Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 1 DELIRIUM E SÍNDROMES ORGÂNICAS Possui etiologia orgânica demonstrável, ou lesão cerebral ou qualquer afecção que leve a uma disfunção cerebral. A doença pode ser primária, quando afeta o cérebro direta ou preferencialmente; ou secundária, como em doenças sistêmicas que afetam o cérebro como um dos múltiplos órgãos envolvidos. Estão divididas em 2 grandes grupos: a) afecção das funções cognitivas (memória, inteligência e aprendizagem) ou da consciência e atenção b) afecções localizadas da percepção, do pensamento e consciência da realidade, do humor, e do padrão global de personalidade e comportamento OBS: sintomático = transtorno mental orgânico nos quais o envolvimento cerebral é secundário a uma doença extra-cerebral. DELIRIUM CONCEITO O Delirium é um comprometimento da consciência passando a considera-lo como seu aspecto principal. Neste sentido, o Delirium não está associado exclusivamente aos transtornos psiquiátricos, mas também, a outras condições orgânicas crônicas (como, por exemplo, as síndromes demenciais, infecção, encefalopatia hepática, intoxicação por drogas e evento cirúrgico de grande porte). Disfunção cerebral aguda caracterizada por alterações do estado de consciência transitórias e flutuantes, acompanhadas de compromisso cognitivo, apresentando rebaixamento do nível de consciência e, consequentemente, de atenção com confusão mental, pensamento ilógico e desorganização do discurso, agitação psicomotora, porém, existem casos que podem ocorrer também retração, hipersonolência e lentificação motora; além das alterações sono-vigília, como insônia no período noturno e sonolência no período diurno. FISIOPATOLOGIA O mecanismo fisiopatológico exato causador de delirium permanece indefinido. Trata-se, provavelmente, da via final de diferentes mecanismos patogênicos, culminando na redução global do metabolismo oxidativo cerebral e falência da transmissão colinérgica. A principal hipótese para o desenvolvimento de delirium permanece focada no papel dos neurotransmissores, inflamação e estresse crônico. Atividade dopaminérgica em excesso também é apontada como fator contribuinte, talvez por seu papel regulador na liberação de acetilcolina. Citocinas também podem contribuir por meio do aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica e alteração da neurotransmissão. Estresse crônico gerado por doença ou trauma ativa o sistema nervoso simpático e o eixo adrenocortical, levando ao hipercortisolismo crônico, podendo contribuir para o desenvolvimento de delirium, e aumento nos níveis de citocinas. QUADRO CLÍNICO As principais características do delirium são: o início agudo e a atenção prejudicada. O estado mental tipicamente se modifica em horas a dias, diferentemente da demência onde ocorre mudança em semanas a meses. Outro aspecto característico do delirium é o curso flutuante, com tendência a períodos de melhora e exacerbações dos sintomas durante o dia, não é incomum a ocorrência de intervalos de lucidez. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 2 CLASSIFICAÇOES a) Delirium por condição médica b) Delirium devido a intoxicação por substâncias c) Delirium devido à abstinência de substâncias d) Delirium devido a múltiplas etiologias e) Delirium sem outras especificações a) Hiperativo (15%) - aumento na atividade psicomotora - distraibilidade (hiperalerta) - hiperreatividade - pseudo-alucinações, idéias deliróides - fala rápida em tom alto - irritabilidade, impaciência, inquietação - pesadelos - melhor resposta ao tratamento b) Hipoativo – estado confusional agudo (19%) - diminuição da atividade - sonolência - letargia - apatia - olhar vago - fala lentificada, lacônica - mais grave, mais próximo do coma c) Misto (52%) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de delirium é eminentemente clí- nico, realizado à beira do leito, por meio de avaliação cuidadosa e história clínica colhida na maioria das vezes com informante confiável, geralmente o familiar ou cuidador. EPIDEMIOLOGIA A prevalência aumenta com a idade: 0,4% > 18 anos; 1,1% > 55 anos; 13,6% > 85 anos. Muito frequente em Hospitais Gerais: ocorre em 14 – 56 % dos pacientes durante uma internação. Maiores taxas em idosos em CTI e enfermarias pós-cirúrgicas (principalmente cirurgias cardíacas e ortopédicas. Ocorre em 88% dos pacientes terminais próximo à morte (últimas 24-48h de vida). VULNERABILIDADE idade avançada sexo masculino déficit visual demência (graus) depressão dependência funcional imobilidade desidratação alcoolismo doença física AVC anormalidades metabólicas FATORES PRECIPITANTES intoxicação ou abstinência de substâncias* Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 3 doença aguda severa infecção hiponatremia e outras alterações bioquímicas ou metabólicas hipoxemia; anemia choque dor restrição física pós-operatório (ortopédico, cardíaco etc) CTI procedimentos invasivos TRATAMENTO Obviamente, a identificação e tratamento da causa principal, quando possível, são fundamentais para a resolução do quadro de delirium. Não farmacológico: deve ser aplicada a todos os pacientes. Estratégias de reorientação e intervenção comportamental como permitir a presença de familiares acompanhantes. Farmacológico: Deve ser reservado aos pacientes com agitação mais importante, ou que estejam em risco em relação à própria segurança, de outros pacientes e da equipe médica. Deve-se estar ciente de que qualquer droga usada no tratamento do delirium causará efeitos psicoativos, podendo obnubilar ainda mais o estado mental do paciente. Por este motivo, deve-se usar a menor dose, pelo menor período possível. A classe dos neurolépticos é a preferida para o tratamento de delirium, sendo o HALOPERIDOL o agente mais utilizado e avaliado. Em relação ao haloperidol, dose inicial de 0,5 a 1mg, preferencialmente por via oral, deve ser usada, podendo se repetir a dose após 30 a 60 minutos, até se atingir sedação leve. O objetivo é a resolução ou melhora da agitação até nível aceitável e não a sedação do paciente. Benzodiazepínicos não são recomendados para o tratamento de delirium devido à tendência em causar sedação excessiva, depressão respiratória, além de poderem exacerbar o estado confusional. Entretanto permanecem como droga de escolha em casos de abstinência a álcool e outras drogas. Em idosos o lorazepam, 0,5 a 1mg inicialmente, é o agente mais seguro. DELIRIUM TREMENS Pessoas que bebem de forma excessiva, quando diminuem o consumo ou se abstêm completamente, podem apresentar um conjunto de sintomas e sinais, denominados Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA). Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação, ansiedade, alterações de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, entre outros. Ocorrem complicações como: alucinações, o Delirium Tremens (DT) e convulsões. DT é um estado confusional breve, mas ocasionalmente com risco de vida, que se acompanha de perturbações somáticas. É usualmente consequência de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em usuários gravemente dependentes, com uma longa história de uso. O iníciousualmente ocorre após abstinência de álcool. Em alguns casos o transtorno aparece durante um episódio de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, em cujo caso deve ser codificado aqui. Os sintomas prodrômicos tipicamente incluem: insônia, tremores e medo. O início pode também ser precedido de convulsões por abstinência. A clássica tríade de sintomas inclui: Obnubilação de consciência Confusão Alucinações e ilusões vívidas Afetando qualquer modalidade sensorial e com tremores marcantes. Delírios, agitação, insônia ou inversão do ciclo do sono e hiperatividade autonômica estão também usualmente presentes. Exclui: Delirium não induzido por álcool. Instalação: 1 a 3 dias. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 4 Duração: 1 semana a dois meses (maioria entre 10 e 12 dias). Idosos: curso mais prolongado; maior risco de mortalidade; maior número de complicações; mais frequentemente a recuperação não é total. TRATAMENTO Dentre os psicofármacos utilizados, os benzodiazepínicos (BZD) são a medicação de primeira escolha para o controle dos sintomas da SAA. Diazepam: 20mg via oral (VO) por dia, com retirada gradual ao longo de uma semana. DELÍRIO O Delírio é uma alteração relacionada à FORMAÇÃO DOS JUÍZOS, sendo um erro do processo de ajuizar que tem origem na doença mental. É o desenvolvimento de um conjunto de juízos falsos em consequência de condições patológicas pré-existentes e que não se corrigem por meios racionais. É através do juízo que discernimos o que é real do que é fruto da nossa imaginação. TRÍADE DO DELÍRIO (primário) Uma convicção extraordinária Não são susceptíveis à influência Possuem um conteúdo impossível Delírios ou ideias delirantes são juízos patologicamente falsos. a) Delírio Primário (ideia delirante) Convicção falsa e irremovível e uma crença inabalável Impenetrável e incompreensível para o indivíduo normal, bem como, impossível de sujeitar-se às influências de correções quaisquer Impossibilidade de conteúdo plausível b) Delírio Secundário (ideia deliroide) Tem origem compreensível em estados psicologicamente alterados como nos transtornos do humor, alterações da sensopercepção e rebaixamento do nível de consciência. Equívocos passageiros provocados por percepções enganosas e de outras desse tipo. Exemplos: as ideias de ruínas e de culpa na depressão, ideias de perseguição no delirium tremens, as ideias de grandeza na mania. c) Ideia Sobrevalorada Ideia errônea por exagero afetivo em que a carga afetiva muito intensa afeta o julgamento da realidade e a ideia passa a preponderar sobre as demais, de forma pouco racional, afetando o comportamento do indivíduo. CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS MENTAIS TRANSTORNO DO ESPECTRO DA ESQUIZOFRENIA Esquizofrenia Transtorno Esquizoafetivo Transtorno Esquizofreniforme Transtorno Delirante e Transtorno Psicótico Compartilhado Transtorno Psicótico Breve, outros Transtornos Psicóticos e Catatonia TRANSTORNOS DO HUMOR Depressão maior e transtorno bipolar Distimia e ciclotimia TRANSTORNOS DA ANSIEDADE Transtorno do pânico Agorafobia Fobia específica Fobia social Transtorno de ansiedade generalizada Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 5 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO Transtorno obsessivo-compulsivo Transtorno dismórfico corporal Transtorno de acumulação Tricotilomania Transtorno de escoriação TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Síndrome de Rett Transtorno desintegrativo da infância Transtorno de Asperger Transtorno pervasivo não identificado do desenvolvimento TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Grupo A: esquizotípico, esquizoide e paranoide Grupo B: Narcisista, boderline, antissocial e histriônico Grupo C: Obessivo-compulsivo, dependente e evitativo TRANSTORNO ORGÂNICO DE PERSONALIDADE Alteração da personalidade e comportamento (acentuação ou mudança de características de personalidade) como um transtorno residual ou concomitante a doença, lesão ou disfunção cerebral. SÍNDROMES DO LOBO FRONTAL a) Síndrome orbitofrontal - desinibição - impulsividade - diminuição da empatia, inconveniência, jocosidade inadequada - incapacidade de planejamento - irritabilidade; labilidade afetiva - memória, linguagem e habilidades visuoespaciais intactas - causas: trauma craniano, tumor, AVC, esclerose múltipla, doença de Pick b) Síndrome medial frontal - do mutismo acinético à falta moderada de motivação, de iniciativa, acompanhada de apatia e gestos limitados - mutismo acinético: lesões bilaterais; mutismo, (semi)estupor, vigil, alerta - pacientes com lesão esquerda podem apresentar afasia motora - causas: AVC, trauma, hidrocefalia c) Síndrome da convexidade frontal - anormalidades no comportamento sequencial: perseveração, impersistência, déficits na mudança de contexto, distúrbios na programação de atos motores sequenciais - dificuldades no julgamento e avaliação - concretude - causas: traumas, tumores, AVC, doenças degenerativas d) Personalidade epiléptica (?) - suspicácia e ideação paranóide - preocupação excessiva com um tema única - hipossexualidade - prolixidade; - viscosidade afetiva (gliscroidia) - hiperreligiosidade - hipergrafia - causa: epilepsia do lobo temporal SÍNDROME AMNÉSTICA ORGÂNICA - Prejuízo de memória se manifestando no déficit de memória recente (assimilação de novas informações) em grau suficiente para afetar o desempenho das atividades cotidianas - Diminuição da capacidade de rememorar experiências passadas - Sem prejuízo da memória imediata - Sem rebaixamento de consciência, sem hipoprosexia, sem déficit cognitivo global Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 6 - Início geralmente abrupto, curso crônico, com algum grau de melhora podendo ocorrer nos dois anos subsequentes ao início - Geralmente associadas a um conjunto restrito de lesões envolvendo estruturas límbicas da região medial dos hemisférios cerebrais (hipocampo, fórnix, corpos mamilares, núcleos talâmicos mediais) CAUSAS: Traumatismo craniano Tumores focais Sequelas cirúrgicas Encefalites por herpes simplex Isquemia cerebral Hipóxia SÍNDROME DE WERNICKE-KORSAKOFF - Deficiência de tiamina (vit.B1) - História de alcoolismo; desnutrição, vômitos prolongados, carcinoma gástrico Fase aguda: oftalmoplegia, ataxia, delirium Fase crônica: síndrome amnéstica, nistagmo, ataxia, neuropatia periférica A doença de Wernicke e a psicose de Korsakoff foram identificadas no final do século passado. A primeira é caracterizada por nistagmo, marcha atáxica, paralisia do olhar conjugado e confusão mental. Esses sintomas usualmente têm início abrupto, ocorrendo mais freqüentemente em combinação. A doença de Wernicke está associada com deficiência nutricional, ocorrendo especialmente em alcoolistas. A psicose de Korsakoff é uma desordem mental na qual a memória de retenção está seriamente comprometida em um paciente até então sadio. Esta desordem está também associada ao alcoolismo e à deficiência nutricional. O complexo de sintomas abrangendo o comprometimento do aprendizado e da memória, bem como as manifestações da doença de Wernicke é apropriadamente designado de síndrome de WernickeKorsakoff.TRATAMENTO O tratamento da síndrome de Wernicke-Korsakoff deve ser imediatamente iniciado com a administração de tiamina, uma vez que esta previne a progressão da doença e reverte as anormalidades cerebrais que não tenham provocado danos estruturais estabelecidos. A administração imediata de tiamina parenteral intravenosa ou intramuscular (500mg, 2 a 3 vezes por dia, durante 3 dias), seguida de uma suplementação oral diária – quando este iniciar a alimentação oral – pode permitir uma reversão gradual dos sinais da encefalopatia de Wernicke. Não é recomendada a administração de soro glicosado sem infusão de tiamina concomitante, já que pode precipitar um uma encefalopatia de Wernicke. TIAMINA A tiamina é de extrema importância para o perfeito funcionamento da rota metabólica. Age como coenzima da transcetolase e da piruvato-descarboxilase, enzimas intermediárias na degradação do piruvato em Acetil-Co- A. A ausência de tiamina bloqueia a entrada do piruvato na fase aeróbica da rota metabólica gerando dois efeitos: desvio da via aeróbica para anaeróbica, onde o piruvato é transformado em lactato, e diminuição da produção de energia (ATP), que passa a ser produzida apenas pela via glicolítica. Resulta daí a acentuada produção de ácido lático no organismo e a deficiência da produção de ATP. Além disso, a transcetolase auxilia a síntese de ácidos graxos, componentes fundamentais da mielina. Não está devidamente esclarecido por que há predileção das lesões pelos corpos mamilares, paredes dos Nistagmo Ataxia Distúrb. Mentais e da Consciência Síndrome Wernicke Nistagmo Ataxia Distúrb. Mentais e da Consciência Alterações da memória Sd. Wernicke- Korsakoff Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 7 ventrículos e vermis cerebelar. A tiamina está presente na maioria dos alimentos, principalmente nos cereais. Quanto ao seu estoque, o hepatócito funciona como principal local de armazenamento. Uma vez cessada a ingesta de tiamina, as reservas orgânicas esgotam-se em 18 dias. Condições como doença hepática, ingesta excessiva de carboidratos ou infusão venosa de grandes quantidades de glicose, não associada à tiamina, podem acelerar essa depleção. Atenção especial deve ser dada ao uso de glicose hipertônica sem a devida reposição de tiamina, prática comum principalmente em alcoólatras ou pacientes em coma de etiologia não definida, pois pode vir a desencadear EW ou piorar um quadro já instalado. TRANSTORNOS DO HUMOR Grupo de transtornos mentais nos quais uma alteração patológica do humor*, associada com alterações vegetativas, psicomotoras e cognitivas relacionadas, dominam o quadro. Estados afetivos permanentes, que não refletem apenas contingências emocionais momentâneas. As alterações do humor são endoreativas, isto é, mesmo que possam ter sido desencadeadas por um fator precipitante externo, tendem a persistir de forma autônoma. Possui curso frequentemente cíclico, recorrente de forma episódica (5-6 para transt.depressivo; 8-9 p/transt.bipolar) – embora possa ser um episódio único, principalmente no transtorno depressivo (1/3 dos casos). Transtorno Bipolar Transtorno Depressivo (Recorrente – CID 10 / Maior – DSM V) Trastorno Ciclotímico Transtorno Distímico EPIDEMIOLOGIA - Prevalência bastante elevada: 15% entre os homens, podendo atingir 25% entre as mulheres - Transtorno depressivo (5,2 - 17,1%) tem maior prevalência do que transtorno bipolar (0,4 - 1,6%) - Transtorno depressivo é 50 a 70% mais diagnosticado em mulheres; no que concerne ao transtorno bipolar, a frequência é a mesma em ambos os sexos - Transtorno depressivo acomete de 10 a 25% das mulheres e de 5 a 12% dos homens durante os seus períodos de vida - O.M.S.: depressão aparece como a 4ª colocada em uma lista dos 10 principais problemas mais urgentes em saúde pública no mundo - Transtorno bipolar tem início mais precoce: na segunda ou terceira década de vida; o transtorno depressivo recorrente costuma ter início mais tardio: por volta dos quarenta anos - 15-20% dos pacientes portadores de um transtorno do humor apresentam um curso crônico - Suicídio ocorre em 15% dos pacientes com transtorno depressivo, principalmente homens - 50-70% dos suicídios ocorrem em portadores de transtornos do humor QUADRO CLÍNICO Episódio Depressivo e Episódio Maníaco a) Episódio Depressivo: - humor deprimido (hipotimia) - perda de interesse e prazer (anedonia) - energia reduzida levando a uma fatigabilidade aumentada - atividade diminuída, inércia, falta de motivação ou vontade, diminuição da libido - lentificação (ou agitação) psicomotora e do pensamento; estupor - irritabilidade (muito comum na infância e adolescência) - choro espontâneo - pessimismo e desesperança - diminuição da auto-estima - pensamentos recorrentes, ruminação sobre temas negativos - idéias (deliróides – 15%) de culpa, ruína, inutilidade, hipocondríacas Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 8 - ideação suicida; tentativas de suicídio - insônia terminal ou hipersonia - diminuição ou aumento do apetite, com perda ou ganho de peso - diminuição ou aumento do apetite, com perda ou ganho de peso - dificuldades para tomar decisões - alterações da vivência do tempo (lentificação, império do passado, inexistência do futuro) - dificuldades de concentração e memória (pseudo- demência em idosos) - queixas somáticas (« depressão mascarada ») - ritmo circadiano - sazonalidade (outono/inverno) Os sintomas devem estar presentes por pelo menos duas semanas e devem representar uma mudança com relação ao funcionamento prévio do sujeito. CARACTERÍSTICAS MELANCÓLICAS perda de prazer em todas ou quase todas as atividades falta de reação a estímulos outrora prazeirosos qualidade distinta de humor deprimido piora matinal insônia terminal lentificação ou agitação psicomotora acentuados anorexia ou perda de peso significativos culpabilidade excessiva ou inapropriada CARACTERÍSTICAS ATÍPICAS reatividade do humor aumento do apetite e/ou ganho de peso hipersonia padrão permanente de hipersensibilidade à rejeição nas relações interpessoais sensação de peso nas pernas e braços piora vespertina Depressão Bipolar história de mania ou hipomania temperamento ciclotímico igual prevalência em homens e mulheres início na adolescência, terceira (20’s) ou quarta (30’s) década episódios puerperais comuns início súbito múltiplos episódios duração do episódio: 3-6m retardo psicomotor hipersonia história familiar de transtorno bipolar e unipolar Depressão Unipolar sem história de mania ou hipomania temperamento distímico mais comum em mulheres início na quarta (30’s), quinta (40’s) ou sexta (50’s) década episódios puerperais menos comuns início insidioso poucos episódios duração do episódio: 3-12m agitação psicomotora insônia história familiar de transtorno unipolar e alcoolismo OBS: CICLOTIMIA: padrão de personalidade, caracterizado por períodos de excitação, euforia ou hiperatividade, que alternam com outros de depressão, tristeza ou inatividade, e que, normalmente, não configura traços psicóticos DISTIMIA: A distimia é um tipo crônico de depressão no qual a pessoa fica triste regularmente. b) Episódio Maníaco hipertimia: euforia, exaltação, irritabilidade, jocosidade labilidade afetiva aumento de energia, hiperatividade Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 9 aceleração do curso do pensamento, fuga de ideias, logorreia diminuição da necessidade de sono desinibição, agitação, aumento da libido, impulsividade distraibilidade auto-estima arrogante superotimismo, grandiosidade, idéias deliróides de grandeza prodigalidade alterações quantitativas e qualitativas da sensopercepção os sintomas devem estar presentes por pelo menos uma semana e devem representar uma mudança com relação ao funcionamento prévio do sujeito CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS DO HUMOR TRANSTORNO DEPRESSIVO TRANSTORNO BIPOLAR: - Bipolar I: pelo menos uma fase de mania ou episódio misto - Bipolar II: fases de hipomania e transtorno ciclotímico TRANSTORNOS PERSISTENTES DO HUMOR Síndrome parcial do humor, mantida de forma contínua ou intermitente por pelo menos dois anos. Tem início geralmente na adolescência - ciclotimia (pode preceder ou suceder episódios de transtorno bipolar ou depressivo) - distimia (precede episódio depressivo em 1/3 dos casos): mais sintomas do que sinais COMORBIDADES Ansiedade Fobias Pânico Sintomas Obsessivos-compulsivos Abuso de Substâncias Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 10 AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alteraões do funcionamento mental, durante a entrevista psiquiátrica. As informações são obtidas através da observação direta da aparência do paciente, da anamnese, bem como do relato de familiares e outros informantes como atendentes, amigos, colegas ou até mesmo autoridades policiais. O exame do estado mental não deve ser realizado apenas pelos psiquiatras, mas deve fazer parte do exame clínico do paciente, independente da sua morbidade. É essencial não só para o diagnóstico de possíveis transtornos psiquiátricos, como pode também oferecer indícios importantes de transtornos neurológicos, metabólicos, intoxicações ou de efeitos de drogas. Divide-se o funcionamento mental em funções na seguinte ordem: Consciência, Atenção, Sensopercepção, Orientação, Memória, Inteligência, Afetividade, Pensamento, Juízo Crítico, Conduta e Linguagem (CASOMI APeJuCoL). Consciência Atenção Sensopercepção Orientação Memória Inteligência Afetividade Pensamento Juízo crítico Conduta Linguagem O primeiro grupo, CASOMI, destaca as Síndromes Cerebrais Orgânicas, por exemplo, nos estados de delirium estão alteradas as primeiras quatro funções: Consciência, Atenção, Sensopercepção e Orientação; e nos casos de Demência, a Memória e a Inteligência. O segundo grupo (APeJuCoL), por sua vez, altera se nas Síndromes Psicóticas e nos Transtornos do Humor. ASPECTOS DO PACIENTE NA ENTREVISTA INICIAL 1. Aparência 2. Atividade psicomotora e de comportamento 3. Atitude frente ao examinador 4. Comunicação com o examinador 5. Sentimentos despertados FUNÇÕES MENTAIS a) Consciência - É o estado de lucidez ou de alerta em que a pessoa se encontra, variando da vigília até o coma. É o reconhecimento da realidade externa ou de si mesmo em determinado momento, e a capacidade de responder aos seus estímulos. - Avaliação: Observar as reações do paciente frente aos estímulos, se sua reação é rápida ou lenta; se se mostra sonolento ou não. No caso de lucidez, percebe- se através da própria conversa com o paciente, porém, se houver alguma alteração devem-se utilizar estímulos verbais e/ou táteis. Na clínica geral usa-se também a escala de Glasgow. - Alterações: obnubilação/sonolência, confusão, estupor, coma e hiperalerta b) Atenção - A atenção é uma dimensão da consciência que designa a capacidade para manter o foco em uma atividade. Designa, ainda, o esforço voluntário para selecionar certos aspectos de um fato, experiência do mundo interno (p.e. memórias), ou externo, fazendo com que a atividade mental se volte para eles em detrimento dos demais. - Avaliação: vigilância, tenacidade e concentração. - Alterações: desatenção e distração c) Sensopercepção - Designa a capacidade de perceber e interpretar os estímulos que se apresentam aos órgãos dos sentidos. Os estímulos podem ser: auditivos, visuais, olfativos, táteis e gustativos. - Avaliação: a sensopercepção é investigada através da entrevista com o paciente. - Alterações: ilusões e alucinações d) Orientação Capacidade do indivíduo de situar-se no tempo, espaço ou situação e reconhecer sua própria pessoa. Avaliação: Tempo pode-se perguntar ao paciente qual é a hora aproximada, dia da semana, do mês, mês, ano, estação e há quanto tempo ele está no hospital. Espaço o paciente deve ser capaz de descrever o local onde se encontra (consultório, nome do hospital), o endereço aproximado, a cidade, o estado, o país, sabendo também quem são as pessoas à sua volta. A própria pessoa deve-se perguntar dados sobre o paciente, como nome, data de nascimento, profissão e o que faz no hospital. Estas informações devem ser conferidas através de uma fonte confiável, como um familiar hígido. Demais pessoas deve ser capaz de identificar seus familiares, amigos próximos e pessoal que o atende (médicos, enfermeiras, auxiliares, etc.). Alterações: desorientação Síndromes Cerebrais Orgânicas Delirium Demência Síndromes Psicóticas e Transtornos de Humor Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 11 e) Memória É a capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos, pessoas e experiências passadas ou estímulos sensoriais. São fixados na memória fatos ou situações que quando ocorreram provocaram emoções associadas: prazer, medo, etc, ou que foram significativas para a pessoa. Avaliação: memória imediata, memória recente e memória remota. Alterações: amnésia, amnésia anterógrada, amnésia retrógrada, amnésia lacunar e amnésia retrógrada. f) Inteligência Capacidade de uma pessoa de assimilar conhecimentos factuais, compreender as relações entre eles e integrá-los aos conhecimentos já adquiridos anteriormente; de raciocinar logicamente e de forma abstrata manipulando conceitos, números ou palavras. Capacidade de resolver situações novas com rapidez e com êxito mediante a realização de tarefas que envolvam a apreensão de relações abstratas entre fatos, eventos, antecedentes e consequências, etc. Avaliação: É importante coletar informações sobre o desenvolvimento e rendimento escolar do paciente: idade de ingresso na escola, se repetiu algum ano, dificuldades em matérias específicas, dificuldade de leitura e escrita, quando parou os estudos, por que motivo (se por dificuldade em acompanhar). Para avaliar ("grosseiramente") o rendimento intelectual, pode-se questionar a capacidade do paciente de adaptar-se ao meio e a novas situações, aprender com a experiência, desenvolver atividades coerentes com um objetivo, utilizar pensamento abstrato (incluindo conceitos abstratos, como liberdade, amor) e resolver problemas do cotidiano. A inteligência pode ser inferida através do desempenho intelectual durante o exame e através de perguntas como: o troco em dinheiro para 6,37 quando se deu 10,00; multiplicar 2 X12; 2X24;2X48; 2X96... Alteração: deficiência mental, demência e abstração. g) Afetividade É a experiência imediata e subjetiva das emoções sentidas pelo paciente em relação ao que o cerca, abrangendo desde sentimentos em relação a pessoas e ambientes até lembranças de fatos, situações, ou pessoas do passado, bemcomo expectativas sobre o futuro. Avaliação: a avaliação da afetividade e do humor é feita ao longo da entrevista, observando-se a expressão facial do paciente, sua postura, o conteúdo afetivo predominante no seu relato (tristeza, euforia, irritabilidade, etc), o tipo de afeto que transmite e que desperta no entrevistador. Alterações: ansiedade, medo e tensão, irritabilidade, ódio, raiva, hostilidade, labilidade afetiva, incontinência emocional, indiferença afetiva, afeto inapropriado ou icongruente, afeto hipomaníaco e maníaco, euforia e êxtase, tristeza, desesperança, baixo auto-estima e sentimento de culpa, apatia... h) Pensamento É o conjunto de funções integrativas capazes de associar conhecimentos novos e antigos, integrar estímulos externos e internos, analisar, abstrair, julgar, concluir, sintetizar e criar. O pensamento é avaliado em três aspectos: produção (ou forma), curso e conteúdo. Avaliação: em uma amostra do discurso do paciente, ou seja, durante a entrevista, observa-se a produção, o curso e o conteúdo do seu pensamento. Na avaliação da produção (ou forma) do pensamento observa-se se o paciente tem um discurso coerente, se segue as leis da sintaxe, se a inferência de conclusões é lógica, e se as associações entre as ideias fazem sentido. Alteração: produção ilógica ou mágica; curso lento, acelerado, com fuga de ideias, perda de associações, tangencialidade, circunstancialidade, bloqueio do pensamento, perseveração, pobreza do pensamento, associação por rimas; conteúdo: delírio, ideias supervalorizadas, obsessões etc. i) Juízo crítico É a capacidade para perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separá-la dos aspectos do mundo interno ou subjetivo. Implica separar sentimentos, impulsos e fantasias próprios, de sentimentos e impulsos de outras pessoas. Refere-se, ainda, à possibilidade de autoavaliar-se adequadamente e ter uma visão realista de si mesmo, suas dificuldades e suas qualidades. Insight é uma forma mais complexa de juízo. Envolve um grau de compreensão do paciente sobre si mesmo, seu estado emocional, sua doença e as consequências desta sobre si, pessoas que o cercam e sua vida em geral. O insight é reconhecido como um importante mecanismo de mudança psíquica nas psicoterapias em geral e em especial nas psicoterapias de orientação analítica. Avaliação: a partir da entrevista geralmente tem-se uma boa idéia a respeito da capacidade de julgamento e insight. Alterações: falar coisas inapropriadas; ser inconveniente; gastar mais do que pode; não medir consequências; não se dar conta da gravidade da doença; não reconhecer limitações. j) Conduta São os comportamentos observáveis do indivíduo: comportamento motor, atitudes, atos, gestos, tiques, impulsos, verbalizações, etc. Avaliação: a partir da observação do paciente durante a entrevista, de perguntas objetivas ou de entrevistas com os familiares, pesquisa-se dados sobre os hábitos do paciente, como o que costuma fazer todos os dias e em situações especiais (maneira como se diverte, trabalha, convive socialmente); procura-se observar a movimentação do paciente (lento ou agitado), a forma como se expressa através da anamnese. Alterações: inquietação, agitação, lentificação do comportamento psicomotor etc. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P6 12 k) Linguagem É a maneira como a pessoa se comunica, verbal ou não verbalmente, envolvendo gestos, olhar, expressão facial ou por escrito. Avaliação: costuma-se dar mais ênfase à fala, avaliando-se a quantidade (loquaz, prolixo, taciturno, não-espontâneo ou normal), velocidade ou fluxo (verbalização rápida, lenta, hesitante, monótona) e qualidade (gagueira, ecolalia). Alteração: disartria (dificuldade na articulação da palavra), gagueira, bradilalia (falar muito devagar), taquilalia (falar muito rápido), ecolalia (repetir as últimas palavras do interlocutor), afasia (não conseguir falar), logorréia (não parar de falar), mutismo (ficar completamente quieto), vulgaridade (usar vocabulário de baixo calão), coprolalia (uso de palavras obcenas); disgrafia (escrever palavras incorretamente); alterações da mímica facial (ausência, exagero, tiques). Neologismos (invenção de palavras com significados particulares para o paciente), salada de palavras e associação por rimas refletem um processo de pensamento desgregado. 3 - FUNÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS 3.1-SONO: Insônia inicial, terminal, ou no meio da noite; hipersonia; sonambulismo; terror noturno; apnéia do sono; alterações do ciclo sono-vigília (SCO, Demência), diminuição da necessidade de sono (Mania).1,DSM,CID 3.2-APETITE: Aumento ou diminuição, com ou sem alteração no peso (considerar variações maiores que 5% do peso usual). 1,DSM,CID 3.3-SEXUALIDADE: diminuição ou aumento do desejo ou da excitação (depressão e mania); incapacidade de atingir o orgasmo; parafilias; ejaculação precoce, retardada, vaginismo.
Compartilhar