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A Conexão Criativa - Natalie Rogers

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A CONEXÃO CRIATIVA (1) 
 (2) Natalie Rogers 
 
INTRODUÇÃO: 
 
“A resposta me leva a responder. O movimento me move. Sinto-me deliciada e 
encantada olhando o meu/nosso mistério. Tambores são esmurrados, estrondam, 
 Minha raiva emerge e mexe comigo... com você... comigo... com você. Medo 
do tremor... tremor do medo.” 
“Deixar acontecer é uma liberação da vida. Deixar acontecer nos faz líricos, 
macios, um rio impetuoso correndo, cambaleante, 
circunavegante, 
 canção cânone, 
vindo e indo 
“A resposta me leva a responder encontrando mais de mim mesmo, sendo 
totalmente eu Meu corpo é a mensagem... a mensagem, meu corpo. (massageia meu 
corpo)” 
“Dor? Raiva? Amor? Conforto? Sacodem partes novas em mim/nós. Eu posso 
fazer isto. Meu corpo se esforça, se arrisca a ser, a ver, e a sentir a mensagem.” 
“Criando o espaço, descobrindo, explorando... aonde ir, o que encontrar, como 
viver... como ser eu mesmo, totalmente ou livremente... respondendo, dando, 
recebendo, prestigiando, acariciando, fazendo, desfazendo, deixando fluir, fazendo sons. 
Isto pode ser feito. Posso ajudar isto acontecer. Soando a profundidade, indo ao fundo 
do poço.” 
“Esta é a primeira vez que eu tive um grupo de três dias para eu mesma fazer 
este trabalho (seria isto um trabalho?). Estou pronta para orquestrar estes dias de 
abertura para si mesmo e para os outros. Que ambiente fabuloso! E as pessoas estão 
querendo o que eu tenho a oferecer...” 
 
____________________ 
1
 Trabalho apresentado no I Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa, México, 1982.
 
2
 Tradução de Maria do Céu Lamarão Battaglia e Revisão de Marcia Tassinari – Abril – 1989 
 Escrevi estas linhas após uma manhã de trabalho com um grupo de quinze 
pessoas através de alguns movimentos (vagarosos e rápidos) com e sem sons e música. 
Depois do movimento, nós utilizamos lápis cera e expressamos nossos sentimentos 
usando cor, linha e ritmo sobre o papel. Depois de criarmos nosso painel, nós 
escrevemos por dez minutos sem parar para editar o que escrevemos ou nos preocupar 
com a grafia ou pontuação. Então o poeta em mim e nos outros, transbordou. Meu 
entusiasmo, por ser possível ter pessoas que queriam aprender comigo num ambiente 
convidativo, estava aparente. 
Este grupo em particular ocorreu em Averbad, na Bélgica. Nós estávamos em 
um mosteiro do século XIV, no 5º andar, avistando um pátio. A antiga parede de pedra 
circundava alguns celeiros para os carneiros, alguns chalés para os fazendeiros, o 
gigantesco mosteiro e a igreja. Nosso quarto era uma grande capela, de teto bem alto e 
um tapete vermelho cor forte. Os bancos da capela e todos os símbolos religiosos foram 
removidos no fim de semana para utilizarmos o espaço com o nosso workshop, “The 
Creative Connection”. Nossa reclusão num lugar como este, onde as pessoas têm 
pensamentos voltados para encontrar sua verdade interior e se conectar com o universo, 
parecia bastante apropriado. O processo que desenvolvo visa nos ajudar a fazer a 
conexão com nosso inconsciente e com o universo. É como descobrir o quão profundo 
nossas raízes precisam ir para nos possibilitar alcançar as estrelas. 
É difícil colocar em palavras (desde que as palavras são lineares) um processo 
que necessita ser experienciado para ser totalmente compreendido. Contudo é o que 
tentarei fazer neste artigo. Eu realmente necessito de música, slides, um local para 
dançar e uma forma de envolver vocês para descobrirmos juntos o processo de 
desabrochar. E, a medida que escrevo, sinto-me como desembrulhando uma criança que 
está iniciando seu desenvolvimento. Mesmo tendo trabalhado uma meia dúzia de anos 
com este processo, não tenho “respostas”. Estou dividindo com vocês minhas 
descobertas. 
 
 
 
 
COMO A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA EVOLUIU PARA A TERAPIA 
EXPRESSIVA? 
 
 Em 1974 iniciei, com meu pai Carl Rogers e mais cinco colaboradores, 
workshops de verão residenciais chamados “The Person Centered Approach”. Por sete 
estações nós nos reunimos em várias partes do mundo (de San Diego, Califórnia até 
Nottingham, Inglaterra) com a participação de sessenta a cento e cinqüenta pessoas. 
Estes workshops foram grandes experiências de aprendizagem para mim como um dos 
membros do staff. Nós tínhamos encontros da comunidade (grupão), grupos de 
encontro, grupos de interesse e bons momentos. Jared Kass (um dos membros do staff) 
e eu sentimos necessidade de algo mais que falar e, logo oferecemos um “grupo de 
movimento” (o qual era muito mais que movimento, e alertava as pessoas para o fato de 
que elas não teriam que ficar apenas sentadas e falando) ou um “grupo de arte e 
movimento”, ou “espaço-studio” que envolveria toda a mídia. 
 Jared e eu não sabíamos como descrever o que fazíamos. Se tivéssemos que 
escrever uma brochura para divulgar nosso trabalho, nos atrapalharíamos. Como haviam 
muitas pessoas nestes workshops que se empolgavam conosco como pessoas 
experimentando coisas novas elas vieram aprender conosco. Jared e eu morávamos em 
lugares distantes e esta era a única oportunidade que tínhamos de nos encontrar em cada 
ano que trabalharmos juntos. Para mim, cada verão era a centelha que mantinha fogo 
aceso para este tipo de trabalho durante o ano. Após um dia estimulante em San Diego 
solicitei uma sessão de feedback acerca de trinta e cinco pessoas. Dei por mim tentando 
explicar o que eu e Jared estávamos fazendo, o que foi gravado: “Sinto que alguma 
coisa está acontecendo no intimo desta experiência intensa e que é realmente um tipo de 
experiência extraordinária, que não sei exatamente o que é. Conheço alguma coisa do 
que estamos fazendo. Estou atenta de que a forma que estamos operando, é uma forma 
de hemisfério-direito. Usamos um processo não linear intuitivo e integrativo. Jared e eu 
nos complementávamos e usamos nossa energia para criarmos essa experiência. 
 Posso lhes falar um pouco sobre o que isto é. Não é brincar, não é teatro, não é 
realmente uma improvisação, dança ou mímica. Não é arte terapia, não é diário escrito, 
não é trabalho de corpo, não é estimulação sensorial, e ainda (a esta é uma parte 
importante) é tudo isso junto. 
 “Jared e eu somos treinados em todas estas áreas e já vivenciamos tudo isso, 
tanto como participantes, quanto como professores. Mas o que me empolga é 
exatamente integrar, todas estas áreas e verificar que esta soma é mais do que qualquer 
um destes métodos em separado. Eu não compreendo exatamente o que ocorre e, é por 
isso que preciso de vocês para nos ajudar. Está bem para mim estar neste período 
duvidoso e de questionamento sobre o nosso trabalho. 
 “Estou consciente que estamos usando o sentido intuitivo, sensorial e 
cinesterico... Em nossa longa sessão diurna chamada “The Creative Connection” nós 
nos voltamos para: a criança em nós, o primitivo em nós, o mitológico, o alegórico, o 
psique e nossa conexão com o cosmos. Isto é, algumas vezes, eu sinto e me abro para 
receber o que estiver para emergir. Também percebo que algumas vezes nós 
encontramos nossas facetas primitivas e regredimos. Outras vezes nos sintonizamos 
com a natureza. Às vezes sinto mesmo que estamos conectados com nossas vidas 
passadas, se é que existe tal coisa”. 
 A carta seguinte a meus colegas também dará ao leitor o contexto no qual esta 
abordagem evoluiu: 
“Queridos amigos e colegas, 
 Este programa reflete meu desenvolvimento pessoas como psicoterapeuta. Como 
uma forte seguidora da teoria de meu pai, Carl Rogers, a Terapia Centrada no Cliente, 
eu primeiramente percebi que sendo uma ouvinte empática (isto é, ouvindoa “música” 
da mesma forma que ouça as palavras) e, partindo do ponto de referencia interno do 
cliente, possibilito que ele encontre sua verdade interior. É também imprescindível 
oferecer um clima seguro e de amor, onde o cliente e eu possamos ser abertos e 
autênticos. 
 A partir daí, tornei-me consciente do contexto político /social no qual vivemos. 
Nossas teorias de crescimento pessoas evoluíram fora das crenças, das necessidades e 
dos valores de nossa época. Em nossa era, os papéis masculino e feminino têm muito a 
ver com nossos problemas e patologias pessoais. Olhando para minhas próprias 
dificuldades nos relacionamentos, escrevia meu diário e, criava quadros ligeiros de meu 
humor, que capturavam meus sentimentos naquele momento. Sobre isto escrevi alguma 
coisa no livro “Emerging Woman” e fiz uma exposição artística: “Self Understanding 
through Expressive Art” (A mulher emergente). 
 Acredito que estamos na era da transformação. Como uma espécie nós ou 
alteraremos nosso estado de conscientização ou perecemos. Existem, evidentemente, 
muitas formas de transformar a conscientização de uma pessoa. Como terapeuta, olho 
novamente para a minha própria experiência, para encontrar minha relação com o 
universo. Descubro que, a medida que uso meu corpo em movimento com consciência, 
debato-me em emoções inexploradas, as quais podem então ser expressadas por meio da 
arte, escrita, sons ou movimentos/dança. Seguir esta sequência abriu-me as portas para 
meu intuitivo e criativo self (eu). Denominei esto de “The Creative Connection” ( A 
Conexão Criativa). 
 Nos grupos que facilitei, constatamos que o processo martela em nosso self 
primitivo, nosso self criança, nosso lado de sombra e nosso lado de luz. Uma 
conscientização de grupo emerge. Este processo é, para muitas pessoas uma integração 
de mente, corpo, emoção e espírito. Agora estou me juntando com outros para 
compartilhar nosso aprendizado. Queremos ensinar aquilo que queremos aprender. 
Você é parte do processo. Eu imagino uma árvore; as raízes são a filosofia centrada no 
cliente, tão básica para o crescimento humano; o tronco é o contexto social no qual 
existimos e os inúmeros galhos e flores são os modos de criatividade e beleza que temos 
dentro de nós. Estamos ainda para descobrir os frutos verdadeiros. 
Sinceramente, Natalie Rogers”, 
 Uma vez que as raízes da minha filosofia vêem da Abordagem Centrada na 
Pessoa ou Centrada no Cliente, de meu pai e uma vez que esta abordagem muito 
especificamente permite ao cliente encontrar seu caminho, tornou-se um dilema durante 
meus primeiros anos de profissional, de como eu poderia conduzir a pessoa em 
exercícios estruturados e ser também centrada na pessoa. Na década de 70, quando eu 
estava trabalhando em uma Universidade na unidade de pacientes internos, eu era uma 
terapeuta de grupo fazendo experiências com o uso da arte terapia e da ioga para ajudar 
a libertar estes jovens adultos de suas amarras emocionais. A medida que eu dava as 
instruções para que se movessem ou desenhassem, uma vozinha dentro de mim dizia, 
“Você não está sendo uma terapeuta centrada no cliente. Você está dizendo a esta 
pessoa o que fazer”. Eu sentia como se estivesse traindo a filosofia de meu pai. Os 
clientes, no entanto, me davam um feedback de que eu era muito tímida na maneira 
como passava as instruções para as pessoas. Eles me diziam: “Aquilo que você tem para 
oferecer é bom, não se desculpe por isso, mas fale alto e claro”. 
 A confusão na minha mente vinha da observação de meu pai como facilitador de 
grupo. Sua maneira pessoal de iniciar seus grupos de “crescimento pessoal” era dizendo 
as pessoas: “Sou Carl e estou aqui para conhecer você o mais profundamente possível e 
para deixar que vocês me conheçam”. Esta era toda a estrutura. Deste ponto ele seguia a 
liderança dos participantes. Este estilo, como eu vejo, é profundo no sentido de que 
imediatamente coloca toda a responsabilidade da direção do grupo nas mãos de cada 
individuo. Eventualmente eles começam a perceber que: “Se eu quero que aconteça 
alguma coisa, tenho que fazer com que isto aconteça”. Algumas pessoas aprendem 
rapidamente a se tornarem potentes, e outras nunca tiram proveito dessa oportunidade. 
 Uma vez eu aprendi muito por mim nestes grupos “não estruturados” sobre me 
potencializar, ainda levou algum tempo para que eu entendesse que existem meio de ser 
um “facilitador centrado na pessoa”. Centrado na pessoa, na minha mente, não quer 
dizer sem estrutura. Em minha opinião, a não estrutura de Carl é muito claramente uma 
estrutura com alguns resultados previsíveis. 
 Acredito que seja importante entender a diferença entre liderança e facilitação. 
Carl tem um estilo de liderança que abrange sua filosofia mas é também uma projeção 
da personalidade dele. 
 Sinto que quando aplico a filosofia dele a meus grupos, minha personalidade irá 
determinar a estrutura. Meus valores, minha filosofia, o modo que sou como facilitadora 
é aceitador, congruente, empático e vindo do coração (Não gostei das palavras 
consideração positiva incondicional). O que faço como facilitadora é oferecer as pessoas 
algum movimento, técnicas de arte e escrita, que irão dar a elas uma maneira de se 
expressar sem verbalizar. Eu as conduzo em exercícios estruturados em movimentos de 
modo que eles tenham o “vocabulário” com o qual poderão falar através de seus corpos. 
Eu os levo, através de experiências de arte, fantasia e escrita, que irão possibilitar a elas, 
a exploração de seu mundo interior. Deste modo, respondo a eles no meu modo 
(centrado na pessoa). Ser um psicoterapeuta e um facilitador de grupo é uma forma de 
arte baseada na filosofia e não na metodologia. 
 Para aqueles leitores que não sejam estreitamente familiarizados com a 
Abordagem Centrada na Pessoa, esta discussão pode parecer desnecessária. Para 
aqueles de nós que batalharam com o fato de terem um estilo diferente com o pai da 
Abordagem Centrada na Pessoa, isto faz sentido. 
 
 
 
 
 
O QUE É A TERAPIA EXPRESSIVA? 
 
 
 As palavras “Terapia Expressiva” ou “Terapia da Arte Expressiva” foram usadas 
para descrever as terapias não verbais: Dança-terapia, Arte-terapia e em particular, 
músico-terapia. Este termo inclui também terapia através da escrita (particularmente 
poesia), drama e teatro improvisado. 
 Minha própria definição evoluiu com o passar dos anos e inclui as palavras 
“Abordagem Centrada na Pessoa para a Terapia Expressiva”, para distinguir a minha 
abordagem da escola analítica de psicoterapia e das artes. Estou combinando o processo 
de psicoterapêutico centrado na pessoa com o uso de formas de expressão artística. 
 Meu processo é assim: 
 “O Terapeuta Expressivo combina o movimento arte-escrita, imaginação guiada 
pela música, meditação, trabalho corporal, comunicação verbal e não verbal, para 
facilitar o auto-conhecimento interior, a auto-expressão, a criatividade e estados mais 
alteados da consciência. Este é um processo integrador que utiliza nossas habilidades 
intuitivas tanto quanto nossos processos de pensamento lógico lineares. Envolvemos 
nossa mente, corpo, emoções e espírito: A Abordagem Centrada na Pessoa, 
desenvolvida por Carl Rogers, enfatiza ao papel do facilitador como sendo empático, 
congruente, aberto e honesto, na medida em que ele/ela escuta em profundidade e 
facilita o crescimento do indivíduo ou do grupo. Esta filosofia incorpora a crença de 
que cada indivíduo tem valor, dignidade e a capacidade de se auto dirigir”. 
 A medida que observo aquilo que outros terapeutas expressivos estão fazendo e 
escrevendo, chego a conclusão que eu e uns poucos colegas desenvolvemos um 
processo bastantesingular. Os departamentos das Universidades de Terapia Expressiva 
oferecem cursos separados de dança-terapia, arte-terapia, etc. Estou interessada em 
combinar as diversas formas de expressão para desencadear o potencial criativo que 
existe em cada indivíduo. Estou intrigada com aquilo que chamo “a conexão criativa”. 
Quer dizer, a conexão entre o movimento, escrita e arte. Quando toma consciência de 
meus movimentos, me abro para sentimentos profundos que poderão então ser 
expressos em cor, linha ou forma. Quando escrevo imediatamente após o movimento e a 
expressão artística, existe um fluir (algumas vezes poesia). Quando descobri este 
processo, por mim mesma, quis expandi-lo e criar uma atmosfera onde outros poderiam 
se explorar do mesmo modo. 
 Mais adiante irei discutir as várias sequências que desenvolvi para atingir entre 
processo de abertura. Por agora, quero frisar que estou dando ênfase a um processo, não 
aos produtos da arte ou execução da dança. Desejo permitir que as pessoas possam se 
desinibir (descascar a cebola) e usar os sentimentos que estão aflorando como uma fonte 
para seu auto-conhecimento e criatividade. Frequentemente isto leva também a uma 
sensação de unidade com o Universo. 
 Cito uma descrição em um curso de fim de semana: 
 “Se você dança mas não escreve, se você escreve mas não pinta, se você pinta 
mas não se move, este é um curso para você descobrir as conexões. Ou se você pensa 
que não faz ou não pode fazer nenhuma dessas coisas, junta-se a nós e você ficará 
surpreso. Nós criamos para conectar as nossas fontes interiores e para alcançar o mundo 
e o Universo. Iremos discutir como estas formas de expressão poderão ser usadas no seu 
trabalho e em suas casas”. 
 A estrutura improvisada fornece um caminho para usar todas as nossas partes 
livremente. Esta pode ser uma jornada alegre, cheia de vivacidade, onde aprenderemos 
em muitos níveis: o sensorial, cinestésico conceitual, emocional e místico. 
Aqui alguns participantes descrevem o que aconteceu para eles nestes 
workshops: “Explorando meus sentimentos descobri que eu poderia romper estruturas 
ou barreiras interiores, que havia imposto a mim mesmo, através do movimento/dança 
das emoções. Desenhar aquele sentimento após o movimento fez com que continuasse a 
fluir o processo de desdobramento. Aprendi a buscar novamente, a abrir Mao daquilo 
que “sei”, meus sucessos, minhas realizações e meus conhecimentos. Descobri a 
importância de ser capaz de recomeçar. 
É muito mais fácil para mim lidar com algumas emoções fortes “fazendo” do 
que falando/pensando”. 
Acredito que todos nós somos capazes de ser profunda e lindamente criativos 
quer visando esta criatividade no modo como nos relacionamos com nossa família, ou 
pintando um quadro. As sementes da maior parte de nossa criatividade vem do 
inconsciente, de nossos sentimentos e intuições. O inconsciente é o nosso poço 
profundo. Muitos de nós pusemos uma tampo sobre este poço. Os sentimentos também 
são uma finte de nossa criatividade, amor, ódio, medo, mágoa, alegria, todas elas são 
emoções que podem ser canalizadas em feitos criativos dança, música, arte ou escrita. 
Quais são os meus objetivos quando eu encaminho as pessoas através deste 
processo? 
Eu espero prover um clima onde as pessoas possam: 
 Explorar suas forças interiores (o que inclui olhar para o seu lado 
sombrio); 
 Experienciar a si próprio e aos demais de maneiras significativas; 
 Abrir-se para suas habilidades intuitivas; 
 Aprender a se expressas por diversos meios; 
 Experienciar uma consciência de grupo; 
 Integrar suas mentes, corpos, emoções e espírito. 
O que uma terapeuta expressiva faz é ajudar as pessoas a abrir o hemisfério 
direito de seu cérebro que é a parte que nos permite ser intuitivos holísticas, emocionais 
subjetivos. Acredito que se o mundo deve sobreviver e ir além desta era tecnológica 
nós, como indivíduos, devemos ampliar o lado direito de nosso cérebro. Porque, a 
medida que cada um de nós encontra seu equilíbrio interno, também o mundo entrará 
mais harmoniosamente em equilíbrio. 
Resumindo, um indivíduo que se torna um terapeuta expressivo centrado na 
pessoa se encontrará guiando as pessoas através do movimento consciente, das 
experiências artísticas pela improvisação com a musica e dramatização, numa atmosfera 
que compreende as diferenças e respeita a visão do mundo e os problemas pessoais de 
cada um. Tal terapeuta irá criar uma atmosfera de confiança e comunicação entre as 
pessoas e estará preparado para aprender dos participantes, permitindo ao processo do 
grupo emergir em um esforço criativo geral. 
 
 
PREPARANDO O CENÁRIO PARA UM PROGRAMA DE TERAPIA EXPRESSIVA 
CENTRADA NA PESSOA 
 
O ambiente físico: 
 O local em que estamos afetam nosso modo de sentir e aquilo que podemos 
fazer. Portanto um ambiente apropriado para nossas atividades criativas é essencial. Dos 
espaços que tenho usado três deles se sobressairiam como sendo muito adequados às 
nossas atividades. Um foi o espaço da Capela na Bélgica mencionado no início deste 
artigo, outro foi o espaço em uma velha capela em New College, em São Francisco e o 
terceiro foi o espaço dormitório em Ashland, no Oregon. Ambas as capelas tinham tetos 
bem altos, boa acústica, um grosso tapete no assoalho (que torna o sentar, deitar e 
movimentos no chão muito mais confortável), de um lado um palco baixo e uma 
iluminação que poderia variar. Ar fresco, alguma vista e privacidade são também pré-
requisitos. Se nós quisermos cantar alto ou agir como ursos cinzentos, devemos poder 
fazer isso sem incomodar os outros. O espaço deve ser grande o bastante para um grupo 
de vinte pessoas poderem se movimentar rapidamente sem bater nos outros. Ainda 
assim deverá ser íntimo o bastante de modo que, ao sentarmos em um canto falando 
sobre nossas descobertas interiores, não iremos sentir uma frieza impessoal no aposento. 
Um ginásio é muito grande e a maioria das salas de reunião são muito pequenas. O 
salão dormitório vazio, revestido de lajotas e as grandes janelas nos serviam muito bem. 
No caso de respingar tinta no chão, tornava-se fácil limpar. 
 Preparei a sala previamente de modo que, as pessoas ao chegar pudessem 
receber a mensagem (que fosse necessário que eu dissesse nada): aquele era um lugar 
para se brincar, para tentar alguma coisa nova, onde todos eles seriam ajudados no 
processo. Nas paredes, alguns cartazes que discutem o processo criativo e fornecem 
subsídios para o processo do grupo que estamos para começar. Alguns desses cartazes 
dizem: 
CRIATIVIDADE - “Não acho que a experiência do processo criativo significa o 
fenômeno sobrenatural que irá acontecer apenas em momentos muitos muito especiais. 
Também não acredito que ele seja frágil no sentido de que irá se dissolver ou 
desaparecer se tentarmos compreendê-lo... Ao invés, parece-me que criatividade é um 
predicado que todos nós temos. É um fenômeno humano que deverá ser experienciado 
por todos nós, que traz alegria e compreensão as nossas vidas” (COELLEN KIBERT). 
 “O motivo principal da criatividade parece ser a mesma tendência que nós 
descobrimos tão profundamente como a força curativa em psicoterapia: a tendência do 
homem de se atualizar, de reconhecer suas potencialidades” (CARL ROGERS). 
BRINCADEIRA – “O principio dinâmico da fantasia é a brincadeira que pertence a 
criança e, como tal, parece ser inconsciente com o principio do trabalho. Porém sem 
este brincar com a fantasia, nenhum trabalho criativo jamais nasceu. (CARL JUNG) 
 Em volta das paredes da sala estão localizadas mesas com vários equipamentos, 
material artístico, instrumentos musicais e fantasias. A medida que os participantescomeçam a se movimentar em volta do aposento para explorar o ambiente (o que eu os 
convido a fazer) isto é o que eles veem: 
 Uma mesa com material artístico incluindo tintas e óleo, vários tamanhos e cores 
de fita gomada, grampeadores, hifrocor, papel, argila, pratos de papel (para usar 
embaixo das peças de barro ou qualquer outro propósito) e talvez algum material 
para colagem como revistas, fazendas, algodão e lixas de papel; 
 Uma mesa com instrumentos musicais que qualquer pessoa seja capaz de tocar 
como: tambores, pratos, sinos, tamborins, triângulos, blocos de madeira, latas e 
jarras e flautas simples; 
 Equipamentos de som incluindo um gravador, um cassete e um sistema stereo 
com discos; 
 Uma mesa com fantasias, maquiagem e um espelho na parede. Quando eu digo 
“fantasias” não menciono item complicador de teatro, porém peças colecionadas 
durante anos para mudar o vestuário, coisas que podem ser convertida em 
muitos usos, tais como xales, chapéu de todos os tipos perucas, grandes pedaços 
de pano, bijuterias antigas, roupões de banho ou quimonos, um guarda chuva ou 
bengala, grandes jaquetas e mascaras. Esperamos que o aposento tenha um 
espelho bem grande assim como espelho de parede que providenciei 
anteriormente; 
 Algumas vezes tivemos materiais que poderiam ser usados para construir 
estruturas, coisas tais como escadas e pranchas de madeira, caixas ou módulos 
de papelão grosso, uma rede de tênis ou um para quedas. Estes itens podem ser 
usados para modificar totalmente o ambiente se os participantes assim o 
desejarem; 
 Uma mesa cheia de livros e artigos em exposição para consulta e leitura. Tenho 
livros com quadros de mascaras e grupos primitivos praticando seus próprios 
rituais e também os livros que constam das referências deste artigo. Os tópicos 
são: arte-terapia, terapia do movimento, músico-terapia, criatividade, discussões 
sobre o hemisfério direito do cérebro e artigos sobre o processo de grupo e 
psicoterapia centrada no cliente; 
 É conveniente também ter um colchão ou grandes travesseiros onde as pessoas 
possam cochilar, relaxar ou cair com segurança sem se machucar; 
 Caso meu sonho se realize, algum dia terei equipamento de vídeo e uma pessoa 
que goste de participar ficando atrás da câmera. Uma das mais eficazes 
ferramentas para a aprendizagem neste tipo de trabalho é o feedback pelo vídeo. 
Tive a ocasião de experienciar isto numa das aulas de movimento de Anna 
Halprin e achei de um valor incalculável. Usei esta técnica treinando 
conselheiros mas nunca tive a oportunidade de usar este sistema no meu trabalho 
de Conexao Criativa. Como participante você irá explorar este ambiente e as 
possibilidades de tentar novas coisas irão ocorrer. Talvez seja amedrontador 
antecipar o que pode vir a acontecer, se você não estiver se sentindo bloqueado 
no uso de qualquer desses materiais ainda assim a variedade de materiais é 
tentadora. Sua tendência natural será: pegá-los, olhá-los, tocá-los e experimentá-
los. Algumas pessoas têm a reação “Oh! Que bacana”, outras poderão pensar 
“Meu Deus! Em que espécie de bobagem eu fui me meter!” Outros podem se 
sentir tímidos, porém curiosos. 
 O ambiente, no entanto, compõe a atmosfera para o trabalho/brincadeira que irá 
acontecer. Apesar de eu estar coordenando um grupo sob luz florescente, num espaço 
sem janelas, de ar condicionado no Hyatt Hilton Hotel, gosto de criar um ambiente que 
proporcione comunicação, divertimento e intimidade, esteja eu na minha casa ou no 
trabalho. Ar fresco, luz natural e cores quentes ajudam. 
 
O CLIMA PSICOLÓGICO 
 
 Estou ciente, como facilitadora de grupo, que muitas pessoas se sentem 
inibidas, encabuladas ou bloqueadas quando se trata de usar seus corpos em movimento, 
ou usando materiais de arte, ou fazendo qualquer tipo de “performance”, ou mesmo 
escrevendo. Faço o possível para ajudar as pessoas a se sentirem bem-vindas, seguras, 
compreendidas e amparadas. Estou sempre lá para saudar as pessoas a medida que vão 
chegando. A medida, que o grupo inicia, apresento-me num nível pessoal contando aos 
participantes algumas coisas de minha vida corrente, sabendo que isso irá ajudá-los a 
falar sobre suas próprias vidas. Algumas vezes falo sobre vencer minhas inibições no 
movimento e na dança. Quando começo a usar meu material de arte, posso dizer: “Sei 
que seu professor de arte no ginásio disse que você não sabe desenhar, mas isto não é 
desenhar... é apenas um produto da arte”. Enfatizo que não estamos aqui para nos 
compararmos aos outros, mas para dar um passo adiante onde quer que estejamos agora. 
Frequentemente participo na movimentação, nos exercícios de arte e de escrita com um 
ou mais parceiros. Isto é divertido e frutífero para mim (muitas vezes chego a novos 
insights) e também permite aos participantes me conhecerem como pessoa tanto como 
professora. 
 O clima psicológico de segurança é realçado pelo meu respeito pessoal em 
relação a cada pessoa do grupo. Meu treinamento centrado na pessoa tem sido sempre o 
alicerce para a facilitação das habilidades do meu grupo. Quando eu me apresento ou 
quando as pessoas estão falando a respeito de seus problemas ou alegrias, deixo que elas 
percebam que eu realmente estou escutando, frequentemente acrescentando um 
comentário meu aquilo que eles disseram, demonstrando que escutei a “essência” de seu 
dilema. Isto foi denominado “escutar ativamente”. Qualquer que seja o nome que se dê 
a isto, sei que eu devo escutar a “música” tanto quanto as palavras, tenho que responder 
como coração. Algum feedback que tenha recebido de meus participantes ilustram o 
clima psicológico que tento criar. 
 “Natalie, seu equilíbrio entre participação e liderança esteve excelente. Sua 
energia acalma e é agradável”. 
 “Você (e Jared Kass) são excelentes lideres de grupos e professores logo a 
classe, realmente, tornou-se um processo ativo e coeso de aprendizagem”. 
 “Natalie esteve valorosa e receptiva, Jared esteve energético e inspirador”. 
 “Eles nos deram a liberdade e o auxilio necessário para todo este 
esclarecimento e crescimento pessoal”. 
 “O ponto alto foi a sua habilidade em facilitar o grupo em termos como nos 
relacionarmos uns com os outros”. 
 
MEU ESTILO DE LIDERANÇA 
 
 Como facilitadora de grupo, eu nos guio através de varias experiências 
(movimentos, arte, etc.), participo nestas experiências e então facilito e participo nas 
discussões que seguem. Revelo meus próprios sentimentos de ansiedade, raiva, o quanto 
me preocupo ou fico confusa quando falo sobre minha própria dança ou pintura. 
Também esclarecer os pensamentos e os sentimentos de alguns membros do grupo de 
um modo que mostre, “compreendo aquilo que você está dizendo como uma pessoa 
total”. Aprendi que quando eu ouço com sensibilidade e verbalizo aquilo que estou 
percebendo, outros membros do grupo seguem este exemplo, o que, em troca, leva um 
tipo orgânico de crescimento entre os membros do grupo, onde eles, eventualmente, 
tomam a responsabilidade por eles mesmos e por todos. Frequentemente questiono as 
pessoas para ajudá-los a localizar a tensão física ou seus corpos que podem estar 
acompanhando sua dor emocional ou sua raiva. No entanto, raras vezes interpreto aquilo 
que estão dizendo (ou dançando ou pintando ou escrevendo), se tenho uma suspeita 
sobre aquilo que eles estão sentindo, irei esclarecer com eles. Poderei dizer: “Suas 
palavras soam muito calmas e controladas, mas você me parece muito triste. Você tem 
consciência disto? “o participante então poderá entrarem contato com seus próprios 
sentimentos e verificar minha suspeita ou negá-la. Ele ou ela poderá dizer “não eu não 
estou triste. No fundo estou mesmo com muita raiva”. Este seu sentimento é aceito. 
 Pela minha maneira de trabalhar através de uma escuta sensível, respeito pelo 
outro e frequentemente dividindo o grupo em pequenos subgrupos de dois ou três para 
um compartilhar mais pessoal, os participantes muitas vezes tornam-se conselheiros 
entre si e a confiança no grupo impera. Quando o clima é psicologicamente seguro, os 
indivíduos podem assumir novos riscos. Se eles sabem que estão sendo respeitados, 
encorajados, empatizados e confrontados de maneira amável, estarão mais disponíveis a 
enfrentar o desconhecido. A seguir vem comentários de participantes que encontraram o 
ambiente seguro o bastante para desenvolver novos aspectos sobre eles próprios: 
 “Fiz coisas que sempre temi, como ficar em pé diante de um grupo e atuar”. 
 “Senti-me vivo e energético a medida que interpretei meu desenho ou 
representei um papel da nossa vila”. 
 “Liberar-me e criar espontaneamente apreciando aquilo que eu tinha criado 
foi muito importante para mim”. 
 “Quantos anos eu vivi tentando estar OK nos padrões de outras pessoa?” 
 Embora eu frequentemente participe das estruturas ou exercícios que eu 
mesmo dirijo, nunca perco contato com o fato de que como facilitadora sou a única 
responsável pelo clima psicológico do grupo. Com isto quero dizer que deixar a 
comunicação aberta entre a pessoas (particularmente no desenrolar de uma situação 
durante o encontro) é responsabilidade apenas minha. Isto implica no estabelecimento 
de algumas regras para a liberdade a segurança emocional e física. Tenho um pôster 
com minhas regras escrita como um primeiro passo para que as pessoas possam 
compreender o que se espera delas no processo do grupo. Creio que todos os 
facilitadores de grupo desejam obter dos participantes um certo comportamento e 
atitudes (tal como ser honesto e aberto com relação a seus sentimentos) e é de ajuda que 
se tenha algumas destas expectativas colocadas em aberto. O mistério em relação ao 
processo do grupo então desaparece. 
 Estas são as regras que estou usando no momento: 
1. Estar ciente de seus sentimentos são uma fonte para que a expressão criativa seja 
canalizada para a arte (pintura, argila ou colagem) ou escrita ou movimentação. 
Por exemplo se você está se sentindo confuso, você pode dançar ou desenhar a 
confusão. Mesmo se você estiver cansado, você pode dançar este cansaço. Se 
você estiver triste ou alegre você pode usar cores ou um poema, uma canção ou 
um movimento para expressar estes sentimentos. 
2. Esteja ciente de seu próprio corpo e cuide de si próprio neste grupo. Você é a 
única pessoa que sabe se está sofrendo alguma dor e precisará adaptar os 
movimentos às possibilidades de seu próprio corpo. 
3. Todas as instruções dadas são sempre sugestões. Você tem a opção de não as 
seguir. 
4. Se você escolher observar, seja um observador participante. Isto poderá ser um 
importante aprendizado para você e para o grupo. Você pode: 
a) Identificar-se com alguém no grupo e experienciar através do outro; 
b) Estar atento a interação e dinâmica do grupo; 
c) Observar sem julgar. 
5. Estas experiências e, em particular a movimentação, mexem com muitos 
sentimentos. Se você sentir vontade de chorar ou emitir sons altos, isto é 
definitivamente OK! Deixe que cada pessoa tenha seu próprio espaço para 
experienciar estes sentimentos em profundidade sem interrupção para que ele/ela 
possa encontrar uma maneira de colocar estes sentimentos dentro da arte, 
movimento, música, sons ou escrita. Não se apresse muito em “ajudar”. Preste 
atenção aos outros e seja atencioso, porém use seu bom julgamento ao permitir a 
eles o tempo suficiente para experienciar seus sentimentos. 
 
COMPONENTES BÁSICOS DO PROGRAMA DA TERAPIA EXPRESSIVA 
CENTRADA NA PESSOA 
 
 A maioria dos programas de arte-terapia movimento, arte, escrita e 
musica-terapia como cursos separados. Isto merece legitimo. Eu mesma estudei 
movimento e arte-terapia separadamente. Gosto de pensar que estou oferecendo 
alguma coisa única neste campo pela pesquisa da conexão entre estes modos de 
expressão. Uma vez que eu gostei de dançar, pintar e escrever, me parece natural 
que eu deseje colocar todas estas boas coisas no trabalho que faço como psicóloga. 
Afinal, não é a orientação da vida, fazer todas as coisas que se gosta e receber algum 
pagamento por isso? 
 Gostaria de discutir a terapia orientada humanisticamente atrás de cada 
modo de terapia que utilizo. Gostaria de falar sobre cada modo separadamente, 
descrevendo mais tarde como eu as coloco em sequência. 
 Existe uma diferença entre workshop de terapia expressiva e um 
programa de treinamento. Os workshops são basicamente para o crescimento 
individual dos participantes. Num programa de treinamento gastamos o tempo 
discutindo cada uma das modalidades de terapia separadamente, rebuscando dentro 
da teoria a aplicação. 
 
ARTE COMO TERAPIA 
 
 Cor, linha e forma fala a nós. A arte é uma linguagem. Ao pendurar 
quadros nas nossas paredes ou indo a exposições de arte, estamos absorvendo a 
mensagem daquela linguagem. Quando pegamos um giz vermelho na nossa Mao e 
passamos no papel, nós estamos falando. Esta, é uma linguagem que não necessita 
passar pelo processo de fazer palavras. É direta. Quando rabiscamos no bloco de 
telefone estamos falando a nós mesmos (não sabemos aquilo que estamos dizendo 
mas se olharmos realmente para os rabiscos poderemos ter uma impressão geral da 
mensagem). As crianças se sentem confortáveis com esta linguagem. Durante um 
tempo de sua vida, você não tinha consciência disso. Crianças pegam as cores e 
brincam. Elas não estão preocupadas com a aparência do desenho ou aquilo que os 
outros pensam sobre ele. Elas estão “explorando” livremente. A medida que vamos 
crescendo, começamos a procurar aprovação imitando os outros e nos tornamos 
preocupados com aquilo que fazemos. 
 Como uma arte-terapeuta, estou tentando criar uma atmosfera onde 
passamos a re-experienciar a comunicação direta com a cor e a linha que tínhamos 
como crianças. Não podemos de maneira nenhuma ser aquela criança novamente. 
Nós sabemos demais. Mas existe umas maneira de nos permitirmos o luxo e a 
alegria de nos expressarmos através da arte: pintura, pastel, colagem e barro. 
 Janie Rhyne, em seu livro “Gestalt Art Experience” (2), define cada uma 
destas três palavras. Ela resume dizendo: 
 “Gestalt Art Experience, então, é todo o conjunto pessoal que você traz 
nas formas de arte, estando envolvido nas formas que você cria como eventos, 
observando o que você faz, na esperança de perceber através de suas próprias 
produções artísticas não apenas sua própria pessoa como é no momento, mas, 
também, alternando os caminhos que estão à sua disposição, criando aquela pessoa 
que você gostaria de ser”. 
Janie continua, 
 “Imagino que estou usando a comunicação artística como uma ponte 
entre as realidades internas e externas, encorajando as pessoas a criarem sua própria 
forma de arte visual e usá-las como mensagens que estão mandando para si 
próprios. Tomadas visíveis, as mensagens podem ser percebidas por quem as faz 
uma vez que quem envia e quem recebe são a mesma pessoa, as chances de perceber 
o conteúdo total da mensagem (gestalt), são grandes”. (3) 
 Como participante de um dos programas de treinamento da Janie, há 
alguns anos, fui encorajada a manter uma coleção de meus trabalhos de arte.“Durante o dia”, ela disse: “Pegue as canetas hidrocor ou o pastel e façam um 
rabisco. Guarde estes rabiscos por muitas semanas e vejam o que acontece”. 
 O que me aconteceu foi que eventualmente deixei de me preocupar como 
produto e apenas me divertir como processo. “Divertir” talvez seja a palavra errada. 
Eu usei esse processo para descarregar alguns de meus sentimentos a respeito de 
meu divórcio, de frustração, perda de identidade e de amor. Durante muitos anos 
deixei de olhar os rabiscos. Quando o fiz, notei uma progressão como uma onda. Os 
sentimentos chegando a um pico, se quebrando, se revolvendo, se espalhando e 
então chegando a um pico novamente. Alguns dos rabiscos são barrados e feios, 
alguns são gráficos, outros cheios de paixão e êxtase. Os blocos de papel que usei 
cresceram de cindo ou seis polegadas para taboas muito maiores. Aparentemente os 
de tamanho pequeno não mais puderam conter meu processo (4). 
 Agora passo para vocês o presente que Janie me deu. Eu encorajo os 
outros a manterem seus arquivos de arte e sou a eles exemplos suficientes de 
experiências nos meus workshops para que eles possam realmente utilizar esta nova 
forma de linguagem, para que possam ver e entender a si próprios 
 O barro é algo que me interessa muito. A maioria das pessoas tem menos 
preconceito sobre o que é “bom” e “mau” em esculturas e acham mais fácil apenas 
brincar com o barro. A arte terapeuta Margaret Frings Keyes diz: “Materiais de arte 
vivificam o processo e atingem diferentes níveis de personalidade muito mais do 
que podem as palavras. O barro é usado pelas suas qualidades sensoriais, táteis e 
capacidade de exprimir o não verbal. Eu particularmente gosto de usá-lo quando 
tenho alguém que se mantém afastado de seus sentimentos pela análise e 
especulação dos porquês de seu comportamento”. (5) 
 As palavras dos participantes do workshop descrevem o processo: 
 “Fiz dez rabiscos que disseram uma historia real sobre mim mesmo, a 
qual eu não estava ciente durante o processo de fazê-los”. 
 “... Desenhar com a minha mão esquerda abriu minha criatividade, me 
fez mais solto”. 
 “Criar arte após me movimentar leva a criação mais espontâneas”. 
Frances Fuchs,minha filha feminista e arte-terapeuta coloca isto poeticamente: 
 “A maior parte de minha dor psicológica chegou quando eu senti minhas 
próprias possibilidades se estreitarem, quando o mundo pareceu pequeno e se 
fechando. Foi naquele tempo, em que mais usei meu diário de arte, que a cor e a 
forma abriram portas até então desconhecidas para mim, o auto conhecimento”. 
 Um propósito de arte-terapeuta é ajudar o individuo a liberar sua energia 
criativa (daí para frente a escolha é sua, até mesmo para adquirir a habilidade e 
disciplina necessárias tornando essa criatividade um produto profissional). A perda 
da inibição pelo uso de materiais de arte é um grande passo. Fomos condicionados, 
por muitos anos, para nos tornarmos inibidos principalmente por nossos professores 
que nos graduaram em trabalhos de arte ou que nos disseram que não poderíamos 
desenhar. Agora, leva tempo desatar estes fios apertados que nos amarram. Algumas 
pessoas arrebentam estes fios, outras vão se enrolando lentamente. 
 Eu jamais presumi que tivesse me desatado. Ao contrario, criei um 
ambiente para que eu também possa desenrolar os fios do condicionamento social 
que diz: “O produto é aquilo que valemos, o processo meramente nos leva aquele 
produto”. 
 
MOVIMENTO COMO TERAPIA 
 
 Todos nós nos movemos todo o tempo. Tente ficar perfeitamente parado 
e verá que isto é impossível. Movimento é vida e vida é movimento. Nossos corpos 
estão expressando nosso estado interno todo o tempo. Mesmo assim a maioria de 
nós fica congelada se alguém nos pede para nos mover ou dançar ou expressar 
aquilo que estamos sentindo. 
 Atualmente, a movimentação pelo exercício físico está nos levando para 
fora da cadeira de escritórios, durante hora de almoço para correr ou para as 
academias, para nos esticarmos e adquirir força com exercícios aeróbicos. As 
pesquisas dizem que as pessoas se sentem melhor, não apenas fisicamente mas 
também psicologicamente; os corredores falam a respeito de estados alterados de 
consciência durante a corrida ou de refletirem sobre um problema obtendo então 
insights durante o percurso. 
 Mary Whithehouse, uma dança-terapeuta de orientação humanista disse: 
“Expressão criativa no movimento físico é linguagem sem palavras”. Ela está 
dizendo que temos um completo sistema de linguagem (nossos corpos) que ainda 
não havíamos percebido como tal. Estamos falando com ou através de nossos corpos 
com cada bocejo, cada gesto, nossa distancia ou proximidade, e ainda assim poucas 
vezes percebemos ser esta uma forma de falar. 
 O tipo de movimento que estou usando em meus grupos é um movimento 
com consciência. A pessoa que está na aula de aeróbica não está propriamente 
“sentindo” o movimento ale da preocupação em realizá-lo. O “movimento 
consciente focaliza intencionalmente os sentimentos evocados quando alguém se 
move. Quando estou tentando alcançar o céu com meus braços estendidos como me 
sinto? Onde eu sinto o movimento? Quando eu estou na posição fetal, no solo, como 
me sinto? Sozinha? Segura? O que acontece quando começo a me esticar 
gradualmente? Se estou satisfeita que movimentos irão expressar este sentimento 
para poder me comunicar com meus amigos? Se eu estiver zangada, que 
movimentos irão demonstrar a zanga, soltá-la e me levar para outro nível? 
 Cheguei a conclusão que o modo como a pessoa se move, reflete seu 
estado interior e sua personalidade. A dança-terapeuta Susan Wallock diz o 
seguinte: 
 “O corpo e a psiquê são uma totalidade e a condição física é analogia à 
condição psicológica. A comunicação não verbal revela como é o indivíduo, mesmo 
que suas palavras digam outras coisas. Um principio na dança-terapia é que o corpo 
não mente e que o movimento pode ser uma representação gráfica, uma metáfora, 
para a dinâmica intra-psiquica da personalidade”. (6) 
 O primeiro passo na terapia do movimento é nos tornarmos conscientes 
de nosso corpo – nossos movimentos no dia a dia tornam-se tão automáticos que 
não temos consciência de como nos movemos ou qual o conteúdo emocional que 
este movimentos passam. Podemos nos tornar conscientes de nossos corpos 
focalizando nossa atenção em nossos movimentos. Se por exemplo, estou 
caminhando com a cabeça para frente guiando meu corpo, preciso focalizar sobre 
como me sinto. Posso exagerar, para entender o que isto está causando a meu corpo. 
Posso reverter o processo pressionando meu queixo ao peito firmemente. Então, 
posso sentir as emoções que estou carregando e demonstrando, ao viver a vida 
“esticando meu pescoço para frente”. 
 O segundo passo no processo é confiar no impulso interno do corpo e 
deixar que o movimento aconteça. 
 Pedi aos participantes que fizesse um movimento “isto sou eu” 
começando com um impulso e deixando que o movimento leve a dança a diante. A 
emissão de sons ajuda a conscientização dos sentimentos que estão ligados ao 
movimento. O inconsciente fornece a centelha que põe o corpo em movimento. É a 
diferença entre fazer alguma coisa e deixar que alguma coisa aconteça. 
 O terceiro passo é fazer a conexão externa com o que estava ocorrendo 
intra-psiquicamente, (7). Por exemplo, um dos participantes começou o movimento 
“isto sou eu” no chão enrolado como uma bola apertada. Ele experimentou isto 
fazendo sons diferentes durante o movimento. Gradualmente ele tornou-se ciente da 
ligação com sua vida real, a segurança que sentiu enquanto se esticava ficando 
aberto e vulnerável. Foi destemodo que ele relacionou seu movimento espontâneo 
com sua realidade psicológica. 
 Este homem agora pode criar um movimento ou dança que irá exagerar e 
demonstrar os elementos de segurança e medo que vem de alguma resolução interna 
cinestesicamente. Quando dançamos nossos sentimentos, pode-se mudar o estado 
emocional, por varias vezes, permanentemente. O movimento espontâneo ou 
improvisado, particularmente em um grupo, pode ser o caminho de conexão com 
nosso inconsciente e nosso conteúdo espiritual. Diversos comentários dos 
participantes falam sobre este tema: 
 “O movimento foi o parteiro de meus sentimentos, a arte tornou-se a 
expressão dos mesmos”. 
 “Através de meu corpo tive minhas experiências mais profundas: os 
exercícios que me tornaram pequeno e me fizeram sentir dor e os movimentos 
expansivos que me trouxeram uma sensação de alegria e poder”. É interessante 
notar que o mesmo exercício evocou sentimentos opostos no homem que discutimos 
acima). 
 “Devo dizer que não dancei. Quando você nos pediu que fossemos 
semestre e começássemos a crescer, eu era a semente no solo: isto me dançou! Sou 
apenas um homem de negócios. Nunca vi um fantasma ou um espírito mas “isto” 
dança. Fiz algo, importante para mim. Isto me deu um imenso prazer”. 
 Um outro participante fala de sua experiência retirado de uma fita 
gravada de uma sessão de feedback em São Diego. 
Ray: Entrei em contato com quão poderosa é a inibição que tenho sendo um homem 
de nível acadêmico, com todo o processo de socialização que me inibe. Sempre me 
choquei com a experiência estética, que é para mim olhar as pessoas dançarem. Fico 
nostálgico e me pergunto: “Porque nunca aprendi a fazer isto? Por que eu conservo 
esta parte em mim mesmo reprimido?”. 
Natalie: Você poderia descrever sua experiência ontem? O que aconteceu com 
você? 
Ray: Eu me lembro de ter sentido muita raiva. Eu estava dando nós com minhas 
próprias mãos e com as mãos de outras pessoas. Estou desatando os nós. Quando fiz 
este gesto com meu corpo e minhas mãos, tomei consciência de como estes nós são 
apertados e que grande fonte de raiva é isto. Eu poderia sentar e pensar sobre esta 
minha raiva durante vinte e duas horas e jamais estar tão consciente do que esta, na 
realidade, fosse! Mas a medida que eu me senti a mim mesmo me opondo ( ele fez 
uma demonstração juntando as duas mãos e separando uma da outra fortemente. 
Natalie: Quando olho para você afastando suas mãos dessa maneira, realmente 
entendo o que você quer dizer sobre se opor a você mesmo e o sentimento interno de 
raiva. 
Ora (uma mulher de uns 60 anos) fala a respeito da alegria que sentiu a respeito da 
experiência: de movimento: 
 Há alguns anos e anos que venho desejando que um homem forte me 
segurasse pela cintura e rodopiasse comigo, preferivelmente na praia. Tenho tido 
esta visão ou desejo há muito tempo. Aqui eu expressei este desejo verbalmente. A 
realização desse desejo infantil foi maravilhosa. Emocionalmente eu voei! O 
despertar desta criança em mim foi uma delicia”. 
 Eu citei estes participantes para ilustrar o valor da pessoa se tornar 
consciente e se expressar através do movimento. A excitação do homem de negócios 
que descobriu que aquela experiência “o dançou”... Que experiência maravilhosa. 
 Susan Wallock, citou sua professora Mary Whitehouse: “Quando o 
momento em que “sou movida” aconteceu, é espantoso tanto para os que dançam 
como para os que não tem a intenção de dançar. É o momento quando o ego perde o 
controle, para de escolher, para de exercer de mandar, permitindo ao self tomar a 
iniciativa, movendo o corpo físico à sua vontade. É um momento de rendição da 
premeditação que não pode ser explicada, descrita exatamente, buscada ou tentada... 
Isto é humilhante e libertador para a personalidade que exige perfeição, controle, 
conformidade e todas as doenças de nosso condicionamento social”. 
 Tenho notado que, prestando atenção a experiência do movimento, nós 
podemos encontrar níveis mais profundos de nosso ser e então usar este 
conhecimento como um recurso para criar outros movimentos ou dançar (ou pintar, 
escrever, criar música). 
 O homem que se percebeu com nós se opondo a si mesmo, poderia, se 
estivéssemos tempo, expressar aquele conflito e talvez mover seu caminho dentro de 
um novo sentido de si mesmo. A medida em que ele foi, mais cinestesicamente 
entrando nessa experiência de se atar em nós, ele poderia ter sido encorajado a 
encontrar um caminho e viver a experiência de libertar-se fisicamente, dissolvendo 
estes nós. Esse tipo de aprendizado cinestésico dura muito tempo. É uma espécie de 
“ah há” que permite a uma pessoa “saber” o que é certo e apropriado para si mesmo. 
Existe uma mudança para o hemisfério direito o aprendizado intuitivo neste tipo de 
experiência. Uma vez mais eu cito Wallock, descrevendo sua professora: 
 “Foi como se, na sessão, houvesse uma mudança da conscientização para 
a forma do hemisfério direito, tanto em Mary quando no cliente. Houve uma 
vontade de suspender o julgamento, de se relacionar com as coisas como elas eram 
no momento presente, de entender os relacionamentos metafóricos, de ver as coisas 
em relação as outras coisas e perceber como as partes poderiam se juntar para 
formar um todo. De fato, a abordagem de Mary, movimento em profundidade, 
encorajou a mudança do processo analítico verbal para um processo espacial e 
global. Ela sempre falou a respeito de se confiar na intuição das pessoas, trazendo 
insights muitas vezes baseados em padrões incompletos, palpites, sentimentos, 
imagens visuais que seriam funções do hemisfério direito”. (8) 
 Desde que, descobrir novos aspectos de mim mesma, através d 
movimento, não me surpreende, é que eu desejo encontrar maneiras de criar um 
ambiente propício para outros. Em meu livro, “A mulher Emergente – Uma década 
de transição na meia idade”, eu descrevo uma das experiências que tive no Anna 
Halprins Dancer`s Workshop; em São Francisco. Aos 42 anos de idade, eu estava 
reencontrando meu corpo e aprendendo a delícia do movimento. Eu teria adorado 
dançar como criança, mas deixei de lado, à medida que me tornei adulta e mãe 
“responsável”. No workshop de Anna desenhei um auto-retrato de tamanho natural 
de meus lados direito e esquerdo. Pendurei esse retrato na parede, o estudei e dancei 
aquilo que tinha desenhado, sendo filmada pelo vídeo. 
 Devido à câmera, pude ver minha atuação de 10 minutos. Foi uma 
experiência profundamente movimentada, sacudida e tremula. Eu dancei o meu lado 
direito. 
 “Estou rígida, circunspecta, me acuso, me culpo e me coloco para baixo. 
Eu sou energética comigo mesma, bato meus pés para mim mesma, ma por dentro 
estou trêmula. Sinto pânico. Me ponho no chão e me arrasto, batendo meus punhos. 
Meu lado direito julga, é circunspecto e duro para comigo. Eu me canso. Então 
levanto e me movo para atirar meu lado esquerdo. 
“Estou livre coando, alegre e lírica, graciosa. Relaxo gradualmente. Sinto meu eu 
espiritual, sensual, indo através do espaço. Divirto-me por muitos minutos. Faço um 
contato visual com algumas das pessoas da sala. Este foi o primeiro movimento em 
que me atrevi a olhar para qualquer pessoa... Sinto-me muito exposta, como se todas 
as pessoas estivessem vendo um eu interior que eu acabava de começar a ver”. 
“A medida em que danço meus dois lado tomo consciência que isto é o dialogo 
continuo entre estes dois aspectos de mim mesma, que é parte de minha fonte de 
criatividade. Se um lado de mim dominasse totalmente os outros aspectos, aí então 
eu deveria começar a me preocupar comigo mesma. Se eu me tornasse 
completamente lógica, linear em pensamento,pragmática, moralista e circunspecta, 
eu iria me achar simplória e monótona. Se eu fosse predominantemente intuitiva, 
receptiva, sensual e espiritual, eu iria me sentir fora da realidade, desligada e 
estranha. É esta confrontação ocasional face a face de ambas as minhas partes que 
traz grande excitação.” (1) 
 É desta forma que sei, tanto pela minha própria experiência quanto pela 
condução da experiência de outros, que ao expressar nossos sentimentos através de 
movimentos, descobrimos, em um nível cinestésico novos aspectos de nós mesmos. 
 
ESCRITA COMO TERAPIA 
 
 Eu aprendi sobre a escrita livre de Patsy Cumming e seu grupo de 
colegas do Departamento de Humanidade do MIT (10). Eles haviam me pedido que 
co-liderasse um workshop de cinco dias com eles para aumentar suas habilidades no 
Ensino Centrado na Pessoa. Os doze ou mais professores de redação e literatura se 
reuniram no meu local de trabalho o dia inteiro, durante uma semana. Foi um 
período muito significante para mim como professora/aluna. Próximo ao fim de 
semana, me atrevi a mostrar um trabalho que havia escrito para Patsy, que encorajou 
a continuar. Eventualmente esta redação se tornou um livro: A Mulher Emergente. 
 Patsy descreve a “escrita livre” que ela e seus colegas visam em seus 
grupos: 
 “A escrita livre é um exercício básico e muito simples, assim como tocar 
o dedão do pé alternadamente com suas mãos ou a respiração diafragmática, que 
todos deveriam fazer todos os dias, porque é fácil (leva apenas 10 minutos) e os 
benefícios morais, espirituais e físicos são incalculáveis. Isto ajuda você a se 
conhecer, pode livrar você do mundano ou mostrar que você está perdidamente 
emaranhado nele. É melhor que aspirina para tensão e não tem contra indicação. 
Ajuda quando você está deprimido e algumas vezes a encontrar o motivo de sua 
preocupação. Estas são as instruções que damos para os grupos, os amigos e para 
nós mesmos: 
 “Escreva durante dez minutos. Não pare de escrever. Não se preocupe 
com a ortografia, a pontuação, as frases e com a gramática. Se você não pode 
lembrar de nada para dizer, escreva “Eu não tenho nada para dizer”, uma porção de 
vezes, até que você vai se lembrar de alguma coisa. Não releia aquilo que você 
escreveu (pelo menos por algum tempo). 
 “A escrita livre não é apenas um meio de se saber aquilo que se está 
pensando, mas também como, em que ritmo, em que palavras, em que frase; é uma 
saída para pessoas que estão bloqueadas pelas linguagens dos livros, de textos ou 
pensamentos dos outros para encontrar os seus próprios”. 
 “Para pessoas, cujo treinamento serviu, principalmente para torná-los 
mais conscientes de sua redação, pode acontecer que pensamentos e sentimentos que 
eles acreditavam jamais poder expressão irão aparecer muitas vezes de maneira 
fluída e coerente no papel. Alguns dos melhores textos que vi foram escritos quando 
eu parei de “ensinar” e pedi que o grupo escrevesse por dez minutos”. 
 “Especialmente no começo é importante que as pessoas encontrem 
receptividade em suas escritas livres...” (11) 
 Eu concordo com Patsy. Nós, definitivamente, precisamos de um 
auditório empático e encorajador para nossos poemas recém-nascidos. Nos grupos 
de terapia expressiva eu tento estabelecer este tipo de segurança psicológica. 
Quando peço às pessoas para fazerem sua escrita livre, sempre aviso: “Não censure 
aquilo que você escreve. Você não irá compartilhar aquilo que escreveu com 
ninguém a não ser que deseje. Seja honesta consigo mesmo, no que escrever; mais 
tarde você poderá decidir se deseja ler seu artigo para outra Pessoa”. 
 Após o processo de redação, peço as pessoas que se encontrem em 
grupos de três e quatro. Em geral elas preferem compartilhar seus escritos em 
grupos mais íntimos. Se não quiserem ler, sua privacidade é respeitada. Caso o autor 
leia seu trabalho com a voz muito tímida, algumas vezes pergunto se posso ler para 
eles com minhas próprias entonações. Então o poder daquilo que eles escreveram e 
o ritmo que deram à sua redação tem um impacto maior. As pessoas ficam surpresas 
com aquilo que transparece e como isto emerge. 
 Minha própria teoria é que movimento e arte aumentam o ritmo e liberam 
a, expressão, aumentando a criatividade para a redação. Por exemplo, a redação livre 
com a qual eu iniciei este artigo oferece um estilo que, me é muito pouco familiar. 
Ela veio a mim do ritmo que foi estimulado, eu acho, pela dança que vínhamos 
fazendo. 
 A maioria dos participantes diz que a escrita livre é bem diferente de 
qualquer outra escrita que já tenha sido feita por eles. Aqui vão três exemplos de 
participantes do grupo. O primeiro é de um homem, Bermard Bronimel, que co-
escreveu Family Communications. Ele é professor na Northeastern Illinois 
University: 
 “Eu me sinto como um diamante multifacetado, cinzelas e brilhantes. 
Nem sempre me senti assim e, depois de ontem à noite, eu nem mesmo tinha 
motivos para me sentir tão brilhante, reluzente ou facetado. Esta manhã, com meu 
filho também não foi muito boa mas, diabos, basicamente eu tenho a pedra. Sou eu. 
Eu venho escavando naquela rocha - eu – por 51 anos. 
 “Muito tempo já passou desde aqueles dias em uma fazenda em Iowa e a 
escravidão, a miséria, que eram parte de minha vida lá. Porém, depois de inúmeras 
mudanças, direções e graus, eu agora sei quem sou e já é tempo de faturar algumas 
das facetas, começar a usá-las e então aproveitar também aquilo que foi criado”. 
 “Eu sou eu ainda que imperfeito, o diamante simboliza aquela luta pela 
perfeição. Obrigado, mamãe, por aquele senso do que é certo – faça sempre o 
melhor que puder – é a vontade de Deus – você é inteligente – e daí – seja humilde. 
Os que são realmente grandes são sinceramente humildes. (Eu tinha que continuar 
movendo a caneta). Não quero nem mesmo olhar para o que ficou para trás e usar o 
que ficou guardado nas facetas da pedra”. 
 “Deixe que a pedra ilumine o caminho com seus reflexos para me ajudar 
a encontrar os meios e os propósitos para que eu seja mais autentico. Crie tempo e 
espaço para mim e deixe de lado a missão de resgate para tantos outros. Deixe 
algum tempo para a preguiça – para olhar o Lago Michigan da janela. Melhor, 
ainda, para sentir a água nos meus pés, para correr pelas suas viagens e me 
embriagar com a beleza do seu pôr do sol e do seu amanhecer”. 
 “Deixa que eu lide com a solidão sem que seja necessário ter alguém 
significativo para compartilhar comigo. Vamos compartilhar juntos e encontrar 
algum significado misto”. 
 O segundo exemplo é elegante em sua simplicidade. O autor participava 
de uma Conferência de Liderança em Chicago: 
 “Os altos e os baixos - notas 
 “O perto e o longe – alcance 
 “O céu e a terra – toque 
 “O preto e o branco – mistura 
 “O mesmo e o diferente – todos os homens são criados iguais 
 “O fraco e o forte – espaço 
 “Vida e morte – Homem” 
 O próximo trabalho foi escrito por um oficial de justiça no Condado de 
Main. Eu estava particularmente satisfeita em trabalhar com dois grupos de oficiais 
de justiça, cujo trabalho era muito desgastante e não muito compensador. Eu 
esperava que o material que estava dando a eles durante o programa de dois dias 
seria útil para seus clientes. Eles disseram: “Não, nós não podemos adaptar seu 
material para trabalhar com nossos clientes, mas precisamos muito deste sentido de 
renovação e criatividade que estamos obtendo com seu trabalho. 
 Joseph Doherty escreveu: 
 “Sua beleza é como uma rosa que, cortada, nasce vagarosamente do solo, 
atirando seus caules em direção ao sol, e logo as minúsculas pétalas entrelaçadasdesabrocham em botão. Este pequenino ser surge e envia um grito para todos os 
seus vizinhos “aqui estou eu” e todos vem correndo. Primeiramente a fuga 
precipitada, indo a procura do suprimento, prossegue volta e parte novamente, 
depois pára, os chifres contorcidos no fulgor matinal apressam-se, para trás e para 
frente, no mesmo caminho. Outros juntam-se, um a um e, depois a cavalgada, todos 
vindo de lá para cá, ansiosos para saudar o recém chegado. E sempre o recém-
chegado é um amigo não para um, mas para milhares de habitantes que, diariamente 
se revezam para cumprimentar. Por agora, o botão rompido transborda de excitação 
e tamanho. Ele está notável, ainda que desajeitado, uma sensação de espanto no que 
está para acontecer. Novos amigos chegam, cada um com uma saudação diferente – 
cada um maior em sua acolhida do que o anterior – algumas vezes deixando 
presentes e saudações para o menino em crescimento. 
 “Dentro de semanas, o botão se separou e cresceu, olha em volta e vê que 
está numa multidão, existem muitos outros, todos iguais, porém na verdade todo 
diferentes. Novamente bem abaixo, este botão maior começa a mostrar sinais de cor. 
Ele vigia, à medida que as semanas passam e devaneia , enquanto as pétalas macias, 
leves e sensuais começam a se abrir”. 
 Existem outras formas de escrever, que eu aconselho as pessoa as 
experimentar também. Freqüentemente nós escrevemos cinco ou mais comentários 
“Eu...” nas costas do trabalho que criamos tais como “Eu me sinto só” ou “eu me 
sinto esquisito e inseguro” ou “Eu estou voando alto”. Isto pode ajudar os 
indivíduos a vivenciar seu trabalho mais do que analisá-lo ou interpretá-lo. 
 
MÚSICA E SOM COMO TERAPIA 
 
 Discuti algumas das teorias e práticas que adotei nas terapias de arte, 
movimento e escrita. Tenho menos experiência ou conhecimento sobre música e 
som como terapia, mas sei, intuitivamente, que isto é básico para o conhecimento de 
nós mesmos. Espero aprender mais com minha filha Janet Fuchsns nesta área. Como 
musicista, ela e suas colegas estão explorando o uso terapêutico do som. 
 Eu encorajo os participantes a usarem os instrumentos musicais que 
coloco à sua disposição. Quando estamos comendo ou jogando, ou quando um 
pequeno grupo está “dançando suas pinturas” eu escolho o grupo que observa para 
participar, usando instrumentos ou as vozes para apoiar o movimento. Isto evita que 
eles pensem que estão fazendo um solo. Eles sentem o apoio entusiástico que 
estamos dando, fazendo sons. 
 Naturalmente, nós também usamos discos e fitas como fundo musical 
para muitos dos movimentos, e frequentemente, faço com que as pessoas emitam 
sons para expressar os sentimentos que são evocados com seus movimentos. Um 
dos participantes disse: “A música acordou parte de mim, que jaziam estagnadas por 
uma década”. 
 
IMPROVISAÇÕES 
 
 Os “happenings” que acontecem mais no fim do programa são muito 
difíceis de serem descritos. Jared e eu elaboramos um plano que chamamos “a vila”. 
Nunca é o mesmo. As instruções nunca são as mesmas e certamente os resultados 
variam também. As instruções são mais ou menos assim: 
 “Temos estado juntos por algum tempo e compartilhado algo de nós 
mesmos de maneira importante. Agora nós gostaríamos de levantar vôo numa 
aventura co-criativa. Você tem vinte minutos para decidir que tipo de pessoa 
gostaria de ser nesta vila que criaremos juntos (algumas vezes conduzo as pessoas 
numa fantasia dirigida para ajudá-los a descobrir alguma sub-personalidade que eles 
talvez gostariam de representar). Temos maquiagem, perucas e fantasias. Use 
qualquer coisa que você encontrar ou criar, Depois, que tiver criado o personagem 
gostaria de ser, todos nós deixamos o recinto”. 
 “Quando ponho a música para tocar, encontramos no recinto como se 
estivéssemos chegando numa vila de uma terra estranha. Não existe uma linguagem 
comum. Você pode fazer qualquer som que desejar, mas as palavras, como tais, não 
existem”. 
 O que acontece é sempre surpreendente. Por um lado, dando as pessoas, 
mesmo às tímidas, a permissão para se vestir e ser alguma coisa diferente daquilo 
que elas são, é uma experiência estonteante. Em cada cena da vila figuras arquetipas 
emergiram: a virgem, a prostituta, o papa, o rei e a rainha, o diabo, a sombra, o 
ladrão, o mendigo, o professor, o bêbado, o campeão de atletismo, a menininha, o 
velho sábio, lobo feroz. 
 Em Nottimgham, na Inglaterra, Jared e eu vínhamos oferecendo um 
“grupo de movimento” todas as manhãs, durante três dias. Quando Jared 
subitamente teve a inspiração de levar todos para fora. Era o primeiro dia de sol 
brilhando numa semana de muita chuva. Durante uma das brincadeiras que 
estávamos fazendo ele disse: “sigam-me escada abaixo para a terra do faz de conta”. 
Todos compreendemos a sua intenção e alegremente descemos as escadas em 
caracol desta antiga universidade de pedra cinza. Chegamos a relva verde do jardim 
e antes que soubéssemos o que estava acontecendo, uma mulher holandesa, de 
cabelos prateados, pediu para ser a rainha de nós e erguemos em nossas mãos e 
andamos em volta da calçada. Quando olhei para traz, vi que estamos fazendo um 
desfile: As pessoas fingiam tocar cornetas, marchando no compasso. A procissão 
estava linda. A rainha liderou a corte, um papa foi entronado (destronado), 
apareceram os ladrões e os mendigos, houve harmonia de piche e pena, um 
casamento e uma morte. Um piano apareceu no gramado, foi roubado e recapturado. 
Tudo isso com muito poucas palavras! Os acontecimentos se sucediam. Foram duas 
horas de “representação” mais concentrada que tínhamos jamais vivido. 
 Embora eu nunca tenha entendido completamente este e outros eventos 
assim, sei que estamos criando, no nível metafórico e mitológico. Nesta atmosfera 
de brincadeira, podemos representar nossa sub-personalidade, quer seja ela o diabo 
ou um santo, pomposo ou humilde. Tentar estes papéis, parece que nos ajuda a 
redescobrir partes de nós mesmos e a nós dar uma nova perspectiva. Mais 
importante ainda, é divertido. 
 Eu gravei as discussões havidas após duas destas “vilas”. Durante um 
grupo de New College, uma mulher preferiu ser uma observadora, em vez de se 
juntar ao grupo. Ela levou a sério o esquema do programa ao invés de observar 
apenas, ela tornou-se uma observadora participante, tomando notas do que ia vendo. 
Ela tornou-se então a escrivã da “vila”. 
 Natalie: Eu gostaria de receber um feedback organizado sobre o que 
passou. O que sentiu? O que aconteceu? Cada um de nós estava tão envolvido com 
as cenas, que ficou difícil ver tudo que se passou. 
 Observadora: (lendo as suas notas): O dia está ensolarado e agradável. A 
vila encheu-se de vida, o cão acordou. Vê-se um bispo caminhando nas ruas. A 
prostituta arranjou outro freguês barato. A primavera começa a trazer as floes em 
botão. O bispo alcançou o seu palácio. Ele encontra o mal em diversas formas e 
tenta evitá-los. Ele conforta os pobres e os tristes. O pequeno cãozinho marrom 
parece estar procurando algum amigo. Parece que uma sombra vai cair sobre a 
cidade. A bandeira parada atrás do bispo é seguida pela sombra da morte. O bispo 
cai, revive, é tentado pela prostituta, cai novamente, tentado pelo pecado e pelo 
mal... até o cãozinho vai atrás dele. Ele é consolado apenas pela força. 
 Natalie: Whew! É realmente útil ter este apanhado. 
 Mulher: A morte continuou morrendo e levantando sua cabeça 
novamente. 
 Homem: Não se pode matar as ervas daninhas. 
 Mulher: Tenho a impressão que tudo isto aconteceu em outro tempo. 
 Segunda Mulher: Eu desempenhei dois papéis. Comecei como um 
homem. Então passei a seruma jovem que era muito boa no serviço de garçonete, 
servindo os outros... Eu me senti jogada fora da ação. O maior impacto foi quando 
percebi como eram desrespeitosas as pessoas as quais eu servia. 
 Segundo Homem: O que achei melhor foi estar dentro da representação... 
porque sempre estive marginalizado, um imigrante ou vivendo em culturas diferentes. 
Mas com esta peça eu estive sempre dentro do jogo. Eu era a sombra. Eu sempre soube 
a respeito desta sombra em mim, mas recentemente em um trabalho de terapia, pude 
observar o fato com os olhos da minha mente. Foi uma experiência poderosa extravazar 
este conhecimento por algum tempo. 
 
 *** 
 
 É difícil para mim teorizar a respeito destes “happenings”. De certo 
modo, preferi não o fazer. Caso eu analise o processo até um certo grau, receio não ter 
habilidade para descrevê-lo. Estou ciente porém,que muitos de nós escolhemos o nosso 
lado mais “pastier” para representar. Nós nos damos permissão para representar os 
papeis aos quais poucas vezes tomamos conhecimento. As pessoas roubam do cego, 
destroem o rei ou tapeam o homem velho. Em uma das cenas na “vila” aconteceu um 
nascimento e alguém roubou o bebê do peito da mãe! Nós permitimos que nosso lado 
sombrio apareça de uma maneira brincalhona, mas autêntica. 
 Também nos permitimos ser poderosos: um ditador, um bispo, uma 
rainha surge então. Ou experimentamos representar um ser humilde: o cego, o pobre ou 
o aleijado. Quando eu escolhi ser o mendigo cego, fiquei surpresa ao notar que havia me 
sentido muito poderosa naquele papel. O pessoal da “vila” constantemente vem me 
relatar meus sentimentos de piedade, culpa, desgosto. Este não é o tipo de poder que eu 
gostaria, mas é, na verdade, uma forma de poder. 
 Novamente, quero citar uma fita gravada de uma discussão no dia de São 
Diogo (12). (Muita coisa aconteceu em um dia.) Novamente, uma mulher resolveu ser 
observadora e foi nos relatando aquilo que havia visto. 
 Ora: Tudo começou com um homem segurando um copo o vazio de 
plástico e ele batia gentilmente no copo e foi batendo mais alto. A próxima coisa que 
notei foi que eu estava batendo no chão com meus pés, e batendo palmas e então todo o 
movimento começou... foi como uma corrente... que não passou até que outra coisa 
acontecesse. Houve uma corrente. Eu não quis participar porque eu não queria NÃO ser 
o que acontecia. Eu estava aturdida porque se existe isto de conscientização de grupo, 
isto era o que estava acontecendo. 
 Natalie: A um certo ponto pareceu haver uma mudança da dança livre 
para o teatro e a mímica e então cenas e cenários... foi como num crescendo. A energia 
subia ora descia e então retomava outro crescendo. Você diria que foi como uma 
conscientização de grupo que nunca nos deixava. 
 Rosa (da Espanha): A respeito da palavra “conscientização de grupos: no 
flamenco cigano, na terceira ou quarta noite de um festival flamenco acontece um 
momento místico, mágico. Nós o chamamos “duende”, que não se pode traduzir, mas 
que é mais ou menos a alma. Isto somente acontece quando não estamos esperando, 
vem por sua própria vontade, mas nós recebemos”. 
 Natalie: Trata-se então de receber... de se abrir para que aconteça? 
 Rosa: Não foi julgamento, nem constrangimento. Vem de algum lugar 
polifônico. Não apenas a harmonia que está correndo no recinto. O duende é um 
fantasma, ou espírito. O mágico. 
 Maureen: Quando eu estava falando a respeito do “isto”. Isto pode ser 
descrito como consciência do grupo. A abertura para este tipo de conscientização de 
grupo pode estar presente, a despeito do que o grupo esteja fazendo. Se o anestésico é o 
corpo, é deixado de fora, isto não irá acontecer para mim. Caso minha atenção seja a de 
estar receptiva. Eu tenho que me preparar para tal, e o trabalho do corpo me ajuda neste 
sentido. 
 
*** 
 
 Fico intrigada com um aspecto desta e de outras discussões que 
acontecem após um “happening da vila”, ou seja, as pessoas de outras culturas 
comparam os acontecimentos místicos ou rituais que vamos criando espontaneamente, 
ao seu próprio folclore e costume. Por exemplo, a conversa sobre os “duendes” ou 
espíritos que descem sobre o grupo que está pronto para recebê-los. Em uma outra 
sessão, uma pessoa disse: Na Cultura “Hopi” existem alguns “Kachinas” que agem 
como vocês. Eles irão fingir que estão tendo relações sexuais com os mais velhos, as 
mulheres mais respeitadas da vila. Eles não respeitam ninguém. Este é o modo deles 
equalizarem. Eu achei que vocês estavam fazendo o mesmo na sua representação”. 
 Outra pessoa comentou: “Tem um personagem no México, que 
representa o idiota, como você o fez. Ele usa um grande chapéu... ele é praticamente um 
coringa”. 
 Parece que os personagens que escolhemos para freqüentar esta “vila” se 
assemelham aos personagens arquétipos de todas as culturas. E os rituais que 
começamos a criar têm similaridade com os rituais de outras culturas. Será que isto vem 
de algum inconsciente coletivo? Nossa própria cultura tão falha em rituais que parece 
que estas atividades não vêm de nossa experiência imediata. O processo de algum 
modo, nos liga a nossos irmãos e irmãs de todo o mundo e de tempos há longos anos 
passados. 
 Outro aspecto que me intriga é a co-criação destes espetáculos. Na 
verdade, a consciência do grupo é como o nevoeiro que rola sobre as montanhas de 
Sausalito, gradualmente absorvendo cada árvore em seu caminho. Minha própria 
experiência sobre a consciência grupal não é provavelmente tão grande quanto aquela 
dos participantes que a relatam, uma vez que é sempre difícil para mim não sentir 
“responsável” pelo que acontece. Eu, naturalmente, participo do ato,mas acho que ainda 
não me rendi completamente aquilo que vem surgindo. Outras pessoas parecem sentir 
que o processo é como a batida de um tambor que não para nunca; varia de e para cada 
pessoa. Parece que não existe nada a “fazer” com esta experiência. A pessoa 
simplesmente recebe, e se sente grata. 
 As pessoas, algumas vezes, perguntam o que fazemos para criar esta 
conscientização de grupo, estas vilas. Qual é a metodologia? Dou a seguinte explicação 
para os participantes: 
 - Natalie: Eu gostaria de descrever este acontecimento numa metáfora, 
porque este é o único jeito que conheço para falar a respeito disto. Para mim o que 
fazemos é como dirigir uma orquestra, que dizer, nós levamos um grupo a criar sua 
própria sinfonia. Primeiro nós damos à orquestra algumas instruções sobre como tocar 
algumas notas e acordes. Em outras palavras, nós damos a eles algum vocabulário sobre 
movimento porque movimento é aquilo que mais nos inibe, damos a ele a permissão 
para tocar. Nós guiamos o grupo em exercícios que ajudam seus membros a abrirem-se 
para si mesmos. 
 Então, nós escutamos a música. Nós escutamos o que as pessoas estão 
tocando, ou vemos de maneira intuitiva o que eles estão fazendo. Então começamos a 
responder à sua música com nossas próprias batutas. Trabalhamos com a batuta 
incentivando o grupo e produzir uma música um pouco mais forte ou induzimos o grupo 
a ser um pouco mais criativo, ou uma outra pessoa a expandir o seu movimento ou som. 
 Então acontece um segundo movimento. Pegamos uma frase e ajudamos 
a fazê-la mais alta ou mais baixa ou expandi-la ou aprofundá-la. Jared sempre diz, 
“pegue aquilo que você acabou de fazer e veja se pode aprofundar mais”. 
 Para mim é como se eu pegasse uma frase e dissesse “vamos brincar com 
isto, vamos dar a isto um maior volume”. 
 Uma mulher descreve o processo de ir em direção ao seu interior, 
resultando de uma vontade de alcançar os outros. 
 Anna Marie: Tenho tentado me

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