (Código de Processo Civil interpretado: artigo por artigo, 
parágrafo por parágrafo. 9.ed. São Paulo: Manole, 2010, p.321). 
10 Manual de Direito Processual Civil. 9.ed. Campinas: Millenium, 2003, p.47, v.II. 
11 Em regra, os pedidos são deduzidos pelo autor. Todavia, não se pode ignorar as possibilidades de pedido 
contraposto e de reconvenção, quando preenchidos os requisitos fixados na lei processual para tanto. 
12 A Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário por força do texto da Constituição de 1946, e a 
CLT data de 1943. Saliente-se, aqui, o que é lembrado por Sérgio Pinto Martins, no sentido do uso corrente da 
palavra “reclamação” para fim de designar a ação ou a própria inicial trabalhista. No mais, a lição de Martins segue a 
mesma trilha do supra exposto, conforme segue: “O art.,840 da CLT usa a palavra reclamação. Na prática também 
é usada a referida palavra em vez de petição inicial. Reclamação vem da época administrativa. O art.840 da CLT e 
seus parágrafos têm a redação original da CLT. Reclamação, porém, não quer dizer nada, pois o filho reclama do 
pai. O professor reclama do aluno. Isso não significa ação ou petição inicial. Muitas vezes, o uso da palavra 
reclamação pretende também querer justificar a autonomia do processo do trabalho” (Direito processual do 
trabalho. 34.ed. São Paulo: Atlas, 248). 
8 
 
 
 
2.3. Requisitos formais13 
 Como supra salientado, a petição inicial consiste em um instrumento formal. Tal se dá 
pois a inicial deverá ser redigida com estrita observância dos requisitos formais estatuídos no 
art.282, sem prejuízo da atenção ao disposto no art.283, ambos do Código de Processo Civil. 
 Nesse ponto, algumas questões surgem, e, para fim da melhor compreensão do tema 
sob análise, não podem ser ignoradas. A primeira delas guarda relação aos dispositivos legais 
supra mencionados: o que resta disciplinado a luz dos respectivos textos ? 
 Pois bem. O CPC, em seu art.282, traz o que se pode chamar de “requisitos formais 
intrínsecos” da petição inicial. Em outras palavras, o dispositivo legal em questão aponta quais 
são os elementos mínimos essenciais que devem compor a estrutura do texto da petição 
inicial14. Nesse sentido, ensina José Frederico Marques que a inicial deve conter “os elementos 
discriminados no art.282 do Código de Processo Civil”. E continua: 
Instrumento que é do pedido do autor, na inicial devem vir os dados 
concernentes à individualização subjetiva e objetiva da ação a ser proposta. 
E é por isso que, nos incs.II, III e IV, o citado art.282 dispõe que a inicial 
indicará: a) “os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e 
residência do autor e do réu” (indicação dos elementos subjetivos – art. 282, 
II); b) “o fato e os fundamentos jurídicos do pedido”, bem como “o pedido, 
com as suas especificações” (indicação dos elementos objetivos - art.282, III 
e IV). 
Aponta ainda o arc.VIt.282 outros elementos da inicial, concernentes à 
constituição do processo como relação jurídica, e que são: a) “o valor da 
causa” (inc.V); b) “as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade 
dos fatos alegados” (inc.VI); c) “o requerimento para citação do réu” (inc.VII). 
 
 
13 Antonio Claudio da Costa Machado afirma: “Os requisitos formais da peça inicial do processo, como todas 
as formalidades em direito, representam, como já visto, segurança jurídica ou, se quisermos, garantia de direitos 
(José Frederico Marques). A preocupação da lei é, na verdade, com o conteúdo do ato, de sorte que garanta as 
pessoas contra demandas levianas, mal caracterizadas e contra o arbítrio. O meio pelo qual a lei impõe os 
conteúdos necessários para estabelecer a segurança jurídica almejada é a forma e, ao lado desta, um sistema de 
sanções para o caso de desobediência” (Código de Processo Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por 
parágrafo. 9.ed. São Paulo: Manole, 2010, p.321-322). 
14 Antonio Claudio da Costa Machado ensina, em comentários ao art.282, I, do CPC: “Os requisitos a seguir 
elencados possuem basicamente duas finalidades, quais sejam a formação do processo (incisos I, II, V, VI e VII) e a 
identificação da ação (incisos II, III e IV). Quanto ao conteúdo das declarações a que correspondem, os requisitos 
pode ser divididos em declarações preponderantemente de vontade (incisos I,IV, VI e VII) e declarações 
preponderantemente de ciência (incisos II, III e V). Outraclassificação distingue os requisitos da petição inicial em 
intrínsecos e extrínsecos. Intrínsecos são todos os expressamente arrolados neste art.282 e mais os 
seguintes: forma escrita, exigência de expressão em vernáculo, assinatura (art.169) e endereço do 
advogado (art.39, I). [...]” – negrito meu (Código de Processo Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por 
parágrafo. 9.ed. São Paulo: Manole, 2010, p.322). 
9 
 
 Ao trazido na lição de Frederico Marques, some-se o teor do inc.I do referido artigo do 
CPC, que exige traga a petição inicial a indicação da autoridade (juiz ou tribunal) a quem é 
dirigida – que, no caso de reclamação trabalhista, costuma ser corretamente atendido por 
redação, por exemplo, como a seguinte: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR15 JUIZ DO 
TRABALHO16 DA VARA DO TRABALHO DE, seguido da referência ao local da prestação de 
serviços (cidade/UF), sempre de acordo com as regras de competência territorial ditadas no 
art.651 da CLT17. 
 Dessa feita, a petição inicial deverá ser redigida de modo a atender a todos os referidos 
requisitos (ou seja, não se admite a falta de qualquer um deles no texto da peça em questão). 
Porém, não se resume ao disposto no art.282 do CPC a estrutura mínima da referida peça. O 
mesmo Código de Processo Civil exige, ainda, no art.169, que a inicial traga a assinatura do 
advogado (ou da parte, nas hipóteses em que se admite o jus postulandi)18. Já o art.39 do 
mesmo Código exige que o advogado ou a parte (esta, quando postular em causa própria), na 
inicial, declare o endereço no qual receberá intimações19. 
 Observe-se, outrossim, que os ditos requisitos satisfazem o necessário à redação de 
petição inicial formalmente apta nas ações que desencadearão processos exteriorizados em 
procedimento comum. Nas hipóteses de procedimentos especiais, não raro há previsão legal de 
requisitos formais específicos para a petição inicial, que também deverão ser observados pelo 
autor. A título de exemplo, aponte-se o CPC, art.893, que agrega dois requerimentos à estrutura 
formal da petição inicial na ação de consignação em pagamento (na verdade, um requerimento a 
mais – autorização para depósito no prazo de 5 dias contados da intimação do deferimento – e 
 
15 Independentemente de titulação acadêmica; trata-se de praxe e, mais, costume já incorporado entre os 
operadores do Direito. 
16 “Juiz do Trabalho”, e não “Juiz de Direito” ou “Juiz Federal”. Nesse sentido, vide Constituição Federal – 
CF, art.111, III. 
17 De toda sorte, há de se observar as regras de competência em razão do lugar (CLT, art.651) e, antes, em 
razão da matéria, cf.CF, art.114. 
18 “Art. 169. Os atos e termos do processo serão datilografados ou escritos com tinta escura e indelével, 
assinando-os as pessoas que neles intervieram. Quando estas não puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão 
certificará, nos autos, a ocorrência. 
 § 1o É vedado usar abreviaturas. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). 
 § 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os atos processuais praticados na 
presença do juiz poderão ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico 
inviolável, na forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivão ou 
chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). 
 § 3o No caso do § 2o deste artigo, eventuais contradições na transcrição deverão ser suscitadas oralmente 
no momento da realização do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a 
alegação e a decisão no termo. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). 
 Parágrafo único. É vedado usar abreviaturas”. 
19 “Art. 39. Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria: 
 I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação; [...]”. 
10 
 
outro com peculiaridade – citação para levantamento da quantia depositada ou apresentação de 
resposta)20. 
 Todavia, o objeto do presente estudo é a petição inicial no processo do trabalho – em 
especial, nas chamadas “reclamações trabalhistas”. E os singelos apontamentos 
apresentados nesse texto, até o momento, carregaram análise de parte do que traz o Código de 
Processo Civil acerca da exordial. Disso, a pergunta: esses princípios e regras também 
encontram aplicação no âmbito do direito processual do trabalho ? Em outras palavras: na 
redação da petição inicial trabalhista, o autor deverá observar o disposto no CPC, art.282 ?21 
 A rigor, a resposta a essas questões exige, antes, o enfrentamento de outra, a saber: a 
CLT, ou alguma lei especial que verse sobre direito processual do trabalho22, dispõe acerca dos 
requisitos formais da petição inicial trabalhista ? 
 A resposta é positiva. A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art.840, §1º, trata 
expressamente do tema, verbis: 
Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do Presidente da 
Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e 
do reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o 
pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante. 
 
 De outro lado, a mesma CLT dispõe, em seu art.769, que se admite a aplicação 
subsidiária da lei processual comum – conceito no qual se inclui o disposto no CPC – quando 
verificada lacuna na Consolidação. E mais: exige a compatibilidade da norma que se pretende 
aplicar com os princípios e regras que regem o direito processual do trabalho. 
 
20 “Art. 893. O autor, na petição inicial, requererá: (Redação dada pela Lei nº 8.951, de 
13.12.1994) 
 I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do 
deferimento, ressalvada a hipótese do § 3o do art. 890; (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994) 
 II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 
13.12.1994)”. 
21 Posiciona-se Amauri Mascaro Nascimento no seguinte sentido: “Na petição inicial trabalhista não há 
obrigação de apontar os fundamentos jurídicos do pedido. Essa exigência não está contida na lei, como também 
não é indispensável, pela mesma razão, apontar os meios de prova a serem produzidos. Por outro lado, a 
concentração das provas em audiência afasta a necessidade de indicação prévia das provas a serem produzidas. 
Basta que as partes compareçam à audiência com as suas testemunhas, independentemente de intimação destas. 
Não é preciso, também, pedir a citação do réu, porque no processo trabalhista esse ato é automático e independe 
de providência do juiz. A secretaria expede a notificação via postal, com base nos dados fornecidos pela petição 
inicial, acompanhada de uma cópia desta. Em decorrência do Enunciado n.74 do TST, na inicial deve ser 
expressamente pedida a intimação do reclamado para prestar depoimento pessoal, sob pena de confissão” (Curso 
de direito processual do trabalho. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.389). 
22 Vale o registro de que outros diplomas trazem normas processuais trabalhistas. Entende-se que o 
principal deles é a Lei 5.584/1970. 
11 
 
 Ora, em primeiro lugar, nota-se que não existe lacuna no texto consolidado: o art.840, 
§1º, dispõe sobre os requisitos formais da petição inicial, especificando-os, inclusive. Poder-se-ia 
afirmar que o art.282 do CPC é mais abrangente, ou, simplesmente, que indica outros requisitos 
além dos estatuídos no referido dispositivo da CLT, a indicar lacuna quanto a esses e permitir 
uma espécie de “complementação” da estrutura formal da inicial trabalhista pela aplicação do 
dito e conhecido artigo do Código de Processo Civil. Todavia, tal posição seria exagerada eequivocada, por desconsiderar peculiaridades extremamente relevantes do procedimento 
trabalhista, marcado pela simplificação. Nesse diapasão, vale lembrar a lição de Renato Saraiva: 
Comparando-se os requisitos exigidos para a petição inicial no processo civil 
(art.282 do CPC) com os requisitos da petição inicial trabalhista (art.840, §1º, 
da CLT), verificamos que nos domínios do processo do trabalho impera o 
princípio da simplicidade, não estabelecendo a norma consolidada alguns 
requisitos impostos pelo Código de Processo Civil, como o valor da causa, as 
provas com que o reclamante pretende demonstrar a verdade dos fatos 
alegados e o requerimento de citação do réu23. 
 
 Na mesma esteira, a lição do grande Amauri Mascaro Nascimento: 
A petição inicial no processo do trabalho é mais abreviada do que a 
elaborada para as ações de direito civil e de direito comercial. É a própria 
natureza do pedido que faz com que essa simplificação se torne necessária. 
Via de regra, o pedido é cumulativo, abrangendo diversos direitos 
pretendidos pelo trabalhador e que devem ser objetivamente indicados com 
uma sumária explicação dos motivos determinantes da pretensão24. 
 
 Assim, inexiste qualquer lacuna na CLT acerca dos requisitos formais da inicial. Por isso, 
diversos autores, dentre os quais o preclaro Jorge Luiz Souto Maior, afirmam a total 
inaplicabilidade do art.282 do CPC no âmbito do processo do trabalho. Afirma o insigne 
magistrado e Professor da Universidade de São Paulo: 
“[...] pode-se dizer que os requisitos da petição inicial trabalhista são os 
especificados no §1º do art.840 da CLT, afastando a possibilidade de 
aplicação subsidiária, neste tema, do art.282 dos requisitos da petição inicial 
civil. Assim, aqueles requisitos do art.282 do CPC não repetidos na regra 
laboral não são requisitos necessários da petição trabalhista, quais sejam: o 
fundamento jurídico do pedido; a especificação de provas; o requerimento 
para citação do réu (reclamado); e o valor da causa”25. 
 
 
23 Curso de direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.291. 
24 Curso de direito processual do trabalho. 19.ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p.369. 
25 Petição inicial trabalhista. Temas de processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2000, p.19. No mesmo 
sentido, afirma Gustavo Filipe Barbosa Garcia: “A Consolidação das Leis do Trabalho, no art. 840, estabelece os 
requisitos da petição inicial trabalhista. Portanto, como a CLT não é omissa a respeito do tema, a rigor, afasta-se a 
aplicação subsidiária do CPC nesse aspectos, especialmente do art.282, que arrola os requisitos da petição inicial 
no processo civil” (Curso de direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p.343). 
12 
 
 Questão interessante que se abre, contudo, refere-se a um dos requisitos ignorados pela 
CLT e indicados no art.282 do CPC: a indicação do valor da causa. A petição inicial trabalhista 
deve trazer a indicação do valor da causa ? Trata-se de requisito formal e, portanto, imposto de 
modo irresistível ao autor da ação ? 
 Divergem os doutrinadores acerca da questão. Parece-nos que, com o advento do rito 
sumaríssimo – em especial -, não há como o autor deixar de declinar na inicial o valor que atribui 
à causa. 
 E aqui se torna de grande valia a interpretação histórica, para fim de compreensão do 
que se defende. 
 Ocorre que o texto do art.840, §1º, da CLT, data de época na qual somente existia um 
único rito processual (procedimento) trabalhista. Considerando que nos domínios do direito 
processual do trabalho não há regra de competência em razão do valor da causa, não haveria 
motivos para que o autor, já no texto da petição inicial, fosse obrigado a declinar a referida 
informação. Justificava-se, assim, o procedimento previsto no art.2º da Lei 5.584/1970, pelo qual 
a fixação do valor da causa caberia ao juiz, caso restasse frustrada a primeira tentativa de 
conciliação26. Contudo, com o tempo e as alterações sofridas na lei processual trabalhista, o 
supra exposto tornou-se inviável, na prática. Ocorre que, por força da Lei 5.584/1970, art.2º, §§ 
3º e 4º, surgiu o chamado “rito sumário” (dissídio de alçada ou procedimento de alçada) no 
processo do trabalho. O critério para a definição do rito passou a ser justamente o valor da 
causa: nas causas cujo valor não exceda ao equivalente a duas vezes o maior salário mínimo 
vigente no país, o rito a ser observado será o sumário. Aliás, extremamente relevante a 
determinação do rito processual, pois, em que pese não se tenha grandes diferenças nas 
oportunidades processuais em primeiro grau de jurisdição (em relação ao que se dá no que 
passou a ser tido como “rito ordinário” – até então, o rito único), após a sentença surgem 
peculiaridades extremamente importantes, afetas aos feitos que tramitam pelo rito sumário. A 
principal delas, parece, é a regra da irrecorribilidade para outros Tribunais trabalhistas, disposta 
no art.2º, §4º, da Lei 5.584/1970. Entende a doutrina majoritária que, da decisão proferida pelo 
juiz do trabalho nos feitos que tramitam pelo rito sumário, pode caber um único recurso (desde 
que preenchidos os requisitos específicos de cabimento): recurso extraordinário – RE 
(Constituição Federal, art.102, III, “a”). Justifica-se isso no fato de que, se é irrecorrível a decisão 
 
26 Renato Saraiva esclarece: “Nesta esteira, parte dos operadores do direito considera o valor da causa 
requisito essencial da petição inicial da ação trabalhista, possibilitando identificar o tipo de procedimento a ser 
adotado (ordinário, sumaríssimo ou sumário). Outros defendem a desnecessidade da indicação do valor da causa 
na petição inicial, uma vez que o magistrado pode, de ofício, estabelecer tal valor, quando omissa a petição inicial a 
respeito (Lei 5.584/1970, art.2º) (Curso de direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.291). 
13 
 
proferida pelo juiz, tem-se claramente decisão de única instância, de modo a restar verificado o 
enquadramento na hipótese de cabimento do RE, caso haja na decisão combatida, ainda, 
violação à literalidade de dispositivo constitucional27. 
 Porém, veio a lume a Lei 9.957, de 12 de janeiro de 2000, que introduziu na CLT os 
arts.852-A a 852-I, e, com isso, o chamado procedimento (ou rito) sumaríssimo. 
 Trata-se de rito que deve ser observado quando o valor da causa não exceder o 
equivalente a 40 salários mínimos (nesse sentido, vide CLT, art.852-A). 
 No rito sumaríssimo, de fato, encontramos diversas peculiaridades que exigem o 
conhecimento do procedimento que será observado desde o momento da propositura da ação, 
não sendo viável manter-se a regra da fixação do dito valor, pelo juiz, após a primeira tentativa 
de conciliação, caso frustrada. 
Defende-se essa posição pois, consoante dispõe o art.852-C do texto consolidado, as 
demandas sujeitas ao rito sumaríssimo serão instruídas e julgadas em audiência única. Sendo 
assim, impede-se, aqui, o fracionamento da audiência, tão comum nos feitos que tramitam pelo 
rito ordinário, fruto do amplo poder de direção do juiz, ex vi do que traz o art.76528 do CLT. 
Ao exposto, some-se o disposto no art.841, §2º, primeira parte, no sentido de que o 
reclamante poderá ser notificado da audiência no ato da apresentação da reclamação29. Assim, 
no recibo comprobatório da distribuição da petição inicial já restará informado o dia, hora, local e 
 
27 Vale destacar que, embora cabível, é muito improvável a admissão de um recurso extraordinário 
interposto de decisão proferida em feito que tramitou pelo rito sumário trabalhista. Ora, não podemos nos esquecer 
de que, como requisito específico do RE, a lei exige a demonstração de repercussãogeral. Como fazê-lo em causa 
com valor tão diminuto (menos de R$ 1.400,00) ? Portanto, na prática, a irrecorribilidade da decisão proferida em 
primeiro grau exibe-se quase absoluta. 
28 Art.765. “Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo 
andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas”. Nesse 
sentido, esclarece Wolney de Macedo Cordeiro: “A audiência é a fase processual na qual são produzidas as provas 
orais e permitidos os debates pelos litigantes. [...]. (Processo e Procedimento na Perspectiva Trabalhista. In: Luciano 
Athayde Chaves (org.). Curso de Processo do Trabalho. 2.ed. São Paulo: LTr, 2012, p.591-637). Renato Saraiva, 
por sua vez, pontua: “O art.849 da CLT determina que a audiência de julgamento será contínua, única, em 
observância ao princípio da celeridade processual. Todavia, se não for possível, por motivo de força maior, concluí-
la no mesmo dia, o juiz marcará a sua continuação para a primeira desimpedida, independentemente de nova 
notificação. Em verdade, os juízes do trabalho, com base no art.765 (ampla liberdade na direção do processo) e no 
art.849, ambos da CLT, vêm adotando a praxe de dividir a audiência em três sessões, quais sejam: . Audiência de 
conciliação – também chamada de audiência inaugural, objetiva buscar a conciliação, e, não sendo esta possível, 
a apresentação da defesa pela reclamada; . Audiência de instrução – também chamada de audiência em 
prosseguimento, como o objetivo de colher as provas; . Audiência de julgamento – com o único objetivo de dar 
ciência da sentença às partes, mediante sua publicação em audiência. Não obstante, ainda existem alguns juízes 
que, mesmo no procedimento comum, realizam sessão única, concentrando todos os atos processuais em um só 
momento” (Curso de direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.384-385). A audiência de 
conciliação referida por Renato Saraiva também é comumente chamada de “inicial”. 
29 “Poderá”, embora o dispositivo em questão traga que “serᔠpois, ao mesmo tempo, na segunda parte, 
pontua, após trazer a conjunção alternativa “ou”, que a notificação é admitida na forma do parágrafo anterior, ou 
seja, por registro postal com franquia ou, criados embaraços ao recebimento desta, por edital. 
14 
 
“tipo” de audiência (inicial ou una). Ora, somente poderá haver o fracionamento se o rito não for 
o sumaríssimo, face à vedação do art.852-C, já referido. Então, já na distribuição, mostra-se 
indispensável o conhecimento do rito, o que depende da verificação do valor da causa. 
Tanto é verdade o ora sustentado que, por ocasião dos procedimentos prévios de 
cadastramento dos dados pertinentes ao feito, havidos nos sítios dos Tribunais Regionais 
(PRECAD, no âmbito do TRT-2ª Região), um dos primeiros dados exigidos, sem o qual não se 
dá o dito pré-cadastramento, é justamente o valor da causa. 
Não fosse já suficiente o exposto, há de se observar, ainda, o seguinte: no rito 
sumaríssimo, o autor é obrigado a liquidar os pedidos (CLT, art.852-B, I30). Dessa forma, se o rito 
for o sumaríssimo, deverá, necessariamente trazer os pedidos liquidados e, por consequência 
lógica, terá o autor todo o necessário para a atribuição do valor à causa (somatória dos valores 
dos pedidos, ex vi do CPC, art.259, II)31. 
Alguns chegam a defender que o valor da causa consiste em requisito da inicial apenas 
quando o feito for tramitar pelo procedimento sumaríssimo. Nesse sentido, a lição de Carlos 
Henrique Bezerra Leite: 
De lege lata, o valor da causa é requisito obrigatório apenas para as causas 
sujeitas ao procedimento sumaríssimo, por força dos arts.852-A e 852-B, 
inciso I, §1º, da CLT. 
Já nas ações individuais submetidas aos procedimentos ordinário e sumário, 
se o autor não indicar o valor da causa, o juiz, antes de passar à instrução 
da causa, deverá fixá-lo para determinação da alçada (Lei n.5.584/70, art.2º). 
Vale dizer, se omissa a petição inicial quanto ao valor da causa nos 
procedimentos ordinário e sumário, cabe ao juiz fixá-lo de ofício, ainda que 
na sentença32. 
 
30 Art.852-B. “Nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo: I – o pedido deverá ser certo 
ou determinado e indicará o valor correspondente; [...]”. 
31 Vale mencionar a lição de Mauro Schiavi: “[...] valor da causa é a expressão econômica dos pedidos 
formulados pelo reclamante no processo. A exigência de declará-lo no ato da propositura da reclamação tem duas 
finalidades, quais sejam: a) servir de base de cálculo para as custas e demais taxas judiciárias; b) indicar o 
procedimento a ser seguido (sumário, ordinário ou sumaríssimo) (ver art. 258 do CPC). Como o art.840 da CLT não 
exige que o reclamante decline o valor da causa, acreditamos que este deva ser indicado por aquele, pois o valor da 
causa determina o procedimento a ser seguido: ordinário (CLT), sumário (Lei n. 5.58470) ou sumaríssimo (Lei 
n.9.957/2000). Ainda que alguns sustentem que não há tal obrigação da parte, pois o valor pode ser fixado pelo juiz 
do trabalho, conforme a Lei n.5.584/70, acreditamos que tal argumento não seja suficiente, uma vez que, após a Lei 
n.9.957/2000, fica muito difícil sustentar tal entendimento, já que a parte deve, nas causas cujo valor atinja até 40 
salários mínimos, liquidar os pedidos” (Processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012, p.153-154). 
32 Carlos Henrique Bezerra Leite. Curso de direito processual do trabalho. 7.ed. São Paulo: LTr, 2009, 
p.414-415. Interessante, ainda, a lição de Eduardo Gabriel Saad et.al., no consagrado Curso de direito processual 
do trabalho. 6.ed. São Paulo: LTr, 2008, p.528, ao defenderem que há de ser informado o valor da causa, para 
determinação do rito e, na sequência, informarem que, ex vi do art.2º da Lei 5.584/1970, se assim não procedido 
pelo autor, caberá ao juiz a fixação, antes de passar à instrução. Traz a dita lição: “Há que se informar o valor da 
causa, para definir-se o procedimento a seguir, se o ordinário ou o sumário, ou, então, sumaríssimo. [...]. Dispõe o 
art.2º da Lei n.5.584, de 26 de junho de 1970, que, nos dissídios individuais, proposta a conciliação e não havendo 
acordo, o Juiz do Trabalho ou o Juiz investido na jurisdição trabalhista, antes de passar à instrução da causa, fixar-
lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido”. 
15 
 
 
Entendemos, todavia, que a regra acerca de um requisito da petição inicial não pode ser 
relegada apenas ao rito sumaríssimo, sendo o caso de atribuição do dito valor qualquer que seja 
o procedimento, admitindo-se, nos demais ritos, que tal se faça por estimativa33. 
Portanto, não há como se negar: independentemente da ausência de exigência legal no 
art.840, §1º, da CLT, a indicação do valor da causa (CPC, art.282, V) é requisito formal da 
petição inicial. 
No mais, de fato, os requisitos estatuídos no art.282 do CPC, incisos VI e VII (ou seja, a 
especificação das provas – entenda-se: meios de prova – pelas quais buscará o reclamante 
demonstrar a veracidade do alegado – inciso VI – e o requerimento de citação – inciso VII) não 
precisam ser observados na redação da petição inicial. Tal se afirma pois: 
a) quanto às provas, dispõe a CLT, ex vi dos arts.787 e 845, que serão produzidas em 
audiência. Portanto, considerado que as provas documentais já devem seguir com a inicial, em 
regra, no mais, bastará ao autor comparecer à audiência e apresentar as demais34. 
 Todavia, não se pode olvidar das posições em contrário ou, ao menos, a constatação de 
que, na prática, se mostra comum a especificação dos meios de prova pertinentes à elucidação 
do alegado no bojo da petição inicial. Assim, defende Renato Saraiva que: 
Quanto à especificação obrigatória das provas na peça inaugural,embora o 
art.840, §1º, da CLT não o relacione como requisito essencial da petição 
inicial trabalhista, principalmente pelo fato de as provas serem produzidas em 
audiência, é comum nas iniciais trabalhistas o protesto do autor pela 
produção de todos os meios de prova em direito admitidos35. 
 
 Manuel Antonio Teixeira Filho, em sentido próximo, afirma: 
 
33 No mesmo sentido: Renato Saraiva. Curso de direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 
2012, p.292). 
34 Nesse mesmo sentido, ensina Gustavo Filipe Barbosa Garcia: “O art.282, inciso VI, do CPC prevê que a 
petição inicial deve indicar ‘as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados’. Entende-
se que esse requisito não é obrigatório na petição inicial trabalhista, uma vez que as provas, no processo 
trabalhista, são apresentadas em audiência. Nos termos doa RT.845 da CLT, o reclamante e o reclamado devem 
comparecer à audiência ‘acompanhados das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas’. 
Quanto à prova documental, deve ser juntada com a petição inicial trabalhista, em respeito ao art. 787 da CLT, ao 
prever que a ‘reclamação escrita’ deve ser formulada em duas vias, ‘e desde logo acompanhada dos documentos 
em que se fundar’” (Curso de direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p.350). No mesmo 
sentido, sustenta Cléber Lúcio de Almeida: “No processo do trabalho as provas podem ser produzidas 
independentemente de sua prévia indicação pelas partes, como resulta, por exemplo, do art.852-H da CLT. Isso 
equivale dizer que não constitui requisito da petição inicial a indicação dos meios de prova de que o reclamante 
pretende se valer para a demonstração dos fatos alegados como fundamento de sua pretensão” (Direito 
processual do trabalho. 3.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p.473). Sérgio Pinto Martins também segue a mesma 
trilha: “Não é necessário o autor declinar as provas que serão produzidas com a inicial, pois estas deverão ser 
apresentadas em audiência, na forma do art.845 da CLT. Inexiste omissão na CLT, de modo que não se aplica o 
inciso VI, do art.282 do CPC, quanto à indicação das provas a produzir” (Direito processual do trabalho. 34.ed. 
São Paulo: Atlas, 2013, p.255). 
35 Curso de direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.293. 
16 
 
São dois, basicamente, os motivos pelos quais o processo civil exige que o 
autor especifique, na inicial, os meios de prova a serem utilizados, a saber: a) 
atender ao princípio da lealdade processual, contido no art.14, do CPC; b) 
permitir ao juiz verificar, em alguns casos, se o meio escolhido é, 
efetivamente, adequado, ou moralmente legítimo (CPC, art.332). 
Apesar disso, pensamos que, no processo do trabalho, não há lugar para 
essa exigência, não tanto pelo fato de a CLT nada dispor quanto a esse 
requisito, mas em virtude da simplicidade do procedimento. Não estamos a 
dizer que o autor tem o direito de esconder, do adversário, os meios de que 
se valerá para provar a veracidade dos fatos narrados na inicial, pois isso 
atentaria contra o dever de lealdade, a que estão submetidas as partes, 
mesmo no processo do trabalho. O que estamos a asseverar é que, naquela 
peça, poderá o autor, simplesmente, requerer a produção de “todas as 
provas em direito admitidas”, vindo a especificar os meios adequados (e 
moralmente legítimos) no momento oportuno, por força de determinação do 
juiz36. 
 
 Com o devido respeito às posições acima exaradas, defende-se que o uso de fórmulas 
genéricas tais como o “requerimento” de produção de provas por “todos os meios em direito 
admissíveis” não se justifica por equivaler a “nada”, restando esvaziado o seu sentido prático. 
Até no âmbito do direito processual civil, há quem defenda a total inutilidade do requisito 
estatuído no inciso VI do art.282 do CPC. Nesse sentido, Costa Machado afirma: 
O requisito em questão não tem o menor significado prático porque todo 
protesto por provas é absolutamente genérico: indicam-se “todos os meios de 
prova, sem exceção de nenhum, e especialmente [...]” todos ! Logo, a 
indicação não tem nenhuma utilidade para o juiz, que é o destinatário das 
provas. Ainda que falte o requisito, o autor não perde o direito de provar se 
indicar concretamente os meios no momento da especificação (art.324; [...]). 
Se a falta é percebida pelo magistrado ao exarar o despacho liminar, deve 
ele ordenar ao autor a emenda, sob pena de indeferimento (art.284), porque 
de qualquer forma o requisito é legal e, portanto, exigível. Nenhuma 
importância tem, por outro lado, o verbo que o autor usa para fazer a 
proposição de provas: requerer, indicar, protestar, propor, tudo é a mesma 
coisa. Destarte, absurdo dos absurdos é a decisão que indefere a produção 
de provas pelo autor porque este protestou e não requereu !37 
 
 
36 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2009, p.655. v.II. 
37 Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 9.ed. Barueri: 
Manoele, 2010, p.325. Como lição complementar, vale anotar o trazido por Luiz Guilherme Marinoni e Daniel 
Mitidiero em nota ao art.282, VI, do CPC (ou seja, com relação à inicial na seara do processo civil): “8. Provas. Tem 
o demandante de indicar, já à petição inicial, os meios de prova com que pretende mostrar a veracidade do que 
alega em juízo. Já se decidiu que ‘o requerimento de provas divide-se em duas fases: na primeira, vale o protesto 
genérico para futura especificação probatória (CPC, art.282, VI); na segunda, após a eventual contestação, o juiz 
chama à especificação das provas, que será guiada pelos pontos controvertidos na defesa (CPC, art.324)’, sendo 
que apenas o ‘silêncio da parte, em responder o despacho de especificação de provas faz precluir o direito à 
produção probatória, implicando desistência do pedido genérico formulado na inicial’ (STJ, 3ª Turma, REsp 
329.034/MG, rel.Min.Humberto Gomes de Barros, j.em 14.02.2006, DJ 20.03.2006, p.263)” – (Código de processo 
civil comentado artigo por artigo. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011). 
17 
 
b) quanto ao requerimento de citação (CPC, art.282, VII), também não se trata de 
requisito formal da petição inicial trabalhista em razão do disposto na CLT, art.841, verbis: 
Recebida ou protocolada a reclamação, o escrivão ou chefe de secretaria, 
dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou 
do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à 
audiência de julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 
(cinco) dias. 
 
Assim, a expedição da notificação inicial e a sua respectiva postagem, no prazo legal, 
consiste em ato do Diretor de Secretaria, que há de se dar independentemente de qualquer 
determinação judicial nesse sentido. Com isso, resta evidente que não se aplica o CPC, art.28538 
no procedimento das reclamações trabalhistas, não havendo que se cogitar de remessa dos 
autos à conclusão do juiz – que terá o primeiro contato com aqueles por ocasião da audiência39. 
Nesse sentido, vale ressaltar a lição de Mauro Schiavi: 
[...] não se exige que na inicial trabalhista conste o requerimento de provas, 
pois essas são produzidas em audiência (arts.787 e 845 da CLT), tampouco 
o requerimento de citação do reclamado, pois, no Processo do Trabalho, a 
notificação inicial, que equivale à citação, é realizada automaticamente, por 
ato do Diretor de Secretaria ou por funcionário por ele designado (art.841 da 
CLT)40. 
 
 Registre-se, porém, que há doutrinadores que, mesmo após defenderem a 
desnecessidade de atenção a certos requisitos do CPC, art.282, concluem ser recomendável 
observá-los, por cautela. Nesse sentido, ensina José Cairo Junior:“Em qualquer caso, por se 
mais completo, recomenda-se o esquema da peça incoativa previsto pelo Código de Processo 
 
38 Art.285. “Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para 
responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como 
verdadeiros, os fatos articulados pelo autor”. 
39 José Cairo Junior afirma: “No processo do trabalho, em regra, o juiz tem contato com a petição inicial 
apenas em audiência. É nessa oportunidade que deve realizar o juízo de admissibilidade, determinando, inclusive, 
quando for o caso, a emenda à peça vestibular se a hipótese for de vícios sanáveis” (Curso de direito processual 
do trabalho. 4.ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p.329). 
40 Processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012, p.154. Vale destacar, também, a lição de Renato 
Saraiva: “Por último, é desnecessário o requerimento de citação do réu, visto que, nos domínios do processo do 
trabalho, não há citação do reclamado, mas simples notificação para comparecimento à audiência, ato automático 
realizado pelo servidor da Vara do Trabalho (art. 841 da CLT), independentemente de pedido inaugural. Nesta 
esteira, o legislador pátrio, objetivando justificar a autonomia do processo do trabalho, utilizou a Consolidação das 
Leis do Trabalho, de forma indiscriminada, o termo notificação, como o meio adequado para comunicação de todo 
e qualquer ato processual realizado no âmbito da Justiça laboral (seja citação ou intimação). Na inicial trabalhista, 
portanto, não há citação do reclamado,mas notificação via postal do mesmo,por meio de remessa automática pelo 
servidor da secretaria da Vara, dentro de 48 horas do recebimento da ação, de cópia da petição inicial ao 
reclamado, notificando-o a comparecer à audiência de julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 
cinco dias (art. 841 da CLT), ocasião em que o demandado apresentará, caso deseje, sua defesa.“ (Curso de 
direito processual do trabalho. 9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.293). Anota José Cairo Junior: “Dispensa-se o 
protesto pela produção de provas e o requerimento da citação do reclamado, tendo em vista a prevalência do 
princípio dispositivo que norteia o processo laboral, conferindo maiores poderes ao juiz par ao seu impulsionamento 
de ofício” (Curso de direito processual do trabalho. 4.ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p.328). 
18 
 
Civil, para evitar-se a declaração de inépcia da exordial”41. Ao que parece, na mesma linha, 
André Luiz Paes de Almeida indica: 
A petição inicial é prevista no art.840 da CLT. No entanto, em razão de 
algumas omissões para a elaboração da peça e não havendo que se falar em 
incompatibilidade com os princípios que norteiam o processo do trabalho, 
aplicamos subsidiariamente o art.282 do CPC, pelo que dispõe o art.769 da 
CLT42. 
 
 Por isso, em sede de exames e provas, indica-se a redação da petição inicial de modo 
atento ao que traz o art.282 do CPC, sem prejuízo da manutenção, aqui, do entendimento supra 
fixado43. 
 
2.3.1. Os requisitos do art.840, §1º, da CLT 
 Superada – em análise singela - a questão das diferenças entre o texto do CPC, art.282 
e o do art.840, §1º, da CLT, necessário se faz enfrentar o próprio teor do referido dispositivo do 
texto consolidado, para, assim, entendermos os principais aspectos da petição inicial trabalhista. 
 
2.3.1.1. A designação do Presidente da Vara, ou do juiz de direito a quem for dirigida 
 A petição inicial deve ter a sua redação iniciada pelo endereçamento. Há de se indicar a 
Vara do Trabalho ou o Tribunal (Regional ou Superior do Trabalho, nos casos de competência 
originária como, por exemplo, nas ações rescisórias) para o qual se dirige. Consoante salienta 
Mauro Schiavi, a dita “invocação é dirigida ao órgão e não ao seu ocupante, dado o caráter 
impessoal do exercício da jurisdição. Com o endereçamento, o reclamante já declina a 
competência em razão da matéria, do lugar e funcional”44. 
 Para fim de redação, deve-se conhecer o pronome de tratamento a ser utilizado. E será 
“Vossa Excelência”. Aliás, esse pronome é usado para deputados, senadores, embaixadores, 
ministros de Estado e de Tribunais, governadores, secretários de Estado, Presidente da 
 
41 Curso de direito processual do trabalho. 4.ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p.328 
42 Prática Trabalhista. São Paulo: Premier Maxima, 2008, p.19, v.2. 
43 Vale lembrar o dito popular: é melhor “pecar pelo excesso”. Ao menos nas questões enfrentadas nesse 
texto, o “excesso” (CPC, art.282) parece não eivar de erros fatais a redação da peça proposta. Tanto que mesmo os 
defensores da aplicação restrita da CLT, art.840, reconhecem que não há consequências prejudiciais decorrentes 
do respeito a tudo o que é formalmente exigido pelo CPC, art.282, se aplicado às iniciais trabalhistas. Nesse 
sentido, a guisa de exemplo, cite-se a lição de Cleber Lúcio de Almeida: “Definindo a CLT os requisitos da petição 
inicial, não há como invocar no processo do trabalho, para efeito da fixação de tais requisitos, o art.282 do CPC, 
haja vista a ausência de omissão do direito processual do trabalho a ser suprida. No entanto, nada impede que o 
autor da demanda atenda, na redação da petição inicial,o disposto no art.282 do CPC. O acréscimo dos dados 
solicitados pelo art.282 do CPC não torna irregular a petição inicial” (Direito processual do trabalho. 3.ed. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2009, p.470). 
44 Processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012, p.150. 
19 
 
República (sempre por extenso), oficiais (superiores a coronel), juízes e outras altas autoridades, 
consoante aponta João Bolognesi45. 
 Aliás, questão interessante levantada pelo Prof.Bolognesi merece registro, acerca da 
utilização correta de “Vossa Excelência” e “Sua Excelência”. Ensina o professor: 
O correto é Vossa Excelência ou Sua Excelência ? A forma adequada 
depende de como está construído o ato comunicacional. Quando se fala 
diretamente com a pessoa, um juiz, por exemplo, usa-se Vossa. Quando o 
juiz se torna apenas o assunto sobre o qual se está falando, põe-se Sua”46. 
 
 A partir do supra exposto, tem-se que a menção ao juiz da causa, nas peças a ele 
endereçadas, dar-se-á com o uso do pronome “Vossa Excelência”47. 
 Quanto ao Juiz, trata-se de “Juiz do Trabalho”, o que há de ser observado na redação do 
endereçamento da petição inicial. Assim, consiste em equívoco tratá-lo por “Juiz de Direito” ou 
“Juiz Federal”. No que toca à última denominação, vale salientar que, em que pese a Justiça do 
Trabalho integre a estrutura do Poder Judiciário Federal, como Justiça Especializada, tem por 
órgão o “Juiz do Trabalho”, ex vi do art.111, III, da CF48. 
 Vale salientar que o acima exposto não se aplica no caso previsto na CF, art.112, ou 
seja, quando, por ausência de Justiça do Trabalho no local, experimente-se a extensão da 
competência do Juiz de Direito para as causas trabalhistas. 
 
2.3.1.2. A qualificação do reclamante e do reclamado 
 A qualificação das partes delimita, subjetivamente, a demanda. Afinal, são sujeitos 
parciais da relação jurídica processual o autor (ou reclamante) e o réu (ou reclamado). A lide 
resta estabelecida entre eles e, no processo individual, a princípio, a esses sujeitos alcançarão 
os efeitos da coisa julgada. 
 Ao contrário do que traz o CPC, art.282, II, a CLT, art.840, §1º, não indica 
especificamente quais são os dados de qualificação que devem ser apresentados na inicial. 
Todavia, exige-se a indicação de dados suficientes para a adequada identificação e 
individualização das partes. Portanto, para a pessoa jurídica, basta indicar o nome empresarial, o 
número de inscrição no CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - do MF, e o endereço 
completo, com CEP. Já paraa pessoa natural, recomenda-se a indicação do nome completo, 
 
45 Português forense- teoria. 6.ed. São Paulo: Paloma, 2002, p.84. 
46 Ibid., mesma página. 
47 A forma correta de abreviar o referido pronome é “V.Exª”. 
48 Nesse mesmo sentido: Eduardo de Moraes Sabbag e Marco Antonio Araújo Junior. Manual de redação 
jurídica e língua portuguesa para a OAB. Coleção Prática Forense. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.38, 
v.8; André Luiz Paes de Almeida. ob.cit., p.19. 
20 
 
data de nascimento, nome da mãe, nacionalidade, profissão, estado civil, número de inscrição no 
Registro Geral (Carteira de Identidade) e da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS, 
inclusive quanto ao número de série e Unidade da Federação em que expedida), número de 
inscrição no CPF – Cadastro de Pessoas Físicas – do MF e no PIS – Programa de Integração 
Social, além do endereço completo, com CEP. 
 
2.3.1.3. A breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio 
 Como salienta Wolney de Macedo Cordeiro: 
Toda a postulação deve ter uma justificativa ou motivação. O pedido para a 
realização da prestação jurisdicional pressupõe que o autor tenha razões 
fáticas e jurídicas para sua provocação perante o Poder Judiciário. Esses 
motivos são conhecidos no âmbito da processualística como causa de pedir. 
É a causa de pedir que delimita a prestação jurisdicional e vincula o teor da 
defesa do réu. 
A causa de pedir, portanto, representa a delimitação do substrato fático-
jurídico da postulação do autor. Ou seja, a fixação da causa de pedir 
significa, em última análise, a delimitação dos motivos da postulação do 
autor, a fim de que o réu possa se defender de forma ampla. Sem a 
delimintação da cusa de pedir, portanto, inviabiliza-se a própria delimitação 
objetiva da postulação49. 
 
 A CLT, em seu art.840, §1º, não alude à causa de pedir, nem mesmo ao fato e aos 
fundamentos jurídicos, em conjunto, como parte essencial da petição inicial. O requisito, aqui, 
resta simplificado: a luz do texto legal, basta indicar a breve exposição dos fatos para que a 
inicial trabalhista se mostre apta, devendo essa ser redigida de modo claro e preciso50. 
Certamente, o menor rigor técnico que marca o texto consolidado em relação ao disposto no 
CPC, art.282, III, decorre, dentre outros motivos, da necessária simplificação procedimental – e 
até formal - que há de caracterizar um processo que consagra o jus postulandi. Ora, se até para 
o advogado, por vezes, a tarefa de redigir a causa de pedir não se mostra tão simples, o que se 
diga, então, de exigir de um “leigo” a demonstração da fundamentação jurídica do pedido ? 
Portanto, dispensa-se o requisito em questão para contentar-se, na peça inicial, com a breve 
exposição dos fatos. 
Vale mencionar, a guisa de exemplo e nesse sentido, a seguinte decisão, proferida pelo 
Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região: 
 
49 Processo e procedimento na perspectiva trabalhista. In: Luciano Athayde Chaves (org.). Curso de 
processo do trabalho. 2.ed. São Paulo: LTr, 2012, p.603-604. 
50 Nesse sentido: “PETIÇÃO INICIAL. INÉPCIA. A petição inicial deve indicar com razoável clareza a causa 
de pedir e o pedido, de modo a propiciar a elaboração da defesa e o julgamento da lide” (TRT/SP, 3ª Turma, 
Processo nº 20110645828, Ac.20120250327, rel.Mercia Tomazinho, rev.Maria Cristina C.Trentini, d.j.06.03.2012, 
d.p.13.03.2012). 
21 
 
Petição inicial. Processo do Trabalho. Simplicidade. Nos termos do artigo 
840, parágrafo 1º da CLT, são requisitos da petição inicial, além da 
qualificação das partes, uma breve exposição dos fatos de que resulte o 
dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu 
representante. Ao contrário das disposições do artigo 282 do CPC, constata-
se maior simplicidade dos requisitos da exordial trabalhista, tendo em vista o 
jus postulandi, o qual possibilita às partes o ingresso da reclamatória e a 
produção de defesa sem a presença de advogado, bem como o princípio da 
celeridade processual, com maior incidência nesta Especializada tendo em 
vista a natureza alimentar das verbas objeto da maioria das questões 
submetidas à sua apreciação. No caso dos autos, da simples leitura da peça 
de ingresso é possível afastar a inépcia reconhecida pelo Juízo de origem, 
eis que cumprido o requisito de "breve exposição dos fatos", o qual possibilita 
a apresentação de defesa pelos Réus, sem qualquer prejuízo evidente. As 
questões levantadas acerca dos fatos e fundamentos jurídicos trazidos pela 
obreira devem ser interpretadas com base na legislação processual 
trabalhista. A causa de pedir diverge do fundamento legal do pedido, o qual 
existe legalmente, mas não necessita ser mencionado. A causa de pedir 
trabalhista deve ser simples, sucinta, objetiva, pela simplicidade inerente ao 
processo do trabalho. Inépcia da inicial afastada (TRTSP, Recurso Ordinário, 
4ª Turma, Acórdão 20120806040, Processo nº 20120032594, rel.Des.Sergio 
Winnik, rev.Des.Paulo Sérgio Jakutis, d.j.17.07.2012, d.p. 27.07.2012). 
 
 No mesmo sentido, Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria 
Saad Castello Branco, verbis: “Não exige a CLT, no art.840, a fundamentação jurídica do 
pedido”51. Parece claro, então, que o legislador celetista adotou a chamada “teoria da 
substanciação”52, que se contenta com o fato ou o complexo de fatos suficientes a embasar a 
pretensão do autor, pois daqueles, logicamente, há de decorrer a conclusão do julgador acerca 
do direito cujo reconhecimento é almejado. Contrapõe-se, assim, à chamada “teoria da 
individuação” ou da “individualização”, que exige tão somente a indicação dos fundamentos 
jurídicos para fim de formação da causa de pedir. 
 Todavia, não se pode negar que a indicação dos fundamentos jurídicos torna a petição 
inicial muito mais clara, minimizando os riscos de interpretação dúbia dos fatos. Mais, ainda: 
 
51 Curso de direito processual do trabalho. 6.ed. São Paulo: LTr, 2008, p.505. 
52 Consoante explica Vicente Greco Filho: “Na teoria da substanciação, adotada por nossa lei, a petição 
inicial define a causa, de modo que fundamento jurídico não descrito não pode ser levado em consideração, mesmo 
porque a causa de pedir é um dos elementos que identifica a causa, não podendo ser modificado sem o 
consentimento do réu, após a citação, e em nenhuma hipótese após o saneamento do processo (art.264). Se o 
autor tiver outro fundamento jurídico para o pedido e deixou de apresentá-los na inicial, somente em ação própria 
poderá fazê-lo. Por outro lado, se houver outro fundamento ainda que para o mesmo pedido, nova ação poderá ser 
proposta, porque a primeira não será idêntica à segunda” (Direito processual civil brasileiro. 12.ed. São Paulo: 
Saraiva, 1997, p.98, v.2) Ainda sobre a teoria da substanciação, esclarece Marcus Vinícius Rios Gonçalves: “O 
autor deve indicar quais são os fatos e os fundamentos jurídicos em que se embasa o pedido, a causa de pedir. 
Esse é um dos requisitos de maior importância da petição inicial, sobretudo a descrição dos fatos, que, 
constituindo um dos elementos da ação, vincula o julgamento (teoria da substanciação). O juiz não pode se 
afastar dos fatos declinados na inicial, sob pena de a sentença ser extra petita. A causa de pedir e o pedido 
formulados darão os limites objetivos da lide, dentro dos quais deverá ser dado o provimento jurisdicional” (Direito 
processual civil esquematizado. 2.ed. Saraiva: São Paulo: 2012, p.304). 
22 
 
torna mais precisa a interpretação do operador do direito (seja o juiz, seja o advogado da parte 
contrária) ou mesmo da própria parte contrária acerca “do que pretende”, efetivamente, o autor. 
Assim, além de facilitara tarefa do julgador, prestigia o contraditório e a ampla defesa – o que, 
por via de consequência, conduz à completa observância e respeito ao due process of law53. 
Não se negue, aqui, que é dever do autor agir de acordo com a verdade (CPC, arts.339; 14, I; 
17, II), a luz da lealdade processual lhe imposta. Desse modo, a redação de uma petição inicial 
objetiva, porém completa e clara, vai de encontro com isso. Ademais, favorece o próprio autor 
pois a sua pretensão poderá ser melhor apreciada pelo juiz se esse, de fato, entendê-la (ou seja, 
se o magistrado entender “o que pretende” o autor, de modo preciso, restará majorada a 
possibilidade de julgamento de procedência do pedido – em especial se o direito invocado pelo 
demandante realmente existir !). Some-se ao exposto o fato de que, se subscrita por advogado, 
não haverá o óbice do jus postulandi e consequente condição de leigo do redator da exordial, a 
tornar absolutamente afastada, sob o ponto de vista da interpretação teleológica (indispensável 
ex vi do disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, art.5º), a razão de ser da 
aplicação do art.840, §1º sob o influxo do entendimento meramente gramatical de seus dizeres, 
que limita a causa petendi, na seara do direito processual do trabalho, à breve exposição dos 
fatos. 
 Por isso, em que pese a CLT exija apenas a breve exposição dos fatos, quando 
subscrita por advogado, recomenda-se que a petição inicial traga a exposição, também objetiva, 
da fundamentação jurídica que embasa a pretensão do reclamante. Há de se redigir, desta feita, 
verdadeira causa de pedir, em seu aspecto remoto (causa de pedir remota, ou seja, os fatos que 
sustentam a pretensão) e próximo (causa de pedir próxima, a saber, os fundamentos jurídicos do 
pedido)54. 
 
53 Wolney de Macedo Cordeiro afirma: “A fundamentação jurídica [...] consiste no enquadramento jurídico 
promovido pelo autor da relação a ser tutelada pelo Poder Judiciário. Esse verdadeiro processo de especificação da 
relação jurídica que se discute é essencial do ponto de vista do processo comum, para que se facilite a produção da 
defesa por parte do réu” (Processo e procedimento na perspectiva trabalhista. In: Luciano Athayde Chaves (org.). 
Curso de processo do trabalho. 2.ed. São Paulo: LTr, 2012, p.604). Renato Saraiva caminha na mesma estrada, 
ao afirmar: “Outra corrente, à qual nos filiamos, embora reconheça que não devam ser exigidos os rigorismos 
formais do Código de Processo Civil, entende fundamental a indicação da causa de pedir, principalmente para 
assegurar os princípios do devido processo legal e da ampla defesa” (Curso de direito processual do trabalho. 
9.ed. São Paulo: Método, 2012, p.290). 
54 Nesse sentido, ensina Vicente Greco Filho: “O fato é chamado causa de pedir remota e o fundamento 
jurídico é a causa de pedir próxima” (Direito processual civil brasileiro. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p.98, 
v.2). Alguns autores “invertem” os conceitos, como, por exemplo, o faz Sérgio Pinto Martins: “A causa de pedir 
compreende os fundamentos de fato e de direito pelos quais o autor faz o seu pedido. É o fundamento pelo qual o 
autor faz sua postulação. Causa de pedir remota é o direito que fundamenta o pedido do autor. É também chamada 
de causa de pedir mediata. (...). Causa de pedir próxima ou imediata é o fato que dá origem ao direito (...)” (Direito 
processual do trabalho. 34 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.249). Elpídio Donizetti, por sua vez apresenta a seguinte 
lição acerca das partes da causa de pedir: “A causa de pedir (ou causa petendi) subdivide-se em causa remota, que 
23 
 
 Vale, aqui, destacar a lição de Sérgio Pinto Martins: 
A expressão “breve exposição dos fatos” significa que na petição deveria 
haver apenas a narração dos fatos. O §1º do art.840 da CLT não exige que 
seja indicado o fundamento jurídico do pedido. Bastaria a parte narrar os 
fatos e o juiz iria enquadrá-los dentro do Direito. 
A utilização da breve exposição dos fatos é originária da época em que a 
Justiça do Trabalho era administrativa, além do que não há necessidade de 
advogado para postular em juízo. Assim, o leigo poderia redigir a petição 
inicial, fazendo breve exposição dos fatos. 
Entretanto, em certos casos não basta apenas a narração dos fatos, mas a 
causa de pedir e a fundamentação jurídica do pedido, especialmente quando 
a matéria é de direito55. 
 
 Portanto, de início, há a necessidade de diferenciar uma coisa da outra. O que seriam, 
então, os fatos ? 
 Narrar os fatos significa expor os acontecimentos, a “história” da relação laboral – 
naquilo que se mostrar pertinente ao pedido. Consiste em informar ao juiz “o que aconteceu para 
que o reclamante tenha aquele direito”. Tomando como exemplo um caso em que o reclamante 
pleiteie a condenação da reclamada no pagamento de aviso prévio indenizado. Quais seriam os 
fatos pertinentes ? Simples: a ausência de comunicação prévia, pelo empregador ao empregado, 
acerca da dispensa imotivada, e o tempo de serviço, para cálculo da proporcionalidade (ex vi da 
Constituição Federal, art.7º, XXI e da Lei 12.506/2011). 
 E a fundamentação jurídica ? Em um primeiro momento, é necessário distingui-la da 
fundamentação legal56, que consiste na indicação do dispositivo de lei que consagra o direito 
invocado. Assim, a fundamentação legal consiste em indicar expressamente, no texto da petição, 
o artigo de lei que dispõe de acordo com a pretensão deduzida do autor. No caso do aviso prévio 
indenizado, para ficarmos no mesmo exemplo, a fundamentação legal consistiria em indicar a 
 
se relaciona aos fatos e fundamentos jurídicos, e causa próxima, relacionada com as consequências jurídicas desse 
fato. A propriedade do bem, numa ação reivindicatória, constitui a causa remota; já as consequências jurídicas da 
propriedade, ou seja, o direito de reaver o bem do poder de quem quer que injustamente o possua (art.524 do CC) 
caracterizam a causa próxima” (Curso didático de direito processual civil. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.526). 
55 Direito processual do trabalho. 34.ed. São Paulo: Atlas, 249. 
56 Wolney de Macedo Cordeiro ensina: “Por fundamentos jurídicos não devemos entender a mera indicação 
dos dispositivos legais destinados a lastrear a postulação do autor, até porque há de se presumir que o direito é de 
conhecimento do magistrado, conforme vetusto brocardo juria novit cúria” (Processo e procedimento na perspectiva 
trabalhista. In: Luciano Athayde Chaves (org.). Curso de processo do trabalho. 2.ed. São Paulo: LTr, 2012, 
p.604). Na mesma toada, Marcus Vinicius Rios Gonçalves afirma: “[...] os fatos devem ser descritos com clareza, e 
manter correspondência com a pretensão inicial. É causa de inépcia da petição inicial a falta de causa de pedir, ou 
de correspondência entre ela e o pedido (CPC, art.295, parágrafo único). Além dos fatos, o autor deve indicar qual o 
direito aplicável ao caso posto à apreciação do juiz. Não é necessária a indicação do dispositivo legal, mas das 
regras gerais e abstratas das quais se pretende extrair a consequência jurídica postulada pelo autor. A 
indicação do direito aplicável não vincula o juiz, que conhece o direito (jura novit curia) e pode valer-se de regras 
diferentes daquelas apontadas na petição inicial. Por isso, pode haver alguma tolerância do juízo em relação a isso 
na inicial, mas não em relação aos fatos, que devem ser descritos com toda a precisão e clareza necessárias para 
que o juiz possa compreendê-los (Direito processual civil esquematizado. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.304). 
24 
 
CLT, art.487, §1º e a Lei 12.506/2011, art.1º, “caput” e §1º (referente ao

Outros materiais