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Capítulo 8 - Articulações e Movimento

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Fotografia de microscopia electrónica de varrimento de
um condrócito numa lacuna, rodeado por matriz
cartilagínea
Nós movemo-nos porque os múscu-
los puxam os ossos, mas o movi-
mento exigido ao esqueleto não se
pode dar se não houver, entre os os-
sos, articulações. Os seres humanos
pareceriam estátuas, sem articulações
que permitissem o movimento de um osso
em relação a outro. Nas máquinas, as partes
mais susceptíveis de se deteriorar são as que
exercem atrito umas sobre as outras quando os compo-
nentes das máquinas estão em movimento, sendo estas as partes que exigem
maiores cuidados de manutenção. As articulações móveis são os lugares do
corpo onde os ossos deslizam uns sobre os outros e, no entanto, temos tendência
a dar-lhes pouca atenção. Felizmente as nossas articulações auto-mantêm-se,
mas a lesão ou doença de uma articulação pode dificultar muito o movimento.
É então que nos damos conta de quão importantes são as articulações para um
funcionamento normal.
Uma articulação é um local onde dois ossos se reúnem. São habitual-
mente consideradas móveis, mas nem sempre é o caso. Muitas articulações
apenas permitem movimentos limitados e outras parecem imóveis. A estrutura
de uma determinada articulação relaciona-se directamente com o seu grau de
movimento. As sinfibroses e as sincondroses têm muito menos movimento do
que as articulações que contêm líquido e têm superfícies articulares lisas.
As articulações relacionam ossos ou áreas de ossificação adjacentes e o
movimento é importante para determinar o tipo de articulação que se desen-
volve. Se o movimento for restrito – mesmo numa articulação com elevada mo-
bilidade – em qualquer momento ao longo da vida, a articulação pode transfor-
mar-se numa articulação imóvel.
No princípio deste capítulo esquematiza-se a designação das articula-
ções (250); segue-se a sua classificação (250), a análise dos tipos de movi-
mento (256), uma descrição de articulações seleccionadas (261) e um resumo
dos efeitos do envelhecimento nas articulações (271).
8
C A P Í T U L O
Articulações
e Movimento
Pa
rt
e 
2
S
up
or
te
 e
 M
ov
im
en
to
Parte 2 Suporte e Movimento250
mente organizado e o periósteo das superfícies interiores e exte-
riores dos ossos adjacentes prolonga-se sobre a articulação. As
duas camadas de periósteo e as fibras densas de tecido conjun-
tivo entre elas formam o ligamento sutural.
A parede craniana dos recém-nascidos tem áreas mem-
branosas no ponto de junção de vários ossos; estas chamam-se
fontanelas e estão claramente abertas, permitindo que o crânio
“dê de si” durante o trabalho de parto e permitindo o crescimento
da cabeça após o nascimento (figura 8.2).
Designação das Articulações
Objectivo
■ Descrever a forma como se designam as articulações.
As articulações são habitualmente designadas de acordo
com os ossos ou suas porções que nela se relacionam, por exem-
plo a articulação temporo-mandibular entre o osso temporal e a
mandíbula.
E X E R C Í C I O
Como se devem designar as articulações entre os metacárpicos e
as falanges?
Algumas articulações recebem o nome dos ossos que aí se
articulam, como a articulação escápulo-umeral (do ombro). Ou-
tras ainda recebem simplesmente nomes derivados do grego ou do
latim, equivalentes ao nome comum (como a do cotovelo).
1. Que critérios se utilizam para nomear as articulações?
Classificação das Articulações
Objectivo
■ Definir e descrever articulações fibrosas e cartilagíneas.
■ Descrever os acidentes gerais de uma articulação sinovial e
explicar o seu funcionamento.
■ Listar e dar exemplos de seis tipos de articulações sinoviais.
As articulações classificam-se estruturalmente como fibrosas,
cartilagíneas e sinoviais. Neste esquema, as articulações classifi-
cam-se de acordo com o tipo mais importante de tecido conjunti-
vo que mantém o contacto entre os ossos, e a existência ou não de
uma cápsula articular cheia de líquido. As articulações também se
podem classificar de acordo com a sua função, com base no grau de
mobilidade de cada uma. Fala-se então em sinartroses (imóveis),
anfiartroses (semi-móveis) e diartroses (que se movem livremente).
Esta classificação funcional é um pouco limitada e não a utilizamos
aqui. A classificação estrutural, com as suas várias divisões, permite
uma classificação mais precisa e é a que utilizamos.(*)
Articulações Fibrosas
As articulações fibrosas são constituídas por dois ossos, que se
encontram unidos por meio de tecido conjuntivo fibroso inter-
posto entre as superfícies articulares, não têm cavidade articular
e têm pouco ou nenhum movimento. As articulações deste gru-
po classificam-se ainda, com base na sua estrutura, em suturas,
sindesmoses ou gonfoses (quadro 8.1).
Suturas
Suturas são linhas de junção entre os ossos do crânio (figura 8.1).
Algumas são completamente imóveis nos adultos. As suturas ra-
ramente são lisas e os ossos que se articulam muitas vezes inter-
penetram-se (entrelaçado de tipo interdigital, que confere às su-
turas uma estabilidade considerável). O tecido entre os dois os-
sos (ligamento inter-ósseo) é tecido conjuntivo denso e regular-
Tipo e Estruturas
Exemplo Mantidas
da Articulação em Relação Movimento
Articulações Fibrosas e CartilagíneasQuadro 8.1
Articulações Fibrosas
Suturas
Sutura fronto-parietal
ou coronal
Sutura lambdática
Sutura sagital
Sutura escamosa
Não aderentes (sem
continuidade óssea)
ou sindesmoses
Membrana interóssea
rádio-cubital
Estilo-hioideia
Estilo-mandibular
Membrana interóssea
tíbio-peroneal
Gonfoses
Articulação alvéolo-
dentária
Articulações
Cartilagíneas
Sincondroses
Placa epifisária
Sincondrose esterno-
costal
Sincondrose esfeno-
occipital
Sínfises
Sínfises
intervertebrais
Sínfise manúbrio-
esternal
Sínfise púbica
Sínfise xifo-esternal
Frontal e parietal
Occipital e parietal
Entre os dois parietais
Parietal e escama do
temporal
Rádio e cúbito
Apófise estiloideia e
osso hióide
Apófise estiloideia e
mandíbula
Tíbia e perónio
Dentes e cavidades
alveolares
Entre a diáfise e a
epífise de um osso
longo
Parte anterior
cartilagínea da 1ª
costela; entre a
costela e o esterno
Esfenóide e occipital
Corpos de vértebras
adjacentes
Manúbrio e corpo do
esterno
Entre os dois coxais
Apêndice xifoideu e
corpo do esterno
Nenhum
Nenhum
Nenhum
Ligeiro
Ligeiro
Ligeiro
Ligeiro
Ligeiro
Ligeiro
Nenhum
Pouco
Nenhum
Pouco
Nenhum
Nenhum (excepto
durante o parto)
Nenhum
(*) Ver no fim do capítulo o resumo da classificação utilizada em Portugal (NR).
Capítulo 8 Articulações e Movimento 251
Os bordos ósseos das suturas são locais de contínuo cresci-
mento ósseo membranoso, e muitos suturas acabam por ossificar.
Por exemplo, a ossificação da sutura entre os dois frontais dá-se
pouco depois do nascimento, de tal forma que no crânio adulto
formam habitualmente um osso único. Na maioria dos adultos
normais as suturas coronal, sagital e lambdática não estão fun-
didas. No entanto, em algumas pessoas muito velhas, mesmo estas
suturas podem ossificar. Sinostose é o crescimento conjunto de
dois ossos substituindo a sua articulação, de modo a formar um
osso único. Este processo também se dá em certas outras articu-
lações, como as lâminas epifisárias.
E X E R C Í C I O
Qual o resultado de uma sinostose sutural que se dá prematura-
mente num crânio de criança antes de o cérebro ter atingido o seu
desenvolvimento pleno?
Sindesmoses
Sindesmose (apertar ou ligar) é um tipo de articulação fibrosa
em que os ossos estão mais afastados do que numa sutura e são
unidos por ligamentos. Numa sindesmose pode haver algum
movimento pela flexibilidade dos ligamentos, como é o caso da
sindesmose rádio-cubital, que mantém unidos o rádio e o cúbito
(figura8.3).
Gonfoses
Gonfoses são articulações especializadas que consistem no en-
caixe em cavidades e são mantidas no seu lugar por finos feixes
de tecido conjuntivo rico em colagénio. As articulações entre os
dentes e os seus alvéolos da mandíbula e maxilares são gonfoses
(figura 8.4). Os feixes de tecido conjuntivo entre os dentes e os
seus encaixes são os ligamentos peri-odontais e permitem um
ligeiro “dar de si” dos dentes durante a mastigação.
Figura 8-1 Suturas
Frontal
Parietal
Occipital
Sutura
coronal
Sutura
sagital
Sutura
lambdática
Figura 8.2 Crânio Fetal, Mostrando Fontanelas e Suturas
(a) Vista lateral. (b) Vista superior.
Parietal
Occipital
Fontanela astérica
Frontal
Fontanela ptérica
Temporal
Sutura
escamosa
Sutura
lambdática
Sutura
coronal
Ossos frontais
(ainda não
fundidos num
osso único)
Fontanela
bregmática
ou grande
fontanela
Parietal
Fontanela
lambdática
ou pequena
fontanelaOsso
occipital
Sutura
sagital
Gengivite
As gengivas são os tecidos moles que cobrem a arcada dentária. A falta
de cuidado com os dentes pode provocar uma gengivite, ou inflamação
da gengiva, muitas vezes resultante de infecção bacteriana. Se a
gengivite não for tratada, pode disseminar-se ao alvéolo dentário,
provocando doença peri-odontal, que por sua vez é a principal causa de
perda de dentes nos Estados Unidos da América. Consiste numa
acumulação de placa e bactérias, que gradualmente destroem os
ligamentos e os ossos peri-odontais. Em consequência, os dentes ficam
tão laxos que podem sair dos alvéolos. A escovagem adequada, o uso
do fio dental e uma limpeza profissional para remoção da placa são
habitualmente suficientes para evitar a gengivite e a doença peri-
-odontal.
(a)
(b)
Parte 2 Suporte e Movimento252
entre o manúbrio e o corpo do esterno (figura 8.5c), a sínfise
púbica (figura 8.6) e os discos intervertebrais (ver as figura 7.15
e 7.17). Algumas destas articulações são semi-móveis pela natu-
reza um tanto flexível da fibrocartilagem.
Ligamento anularCabeça do rádio
Tendão do bicípete
braquial
Rádio
Sindesmose rádio-cubital
(membrana interóssea)
Cúbito
Figura 8.3 Sindesmose Rádio-Cubital Direita
Membrana interóssea entre o cúbito e o rádio.
2. Defina articulações fibrosas, descreva três tipos diferentes
e dê exemplos de cada tipo. O que é uma sinostose? Onde
se encontram os ligamentos peri-odontais?
Articulações Cartilagíneas
As articulações cartilagíneas ligam dois ossos entre si por meio de
cartilagem hialina ou de fibrocartilagem (quadro 8.1). As articula-
ções que contêm cartilagem hialina chamam-se sincondroses; as
articulações que contêm fibrocartilagem chamam-se sínfises.
Sincondroses
A sincondrose (união por meio de cartilagem) é uma articula-
ção assinovial em que a junção de dois ossos se faz por cartila-
gem hialina, com pouco ou nenhum movimento (figura 8.5a).
As placas epifisárias(*) dos ossos em crescimento são sincondroses
(figura 8.5b). A maioria das sincondroses é temporária e é subs-
tituída por osso, formando-se sinostoses. Por outro lado, algu-
mas sincondroses persistem a vida toda. É o caso da sincondrose
esterno-costal, que une a primeira costela e o esterno por meio
da primeira cartilagem costal (figura 8.5c). Todas as cartilagens
costais começam como sincondroses mas, por causa do movi-
mento que ocorre entre elas e o esterno, todas as outras desen-
volvem articulações sinoviais nestes pontos. Por isso, apesar de
as articulações condro-costais (entre as costelas e as cartilagens
costais) se manterem, a maioria das cartilagens costais deixa de
se classificar como sincondroses porque uma das suas extremi-
dades se liga a osso (o esterno) por uma articulação sinovial.
Sínfises
A sínfise ou anfiartrose consiste em fibrocartilagem unindo dois
ossos que aderem por superfícies planas. São sínfises as junções
(*) Na classificação usada entre nós, as sincondroses aderem por bordos; assim sendo,
as placas epifisárias são classificadas como anfiartroses ou sínfises (N.R.).
Figura 8.4 Gonfose Entre o Dente e o Osso Alveolar da
Mandíbula
Coroa
do dente
Gengiva
Raíz
do dente
Gonfose
Ligamentos
peri-odontais
Osso alveolar
Alterações Articulares Durante a Gravidez
Durante a gravidez certas hormonas, como os estrogénios, a
progesterona e a relaxina actuam sobre o tecido conjuntivo das
articulações, como é o caso da sínfise púbica, tornando-as mais
extensíveis e permitindo que se tornem mais maleáveis. Esta modifica-
ção permite o alargamento do estreito inferior da bacia no momento do
parto. Após o parto, o tecido conjuntivo da sínfise púbica tende a
recuperar o seu estado original. No entanto, a abertura pélvica alargada
pode não voltar totalmente ao seu tamanho original e a mulher poderá
ficar com as ancas ligeiramente mais largas após o nascimento da
criança.
Estas mesmas hormonas podem actuar sobre o tecido conjuntivo
de outras articulações do corpo, como as arcadas plantares, fazendo-as
relaxar, o que pode levar ao seu apagamento (ver a secção “Problemas
das arcadas plantares”, p. 270). Podem também actuar sobre algumas
articulações do recém-nascido como a anca, provocando uma mobilida-
de superior à normal. Este aumento da mobilidade pode levar a luxação
congénita (que surge ao nascer) da anca. A luxação congénita da anca
surge aproximadamente uma vez em cada 670 nascimentos.
3. Defina articulações cartilagíneas, descreva dois tipos
diferentes e dê um exemplo de cada tipo. Porque são
especiais as articulações condro-costais?
Articulações Sinoviais
As articulações sinoviais (sinóvia: líquido articular; sin, junção;
ovia, semelhante à albumina do ovo) contêm líquido sinovial e
permitem um movimento considerável entre os ossos que aí se ar-
ticulam (figura 8.7). Estas articulações são anatomicamente mais
complexas do que as fibrosas e as cartilagíneas. A maior parte das
Capítulo 8 Articulações e Movimento 253
articulações que reúnem os ossos do esqueleto apendicular são
sinoviais, reflectindo a muito maior mobilidade deste esqueleto
apendicular em comparação com o esqueleto axial.
As superfícies articulares dos ossos com articulações si-
noviais estão cobertas por uma fina camada de cartilagem hialina
que se chama cartilagem articular e que constitui uma super-
fície lisa onde os ossos entram em contacto. Diversas articula-
ções sinoviais, como as dos joelhos e a temporo-mandibular,
têm ainda meniscos (discos articulares) (estruturas fibrocar-
tilagíneas que proporcionam força e resistência adicionais à ar-
ticulação e aumentam a profundidade da cavidade articular).
As superfícies articulares dos ossos que se encontram numa
articulação sinovial está encerrada numa cavidade articular,
rodeada por uma cápsula articular que ajuda a manter os ossos
unidos, ao mesmo tempo que permite o movimento. A cápsula
Primeira costela
Sincondrose
esterno-costal
(cartilagem costal
da primeira costela)Sínfise manúbrio-
-esternal
Sínfises
esternais
Sínfise xifo-
-esternal
Articulação
costo-condral
Ílion
Púbis
Sincondroses
Ísquion
Epífise
Sincondroses
(placas epifisárias)
Epífise
secundária
Diáfise
Manúbrio
Corpo
Apêndice xifoideu
Esterno
(a) (b)
(c)
Figura 8.5 Sincondroses
(a) Sincondroses (placas epifisárias) entre os componentes do osso coxal em desenvolvimento. (b) Placas epifisárias. (c) Sincondroses costo-esternais.
Figura 8.6 Sínfise Púbica
Ílion
Sacro
Púbis
Ísquion
Sínfise
púbica
Parte 2 Suporte e Movimento254
articular consta de duas camadas: uma cápsula fibrosa exterior e
uma membrana sinovial interior (ver a figura 8.7). A cápsula fi-
brosa é constituída por tecido conjuntivo denso heterogéneo e está
na continuidade da camada fibrosa do periósteo que cobre os ossos
que constituem a articulação. Há porções da cápsula fibrosaque
podem espessar-se, de modo a formar ligamentos. Pode haver tam-
bém no exterior da cápsula fibrosa ligamentos e tendões que con-
tribuem para fortalecer e estabilizar a articulação, ao mesmo tem-
po que limitam o movimento em algumas direcções.
A membrana sinovial forra a cavidade articular, excepto
sobre a cartilagem articular. É uma membrana fina e delicada
que consiste num conjunto de células de tecido conjuntivo mo-
dificado intercaladas em partes da cápsula fibrosa ou separadas
dela por uma camada de tecido areolar ou adiposo. A membra-
na produz líquido sinovial que consiste num filtrado do soro
sanguíneo e secreções das células sinoviais. O líquido sinovial é
uma mistura complexa de polissacáridos, proteínas, lípidos e
células. O principal polissacárido é o ácido hialurónico, que con-
tribui em grande parte para a consistência viscosa e para as qua-
lidades lubrificantes do líquido sinovial. O líquido sinovial for-
ma uma importante camada fina lubrificante que cobre as su-
perfícies da articulação.
E X E R C Í C I O
O que aconteceria se a membrana sinovial cobrisse a cartilagem
articular?
Em certas articulações sinoviais a membrana sinovial pode
estender-se como uma bolsa ou saco chamada bolsa sinovial (em
latim bursa) afastando-se alguma distância do resto da cavidade
articular (ver a figura 8.7). As bolsas contêm líquido sinovial e
constituem almofadas cheias de líquido entre estruturas que, de
outro modo, ao movimentarem-se umas sobre as outras, como
tendões a deslizar sobre ossos ou sobre outros tendões, provo-
cariam atrito. Algumas bolsas não se associam a articulações,
como as que se localizam entre a pele e proeminências ósseas
subjacentes, onde a fricção poderia lesar os tecidos. Outras bol-
sas estendem-se por exemplo ao longo dos tendões, formando
bainhas tendinosas. A bursite é a inflamação de uma bolsa e
pode causar uma dor considerável em torno da articulação e res-
tringir a sua mobilidade.
Na margem periférica da cavidade articular os vasos san-
guíneos formam um círculo vascular que nutre a cartilagem, mas
os vasos sanguíneos não penetram na cartilagem nem entram
na cavidade articular. A cartilagem articular recebe ainda ali-
mento a partir do osso esponjoso subjacente e do líquido sinovial
que a recobre. Os nervos sensitivos entram na cápsula fibrosa e,
em menor extensão, na membrana sinovial. Não se limitam a
transmitir ao encéfalo informação sobre a dor articular, mas tam-
bém fornecem informação permanente sobre a posição e grau
de movimento articular (ver o capítulo 14). Os nervos não en-
tram na cartilagem nem na cavidade articular.
Tipos de Articulações Sinoviais
As articulações sinoviais classificam-se de acordo com a forma
das suas superfícies articulares. Os seis tipos de articulações
sinoviais são: planas ou artrodias, em sela ou efipiartroses, em
roldana ou trocleartroses, cilíndricas ou trocartroses, esféricas
ou enartroses e elípticas ou condilartroses; estão ilustradas nas
figuras 8.8 a 8.13 e enumeradas no quadro 8.2. O movimento
Figura 8.7 Estrutura de Uma Articulação Sinovial
Bolsa
Cavidade articular
(cheia de líquido
sinovial)
Cartilagem
articular
Bainha
tendinosa
Tendão
Osso
Osso
Vaso sanguíneo
Nervo
Membrana sinovial
Cápsula fibrosa
Cápsula
articular
Camada fibrosa
Camada membranosa
Periósteo
Capítulo 8 Articulações e Movimento 255
das articulações sinoviais pode ser descrito como mono-axial
(que ocorre em redor de um eixo), bi-axial (que ocorre em re-
dor de dois eixos formando entre si um ângulo recto), ou multi-
axial (que ocorre em redor de vários eixos).
As articulações planas, de deslizamento, ou artrodias, con-
sistem em duas superfícies planas opostas e de dimensões apro-
ximadamente iguais (figura 8.8), em que pode ocorrer um ligei-
ro movimento de deslizamento entre os ossos. Estas articulações
são mono-axiais porque possibilitam também algum movimento
de rotação, embora este seja limitado pelos ligamentos e pelo osso
adjacente. São exemplos as apófises articulares entre as vérte-
bras.
As articulações em sela ou efipiartroses consistem em
duas superfícies articulares em forma de sela orientadas em ân-
gulo recto uma para a outra, de modo a que as superfícies com-
plementares se articulem (figura 8.9). As articulações em sela
são bi-axiais. Um exemplo é a articulação carpo-metacárpica do
polegar.
Quadro 8.2 Tipos de Articulações Sinoviais
Tipo e Exemplo de Articulação Estruturas Relacionadas Movimento
Planas (ou anfiartroses)
Em sela ou efipiartroses
Em roldana ou tróclea
Cilíndricas ou trocartroses
Esféricas ou enartroses
Contorno elíptico ou condilartroses
Acrómio-clavicular
Carpo-metacárpicas
Costo-vertebral
Inter-cárpica
Inter-társica
Intervertebral
Sacro-ilíaca
Tarso-metatársica
Carpo-metacárpica do I dedo
Inter-cárpica
Esterno-clavicular
Cotovelo
Joelho
Inter-falângica
Tornozelo
Atlóido-odontoideia
Rádio-cubital proximal
Rádio-cubital distal
Coxo-femural (anca)
Escápulo-umeral ou gleno-umeral
(ombro)
Occipito-atloideia
Metacarpo-falângicas (nós dos
dedos)
Metatarso-falângicas
Rádio-cárpica (punho)
Temporo-mandibular
Acrómio (da omoplata) e clavícula
(extremidade externa)
Ossos do carpo e metacárpicos (II a V)
Costelas e vértebras
Entre os ossos do carpo
Entre os ossos do tarso
Entre as apófises articulares de
vértebras adjacentes
Entre o sacro e o coxal (articulação
complexa, com diversos planos e
sincondroses)
Ossos do tarso e metatársicos
Trapézio e I metacárpico
Entre os ossos do carpo
Manúbrio do esterno e clavícula
Úmero, cúbito e rádio
Fémur e tíbia
Entre falanges
Astrágalo, tíbia e perónio
Atlas e áxis (odontóide)
Rádio e cúbito
Rádio e cúbito
Coxal e fémur
Omoplata e úmero
Atlas e occipital
Metacárpicos e falanges
Metatársicos e falanges
Rádio e ossos do carpo
Mandíbula e osso temporal
Pouco
Eixos múltiplos; funcionam em
grupo
Pouco
Pouco
Pouco
Pouco
Pouco
Pouco
Dois eixos
Pouco
Pouco
Num eixo
Num eixo
Num eixo
Em eixos múltiplos, com um
predominante
Rotação
Rotação
Rotação
Eixos múltiplos
Eixos múltiplos
Dois eixos
Num eixo predominante
Num eixo predominante
Eixos múltiplos
Eixos múltiplos, com um predomi-
nante
Figura 8.8 Articulação Plana (artrodia) Figura 8.9 Articulação em Sela (efipiartrose)
Parte 2 Suporte e Movimento256
As articulações em roldana ou trocleartroses são mono-
axiais (figura 8.10). Consistem numa escavação em forma de du-
plo cone truncado, em que os troncos de cone se unem pela sua
base menor, na extremidade de um osso, que se aplica numa sa-
liência correspondente de outro osso. São exemplos as articula-
ções do cotovelo e do joelho.
elípticas são bi-axiais porque a sua forma limita o leque de movi-
mentos quase a um movimento de charneira em dois planos e li-
mita a rotação. Um exemplo é a articulação occipito-atloideia.
Figura 8.10 Articulação em Roldana (trocleartrose)
Figura 8.11 Articulação Cilíndrica (trocartrose)
As articulações esféricas ou enartroses consistem numa
cabeça esférica na extremidade de um osso e num encaixe no
osso adjacente em que entra uma porção dessa cabeça (figura
8.12). Este tipo de articulações é multi-axial, permitindo um
amplo leque de movimentos em quase todas as direcções. São
exemplos as articulações do ombro e da anca.
As articulações de contorno elíptico (ou condilartroses) são
articulações esféricas modificadas (figura 8.13). As superfícies arti-
culares são de forma mais elipsoidal do que esférica. As articulações
Figura 8.12 Articulação Esférica (enartrose)
As articulações cilíndricas ou trocartroses (articulação em
pivot) são mono-axiais, restringindo o movimento à rotação em
torno de um único eixo (figura 8.11). Consistem numa apófise ós-
sea relativamente cilíndrica que roda num anelparcialmente com-
posto de osso e parcialmente composto de ligamento. A articula-
ção da cabeça do rádio com a extremidade proximal do cúbito é
um exemplo. Outro exemplo é a articulação entre a apófise
odontoideia, que se projecta do áxis, (ver o capítulo 7) e o atlas.
Figura 8.13 Articulação Elíptica (condilartrose)
4. Descreva a estrutura de uma articulação sinovial. Como é que
funcionam as diferentes partes, de modo a permitir o movi-
mento articular? O que são meniscos e onde se encontram?
5. Defina os termos bolsa sinovial e bainha sinovial
tendinosa. Quais as suas funções?
6. Com que base se classificam as articulações sinoviais? Descreva
os diferentes tipos de articulações sinoviais e dê exemplos de
cada um. Que movimentos permite cada tipo de articulação?
Tipos de Movimento
Objectivos
■ Definir e dar exemplos de vários tipos de movimentos do corpo.
■ Descrever os factores que influenciam a amplitude do
movimento.
Os movimentos possíveis numa dada articulação relacio-
nam-se com a sua estrutura. Algumas articulações limitam-se a
apenas um tipo de movimento, outras podem mover-se em va-
riadas direcções. Com poucas excepções, é mais fácil descrever o
movimento em relação à posição anatómica: (1) movimento que
se afasta da posição anatómica e (2) movimento que faz regres-
sar uma estrutura à sua posição anatómica. A maioria dos movi-
mentos são acompanhados de outros movimentos de direcção
oposta e por isso são descritos aos pares.
Movimentos de Deslizamento
Constituem o mais simples de todos os tipos de movimento.
Ocorrem em articulações planas entre duas superfícies achata-
das ou quase achatadas que escorregam ou deslizam uma sobre
a outra. Muitas vezes apenas proporcionam movimentos ligei-
ros, como entre os ossos do carpo.
Movimentos Angulares
Os movimentos angulares são aqueles em que uma parte de uma
estrutura linear, como o corpo no seu todo ou um membro, se do-
bram em relação a outra parte da mesma estrutura, modificando o
ângulo entre as duas partes. São também movimentos angulares os
que implicam o movimento de uma haste sólida, como um mem-
bro, ligada ao corpo na outra extremidade, de modo a alterar o
ângulo que faz com o corpo. Os movimentos angulares mais co-
muns são a flexão e a extensão, a abdução e a adução.
Capítulo 8 Articulações e Movimento 257
Flexão e Extensão
Há numerosas formas de definir flexão e extensão, mas em cada
uma se encontram excepções. A definição literal é dobrar e esti-
car, respectivamente. Este dobrar e estender é fácil de observar
no cotovelo (figura 8.14). Escolhemos adoptar uma definição com
mais utilidade e menos excepções. A flexão move uma parte do
corpo numa direcção anterior ou ventral. A extensão move uma
parte do corpo numa direcção posterior ou dorsal (figura 8.15).
A única excepção é o joelho, em que a flexão desloca a perna
para uma direcção posterior e a extensão a desloca para uma
direcção anterior (figura 8.16).
Flexão
Extensão
Figura 8.14 Flexão e Extensão do Cotovelo.
Anterior
ao plano frontal
Posterior
ao plano frontal
Flexão Extensão
Plano frontal
Figura 8.15 Flexão e Extensão Definidas no Plano Frontal
Flexão e extensão (a) do ombro, (b) do pescoço. (c) do tronco.
(a)
Anterior
ao plano frontal
Posterior
ao plano frontal
Flexão Extensão
Plano frontal(b)
Flexão Extensão
Anterior ao
plano frontal
Posterior ao
plano frontal
Plano frontal
(c)
Extensão
Flexão
Figura 8.16 Flexão e Extensão do Joelho
Parte 2 Suporte e Movimento258
O movimento dos pés para o lado plantar, como estar em bicos
de pés chama-se habitualmente extensão (flexão plantar)(*); e o movi-
mento dos pés na direcção da perna, como ao andar sobre os calca-
nhares, chama-se flexão (flexão dorsal ou dorsiflexão)(figura 8.17).
Flexão plantar ou extensão
Dorsiflexão ou flexão
Figura 8.17 Dorsiflexão e Flexão Plantar do Pé
Figura 8.18 Abdução e Adução
Abdução e adução (a) do membro superior e (b) dos dedos da mão.
Abdução
Adução
Abdução Adução
(b)
(a)
Rotação externaRotação interna
Hiperextensão
A hiper-extensão define-se habitualmente como uma extensão anormal,
forçada, de uma articulação para lá do seu limite de movimento normal.
Por exemplo, se uma pessoa vai a cair e tenta parar a queda colocando
a mão à frente, a força da queda aplicada na mão e no punho pode
causar hiper-extensão deste, o que pode levar a luxação articular ou
fractura óssea. No entanto, alguns profissionais de saúde definem
hiper-extensão como o movimento normal de uma estrutura em
direcção posterior à posição anatómica.(**)
Figura 8.19 Rotação Interna e Externa do Braço
Abdução e Adução
Abdução (que significa retirar) é um movimento que afasta da li-
nha mediana; adução (reunir) é o movimento em direcção à linha
mediana (figura 8.18a). O afastamento dos membros superiores
do corpo, como acontece na fase inicial do salto mortal, em que os
membros superiores se afastam para o lado e depois para cima, é
abdução, e unir de novo os membros ao corpo é adução. A abdução
dos dedos da mão consiste em abri-los, afastando-os uns dos ou-
tros e da linha mediana da mão, e adução é trazê-los de regresso à
posição inicial, juntos (figura 8.18b). A abdução do punho, por ve-
zes chamada desvio radial, é o afastamento da mão da linha média
do corpo e a adução do punho, por vezes chamada desvio cubital,
resulta no movimento da mão para a linha média do corpo. A
abdução da cabeça consiste em a inclinar para um ou outro lado e
chama-se por vezes flexão lateral do pescoço. O dobrar pela cintura
para um ou outro lado é com frequência chamado flexão lateral
da coluna vertebral, em vez de abdução.
Movimentos Circulares
Os movimentos circulares consistem na rotação de uma estrutura
em torno de um eixo ou no movimento em arco da estrutura.
Rotação
Rotação é o rodar de uma estrutura em torno do seu eixo mais
longo, como a rotação da cabeça, do úmero ou de todo o corpo
(figura 8.19). A rotação interna do úmero com o antebraço
flectido traz a mão para o corpo. A rotação do úmero de forma
tal que a mão se afaste do corpo é a rotação externa.
(*) As designações “flexão plantar” e “flexão dorsal” são incorrectas, mas consagradas
pelo uso (N.R.).
(**) O que não se aceita na nomenclatura portuguesa (N.R.).
Capítulo 8 Articulações e Movimento 259
Pronação e Supinação
A pronação e a supinação descrevem exclusivamente a rotação
do antebraço (figura 8.20). Prono significa estar deitado de cara
para baixo e supino significa estar deitado de cara para cima. A
pronação consiste na rotação da palma da mão de modo a que
fique virada para trás, em relação à posição anatómica. A palma
da mão fica virada para baixo se o cotovelo estiver flectido a 90º.
A supinação é a rotação da palma da mão de modo a virar-se
para a frente, em relação à posição anatómica. A palma da mão
fica virada para cima se o cotovelo estiver flectido a 90º. Na
pronação, o rádio e o cúbito cruzam-se; na supinação, ficam pa-
ralelos. A cabeça do rádio roda contra a pequena cavidade sig-
moideia do cúbito durante a pronação e a supinação.
Circundução
A circundução é uma combinação de flexão, extensão, abdução
e adução (figura 8.21). Ocorre nas articulações que se movem
livremente, como a do ombro. Na circundução o braço move-se
de forma a descrever um cone com o vértice no ombro.
Pronação
Supinação
Figura 8.20 Pronação e Supinação da Mão
Circundução
Figura 8.21 Circundução
Movimentos Especiais
Movimentos especiais são os que são exclusivos de uma ou duas
articulações; não se encaixam totalmente em qualquer das ou-
tras categorias.
Elevação e Abaixamento
A elevação move uma estrutura para cima; o abaixamento
move-a para baixo (figura 8.22). A mandíbula e a omoplata são
os principais exemplos. Encolher os ombros é um exemplo de
elevação escapular. O abaixamento da mandíbula abrea boca e a
elevação fecha-a.
Figura 8.22 Elevação e Abaixamento do Ombro
Elevação
Abaixamento
Projecção para Diante (propulsão) (projecção)
e Projecção para Trás (retropulsão) (retracção)
A propulsão consiste em mover uma estrutura na direcção ante-
rior (figura 8.23). A retropulsão traz a estrutura de volta à posi-
ção anatómica, ou ainda mais para trás. Da mesma forma que
para a elevação e o abaixamento, a mandíbula e a omoplata são
os principais exemplos. Puxar as omoplatas para junto da colu-
na é fazer a retropulsão das omoplatas.
Parte 2 Suporte e Movimento260
Didução (Excursão, para os Lados)
Didução ou movimento de lateralidade designa o movimento
da mandíbula para a direita ou para a esquerda da linha média
(figura 8.24), como ao ranger os dentes ou mascar pastilha elás-
tica. O movimento contrário traz a mandíbula de volta à posi-
ção neutral.
Oponência e Retorno à Posição Neutra
A oponência é um movimento exclusivo do polegar e do V dedo(*)
(figura 8.25). Dá-se quando o polegar e o V dedo se aproximam
um do outro, sobre a palma da mão. O polegar também se opõe
a qualquer dos outros dedos. O movimento contrário traz o po-
legar e o outro dedo de volta à posição anatómica, neutra.
Inversão e Eversão
A inversão consiste em virar o tornozelo de modo que a super-
fície plantar do pé olhe para dentro (medial), ficando de frente
para o pé do lado oposto. A eversão consiste em virar o tornoze-
lo de modo que a superfície plantar olhe externamente (figura
8.26). Por vezes chama-se supinação do pé à inversão, e pronação
do pé à eversão.
Figura 8.23 Propulsão e Retropulsão da Mandíbula
Projecção
Retracção
Figura 8.24 Didução ou Movimento de Lateralidade da
Mandíbula
Didução ou movimento
de lateralidade para a direita
Didução ou movimento
de lateralidade para a esquerda
Oponência Retorno à posição neutra
Figura 8.25 Oponência e Retorno à Posição Neutra do
Polegar
Figura 8.26 Inversão e Eversão do Pé
Eversão Inversão
(*) A maioria dos autores considera a oponência como atributo exclusivo do polegar (NR).
Capítulo 8 Articulações e Movimento 261
Movimentos Combinados
A maior parte dos movimentos que ocorrem no decurso das acti-
vidades normais são combinações dos movimentos previamente
explicados e são descritos pelo nome dos movimentos individuali-
zados envolvidos no movimento combinado. Por exemplo, se al-
guém estender a mão para o lado à altura do ombro e depois a
trouxer para a frente mantendo-a à altura do ombro, este movi-
mento pode ser considerado uma combinação de abdução e flexão.
7. Defina os termos flexão e extensão. Qual a sua diferença
no membro superior e no membro inferior? O que é a
hiper-extensão?
8. Compare abdução e adução. Descreva estes movimentos
no caso da cabeça, membros superiores, punho, dedos da
mão, membros inferiores e dedos do pé. Em que parte do
corpo se usa o termo flexão lateral?
9. Distinga entre rotação, circundução, pronação e
supinação. Dê um exemplo de cada.
10. Defina os seguintes movimentos da mandíbula: propul-
são, retropulsão, didução ou lateralidade, elevação e
abaixamento.
11. Defina oponência.
12. Que termo se utiliza para aproximar a ponta do pé do chão
e levantá-la? E para virar o pé para dentro e para fora?
E X E R C Í C I O
Qual é a combinação de movimentos necessária nas articulações
do ombro e do cotovelo para se conseguir, a partir da posição
anatómica, mover o membro superior direito de modo a tocar com
as pontas dos dedos o lado direito da cabeça?
Amplitude do Movimento
A amplitude de movimento exprime o grau de mobilidade pos-
sível numa dada articulação. A amplitude de movimento acti-
vo é a quantidade de movimento que se pode efectuar pela con-
tracção dos músculos que, normalmente, actuam sobre ela. A
amplitude de movimento passivo é a quantidade de movimento
que se pode efectuar na articulação quando as estruturas que aí
se encontram são movidas por uma força exterior, como no caso
em que o fisioterapeuta segura o antebraço de um doente e o
move na direcção do braço, flectindo a articulação. A amplitude
de movimento activo e passivo é habitualmente igual nas articu-
lações normais.
A amplitude de movimento de uma determinada articula-
ção é influenciada por numerosos factores, como a forma das
(*) É a designação clássica, agora a cair em desuso (N.R.).
superfícies articulares dos ossos que formam a articulação, a
quantidade e forma da cartilagem que cobre as superfícies arti-
culares, a força e localização dos ligamentos e tendões que a ro-
deiam, a força e localização dos músculos associados, a quanti-
dade de líquido no interior e em torno dela, a dor na articulação
e à sua volta e a quantidade de uso ou falta de uso que sofreu ao
longo do tempo. Podem ocorrer anomalias na amplitude de
movimento quando há alteração de algum destes factores. Por
exemplo, a lesão de um ligamento associado a uma articulação
pode aumentar a amplitude de movimento dessa articulação. Um
fragmento de cartilagem rasgado no interior de uma articulação
pode restringir a amplitude de movimento. Se o aporte nervoso
a um músculo estiver prejudicado de forma a enfraquecê-lo, a
amplitude de movimento activo da articulação movida por esse
músculo pode diminuir, mas a amplitude de movimento pas-
sivo pode manter-se inalterada. A acumulação de líquido e/ou a
dor na articulação ou em torno dela podem limitar gravemente
a amplitude de movimento activo e passivo nessa articulação.
Com a falta de uso, diminui a amplitude de movimento activo e
passivo na articulação.
13. Defina amplitude de movimento. Compare a amplitude de
movimento activo e passivo. Que factores a influenciam?
Descrição de Algumas Articulações
Objectivos
■ Descrever as articulações temporo-mandibular, do ombro,
do cotovelo, da anca, do joelho e do tornozelo. Incluir o tipo
de movimentos e as estruturas especiais de cada uma delas.
■ Estudar as lesões mais comuns das articulações do ombro,
do cotovelo, da anca, do joelho, do tornozelo e das arcadas
do pé.
É impossível num espaço limitado descrever todas as arti-
culações do corpo. Por isso só vamos descrever neste capítulo
algumas articulações, que foram escolhidas pela sua estrutura
representativa, importância funcional e significado clínico.
Articulação Temporo-Mandibular
ou Temporo-Maxilar(*)
A mandíbula articula-se com o osso temporal formando a arti-
culação temporo-mandibular (ATM). O côndilo mandibular
encaixa-se na cavidade glenoideia do temporal. Um menisco
Parte 2 Suporte e Movimento262
(fibrocartilagem) localiza-se entre a mandíbula e o temporal, di-
vidindo a articulação em cavidades superior e inferior (figura
8.27). A articulação é rodeada por uma cápsula fibrosa à qual se
fixa o bordo do menisco, e que é reforçada pelos ligamentos late-
ral externo e acessório (lateral interno).
A articulação temporo-mandibular é uma articulação con-
jugada bi-condiliana(*). O abaixamento da mandíbula para abrir
a boca pressupõe um movimento de deslizamento anterior do
menisco e do côndilo mandibular em relação ao temporal, que é
quase o mesmo movimento que ocorre na propulsão; segue-se
um movimento de charneira entre o menisco e o côndilo da man-
díbula. Este é também capaz de um ligeiro movimento para os
lados, que permite a didução da mandíbula.
Doenças da ATM
As doenças da ATM são o grupo de perturbações que mais contribui
para a dor crónica oro-facial. Pode existir ruído articular, dor no
músculo, articulação e/ou face, cefaleia e redução da amplitude do
movimento. A dor da ATM é muitas vezes referida como dor no ouvido.
Os doentes podem procurar o médico queixando-se de dor no ouvido, e
são enviados ao dentista. Entre 65 a 75 % das pessoas com idade entre
os 20 e os 40 anos experimentou já algum destes sintomas, que
parecem afectar igualmente homens e mulheres, mas só em 10 % dos
casos são suficientementegraves para levar à consulta. As mulheres
experimentam dores fortes oito vezes mais do que os homens.
As doenças da ATM classificam-se como: as que atingem apenas
a articulação, com ou sem dor; as que apenas causam dor muscular; e
as que atingem o músculo e a articulação. As doenças da ATM classifi-
cam-se também em agudas e crónicas. Os casos agudos são normal-
mente auto-limitados e têm uma causa identificável. Os casos crónicos
não são auto-limitados, podem ser permanentes e muitas vezes não
parecem ter uma causa aparente. As perturbações crónicas da ATM não
são fáceis de tratar. A dor crónica da ATM tem muito em comum com
outros tipos de dor crónica. Enquanto que algumas pessoas aprendem
a viver com a dor, outras podem ser afectadas por problemas psicológi-
cos, como uma sensação de desamparo e desespero, elevação da
pressão arterial e perda do sono e do apetite. Pode ocorrer dependên-
cia, se forem utilizadas drogas fortes para controlar a dor; e podem ser
afectadas as relações inter-pessoais, o estilo de vida, a actividade
profissional e a interacção social. Muitos destes problemas podem
agravar a dor através de feedback positivo. O tratamento consiste em
ensinar o doente a reduzir os movimentos da mandíbula que agravam o
problema e reduzir o stresse e a ansiedade. A fisioterapia pode ajudar a
relaxar os músculos e a restaurar a função. Os medicamentos analgési-
cos e anti-inflamatórios podem ser utilizados e as ortóteses orais
podem ser úteis, sobretudo durante a noite.
(*) Bi-condiliana, porque a mandíbula apresenta dois côndilos. Combinada porque as duas articulações temporo-mandibulares se combinam (associam) sempre que a mandíbula se
movimenta (NR).
Figura 8.27 Articulação Temporo-Mandibular Direita, Vista Lateral
Arcada zigomática
Ligamento lateral
externo
Apófise estiloideia
Mandíbula
Meato auditivo
externo
Osso temporal
Ligamento estilo-mandibular
Cápsula articular
Côndilo mandibular
Cavidade articular superior
Disco articular (menisco)
Cavidade articular inferior
Osso temporal
Músculo pterigoideu externo
Secção sagital da
articulação temporo-mandibular
Articulação
temporo-mandibular
Capítulo 8 Articulações e Movimento 263
Articulação do Ombro
O ombro, ou articulação escápulo-umeral é uma articulação
esférica com reduzida estabilidade e grande mobilidade (figura
8.28) em comparação com a outra articulação esférica, a da anca.
No ombro podem verificar-se movimentos de flexão, extensão,
abdução, adução, rotação e circundução. A cabeça arredondada
do úmero articula-se com a cavidade glenoideia pouco profun-
da da omoplata. O bordo da cavidade glenoideia é ampliado li-
geiramente por um anel de fibrocartilagem, o debrum glenoideu
(labrum), a que se fixa a cápsula articular. A bolsa serosa sub-
escapular (não representada na figura) e a bolsa serosa infra-
acromial abrem-se na cavidade articular.
A estabilidade da articulação é primariamente mantida por
três ligamentos e por quatro músculos. Os ligamentos do ombro
estão listados no quadro 8.3. Os quatro músculos (verdadeiros li-
gamentos activos da articulação), colectivamente designados
Figura 8.28 Articulação do Ombro Direito
(a) Vista anterior. (b) Secção frontal
Bolsa serosa infra-acromial
Ligamento córaco-umeral
Úmero
Ligamento umeral
transverso
Bainha sinovial do tendão
da longa porção do bicípete
braquial
Tendão do bicípete
braquial (longa porção)
Gancho que faz a retracção
do músculo infra-escapular
Ligamento córaco-acromial
Acrómio
Ligamento acrómio-clavicular
Bolsa serosa infra-acromial
Cavidade articular
Acrómio (superfície articular)
Bainha sinovial do
tendão da longa
porção do bicípete
braquial
Tendão do bicípete
braquial (longa
porção)
Úmero
Bicípete braquial
(longa porção)
Ligamento gleno-umeral superior
Ligamento gleno-umeral inferior
Ligamento gleno-umeral médio
Ligamento coracoideu (ligamento
transverso da escápula)
Tendão do tricípete braquial
(longa porção)
Ligamento trapezóide
Ligamento conóide
Clavícula (cortada e elevada)
Ligamento
córaco-clavicular
Cartilagem articular sobre
a cabeça do úmero
Omoplata (superfície de corte)
Cápsula articular
Cartilagem articular sobre
a cavidade glenoideia
Debrum glenoideu (labrum)
Ombro
Apófise coracoideia
Cápsula articular
(a)
(b)
Parte 2 Suporte e Movimento264
peri-articulares, e referidos clinicamente como coifa ou manga
dos rotadores, puxam superior e internamente a cabeça do
úmero na direcção da cavidade glenoideia. Estes músculos são
estudados mais em pormenor no capítulo 10. A cabeça do úmero
é também suportada contra a cavidade glenoideia pelo tendão
da longa porção do bicípete braquial, na parte anterior do braço.
Este tendão constitui excepção, no sentido em que atravessa a
cápsula articular do ombro antes de cruzar a cabeça do úmero,
fixando-se à omoplata no tubérculo supra-glenoideu (ver a fi-
gura 7.29a).
E X E R C Í C I O
Um tipo de luxação do ombro consiste no estiramento ou laceração
dos ligamentos da articulação acromio-clavicular (luxação acromio-
clavicular). Orientando-se pela figura 8.28a e pelos seus conheci-
mentos do esqueleto articulado, explique a natureza de uma luxação
acrómio-clavicular e anteveja os problemas que se podem seguir.
Articulação do Cotovelo
A articulação do cotovelo (figura 8.29) é uma articulação em
roldana complexa, constituída pela articulação úmero-cubital,
(trocleartrose) entre o úmero e o cúbito, a articulação úmero-
-radial, (condilartrose) entre o úmero e o rádio e a articulação
rádio-cubital superior ou proximal (trocartrose). A forma da
grande cavidade sigmoideia do cúbito (chanfradura troclear), e
a sua associação com a tróclea do úmero (figura 8.29a) limitam
o movimento no cotovelo à flexão e à extensão. No entanto, a
cabeça arredondada do rádio roda na pequena cavidade sig-
moideia do cúbito e contra o capítulo do úmero (figura 8.29b),
permitindo a pronação e a supinação da mão.
A articulação do cotovelo é rodeada por uma cápsula arti-
cular. A articulação úmero-cubital é reforçada pelo ligamento
lateral interno (cubital colateral) (figura 8.29c). As articula-
ções úmero-radial e rádio-cubital proximal são reforçadas pelo
ligamento lateral externo (colateral radial) e pelo ligamento
anular do rádio (rádio-anular) (figura 8.29d). A bolsa serosa
olecraniana subcutânea cobre as superfícies proximal e poste-
rior do olecrânio.
Ligamento Descrição
Ligamentos da Articulação do
Ombro (ver a figura 8.28)
Quadro 8.3
Gleno-umerais
(superior, médio e
inferior)
Umeral transverso
Córaco-umeral
Córaco-acromial
Três conjuntos de fibras longitudinais de
pouca espessura no lado anterior da
cápsula; estende-se do úmero para o bordo
da cavidade glenoideia da omoplata
Espessamento fibroso transversal e externo da
cápsula articular; atravessa-se entre o
troquino e o troquiter e contém o tendão da
longa porção do bicípite mantendo-o
contra a goteira bicipital (que se transforma
em canal ósteo-fibroso)
Cruza da raiz da apófise coracoideia para o
troquino e o troquiter
Cruza sobre a articulação entre a apófise
coracoideia e o acrómio; é um ligamento
acessório (intrínseco da omoplata)
Doenças do Ombro
As alterações traumáticas do ombro mais frequentes são: a luxação e a
rotura muscular ou tendinosa. O ombro é a articulação do corpo que
sofre luxação com mais frequência. Os principais ligamentos cruzam a
parte superior da articulação, sem que existam ligamentos ou músculos
importantes associados à parte inferior, pelo que é mais susceptível de
ocorrer a luxação inferior do úmero, na direcção da axila. Como a axila
contém alguns nervos e artérias muito importantes, as tentativas de
redução da luxação do ombro com técnicas inadequadas podem causar
lesão grave e permanente (ver o capítulo12). As doenças crónicas do
ombro incluem: a tendinite (inflamação dos tendões), bursite (inflama-
ção das bolsas sinoviais) e artrite (inflamação da articulação). A bursite
infra-acromial pode tornar-se muito dolorosa quando o grande músculo
do ombro, o deltóide, comprime a bolsa durante o movimento do
ombro.
Problemas do Cotovelo
A bursite olecraniana é a inflamação da bolsa serosa do olecrânio. Esta
inflamação pode ser causada por uma fricção excessiva do cotovelo
contra uma superfície dura e é por vezes designada como cotovelo do
estudante. A cabeça do rádio pode ser sub-luxada (separação parcial da
articulação) do ligamento anular do rádio. Esta situação chama-se
cotovelo da enfermeira. Levantar uma criança pegando-lhe por uma
mão pode provocar-lhe uma sub-luxação da cabeça do rádio.
Articulação da Anca
A cabeça do fémur articula-se com a cavidade cotiloideia ou
acetábulo do osso coxal, côncava e relativamente profunda, de
modo a formar a articulação da anca ou coxo-femural (figura
8.30). A cabeça do fémur assemelha-se mais a uma esfera com-
pleta do que qualquer superfície articular de outro osso do cor-
po. A cavidade cotiloideia é acentuada no seu rebordo por um
cordão fibrocartilagíneo chamado debrum cotiloideu ou
acetabular (labrum), incompleto na sua porção inferior, e por
um ligamento transverso do acetábulo, que cruza a chanfradura
isquio-púbica no bordo inferior do acetábulo. A anca é capaz de
um amplo leque de movimentos, incluindo a flexão, extensão,
abdução, adução, rotação e circundução.
Capítulo 8 Articulações e Movimento 265
Uma cápsula articular extremamente forte, reforçada por
diversos ligamentos, estende-se do rebordo cotiloideu ao colo
do fémur (quadro 8.4). O ligamento ílio-femoral é especial-
mente forte. Quando de pé, a maioria das pessoas tende a descair
anteriormente as ancas. Esta posição é repousante porque o liga-
mento ílio-femoral suporta a maior parte do peso do corpo. O
ligamento redondo (teres), que é o ligamento da cabeça do
fémur, localiza-se no interior da anca, entre a cabeça do fémur e
o acetábulo. A sua função no fortalecimento da articulação é
muito limitada. Transporta no entanto uma pequena artéria
Úmero
Cotovelo
Almofada
adiposa
Bolsa serosa
olecraniana
Tróclea
Cartilagem articular
da chanfradura troclear
Cápsula articular
Cavidade articular
Membrana sinovial
Cartilagem articular
Apófise
coronoideia
Cúbito
Tendão do
bicípete braquial
Rádio
Membrana
interóssea
Cúbito
Úmero
Ligamento
anular do rádio
Epitróclea
Cápsula articular
Ligamento lateral
interno (cubital)
Olecrânio
Bolsa serosa
do olecrânio
Tendão do
bicípete braquial
(seccionado)
Rádio
Membrana
interóssea
Cúbito
Úmero
Ligamento anular do
rádio (seccionado)
Epicôndilo
Ligamento lateral
externo (radial)
(seccionado)
Olecrânio
Bolsa serosa
olecraniana
Cápsula
articular
Tendão do
bicípete braquial
(seccionado)
Rádio
Membrana
interóssea
Cúbito
Úmero
Ligamento anular
do rádio
Epicôndilo
Ligamento lateral
externo (radial)
Olecrânio
Bolsa serosa
do olecrânio
Cápsula
articular
Figura 8.29 Articulação do Cotovelo Direito
(a) Secção sagital, mostrando a relação entre o úmero e o cúbito. (b) Lado
externo (lateral) com os ligamentos cortados, de modo a revelar a relação
entre a cabeça do rádio, o cúbito e o úmero. (c) Lado interno. (d) Lado
externo.
(a) (b)
(c)
(d)
Luxação da Anca
A luxação da anca pode dar-se quando a anca se encontrar flectida e o
fémur for empurrado para trás, como no caso de alguém que está
sentado num automóvel que se envolve num acidente. A cabeça do
fémur desloca-se habitualmente para trás do acetábulo, lacerando o
seu debrum, a cápsula fibrosa e os ligamentos. A fractura do fémur e do
ilíaco acompanha muitas vezes a luxação da anca.(*)
(*) Uma vez que a luxação da anca pode estirar ou romper o ligamento redondo que transporta os vasos que alimentam a cabeça do fémur, o tratamento tardio da luxação pode ter como
resultado a necrose (morte celular) da cabeça do fémur (NR).
Ligamento Descrição
Ligamentos da Articulação da Anca
(ver a figura 8.30)
Quadro 8.4
Transverso do
acetábulo
Ílio-femural
Pubo-femural
Isquio-femural
Ligamento redondo
Cruza a chanfradura isquio-púbica no bordo
inferior do debrum cotiloideu, encerrando
uma chanfradura do debrum
Banda forte e espessa entre a espinha ilíaca
ântero-inferior e a linha inter-trocanteriana
do fémur
Estende-se da porção púbica do rebordo do
acetábulo para a porção inferior do colo do
fémur
Une a porção isquiática do rebordo cotiloideu
com o bordo superior do colo do fémur;
menos bem definido
Banda pouco resistente, achatada, dirige-se da
margem da chanfradura do acetábulo e do
ligamento transverso para uma fosseta
localizada no centro da cabeça do fémur;
transporta os vasos que nutrem a extremi-
dade proximal do fémur
Parte 2 Suporte e Movimento266
nutritiva à cabeça do fémur em cerca de 80% da população. O
debrum cotiloideu, os ligamentos da anca e os músculos vizi-
nhos tornam esta articulação muito mais estável mas menos
móvel do que a do ombro.
Articulação do Joelho
A articulação do joelho classifica-se tradicionalmente como
uma articulação troclear modificada, localizada entre o fémur e
a tíbia (figura 8.31). De facto trata-se de uma complexa articu-
lação bi-condiliana que permite a flexão, extensão e uma pe-
quena rotação da perna. A extremidade distal do fémur tem dois
grandes côndilos elipsoidais e uma chanfradura profunda entre
eles. O fémur articula-se com a extremidade proximal da tíbia,
que é achatada e lisa lateralmente, e apresenta na sua parte mé-
dia uma crista que se chama espinha da tíbia (ver a figura 7.40).
Os rebordos das cavidades glenoideias da tíbia são reforçados
por espessas fibro-cartilagens, os meniscos (de forma semilunar;
ver a figura 8.31b e d), que acentuam a sua concavidade. O pe-
róneo não articula com o fémur mas apenas com a parte lateral
da tíbia.
Os dois ligamentos cruzados do joelho estendem-se entre
a espinha da tíbia e os côndilos do fémur (ver a figura 8.31b, d e
e). O ligamento cruzado anterior evita a deslocação anterior da
tíbia em relação ao fémur, e o ligamento cruzado posterior evita
a deslocação posterior da tíbia. A articulação é ainda fortalecida
pelos ligamentos laterais e pelos ligamentos popliteus, e pelos
tendões dos músculos da coxa, que se estendem em torno do
joelho (quadro 8.5)(*).
O joelho está rodeado por numerosas bolsas sinoviais (ver a
figura 8.31f). A maior é o fundo de saco sub-quadricipital (ou
bolsa supra-rotuliana), que é um prolongamento superior da cáp-
sula articular, que permite o movimento dos músculos anteriores
da coxa sobre a extremidade distal do fémur. As outras bolsas
sinoviais do joelho são a bolsa serosa sub-cutânea pré-rotuliana e a
bolsa serosa profunda infra-rotuliana, bem como a bolsa popliteia,
a bolsa dos gémeos, e a infra-rotuliana subcutânea (não ilustrada).
Ligamento
pubo-femural
Pequeno
trocânter
Tendão do recto
anterior (rectus femoris)
Ligamentos ílio-
-femurais
Grande
trocânter
Fémur
Osso pélvico
Cartilagem articular
Cavidade articular
Ligamento redondo
Cabeça do fémur
Colo do fémur
Ligamento
transverso
do acetábulo
Debrum cotiloideu
(labrum)
Cápsula articular
Grande
trocânter
Pequeno
trocânter
Fémur
Anca
(a)
(b)
Figura 8.30 Articulação da Anca Direita
(a) Vista anterior. (b) Secção frontal.
(*) De acordo com a classificação portuguesa, o joelho é uma articulação composta pelas duas articulações fémuro-tibial (bicôndilo-meniscartrose) e fémuro-rotuliana (fémuro-patelar,
trocleartrose) (NR).
Capítulo 8 Articulações e Movimento 267
Tíbia Perónio
Tendão do bicípete
crural (seccionado)
Ligamento lateralexterno
Fémur
Gémeo externo
(seccionado)
Ligamento popliteu
arqueado
Tendão do grande
adutor (seccionado)
Quadricípete
crural (seccionado)
Gémeo externo
(seccionado)
Ligamento
lateral
interno
Ligamento
popliteu
oblíquo
Tendão do semi-
-membranoso
(seccionado)
Fémur
Côndilo externo
Ligamento lateral
externo
Ligamento menisco-
-femural posterior
Menisco externo
Ligamento cruzado
posterior
Perónio
Ligamento
cruzado
anterior
Côndilo
interno
Menisco
interno
Ligamento
lateral
interno
Tíbia
Superfície rotuliana do fémur
Ligamento cruzado
posterior
Côndilo interno
Ligamento cruzado
anterior
Menisco interno
Ligamento transverso
Ligamento lateral
interno
TíbiaPerónio
Tendão do
bicípete crural
Menisco
externo
Ligamento lateral
externo
Côndilo externo
Quadricípete
crural
(seccionado)
Tendão do
quadricípete crural
Asa da rótula(*)
Ligamento
lateral interno
Ligamento
rotuliano
Tíbia
Fémur
Bolsa serosa
sub-quadricipital
Ligamento lateral
interno
Rótula no tendão
do quadricípete
Tendão do
bicípete crural
Perónio
Joelho
(a)
(b)
(c) (d)
Figura 8.31 Articulação do Joelho Direito
(a) Vista anterior superficial. (b) Vista anterior profunda (joelho flectido). (c) Vista posterior superficial. (d) Vista posterior profunda.
(*) As asas da rótula são pequenas expansões fibrosas transversais, mais profundas que o indicado pela figura, no local aproximado que é indicado. As estruturas aqui representadas são,
provavelmente, as expansões fibrosas do tendão do quadricípete crural (NR).
Parte 2 Suporte e Movimento268
Fémur
Cartilagem
articular
Menisco
Tíbia
Tendão do
quadricípete
crural
Bolsa serosa
supra rotuliana
Bolsa serosa
sub-cutânea
pré-rotuliana
Rótula
Almofada adiposa
Ligamento
rotuliano
Bolsa serosa
profunda
infra-rotuliana
Ligamento
cruzado
posterior
Ligamento
lateral
interno
Ligamento
cruzado
anterior
Menisco
interno
Ligamento
lateral
externo
Menisco
externo
(e)
Figura 8.31 (continuação)
(e) Fotografia do plano anterior profundo. (f) Secção sagital.
(f)
Quadro 8.5
Ligamento Descrição Ligamento Descrição
Ligamentos da Articulação do Joelho (ver a figura 8.31)
Rotuliano, ou tendão rotuliano
Asas da rótula
Popliteu oblíquo
Popliteu arqueado
Lateral interno
(lateral tibial)
Lateral externo
Banda fibrosa, muito espessa e resistente,
entre a rótula e a tuberosidade anterior
da tíbia; de facto, constitui parte
integrante do tendão do quadricípete
Bandas delgadas que vão dos bordos da
rótula para as tuberosidades dos
côndilos femorais
Espessamento da cápsula posterior;
extensão do tendão do semi-mem-
branoso
Estende-se do lado posterior da cabeça do
peróneo até à face posterior da cápsula
Espessamento lateral bem desenvolvido
da cápsula; insere-se na tuberosidade
do côndilo interno do fémur e no bordo
interno da tíbia
Ligamento arredondado que se estende da
tuberosidade do côndilo externo
femoral à cabeça do perónio
Cruzado anterior
Cruzado posterior
Freios meniscais (ligamento
coronário) (mediano e
lateral)
Transverso
Menisco-femoral (anterior e
posterior)
Estende-se obliquamente, para cima e
para trás, da parte anterior da espinha
da tíbia até à face interna do côndilo
femoral externo
Estende-se para cima e para diante, da
parte posterior da espinha da tíbia até
à face externa do côndilo interno
Une os meniscos aos côndilos tibiais (não
ilustrado)
Une as porções anteriores dos meniscos
interno e externo
Unem a parte posterior do menisco externo
ao côndilo interno do fémur, passando
adiante e atrás do ligamento cruzado
posterior (não ilustrado)
Capítulo 8 Articulações e Movimento 269Capítulo 8 Articulações e Movimento
As lesões traumáticas do lado interno do joe-
lho são muito mais frequentes do que as do
lado externo. O ligamento lateral externo re-
força o lado externo (lateral) da articulação,
e é mais forte do que o ligamento lateral in-
terno. A lesão dos ligamentos laterais resul-
ta de uma pancada sobre o lado oposto do
joelho. As pancadas violentas sobre o lado
interno do joelho (medial), suficientemente
fortes para atingir o ligamento externo, são
muito menos frequentes que as que atingem
o lado externo. Além disso, nas lesões trau-
máticas do joelho, o menisco interno, que
está bastante aderente ao ligamento lateral
interno, é atingido com uma frequência 20
vezes maior do que o menisco externo, que
é menos espesso e está menos aderente. A
rotura do menisco pode traduzir-se por um
“estalo” durante a extensão da perna; ou, se
for mais grave, um fragmento solto da carti-
lagem lesada pode interpor-se entre as su-
perfícies articulares da tíbia e do fémur, fa-
zendo com que o joelho fique (“bloqueado”)
em flexão parcial. Se o joelho for forçado a
deslizar para a frente, ou sofrer uma hiper-
extensão, pode haver rotura do ligamento
cruzado anterior, tornando a articulação
muito instável. Se o joelho for forçado a des-
lizar para trás, o ligamento cruzado posterior
pode sofrer uma rotura. Faz-se hoje a substi-
tuição cirúrgica dos ligamentos cruzados por
ligamentos transplantados ou artificiais.
Um tipo comum de lesões futebolísticas
resulta de um bloqueio ou placagem sobre a
face externa do joelho, que pode fazer com
que o joelho se dobre para dentro, abrindo o
lado interno da articulação e rasgando o liga-
mento lateral interno. Frequentemente, o
menisco interno sofre também rotura. Nos
traumatismos graves do joelho, o ligamento
Perspectiva Clínica Traumatismo e Doenças do Joelho
cruzado anterior também é atingido, porque o
ligamento lateral interno é muito aderente ao
menisco interno, e o ligamento cruzado anterior
tem inserções nesse menisco (figura A).
A bursite pré-rotuliana subcutânea (ver a
figura 8.31f), vulgarmente designada por “joe-
lho da mulher-a-dias”, pode resultar de um tra-
balho prolongado apoiado sobre as mãos e os
joelhos (“de gatas”). Outra bursite, o “joelho
do sacerdote”, resulta de estar muito tempo
ajoelhado e afecta a bolsa infra-rotuliana sub-
cutânea. Este tipo de bursite é frequente nos
aplicadores de alcatifas e telhados.
Figura A Lesão Traumática do Joelho Direito
Outros problemas frequentes do joelho
são a condromalácia, que é um amolecimen-
to da cartilagem e resulta de um movimento
anormal da rótula na tróclea femoral e o “sin-
droma da almofada adiposa”, que consiste
numa acumulação de líquido na almofada
adiposa posterior do joelho. Uma tume-
facção (“inchaço”) aguda do joelho que sur-
ge logo após um traumatismo traduz habi-
tualmente uma acumulação de sangue na
articulação que se designa por hemartrose.
A acumulação de líquido mais lenta, o “joe-
lho de água”, pode ser causada por bursite.
Ligamento cruzado
anterior
Menisco
interno
Ligamento
lateral
interno
Interno
(medial)
Externo
(lateral)
Pancada
Parte 2 Suporte e Movimento270
Articulação do Tornozelo e Arcadas do Pé
A tíbia e o peróneo distais formam com o astrágalo uma articu-
lação em tróclea altamente modificada chamada articulação do
tornozelo, ou tíbio-társica (figura 8.32). Os maléolos interno
da tíbia e externo do perónio, que formam os bordos interno e
externo do tornozelo, são bastante extensos, enquanto as mar-
gens anterior e posterior são quase inexistentes. Em consequên-
cia cria-se uma articulação em tróclea, a partir de uma disposi-
ção bi-cónica modificada. Uma cápsula fibrosa rodeia a articu-
lação, sendo a parte interna e externa espessada por ligamentos.
Há ainda outros ligamentos que ajudam a estabilizar a articula-
ção (quadro 8.6). A flexão, a extensão, a inversão e a eversão li-
mitadas são os movimentos possíveis nesta articulação.
Lesão do Tornozelo
O tornozelo é, das grandes articulações do corpo,a mais frequentemente
sujeita a traumatismos. A mais frequente lesão do tornozelo é a que
resulta da inversão forçada do pé. A entorse do tornozelo resulta da rotura
parcial ou completa dos ligamentos. O feixe peróneo-calcaniano é o que
se rompe com mais frequência, seguindo-se em frequência o peróneo-
-astragaliano. A fractura peronial pode resultar de uma inversão grave,
porque o astrágalo pode deslizar contra o maléolo externo e quebrá-lo.
Os ligamentos da arcada têm duas funções principais: man-
ter os ossos na sua relação adequada como segmentos da arcada
e proporcionar ligações através da arcada, de certo modo como
as cordas de um arco. Quando o peso é transferido através do
sistema de arcadas, alguns dos ligamentos são estirados, dando
ao pé uma maior flexibilidade e permitindo-lhe adaptar-se a su-
perfícies irregulares. Quando o peso é removido do pé, os liga-
mentos retraem-se e restauram a forma das arcadas quando não
sujeita a esforço.
Problemas das Arcadas Plantares
As arcadas plantares formam-se normalmente na vida fetal precoce. Se
tal não acontece há um pé chato, ou achatamento das arcadas
plantares, congénito, em que as arcadas, e principalmente a longitudi-
nal interna, se apresentam abaixadas ou colapsadas (ver a figura 7.44).
Esta situação nem sempre é dolorosa. Também pode surgir pé chato
quando os músculos e ligamentos que suportam a arcada ficam
fatigados, permitindo o seu colapso, principalmente no caso da
longitudinal interna. Quando se está muito tempo em pé, o ligamento
calcâneo-escafoideu pode estirar-se, achatando a arcada longitudinal
interna. A arcada transversal pode também achatar-se. Os ligamentos
estirados podem tornar-se dolorosos.
A fáscia plantar é constituída pelo tecido conjuntivo profundo, que
é superficial aos ligamentos da parte média da superfície plantar, e pela
fáscia mais fina nos lados interno e externo da superfície plantar (ver a
figura 8.32). A fasceíte plantar, inflamação da fáscia plantar, pode
constituir um problema para os corredores de longa distância em
consequência de contínuos estiramentos.
14. Para cada uma das seguintes articulações, diga os ossos
que aí se encontram, a parte específica dos ossos que a
formam, o tipo de articulação e os movimentos que aí são
possíveis: temporo-mandibular, ombro, cotovelo, anca,
joelho e tornozelo.
15. Descreva as luxações do ombro e da anca. Quais as
situações mais susceptíveis de provocar cada uma delas?
Tornozelo
Tendão de Aquiles
(seccionado)
Ligamento
calcâneo-escafoideu
Ligamento lateral interno
Tíbia
(maléolo interno)
Pequeno
ligamento
da planta
do pé Astrágalo
Grande
ligamento
da planta
do pé Calcâneo
Tíbia
Grande
ligamento
da planta
do pé
Ligamento
tíbio-peroneal
posterior
Tendão
de Aquiles
Calcâneo
Ligamento tíbio-peroneal anterior
Feixe peróneo-astragaliano
Tendão
do longo
peroneal
lateral
Tendão
do curto
peroneal
lateral
Peróneo
(maléolo externo)
Feixe peróneo-
-calcaneano
Figura 8.32 Articulação do Tornozelo Direito
(a) Vista interna. (b) Vista externa.
Ligamento Descrição
Ligamentos do Tornozelo e Arcadas
do Pé (ver a figura 8.32)
Quadro 8.6
Lateral interno
Lateral externo
Feixe peróneo-
-calcaniano
Feixe peróneo-
astragaliano
(anterior)
Grande ligamento da
planta do pé
Ligamento calcâneo-
cuboideu plantar
Pequeno ligamento da
planta do pé
(calcâneo-
-escafoideu)
Espessamento interno da cápsula fibrosa que
liga o maléolo interno ao calcâneo,
escafóide e astrágalo; a sua camada
superficial é também chamada ligamento
deltoideu
Estende-se do maléolo externo para a
superfície lateral do calcâneo; independen-
te da cápsula
Estende-se do maléolo externo para o colo do
astrágalo; fundido com a cápsula articular
Estende-se do calcâneo ao cubóide e às bases
dos metatarsos 2-5
Estende-se do calcâneo ao cubóide
Estende-se do calcâneo ao escafóide
(a)
(b)
Capítulo 8 Articulações e Movimento 271
16. Enumere as lesões mais comuns do joelho e diga qual a
parte do joelho mais frequentemente atingida em cada
tipo de lesão.
17. Defina o termo entorse e descreva quais as porções da
articulação do tornozelo mais frequentemente lesadas em
caso de entorse.
Efeitos do Envelhecimento nas
Articulações
Objectivo
■ Enumerar os factores que contribuem para o envelhecimento
das articulações sinoviais.
À medida que a pessoa envelhece, ocorrem alterações no
interior de muitas articulações. As que se verificam nas articula-
ções sinoviais têm o maior impacto e implicam muitas vezes pro-
blemas importantes para as pessoas idosas. Em geral, quando a
pessoa envelhece, os tecidos tornam-se menos flexíveis e menos
elásticos, à medida que aumenta o cross-linking das proteínas,
especialmente no tecido conjuntivo fibroso. As proteínas mais
importantes para a flexibilidade dos tecidos são a elastina e o
colagénio. A regeneração dos tecidos torna-se mais lenta quan-
do diminui a taxa de proliferação celular e a taxa de desenvolvi-
mento de novos vasos sanguíneos. Estas alterações gerais podem
afectar significativamente as articulações sinoviais. Com o uso, a
cartilagem que cobre as superfícies articulares vai-se desgastan-
do. Quando a pessoa envelhece, a taxa de substituição declina e a
matriz torna-se mais rígida, o que ainda aumenta o desgaste. A
velocidade de produção do líquido sinovial também diminui com
a idade, contribuindo ainda mais para o desgaste da cartilagem
articular. Além disso, os ligamentos e tendões que rodeiam a ar-
ticulação encurtam-se e tornam-se menos flexíveis, o que resul-
ta na diminuição da amplitude de movimento na articulação.
Com a idade, os músculos que fortalecem a articulação tendem
a enfraquecer. Os idosos experimentam muitas vezes uma dimi-
nuição da actividade, o que faz com que as articulações se tor-
nem menos flexíveis e a sua amplitude de movimento diminua.
18. Liste os factores relacionados com a idade que contribuem
para o desgaste da cartilagem nas articulações sinoviais.
Indique os factores relacionados com a idade que causam
perda de flexibilidade e de amplitude de movimento nas
articulações sinoviais.
272 Parte 2 Suporte e MovimentoParte 2 Suporte e Movimento272
Perspectiva Clínica Doenças Articulares
Artrite
A artrite, ou inflamação de uma qualquer ar-
ticulação, é a mais comum e a mais conheci-
da das doenças articulares e afecta 10% da
população mundial. Existem mais de cem ti-
pos diferentes de artrite. A sua classificação
baseia-se com frequência na causa e evolu-
ção da doença. As causas incluem: agentes
infecciosos, perturbações metabólicas, trau-
matismo e doenças da imunidade. O exercí-
cio moderado retarda a degenerescência ar-
ticular e reforça a mobilidade. Nadar e andar
são actividades recomendadas às pessoas
que sofrem de artrite; mas a corrida, o ténis
e a ginástica aeróbica não se aconselham. A
terapêutica depende do tipo de artrite, mas
inclui as drogas anti-inflamatórias. A investi-
gação em curso orienta-se para a possibili-
dade de desenvolvimento de anticorpos con-
tra as células que desencadeiam a resposta
inflamatória das articulações ou contra os
marcadores celulares de superfície nessas
mesmas células.
A osteoartrose (OA) é o tipo mais comum
de artrite, afectando 10% das pessoas nos
EUA (85% dos que têm mais de 70 anos). A
OA pode começar como uma anomalia mo-
lecular na cartilagem articular, sendo a here-
ditariedade e o “usar e forçar” normal da ar-
ticulação importantes factores contributivos.
A redução do metabolismo com o avançar da
idade parece também contribuir para a OA,
sendo a inflamação habitualmente secundá-
ria. A OA tende a surgir nas articulações que
suportam peso, como os joelhos, e é mais
comum nos indivíduos obesos.
A primeira linha de tratamento para a
osteoartrose é a alteração do estilo de vida,
de modo a reduzir o stressemecânico nas
articulações afectadas. As articulações
sinoviais precisam de movimento para se
manterem saudáveis. Longos períodos de
inactividade podem levar a rigidez articu-
lar. O exercício moderado ajuda a reduzir a
dor e aumenta a sua flexibilidade. O exercí-
cio também ajuda as pessoas a reduzir o
excesso de peso que provoca stresse me-
cânico sobre as articulações dos membros
inferiores. As pessoas de idade devem evi-
tar desportos de grande impacto, como
jogging, ténis e racketball, que provocam
stresse mecânico articular. O ciclismo e a
marcha são recomendados, mas a natação
é o melhor para pessoas com osteoartrose,
porque exercita os músculos e articulações
sem as esforçar. A utilização de sapatos que
absorvam o choque pode ajudar. A utilização
de talas e aparelhos de imobilização nas arti-
culações afectadas pode ser por vezes neces-
sária para as alinhar correctamente e distribuir
o peso em torno delas.
As aplicações de calor, como os banhos
quentes, aplicações de parafina, almofadas de
aquecimento, luz infravermelha de fraca potên-
cia, ou diatermia (correntes eléctricas fracas
que produzem calor), directamente sobre as
articulações, podem ser úteis. A mudança para
um clima mais quente, no entanto, não parece
fazer muita diferença.
A Sociedade Americana de Geriatria divul-
gou orientações para lidar com a dor crónica nos
doentes idosos com osteoartrose. Recomendam
o paracetamol(*) ou anti-inflamatórios não este-
róides (AINEs) como a aspirina e o ibuprofeno(*),
para a dor ligeira a moderada. A capsaicina,
componente da malagueta, pode ajudar a ali-
viar a dor quando aplicada em creme dérmico
(Zostrix ®)(**). A capsaicina parece reduzir os ní-
veis de uma substância química conhecida por
substância P, que contribui para a inflamação
articular e também para a condução das sensa-
ções de dor ao cérebro. Se a dor se tornar um
problema grave e os analgésicos adquiríveis sem
receita médica se revelarem ineficazes, os mé-
dicos podem injectar corticosteróides directa-
mente na articulação afectada.
O Synvisc® e o Hyalgan®(***) são dois me-
dicamentos derivados do ácido hialurónico
(hialuronato), substância natural que lubrifica
as articulações. Podem ser administrados por
injecção intra-articular, quando a medicação
habitual e os programas de exercícios não con-
seguem aliviar a dor. A glucosamina e o sulfato
de condroitina também são substâncias natu-
rais associadas às articulações. Se tomados oral-
mente ou em injecção, podem ajudar as articu-
lações afectadas. No entanto, a glucosamina
pode também elevar os níveis sanguíneos de
glucose, pelo que as pessoas com diabetes não
a devem usar sem consultar o seu médico. As
injecções de células de líquido sinovial genetica-
mente tratadas, susceptíveis de bloquear os fac-
tores imunitários que provocam a degradação
da cartilagem articular, estão hoje em dia a ser
investigadas. Uma proteína do sistema imu-
nitário chamada factor de crescimento beta
transformador (TGF-B), introduzida pela terapia
genética, está a revelar-se algo promissora na
reparação da cartilagem danificada pela os-
teoartrose.
Se falharem os outros tratamentos, po-
dem ser realizadas intervenções cirúrgicas
que aliviem a dor e melhorem a função nos
doentes com osteoartrose. Pela artroscopia,
o cirurgião pode examinar a articulação e
limpar fragmentos de osso e cartilagem que
estimulam a dor e a inflamação. Na osteo-
tomia, os ossos são reconfigurados de modo
a alinharem melhor a articulação. Num pro-
cedimento designado por condroplastia,
colhe-se um pedacinho de cartilagem sau-
dável que cresce depois em laboratório. A
cartilagem assim obtida é implantada na ar-
ticulação, onde pode estimular a regenera-
ção do tecido lesado.
A substituição articular é discutida mais
adiante. Se a articulação afectada não pu-
der ser substituída, o cirurgião pode execu-
tar um procedimento chamado artrodese,
fundindo os ossos que se unem na articula-
ção. Esta intervenção destina-se a eliminar
a dor, mas a articulação é também elimina-
da, tornando impossível o movimento nes-
se ponto.
A artrite reumatóide (AR) é o segundo
tipo mais comum de artrite. Afecta cerca de
3 % de todas as mulheres e cerca de 1 %
de todos os homens nos EUA. É uma doen-
ça generalizada do tecido conjuntivo que
afecta a pele, vasos, pulmões e outros ór-
gãos, mas é mais pronunciada nas articu-
lações. É gravemente incapacitante e des-
trói com mais frequência as pequenas arti-
culações como as das mãos e dos pés (fi-
gura B). A causa inicial é desconhecida mas
pode consistir numa infecção transitória ou
doença auto-imune (reacção imunológica
de alguém aos seus próprios tecidos; ver o
capítulo 22) que se desenvolve contra o
colagénio. Pode também haver uma predis-
posição genética. Seja qual for a causa, em
última instância parece ser imunológica. As
pessoas com AR clássica têm no sangue
uma proteína, o factor reumatóide. As cé-
lulas do líquido sinovial e tecido conjun-
tivo associado proliferam, formando um
“pannus” (camada grossa como as dos te-
cidos da roupa) que leva ao espessamen-
to da cápsula articular e destrói a cartila-
gem articular. Nos estádios avançados
pode haver fusão de superfícies articula-
res opostas. A artrite reumatóide juvenil
é em muitos aspectos semelhante ao tipo
do adulto, mas não se encontra factor reu-
matóide no soro.
(*) Disponíveis como medicamento genérico em Portugal. (NR)
(**) Nome comercial usado nos EUA. (NR)
(***) Em Portugal, o hialuronato de sódio está presente nos medicamentos de marca Go-on® e Microvisc®. (NR)
Capítulo 8 Articulações e Movimento 273
A artrite hemofílica pode resultar de hemor-
ragia na cavidade articular em consequência da
hemofilia, doença que se caracteriza por um
deficiente mecanismo de coagulação do sangue.
Existe alguma evidência de que o ferro do san-
gue é tóxico para os condrócitos, provocando a
degenerescência da cartilagem articular.
Infecções Articulares
A doença de Lyme é consequência de uma in-
fecção bacteriana (Borrelia burgdorferi) trans-
mitida ao ser humano por um ácaro vector (ha-
bitualmente o Ixodes sp.) e afecta o encéfalo,
nervos, olhos, coração e articulações. A artrite
crónica e a disfunção do sistema nervoso cen-
tral são gravemente incapacitantes, mas rara-
mente fatais. O nome da doença provém de
uma epidemia de artrite infantil que ocorreu
em Lyme, Connecticut, em 1975. Existiu pro-
vavelmente na Europa durante muitos anos, e
na América do Norte antes da primeira coloni-
zação europeia, mas não era conhecida. Os
seres humanos e animais domésticos só aci-
dentalmente são hospedeiros dos ácaros, que
normalmente afectam os mamíferos e pássa-
ros selvagens. Os veados são particularmente
afectados. O nordeste dos Estados Unidos foi
gravemente desflorestado nos séculos XVIII e
XIX, e os gamos e outras populações selvagens
foram dramaticamente reduzidas. O abando-
no e reflorestação mais recentes de herdades
na Nova Inglaterra levaram a um aumento das
populações de veados e ácaros, e a um res-
surgir das doenças associadas das articula-
ções e do sistema nervoso, numa época em
que é já possível o diagnóstico. Mais de
100.000 casos de doença de Lyme foram par-
ticipados nos EUA desde 1982. Embora seja
mais frequente no nordeste, houve participa-
ção de casos nos estados centrais do norte,
ao longo da costa oeste e disseminados pela
costa leste e estados centrais. As manifesta-
ções precoces desta doença consistem em
sindroma gripal, com “rash” localizado. Se não
for tratada, a bactéria pode disseminar-se ao
sistema nervoso, coração e articulações, em
poucas semanas ou meses. A vacina humana
contra a doença de Lyme está actualmente a
ser usada em indivíduos de alto risco(*).
A artrite supurativa (com formação de
pus) pode resultar de numerosos agentes in-
fecciosos. Estas infecções articulares podem
ser provenientes de outros locais

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